Aula ITU 2024

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INFEÇÃO URINÁRIA NA PEDIATRIA

INTERNATO PEDIATRIA
Taiza Diamantino
2024
Objetivos

• Aspectos preliminares
• Quadro clinico
• Epidemiologia
• Fatores de risco
• Abordagem diagnostica
• Etiologia
• Tratamento
• Acompanhamento apos tratamento
• Prevencao da recorrencia
Introdução

• Infecção do trato urinário (ITU) é definida:

• Presenca de um germe patogenico unico no sistema urinario,


associada a processo inflamatorio sintomatico.
Introdução

• ITU é a principal causa de doença bacteriana grave em crianças.

• Alto risco de recorrencia dentro do primeiro ano do episodio


inicial.
– Até 8% das crianças de 1 mês até 11 anos experimentam 1 episódio de
ITU.
– Até 30% apresentam infecções recorrentes dentro de 6-12 meses após a
ITU inicial.

• É a segunda infecção bacteriana mais prevalente em crianças.


Probabilidade de risco de ITU
segundo características clínicas

• Os picos de incidência ocorrem:

• no lactente,
• na segunda infância,
• na adolescência.
Fatores de risco para ITU

• Fatores predisponentes em lactentes incluem:


– refluxo vesicoureteral
– outras anomalias estruturais e funcionais do trato urinário.

– Um único episódio de ITU pode ser o evento sentinela de uma


anormalidade renal estrutural.
– Em 30% dos pacientes com anomalias congênitas do rim e trato urinário
a ITU pode ser o primeiro sinal.
Anomalias estruturais e funcionais
Introdução

• No primeiro ano de vida atinge igualmente meninos e meninas.


Prevalência de ITU em crianças
por grupo demográfico
Prevalência de ITU em crianças
por grupo demográfico
Prevalência de ITU em crianças
por grupo demográfico
Prevalência de ITU em crianças
por grupo demográfico
Prevalência de ITU em crianças
por grupo demográfico
Quadro clinico

• Infecção do trato urinário (ITU) é um desafio, especialmente


em crianças com idade inferior a 2 anos.

• Sinais e sintomas inespecificos nessa faixa etária.

• Febre sem sinais localizatórios (é o principal sinal de alerta


para ITU nesta população).
Febre sem sinais localizatórios

• É uma febre aguda, com duração inferior a 7 dias.

• Não apresenta causa identificada após exame fisico e anamnese


completos.

• Considera-se febre a temperatura axilar igual ou superior a 37,5°C.

• ITU é responsável por 5 a 15% dos casos de FSSL.


Quadro clínico

• Sinais e sintomas variáveis conforme:

Faixa etária
Localização da infecção: pielonefrite ou cistite
Intensidade do processo inflamatório
Quadro clínico

• Em recém-nascidos ou em < 3 meses:


• Quadro clinico inespecífico:
– Vômito, diarreia, hiporexia, sucção débil, irritabilidade, letargia,
convulsões, palidez, hipotermia, sepse.

– Os sintomas podem ser insidiosos.

– Pode aparecer como icterícia assintomática (bilirrubina direta):


recomenda-se pesquisar ITU na avaliação de icterícia assintomática em
< 8 semanas.

– Alta probabilidade de bacteremia (sepse neonatal) e alta taxa de


mortalidade (~10%).
Quadro clínico

• ITU> 5 anos:

• Predominam sinais e sintomas clássicos de ITU:

• Febre, disúria, urgência miccional, enurese, polaciúria, dor lombar


ou flancos ou desconforto supra-púbico.

• Enurese secundária em crianças já treinadas para ir ao banheiro,


hematúria franca.

• Sinal de Giordano positivo (percussão lombar dolorosa) indica


pielonefrite.
Quadro clínico

• 3 meses a 2 anos de vida: atraso no


crescimento, problemas alimentares, vômitos,
queixas gastrointestinais, febre sem sinais
localizatórios, urina fétida.

