MA11 Unidade 3
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Funes
Sumrio
3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 3 7 9 10 12 O Conceito de Funo . . . . . . . . . . . . . . . . . Funes e Cardinalidade . . . . . . . . . . . . . . . . Exerccios Recomendados . . . . . . . . . . . . . . . Exerccios Suplementares . . . . . . . . . . . . . . .
Textos Complementares . . . . . . . . . . . . . . . .
Unidade 3
Introduo
3.1 Introduo
Frequentemente empregamos, ou lemos em livros didticos do ensino bsico, termos do tipo a funo a cada nmero real
y = x2
. . . , referindo-se funo
f : R R que
sentido? Se pensarmos do ponto de vista estritamente matemtico, a resposta ser no. Devemos lembrar que a denio de funo estabelecida por trs elementos fundamentais: domnio, contradomnio e lei de associao. Isso , uma funo s ca bem denida se so conhecidos esses trs elementos. Assim,
y = x2
associao de uma funo, se so estabelecidos domnio e contradomnio compatveis. Como veremos mais adiante, h mais de uma funo correspondendo a esta lei de associao. Portanto, o uso do termo a funo referir funo
y = x2 ,
para se
f :RR
que a
xR
associa
, um abuso de linguagem
matemtica. claro que, em sala de aula, abusos de linguagem no so proibidos, pois, em um grande nmero de situaes, a linguagem matemtica formal no compatvel com os objetivos de aprendizagem do ensino bsico. Entretanto, seu uso requer certos cuidados e deve ser equilibrado, de forma a no levar formao de concepes limitadas que dicultem ou mesmo impeam o desenvolvimento futuro da aprendizagem matemtica pelos alunos. Para cometer imprecises, encontrando seu equilbrio com o formalismo, indispensvel que tenhamos perfeita clareza com a formulao matemtica precisa. Do ponto de vista pedaggico, o uso descuidado do termo a funo
y=
Se em sala de aula referimo-nos a funes apenas por meio de frmulas, de se esperar que os alunos desenvolvam uma concepo de funo restrita ideia de frmula: funo tudo que tem frmula. Como comentamos acima, escrever uma frmula no suciente para denir uma funo. Alm disso, importante lembrar que nem toda frmula representa uma funo, e nem toda funo pode ser representada por uma frmula. Esta unidade tem por objetivo fazer uma reviso geral e breve das ideias fundamentais relacionadas com o conceito de funo, importantes para o ensino bsico.
Funes
3.2 O Conceito de Funo
Unidade 3
Considere as funes
Exemplo 1
e q : [0, +[ R . x x
Elas so invertveis? So
p : R [0, +[ x x2
As funes bijetivas?
y = x
.
p no injetiva (pois para cada y > 0 existem x1 , x2 distintos,tais que p(x1 ) = p(x2 ) = y ) e, portanto, no pode ser injetiva. Ento, como possvel que q seja a inversa de p? H alguma incoerncia neste exemplo? Para
funo responder claramente a estas questes, devemos recordar todas as denies envolvidas, desde a prpria denio de funo, passando pelas de funo injetiva, sobrejetiva, bijetiva e invertvel. Em seguida, voltaremos a este exemplo.
Sejam Uma
funo
Definio 1
que, a cada elemento
uma relao
f : X Y elemento y Y .
x X,
(i) Os conjuntos
so chamados
domnio
contradomnio
de
f,
respectivamente;
(ii) O conjunto
imagem
(iii) Dado
chamado
f (X) = {y Y ; x X, f (x) = y} Y de f ;
o (nico) elemento
chamado
x X,
y = f (x) Y
correspondente
imagem de x.
Unidade 3
O Conceito de Funo
elementos do domnio esto associados aos do contradomnio). Para que uma funo esteja bem denida, necessrio que estes trs elementos sejam dados. Observe que o enunciado dessa denio pode ser reescrito equivalentemente da seguinte forma: para que uma relao
f :X Y
(I) (II)
estar denida em todo elemento do domnio (existncia); no fazer corresponder mais de um elemento do contradomnio a cada elemento do domnio (unicidade).
Desejamos agora denir funo inversa e determinar condies para que uma funo seja invertvel. Antes, necessrio denir composio de funes, j que a denio de funo inversa est baseada nesse conceito.
Definio 2
f : X Y e g : U V duas funes, com Y U . A funo composta de g com f a funo denotada por g f , com domnio em X e contradomnio em V , que a cada elemento x X faz corresponder o elemento y = g f (x) = g(f (x)) V . Isto :
Sejam
Definio 3
f :X Y
invertvel
g:X Y
(i) (ii)
f g = IY ; g f = IX . IA
denota a funo identidade do conjunto
Observamos que
A,
ou seja,
IA : x A x A.
Neste caso, a funo
dita
funo inversa de f
4
e denotada
g = f 1 .
