Psicopatologia, 2 unidade

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UNIVERSIDADE RAINHA NJINGA A MBANDE

INSTITUTO POLITÉCNICO

PSICOPATOLOGIA

Docente: João Paulo, Lic.

Malanje, 2024
UNIDADE 2:

UNIDADE II: FUNÇÕES PSÍQUICAS SUPERIORES E


SUAS ALTERAÇÕES
2.1 A CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES
3

Etimologicamente, o termo consciência provém de duas palavras


latinas: Cum (com) + Scio (conhecer)= Conhecimento compartailhado.

No entanto, Podemo entender o termo a partir de 3 conceitos:

1. Neuropsicológico: emprega o termo consciência no sentido de estado vígil


(vigilância). aqui é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado,
vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência.
4

2. Psicológico: a soma total das experiências conscientes de um


indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o
que se designa campo da consciência. É a dimensão subjetiva da
atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade.

Na relação do “Eu” com o meio ambiente, a consciência é a


capacidade de o indivíduo entrar em contato com a realidade, perceber
e conhecer os seus objetos.
3. Ético-filosófico: o termo consciência refere-se à capacidade de
tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os
direitos e os deveres concernentes a essa ética. Trata-se da
consciência moral ou ética.
Assim, as alterações da consciência são aquelas que nos
impedem de estar conscientes ou perceber os estímulos do ambiente.

Desta forma, não podemos perceber, pensar ou realizar


qualquer ação voluntária. Sem a consciência, os outros processos
cognitivos e/ou comportamentais não podem ocorrer.
Alterações da consciência:

As alterações da consciência referem-se ao


comprometimento da capacidade de estar vígil, desperta, alerta ou
orientada em relação ao seu ambiente.

Essas alterações podem ocorrer de forma fisiológica ou


patológica.
8

O sono é um estado especial da consciência, que ocorre


de forma recorrente e cíclica nos organismos superiores.

É também, ao mesmo tempo, um estado comportamental e uma


fase fisiológica normal e necessária do organismo. Não é
inconsciente!
9

Dividem-se as fases do sono em duas:

O sono sincronizado, sem movimentos oculares rápidos (sono


NREM), e o sono dessincronizado, com movimentos oculares
rápidos (sono REM).

Obs: o sonho, fenômeno associado ao sono, pode ser


considerado uma alteração normal da consciência.
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA CONSCIÊNCIA

Alterações quantitativas da consciência (rebaixamento


do nível de consciência):

1. Obnubilação ou turvação da consciência: trata-se do rebaixamento


da consciência em grau leve a moderado, em inicialmente o paciente
pode já estar claramente sonolento ou parecer desperto, o que dificulta
o diagnóstico.
Há sempre diminuição do grau de clareza do sensório, com
lentidão da compreensão e dificuldade de concentração. Nota-se que
o paciente tem dificuldade para integrar as informações sensoriais
oriundas do ambiente.

Assim, mesmo não se apresentando claramente sonolento,


observa-se, nos quadros leves de rebaixamento do nível de
consciência, que o paciente encontra-se um tanto perplexo, com a
compreensão dificultada, podendo o pensamento estar já
ligeiramente confuso.
2. Sopor. é um estado de marcante turvação da consciência, no qual o paciente
pode ser despertado apenas por estímulo enérgico, sobretudo de natureza
dolorosa.

Aqui, o paciente sempre se mostra evidentemente sonolento. Embora


ainda possa apresentar reações de defesa, ele é incapaz de qualquer ação
espontânea. A psicomotricidade encontra-se mais inibida do que nos
estados de obnubilação.
3. Coma: é o grau mais profundo de rebaixamento do nível de
consciência. No estado de coma, não é possível qualquer atividade
voluntária consciente.

Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento do nível


de consciência:

1. Delirium: designa a maior parte das síndromes confusionais


agudas (o termo “paciente confuso).
Os termos dão ênfase ao aspecto confuso do pensamento e do
discurso do paciente como fala incongruente, com conteúdos
absurdos e sem articulação lógica.

Portanto, implica quadros com rebaixamento leve a moderado do


nível de consciência, acompanhados de desorientação
temporoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade,
ansiedade em graus variáveis, agitação ou lentificação psicomotora,
discurso ilógico e confuso e ilusões e/ou alucinações, quase sempre
visuais.
Geralmente, o paciente está com o sensório claro pela
manhã e no início da tarde e seu nível de consciência “afunda” no
final da tarde e à noite, surgindo, então, ilusões e alucinações visuais
e intensificando-se a desorientação e a confusão do pensamento e
do discurso.

