PSICOLOGIA DAS MASSAS E ANÁLISE DO EU (1921) - Sigmund Freud

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PSICOLOGIA DAS MASSAS

E ANÁLISE DO EU (1921)
Sigmund Freud
Pós graduação PUC - Minas
Professora: Luciana
Introdução
- Contexto da publicação: pós primeira Guerra Mundial e vigência do
tratado de Versalhes;
- Freud estava interessado em investigar o que mantém uma massa
coesa e a função de um líder de um grupo.
- Freud vai dizer que a psicologia individual é, desde o início, uma
psicologia social, pois, o indivíduo se baseia no Outro, isto é, nos
familiares, professores médicos, família, enquanto modelo. Esse
modelo pode ser tanto auxiliador (no caso de um ideal), quanto de
um adversário (no caso de uma rivalidade imaginária).
- Contudo, essas influências dizem respeito a um número limitado de
pessoas, o que Freud está interessado nesse texto é na influência
de um grande número de pessoas - massa - na vida de um sujeito e
seu funcionamento.
Referências freudianas: Le Bon
- Gustave Le Bon teve múltiplas formações e é o autor
de Psicologia das massas;

- Interessado em investigar o que faz com que os indivíduos,


ao se alinharem em uma multidão, se comportem de maneira
distinta do esperado;

- Alma coletiva: é aquilo que os sujeitos possuem ao formarem uma


massa;

- Freud vai dizer: se os indivíduos da massa estão ligados a uma


unidade é porque eles possuem algo em comum. Freud usa Le Bon
por ele colocar ênfase na vida psíquica inconsciente.
- Portanto, o indivíduo isolado é diferente do indivíduo da massa; a
singularidade do sujeito desaparece quando ele está vinculado à
massa;
- Le Bon considerava o inconsciente, mas não exatamente tal como a
psicanálise, onde cada indivíduo lida com suas influências
hereditárias que são singulares, mas na massa isso desaparece;
- Le Bon enumera três fatores que explicam esse desaparecimento:
1. Pelo fato do número de pessoas, o indivíduo adquire um sentimento
de poder invencível que lhe permite ceder aos instintos, uma vez
que a massa, por ser anônima e, consequentemente, irresponsável,
permite que os indivíduos se livrem das repressões dos instintos
inconscientes.
2. Contágio mental: na massa todo sentimento é contagioso, onde o
sujeito se sacrifica em prol do coletivo.
- Le Bon faz uma designação à hipnose para explicar esse terceiro
fator, ele diz que na massa a sugestionabilidade é maior do que na
hipnose, pois os indivíduos se exacerbam pela reciprocidade; Freud
critica que Le Bon não faz menção sobre quem seria o hipnotizador
para a massa;
- A consequência disso é que o indivíduo não é mais ele mesmo;
- “Cada um, olhado separadamente, é passavelmente arguto e
sensato / Se estão in corpore, logo se revelarão uns asnos” (Schiller)
- Freud caracteriza a massa da seguinte maneira (pag. 25): ela “é
impulsiva, volúvel, excitável. É guiada quase exclusivamente pelo
inconsciente.” Os impulsos aos quais ela obedece podem ser
heroicos ou destrutivos. Os desejos são efêmeros. “Tem sentimento
de onipotência, sendo ela acrítica, o improvável não existe para
ela”.
- “Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito
exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza, está inclinada aos
extremos, é ao mesmo tempo intolerante e crente na autoridade. O
que ela exige dos seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Tem
ilimitada reverência pela tradição.” (Pag 26)
- Apesar de Freud enfatizar o lado instintivo de satisfação dos desejos
reprimidos, ele diz que as massas também são capazes de elevadas
provas de renúncia e devoção de um ideal. Sua capacidade ética
pode ultrapassar o ideal individual.
- Freud faz então um paralelo entre as massas e a psicanálise:
- As massas podem suportar as contradições internas tal como ocorre
na vida anímica do inconsciente;
- As massas estão sujeitas ao poder da palavra: pode atormentar ou
apaziguar. Exemplo: povos primitivos.
- As massas nunca tiveram sede pela verdade. Não podem renunciar
às ilusões, tal como ocorre na fantasia inconsciente. O que vale
para os neuróticos não é a realidade objetiva comum, mas a
psíquica.
- Freud critica Le Bon por ele tratar a dimensão do líder pelo
prestígio. Para Freud falta a ligação entre o que Le Bon conceitua
como líder e as ideias dele da alma coletiva.
Outras abordagens da vida anímica coletiva
- Freud diz que Le Bon não traz muitas novidades sobre as massas e
que mesmo as observações podem entrar em contradição, como é
o caso da grande capacidade produtiva e intelectual de uma massa;
Le bon estava voltado para as massas efêmeras.
- McDougall: faz uma distinção entre massa (com organização, algo
em comum) e multidão (sem organização);
- A massa produz um aumento da afetividade provocado no
indivíduo;
- A massa intimida o indivíduo;
- McDougall aponta cinco princípios para
elevação da vida anímica da massa:

