Criação Galinha Caipira - 01 Apostila
Criação Galinha Caipira - 01 Apostila
Criação Galinha Caipira - 01 Apostila
INTRODUO
Tradicionalmente, as criaes domsticas de galinha caipira, praticadas nas unidades agrcolas familiares, se caracterizam pela sua forma de explorao extensiva, na qual inexistem instalaes, bem como, a adoo de prticas de manejo que contemplem eficientemente os aspectos reprodutivos, nutricionais e sanitrios. Tal fato resulta em ndices de fertilidade e natalidade reduzidos. A alta mortalidade das crias, principalmente nas primeiras semanas de vida, aliada a um baixo desempenho das aves caracterizam uma atividade de baixa eficincia produtiva. Os problemas sanitrios tambm representam um obstculo ao sucesso da atividade, alm de consistirem em uma fonte potencial para disseminao de doenas, em funo da convivncia das aves com outros animais ou com pessoas no mesmo ambiente. Todos esses fatores tornam a criao de galinhas caipiras uma atividade incapaz de satisfazer s necessidades alimentares das famlias e, muito menos, de gerar lucro. Entretanto, a criao de galinhas caipiras uma atividade cujo mercado muito promissor, uma vez que, comumente, a oferta desse produto menor do que a demanda. Alm disso, a sua comercializao pode ser efetuada de modo direto (produtor-consumidor), ou com a existncia de, no mximo, um intermedirio, tornando compensadores e bastante atrativos os preos dos produtos para o produtor. Dessa forma, foi idealizado um sistema alternativo de criao de galinhas caipiras, que consiste numa tecnologia dirigida ao agricultor familiar, capaz de organizar de forma gerenciada a atividade de criao destas aves. Esse sistema alternativo de criao melhora a qualidade de vida das famlias, seja pela maior oferta de carne e ovos de qualidade na sua alimentao, seja pela possibilidade de venda do excedente, uma vez que aumenta de forma substancial e eficiente, a capacidade produtiva do plantel. Esse sistema consiste em um conjunto de tcnicas em que so empregados procedimentos simples e de fcil assimilao, que racionalizam a atividade sem onerla, utilizando mo-de-obra familiar ao longo de todo o ano, promovendo a fixao do homem no campo. O processo de validao est sendo efetivado mediante implantao de um ncleo modelo (unidade central) e por meio do monitoramento de oito ncleos perifricos (unidades perifricas) implantados pelos membros da comunidade assistida. Dentre as metas almejadas com a implantao desse sistema destacam-se os seguintes:
Atingir um desempenho produtivo e econmico superior ao dos sistemas tradicionais, obtendo taxa de postura de 65%, taxa de fertilidade e de ecloso
de 85%, taxa de mortalidade de, no mximo, 10% e terminao dos frangos com aproximadamente 2,0 kg de peso vivo, aos 120 dias de idade. Disponibilizar fontes de protena animal capazes de proporcionar melhoria na dieta alimentar dos agricultores e de seus familiares e dos consumidores. Diversificar as fontes de renda e empregar mo-de-obra familiar.
A seleo das matrizes pode ser feita com base no plantel j existente, do qual so aproveitadas fmeas em fase de pr-postura, filhas de matrizes de conhecido desempenho produtivo. Recomenda-se, entretanto, que sejam introduzidos reprodutores provenientes de outros plantis, que apresentem boa capacidade reprodutiva, adaptabilidade ao ambiente e ao sistema de manejo empregado, alm de um porte compatvel com o das matrizes, possibilitando o estabelecimento de um plantel no consangneo e capaz de atingir altos ndices de produtividade.
O sistema alternativo de criao de galinhas caipiras preconiza a construo de instalaes simples e funcionais, a partir dos recursos naturais disponveis nas propriedades dos agricultores, tais como madeira redonda, estacas, palha de babau, etc. (Figura 10). O principal objetivo dessa instalao oferecer um ambiente higinico e protegido, que no permita a entrada de predadores e que ajude a amenizar os impactos de variaes extremas de temperatura e umidade, alm de assegurar o acesso das aves ao alimento e gua.