Obs: não se deve confundir delirium (quadro sindrômico


causado por alteração do nível de consciência, em pacientes com
distúrbios cerebrais agudos) com o termo delírio (idéia delirante;
alteração do juízo de realidade encontrada principalmente em
psicóticos esquizofrênicos).
2. Estado onírico: designa uma alteração da consciência na qual,
paralelamente à turvação da consciência, o indivíduo entra em estado
semelhante a um sonho muito vívido. Em geral, predomina a atividade
alucinatória visual intensa com caráter cênico e fantástico.

O indivíduo vê cenas complexas, ricas em detalhes, às vezes


terríficas, com lutas, matanças, fogo, assaltos, sangue, etc. Há carga
emocional marcante na experiência onírica, com angústia, terror ou
pavor.
O doente manifesta esse estado onírico angustioso gritando,
movimentando-se, debatendo-se na cama e apresentando, às vezes,
sudorese profusa. Há geralmente amnésia consecutiva ao período em
que o doente permaneceu nesse estado onírico.
Alterações qualitativas da consciência:

Além dos diversos estados de redução global do nível de


consciência, a observação psicopatológica registra uma série de
estados alterados da consciência, nos quais se tem mudança parcial
ou focal do campo da consciência.

Uma parte do campo da consciência está preservada, normal, e


outra parte, alterada. De modo geral, nessas alterações há quase
sempre, algum grau de rebaixamento (mesmo que mínimo) do nível de
consciência.
Partindo disso, podemos apresentar as seguintes alterações qualitativas:

1. Estados crepusculares: é um estado patológico transitório no qual


uma obnubilação da consciência (mais ou menos perceptível) é
acompanhada de relativa conservação da atividade motora coordenada.

Nos estados crepusculares, há, portanto, estreitamento transitório do


campo da consciência, afunilamento da consciência (que se restringe a um
círculo de idéias, sentimentos ou representações de importância particular
para o sujeito acometido),
com a conservação de uma atividade psicomotora global mais ou
menos coordenada, permitindo a ocorrência dos chamados atos
automáticos. O estado crepuscular caracteriza-se por surgir e
desaparecer de forma abrupta e ter duração variável, de poucos
minutos ou horas a algumas semanas.

Durante esse estado, ocorrem, com certa freqüência, atos


explosivos violentos e episódios de descontrole emocional (podendo
haver implicações legais de interesse à psicologia e à psiquiatria
forense). Geralmente ocorre amnésia lacunar para o episódio inteiro,
podendo o indivíduo se lembrar de alguns fragmentos isolados.
2. Estado segundo: estado patológico transitório
semelhante ao estado crepuscular, caracterizado por uma atividade
psicomotora coordenada, a qual, entretanto, permanece estranha à
personalidade do sujeito acometido e não se integra a ela. Com certa
freqüência, alguns autores utilizam os termos “estado segundo” e
“estado crepuscular” de forma indistinta ou intercambiável.

Em geral, atribui-se, ao estado segundo, uma natureza


mais psicogenética, sendo produzido por fatores emocionais (choques
emocionais intensos). Já ao estado crepuscular, são conferidas causas
mais freqüentemente.
3. Dissociação da consciência: designa a fragmentação ou a divisão
do campo da consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica comum
do ser humano. Ocorre com certa freqüência nos quadros histéricos
(crises histéricas de tipo dissociativo).

Nessas situações, observa-se uma dissociação da consciência, um


estado semelhante ao sonho (ganhando o caráter de estado onírico),
geralmente desencadeada por acontecimentos psicologicamente
significativos que geram grande ansiedade para o paciente.
4. Transe. Estado de dissociação da consciência que se assemelha
a sonhar acordado, diferindo disso, porém, pela presença de atividade
motora automática e estereotipada acompanhada de suspensão
parcial dos movimentos voluntários.

5. Estado hipnótico. É um estado de consciência reduzida e


estreitada e de atenção concentrada, que pode ser induzido por outra
pessoa (hipnotizador).
Trata-se de um estado de consciência semelhante ao transe, no
qual a sugestionabilidade do indivíduo está aumentada, e a sua
atenção, concentrada no hipnotizador.

