Clarice Lispector e João Guimarães Rosa

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FICÇÃO

CONTEMPORÂNEA
Clarice Lispector
&
Guimarães Rosa

A GERAÇÃO DE 45
(1945 - 1970)
CLARICE LISPECTOR
(1920 - 1977)
CLARICE LISPECTOR
(1920 - 1977)
 Romances: Perto do coração selvagem
(1944); O lustre (1946); A cidade sitiada
(1949); A maça no escuro (1961); A
paixão segundo G. H. (1964); Uma
aprendizagem ou o Livro dos prazeres
(1969); Água viva (1973); A hora da
estrela (1977) - Contos: Laços de família
(1960); A legião estrangeira (1964);
Felicidade clandestina (1971); etc...
CLARICE LISPECTOR

Elementos temáticos e
procedimentos narrativos:
A existência subjetiva

 Interesse em desvelar a existência subjetiva


dos personagens, relegando a história
propriamente dita a um plano secundário.
Mais do que a intriga, predominam as
inusitadas experiências psíquicas e as
impressões fugidias dos personagens
despertadas pela realidade.
O monólogo interior
 Utilização constante do monólogo interior, isto
é, de um monólogo não pronunciado, que se
desenrola apenas na mente dos personagens.
O monólogo interior, em sua acepção plena,
expõe labirínticos fluxos de consciência dos
personagens, permitindo ao ficcionista o
registro dos conteúdos mais sutis e profundos
da alma humana.
A epifania
 O termo epifania significa o relato de uma
experiência que mostra toda a força de
inusitada revelação. É a percepção de uma
realidade atordoante quando os objetos mais
simples, os gestos mais banais e as situações
mais cotidianas comportam súbita iluminação
na consciência dos figurantes. Ao dar-se a
epifania, a consciência do indivíduo se abre
para outra realidade.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra

 Geralmente é composto por mulheres, imersas


em estado de absoluta interiorização,
esmagadas pelo peso da subjetividade e para
quem a realidade externa é nebulosa e
ameaçadora.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra

 Enclausuradas em dolorosa solidão, essas


personagens buscam incessantemente a
própria identidade. A investigação do “quem
sou?” torna-se, invariavelmente, o núcleo
psicológico de todos os enredos.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra

 São personagens em situação de


dilaceramento, oscilando entre o desconforto
da contínua interrogação íntima e o desejo de
ruptura com a introspecção e de
estabelecimento de vínculos com o mundo
objetivo.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra
 Perpétua sensação de náusea dos personagens
diante da experiência do vazio, do absurdo da
vida e da liberdade ilimitada. O “contato com o
outro” talvez seja a resposta a essa “náusea”,
mas as personagens de Clarice raramente
encontram uma saída e, quando a conseguem,
deparam-se apenas com a morte, único
elemento de comunhão com o outro.
A náusea

 Trata-se da náusea existencialista, à maneira


de Sartre: mais do que uma sensação física
de enjoo, é uma situação de absoluta
liberdade de quem a vivencia. Liberdade no
sentido da destruição de todos os valores
tradicionais e da morte de todas as crenças.
A náusea

 O ser, despojado de suas antigas


certezas, vaga em um universo de
destroços, mas, ao mesmo tempo em
que o tédio e o desespero o ameaçam,
ele pode encontrar uma nova
alternativa para a existência.
João Guimarães Rosa
(1908 - 1967)
João Guimarães Rosa
(1908 - 1967)
 A obra de Rosa representa o ponto máximo da
ficção brasileira do século XX. Em um processo
criativo assombroso, marcado pela invenção
estilística, pelo uso de todos os recursos
modernos da técnica narrativa e pela
demonstração de um inesgotável conhecimento
empírico (q. se guia pela experiência), tanto do
sertão mineiro quanto dos dramas da condição
humana, o autor pode ser considerado “o único
ficcionista completo da América Latina”.
João Guimarães Rosa
Obras:

 Romance : Grande sertão: veredas


(1956) - Contos: Sagarana (1946);
Primeiras estórias (1962); Tumatéia
(1967); Estas estórias (1969) -
Novelas: Corpo de baile (Manuelzão e
Miguilim, No Urubuquaquá, No
Pinhém, Noites do sertão) 1956.
A obra de Rosa
 Características básicas: A primeira
grande inovação do autor =
linguagem = linguajar do sertanejo
(mineiro) + recriação estilística =
linguagem revolucionária =
processo de transfiguração
estilística = invenção de um novo
léxico.
O mundo de Rosa

 Mundo retratado = sertão mineiro =


imobilizado no tempo = principal
traço: a consciência mítica dos
personagens (realismo mágico =
eventos inverossímeis de um ponto de
vista racionalista= o Demônio)
A revelação do sertão mineiro

