Rosa Do Povo, Carlos Drummond de Andrade
Rosa Do Povo, Carlos Drummond de Andrade
Rosa Do Povo, Carlos Drummond de Andrade
UFU 2021-2
NO DIA 5 DE AGOSTO DE 1987, DEPOIS DE DOIS MESES DE “E como ficou chato ser moderno
INTERNAÇÃO, MORREU SUA FILHA MARIA JULIETA, VÍTIMA Agora serei eterno!”
DE CÂNCER. O ESTADO DE SAÚDE DO POETA PIOROU, E Fazendeiro do Ar
DRUMMOND MORREU MENOS DE DUAS SEMANAS DEPOIS,
EM 17 DE AGOSTO, DE PROBLEMAS CARDÍACOS.
MODERNISMO SEGUNDA FASE
(1930 – 1945)
Também chamada de “Fase de Consolidação”, os poetas dessa fase
deram continuidade às conquistas dos primeiros modernistas e
criaram possibilidades temáticas, perpetuando a nova concep ção de
Literatura defendida por seus antecessores e levando adiante o
projeto de liberdade de expressão que possibilitou at é mesmo a
retomada do espiritualismo dos simbolistas, as formas clássicas do
Parnasianismo e as líricas portuguesas e brasileiras.
Poetas: Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cec ília Meireles, Jorge de Lima,
Murilo Mendes...
MODERNISMO DRUMMONDIANO
Referente às obras de Carlos Drummond, os autores Carlos Faraco e
Francisco Moura sintetizam-nas da seguinte forma:
1. Desajustamento do indivíduo: o poeta se vê marginalizado,
desajustado;
2. Monotonia da vida: aborda o cotidiano como algo sem dinamismo,
retrata sua terra natal;
3. Nostalgia do passado: evoca sua cidade natal e sua inf ância perdida;
4. Obstáculos da vida: desafios da existência, vicissitudes da sorte;
5. Preocupação sociopolítica: aborda as grandes tragédias mundiais;
6. Angústia: presença constante da morte;
7. A própria poesia: reflexões sobre a função da poesia;
8. Falta de perspectiva: transformação do ser humano em objeto, pe ça
descartável da engrenagem social.
Características, como o pessimismo, a ironia, o humor, o saudosismo e
a coloquialismo, estão presentes em todas as suas obras.
SOBRE A OBRA
Uma poesia marcada pelo momento histórico." É assim que o crítico
Antônio Houaiss qualifica a poesia de Carlos Drummond de Andrade
reunida em A Rosa do Povo, livro escrito durante a Segunda Guerra
Mundial, publicado em 1945.
A obra propõe o mesmo debate inesgotável sobre a situa ção do
artista no mundo e sua posição em face dos problemas políticos e
sociais do seu tempo. Drummond tomou posição e manteve-se fiel a
seu ideário, embora reconhecendo a falácia de ilusões que se
misturavam a perenes interesses de justiça, liberdade e paz. Ao lado
disso, o livro é de intenso lirismo existencial.
São 55 poemas que podem ser rearranjados, como metalingu ísticos,
sociais, existencialistas e há aqueles que abordam rela ções
familiares, amorosas e de amizade.
GÊNERO LÍRICO
Não rimarei a palavra sono Carne: coisas
com a incorrespondente palavra outono. reais, palpáveis
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convém. As palavras
As palavras não nascem amarradas, possuem
elas saltam, se beijam, se dissolvem, independência e
no céu livre por vezes um desenho, são flexíveis
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.
“Chega mais perto e contempla as palavras. ∕ Cada uma ∕ tem mil faces
secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta, ∕ pobre ou terr ível, que lhe
deres: ∕ Trouxeste a chave?”
São poemas nos quais o autor revela sua vertente engajada. Estão a
serviço da denúncia social e da transformação da sociedade. Percebe-se
nesses textos a consciência do poeta que se coloca no papel de revelar
as injustiças sociais.
Tem-se a influência do Existencialismo no qual a realidade é vista como
caótica e cabe aos homens ordená-la conforme suas escolhas.
“Crimes da terra, como perdoá-los? ∕ Tomei parte em muitos, outros
escondi.
Alguns achei belos, foram publicados. ∕ Crimes suaves, que ajudam a
viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa. ∕ Os ferozes padeiros do mal. ∕
Os ferozes leiteiros do mal.”
No entanto, mesmo diante de tanta miséria moral e tantas
atrocidades, ainda há esperança. Esta é mínima, mas existe e é o
começo de uma mudança.
“Uma flor nasceu na rua! ∕ Passem de longe, bondes, ônibus, rio de
aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ∕ ilude a pol ícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, ∕ garanto que uma
flor nasceu.”
“Sua cor não se percebe. ∕ Suas pétalas não se abrem. ∕ Seu nome
não está nos livros. ∕ É feia. Mas é realmente uma flor.”
“É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”
“Nosso tempo” revela um pessimismo e um universo fragmentado,
dominado pela mentira e por interesses escusos. Nada resta ao eu l írico
além de tentar revelar tais problemas.
(CARTA A STALINGRADO)
“Esperei (tanta espera), mas agora,
nem cansaço nem dor. Estou tranquilo.
Um dia chegarei, ponta de lança,
com o russo em Berlim.
(Visão 1944)
“Morte do leiteiro” evoca a morte (tema constante na obra) trágica e banal.
Tem-se a presença da ironia.
“Então o moço que é leiteiro ∕ de madrugada com sua lata ∕ sai correndo e
distribuindo leite bom para gente ruim.”
“O revólver da gaveta ∕ saltou para sua mão. ∕ Ladr ão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada ∕ liquidaram meu leiteiro. ∕ Se era noivo, se era
virgem, se era alegre, se era bom, ∕ não sei, ∕ é tarde para saber.”
“Está salva a propriedade. ∕ A noite geral prossegue, ∕ a manh ã custa a
chegar, mas o leiteiro ∕ estatelado, ao relento, ∕ perdeu a pressa que tinha.”
“Da garrafa estilhaçada, ∕ no ladrilho já sereno ∕ escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei. ∕ Por entre objetos confusos, ∕ mal redimidos da
noite, duas cores se procuram, ∕ suavemente se tocam, ∕ amorosamente se
enlaçam, formando um terceiro tom ∕ a que chamamos aurora.”
“Quando surgiu a que cedo desponta, Aurora de róseos
dedos” – Odisseia, de Homero
IV. Abordam relações familiares, amorosas e de amizade: Campo, Chin ês
e Sono, Mário de Andrade Desce aos Infernos e Canto ao Homem do
Povo Charlie Chaplin, Caso do Vestido e O Mito
“Campo, Chinês e Sono” faz uma menção ao poeta João Cabral de Melo
Neto, retomando obra “Pedra do sono” da fase surrealista do poeta-
engenheiro.
O Mito
Caso do vestido
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma”
o Anúncio da Rosa: anúncio de paz/esperança
“Imenso trabalho nos custa a flor.
Por menos de oito contos vendê-la? Nunca.
Primavera não há mais doce, rosa tão meiga
onde abrirá? Não, cavalheiros, sede permeáveis”
“e não há oito contos. Já não vejo amadores de rosa.
Ó fim do parnasiano, começo da era difícil, a burguesia apodrece.
Aproveitem. A última
rosa desfolha-se.”
(A morte do leiteiro)
PARA FINALIZAR...
“Já não há mãos dadas no mundo.
Elas agora viajarão sozinhas.
Sem o fogo dos velhos contatos,
que ardia por dentro e dava coragem
(Mas viveremos)
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.