0% acharam este documento útil (0 voto)
12 visualizações18 páginas

Nepad

A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD) é um quadro criado em 2001 para promover o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza no continente africano, substituindo a Organização da Unidade Africana. A NEPAD visa integrar os países africanos em uma estratégia de crescimento econômico e social, enfatizando a democracia, boa governança e direitos humanos. Embora não tenha força jurídica vinculante, a NEPAD representa um compromisso moral dos líderes africanos para enfrentar os desafios do subdesenvolvimento e da exclusão global.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
12 visualizações18 páginas

Nepad

A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD) é um quadro criado em 2001 para promover o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza no continente africano, substituindo a Organização da Unidade Africana. A NEPAD visa integrar os países africanos em uma estratégia de crescimento econômico e social, enfatizando a democracia, boa governança e direitos humanos. Embora não tenha força jurídica vinculante, a NEPAD representa um compromisso moral dos líderes africanos para enfrentar os desafios do subdesenvolvimento e da exclusão global.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOCX, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 18

Introdução

NEPAD
A nova parceria para o desenvolvimento de África (NEPAD) é um quadro para
renovação do continente africano, baseada no entendimento compartilhado de que é
indispensável erradicar a pobreza na África e posicionar os países africano no caminho
e desenvolvimento sustentáveis.
Em 2001, os países africanos criaram a união africana para substituir a organização de
unidade africana enquadra na cooperações e a integração regional política e económica
entre os países africanos.
A nova parceria para o desenvolvimento de África (NEPAD) é o sucessor do plano de
lagos e do tratado abuja.
Sua criação visa aumentar a quantidade de investimentos no continente africano, para
promover o seu desenvolvimento em todos os aspectos.

Objectivo da NEPAD
A democracia e a boa governação política.
O desenvolvimento sócio económico;
O mecanismo africano de controlo dos pares.
Introdução
A perspectiva de integração da África não é nova e se inscreve no movimento da
globalização, iniciado há quase um século. De fato, durante as três últimas décadas do
século XX, as tentativas de cooperação multilateral numa base regional se
multiplicaram no mundo inteiro.
É neste sentido que o movimento iniciado em 1957 na Europa pela assinatura do
Tratado de Roma organizou as relações econômicas entre seis Estados europeus
relativamente ao carvão e ao aço. Desde então, novas solidariedades regionais surgiram
em todos os continentes, permitindo constituir mais ou menos, conjuntos regionais
nascidos da vontade dos Estados em organizarem suas relações com seus vizinhos, de
forma construtiva.
Para os países em desenvolvimento, a integração regional não é um fim em si, mas um
capítulo de uma estratégia mais ampla para promover um crescimento eqüitativo. Uma
integração regional com êxito permitiria melhorar a concorrência, reduzir os custos das
transações, permitirem economias em escala, atrair os investimentos diretos estrangeiros
e facilitar as políticas de coordenação macroeconômicas1.
É por isso que nos anos noventa, as políticas liberais, a clarificação e a modificação das
regras comerciais, notadamente com a criação, em 1995, da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e a conclusão da Rodada do Uruguai reforçaram o interesse e
facilitaram o regionalismo.
As integrações africanas em nível regional e subregional, criadas nos anos sessenta,
multiplicaram- se a partir de 1970. Fundadas geralmente pela proximidade geográfica e
pela comunidade lingüística dos países que as compõem, essas integrações regionais
perseguem os mesmos objetivos e, notadamente, a coordenação dos programas e
políticas para favorecer o crescimento econômico e o desenvolvimento.
Mais de quarenta anos se passaram (1960- 2007) desde que a maioria dos países
africanos teve acesso à soberania internacional. As políticas econômicas adotadas
ajudaram a alcançar alguns objetivos desejados. Ao contrário, a pobreza se agravou na
África a ponto de, hoje, a erradicação deste mal ter-se tornado uma situação urgente na
cooperação e na política internacional.
Dos cinco continentes que constituem o planeta, o continente africano é aquele em que
o desenvolvimento tem debates acirrados desde os anos 60. Da obra de René Dumont
"A África negra partiu mal", até a recente literatura sobre o futuro da África,
notadamente as iniciadas, de um lado, pelas instituições de Bretton Woods "Será que a
África pode reivindicar o século XXI?", do Banco Mundial, e de outro lado pelos
líderes políticos africanos, a África não deixou de ser uma interrogação para os
pesquisadores, observadores políticos, jornalistas e sociedade civil.
Para não se sentirem culpados, africanos e europeus vão, durante muito tempo, justificar
o subdesenvolvimento da África na dependência econômica e política do continente em
relação ao exterior e nos efeitos da colonização. Esta desculpa moralmente confortável
tinha por finalidade a declinação, para certos intelectuais e dirigentes africanos apoiados
por africanistas europeus, de suas responsabilidades. Na contramão deste pensamento,
Axelle Kabou (e bem antes dela Cheikh Anta Diop2), na sua obra intitulada "E se a
África negasse o desenvolvimento"3 levanta, no início de 1990, uma viva polêmica,
exortando os africanos a tomarem seu destino em mãos sem esperar por terceiros,
condição exclusiva e suficiente de um desenvolvimento eficiente e duradouro da África.
No fim do século XX, na hora do liberalismo econômico em escala mundial, os males
que afetam o continente africano estão intactos: pobreza, dependência econômica,
endividamento, fraca produtividade, doenças, repressões políticas, conflitos, etc. É neste
contexto que o Tratado da União Africana foi adotado em 12 de julho de 2000, em
Lomé (Togo). Ele constitui uma transformação do direito internacional africano, na
medida em que previu, num período transitório de um ano no máximo, a supressão da
OUA e a instituição da União Africana.
As conferências políticas e econômicas realizadas nas últimas três décadas no quadro da
Organização da Unidade Africana (que se tornou em julho de 2002, no encontro de
Lusaka, União Africana) marcam neste ponto de vista, uma nova orientação que traz
esperança, cuja Nova Parceria para o Desenvolvimento da África - NEPAD - é a
materialização estrutural. O Ato Constitutivo é muito específico sobre as funções e
poderes dos órgãos constitutivos da nova organização intergovernamental, isto é a
União Africana. Será que, enfim, a África achou o viés e as soluções mágicas para uma
política econômica e uma economia de desenvolvimento eficiente e duradoura?
A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África é um documento oficial adotado
pelos chefes de Estados africanos, em outubro de 2001, em Abuja, capital da Nigéria. O
ponto central do texto de Abuja apresenta seus objetivos como uma promessa feita pelos
dirigentes africanos, fundada sobre uma visão comum, assim como uma convicção
firme e dividida, que tem como missão urgente a erradicação da pobreza, a colocação
dos países africanos, individual e coletivamente, no caminho de um crescimento e de
um desenvolvimento duradouros, participando ativamente na economia e na vida
mundial. Ficou enraizada na determinação dos africanos a idéia de trabalhar firme, para
erradicar os males do subdesenvolvimento e da exclusão de um planeta em curso de
mundialização.
Enfim, o desenvolvimento depende ao mesmo tempo de iniciativa própria e da parceria
com os outros. Sem nenhuma dúvida, o desenvolvimento da África, o que nos interessa
aqui, é antes de mais nada, a responsabilidade dos africanos. Mas o dever de
solidariedade faz com que os destinos do Norte e do Sul estejam estreitamente ligados.
O desenvolvimento do continente africano se concretizará pela afirmação do direito ao
desenvolvimento consagrado nos textos africanos, especialmente na Carta Africana dos
Direitos do Homem e dos Povos, que é um direito obrigatório para os Estados
Membros.
A importância do tema deve-se ao fato de que a África quer, hoje, retomar em mãos seu
próprio destino, bem como a iniciativa da reflexão sobre o desenvolvimento, depois de
ter sido, durante muitos anos, uma consumidora de idéias importadas do exterior. No
quadro da reforma da Organização da Unidade Africana (OUA), a NEPAD foi criada
para resolver os desafios da mundialização e do século XXI. A unidade dos países
africanos, como provam as diferentes teses pan-africanistas, permitirá juntar suas
riquezas minerais e agrícolas, suas experiências intelectuais, a fim de criar um "front
commun africain", que permite impor-se na comunidade internacional.

