Aplicabilidade Das Normas Constitucionais

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Aplicabilidade das Normas

Constitucionais
Profa. Laura Marques
APLICABILIDADE DAS NORMAS
CONSTITUCIONAIS:
 Eficácia Plena (direta e imediata)
 Eficácia Contida (direita e imediata, mas sujeita a restrições)
 Eficácia Limitada (princípios instituitivos ou programáticos com aplicabilidade reduzida).
Eficácia Plena

 Capazes de produzir todos os efeitos essenciais simplesmente com a entrada em vigor da


constituição, independente de qualquer regulamentação por lei infraconstitucional. Por isso
são dotadas de aplicabilidade:
 Imediata – aptas a produzir efeitos com a promulgação da constituição
 Direta – não dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos
 Integral - já produz efeito completo, sem sofrer limitações ou restrições
Eficácia Condita

 Capazes de produzir todos os efeitos essenciais simplesmente com a entrada em vigor da


constituição, mas podem vir a ser restringidas. O direito previsto é executável
imediatamente, entretanto, tal exercício pode ser restringido no futuro. Por isso são dotadas
de aplicabilidade:
 Imediata – aptas a produzir efeitos com a promulgação da constituição
 Direta – não dependem de norma regulamentadora para produzir efeitos
 Não-Integral - já produz efeito completo, mas pode sofrer limitações ou restrições
Restrições da Eficácia Contida:

 Por lei (art. 5º, XIII, cf/88) – restrição ao exercício do trabalho ou ofício, que poderão ser
impostas pela lei que estabelecer as qualificações profissionais.
 Por normas constitucionais – (art. 139, cf/88) restrições a alguns direitos fundamentais
durante o Estado de sítio.
 Por conceitos éticos-jurídicos – geralmente pacificados pela comunidade jurídica, e por
isso acatados, (art. 5º, XXV, em que o conceito de “iminente perigo público” atua como
uma restrição imposta ao poder do Estado de requisitar propriedade particular).
Eficácia Limitada

 São aquelas que só produzem efeitos depois de exigida a regulamentação. Elas asseguram
determinado direito , mas este não poderá ser exercido enquanto não for regulamentado.
 Enquanto não for regulamentado o exercício do direito permanece impedido. São por isso
dotadas de aplicabilidade:
 Mediata – pois somente produzem seus efeitos essenciais ulteriormente, depois da
regulamentação
 Indireta – porque não asseguram , diretamente, o exercício do direito, dependendo de
norma regulamentadora
 Reduzida- eis que com a promulgação da constituição sua eficácia é meramente
“negativa”.
 Com efeito, as normas de eficácia limitada foram divididas pelo Professor José Afonso da
Silva em dois grupos: as definidoras de princípios institutivos (organizativos ou
orgânicos)e as definidoras de princípios programáticos.
 As normas de eficácia limitada definidoras de princípios institutivos (organizativos ou
orgânicos) são aquelas pelas quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de
estruturação e atribuições de órgãos ou entidades, para que o legislador ordinário os
estruture posteriormente, mediante lei.
 São exemplos: “a lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos
territórios” (art. 33, CF/88); “a lei disporá sobre a criação, estruturação e atribuições dos
ministérios”(art. 88, CF/88); “a lei regulará a organização e o funcionamento do conselho
de defesa nacional”(art. 91, $ 2º, CF/88); “a lei disporá sobre a Constituição, investidura,
jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da justiça do
trabalho" (art, 113, CF/88).
 As normas de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos são aquelas pelas
quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses,
limitou-se a lhes traçar os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos,
executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades,
visando à realização dos fins sociais do Estado.

 Esse grupo de normas corresponde ao que a doutrina preceitua “Normas constitucionais de


eficácia limitada e aplicabilidade diferida, são as que dependem de lei para regulamentá-
las. No momento que são promulgadas, apresentam eficácia jurídica, mas não efetividade
(eficácia social). Logo, não produzem todos os seus efeitos, os quais dependem de lei para
se concretizar”
 Simplesmente, “normas programáticas”, como são exemplos o art. 3º; o art, 70,XX; o art.
7º, XXVII; o art. 173, $ 4º; o art. 196, o art. 205, o art. 216, $ 3º, o art. 217; todos da
CF/88.

