Pecado e Inferno
Pecado e Inferno
Pecado e Inferno
INTRODUÇÃO
Os antigos catecismos, hoje condensados no
Catecismo da Igreja Católica eram pródigos em
definições e conceitos, que nem sempre
esclareciam o necessário. Para fugir de alguns
desses lugares comuns, vou começar esta
meditação sobre o pecado, contando uma história,
que talvez nos ajude a refletir melhor sobre a
questão.
PECADO
• A HISTORIA DO REI DAVID
• “Em um país do Oriente Médio havia um rei
muito poderoso e protegido de Deus. Ele se
chamava Davi...
PECADO
• Bem, para dar curso à nossa reflexão sobre
pecado, cabe perguntar: Qual foi o pecado
mais grave de Davi? Vamos ver o itinerário do
pecador:
PECADO
1• olhou a mulher tomar banho
• hat’at
No hebraico ha’tat tem um sentido de desvio;
• hamartia
No grego hamartía é algo parecido com quebra;
• peccatum
As duas palavras acima (ha’tat e hamartia) passaram para o latim
como peccatum, com um sentido mais grave, aproximado de
crime ou delito.
PECADO
• pecado é a negativa do amor (Deus é amor, lembram?), é rompimento deliberado com Deus, é
dizer-lhe não, é estabelecer uma negativa consciente em aderir ao plano de salvação... e vai por aí.
O pecado, na verdade é sempre pessoal, mas suas conseqüências, em geral, podem ir além da
pessoa. Perdendo-se o sentido do amor, perde-se o sentido de Deus (ou vice-versa). Perdendo-se o
sentido de Deus, cai-se, invariavelmente, em idolatria, quando as coisas de valor nulo ou relativo
são absolutizadas. O pecado caracteriza-se por um não, sonoro, consciente e profundo,
- ao outro- quando o homem despreza a comunhão com o próximo, tem lugar o egoísmo; o egoísta
rejeita o “nós” em detrimento do,”eu”; não há lugar para a alteridade;
- a si próprio- o ser humano renuncia à filiação divina e ao cultivo de valores mais puros que ornam
sua vida, e vai acabar como aquele filho, na parábola, que tendo tudo na casa do pai, resolveu usar
mal sua liberdade, e acabou solitário comendo a comida dos porcos (cf. Lc 15, 11-24);
•
- à natureza- a violência contra a ordem cósmica, movida pelo egoísmo e pela ambição, quebra
todas as relações de bom senso do homem com a natureza; o homem destrói, mata, polui,
influenciando negativamente as estruturas econômicas, políticas, sociais e ambientais.
PECADO
• Por respeito à sua liberdade, Deus pode orientar,
sinalizar o caminho humano, mas nunca forçar o
homem, sob coação ou violência, a seguir seus projetos.
Desde os tempos antigos vige essa sentença: “Eis que
ponho diante de ti o bem e o mal! Escolhe o bem e
viverás!” (cf. Dt 30, 15-20; Is 1,19ss). Nos evangelhos,
esse bem ou mal seria descrito por Jesus como “dois
caminhos com duas portas” onde, estreito é aquele
que leva à vida, e larga a porta que conduz à perdição
(cf. Mt 7, 13s). Modernamente, a hamartiologia (parte
da teologia dogmática que estuda o pecado) dividiu o
pecado em pessoal (ou individual) e social.
Pecado Individual/Pessoal
• • pecado pessoal é um ato individual, de ação
negativa ou de omissão, cometido por uma
pessoa sozinha, no gozo de sua plena liberdade,
sem coações nem pressões psicológicas
irresistíveis. É a falta (ruptura com Deus)
cometida pelo pecador, cuja conseqüência atinge
a ele próprio, impedindo o crescimento do amor
em seu coração.
Pecado Social
2º - Presunção de salvação sem merecimentos, ou seja, a pessoa cultiva em sua alma uma vaidade egoísta, achando-se já salva, quando na verdade nada fez para que merecesse a
salvação. Isso cria uma fácil acomodação a ponto da pessoa não se mover em nenhum aspecto para que melhore. Se já está salva para que melhorar? – pode perguntar-se. Assim, a
pessoa torna-se seu próprio juiz, abandonando o Juízo Absoluto que pertence somente a Deus; é quando, por soberba, a pessoa se julga já salva, e, por isso, se recusa a pedir
perdão a Deus;
3º - Negar a verdade conhecida como tal, ou seja, quando a pessoa percebe que está errada, mas por uma questão meramente de orgulho, não aceita: prefere persistir no erro a
reconhecer-se errada. Nega-se assim à Verdade que é o próprio Deus; é quando o pecador de tal modo se entrega conscientemente à mentira a ponto de acabar acreditando nela e,
por isso, recusa até a evidência da verdade. Era o pecado dos fariseus que viam Cristo fazer milagres, e os negavam, apesar de vê-los. Não havia então modo de convertê-los;
4º - Ter inveja das graças que Deus dá aos outros, ou seja, a inveja é um sentimento que consiste primeiramente em entristecer-se porque o outro conseguiu algo de bom,
independentemente se eu já possua aquilo ou não. É o não querer que a pessoa fique bem. Ora, se eu tenho inveja da graça que Deus dá a alguém, estou dizendo que aquela pessoa
não merece tal graça, me tornando assim o regulador do mundo, inclusive de Deus, determinando a quem deve ser dada tal ou tal coisa; é, ter raiva de que Deus, por amor, tenha
dado alguma graça a outros, e não a nós. Desse modo se odeia a bondade de Deus, que é o Espírito Santo;
5º - Obstinação no pecado, ou seja, é aquela teimosia, a firmeza, a relutância de permanecer no erro por qualquer motivo. Como o Papa João Paulo II disse, é quando o homem
“reivindica seu pretenso ‘direito’ de perseverar no mal – em qualquer pecado – e recusa por isso mesmo a Redenção”; pecador é aquele a cai em pecado, se arrepende e é
reintegrado; o ímpio, obstinadamente não aceita abandonar sua situação de pecado, e se condena por sua própria opção;
6º - Impenitência final, ou seja, é o resultado de toda uma vida que rejeita a ação de Deus: persiste no erro até o final e recusa arrepender-se e penitenciar-se. Configura-se essa
impenitência quando a pessoa recusa o perdão de Deus na hora da morte, rejeitando, de forma ímpia, os sacramentos.
pecado original
• O pecado original é uma tendência natural que nasce com o ser humano,
predispondo-o ao rompimento com o bem. “Pecado original não é um
erro de fabricação. O homem não traz em si uma consciência de uma
culpa qualquer, cometida anteriormente. Nem traz consigo o pecado dos
pais, como se fosse um pecado pessoal. O mal pessoal começa quando o
homem, em vez de abrir-se para o infinito e nascer assim de Deus que lhe
estende a mão, procura reduzir o infinito ao tamanho de seus próprios
limites finitos(...). Existe uma misteriosa solidariedade no mal entre os
homens, assim como em todos nós existe uma absoluta necessidade de
redenção e de libertação. Pecado original, nessa contingência, é um
radical desajuste que nasce com o homem. Desajuste em relação à
finalidade para a qual foi criado” (In: C. MESTERS. Paraíso Terrestre,
saudade ou esperança?”, Ed. Vozes, 10a. ed., 1985).