11 - Dimensionamento de Elementos Estruturais de Madeira - Peças Fletidas

Dimensionamento de elementos
estruturais de madeira: peas

fletidas
Ronaldo Burgos Filho
Maro de 2017
1
INTRODUO Propriedades Mecnicas Bases de Clculo
As propriedades fsicas e mecnicas das espcies de madeira so

determinadas por meio de ensaios padronizados em amostras sem
defeitos (para se evitar a incerteza dos resultados obtidos com peas com
defeitos).
No Brasil estes ensaios esto descritos no Anexo B da Norma Brasileira

NBR 7190/1997, Projeto de Estruturas de Madeira. De acordo com a NBR
7190, para caracterizao completa da madeira para uso em estruturas,
as seguintes propriedades devem ser determinadas por meio de ensaios:
a) Resistncias compresso paralela s fibras fc e normal s fibras fcn ;

b) Resistncias trao paralela s fibras ft e normal s fibras, ftn ;
c) Resistncia ao cisalhamento paralelo s fibras fv;
d) Resistncias ao embutimento fe (presso de apoio em ligaes com
conectores) paralelo e normal s fibras;
e) Mdulo de elasticidade na compresso paralela s fibras, Ec , e mdulo
de elasticidade na compresso normal s fibras, Ecn;
f) Densidade bsica, bas , que a massa especfica definida pela razo
entre a massa seca e o volume saturado; e densidade aparente, aparente
, calculada com a massa do corpo de prova a 12% de umidade.
2
Alm dos ensaios para determinao das citadas propriedades mecnicas
resistentes e de rigidez, a serem utilizadas no clculo estrutural, outros ensaios
so indicados pela NBR 7190 para caracterizao das espcies de madeira:
g) Estabilidade dimensional (determinao das deformaes especficas de

retrao e inchamento (ver item 1.4.3);
h) Flexo com choque utiliza-se um pndulo charpy medindo-se a energia
absorvida pela ruptura da madeira para determinar a resistncia ao impacto
na flexo fbw;
i) Fendilhamento utilizam-se corpos de prova de forma especial, com trao
em um s lado; a tenso de fendilhamento no usada em clculos,
servindo apenas como parmetro de qualidade, representativo da
resistncia da madeira ao fendilhamento por perda de umidade;
j) Dureza medida pelo esforo necessrio para penetrao de uma esfera
na direo das fibras.
As propriedades mecnicas obtidas com estes ensaios com estes ensaios

variam com o teor de umidade da amostra. Por isso deve ser determinado o
teor de umidade (equao 1.1) do lote de madeira para posterior ajuste dos
resultados obtidos nos ensaios condio padro de umidade (U=12%), como
descrito no item 3.3.4.
3
Os ensaios de resistncia a um certo esforo, por exemplo compresso

paralela s fibras, obtidos de ensaio padronizado em vrios corpos de
prova isentos de defeitos e de mesmo teor de umidade apresentam
variao estatstica com distribuio aproximadamente gaussiana. Por isso
os resultados dos ensaios devem ser apresentados na forma de valores
caractersticas, associados probabilidade de 5% de ocorrncia de valores
inferiores a esses.
Dos ensaios padronizados obtm-se, ento, as resistncias caractersticas

de peas sem defeitos referidas umidade padro (12%). Esses valores,
entretanto, no representam as propriedades mecnicas da madeira
serrada utilizada em estruturas, pois estas variam com diversos fatores
como:
teor de umidade; tempo de durao da carga; ocorrncia de

defeitos.
Conhecendo-se a variao das propriedades mecnicas em funo destes

fatores chaga-se ento aos valores de esforos resistentes a serem
utilizados nos projetos.
4
VIGAS Conceitos gerais
As vigas esto sujeitas a tenses normais de trao e compresso longitudinais e
portanto na direo paralela s fibras; nas regies de aplicao da carga, como por
exemplo nos apoios, onde esto submetidas as tenses cn de compresso normal s
fibras.
Alm disso atuam tenses cisalhantes na direo paralela normal s fibras (tenses
verticais na seo) e na direo paralela s fibras (tenses horizontais), conforme
ilustrado na figura 1a.
As vigas altas e esbeltas podem sofre
flambagem lateral, um tipo de
instabilidade na qual a viga perde o
equilbrio no plano principal de flexo (em
geral vertical) e passa a apresentar
deslocamentos laterais e rotao de toro
(figura 1b).
A ocorrncia deste fenmeno reduz a

capacidade resistente flexo. A flambagem
lateral pode ser evitada provendo-se viga
pontos intermedirios de conteno lateral.
Figura 1 - Flexo simples: (a) viga em flexo no plano vertical com

tenses normais longitudinais e transversais e tenses cisalhantes
VIGAS Conceitos gerais
Para garantia de segurana em relao aos estados limites ltimos de vigas no
contexto do mtodo dos estados limites, as tenses solicitantes de projeto devem ser
menores que as tenses resistentes.
Em relao ao estado limite de deformao excessiva, os deslocamentos (figura 1a)

finais (instantneos mais os de fluncia) devem ser inferiores a valores limites de
modo a evitar a ocorrncia de danos em elementos acessrios estrutura e
desconforto dos usurios.
Neste captulo so abordados os critrios de projeto e disposies construtivas de

vigas com sees de diversos tipos, conforme mostrado no prximo item, em flexo
simples reta (em torno do eixo principal de inrcia), oblqua e flexo composta sem
flambagem.
EXOCOMPRESSO COM FLAMBAGEM NO CAPT