Figura 10. Instalaes recomendadas para o sistema alternativo de criao de galinhas caipiras. Tais instalaes consistem em um galinheiro com rea til de 32,0 m2 e divises internas destinadas a cada fase de criao das aves: reproduo (postura e incubao), cria, recria e terminao (Figura 11). A rea do galinheiro deve ser dimensionada de modo a proporcionar boa ventilao, luminosidade, drenagem, facilidade de acesso e disponibilidade de gua. O piso deve ser revestido com uma camada de palha (cama) de 5 a 8 cm de espessura, distribuda de forma homognea, podendo-se utilizar vrios materiais como maravalha ou serragem, palha, sabugo de milho triturado ou casca de cereais (arroz). A remoo e substituio da cama, bem como, a desinfeco do avirio com cal virgem devem ser peridicas.
Figura 11. Planta baixa das instalaes para o sistema alternativo de criao de galinhas caipiras. Com exceo da rea destinada incubao e cria, as demais divises internas devem permitir o acesso a piquetes de pastejo, com dimenses variveis, capazes de atender s necessidades das aves e de abrigar todo o plantel de cada fase de criao (Figura 12). Os piquetes devem ser cercados de material semelhante ao utilizado no galinheiro e que seja capaz de evitar a entrada de predadores.
Figura 12. Esquema da disposio das reas de pastejo do sistema alternativo de criao de galinhas caipiras. A fase de reproduo se caracteriza por apresentar uma relao macho/fmea de 1:12, cujas aves devem possuir idade entre 6 e 24 meses. O peso vivo estabelecido para os machos deve ser de 2,0 a 3,5 kg, enquanto que, para as fmeas,
de 1,6 a 2,5 kg. A substituio dos reprodutores deve ser semestral, tendo em vista que, tambm, a cada semestre, ocorrer a reposio das matrizes, que so oriundas do mesmo plantel e, portanto, filhas do reprodutor em servio. Nessa fase de criao, a instalao deve ter subdivises destinadas postura e incubao. Esse artifcio permite um maior controle sobre a postura, evita perdas com a quebra de ovos, proporcionando-lhes maior higiene e manuteno de sua viabilidade. Na subdiviso de postura, as aves permanecem em regime semi-aberto, na qual a rea coberta de 3,75 m2, equipada com 2 a 4 ninhos de 0,35 m x 0,35 m, 1 bebedouro de presso e 1 comedouro em forma de calha. O enchimento dos ninhos deve ser feito com o mesmo material utilizado na cama do avirio. A rea de pastejo destinada a essa fase de 40,0 m2, onde as aves complementam sua alimentao. A fase de postura dura aproximadamente 15 dias, ao longo da qual o nmero de ovos por matriz varia de 10 a 14. Por sua vez, na subdiviso de incubao, as aves que estiverem incubando seus ovos (chocando) permanecem em regime fechado, em uma rea de 2,25 m2, equipada com 3 a 4 ninhos de 0,35m X 0,35 m (Figura 13), 1 bebedouro de presso e 1 comedouro em forma de calha. O perodo de incubao dura 21 dias, aps o qual, as matrizes devem retornar imediatamente para a diviso de postura onde, aps 11 dias de descanso, iniciaro um novo ciclo de postura.
Figura 13. rea destinada postura, no sistema alternativo de criao de galinhas caipiras. No sistema de incubao natural, em que a prpria galinha quem choca os ovos, um ciclo reprodutivo dura 47 dias. O nmero de ovos a ser chocado por cada matriz pode variar de 12 a 15, de acordo com o tamanho da mesma. Entretanto, possvel se utilizar chocadeiras eltricas as quais, embora representem um custo adicional ao sistema de produo, podem ser adquiridas de forma coletiva. Seu maior benefcio, porm, consiste na reduo do ciclo reprodutivo das matrizes para 26 dias, visto que, aps a fase de postura, as mesmas entram diretamente no perodo de
descanso.Tal fato resulta em um aumento do nmero de ciclos anuais por matriz, passando de 7 para 13. Na fase de cria, os pintos permanecem desde o seu nascimento at os 30 dias de idade, em uma rea coberta de 2,25 m2, equipada com 1 comedouro tipo bandeja e 1 bebedouro de presso. Essa diviso d acesso a um solrio de 2,0 m2. Torna-se imprescindvel nesta fase a proteo trmica dos pintos, alm do fornecimento de gua e alimento. Nesta fase, tambm, se d incio aos procedimentos para imunizao do plantel. A fase de recria inicia-se na quarta semana (aos 31 dias de idade dos pintos) e se estende at os 60 dias de idade, com os pintos permanecendo em regime semiaberto, em uma rea coberta de 3,75 m2, equipada com 2 bebedouros de presso e 2 comedouros em forma de calha. Nessa fase, embora a fonte principal de alimento seja a rao devidamente balanceada, a alimentao das aves pode ser complementada mediante uso de um piquete de pastejo com dimenso de 20,0 m2. O reforo na imunizao do plantel torna-se muito importante. A fase de terminao inicia-se aos 61 dias e estende-se at os 120 dias de idade, quando as aves apresentam peso vivo de aproximadamente 1,8 kg, estando prontas para o abate. A rea coberta destinada a essa fase de 20,0 m2, equipada com poleiros, 4 bebedouros de presso e 4 comedouros em forma de calha (Figura 14). Nesta fase, as aves tm acesso a um piquete de pastejo de 1.800,0 m2, o qual pode conter gramneas como a Brachiaria humidicola, alm de fruteiras como goiabeira, cajueiro e mangueira, que serviro como uma importante fonte de alimento, em complementao rao fornecida.