Nesse estado, podem ser lembradas cenas e fatos esquecidos


e podem ser induzidos fenômenos como anestesia, paralisias,
rigidez muscular, alterações vasomotoras.
6. Experiência de quase-morte, EQM (near death experience –NDE).
Um estado especial de consciência é verificado em situações críticas de
ameaça grave à vida, como parada cardíaca, hipoxia grave, isquemias,
acidente auto mobilístico grave, entre outros, quando alguns
sobreviventes afirmam ter vivenciado as chamada experiências de
quase-morte (EQM).

São experiências muito rápidas (de segundos a minutos) em que um


estado de consciência particular é vivenciado e registrado por essas
pessoas.
2.2 ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES
26
Alteração psicopatológica

Desde os primórdios da semiologia psicopatológica, no século


XIX, os estudos mostram que a atenção quase sempre está alterada
nos transtornos mentais graves.

Por exemplo Esquirol (1772-1840) afirmou que “a atenção é


fugitiva no maníaco, concentrada no monomaníaco (melancólico,
delirante) e vaga e difusa no demente”.
Transtornos do humor (depressão e transtorno bipolar), transtorno
obsessivocompulsivo (TOC), esquizofrenia e transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH) são os que mais apresentam alterações
da atenção.

Os pacientes com transtornos do humor têm importantes


dificuldades de concentração e atenção constante.

Nos quadros maníacos, diminuição da atenção voluntária e


aumento da atenção espontânea, com hipervigilância e hipotenacidade.
A atenção do indivíduo em fase maníaca salta
rapidamente de um estímulo para outro, sem se fixar em algo. Nos
quadros depressivos, geralmente há diminuição geral da atenção, ou
seja, hipoprosexia.

Já o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) apresenta


atenção ou vigilância excessiva e desregulada. O paciente demonstra
alterações no controle executivo (funções frontais), na memória de
trabalho (intimamente relacionada à atenção) e na seleção de
respostas.
Na esquizofrenia, o déficit de atenção é central. A filtragem de
informação irrelevante geralmente consiste em uma dificuldade
importante dos sujeitos acometidos.

Pacientes esquizofrênicos costumam ter dificuldade em anular


adequadamente estímulos sensoriais irrelevantes enquanto realizam
determinada tarefa; são muito suscetíveis de distrair-se com estímulos
visuais e auditivos externos.
No transtorno (TDAH), há dificuldade marcante de prestar
atenção a estímulos internos e externos, pois o paciente, geralmente
criança ou adolescente, tem a capacidade prejudicada em organizar e
completar tarefas, assim como relutância em controlar seus
comportamentos e impulsos.
Nas demências, as alterações de atenção podem estar relacionadas
a quadros episódicos com rebaixamento do nível de consciência
(delirium que se sobrepõe ao quadro demencial) ou deterioração
cognitiva progressiva.

Na demência de Alzheimer, os pacientes têm dificuldades em tarefas


que requerem concentração e foco, assim como em atividades de
controle executivo (funções frontais).
2.3 O PENSAMENTO E SUAS ALTERAÇÕES
33

O pensamento é um processo mental que permite criar, regular e


desenvolver ideias sobre nós mesmos, outros e sobre o ambiente que
nos rodeia.

Segundo a tradição aristotélica, é constituído por conceito, juízo e


raciocínio, das diferentes dimensões do processo de pensar,
delimitadas como curso, forma e conteúdo do pensamento.
O conceito é um elemento puramente cognitivo,
intelectivo, não tendo qualquer resquício sensorial. Não é possível
visualizar um conceito, ouvi-lo ou senti-lo. Nos conceitos, exprimem-
se apenas os caracteres mais gerais dos objetos e dos fenômenos.

O juízo consiste, a princípio, na afirmação de uma


relação entre dois conceitos.
35

O processo do raciocínio representa um modo especial


de ligação entre conceitos, de sequência de juízos, de
encadeamento de conhecimentos, derivando sempre uns dos
outros.
Alterações dos elementos constitutivos do pensamento

Alterações dos conceitos:

Desintegração dos conceitos: ocorre quando os conceitos sofrem


um processo de perda de seu significado original.