• Entre 2-5 anos: febre sem sinais localizatórios,


dor abdominal, algúria, disúria, vômitos.
Quadro clínico

• Adolescentes:
• Sintomas típicos de:
– Cistite (disúria, algúria, polaciúria, hematúria,
urina turva, dor suprapúbica) ou
– Pielonefrite (febre, calafrio, dor nos flancos).

• Atentar para atividade sexual e diagnóstico


diferencial ou concomitante de ISTs.
Sinais e sintomas de ITU
Quando Investigar ITU

• Criança e adolescente com sintomas urinários


• Bebês e crianças com febre inexplicada
• Recém-nascido com sinais ou sintomas de bacteremia
• Recém-nascido com bilirrubina sérica conjugada elevada
• Em qualquer criança com atraso de crescimento
Definições clínicas de ITU
NICE, 2017
Quadro clinico

• Anamnese e exame físico detalhados.


Dados relevantes do exame físico da
criança com risco de ITU
Abordagem diagnóstica

• Urina rotina
• Urocultura

 O diagnóstico definitivo: presença de bacteriuria significativa


na urocultura quantitativa.
 Urina obtida de maneira asséptica e imediatamente resfriada
(0 a 4° C) até a semeadura em meio de cultura.
Abordagem diagnóstica

• Coleta da urina

• Saco coletor:
 Risco de até 85% de falsos-positivos.
 Tem valor preditivo negativo.
 Deve ser colocado após antissepsia rigorosa com água e sabão, não
deixando resíduo, e trocado a cada 30 minutos.
• Cateterização vesical transuretral:
 Em lactentes sem controle esfincteriano.
• Punção suprapúbica:
 Impossibilidade de cateterização
Critérios para diagnóstico de ITU
Critérios para diagnóstico de ITU

• Via “clean catch”: ≥ 100.000 UFC/ml de uma


única bactéria. 2 bactérias →contaminação

• Via cateterização: ≥ 50.000 UFC/ml (se 10.000-


50.000 repetir) - SBP ≥ 1.000

• Via PSP: qualquer crescimento (AAP e Nelson


considera ≥ 50.000 UFC/ml)
Sensibilidade e especificidade dos
componentes dos exames de urina
Sensibilidade e especificidade dos
componentes dos exames de urina
• Nitrito positivo:
 não habitualmente encontrado na urina. Patógenos reduzem nitrato,
proveniente da alimentação, em nitrito.

• Estearase leucocitária:
 enzima produzida por leucócitos, que na ITU, pode estar aumentada.

• Cristais de fosfato amoníaco magnesiano – estrutiva:


 alerta para cálculos infecisosos nas vias urinárias. Proteus e mais
raramente Klebsiella, Citrobacter e Pseudomonas.
Sensibilidade e especificidade dos
componentes dos exames de urina
• Leucocitúria:
 5 ou mais piócitos em urina centrifugada ou 10 ou mais piócitos em
urina não centrifugada.
 Leucocitúrias estéreis: leucorreia, vulvovaginite, balanoprostite, litíase
renal, glomerulonefrites e viroses

• Bacterioscopia:
 Realizada em uma gota de urina não centrifugada, colhida de maneira
asséptica e corada pelo método de Gram.
Outros exames

• Hemograma
• PCR
• VHS
• Procalcitonina
• Creatinina
• Hemocultura
Conduta na suspeita de ITU

• Modelo antigo de manejo de ITU mais agressivo:


todas as crianças, após o primeiro episódio, já pedia
USG, UCM e algumas vezes já a cintilografia renal
estática (DMSA).
– Aumentava a sensibilidade diagnóstica de RVU.
– Qualquer grau de RVU justificava antibioticoprofilaxia.
– Novos resultados não mostraram qualquer evidência de mudança na
evolução clínica impulsionada pela profilaxia com antibióticos ou por
ferramentas de diagnóstico por imagem.
Conduta na suspeita de ITU