Figura 14. Diviso da rea de terminao no sistema alternativo de criao de galinhas caipiras.
Manejo Produtivo
Expectativa
de
Produo
Forma
de
Abate
de
Aves
Para a estabilidade do plantel de um mdulo de criao de galinhas caipiras deve ser levada em conta a mortalidade mxima aceitvel de 10%, ficando o plantel assim configurado:
01 reprodutor com 6 a 24 meses de idade. 12 matrizes com 6 a 24 meses de idade. 63 a 97 pintos em fase de cria (1 a 30 dias de idade). 60 a 92 pintos em fase de recria (31 a 60 dias de idade). 112 a 174 frangos em fase de terminao (61 a 120 dias).
A variao no nmero de animais nas fases de cria, recria e terminao decorre do tipo de sistema de produo adotado, que pode ser com incubao natural ou artificial (chocadeira). Na unidade modelo da Comunidade Boi Manso, o mdulo de criao conduzido no sistema de incubao natural apresentou, no perodo de janeiro a julho de 2002, resultados bastante satisfatrios (Tabela 15). Tabela 15. Evoluo do plantel de aves no sistema alternativo de criao de galinhas caipiras, no perodo de janeiro a julho de 2002, na Comunidade Boi Manso, Regenerao, PI.
O monitoramento da evoluo do plantel de aves uma ferramenta extremamente importante para se ter o controle dos fatores que podem comprometer o sucesso da atividade. Por meio das informaes coletadas e analisadas periodicamente, o criador pode gerenciar de forma mais eficiente a sua criao, visto que, encontra meios para detectar possveis falhas ou problemas que podem ocorrer ao longo das diferentes etapas da criao. Dessa forma, a fim de facilitar a coleta de informaes referentes a entradas e sadas de animais do plantel (nascimento, compra, morte, venda e consumo), bem como, aos dados de postura e incubao, podem ser utilizadas fichas de acompanhamento simples, conforme modelos:
Ficha 1. Modelo de ficha para controle mensal do plantel de galinhas caipiras. Estoque Entrada inicial Categoria Sada Estoque
Reprodutores
Matrizes
Pintos 130
Pintos 3160
Frangos 61150
Total geral Ficha 2. Modelo de ficha para controle mensal de postura de galinha caipira.
Nome: ____________________________________________
Comunidade: ______________________________________
Municpio:__________________________________________
Dia
Postos
Consumidos
Vendidos
Perdidos
Incubados
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31 TOTAL
Nome: ____________________________________________
Comunidade: ______________________________________
Municpio:__________________________________________ Incubao Dia Ms Ovoscopia Ovos Dia Ms Ecloso Ovos Dia Ms Ovos Pintos cheios Ovos secos
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31 TOTAL As aves prontas para o abate e destinadas comercializao so, em sua maioria, entregues vivas em restaurantes locais ou repassadas a terceiros (intermedirios ou consumidores finais). Mesmo assim, o abate uma prtica comum realizada pelos agricultores, quando as aves se destinam ao consumo domstico. Nesse caso, devem ser observados os aspectos higinicos adequados e os procedimentos necessrios para a obteno de carne de boa qualidade, principalmente com relao ao sabor, cor e textura. O abate em maior escala requer uma observao mais criteriosa, que atenda aos requisitos da vigilncia sanitria, inclusive com relao manipulao dos resduos que atraem outros animais, como moscas, roedores e alguns carnvoros, alm de provocarem mau cheiro e de contaminarem o ambiente.