Natureza jurídica
A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD) é um documento oficial
adotado pelos chefes de Estado e de Governo africanos, em outubro de 2001, em Abujá,
capital da Nigéria. Esse documento apresenta os objetivos do NEPAD como uma
promessa feita pelos dirigentes africanos, fundada numa visão comum, assim como uma
convicção firme e compartilhada, fazendo com que haja urgência para erradicar a
pobreza, colocar os países, individual e coletivamente na via de um crescimento e de um
desenvolvimento duradouros, participando ativamente na economia e na política
mundial. A NEPAD está alicerçada na determinação dos africanos em tirar seus países
do mal-estar do sub-desenvolvimento e da exclusão de um planeta em curso de
mundialização.
Se conseguirmos deduzir, deste ponto, que a NEPAD representa um código de valores
comuns para o "take-off"econômico e político do continente, uma análise semântica
rigorosa de alguns conceitos-chave: promessa, dirigentes africanos, crescimento e
desenvolvimento duradouros, engajamento, subdesenvolvimento, contidos na exposição
dos objetivos, suscitando interrogações quanto à pertinência jurídica e política do texto,
seu conteúdo e grau de adesão dos Estados africanos a este. De fato, na leitura do
documento é mencionada uma promessa feita por uma parte dos políticos africanos,
para promover um crescimento e um desenvolvimento duradouros. Cabe salientar que
oito pontos do documento mencionam a trilogia democracia - boa governança - direitos
humanos. Afinal de contas, como se estrutura a NEPAD?
Embora a NEPAD não seja uma organização, ela é dotada de uma estrutura de direção,
composta de um Comitê de concretização, com vinte chefes de Estado e de Governo,
um Comitê de Pilotagem, com os representantes dos países fundadores e um
secretariado. A alta autoridade do processo de instituição da NEPAD é a Cúpula dos
Chefes de Estado e de Governo da UA e, desde 2002, o comitê de concretização assume
um papel de coordenação em sua qualidade de "subcomitê" da Cúpula.
O fato de que o secretariado da NEPAD esteja em Pretória, na África do Sul, ao passo
que a a sede da UA esteja em Addis-Abeba, na Etiópia, pode levar a crer na existência
de duas entidades concorrentes para o desenvolvimento da África, podendo, então, ser
um empecilho para a unidade do continente. Até 2002, a coerência foi mantida graças à
presidência sul-africana da UA. Cabe salientar que o Encontro de Maputo em 2003,
trouxe um início de resposta à necessidade da integração formal da NEPAD nas
estruturas e nos processos da UA: o comitê de instituição continuará com a tarefa de
gestão dos programas da NEPAD, e a integração do secretariado da NEPAD dentro da
Comissão da UA será progressiva e facilitada pela criação de uma "unidade de
coordenação". Um acordo de sede temporária com a África do Sul foi também
concluído para "acordar um estatuto jurídico ao Secretariado da NEPAD como
escritório fora da sede da UA" até as estruturas da União se tornarem operacionais.
Segundo nosso entendimento, a ligação entre a UA e a NEPAD vai dar à primeira um
papel fundamental na realização dos objetivos da NEPAD, e a esse papel, uma difusão e
uma legitimidade mais fortes. Os instrumentos jurídicos tanto nacionais quanto
internacionais precisam enquadrar-se nas fontes do Direito.
A Declaração da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África não estabelece
direitos e obrigações mútuas entre as partes. Inexiste o animus contrahendi. Não
gera norma que obrigue as partes signatárias. Os Chefes de Estados e Governos
assinaram o compromisso de desenvolver a África, de combater os problemas
cruciais como a pobreza e a miséria, o desarmamento, e a proteção do meio-
ambiente. Tal Declaração pode ser classificada como gentlemen's agreements, ou
seja, acordos de cavalheiros, regulados por normas de conteúdo moral, cujo
respeito repousa sobre a "honra". Concluídos entre Chefes de Estados ou de
Governo, e estabelecendo uma linha política a ser adotada entre as partes [...] tais
acordos têm por objetivo enunciar a política que seus signatários pretendem
seguir, tornando-se, para eles, um compromisso de honra.
A importância político-filosófica da Nova Parceria para o Desenvolvimento da
África, bem como a repercussão moral que teve sobre as nações é inquestionável.
Contudo a natureza jurídica e a força obrigatória dos dispositivos contidos na
Carta não são claras. De um lado, há os que negam categoricamente o
reconhecimento de sua força vinculante, por ela não ter sido elaborada na forma
de um Tratado Internacional. De outro, há os que acreditam que ela apresenta
força jurídica obrigatória por integrar o direito costumeiro internacional e os
princípios gerais do Direito.
O programa da NEPAD é um acordo de cavalheiros, pois não compromete o
Estado, comprometendo somente a pessoa do signatário. A conseqüência da
violação do programa é política, pois o acordo envolve pessoalmente o mandatário,
não gerando responsabilidade internacional. Aqui temos o princípio do rebus sic
stantibus, sendo que a extinção do acordo é automática. Tudo isso se deve ao fato
de estarmos diante do soft law.
É importante frisar que a falta de sanção não pode ser suficiente para desnaturar o
caráter jurídico do princípio da precaução, que é adotado no direito internacional do
meio ambiente4i.Nem todo dever vem associado à sanção, e nem por isso, deixa de fazer
parte do ordenamento jurídico. Poderá, quem sabe um dia, além de ser um princípio
geral de direito, servir como um instrumento de controle constitucional quando seu
conteúdo estiver claramente sedimentado. Uma explicação para tal interpretação reside
na própria natureza jurídica de certas normas internacionais que não possuem um
caráter coercitivo, sendo denominadas de soft law.
O acordo de cavalheiros é uma forma de soft law surgida num momento de mudança do
Direito Internacional Público, origina-se a partir da crescente atuação da diplomacia
multilateral ocorrida no século XX. Suas normas flexíveis constituem regras cujo
descumprimento acarreta somente uma sanção política na pessoa do signatário. Isso faz
com que seu conceito e limites se encontrem em fase de elaboração.
Mesmo com a legitimidade incontestável dos autores da Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África, não se pode realizar o desenvolvimento em proveito do
povo, sem integrá-lo no processo e nos enunciados, às posições e aos pontos de vista
que emanam do pedestal sobre o qual se situa o mesmo povo. O desenvolvimento é,
antes de tudo, um negócio de pessoas. Tanto nos documentos produzidos pelos "novos
missionários" do desenvolvimento quanto os realizados pelos africanos, a questão do
desenvolvimento raramente aborda projetos plurais de sociedade e de forças sociais
suscetíveis de incorporá-los. Os atributos e as necessidades específicas das mulheres,
dos jovens e de todas as categorias sociais ora mencionados são, na maior parte das
vezes, ignorados nas projeções oficiais. Para ter êxito, a NEPAD traça objetivos e
mecanismos claros. Como foi mencionado anteriormente, a criação da UA não significa
somente uma mudança de denominação em relação à OUA, mas significa uma mudança
de pensamento.
A relevância e o caráter urgente das metas definidas pela Nova Parceria para o
desenvolvimento da África transcendem a classificação de simples compromisso de
cavalheiros porque envolve questões importantes voltadas para os desafios da
humanidade: fome, pobreza, miséria, mortalidade infantil, Aids, meio-ambiente,
educação, desarmamento, etc. Não seguem as etapas do processo de formação
regulamentado na Convenção de Viena, apesar de os chefes de Estados e de Governos
presentes terem, em razão do cargo, capacidade originária. A Declaração mostra
claramente que a vida humana está em jogo, e que chegou a hora de pensar no ser
humano e na sustentabilidade do planeta. É uma urgência. Os países africanos, seus
dirigentes e sua diaspora têm a obrigação moral de participar efetivamente da solução
dos problemas que afligem o continente africano. Quantos bilhões de dólares são gastos
unicamente com armamento e quantos são investidos nas questões sociais dos países
subdesenvolvidos? Um entendimento claro e aprofundado desta rubrica não seria
possível sem versar sobre os objetivos e mecanismos da Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África. Em relação aos objetivos, teremos, de um lado, os
objetivos econômicos e, do outro os objetivos políticos.