Segundo Paim (1986), os conceitos se desfazem, e uma mesma


palavra passa a ter significados cada vez mais diversos. Por exemplo, a
palavra “ateu” deixa de significar “descrente de Deus” para significar
justamente o seu oposto, pois sentido interpretando que ateu significa
“a teu comando”, ou seja, “a comando de Deus, crente”.
Condensação dos conceitos: ocorre quando dois ou mais
conceitos são fundidos, o paciente involuntariamente condensa duas
ou mais ideias em um único conceito, que se expressa por uma nova
palavra.

No plano da linguagem, as desintegrações e as


condensações dos conceitos são designadas neologismos, ou seja,
palavras inteiramente novas ou palavras conhecidas recebendo
significados novos, completamente idiossincráticos.
Alterações dos juízos

Juízo deficiente ou prejudicado: é um tipo de juízo falso que se estabelece


porque a elaboração dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual e
pobreza cognitiva do indivíduo. Aqui, os conceitos são inconsistentes; e o
raciocínio, pobre e defeituoso.

Os juízos são por demais simplistas, concretos e sujeitos à


influência do meio social.

Obs: às vezes, é difícil diferenciar um juízo deficiente de um


delírio. De modo geral, os erros de juízo por deficiência não são persistentes
e irredutíveis, mudam com facilidade e variam sua temática a todo momento.
392Juízo de realidade ou delírio : as alterações do juízo de realidade ou

delírio são, de fato, as alterações do juízo mais importantes em


psicopatologia.

Alterações do raciocínio e do estilo de pensar: o que caracteriza o


pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se
segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na
qual o indivíduo se insere.
O viés de confirmação diz respeito à busca ativa e
seletiva que um sujeito faz no sentido de confirmar hipóteses (ou
preconceitos) falsas ou sem fundamento.

Há, assim, uma tendência nas pessoas em distorcer


inconscientemente os dados e as percepções da realidade para
confirmar hipóteses previamente formuladas no início de um
raciocínio.
Tipos alterados de pensamento

O tipo e o estilo de pensamento comum de um indivíduo


não acometido por doença mental são apenas precariamente lógicos.

Normalmente as pessoas tendem a utilizar estereótipos,


as decisões são tomadas sem as evidências fatuais necessárias,
havendo um salto de impressões vagas para conclusões
aparentemente certas.
42

Uma série de crenças preconceituosas, sociais ou pessoais, é


mantida de forma insistente por um número considerável de pessoas.

Tudo isso torna difícil a discriminação entre pensamento normal e


patológico, principalmente no que concerne aos tipos de pensamento e
estilo de pensar.

De qualquer forma, a psicopatologia registra uma série de tipos de


pensamento comumente associados a estados mentais alterados e
transtornos psiquiátricos:
1. Pensamento mágico: é o tipo de pensamento que fere frontalmente
os princípios da lógica formal, bem como os indicativos e
imperativos da realidade.

O pensamento mágico segue os desígnios dos desejos,


das fantasias e dos temores, conscientes ou inconscientes do sujeito,
adequando a realidade ao pensamento, e não o contrário.

O pensamento mágico pressupõe que a uma relação


puramente subjetiva de ideias corresponda uma associação objetiva de
fatos.
O pensamento mágico seria mais comum entre as crianças
(embora nelas, de modo geral, predomine uma visão realista).
Também pode-se verificar a ocorrência de tal forma de pensar em
alguns transtornos da personalidade, como os transtornos
esquizotímico, histriônico, borderline e narcisista.

Nos quadros obsessivo-compulsivos, ocorrem com frequência


pensamentos mágicos e rituais compulsivos dominados pelas leis da
magia. Na esquizofrenia e na histeria, também podem ser detectados
pensamentos mágicos.
45 2. Pensamento dereístico: o pensamento dito dereístico, algo semelhante
ao pensamento mágico, é um tipo de pensamento que se opõe
marcadamente ao pensamento realista, o qual se submete à lógica e à
realidade.

Aqui, o pensamento só obedece à lógica e à realidade naquilo


que interessa ao desejo do indivíduo, distorcendo a realidade para que
esta se adapte aos seus anseios. No pensamento dereístico, o pensar
volta-se muito mais ao mundo interno do sujeito, suas fantasias e seus
sonhos, manifestando-se como um devaneio, no qual tudo é possível e
favorável

ao indivíduo.
462 Pode ocorrer nos transtornos da personalidade
(esquizotípica, histriônica, borderline, narcisista, etc.), na
esquizofrenia, na histeria e, eventualmente, em crianças e
adolescentes (e mesmo em adultos) normais.
3. Pensamento concreto: se caracteriza pela incapacidade de
distinção entre dimensão abstrata e simbólica e dimensão concreta e
imediata dos fatos. O indivíduo não consegue entender ou utilizar
metáforas, o pensamento é muito aderido ao nível sensorial da
experiência.