No perodo que antecede ao abate, recomenda-se deixar as aves em repouso, suspendendo, seis horas antes, o fornecimento de alimentos slidos a fim de evitar o rompimento dos intestinos e a contaminao da carcaa. Deve-se tambm levar em considerao a disponibilidade de gua, a limpeza do local e dos instrumentos que sero utilizados na escaldagem, depenao e corte das aves, bem como, o uso de utenslios adequados para recepo de sangue, vsceras, penas e rejeitos. A fim de reduzir o sofrimento e a dor da ave durante a sangria, recomenda-se realizar a dessensibilizao, que pode ser obtida pelo desnucamento ou pela perfurao da base da nuca. Nesse processo importante a conteno adequada da ave, para que no ocorram fraturas ou mesmo contuses que comprometam a qualidade da carcaa, alm de facilitar a sangria. A sangria completa melhora a tonalidade da carne e possibilita a sua melhor conservao. Para a depenao das aves, recomenda-se que a gua esteja a uma temperatura de 65C, na qual a ave deve ser imersa por aproximadamente cinco minutos. Esta operao permite a retirada total das penas e pele das pernas e ps, sem causar danos carcaa. Aps a depenao, a carcaa dever ser lavada em gua corrente, quando estar pronta para ser cortada e ter suas vsceras retiradas. O primeiro corte deve ser feito no final do pescoo, possibilitando a extrao do papo e esfago. Um outro corte na regio da cloaca, permite a retirada das vsceras (moela, fgado, intestinos e outros). Cuidados especiais so necessrios para manter a integridade de rgos que contenham alimentos e fezes. Aps essa operao, realiza-se uma nova lavagem da carcaa, tanto externa como internamente em gua corrente, deixando-a escorrer por 15 minutos. Para acondicionamento e armazenagem das carcaas, recomenda-se a utilizao de sacos plsticos que permitam acomod-las com suas respectivas vsceras. Para armazenar o produto por perodos inferiores a 48 horas pode-se refrigerar a carne a uma temperatura de 2 a 8C. Para perodos maiores, por sua vez, h a necessidade de se manter os refrigeradores a temperaturas de 10C, no devendo ficar armazenado por um perodo superior a 90 dias. Em termos de comercializao de produtos oriundos da atividade agrcola familiar, muito importante que os agricultores estejam organizados em associaes comunitrias. Tal fato no s permite a reduo dos custos operacionais com mo-deobra e transporte, como tambm, a manuteno de uma oferta regular, escalonada e competitiva dos produtos. Alm disso, a adoo de todos os cuidados recomendados tanto na criao, como no abate das aves, permite que o produto final atenda s exigncias do consumidor facilitando a obteno de marcas comerciais que possibilitem a sua venda em outros locais.
Manejo Sanitrio Tem por objetivo manter as condies de higiene no sistema de criao que permitam minimizar a ocorrncia de doenas, obter boa performance e bem-estar das aves, alm de assegurar ao consumidor um produto de boa qualidade. Uma das formas de controlar as doenas no plantel por meio da higienizao das instalaes, controle de vetores de doenas e remoo de carcaas de aves mortas. Essas medidas visam a diminuir os riscos de infeces e aumentar o controle sanitrio do plantel, resguardando a sade do consumidor. O manejo sanitrio deve ser estabelecido levando-se em conta dois pontos principais: 1) Assepsia de instalaes e equipamentos:
A remoo peridica dos excrementos e pulverizao de toda a instalao com produtos naturais como fumo e sabo, cuja calda pode ser obtida a partir da desagregao de 200 gramas de fumo e sabo na proporo de (1:1) em um litro d'gua durante 1 dia e posterior diluio e cinco litros d'gua.
Limpeza diria dos comedouros e bebedouros. Renovao, a cada ciclo de incubao, do enchimento dos ninhos.
