A Queda Do Ceu
A Queda Do Ceu
A Queda Do Ceu
FCSH | UNL
MESTRADO EM ANTROPOLOGIA:
CULTURAS VISUAIS | TEMAS CONTEMPORÂNEOS
palavras dadas | 1
"Por isso quero mandar minha palavras para longe. Elas vem dos espíritos que me acompanham, não são imitações de peles de
imagem que olhei. Estão bem no fundo de mim. Faz muito tempo que Omama e nossos ancestrais as depositaram em nosso
pensamento e desde então nós as temos guardado. Elas não podem acabar. Se as escutarem com atenção, talvez os brancos parem de
achar que somos estúpidos. Talvez compreendam que é seu próprio pensamento que é confuso e obscuro, pois na cidade onde vivem
ouvem apenas o ruído de seus aviões, carros, rádios, televisores e máquinas. Por isso suas ideias costumam ser obstruídas e enfumaçadas. Eles
domem sem sonhos, como machados largados nos chão de uma casa. Enquanto isso, no silêncio da floresta, nós xamãs, bebemos o pó
das árvores yãkoana hi, que é o alimento dos Xapiri. Estes então levam nossa imagem para o tempo do sonho. Por isso somos capazes de
ouvir seus cantos e contemplar suas danças enquanto dormimos. Essa é a nossa escola, onde aprendemos as coisas de verdade”. p. 77
Criança yanomami - Cláudia Andujar Jovem yanomami sob efeito da yãkoana - Cláudia Andujar
palavras dadas | 2
"Quando seus olhares acompanharem o traçado das minhas palavras saberão que ainda estamos vivos, pois a imagem de Omama nos
protege. Então poderão pensar: “Eis aí belas palavras! Os Yanomami continuam vivendo na floresta como seu antepassados. Residem
em grandes malocas, onde dormem em suas redes, perto de suas fogueiras. Comem banana e mandioca de suas roças. Flecham os
animais da floresta e pescam peixes em seus rios. Preferem sua comida aos alimentos mofados dos brancos, fechados em caixas de ferro
ou estojos de plástico. Convidam uns aos outros, de casas diferentes, para dançar durante suas grandes festas reahu. Fazem descer seus
espíritos Xapuri. Falam sua própria língua. Seus cabelos e olhos continuam semelhantes aos de Omama. Não viraram brancos.
Continuam vivendo nas mesmas terras que, do alto de nossos aviões, parecem vazias e silenciosas. Nossos pais já causaram a morte de
muitos de seus maiores. Não devemos continuar no mal caminho". P. 78
"Quando eu é um outro (e vice-versa)"
➔ Será que a vastidão do conhecimento produzido pelas sociedades ocidentais capitalistas, desenhada e
fixada em nossas "peles de papel", terá nos tornado humanos melhores do que aquela pré-humanidade,
incapaz de controlar seus instintos e desejos, do mito narrado por Davi Kopenawa? Ou seja, seremos
capazes de mudar nosso devir para evitar que o nosso modo de vida e a sua imposição global - que arruina
outras humanidades que se colocam no caminho do progresso civilizatório - faça "o céu cair" sobre todos?
Ou serão sempre belas e vãs palavras empenhadas em nos convencer de nossa humanidade em oposição
ao "outro''? Quais humanidades cabem no conceito unificador iluminista de humanidade?
➔ O que torna uma etnografia mais fiel ao seu objetivo enquanto método antropológico: o distanciamento
científico positivista entre o pesquisador e os sujeitos objetificados de estudo ou o completo envolvimento
entre esses atores, até o ponto em que o próprio antropólogo possa tornar-se (o) outro, a fim de
compreendê-lo em sua alteridade, e verdadeiramente restituir-lhe o ponto de vista para, enfim, dar a
conhecer seu universo? Existe mesmo uma antropologia que não seja engajada? A que(m) ela serve?
https://youtu.be/PQ9x7T7CCn8