1. Grau de continuidade na sua existência, sendo


formais ou materiais;
2. Formação de concepção da natureza, função,
realizações e reivindicações da massa;
3. Rivalidade entre as massas;
4. Tradição e costumes;
5. Divisão de atividades.
Sugestão e Libido
- “O indivíduo no interior da massa experimenta, por influência dela,
uma mudança frequentemente profunda de sua atividade anímica.”
(pag 39)
- Freud se interessa em saber o motivo disso. Quer saber o motivo do
indivíduo ser sugestionável, principalmente no tocante aos afetos.
- Libido: a energia tomada como grandeza quantitativa desses
instintos relacionados com tudo, aquilo que pode ser abrangido pela
palavra amor.
- Para Freud os impulsos são sexuais.
- O amor refere-se ao Eros de Platão, isto é, no seu sentido ampliado.
- As relações de amor constituem a essência da alma coletiva.
(Novidade freudiana.)
- A massa se mantém unida graças a algum poder, que no caso é a
libido.
- “Se o indivíduo abandona sua peculiaridade na massa e permitem
que os outros o sugestionem, que ele o faz porque existe nele uma
necessidade de estar de acordo e não em posição a eles, talvez,
então ‘por amor a eles’” (pag 45)
Duas massas artificiais: igreja e exército
- Há várias diferenças entre as massas, nesse capítulo Freud destaca
a diferença entre as massas sem líder e as massas com líder.
- Igreja e Exército são massas artificiais: há uma coação externa para
evitar sua dissolução e impedir mudanças na sua estrutura.
- Em ambas as instituições há um chefe supremo que ama com o
mesmo amor todos os indivíduos da massa: tudo depende dessa
ilusão.
- No caso da Igreja, todos são iguais perante a Cristo, que é um
substituto paterno.
- Assim como no exército, o General ama todos os seus soldados,
mesmo com um certo escalonamento hierárquico.
- Sendo assim, os indivíduos de uma massa têm uma ligação entre si,
porque todos têm a mesma ligação diante de Cristo ou do General.
- Freud destaca que um dos grandes motivos das neuroses de guerra
é o fato dos liderados não terem o amor dos superiores.
- Cada indivíduo se acha ligado libidinalmente ao líder e também aos
outros indivíduos da massa.
- Sendo assim, o indivíduo da massa não possui liberdade.
- Quando a massa, principalmente do exército, se desintegra há
pânico: cada um cuida de si, as ordens superiores são ignoradas,
devido a um afrouxamento libidinal.
- “O medo do indivíduo é provocado pela magnitude do perigo ou
pela interrupção de laços afetivos (investimentos libidinais)”.
(pag.51)
- Isso é análogo ao medo neurótico.
- Se o líder é afetado, todos da massa também os são.
- Judith enforcando
Holofernes, de
Caravaggio (1571-
1610)
- Freud faz menção ao
drama de Hebbel
sobre Judite e
Holoferne.
- Holoferne era um
general que foi
seduzido e
decapitado por Judite.
- Freud diz que a desintegração da massa religiosa não é tão fácil de
acontecer.
- Ele dá um exemplo literário, onde a ressurreição de Cristo é
invalidada e que tem como consequência a insurreição de crimes
violentos.
- Fica evidente nesse exemplo que, na ausência de Cristo, há a
desintegração da massa colocando à tona os impulsos hostis contra
as outras pessoas.
- A religião, por mais que pregue o amor, tem que ser dura e sem
amor com quem não faz parte dela.