O controle de doenas fisiolgicas realizado mediante o uso de prticas de manejo que evitam situaes estressantes. Deve ser efetuado levando-se em conta a taxa de lotao adequada, o suprimento protico e mineral de acordo com a exigncia para cada fase de criao, ventilao das instalaes, fornecimento de gua e comida nas horas adequadas, etc; As doenas patognicas so transmitidas por meio de vrus e bactrias. As principais doenas que ocorrem na regio Meio-Norte do Brasil so a Bronquite infecciosa, Newcastle, Gumboro e Varola aviria (Bouba). Alm da limpeza dos equipamentos e instalaes, tambm deve ser estabelecida uma cobertura vacinal, alm do uso de antibiticos (Tabela 12). Para o controle das doenas parasitrias, alm da limpeza de equipamentos e instalaes deve-se, tambm, estabelecer um plano de controle de endo e ectoparasitas, que depender do monitoramento das condies das aves (Tabela 12).
Tabela 12. Esquema de controle de doenas patognicos e parasitrias nas diferentes fases do desenvolvimento das aves.
Manejo Alimentar
Tem como objetivo principal suprir as necessidades nutricionais das aves em todos os seus estgios de desenvolvimento e produo, otimizando o crescimento, a eficincia produtiva e a lucratividade da explorao, j que o custo com alimentos representa 75% do custo total de produo. O manejo alimentar proposto para o sistema alternativo de criao de galinhas caipiras prev a integrao das atividades agropecurias, com o aproveitamento de resduos oriundos da atividade agrcola. Tal fato no s permite a reduo dos custos de produo, como tambm, a agregao de valores aos produtos, pois utiliza resduos agrcolas, como a parte area da mandioca (folhas), que normalmente so abandonados no campo, transformando-os em protena animal. Alm da parte area da mandioca, que rica em protena, possvel se utilizar as razes de mandioca, suas cascas e crueiras, que so subprodutos da fabricao da farinha e da goma de mandioca (Figura 15).
Figura 15. Fontes alternativas de alimento para a criao de galinhas caipiras. Outra fonte de alimento rico em protena que normalmente pouco aproveitada, embora apresente enorme potencial para a alimentao de galinhas caipiras, o farelo de arroz, cujos teores de protena bruta so de aproximadamente 15%. Este produto resulta do processo de beneficiamento dos gros de arroz para consumo, sendo relativamente fcil de ser obtido, principalmente nas unidades agrcolas familiares que adotam o sistema de cultivo do arroz. Por serem animais no ruminantes, as aves exigem que os alimentos contenham pouca fibra vegetal e sejam fornecidos de forma balanceada e devidamente triturados, a fim de facilitar a digesto. Alimentos fibrosos apresentam baixa digestibilidade, elevam os custos e atrasam o desenvolvimento das aves. Dessa forma, a dieta deve ser estabelecida de acordo com a exigncia nutricional de cada fase do seu desenvolvimento, sendo que a formulao da rao deve ser feita com base nos teores de protena apresentados por cada um de seus componentes, na sua eficincia alimentar (Tabela 13).
Tabela 13. Exemplo de uma rao formulada a partir de vrios ingredientes e considerando-se as diferentes fases de desenvolvimento das aves.
Alm dos produtos indicados, podem-se utilizar vrios outros produtos, como fonte alternativa de alimentos para as aves, tais como fenos de feijo-guandu ou leucena, ou vagens modas de faveira (Parkia platicephala), que uma espcie abundante no Piau. No caso de se utilizar qualquer uma dessas fontes de alimento, os seus teores de protena devem ser considerados, a fim de permitir a formulao correta das raes e proporcionar um desempenho adequado das aves, conforme Tabela 14. Tabela 14. Desempenho esperado para as aves no sistema alternativo de criao de galinhas caipiras.
Os clculos para estimativa de desempenho advm da evoluo zootcnica da espcie, onde com base no consumo de rao (CR) e do ganho de peso (GP) de cada fase ou de todo o ciclo reprodutivo estima-se, tambm, a converso alimentar (CA), que a razo entre as duas variveis inicialmente citadas.
