A Destruição de Monumentos Como Forma de Protesto em Discussão (Destruir Ou Preservar?)
A Destruição de Monumentos Como Forma de Protesto em Discussão (Destruir Ou Preservar?)
A Destruição de Monumentos Como Forma de Protesto em Discussão (Destruir Ou Preservar?)
protesto em discussão
(Destruir ou preservar?)
PROFA. MILENE GASPARINI
No começo deste mês (JUNHO), a derrubada de uma estátua em
Bristol, na Inglaterra, reacendeu um debate de anos sobre
a destruição de monumentos históricos como forma de protesto.
Mas, diferentemente de alguns anos atrás, o assunto agora parece
estar ganhando mais espaço e partindo para um debate que vai
além da classificação do ato como vandalismo, especialmente por
parte da mídia.
O protesto contra o monumento, em 2013, não foi o último, e ele e outras homenagens a
bandeirantes, como a estátua de Borba Gato, também em São Paulo, voltaram a amanhecer
pichadas em outras ocasiões, como em 2016.
No monumento, estão
representadas 29 figuras
humanas, entre
portugueses, negros,
mamelucos e índios.
O professor Raphael Tim explica que essas estátuas foram levantadas nos
séculos 19 e 20, quando a parcela dominante da sociedade considerava
positivo homenagear esse tipo de figura.
Segundo ele, essa era uma maneira também de heroicizar esses homens,
além de uma estratégia de apagamento da história. E é aqui que entra a
questão do revisionismo.
*https
://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/negacionismo-historico-no-brasil-atu
al-por-que-estamos-negando-os-fatos.phtml
Muitos apontam que a derrubada ou a simples remoção dessas estátuas dos
lugares onde estão deveria ser lida como uma tentativa de revisionismo
histórico – uma negação e silenciamento do passado.
Segundo o professor, o debate quase inexistente sobre história faz com que,
hoje, uma parcela da população defenda a manutenção desses monumentos
como e onde estão pela simples defesa de um patrimônio do qual ela
desconhece a história.
Afinal, as estátuas nos mostram de onde viemos, e não para onde desejamos ir.
Do ponto de vista prático, Sérgio Duarte afirma ser cético quanto ao poder que estátuas têm
de educar as pessoas que passam diante delas todos os dias – mas este ceticismo também se
aplica quando se afirma que a estátua de um bandeirante tem o poder de oprimir os
descendentes de indígenas que a contemplam.
“Na prática, para que serve uma estátua? É só uma exaltação simples do passado que dá
dinheiro para quem a constrói.”
Então, de onde vem a defesa das homenagens que Sérgio Duarte teceu quando propuseram
sua destruição?
Não de um apego material às figuras de bronze, mas da rejeição ao impulso mal-informado
de destruição.
“É uma ideia frágil, infantil, porque não é orientada pelos parâmetros da história da arte,
semiótica, psicologia, ou coisa que sirva para reconstruir uma relação com a memória. Por
este paradigma, uma vez que as estátuas forem ao chão, você terá de encontrar outra coisa
para destruir e satisfazer sua sanha desorientada por justiçamento.”
Isso não significa, segundo o historiador, que estamos condenados a idolatrar ídolos
construídos com propósitos românticos há muito esquecidos. “Nada impede que se mude a
relação com a memória”.
Nos últimos anos, o mundo tem vivenciado uma crescente negação de fatos históricos.
O negacionismo não existe apenas nas humanidades, mas também nas ciências geológicas
(teorias que negam o formato do planeta) e nas ciências biológicas — afirmações bíblicas e
criacionistas em detrimento da evolução por seleção natural, segundo a teoria de Darwin.
(...)
Independentemente de posições políticas, o debate sobre esses conteúdos deve ser
mantido por todos os cidadãos dentro de termos racionais, e construído com base em
argumentos sólidos – afinal, a História é uma ciência como todas as outras.
Revisionismo histórico ou negação ideológica?
Revisar a história através de novas fontes é um método eficaz, que movimenta a comunidade
científica. Assim como descobertas sobre a ação de uma bactéria no organismo levam à
criação de novos medicamentos, evidências documentais, objetos históricos e relatos dos
que viveram em determinado período levam à mudança ou ampliação no entendimento
histórico. Esse é um revisionismo necessário, baseado em argumentos solidificados.