• Diretrizes recentes mostraram uma mudança da


investigação agressiva por imagem e do uso
indiscriminado de antibióticos profiláticos para uma
abordagem mais restritiva e direcionada (pacientes
com fatores de risco que realmente se beneficiaram).
Conduta na suspeita de ITU
Etiologia
Etiologia
• O trato urinário é estéril, exceto pela parte
distal da uretra e região periuretral que é
colonizada por bactérias intestinais (antecede
a ITU).
– Escherichia coli predomina em meninas saudáveis
– Proteus mirabilis predomina em meninos com > 1
ano (ou cálculo renal estruvita).
– Menos comumente por vírus e fungos →
adenovírus causa cistite hemorrágica
Etiologia

• Escherichia coli: responsável por 70 a 90% de


todos os casos de ITU.
Patogênese

• A ITU pode ocorrer por duas vias:


– Hematogênica: mais comum em neonatos,
manifestando com sepse.
– Via ascendente: após o período neonatal.
• Migração ascendente das bactérias no trato contra o
fluxo urinário e fixação através das fímbrias que
promovem adesão às células uroteliais, motilidade
mediada por flagelos, resistência a defesas
antibacterianas e outras estratégias de adaptação.
Tratamento
• A maioria dos casos de cistite e pielonefrite pode ser tratado
ambulatorialmente.

• Indicação de hospitalização:
 Idade inferior a 3 meses;
 Imunodeprimidos;
 Desidratação, vômitos ou inabilidade de tolerância de medicação
oral;
 Falha na terapêutica oral;
 Suspeita de sepse ou estado geral gravemente comprometido;
 Motivo social;
 Doenças obstrutivas, malformações complexas do trato urinário ou
IR.
Terapia antimicrobiana empírica inicial
• 0 a 3 meses:
 Aminoglicosideos ou cefalosporina de terceira geração,
avaliar associação de ampicilina.

• 3 meses a 15 anos:
 Amoxicilina + clavulanato
 Cefuroxima
 Ceftriaxona
 Aminoglicosideo
Terapia antimicrobiana empírica inicial
Duração e controle
• Duração do tratamento:

• Crianças < 2 anos, ITU febril ou recorrente: 7 a 14 dias


(habitualmente 10 dias)

• Crianças > 2 anos, primeiro episódio de ITU afebril, provável


cistite: 5 dias
Duração e controle
• Controle do tratamento:

 Resposta clínica em 24 a 48 horas: resolução da febre e melhora do


estado geral.

 Substituição por medicação oral.

 Havendo resposta terapêutica e confirmação de sensibilidade no


antibiograma, não há necessidade de exame de urocultura de
controle com 48 horas após início do tratamento.
Acompanhamento após o tratamento

• Identificar, em grupos de risco, alterações das vias urinárias


que podem provocar recorrências e complicações.

• Não está indicado urocultura 48 a 72 horas após suspensão do


tratamento.
Exames utilizados na investigação do trato urinário
Exames utilizados na investigação do trato urinário
Indicação de US de vias urinárias

• Criança com idade inferior a 2 anos febril e com ITU;

• Criança de qualquer idade com ITU atípica;

• Criança de qualquer idade com ITU recorrente;

• Criança de qualquer idade com ITU e:


 antecedente familiar de doença renal ou urológica,
 baixo ganho ponderal
 hipertensão
ITU atípica
ITU recorrente
Indicação de UCM

• Criança de qualquer idade com duas ou mais ITUs febris;

• Criança de qualquer idade após a primeira ITU febril e:


 Qualquer anormalidade no US de vias urinárias
 ITU atípica + antecedente familiar de doença renal ou urológica
 Baixo ganho ponderal
 Hipertensão
Indicação de cintilografia renal
com DMSA

• Criança com idade inferior a 3 anos com ITU


recorrente ou atípica.

• Criança com idade superior a 3 anos com ITU


recorrente.
Prevenção de recorrência
• Recorrência é comum após um quadro de ITU, principalmente nos
primeiros 6 meses.