Objetivos
O objetivo da política de desenvolvimento consiste em fomentar um desenvolvimento
sustentável que contribua para a erradicação da pobreza nos países em vias de
desenvolvimento e para a sua integração na economia mundial. A estes propósitos
econômicos e sociais, juntase uma intenção de ordem política: contribuir para a
consolidação da democracia e do Estado de direito, bem como para o respeito dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais.
Para tornar operacionais os objetivos da UA, a NEPAD tornou-se, em 2001, um
programa de desenvolvimento socioeconômico. Ela fixa para a África objetivos
ambiciosos: realizar uma taxa de crescimento médio anual de 7% do PIB, ou seja o
dobro da taxa atual, e fazer com que o continente realize os Objetivos do Milênio para o
Desenvolvimento (OMD), até 2015. Ela identifica três condições preliminares
essenciais ao desenvolvimento da África: assegurar a paz, a segurança e o respeito da
democracia, da boagovernança política e dos direitos do homem, promover a boa-
governança econômica e das empresas; escolher a região como quadro de
desenvolvimento da África. A organização em zonas regionais (África Ocidental, África
do Norte, África Central, África Oriental e África Austral- Madagascar) deve remediar
o estreitamento dos mercados nacionais e favorecer a integração das economias no
comércio internacional5.
Qualquer que seja o caso, não se pode negar que a Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África é uma peça fundamental para o futuro das relações entre a
África e os credores internacionais. Ela pode muito bem oferecer ao continente a melhor
oportunidade, desde há anos, para ter um ambiente favorável no seio da Organização de
Cooperação e de Desenvolvimento Econômico e do G8. É também uma oportunidade
para aqueles que, na África, querem uma maior responsabilização - freqüentemente
identificados como a "sociedade civil" - e poderem pressionar os seus governos, mesmo
que discordem da forma como a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África foi
concebida e a acusem de não ser "democrática" na prática.
Para realizar seus objetivos, a NEPAD requer a mobilização de 64 bilhões de dólares
por ano, ou seja, 12% do PIB do continente. Com recursos internos insuficientes, ela
pressupõe um financiamento externo público e privado, e recomenda um melhor acesso
das exportações africanas aos mercados ocidentais, exigindo então uma nova parceria
com o mundo desenvolvido. Assim, por um curto termo, ela conta com os meios
clássicos, mas melhorados, do desenvolvimento: uma acentuada ajuda pública ao
desenvolvimento e uma diminuição mais rápida da dívida. Para reduzir a dependência à
ajuda, ela privilegia o investimento estrangeiro direto como uma fonte de financiamento
complementar a longo termo. Durante muito tempo percebido como uma expressão do
neocolonialismo, este é hoje um dos principais pilares da NEPAD, a qual busca fazer do
continente uma zona atrativa para os investidores africanos e estrangeiros. Os países que
estão na via da paz, da democratização e do desenvolvimento, são hoje mais numerosos,
mas esforços devem ser feitos para atrair os investimentos privados: os prejuízos à boa-
governança e aos direitos humanos, a instabilidade política e econômica persistem ainda
hoje em alguns países.ii
Os países que se enfrentam na arena da mundialização devem ser dotados de uma base
industrial sólida, de um acesso ao mercado de capitais, de um volume elevado de
investimentos estrangeiros, de uma capacidade de erguer barreiras aduaneiras e sistemas
de subvenções de toda forma, que os protegem da concorrência externa, impondo aos
países pobres a abertura de seus mercados, etc. A África não dispõe de nenhum desses
instrumentos.
Não se cansa de repetir, que a luta para uma dignidade humana passa necessariamente
pela satisfação das necessidades elementares do ser humano. Não se passa um dia sem
que se entenda a seguinte frase: "metade da humanidade sobrevive com menos de dois
dólares por dia". Neste grupo, encontram-se vários africanos. A Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África se propõe a trazer a resposta da África aos múltiplos
desafios da mundialização.
No plano econômico, a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África entende
promover programas concretos que visem melhorar a qualidade da gestão econômica e
das finanças públicas, assim como a governança das empresas em todo o continente. É
nesta ótica que foi criada a Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios
na África (OHADA).
Precisa notar aqui que muitos especialistas acreditam que a Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África apresenta algumas vantagens porque ela constitui uma
iniciativa africana de desenvolvimento: os investidores estrangeiros e os países
africanos são apresentados como parceiros que têm algo a dar e/ou a receber. Contudo
alguns especialistas em questões econômicas acreditam que a Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África peca por sua tendência à globalização e à regionalização,
sem levar em conta as especificidades de cada país.
A NEPAD visa a formação de uma parceria entre a África e a comunidade
internacional, envolvendo os países mais industrializados do mundo, baseada na
interdependência e no respeito mútuo. A NEPAD é uma visão de desenvolvimento do
continente africano, e foi concebida e elaborada pelos dirigentes africanos. Ela é um
engajamento dos dirigentes africanos em assegurar a paz e a segurança no continente e
melhorar a governança econômica e política. Igualmente, ela é um plano de
desenvolvimento integrado e exaustivo, que trata das grandes prioridades sociais,
econômicas e políticas de maneira coerente e equilibrada. Ela tem um quadro para uma
nova parceria com o resto do mundo, que tem como base o próprio programa da África.
Os objetivos da NEPAD consistem também em promover uma aceleração do
crescimento e do desenvolvimento duradouro, em erradicar a pobreza generalizada e
extrema, e pôr um termo na marginalização da África, no contexto da mundialização.
A principal ambição econômica da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África é
alcançar os 7% de crescimento anual, necessários para atingir um dos objetivos da
Declaração do Milênio das Nações Unidas - reduzir para metade, até 2015, o número de
pobres. Para preencher este requisito, África deverá crescer mais do que o dobro da
atual taxa - que entre 1991-2000 foi de 2,1%, consideravelmente abaixo dos 2,8% da
taxa de crescimento da população. A África tem um déficit financeiro anual de cerca de
10 bilhões de dólares. Superar este déficit exigirá um aumento sem precedentes da
poupança nacional, da taxa atual de 19% para cerca de 33% - para toda a África, e ainda
mais para a África Subsahariana - bem como aumentos no alívio da dívida, no
investimento direto estrangeiro e na ajuda pública externa. Tendo em conta a presente
situação econômica do continente e os ainda incalculáveis custos dos conflitos e da
pandemia da AIDS, torna-se difícil acreditar que estes alvos possam ser atingidos6.
Não é o aumento da ajuda oficial ao desenvolvimento ou a diminuição da dívida que
vão tirar a África da extrema pobreza. O sucesso das reformas políticas e econômicas é
a chave para a criação de condições favoráveis para o aumento dos fluxos de capitais
investidos na África e para a manutenção dos capitais africanos no continente.
Para sanar os atrasos e as disparidades acumulados no desenvolvimento da África, estão
previstos muitos investimentos, em dez áreas julgadas prioritárias pelos dirigentes
africanos, incluindo a boa-governança pública (democracia, respeito dos direitos do
homem, transparência) e econômica (justiça independente, gestão honesta e transparente
das sociedades privadas), educação, saúde, novas tecnologias da informação e da
comunicação, meio-ambiente, energia e acesso aos mercados dos países desenvolvidos.
Para conseguir tirar a África do estágio do subdesenvolvimento, as necessidades
financeiras estão estimadas em 64 bilhões de dólares por ano, o que pressupõe um
aumento de fluxos de capitais públicos e privados para cobrir o déficit anual do Produto
Interno Bruto da África, estimado em 12%. O acesso aos mercados dos países
desenvolvidos para seus produtos agrícolas, a supressão das barreiras não tarifárias, o
desenvolvimento de indústrias de extração, de manufatura, de serviços, e do turismo são
também invocados7.
O programa da NEPAD repousa sobre a responsabilidade mútua, motivada pelo
princípio, segundo o qual para que a África cumpra os objetivos enunciados na NEPAD,
os governos africanos, assim como a comunidade internacional, devem também cumprir
os seus compromissos. Isso inclui os compromissos assumidos pelos governos
africanos, no seio da NEPAD para melhorar, em termos de governança econômica e
política, os compromissos do G8 e os compromissos internacionais, para cumprir os
objetivos de desenvolvimento do milênio.

