11 - Décimo - Primeiro

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MITO 2

“Brasileiro não sabe português / Só em


Portugal se fala bem português”
Podemos encontrar essa concepção expressa no livro
Língua viva, de Sérgio Nogueira Duarte, que é uma
coletânea de suas colunas sobre língua portuguesa
publicadas no Jornal do Brasil. Ali a gente lê, na página 65:
“Sempre me perguntam onde se fala o melhor português. Só
pode ser em Portugal!
Já viajei muito pelo Brasil e já estive em todas as regiões.
Sinceramente, não sei
onde se fala melhor. Cada região tem suas qualidades e seus
vícios de linguagem. “

Um olhar sobre a língua


E por incrível que pareça, um dos
principais obstáculos para a difusão no Brasil do cinema feito em
Portugal é justamente... a língua — além das dificuldades de
distribuição, ligadas ao quase monopólio do cinema americano.
Como os brasileiros têm dificuldades em entender o português de
Portugal, e como ficaria no mínimo estranho colocar legendas em
filmes portugueses, o resultado é que praticamente nunca se vê
filme português nos cinemas daqui.

Uma curiosidade
O que não existe no português falado em Portugal é a
construção do tipo estou comendo, ela está telefonando,
Pedro esteve trabalhando muito — situações em que os
portugueses usam a preposição a seguida do verbo no
infinitivo. Imagine agora se algum de nós, brasileiros,
disser por aí frases como “estou a comer”, “ela está a
telefonar”,”Pedro esteve a trabalhar muito”, que são uma
das características mais marcantes do português de
Portugal!

Real diferença
• Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua,
no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente
e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela.
• No fundo, a ideia de que “português é muito difícil” serve como mais
um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais
privilegiadas. Essa entidade mística e sobrenatural chamada
“português” só se revela aos poucos “iniciados”, aos que sabem as
palavras mágicas exatas para fazê-la manifestar-se. Tal como na Índia
antiga, o conhecimento da “gramática” é reservado a uma casta
sacerdotal, encarregada de preservá-la “pura” e “intacta”, longe do
contato infeccioso dos párias.

Mito nº 3- Português é
muito difícil
O preconceito linguístico se baseia na crença de que só
existe, como vimos no Mito n° 1, uma única língua
portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada
nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos
dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape
desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada,
sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia,
estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente
ouvir que “isso não é português”.

Mito nº4- As pessoas sem


instrução falam errado.
Para mostrar que a fala nordestina nada tem de “engraçada”
ou “ridícula”, vamos fazer uma pequena comparação. Na pronúncia
normal do Sudeste, a consoante que escrevemos T é pronunciada [tš]
(como em tcheco) toda vez que é seguida de um [i]. Esse fenômeno
fonético se chama palatalização. Por causa dele, nós, sudestinos,
pronunciamos [tšitšia] a palavra escrita TITIA . E todo mundo acha
isso perfeitamente normal, ninguém tem vontade de rir quando um
carioca, mineiro ou capixaba fala assim.

Um hábito

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