Sem alterações estruturais do trato urinário:


• Intervir ou prevenir a constipação intestinal;
• Encorajar o aumento do consumo hídrico;
 4 a 8 anos de idade – 1.000 a 1.400 ml/dia
 9 a 13 anos de idade – 1.600 a 2.400 ml/dia
 14 a 18 anos de idade – 1.800 a 2.000 ml/dia
• Realizar micção dupla (novo esforço após primeiro jato) e urinar a cada 2 a 3
horas;
• Considerar postectomia nos meninos com fimose;
• Avaliação imediata para doenças febris subsequentes com propedêutica para
ITU.
Prevenção de recorrência
• Antimicrobianos para profilaxia de recorrência de ITU:
 Anomalias urológicas significativas até a correção cirúrgica;
 Período durante a investigação morfofuncional do trato urinário após
primeiro episódio de ITU;
 ITU recorrente: dois ou mais episódios de pielonefrite, um episódio de
pielonefrite e um de cistite, três ou mais episódios de cistite. Até
término da investigação;
 Refluxo vesicoureteral grau IV ou V
Prevenção de recorrência
• Antimicrobianos para profilaxia de recorrência de ITU:
Conclusão

• A ITU é uma doença frequente na população pediátrica e


constitui um desafio para os médicos.

• É fundamental não apenas tratar adequadamente a ITU, mas


também orientar o seguimento ambulatorial e os exames de
imagem necessários para grupos de risco.

• Pretende-se, com isso, evitar sequelas de cicatriz renal, HAS e


IR.
Caso clínico
• JCV, 2 meses de idade, branco, não apresentou
intercorrências no pré-natal e no parto, foi levado ao PS
infantil por apresentar febre de 38°C há 2 dias, sem outras
queixas. O exame revelou bom estado geral, fimose fisiológica
e temperatura de 38°C. Não foram observadas alterações nos
diversos aparelhos.
Caso clínico

1. Que fatores podem levantar a hipótese de ITU neste


lactente?
2. Quais exames urinários seriam importantes para o
diagnóstico de ITU neste paciente?
3. Supondo que a triagem inicial urinária estivesse alterada,
qual seria a melhor conduta para o caso?
4. Seria necessário a investigação para este paciente?
Caso clínico

Resposta 1.
FSSL + menino não cincuncidado + prevalência maior em menino
menor de 3 meses.
Caso clínico

Resposta 2.
Urina rotina, bacterioscopia com gram e urocultura.
Caso clínico

Resposta 3.
Proceder a internação. Paciente < 3 meses.
Colher urina por cateter vesical.
Tem necessidade de início imediato de antimicrobiano empírico:
ceftriaxona ou aminoglicosideo.
Após resultado da urocultura: se afebril por 24 horas, o
antimicrobiano pode ser escalonado para outro de menor
espectro e de uso via oral.
Caso clínico

Resposta 4.
US das vias urinárias.
Em caso de alterações do US, antecedente familiar de doença
renal ou urológica, baixo ganho peso ponderal ou hipertensão:
realizar UCM ambulatorialmente após término do tratamento e
em profilaxia e sem ITU.
Obrigada.
Dúvidas?
Referências
• Infecção do Trato Urinário em Pediatria - Existe consenso entre os consensos?
Atualização 2021. Documento Cientifico SBP, 2021.
• Manejo clínico da infecção urinária na criança. Protocolo colaborativo Prefeitura de
Belo Horizonte, 2020.
• Bresolin, NL & Penido,MGMG. Infecção do trato urinário no lactente. In. Sociedade
Brasileira de Pediatria. PROPED Programa de Atualização em Terapêutica
Pediatrica: Ciclo 7, Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2021. p. 87-119.
• Lo DS. Infecção do trato urinário. In. Sociedade Brasileira de Pediatria. PROEMPED
Programa de Atualização em Emergência Pediatrica: Ciclo 2. Porto Alegre: Artmed
Panamericana; 2019. p. 45-73.
• Infecções do trato urinário em lactentes com mais de um mês e crianças pequenas:
manejo agudo, imagem e prognóstico. UPTODATE, pesquisa janeiro 2023.
• Infecções do trato urinário em lactentes e crianças maiores de um mês:
características clínicas e diagnóstico. UPTODATE, pesquisa janeiro 2023.

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