4. Pensamento inibido: ocorre a inibição do raciocínio, com


diminuição da velocidade e do número de conceitos, juízos e
representações utilizados no processo de pensar, tornando-se o
pensamento lento, rarefeito, pouco produtivo à medida que o tempo
flui. Ocorre em quadros demenciais e depressivos graves.
5. Pensamento vago: se caracteriza pela imprecisão das relações
48
conceituais, a formação dos juízos e a concatenação destes em
raciocínios. O paciente expõe um pensamento muito ambíguo, podendo
mesmo parecer obscuro. Não há propriamente o empobrecimento do
pensamento, mas, antes, a marcante falta de clareza e precisão no
raciocínio.

6. Pensamento prolixo: aqui, o paciente não consegue chegar a


qualquer conclusão sobre o tema de que está tratando, senão após
muito tempo e esforço.
7. Pensamento deficitário (ou oligofrênico): é um pensamento de
estrutura pobre e rudimentar. O indivíduo tende ao raciocínio concreto;
os conceitos são escassos e utilizados em sentido mais literal que
abstrato ou metafórico.

8. Pensamento demencial: trata-se também de pensamento pobre,


porém tal empobrecimento é desigual, ao contrário do que ocorre no
pensamento deficitário, no qual o empobrecimento é mais homogêneo.
9. Pensamento confusional: devido à turvação da consciência, há um
pensamento incoerente, de curso tortuoso, que impede que o indivíduo
apreenda de forma clara e precisa os estímulos ambientais e possa,
assim, processar seu raciocínio adequadamente.

10. Pensamento desagregado: trata-se de pensamento radicalmente


incoerente, no qual os conceitos e os juízos não se articulam
minimamente de forma lógica. O paciente produz um pensamento que se
manifesta como uma mistura aleatória de palavras, que nada comunica
ao interlocutor. A linguagem correspondente é o que se denomina “salada
de palavras”. Ocorre nas formas graves e avançadas de esquizofrenia.
11. Pensamento obsessivo: predominam ideias ou representações
que, apesar de terem conteúdo absurdo ou repulsivo para o indivíduo,
se impõem à consciência de modo persistente e incontrolável.
Alterações do processo de pensar

Quanto ao curso do pensamento, as principais alterações


são:

1. Aceleração do pensamento: aqui o pensamento flui de forma muito


acelerada, uma idéia se sucedendo à outra rapidamente.

Ocorre nos quadros de mania, na esquizofrenia, nos


estados de ansiedade intensa, nas psicoses tóxicas (sobretudo por
anfetamina e cocaína) e na depressão ansiosa.
2. Lentificação do pensamento: o pensamento progride lentamente,
de forma dificultosa. Há certa latência entre as perguntas formuladas
e as respostas.

Ocorre principalmente nas depressões graves, em alguns


casos de rebaixamento do nível de consciência, em certas
intoxicações (por substâncias sedativas) e em determinados quadros
psicoorgânicos.
3. Bloqueio ou interceptação do pensamento: verifica-se o bloqueio do
pensamento quando o paciente, ao relatar algo, no meio de uma
conversa, brusca e repentinamente interrompe seu pensamento, sem
qualquer motivo aparente.

O doente relata que, sem saber por que, “o pensamento


pára”, é bloqueado.

Obs: é uma alteração quase exclusiva da esquizofrenia


, 4.Roubo do pensamento: é uma vivência, frequentemente associada
ao bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo tem a nítida
sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma
força ou ente estranho, por uma máquina, uma antena, etc.
Quanto a forma do pensamento, as principais alterações
são:

1. Fuga de ideias: as associações entre as palavras deixam de seguir


uma lógica ou finalidade do pensamento e passam a ocorrer por
assonância, e as ideias se associam muito mais pela presença de
estímulos externos contingentes.

2. Dissociação do pensamento: é a designação cunhada por Bleuler


(1985) para a desorganização do pensamento encontrada em certas
formas de esquizofrenia.
3. Afrouxamento das associações: aqui, embora ainda haja
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concatenação lógica entre as ideias, nota-se já o afrouxamento dos
enlaces associativos. Manifesta-se nas fases iniciais da esquizofrenia e
em transtornos da personalidade (sobretudo no da personalidade
esquizotípica).