 Lembremos que, segundo o STF, a circunstância de serem as normas dotadas de eficácia


programática não autoriza a conversão dos preceitos nelas consagrados em promessas
constitucionais inconsequentes, “sob pena de o Poder Público, fraudando justas
expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o
cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade
governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado”
 A Constituição Federal estabelece que as normas definidoras de direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata (art. 5º, $ 1º, CF/88). Porém, afirmar que uma norma
constitucional é dotada de aplicabilidade imediata não significa dizer que ela dispensa a
atuação positiva por parte dos poderes públicos. Significa dizer, apenas, que o direito nela
previsto poderá ser exigido pelo seu destinatário de imediato, sem necessidade de
regulamentação por lei.

 Exemplo: o inciso LXXIV do art. 5º, CF/88, estabelece que o Estado prestará assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Trata-se,
conforme já decidiu o STF, de norma de aplicabilidade imediata (eficácia plena), isto é, o
indivíduo pode, com a simples promulgação da CF/88, pleitear essa assistência gratuita,
sem necessidade de aguardar qualquer regulamentação por lei.

 Por outro lado, é norma que exige uma prestação positiva por parte do poder público, que
deverá, por meio das defensorias públicas (art. 134, CF/88), concretizar essa determinação
constitucional.
Princípio da supremacia da Constituição

 Referida premissa interpretativa estabelece que, em virtude de a Constituição ocupar o


ápice da estrutura normativa em nosso ordenamento, todas as demais normas e atos do
Poder Público somente serão considerados válidos quando em conformidade com ela.

 Constitui o alicerce em que se assenta o edifício do moderno Direito Público.

 Normas constitucionais põem-se acima das demais normas jurídicas (hierarquia) e essa
preeminência é que vai constituir superioridade da Constituição.
 Não por outra razão, em decorrência da supremacia da Constituição e da Rigidez de seu
texto, é possível questionar a constitucionalidade dos diplomas infraconstitucionais (e das
emendas constitucionais) por intermédio do controle de constitucionalidade.
Princípio da interpretação conforme a
Constituição
 Postulado que não se presta à interpretação das normas constitucionais propriamente, e sim
da legislação infraconstitucional”, encontra sua morada nas chamadas normas polissêmicas
ou plurissignificativas, isto é, aquelas que podem ser interpretadas de maneiras diversas.

 Segundo Virgílio Afonso da Silva, “(...) é fácil perceber que quando se fala em
interpretação conforme à constituição não se está falando de interpretação constitucional,
pois não é a constituição que deve ser interpretada em conformidade com ela mesma, mas
as leis infraconstitucionais. A Interpretação conforme a constituição pode ter algum
significado, então, como um critério para a interpretação das leis, mas não para a
interpretação constitucional”
 Imaginemos que uma norma “A” possua três leituras normativas possíveis: de todas, deve-
se escolher aquela que seja mais conforme à Constituição, que esteja em consonância com
o texto da Carta Maior, pois, dessa forma, mantém-se à norma no ordenamento jurídico,
evitando sua declaração de inconstitucionalidade.
 É, pois, um princípio que prestigia o ideal de presunção relativa de constitucionalidade das
leis e opera a favor da conservação da norma legal, que não deve ser extirpada do
ordenamento se à ela resta um sentido que se coaduna com a Constituição,
 Conforme Gomes Canotilho: “a interpretação conforme a Constituição só é legítima
quando existe um espaço de decisão (espaço de interpretação) aberto a várias propostas
interpretativas, umas em conformidade com a Constituição e que devem ser preferidas, e
outra sem desconformidade com ela”.
 Há, no entanto, regras a serem observadas ante a utilização da interpretação conforme à
Constituição:(1) primeiro, se o texto do dispositivo é unívoco, isto é, não tolera
interpretações múltiplas, não há que se falar em interpretação conforme.
 Conforme esclareceu o STF, a interpretação conforme só é “utilizável quando a norma
impugnada admite, dentre as várias interpretações possíveis, uma que a compatibilize com
a Carta Magna, e não quando o sentido da norma é unívoco”.
 Segundo, não são aceitáveis violações à literalidade do texto, afinal o intérprete encontra
seu limite de atuação no perímetro que envolve as possibilidades hermenêuticas do texto,
não podendo, jamais, atuar como legislador positivo, criando norma nova a partir da tarefa
interpretativa.
 Tampouco está o intérprete autorizado a ferir a finalidade inequivocamente pretendida e
desejada pelo legislador, haja vista os objetivos da lei terem de ser considerados.
 Em outras palavras: a vontade do juiz-intérprete não pode simplesmente substituirá do
legislador, de forma que a interpretação funcione como um princípio de autolimitação
judiciária”.