Outras tarefas e direções de trabalho
- Os laços afetivos ao líder parecem ser maiores dos que os entre os
indivíduos da massa;
- Alegoria de Schopenhauer sobre os porcos espinhos;
- Toda a intolerância que é normal na vida cotidiana, desaparece na
massa.
- Enquanto perdura a massa, os indivíduos se conduzem como se
fossem homogêneos, não sentem repulsa uns pelos outros;
- Isso se dá pela ligação libidinal que não é da ordem
do narcisismo, são novas ligações libidinais.
- Na massa não estão em jogo os instintos sexuais;
- Freud irá trabalhar as identificações.
A identificação
- A identificação tem um ponto pré- edípico.
- O menino se identifica ao pai enquanto
modelo.
- No início, essa identificação é da ordem do
ideal.
- Posteriormente ao édipo, essa identificação
torna-se hostil.
- Sendo assim, a identificação é ambivalente,
derivada da fase oral da organização da
libido.
- Um exemplo que Freud dá é a noção do
canibalismo, no qual o sujeito é devorado
- Identificação é diferente da escolha de objeto: a primeira refere-se
ao ser, a segunda, ao ter. Na página 65 Freud explica: “A
identificação é a mais antiga forma de ligação afetiva; nas
circunstâncias da formação de sintomas, ou seja, da repressão, e do
predomínio dos mecanismos do inconsciente, sucede com
frequência que a escolha de objeto se torne novamente
identificação, ou seja, que o Eu adote características do objeto”.
- Sendo assim, a identificação pode ser um substituto para uma
ligação objetal libidinosa.
- Freud diz também que a identificação pode surgir a qualquer nova
percepção de algo em comum, com uma pessoa que não é objeto
dos instintos sexuais.
- Freud enfatiza que também existe a possibilidade do sujeito
identificar-se com o objeto perdido ou renunciado, introjetando-o.
- No caso de uma perda real do objeto amado que havia sido
introjetado, vemos os casos de Melancolia se desencadearem, com
a consequência de uma severa autodepreciação. “A sombra do
objeto caiu sobre o Eu”. (pág 67 em referência ao texto de 1917
Luto e Melancolia).
- Freud lança o conceito de Ideal do Eu que tem as funções de auto-
observação, consciência moral, censura e repressão, exercício da
prova de realidade.
Enamoramento e hipnose
- O amor não é só o enamoramento, a
libido é mais complexa do que isso.
- O enamoramento é o investimento de
objeto por parte dos instintos sexuais
para satisfação sexual direta.
- Freud destaca que no caso do ser
humano a vida amorosa tem suas
particularidades;
- Até os cinco anos, a criança vê em um
dos pais o objeto de amor.
- Devido ao recalque, a criança
renuncia as metas sexuais infantis.
- Freud vai dizer que na adolescência um fenômeno que sempre
chamou a atenção fica mais evidente: o fato de o objeto amado
gozar de uma certa isenção de crítica.
- E isso se deve ao fato de que o objeto é idealizado, isto é, tratado
como o próprio Eu. O objeto serve para substituir um ideal não
alcançado pelo próprio Eu.
- O objeto consome o Eu, o torna sem crítica, cega.
- O objeto se coloca no lugar do Ideal do Eu.
Enamoramento Identificação
- Servidão enamorada; - Fascínio;
- Eu empobrecido, entregue - o Eu se enriquece com os
ao objeto; atributos do objeto;
- Objeto conservado e - Objeto perdido ou
sobreinvestido por parte e renunciado;
à custa do Eu;