Mecanismos
O princípio de participação nas decisões é lembrado em vários textos internacionais, em
matéria de direitos humanos. Os governos não têm escolha: eles devem realizar uma
consulta à sociedade civil, sobretudo na hora de concretizar os objetivos da Nova
Parceria para o Desenvolvimento da África, nos seus países. Os mecanismos previstos
para a realização dos objetivos da NEPAD são também políticos e financeiros.
A declaração da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África e o encontro
inaugural da União Africana sublinharam a necessidade da adoção de um mecanismo
africano de exame dos pares. Este é um instrumento feito de comum acordo entre os
Chefes de Estado e de Governo no quadro da Nova Parceria para o Desenvolvimento da
África, que permite, aos países membros participantes, favorecer a adoção de políticas,
de normas e práticas que visam a estabilidade econômica, um desenvolvimento
duradouro e a integração econômica subregional e continental acelerada, através do
intercâmbio de experiências e o reforço das melhores práticas, incluindo a identificação
das fraquezas e a avaliação das necessidades de reforço das capacidades8.
Cada país que fizer parte do Mecanismo Africano de Revisão de Pares será objeto de
uma auditoria profunda por parte de personalidades independentes sobre o estado da
governança. Os indicadores são suscetíveis de mudar, por iniciativa do Comitê de
Parcerias.
Um outro aspecto é que o documento da Nova Parceria para o Desenvolvimento da
África exibe um grau de realismo político até agora sem precedente. Reconhece que a
crise africana é, em grande medida, resultado de falhas políticas, e demonstra uma clara
vontade de resolver os constantes problemas políticos do continente. A nova iniciativa é
fundada numa aceitação da noção de boa-governança, tal como é definida pelo
Ocidente, isto é, o reconhecimento de que a política econômica só pode ser
corretamente implementada dentro de um determinado quadro político. Boa-
governança, neste sentido, significa simultaneamente um governo democrático mais
responsável e uma aceitação da condição econômica tal como é refletida nas políticas
macroeconômicas e nas restrições financeiras e orçamentarias que têm estado no âmago
dos Programas de Ajustamento Estrutural nas últimas duas décadas.
Interpelada de maneira explícita para o setor da educação, a UNESCO vai contribuir
para a implantação dos objetivos da NEPAD em todas as áreas da sua competência.
Nesta perspectiva, e em conformidade com as recomendações do seminário
internacional sobre "Approches prospectives et stratégies novatrices en faveur du
développement de l'Afrique au XXI° siècle" (Paris, 8-9 novembre 2001), um certo
número de pistas de trabalho foram escolhidas, e permitirão trazer respostas concretas
às necessidades prioritárias do continente. A UNESCO trabalhará em estreita
colaboração com a NEPAD.
Enfim, a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África entende "criar na África um
ambiente político, social e econômico propício à redução da fuga dos cérebros". (Doc.
NEPAD). O documento não explica as razões fundamentais da fuga dos cérebros
africanos para os países ricos e as medidas concretas a serem tomadas pelos Estados
africanos para reverter a situação. Afirmar que "os principais problemas que encontra a
educação na África provêm da insuficiência de instalações e dos sistemas de formação
da maioria dos africanos" (Doc. NEPAD) não nos parece convincente. Esses problemas
e os de outros setores são o resultado da maneira como o continente foi integrado ao
sistema econômico e à política mundial e às relações existentes no meio do sistema. As
prioridades e as estratégias da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África que
dizem respeito a este setor importante para os jovens e para o desenvolvimento
duradouro em geral não nos parecem claramente indicados9.