VIGAS Tipos construtivos
As vigas de madeira so feitas em diversos tipos, esquematizados na figura 2:
a) Vigas de madeira
rolia;
b) Vigas de madeira
lavrada;
c) Vigas de madeira
serrada;
d) Vigas de madeira
laminada ou
microlaminada e
colada;
e) Vigas compostas de
peas macias por
entarugamento;
f) Vigas compostas de
peas macias, com
interfaces contnuas;
g) Vigas compostas com
alma descontnua;
h) Vigas compostas com
Figura 2 Tipos construtivos de vigas de madeira. placas de madeira
compensada.
As madeiras rolias so, por vezes, usadas como vigas em obras
provisrias, como por exemplo andaimes ou escoramentos. As madeiras
lavradas so utilizadas na construo de pontes de servio. As sees
transversais apresentam em geral dimenses superiores s das madeiras
serradas; podem ser usadas por exemplo, peas lavradas de 20 cm x 20
cm, 20 cm x 30 cm, 30 cm x 30 cm etc.
As vigas de madeira serrada obedecem em geral a dimenses
transversais padronizadas.
As vigas de madeira laminada e colada so produtos industriais da maior
importncia, pois permitem construir sees de comportamento
equivalente ao da madeira macia, porm com dimenses muito
maiores, como por exemplo vigas retangulares de seo de 30 cm x 200
cm.
As vigas compostas de duas ou mais peas macias necessitam de
ligaes nas interfaces, a fim de evitar deslocamentos relativos entre as
peas. As ligaes podem ser feitas com tarugos, como indicado na
figura 2e. Na figura 2f, v-se um esquema de viga composta de peas
macias, com interfaces contnuas; a unio das interfaces pode ser feita
com cola, pregos ou conectores de anel.
As vigas compostas das figuras 2e e 2f tm as alturas limitadas pelos
A combinao de peas macias de madeira laminada com placas de
madeira compensada ou painis de madeira recomposta com lascas
orientadas (OSB) figura 2h, permite fazer vigas compostas de grandes
alturas, com formas eficientes.
VIGAS Dimenses mnimas
As dimenses mnimas de peas utilizadas em vigas, conforme a norma
NBR-7190, so as mesmas indicadas (tabela 2.1).
Nas peas compostas, ligadas por pregos ou conectores de anel, devem
ser respeitadas as dimenses mnimas especificadas para esses
elementos de ligao.
Os pranches de pisos de pontes

rodovirias ou de pedestres devem ser
previstos com uma espessura de, pelo
menos, 2 cm superior ao exigido pelo
clculo, afim de atender ao desgaste
mecnico provocado pelos usurios.
VIGAS Contraflechas
Sempre que possvel, em construes, as vigas de madeira devem ser
feitas com uma flecha, de modo a evitar efeitos pouco estticos de
configuraes deformadas visveis a olho nu.
As vigas laminadas coladas podem ser constitudas com contraflecha,
bastando colar as lminas com a curvatura especfica.
As trelias e vigas armadas, que sero estudadas mais adiante, podem
tambm ser dotadas de contraflechas.
Nas vigas de madeira macia, serradas ou lavradas, em geral, no

possvel preparar as peas com contraflechas.
Usualmente so especificados nos projetos valores de contraflechas de

modo a compensar os deslocamentos totais (instantneos mais os de
fluncia) devidos s cargas permanentes. Na verificao quanto ao
estado limite de deformao excessiva a contraflecha dada pode ser
deduzida do deslocamento total.
VIGAS Critrios de clculo
No dimensionamento das vigas de madeira so utilizados dois critrios
bsicos, a saber:
Limitao das tenses;
Limitao de deformaes.
As limitaes de deformaes tm, em obras de madeira, importncia
relativamente maior que em outros materiais, como ao e concreto
armado. Isto porque se trata de um material com alta relao
resistncia/rigidez.
Limitao de tenses. O problema de verificao de tenses, em obras de
madeira, formulado com a teoria clssica de resistncia dos materiais,
muito embora o material no siga a lei linear de tenses (Lei de Hooke)
at a ruptura.
Em peas compostas, leva-se em conta a ineficincia das ligaes
atravs de valores reduzidos dos momentos de inrcia ou dos momentos
resistentes.
Limitao de deformaes. As limitaes de flechas das vigas visam a
atender a requisitos estticos, evitar danos a componentes acessrios e
ainda visam ao conforto dos usurios (evitar flexibilidade exagerada no
caso de assoalhos de edificaes ou pontes).
VIGAS Critrios de clculo
Os valores limites para as flechas de vigas indicados pela NBR-7190
encontram-se na Tabela 3.18 e levam em conta a existncia ou no de
materiais frgeis ligados estrutura, tais como forros, pisos e divisrias,
aos quais se pretende evitar danos atravs de controle de deslocamentos
das vigas.

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As propriedades fsicas e mecnicas das espcies de madeira so

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a) Resistncias compresso paralela s fibras fc e normal s fibras fcn ;

g) Estabilidade dimensional (determinao das deformaes especficas de

As propriedades mecnicas obtidas com estes ensaios com estes ensaios

Os ensaios de resistncia a um certo esforo, por exemplo compresso

Dos ensaios padronizados obtm-se, ento, as resistncias caractersticas

teor de umidade; tempo de durao da carga; ocorrncia de

Conhecendo-se a variao das propriedades mecnicas em funo destes

A ocorrncia deste fenmeno reduz a

Figura 1 - Flexo simples: (a) viga em flexo no plano vertical com

Em relao ao estado limite de deformao excessiva, os deslocamentos (figura 1a)

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