O que vem ocorrendo, inclusive entre acadêmicos, intelectuais e políticos, é uma tentativa de
revisar a história através de ideologias, onde se olha para um fato (por exemplo, os dados
sobre genocídio indígena no Brasil) a partir de um prisma ideológico.
“Quais as fronteiras entre o revisionismo historiográfico e o ideológico?
O que deve pautar a revisão historiográfica, e qual a relação entre isso e uma
perspectiva ideológica?
Não se trata de inibir opiniões sobre a História, mas deixar claro que o
conhecimento histórico tem que ir além da opinião. Ele pode compor opinião,
mas é sobretudo resultado de um trabalho, de um método, de uma reflexão
sobre evidências e fontes, que obviamente não visa silenciar as opiniões
sobre o passado.
Tim aponta que já existem movimentos semelhantes que visam a rememorar fatos
relacionados a populações oprimidas, como a instalação de placas em centros históricos
relatando episódios que se passaram ali. Foi nessa linha de preservação da memória que o
governo federal, junto a organizações sociais, ativistas e o Iphan mobilizaram-se, a partir de
2014, para que o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, fosse restaurado e preservado.
“A exposição ao público da materialidade do Valongo funciona como uma denúncia, nos leva a
lidar abertamente, a sentir e a reviver os horrores da escravidão de africanos. Essa é uma
história que não pode ser esquecida. Deve ser lembrada, lembrada sempre, para que nunca
mais se repita”, afirmou em entrevista ao UOL.
Embora o caso do Valongo não seja diretamente comparável ao das estátuas de escravagistas e
colonizadores, agora alvos de protesto – já que elas nasceram unicamente como uma
homenagem – o historiador do Museu Paulista da USP (Museu do Ipiranga), Paulo César Garcez
Marins, disse, em entrevista ao UOL Tab, que uma medida semelhante a essa fosse
implementada.
“Não consigo aceitar que monumentos permaneçam sem placas, textos, código QR, que
respondam por que foram feitos, por que são contestados e por quem. Ferramentas que
favoreçam posicionamentos e construções de memória. Uma gestão pública deve manter a
polêmica explícita para estimular o debate“, defende Marins.
Por fim, o professor Tim pondera que, apesar de considerar que o ideal seria
o recolhimento e preservação dessas peças, não é possível controlar a
destruição de estátuas nem fazer um debate maniqueísta.
Para ele, a derrubada desses monumentos deve ser lida não como
destruição da história, mas como parte dela, e impedir esse movimento de
questionamento representaria um silenciamento não só do passado, como
também do presente.
Para a docente, “quanto mais nós soubermos sobre o passado, mais forte
será o tipo de ação que nós vamos construir para que não se repita. É mais
importante construirmos uma ação política que detenha o conhecimento do
que simplesmente destruir”.
É por esse caminho que Starling aponta para a necessidade de olhar e conhecer esse passado
sem as emoções e os valores do presente, justamente para não apagar a história: “nós não
podemos esconder também essa história”.
“Quanto maior for o nosso debate e a garantia desse direito à memória, melhor será nossa
ação para qualificar os espaços públicos com essas histórias.
Então, quando você apaga a memória das populações originárias ou das populações
afrodescendentes, você está condenando a um destino pior do que a morte.
Qual é a história que nós vamos contar e como nós vamos contar essa história?”, questiona
Starling.
https://www.brasildefato.com.br/2020/06/15/o-que-significa-retirar-estatuas-de-escravocratas-do-espaco-publico
https://guiadoestudante.abril.com.br/redacao/tema-de-redacao-a-destruicao-de-monumentos-como-forma-de-protesto/
https://revistaoeste.com/o-assassinato-da-historia/
https://
www.pragmatismopolitico.com.br/2020/06/laurentino-gomes-explica-por-que-e-contra-a-derrubada-de-estatuas-de-escravo
cratas.html
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/luiz-felipe-ponde/derrubando-estatuas/
https://racismoambiental.net.br/2020/06/15/remover-estatuas-nao-e-apagar-a-historia-pelo-contrario-e-escreve-la/
https://www.dw.com/pt-br/opini%C3%A3o-vamos-derrubar-est%C3%A1tuas-para-descolonizar/a-53862190 *
https://www.brasil247.com/ideias/derrubada-de-estatuas-pode-ser-indicio-de-uma-revolucao
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