- Freud se pergunta: pode haver identificação conservando-se o


objeto? E ele responde: o objeto deve ser colocado no lugar
do Eu ou do ideal do Eu.
- No caso da hipnose, o hipnotizador assume o lugar do ideal do Eu.
- A hipnose é a irrestrita entrega enamorada em que se acha excluída
a satisfação sexual.
- A hipnose é uma formação de massa a dois.
- Freud faz ressalvas à hipnose.
- Freud conclui esse capítulo dizendo que a constituição libidinal de
uma massa que tem líder é uma “quantidade de indivíduos que
puseram um único objeto no lugar de seu ideal do Eu e, em
consequência, identificaram-se uns com os outros em seu Eu.” (Pág.
76)
O instinto gregário
- Freud lança mão do trabalho de W. Trotter para
aprofundar no conhecimento do funcionamento das
massas;
- Instinto gregário: inato ao ser humano, analogia a
um prosseguimento da multicelularidade, tendência
dos seres vivos, procedente da libido, a juntar-se em
unidades cada vez mais abrangentes.
- O indivíduo se sente incompleto quando está só.
- Caracteriza-se pelo sentimento de culpa e
sentimento de dever;
- Do instinto gregário, para Trotter, enquanto primário, deriva a
sugestionabilidade.
- Freud critica que Trotter não leva em consideração o líder da massa;
- Freud também não acredita que o instinto gregário seja primário tal
qual o instinto de autoconservação e o instinto sexual.
- Por fim, Freud, alega que o que a criança sente fora da comunidade
é a angústia pela insatisfação provocada pelo fato de estar longe da
mãe e não por estar fora e excluída da massa.
- Freud se pergunta: se a criança não possui esse instinto comunitário
primário, como se dá o sentimento social?
- Segundo Freud, o sentimento social repousa na renúncia que
inverte um sentimento hostil em um positivo, um laço de natureza
identificatória, que ocorre por influência de uma pessoa externa à
massa.
- Os indivíduos devem ser todos iguais, com exceção do líder, que é
superior aos outros indivíduos.
- O homem não é um animal de rebanho, é um animal de horda.
Freud lança, portanto, o mito da horda primeva.
A massa e a horda primeva
- Em 1912, Freud já pensava na função
da horda.
- O totemismo está ligado ao violento
assassinato do chefe tendo como
consequência a transformação da
horda primeva em uma comunidade de
irmãos.
- Freud tem a hipótese que a massa é
uma revivescência da horda primeva.
- Os indivíduos da horda eram tão ligados quanto os são os da
massa, mas o pai da horda primeva era livre;
- O pai da horda não precisava amar ninguém, não fazia laços;
- O pai da horda havia impedido os seus filhos de se satisfazerem
sexualmente.
- Seus ciúmes sexuais e sua intolerância vieram a ser as causas da
psicologia da massa.
- Os filhos da horda eram igualmente perseguidos pelo pai, ao passo
que na massa todos são amados pelo líder;
- Freud irá concluir, após uma analogia à
hipnose, que na massa há a subtração do
interesse pelo mundo externo.
- Sendo assim, o líder da massa continua a
ser o temido pai primordial, a massa ainda
quer ser dominada com força irrestrita.
(pag 91).
- O pai primevo é o ideal da massa, que
domina o Eu no lugar do ideal do Eu. (pag.
91)
Um grau no interior do Eu
- Nos grupos efêmeros o que é aquisição individual desaparece, isto
é, o indivíduo renuncia ao seu ideal do Eu e o troca pelo ideal da
massa corporificado no líder.
- A contribuição da psicanálise para a psicologia das massas é a
noção libidinal, principalmente no que se refere à diferenciação do
Eu e o ideal do Eu e ao duplo tipo de ligação por ela possibilitada:
identificação e colocação do objeto no lugar do ideal do Eu. (pag
93)
- No desenvolvimento psíquico, o eu se separa de uma parte que fica
reprimida.
- Essa renúncia nem sempre fica escondida, às vezes ela acesso o Eu.
- Há sempre uma sensação de triunfo quando algo do Eu coincide
com o ideal do Eu. E há sempre uma sensação de fracasso quando
o oposto ocorre.
- Freud fala da Melancolia e do estado de mania para exemplificar
clinicamente.
Complementos
1. Identificação do Eu e substituição do ideal do Eu por um objeto no
Exército e na Igreja: se um soldado quer se identificar com o
general ele se torna ridículo. Já no caso da Igreja, o Cristão deve
identificar-se com Cristo, além de tê-lo como objeto.
2. è através do mito que o indivíduo emerge da psicologia da massa.
3. Instintos sexuais diretos e inibidos em sua meta.
4. Os impulsos sexuais diretos são desfavoráveis à formação de
grupos.
5. Teoria da libido
Enamoramento Hipnose Grupo Neurose

Existência simultânea Impulsos sexuais Impulsos sexuais Foge da série, ela


de impulsos sexuais inibidos da meta e o inibidos da meta e o surge toda vez que há
diretos e inibidos em objeto é colocado no objeto é colocado no conflitos no Eu. abarca
sua meta. Só há lugar lugar do ideal do Eu. lugar do ideal do todas as relações
para o Eu e o objeto Só há lugar para duas Eu,porém tem mais a possíveis entre o Eu e
pessoas. identificação com o objeto.
outros indivíduos.

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