Novas perspectivas para a África


Ao olhar os documentos oficiais, as práticas e os posicionamentos dos idealizadores da
Nova Parceria para o Desenvolvimento da África, percebe- se rapidamente que não se
trata, de nenhum modo, de uma proposta de desconstrução da mundialização liberal.
Tanto pela filosofia de inserção que é fundada no mercado e no setor privado, a Nova
Parceria para o Desenvolvimento da África é uma celebração da ideologia liberal. Ela se
inscreve na continuação de paradigmas, de postulados de base e de lógica que, depois
do desenvolvimento, informa hoje a mundialização.
Os princípios de base do liberalismo que se resumem em poucas palavras são: "[...] o
mercado é bom, o Estado é ruim. [....] É preciso desregulamentar, fazer recuar o Estado,
reduzir seu campo de competência e, sobretudo, o colocar ao serviço dos investidores
privados". Com a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África, este hino de base
do neoliberalismo no qual todos os refrões giram em torno de "Menos Estado", "Pouco
Estado", "Sem Estado", "Cada um por si, o mercado para todos" não conheceu
mudança.
Se, no diagnóstico colocado pela Nova Parceria para o Desenvolvimento da África, os
assaltos ideológicos repetidos contra o Estado não estão explicitamente relegados, a
posição que, em geral, se tira está implícita. Num contexto em que as bases da soberania
estão fortemente sacudidas, e suas missões tradicionais reduzidas de forma drástica
(limitadas ao "Estado Policial" para retomar o termo de Pareto), uma posição clara sobre
sua verdadeira restauração e/ou sobre a natureza do Estado que deve ser erguido na
África, não foi expressa.
Os idealizadores da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África não rejeitam o
Estado de forma explícita, a exemplo do G8 e suas instituições satélites (que fazem e
desfazem o mercado, seguindo os seus interesses e os das multinacionais), eles sugerem
fortemente o mercado para resolver os problemas da África. O livre intercâmbio e os
benefícios da liberalização são discutidos. As potencialidades reais do comércio
internacional são apresentadas como um terremoto de oportunidades.
Como os ideólogos do liberalismo, os autores da Nova Parceria para o Desenvolvimento
da África apresentam o mercado como a nova oportunidade para solucionar os
problemas de todos aqueles que virão a se filiar a ela. Ao invés de apontar o dedo aos
efeitos das políticas neoliberais na África, a Nova Parceria para o Desenvolvimento da
África parece endossar o discurso e os instrumentos que apoiaram essas políticas.
Independentemente das críticas, a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África
difere da maioria dos documentos anteriores, em alguns aspectos importantes. A noção
de "parceria reforçada" (enhanced partnership). Por detrás desta expressão
aparentemente inócua subjaz uma nova definição de "cooperação" entre doadores e
receptores. O que se sugere é que os Estados africanos devam eles próprios definir os
objetivos do desenvolvimento, bem como acordar com os doadores um conjunto de
resultados do desenvolvimento a serem financiados pelos doadores através de linhas
orçamentais normais, com um monitoramento conjunto pelas duas partes. Isto eliminará
as condições complexas, reforçará a apropriação (ownership) africana e facilitará a
avaliação do sucesso de iniciativas de desenvolvimento.
Em face desta situação, as condições desfavoráveis a uma estrutura de comunicação e
de construção de uma visão estratégica sobre o presente e o futuro cederam lugar a
tentativas de programas parciais e iniciadas do exterior.
As elites africanas pareciam entender-se em torno de um pacto tácito que impunha o
sepultamento da era dos ideais com o humanismo e a generosidade que as
acompanhavam. As experiências, mais ou menos decepcionantes que muitos
intelectuais vivenciaram em alguns partidos políticos ou em diversos setores de
mobilização, confortaram a tendência em adotar um novo valor dominante de sucesso
pessoal dos indivíduos10.
Consideravam-se como suspeitas todas as formas de militância. Ora, o
desenvolvimento, como toda obra de grandeza, segundo minha ótica, requer, por parte
de seus atores, uma dose de engajamento pessoal de ordem da militância. Para
concretizar um projeto, deve-se acreditar nele. Para se mobilizar, precisa ter confiança
na sua capacidade de vencer os múltiplos obstáculos.
Existem duas perspectivas sobre a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África. A
primeira, mais otimista, cujo precursor é o ex- Presidente Nigeriano Obasanjo, defende
que estão lançadas as bases da transição africana para a boa-governança, através de um
autocomprometimento com uma maior eficácia institucional e uma maior
responsabilização política. O Ocidente, isto é, os países desenvolvidos, está ávido de
apoiar estas tendências e estará pronto a aumentar a ajuda para premiar os "sucessos"
nessas áreas. A segunda, mais pessimista, defendida por alguns intelectuais africanos,
tais como o jornalista Miloud Chennoufi, postula que a Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África é a última de uma longa lista de "discursos" produzidos
pelos líderes africanos para convencer os doadores, de seu compromisso com as
reformas políticas e econômicas que é exigido deles. Neste contexto, a Nova Parceria
para o Desenvolvimento da África não seria mais do que uma forma de manipular a
opinião pública ocidental, de forma a permitir que os doadores digam que a ajuda ao
desenvolvimento tem sido crescentemente canalizado para os "bons alunos" africanos.
Mas, para que a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África possa iniciar uma
mudança a favor das populações mais pobres, a primeira condição é que a população,
através de seus representantes autênticos, possa reapropriarse do programa e fazer com
que suas verdadeiras necessidades sejam levadas em consideração e, não, as
necessidades dos países ricos. Esta é uma razão suplementar permanente de agir para o
apoio e o reforço de uma verdadeira sociedade civil na África.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 consagra um conjunto de
princípios universais, inalienáveis e indispensáveis a uma vida digna. Mas a ausência de
força jurídica cogente e de consenso sobre o alcance dos direitos econômicos, sociais e