4. Descarrilhamento do pensamento: o pensamento passa a extraviar-


se de seu curso normal, toma atalhos colaterais, desvios, pensamentos
supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original. Geralmente
está associado a marcante distraibilidade.
5. Desagregação do pensamento: há profunda e radical perda dos
enlaces associativos, total perda da coerência do pensamento. Sobram
apenas “pedaços” de pensamentos, conceitos e ideias fragmentadas,
muitas vezes irreconhecíveis, sem qualquer articulação racional, sem
que sejam detectadas uma linha diretriz e uma finalidade no ato de
pensar.

Trata-se de alteração típica de formas avançadas de


esquizofrenia e de quadros demenciais.
Conteúdo do pensamento:

Os principais conteúdos que preenchem os sintomas psicopatológicos


são:

1. Persecutórios;

2. Depreciativos;

3. Religiosos;

4. Sexuais;

5. De poder, riqueza, prestígio ou grandeza;

6. De ruína ou culpa;
2.4 MEMÓRIA E SUAS ALTERAÇÕES

De acodo com Dalgalarrondo (2008), a memória é a


capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e os fatos já
ocorridos.

No campo de estudo da memória biológica e humana,


podem-se distinguir a memória cognitiva (psicológica), genética,
imunológica e cultural ou coletiva.

A memória cognitiva, apresenta três fases: registro


(percepção, gerenciamento e início da fixação), conservação
(retenção) e evocação (também denominada de lembranças,
Fatores psicológicos do processo de memorização:
61

O processo de fixação (engramação) depende de:

1. Nível de consciência e estado geral do organismo (o indivíduo deve

estar desperto, não muito cansado, bem-nutrido, calmo, etc.);

2. Atenção global e capacidade de manutenção de atenção


concentrada sobre o conteúdo a ser fixado (capacidade do indivíduo
concentrar-se);

3. Sensopercepção preservada;
4. Interesse e colorido emocional relacionado ao conteúdo
mnêmico a ser fixado, assim como do empenho do indivíduo em
aprender (vontade e afetividade);

5. Conhecimento anterior (elementos já conhecidos ajudam a


adquirir elementos novos);

6. Capacidade de compreensão do conteúdo a ser fixado;

7. Organização temporal das repetições (distribuição harmônica e


ritmada no tempo auxilia na fixação de novos elementos);

8. Canais sensoperceptivos envolvidos na percepção.


No que concerne à conservação (retenção) dos elementos mnêmicos
depende da repetição (quanto mais se repete um conteúdo, mais facilmente
este se conserva) e da associação com outros elementos.

A neuropsicologia moderna divide a memória em quatro fases ou tipos:


memória imediata ou de curtíssimo prazo (de poucos segundos até 1 a 3
minutos), memória recente ou de curto prazo (de poucos minutos até 3 a 6
horas), memória remota ou de longo prazo (de meses até muitos anos) e o
priming (fenômeno normal e importante do processo de recordação ou
evocação).
Atualmente, de acordo com a Neurociência, distinguem-se os
64
tipos de memória tendo em conta o caráter consciente ou não-consciente
do processamento do conteúdo mnêmico e, principalmente, segundo as
áreas e estruturas cerebrais envolvidas.

Segundo o caráter consciente ou não-consciente do processo


mnêmico, têm-se as memórias explícita e implícita.

A memória explícita é adquirida de forma plenamente


consciente, sendo também a mais relevante do ponto de vista clínico (aqui
estão incluídas as lembranças de fatos autobiográficos).
652 A memória implícita é adquirida de forma mais ou menos
automática, o indivíduo não se dá conta de que está aprendendo esta ou
aquela habilidade (aqui estão incluídos os aprendizados de habilidades
motoras, p. ex., andar de bicicleta).

Muito próximo a essa separação entre explícita e implícita,


faz-se também a divisão da memória em declarativa e não-declarativa. A
memória declarativa é sempre explícita (plenamente consciente) e diz
respeito, com mais frequência, a eventos autobiográficos e conhecimentos
gerais.
A memória não-declarativa refere-se a hábitos e
capacidades, em geral motores, sensoriais, sensório-motores ou
eventualmente linguísticos (como nadar, andar de bicicleta, tocar
violão, soletrar), sobre os quais é difícil declarar como são lembrados.