 Nesse sentido é a síntese do STF: “se a única interpretação possível para compatibilizar a
norma com a Constituição contrariar o sentido inequívoco que o Poder legislativo pretende
dar, não se pode aplicar o princípio da interpretação conforme a Constituição, que
implicaria, em verdade, criação de norma jurídica, o que é privativo do legislador
positivo”.
Princípio da presunção de constitucionalidade
das leis
 Como os poderes públicos extraem suas competências da Constituição, por consequência
presume-se que eles agem estritamente em consonância com esta.
 Isso confere às norma produzidas pelo Poder Legislativo (e também pelos demais poderes,
no exercício da função atípica de natureza legislativa) a presunção de serem
constitucionais, de terem sido engendradas em conformidade com o que prescreve à Carta
Maior
 Acaso não existisse essa presunção, não se poderia falar em imperatividade das normas
jurídicas, característica necessária para impor a obediência delas a todos.
 Ressalte-se que essa presunção é apenas relativa, isto é, admite prova em contrário, o que
autoriza que as normas (infraconstitucionais ou constitucionais derivadas) submetam-se ao
controle de constitucionalidade, que tem como objetivo precípuo manter a higidez do
ordenamento jurídico e assegurar a supremacia da Carta constitucional.
Princípio da unidade da Constituição

 Dotado de acentuada importância, o princípio da unidade da Constituição visa conferir um


caráter ordenado e sistematizado para as disposições constitucionais, permitindo que o
texto da Carta Maior seja compreendido como um todo unitário e harmônico, desprovido
de antinomias reais.
 Muito mais que um conjunto caótico de normas desconectadas e esparsas, o texto
constitucional é um agrupamento de preceitos integrados, alinhavados pelo ideal de
unidade.
 O princípio em estudo ganha relevo quando estamos perante o texto constitucional de uma
sociedade democrática e plural (tal qual a nossa Carta republicana de 1988), cuja redação
final não se vê como produto de um estável e pacífico acordo, mas sim de pequenas
concessões e instáveis e frágeis consensos.
Princípio da unidade da Constituição

 Se a Constituição se forma a partir de diferentes ideologias e pretensões, potencializa-se a


possibilidade conflitiva entre suas disposições normativas, tornando viáveis as tensões e os
confrontos entre as diversificadas (e, por vezes, opostas) ideias consagradas.
 A solução é reconhecer um sentido global para a Constituição, de modo que todos os
diversos componentes do tecido social, enquanto intérpretes, se empenham na difícil, mas
possível, tarefa de composição de interesses.
Princípio da unidade da Constituição

 Em decorrência desse princípio interpretativo, pode-se afirmar que não há hierarquia


normativa, tampouco subordinação entre as normas constitucionais; eventuais conflitos
entre as normas originárias serão, pois, sanados por meio da tarefa hermenêutica.
 É nesse sentido que no direito pátrio é inviável a declaração de inconstitucionalidade de
uma norma constitucional originária em face de outra.
Princípio da força normativa

 Idealizado por Konrad Hesse, preceitua ser função do intérprete sempre “valorizar as
soluções que possibilitem a atualização normativa, a eficácia e a permanência da
Constituição”.

 Destarte, deve o interprete priorizar a interpretação que dê concretude à normatividade