culturais, levou a Assembléia Geral das Nações Unidas a adotar em 1966 duas
convenções separadas sendo uma sobre os direitos civis e políticas e a outra sobre os
direitos econômicos, sociais e culturais. O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais assim adotado e que entrou em vigor em 1976 reafirma o ideal de o
ser humano ser liberado da ameaça e da miséria. Ele cria obrigações para os Estados em
relação as suas populações e reconhece assim, o direito de toda pessoa a um nível de
vida suficiente para ela e para sua família, compreendendo alimentação, vestuário e
alojamento decente, assim como uma melhora constante nas condições de existência
(artigo 11), o direito à saúde, à educação e à cultura (artigo 12).
Como acima referimos, a ausência de distinção entre os direitos e liberdades por um
lado e direitos econômicos e sociais por outro, revelase uma das mais interessantes
inovações da Carta Africana. Assim, os escassos direitos econômicos, sociais e culturais
surgem descritos nos artigos 15.° a 18.° de forma sucinta.
Foi também visando esta mesma autodeterminação que se inseriu, na Carta Africana, o
direito ao desenvolvimento. Tendo ou não suas origens na influência exercida pela
prática das Nações Unidas, a verdade é que o direito ao desenvolvimento, no contexto
africano - assim como no dos países em desenvolvimento -, tem como objetivo servir
como um instrumento de mudança, que almeja uma sociedade mais justa e humana; ao
contrário do enfoque dado pelos países desenvolvidos, que vêem nele - em parte, e nos
direitos humanos, em geral - um meio de preservar a situação como ela se encontra,
mantendo, portanto, um posicionamento muito mais defensivo e cauteloso.
O direito ao desenvolvimento, inicialmente concebido como um direito das
comunidades submetidas à dominação colonial e estrangeira, desenvolveu-se, de sorte
que seu enfoque contemporâneo vincula todos os países em desenvolvimento à nova
ordem econômica internacional. É exatamente este aspecto que surge como paradoxo,
posto que os países desenvolvidos, que propagam a proteção dos direitos humanos, não
se encontram dispostos à necessária divisão de riquezas que ensejaria o
desenvolvimento e a conseqüente diminuição da violação dos direitos humanos. Este é
certamente o motivo principal que fez com que o direito ao desenvolvimento só
encontrasse guarida convencional na Carta Africana. O componente econômico do
direito do desenvolvimento não deve necessariamente prevalecer sobre os demais, afinal
não é só o crescimento econômico que reflete o desenvolvimento. Este não tem um
padrão uniforme, pois deve-se sempre observar as características, a herança, o passado
cultural dos diferentes grupos que habitam o mundo; como bem salienta o próprio
preâmbulo da Carta de Banjul ao afirmar que se deve ter "em conta as virtudes (das)
tradições históricas e (dos) valores da civilização africana que devem inspirar e
caracterizar as [...] reflexões sobre a concepção dos direitos humanos e dos povos".
Deve-se destacar, ademais, que não é tão-somente com a autodeterminação que o direito
ao desenvolvimento se relaciona; todos os direitos estampados na Carta Africana são
compreendidos por seus vários e inúmeros aspectos.
O direito ao desenvolvimento é a base da auto determinação. Isso significa o direito ao
desenvolvimento para todos os indivíduos ou grupos que compõem a sociedade. Então,
ele leva em conta o respeito de seus direitos sociais e culturais assim como seu direito à
participação. Em outras palavras, as pessoas devem ativa e livremente participar à
repartição eqüitativa dos frutos do desenvolvimento. O direito ao desenvolvimento
deverá repousar sobre uma política cujo objetivo é criar as condições favoráveis que
permitem a todos os indivíduos e grupos maximalizarem seu potencial no seio de uma
sociedade diversificada e aberta.
Os princípios basilares para que a NEPAD possa colocar a África no cenário da nova
ordem mundial são o desenvolvimento econômico e a boagovernança, aspectos
fundamentais para tirar a África da marginalização.
O conceito tanto da governança quanto da boagovernança não é tarefa simples, en face
do caráter flutuante dos seus conteúdos. Assim, alguns analistas falaram de conceitos
tendo em vista que existem vários objetivos a alcançarem. Em suma a governança
aparece como sendo um conceito multidimensional que integra ao mesmo tempo as
preocupações de ordem política, ideológica, econômica, social, cultural e ética.
Assim sendo a boa governança é definida como um sistema que garante a justiça, a
democracia e a equidade; que garante uma separação clara dos poderes entre o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário; que garante também um Estado de Direito na
base dos princípios universais dos Direitos do Homem; que garante uma justa repartição
dos raros recursos, uma justa representação e uma participação efetiva de todas as
populações e enfim como um sistema que adere às normas éticas as mais rigorosas nas
praticas cotidianas.
De outra banda, entende-se por boa-governança o conjunto das práticas públicas que
permitem ao mesmo tempo garantir um comportamento democrático e responsável dos
governantes e uma capacidade para os cidadãos expressarem, participarem no processo
de decisão e exercerem suas capacidades de controle sobre as práticas e instituições
públicas.iii
Para o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) "a boa governança, entendida como
o respeito da primazia da lei e dos direitos do homem, e preocupação com a
responsabilidade e a transparência da gestão dos recursos públicos, assim como a
existência de um sistema jurídico e regulamentar acreditado constituem os fundamentos
essenciais de um crescimento econômico sustentável"11.
O que a Organização das Nações Unidas, o Banco Mundial e o Banco Africano de
Desenvolvimento admitem de maneira unânime é que a boa governança deve comportar
os seguintes elementos: um Estado efetivo; uma sociedade civil mobilizada; e um setor
privado eficaz. Por outro lado, a boa governança requer também os seguintes elementos
chaves: a obrigação de prestar conta, a transparência, o combate à corrupção, a gestão
participativa e um quadro jurídico e judiciário favorável.