Manejo Reprodutivo
Consiste em uma srie de prticas que visam melhorar a eficincia do plantel, mediante cuidados com as aves (matrizes e reprodutores) e com os ovos. Algumas recomendaes relacionadas seleo e ao acondicionamento dos ovos devem ser feitas aos criadores, a fim de orientar e gerar subsdios para a implementao dessa atividade de forma mais eficiente. medida que ocorre a postura dos ovos, os mesmos devem ser recolhidos, limpos com pano mido e receber a inscrio do dia da postura. Em seguida, so selecionados de acordo com o tamanho e qualidade da casca. Os de tamanho mdio devem ser destinados incubao e os de tamanho grande e pequeno, ao consumo e/ou comercializao. Recomenda-se o seu acondicionamento em temperatura ambiente por no mximo sete dias, desde que estejam em local arejado. J em geladeiras, podem ser acondicionados por um perodo de at trinta dias. A posio de acondicionamento dos ovos deve ser alterada constantemente, para que no ocorra aderncia da gema casca. Tanto na incubao natural como artificial, os critrios de seleo e acondicionamento dos ovos so muito importantes. O procedimento de analisar os ovos durante a incubao (ovoscopia) possibilita, aps os primeiros dez dias de incubao, o recolhimento dos ovos no galados. A ovoscopia consiste em observar o interior do ovo atravs de uma fonte de luz em ambiente escuro. Neste procedimento, percebe-se defeitos da casca (rachaduras e despigmentao), duplicidade de gema e presena de elementos estranhos. No caso da incubao, observa-se o desenvolvimento do embrio.
Este sistema de criao foi desenvolvido para atender s necessidades de agricultores familiares de baixo poder aquisitivo. Dessa forma, suas instalaes e seu modo de funcionamento foram dimensionados de forma que estejam ao alcance desses agricultores, pois preconiza a utilizao de materiais baratos e compostos, em sua maioria, por recursos naturais existentes em suas propriedades (Tabela 16). Tabela 16. Valores oramentrios das obras e equipamentos referentes as instalaes do sistema alternativo de criao de galinha caipira.
Entretanto, o sistema prev a utilizao de alguns equipamentos, como balana e triturador de forragem, os quais, embora representem um adicional considervel no custo total, podem ser adquiridos por meio de associaes, reduzindo consideravelmente o valor a ser empregado por cada agricultor, visto que uma nica unidade destes equipamentos suficiente para atender a diversos mdulos de criao.
CURIOSIDADES
Os primeiros sinais do mercado avcola no Brasil Os primeiros dados estatsticos sobre a comercializao de aves e ovos no Brasil remontam o ano de 1860. O Estado de minas Gerais, grande exportador de laticnios e de aves para o consumo, demonstrou com dados estatsticos oficiais, a idia pioneira sobre comercializao destes produtos no Brasil que exercer forte influncia no desenvolvimento econmico durante a metade do sculo XIX e principio do XX. Em 1860/61 a quantidade exportada por Minas Gerais era de apenas 40mil quilos de aves vivas. Em 1910, depois de quarenta anos de atividade, esse total saltou para 3.123.000 quilos. de se ressaltar inclusive que a exportao dobrou de 1901 em diante, com um aumento anual mdio de 250.000.quilos. J as exportaes registradas em 1904 no Rio de Janeiro, do conta de um total de 1.047.446 quilos de aves vivas. Em 1911 a venda atingiu 1.568.231 quilos um incremento de 40%. E a propsito de mercado assim comenta um colunista da poca: " incontestvel verdade que as galinhas que mais produzem so aquelas que ns chamamos ordinrias ou comuns, e que por isso, talvez no lhes damos o tratamento que elas exigem para bem produzir. Todas as raas finas, de galinhas produzem pouco e demais, so caras; por isso quem pretender mercantilizar neste ramo de indstria deve procurar sempre o que mais produz, e o que menos trabalho d." Lyryo Ferdinand em artigo na revista Chacaras e Quintaes de 1931 (extraido da obra de Osny Arashiro - A historia da avicultura do Brasil)
As primeiras caipiras, uma mistura de sangue europeu com oriental Segundo os historiadores com a introduo das raas de galinha asiaticas e orientais, durante o periodo colonial, a galinha da terra, que era formada basicamente pela leghorn europeia, foi se transformando e deu origem assim vulgarmente conhecida como galinha crioula. Dessas misturas foram individualizadas cerca de cinco raas todas de origem duvidosa. A galinha de MACA, uma delas. Ela viveu no Estado do Rio de Janeiro, e, apesar da consanguinidade existente entre os diversos cruzamentos, conservou-se sob o mesmo aspecto e manteve as qualidades que a tornaram aprecivel. Uns julgavam-na um resultado da crioula com varios cruzamentos nos quais predominou a Leghorn. Outros a consideravam uma degenerao da raa importada durante o descobrimento do Brasil.