constitucional, jamais negando eficácia.
Princípio do efeito integrador
 Como a finalidade primordial da Constituição é ordenar a vida em sociedade, integrando-a
a um Estado formalmente constituído, todas as suas normas devem ser interpretadas de
maneira a prestigiar a unidade política instaurada pelo documento constitucional.
 Segundo Canotilho, “na resolução dos problemas jurídicos-constitucionais, deve-se dar
primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o
reforço da unidade política",
 Destarte, quando da interpretação da Constituição, deve-se, necessariamente, buscara
leitura que reforce o ideal de que a Constituição é um agrupamento normativo único,
composto por normas conectadas, que devem ser lidas de maneira a reforçar e a reafirmar
a integração política e social engendrada pela Constituição.
 A doutrina sustenta que o efeito integrador não passa de uma aplicação do princípio da
unidade da Constituição, e, pois, da interpretação sistemática, em conjunto com a ideia de
força normativa da Constituição, uma vez que “o efeito integrador nada mais seria doque
“dar efetividade ótima (força normativa) à unidade político-constitucional (unidade da
Constituição)”,
Princípio da concordância prática ou
harmonização
 Tal qual o princípio da unidade constitucional, o da concordância prática também visa
solver eventuais desacertos entre as normas constitucionais. Enquanto o primeiro, no
entanto, é manejado em abstrato, envolvendo normas que dissociadas das ocorrências
fáticas já se põem em rota de colisão, o último atua perante conflitos específicos, que
somente se pronunciam diante de um caso concreto.
 Pode-se mencionar, como exemplo, os direitos à liberdade de informação e à privacidade
que, abstratamente, não guardam ente si qualquer tensão visível. Perante casos concretos,
entretanto, é plausível supor que colidam quando, imaginemos, a não exibição de uma
reportagem (direito à privacidade) for confrontada com o direito à informação em se exibir
tal matéria jornalística. Para resolver a questão, faz-se necessário conciliá-los, a fim de
desvendar uma resposta normativa que impeça a negação de um em face do outro
Princípio da concordância prática ou
harmonização
 Nesse sentido, Inocêncio Coelho” nos ensina que o princípio da harmonização ou da
concordância prática consiste, essencialmente numa recomendação para que o aplicador
das normas constitucionais, em se deparando com situações de concorrência entre bens
constitucionalmente protegidos, adote à solução que otimize a realização de todos eles,
mas ao mesmo tempo não acarrete à negação de nenhum.
 Forçoso será, pois, reconhecer que ambos são valores demasiado caros ao ordenamento e
que ostentam idêntica importância e status normativo, de modo que a solução é
salvaguardaramos, a partir de condicionamentos recíprocos. Sendo possível, o ideal é a
concordância prática, a redução proporcional de cada um deles que não ocasione o
sacrifício de um em detrimento de outro.
 Nos dizeres de Canotilho: "Subjacente à este princípio está a ideia do igual valor dos bens
constitucionais (e não uma diferença de hierarquia) que impede, como solução, o sacrifício
de uns em relação aos outros, e impõe o estabelecimento de limites e condicionamentos
recíprocos de forma a conseguir uma harmonização ou concordância prática entre estes
bens”.
Princípio da máxima efetividade ou da
eficiência (intervenção efetiva)

 Doutrinariamente aponta-se que a definição desse postulado é muito semelhante a do


princípio anterior: o que os diferencia é a circunstância de o princípio da força normativas
referir à Constituição globalmente considerada e o da máxima efetividade relacionar-
se,sobretudo, aos direitos fundamentais.
 O princípio da máxima efetividade (ou da eficiência) apresenta-se, pois, como um apelo,
para que seja realizada a interpretação dos direitos e garantias fundamentais de modo a
alcançar a maior efetividade possível, de maneira a otimizar a norma e dela extrair todo o
seu potencial protetivo.
Princípio da conformidade funcional ou justeza

 Sabe-se que é tarefa da Constituição fixar a estrutura política organizacional do Estado,


estabelecendo as atribuições dos Poderes. Manter intacto o panorama de competências tal
qual engendrado pela Carta Maior é imprescindível à própria continuidade do projeto
constitucional.

 É nesse contexto que o princípio da conformidade funcional ou justeza objetiva impedir


que os órgãos encarregados de realizar a interpretação constitucional cheguem a um
resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório funcional estabelecido pela
Constituição, sob pena de usurpação de competência
 Um exemplo que corriqueiramente é trazido à baila como expressão de um uso inadequado
do princípio é à suposta mutação constitucional que atingiria a norma constante do art. 52,
X da CF/88, transformando a atribuição do Senado Federal — de suspender a execução da
lei declarada inconstitucional pelo STF, ampliando os efeitos da decisão de “inter partes”
para “erga omnes” — em competência do Supremo Tribunal Federal, restando ao Senado,
tão somente, a tarefa de conferir publicidade à decisão emanada da Corte.

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