Enfim e numa perspectiva histórica, o conceito de boa governança integrou no seu
conteúdo os valores democráticos e políticos para enfim desembocar sobre um conteúdo
que integra a dimensão da justiça social para garantir um verdadeiro desenvolvimento
humano. Portanto, um simples crescimento econômico que não se preocupa com o
espinhoso problema social, que agrava o doloroso fenômeno da pobreza não saberá
traduzir a exigência da boa governança. Restituída no seu verdadeiro sentido, ela se
analisa essencialmente como uma ética de desenvolvimento mais do que uma simples
exigência de crescimento econômico12.
Os princípios de boa-governança e de Estado de direito fazem parte integrante das
políticas de ajuste estrutural defendidas pelas instituições internacionais e, sendo hoje
reafirmadas pelos autores da NEPAD, mas convém comprender qual é sentido desses
princípios. Os principais atributos de uma boa governança são: Transparência,
responsabilidade, obrigação de prestar conta, participação e levar em consideração as
necessidades das populações13.
Se a governança é considerada como um conjunto de diferentes processos e métodos
através dos quais os indivíduos e as instituições públicas ou privadas, gerenciam os
negócios comuns, a boa-governança seria "um modo de exercício da autoridade na
gestão imparcial, transparente e eficaz dos negócios públicos, fundado na
legitimidade"14.
Ela é composta de duas perspectivas principais: a governança econômica (composta dos
processos de decisão que afetam as atividades econômicas) e a governança política (que
se refere à concepção e a instituição de políticas de desenvolvimento). Introduzida pela
common law, a noção de boa-governança evoluiu graças as diferentes conferências
organizadas pelas Nações Unidas. Ela é hoje apresentada como um dos valores da
legitimidade estadual, e neste aspecto, imposta pelos credores internacionais às
sociedades africanas como uma condição para uma cooperação.
Do outro lado, corrolário necessário da democracia, o princípio do Estado de direito é
um outro "cavalho de batalha" das instituições internacionais, ele implica o controle dos
atos do executivo, do legislativo e do poder público em geral, e o Estado de direito,
segundo Carré de Malberg, é: "[...]um Estado que, nas suas relações com seus sujeitos e
para a garantia do status individual, se submete ele mesmo a um regime de direito, e isto
enquanto ele fixa sua ação sobre eles por regras, cujas uns determinam, os direitos
reservados aos cidadãos, e outros fixam de antemão as vias e os meios que poderão ser
utilizados para realizar os objetivos do Estado"15.
A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África repousa sobre três opções
fundamentais que são a boa governança, pública e privada; o apelo massivo ao setor
privado mais do que para a economia do Estado; a consideração da região mais do que o
Estado nacional. No interior destas três opções, a Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África escolheu oito importantes prioridades cuja interação deverá
gerar o desenvolvimento; eis elas: infra-estruturas; educação; saúde; agricultura; meio
ambiente; as novas tecnologias da informação e da comunicação, a energia; e por fim, o
acesso aos mercados dos países desenvolvidos.
A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África identifica três dimensões da
governança: governança econômica e empresarial; governança política; e paz e
segurança. Foi destacado um "mecanismo de exame pelos pares", (African Peer
Review (APR)), cujo objetivo é fazer com que os próprios africanos policiem o
cumprimento da boa-governança. O mecanismo de exame pelos pares é um mecanismo
bastante semelhante ao da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento
Econômico, o qual é considerado como um meio propício para identificar e promover as
melhores performances. A idéia por trás do mecanismo de exame pelos pares é a de que
a África deve libertar-se das condições impostas pelos doadores, amplamente
consideradas ineficazes e onerosas, para optar por uma responsabilização mútua dos
parceiros de desenvolvimento em termos de resultados almejados, especialmente a
redução da pobreza. Isto favorecerá um mecanismo de avaliação baseado nos resultados
concretos e não em procedimentos normativos.
Talvez o aspecto mais significativo da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África
seja o reconhecimento de que o progresso exige boagovernança. Sem eficácia
institucional e responsabilização política, o investimento direto estrangeiro e a ajuda
pública terão pouco efeito. Na verdade, esta perspectiva é uma revolução na forma de
pensar dos líderes africanos que até há bem pouco tempo pediam mais ajuda, sem
mencionarem a importância da boagovernança. É evidente que tal compromisso foi
tomado com vista a garantir o apoio da Organização de Cooperação e de
Desenvolvimento Econômico e do G8, mas o simples fato do documento postular
claramente que o desenvolvimento sustentável é impossível sem boagovernança,
compromete o continente com uma importante agenda de reforma política. Todavia, o
problema é que é muito difícil imaginar os chefes de Estado africanos a subscrever
critérios de integridade e eficácia que possam pôr em causa a sua permanência no poder.
E é ainda mais difícil imaginar como a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África
implementará uma mudança política tão radical.
A boa governança existe la onde as autoridades governamentais se apoiam sobre a
vontade do povo cujo são responsáveis. Portanto a boa governança é aquilo que tem
como objetivo o desenvolvimento humano. A governança política é o preâmbulo das
políticas para a erradicação da pobreza. A Nova Parceria para o Desenvolvimento da
África na busca de soluções para inserir o continente na nova ordem mundial, colocou
princípios para alcançar seus objetivos. Para um ensaio diríamos que a boa governança
se entende por todos os meios que se dispõe para realizar os seguintes princípios: um
Estado de Direito que significa a primazia da regra de direito; a transparência; a
obrigação para os governos de prestarem contas e a participação de todos na vida
pública, econômica, administrativa e local. Trataremos neste capítulo da boa-
governança política e da boagovernança econômica e social.