Outra raa tambm originria do Rio de Janeiro era a CABU, de plumagem azul ardsia, que pelas caractersticas faziam lembrar uma ascendncia andaluza. J em Santa Catarina originou-se o GALO-GALINHA possivelmente descendente do Indian Game, um cruzamento das raas procedentes da sia. Outra raa, a CARIOCA, descrita como uma raa genuinamente brasileira. Ela obedecia mais aos padres malaios, cuja infuso de sangue tanto influiu na formao da galinha criuola no Brasil. Foi conhecida em Portugal pelo nome de raa da Bahia. E os estudos no param por a. Eles revelaram a existncia de uma outra variedade da CARIOCA conhecida como URUBU, uma ave pouco robusta portanto no utilizada para combates. De carne arroxeada, mais empenada, era bem conhecida no norte e nordeste do pas, sobretudo Cear e Pernambuco. E outros documentos histricos do inicio do sculo XX notificam ainda uma outra variedade de galinha que poderia ser considerada tipicamente caipira. Conhecida como CATTETE, tinha o corpo pequeno, penas muito lisas, pernas nuas, quatro dedos, crista muito baixa, cabea pequena e cauda fina. Dizem os documentos que elas eram muito espertas, andavam sempre procurando alimento pelo cho e cantarolavam o tempo todo. Punham poucos ovos mas os galos eram bom de briga como aqueles de raa espanhola, famosos na poca. Era tambm a melhor raa para quem criava pra vender porque era boa de engorda.(Osny Arashiro, A historia da avicultura do Brasil)
Os 500 anos do frango no Brasil Segundo os historiadores coube galinha a honra de ser um dos primeiros animais domsticos a chegar ao novo continente. Inclusive mereceu citao especial na clebre carta em que Pero Vaz de Caminha, escrivo da armada cabralina, narrava as novidades da regio. Ancorada prxima dos recifes de Porto Seguro, a nau capitnea foi visitada, na noite de 24 de abril de 1500, por dois jovens aborgenas, trazidos de terra por Afonso Lopes. Escreveu Caminha: "mostraram-lhes um papagaio pardo que o capito traz consigo. Tomaram-no logo na mo e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro, no fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela, no lhe queriam pr a mo, e depois a tomaram como que espantados". Segundo as mesmas fontes, no se pode afirmar que os portugueses tenham deixado, nessa primeira viagem, quaisquer animais domsticos no costa da Bahia. certo porm, que em 1503, a expedio exploradora de Gonalo Coelho, que percorreu a costa brasileira at a baia do Rio de Janeiro, trouxe casais de galinhas e mudas de plantas teis. Onde se localiza hoje a praia do Flamengo, o capito
portugus fundou uma feitoria, que possuia at uma casa de pedra, logo alcunhada de "Carioca" pelos tamoios da regio. As aves deixadas em terra, aclimatando-se perfeitamente, passaram a se multiplicar. J em dezembro de 1519, quando Ferno de Magalhes no transcurso da pica viagem de circunavegao da Terra, aportou no Rio de Janeiro, para refazer as provises de suas naus, encontrou galinhas em quantidade. (extrado da obra de Osny Arashiro,"a histria da avicultura do Brasil")
A brown leghorn, a pioneira no Brasil Pouco se sabe sobre a origem da primeiras galinhas a chegar ao Brasil.. Sabe-se que eram espcimes de origem mediterrnea, pertencentes ao mesmo grupo de galinhas ibricas, italianas e norte africanas. Segundo os escritos da poca tratava-se da galinha comum europia. A mais conhecida era a raa Brown Leghorn que foi cruzada com outras raas orientais e asiaticas introduzidas no pas ainda na poca colonial. Este cruzamento deu origem galinha crioula. Certas raas , como a de Mlaca, influenciaram decisivamente na formao do tpico "mestio" brasileiro. A mescla de sangues asiticos e orientais, com o das galinhas comuns, deu origem a certas raas brasileiras que mais tarde foram conhecidas como galinha caipira.
Por que carij O nome se deve cor das penas. Carij, ou kari'yo,como diziam os ndios na lngua tupi, quer dizer procedente do branco, ou preto salpicado de branco. Tambm conhecido como pedrs, por causa da cor.