 A) O sertão como espaço físico:Minas Gerais =


caracterizado por boas pastagens para a
criação de gado, com chapadões e várzeas,
descrito minuciosamente em sua flora e fauna,
em suas “veredas misteriosas” (vereda =
caminho estreito)
A revelação do sertão mineiro

 B) O sertão simbólico: O “labiríntico” onde o


homem joga seu destino = “O sertão está fora
e está dentro de cada personagem de
Guimarães Rosa” (Antonio Candido).
A revelação do sertão mineiro

 C) O sertão como estrutura histórico-cultural:


 Realidades diferentes = civilização sertaneja
(rústica - base cultural = colonização ibérica –
consciência mítico-sacral) X civilização
“litorânea” (moderna, urbana e evoluída).
A problematização da existência
 Além de fixar, de forma “realista”, o sertão
arcaico de MG no exato momento em que ele
começava a desaparecer, engolfado pela
expansão da sociedade urbana e a
consequente homogeneização cultural do país,
Guimarães Rosa transforma muitos de seus
personagens em sujeitos que interrogam o
mundo e a si próprios em busca dos
fundamentos da existência.
As travessias

 A tentativa de captar a essência das coisas


no tumulto da vida cotidiana, faz o homem
mergulhar em incertezas, verdades
provisórias e dúvidas metódicas... Interroga,
então, o mundo e a si mesmo em busca de
uma razão para a existência = a travessia
metafísica (interior).
Grande sertão:veredas
(1956)
Grande sertão:veredas
(1956)
 Romance estruturado no jogo
dialético do presente e do passado:
 Plano presente= O ex-jagunço e hoje
fazendeiro Riobaldo narra a história
de sua vida a um doutor, ao mesmo
tempo em que formula uma série de
interrogações sobre o sentido da
existência (luta: bem x mal) a
presença do demônio, etc.
Grande sertão:veredas
(1956)
 Plano do passado= Focaliza as
experiências do jagunço Riobaldo pelo
sertão mineiro. Ocorre tanto uma
travessia exterior, por um sertão real,
como uma travessia interior, que leva
o protagonista ao autoconhecimento.
A percepção de si mesmo surge do
contato com outros homens, em
especial com Diadorim = o amor +
Hermógenes = o ódio
Grande sertão:veredas
(1956)
 Do ponto de vista narrativo, todas as
experiências do passado são discutidas no
presente, por Riobaldo, mediante um conjunto
de angustiadas interrogações sobre o destino
individual e a condição humana, sobre Deus e o
diabo, sobre o amor e o ódio, sobre a
passagem do tempo e a morte, etc. Dessa
forma, passado e presente, em permanente
contraposição, formam a totalidade da obra.
Grande sertão:veredas
(1956)
 As inquietações de Riobaldo:
 A existência ou não do demônio;
 A natureza nebulosa das relações entre o
bem e o mal;
 O significado do sentimento que
experimentou por Diadorin;
 O sentido de sua vida de jagunço;
 A busca de uma explicação para a condição
humana.
Grande sertão:veredas
(1956)

 As travessias de Riobaldo:
 A) Travessia exterior = como jagunço em um
sertão real, na qual ele conhece a natureza e
os limites extremos da condição humana,
cristalizada na selvageria e nos gestos épicos
dos companheiros de jagunçagem.
Grande sertão:veredas
(1956)
 B) A travessia interior:
 O autoconhecimento = A profunda percepção
de si mesmo e a própria formação de sua
subjetividade surgem do contato com dois
outros indivíduos que sintetizam as noções
difusas de bem e mal. Um abre para Riobaldo
as portas do medo, do ódio e da ambição:
Hermógenes. O outro, mulher camuflada de
homem, desencadeia a explosão do amor:
Diadorin.
Grande sertão:veredas
(1956)
 C) A travessia da passagem de um tipo de
consciência mítico-sacral (Riobaldo-jagunço)
para outra de estrutura lógico-racional
(Riobaldo-fazendeiro):a primeira é comum às
sociedades indígenas e mestiças dos sertões
brasileiros e latino-americanos: explica o
mundo pelo mito e pelo sagrado; a segunda é
própria da civilização racionalista moderna: vê
o mundo de um ponto de vista científico.
Grande sertão:veredas
(1956)
 Conclusão: À medida que a racionalidade das
sociedades modernas avança, o pensamento
mítico-sacral, ou mágico, tende a dissolver.
Assim, em Grande sertão:veredas, o diabo é
um personagem fundamental, no plano do
passado, dentro do universo sacral em que se
movem os jagunços. Já no plano presente,
quando conta sua vida ao doutor, Riobaldo
tende a negar a existência do demônio.

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