Conclusão
Acreditamos que, nos anos 90, as três décadas de "recreio" abertas em 1960 estavam se
fechando e que uma nova era se estava abrindo para a África. Alguns falaram até
mesmo de uma segunda libertação (depois daquela da colonização). Em vários países
africanos, a democracia parece estar em pane ou em marcha a ré, em guerra civil para
ter acesso ao poder, golpe de Estado constitucional por antigos ditadores reconvertidos
em democratas. Cabe a nós, neste início do século XXI, refletir sobre o nosso futuro
como africanos. Alguns intelectuais africanos haviam iniciado esta caminhada: Axelle
Kabou ("E se a África negasse o desenvolvimento"), Mana ("Será que a África vai
morrer?"), Daniel Etounga Mangélè ("Será que a África precisa de um ajuste
estrutural?"), Mbata (A África pode se levantar?") e Mbembé ("A África Negra vai
explodir").
Eles levantaram questões essenciais que os jovens africanos devem perseguir hoje,
senão corre-se o risco de ver o continente marginalizarse. De toda forma, ninguém
pagará, no lugar dos africanos, a conta dos seus erros acumulados ou de outros.
Ninguém também lhes dará energia nem recursos financeiros para retomar a iniciativa
histórica, interrompida por vários séculos de dominação e várias décadas de ausência de
boa governança, de corrupção institucionalizada e de não respeito aos direitos humanos.
É a razão pela qual a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África tem sido
considerada um novo ponto de partida, quer por um número de líderes africanos, quer
pelos doadores, tem a ver com o fato de ela alicerçar-se no reconhecimento de que o
desenvolvimento na África só é viável através de reformas políticas. Ambas as partes
agora querem ser capazes de criar condições favoráveis para a "parceria reforçada"- os
governos africanos porque procuram ajuda com o mínimo de condições, e a comunidade
ocidental porque quer que a ajuda contribua para o desenvolvimento.
O que é necessário é um engajamento por parte dos governos, do setor privado e de
outras instituições da sociedade civil, para uma integração autêntica de todas as nações
na economia e na vida política mundiais. Isso, porém, exige o reconhecimento da
interdependência mundial no que concerne à oferta e à demanda, à base do meio
ambiente que suporta o planeta, às migrações transnacionais, a uma arquitetura
financeira mundial que recompense uma boa gestão socioeconômica e uma governança
mundial que reconheça uma parceria entre todos os povos. Acreditamos que a
comunidade internacional tem a capacidade de criar condições justas e eqüitativas para
que a África possa participar realmente na economia e na vida política mundiais.
A historia nos relembra que foi a reconstrução da Europa do pós-guerra que permitiu
aos países ocidentais conhecerem trinta anos de acumulação de riqueza sem precedente.
E será da mesma forma a reconstrução da África sob a inspiração e observância da
União Africana. A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África não faz somente o
sepultamento do Estado- Providência, ela concebe o mercado como a nova panacéia e
os mecanismos propostos pelo Norte (African Growth and Opportunity Act, Acordo de
Cotonu, etc.) são uma fonte de oportunidades, suscetível de resolver os problemas dos
africanos.
A NEPAD é uma visão política audaciosa e aleatória de desenvolvimento: seu êxito
repousa sobre o respeito das principais condições do desenvolvimento e sobre a adesão
de todo o continente. Ela deve doravante expressar as próprias necessidades e as
prioridades das populações que devem participar efetivamente na elaboração, na
instituição e no controle dos programas de desenvolvimento. É importante, daqui por
diante, que a NEPAD traga respostas concretas para os principais desafios da África, a
fim de se tornar uma verdadeira estratégia de desenvolvimento das sociedades e do
continente. Os debates na sociedade civil africana se estão multiplicando, seja na África,
seja no exterior, o que constitui já um dos méritos da NEPAD.
Para terminar e como se assegura no relatório da Comissão Econômica das Nações
Unidas para a África, "a pobreza e a estagnação da África são as maiores tragédias do
nosso tempo". Ante um problema de tal amplitude, é necessário reagir com força. A
África toma atualmente o problema em mãos, na escala dos países, das regiões e do
continente. Nestes últimos anos, foram registrados alguns progressos em matéria de
crescimento econômico e boa governança, mas é preciso ir mais longe para sair da
espiral da pobreza. Para consegui-lo, a África e os países desenvolvidos têm interesse
em estabelecer uma parceria que leve em conta a diversidade do continente e os seus
contextos particulares.
A integração econômica é a solução para a África, principalmente porque ela permite,
pelo menos, que as economias do continente, sejam mais bem apresentadas no mercado
mundial, para aproveitar as oportunidades e oferecer um melhor quadro de exploração
das vantagens comparativas, juntando forças para atrair investimentos estrangeiros, etc.
É uma perspectiva de crescimento acelerado a uma taxa elevada que a Nova Parceria
para o Desenvolvimento da África tenta abrir e que aparece assim como um programa
cujo objetivo maior é o estabelecimento de uma nova ordem política e econômica
continental. A prática dos princípios de governança boa e justa resulta em uma
sociedade livre e aberta na qual as pessoas podem perseguir seus sonhos e esperanças.

Referencias

Você também pode gostar