Quanto a estrutura cerebral, existem a memória de


trabalho, episódica (possivelmente a forma mais relevante de
memória para a clínica neurológica, psiquiátrica e neuropsicológica),
semântica e de procedimentos.
67
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA MEMÓRIA

Alterações quantitativas:

1. Hipermnésias: as representações (elementos mnêmicos) afluem


rapidamente, em tropel, ganhando em número, perdendo, porém, em
clareza e precisão.

2. Amnésias (ou hipomnésias): perda da memória, seja a da capacidade


de fixar ou a da capacidade de manter e evocar antigos conteúdos
mnêmicos. Existem os seguintes tipos:
-Amnésia psicogênica: há perda de elementos mnêmicos focais,
os quais têm valor psicológico específico (simbólico, afetivo). Por
exemplo, o paciente esquece um evento de sua vida (que teve um
significado especial para ele), mas consegue lembrar de tudo que
ocorreu ao seu redor.

-Amnésia orgânica: trata-se de amnésia menos seletiva (em


relação ao conteúdo do material esquecido) que a psicogênica. A
amnésia orgânica segue, de modo geral, a lei de Ribot.
Na amnésia anterógrada, o indivíduo não consegue mais fixar elementos
mnêmicos a partir do evento que lhe causou o dano cerebral.

Por exemplo, o indivíduo não lembra do que ocorreu nas semanas (ou
meses) depois de um trauma cranioencefálico. Já na amnésia retrógrada, o
indivíduo perde a memória para fatos ocorridos antes do início da doença
(ou trauma).

De modo geral, é comum, após trauma cranioencefálico, a ocorrência de


amnésias retroanterógradas, ou seja, déficits de fixação para o que ocorreu
dias, semanas ou meses antes e depois do evento patógeno.
Alterações qualitativas:

As alterações qualitativas da memória envolvem sobretudo a


deformação do processo de evocação de conteúdos mnêmicos
previamente fixados. O indivíduo apresenta lembrança deformada que não
corresponde à sensopercepção original. Os principais tipos são:

1. Ilusões mnêmicas: há o acréscimo de elementos falsos a


um núcleo verdadeiro de memória (a lembrança adquire caráter fictício).
Muitos pacientes informam sobre o seu passado indicando claramente
deformação de lembranças reais.
2. Alucinações mnêmicas: são verdadeiras criações imaginativas com
a aparência de lembranças ou reminiscências que não correspondem a
qualquer elemento mnêmico, a qualquer lembrança verdadeira. Podem
surgir de modo repentino, sem corresponder a qualquer acontecimento.

As ilusões e as alucinações mnêmicas constituem, muitas vezes, o


material básico para a formação e a elaboração de delírios (delírio
imaginativo ou mnêmico).
3. Fabulações (ou confabulações): as fabulações (ou
confabulações) são invenções, produtos da imaginação do paciente, que
preenchem um vazio da memória. Além do déficit de fixação, o doente não
é capaz de reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia.

4. Criptomnésias: trata-se de um falseamento da memória,


em que as lembranças aparecem como fatos novos ao paciente, que não
as reconhece como lembranças, vivendo-as como uma descoberta.
5.Ecmnésia: o indivíduo tem a vivência de uma alucinação, a visão de
cenas passadas como forma de presentificação do passado. O fenômeno
denominado visão panorâmica da vida, associado às chamadas experiências
de quase-morte, é, de certa forma, um tipo de ecmnésia, que ocorre
relacionado à iminência da morte por acidente.

6.Lembrança obsessiva: também denominada idéia fixa ou


representação prevalente, manifesta-se como o surgimento espontâneo de
imagens mnêmicas ou conteúdos ideativos do passado que, uma vez
instalados na consciência, não podem ser repelidos voluntariamente pelo
indivíduo.
As alterações do reconhecimento:

Dividem-se em dois grandes grupos: as agnosias, de


origem essencialmente cerebral, e as alterações de reconhecimento
associadas aos transtornos mentais, sem base orgânica definida.

As agnosias são definidas como déficits do


reconhecimento de estímulos sensoriais, objetos e fenômenos, que
não podem ser explicados por um déficit sensorial, por distúrbios da
linguagem ou por

perdas cognitivas globais.

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