Funes
Unidade 3
f :X Y.
tal que
Definio 4
f (x) = y ;
f f f
f f f f
f (X) = Y ;
tal que
f (x) = y ;
existe um nico
tal que
f (x) = y .
peq q p:
pq
p q : [0, +[ x qp: R x
e
R x
[0, +[ 2 ( x) = x
[0, +[ R x2 x2 = |x|. q p = IR .
Conclumos que as funes
Assim,
p q = I[0,+[
q p
no so invertveis.
uma funo no invertvel no fcil em geral, pois devemos mostrar que no existe nenhuma funo satisfazendo as duas condies da denio. Por isso, importante entender que injetividade e sobrejetividade so condies que garantem a existncia da funo inversa, como provaremos a seguir (Teorema 5). No caso do Exemplo 1, vemos que injetiva, mas no sobrejetiva.
Unidade 3
O Conceito de Funo
X Y ),
Ento,
como denimos funo como um tipo especial de relao, podemos sempre considerar a relao inversa de uma funo (seja esta invertvel como funo ou no). Assim, determinar se uma funo
f :X Y
inversa consiste em vericar se sua relao inversa ou no uma funo. Para isto, devemos vericar se essa relao inversa satisfaz as condies da Denio 3. Se a funo original
(I)
(II)
sobrejetiva, ento
cobre todo o
seu contradomnio, que o domnio de sua relao inversa. Logo, sua relao inversa satisfaz a condio a um nico
(I). Se f
f
yY f
est associado
x X.
(II). Decorre
Teorema 5
Uma funo
f :XY
Demonstrao
g : Y X tal que: (i) f g = IY e g f = IX . Tomemos y Y qualquer. Seja x = g(y). Da condio (i) acima, segue que f (x) = f (g(y)) = f g(y) = IY (y) = y . Ento, f sobrejetiva. Tomemos x1 , x2 X tais que f (x1 ) = f (x2 ). Logo, g f (x1 ) = g f (x2 ). Da condio (ii), segue que IX (x1 ) = IX (x2 ), logo, x1 = x2 . Ento, f injetiva. () Por hiptese, f bijetiva. Desejamos construir uma funo g : Y X
satisfazendo as condies (i) e (ii) da denio de funo invertvel. Dado
y Y qualquer, como f sobrejetiva, existe x X tal que f (x) = y e, como f injetiva, o elemento x com esta propriedade nico. Assim, denimos g(y) como o nico x X tal que f (x) = y . As duas condies desejadas decorrem imediatamente da construo de g .
No caso do Exemplo 1, a relao inversa da funo
[0, +[
no a
aos nmeros
associa cada
y
a
y.
(II).
(I), mas
0 y2.
associa cada
Portanto, satisfaz
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p nem q
possuem
funes inversas.
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3.3
Funes e Cardinalidade
O conceito de funo tambm est fortemente relacionado com uma das noes mais primordiais de toda a Matemtica: a contagem. Na pr-histria, mesmo antes de que fossem conhecidos os nmeros ou a escrita, o homem j empregava processos de contagem. Esses processos consistiam basicamente em controlar uma quantidade por meio da comparao com objetos de referncia, que em geral eram pequenas pedras ou marcaes na rocha, na madeira ou em outros materiais. Em termos modernos, isto corresponde a estabelecer uma correspondncia um a um, isto , uma bijeo entre dois conjuntos. Assim,
intuitivamente, podemos perceber que dois conjuntos tm o mesmo nmero de elementos se, e somente se, existe uma bijeo entre eles. De fato, a ideia de bijeo usada para enunciar a prpria denio matemtica de cardinalidade (ou nmero de elementos) de um conjunto.
Dois conjuntos
so ditos
Tambm, podemos relacionar a existncia de funes injetivas e sobrejetivas com relaes entre cardinalidades de conjuntos, como mostram os Teoremas 7 e 8.
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Funes e Cardinalidade
Teorema 7
de
Y Y,
isto
Y.
Demonstrao
Y = f (X). Como f injetiva, a funo f : X Y f (x) = f (x) , por construo, uma bijeo.
Teorema 8
Y
subconjunto de
X.
Demonstrao
y Y , escolhemos um x X tal que f (x) = y (isto possvel, pois, como f sobrejetiva, existe pelo menos um elemento com esta propriedade). Seja X o conjunto dos elementos assim escolhidos. A restrio de f a X , f : X Y , denida por f (x) = f (x), , por construo, uma
Para cada bijeo.
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3.4 Exerccios Recomendados
Em cada um dos itens abaixo, dena uma funo com a lei de formao dada (indicando domnio e contradomnio). sobrejetiva ou bijetiva, a funo Verique se injetiva,
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1.
mdc;
(b) que a cada vetor do plano associa seu mdulo; (c) que a cada matriz (d) que a cada matriz
22 22
(e) que a cada polinmio (no nulo) com coecientes reais associa seu grau; (f ) que a cada gura plana fechada e limitada no plano associa a sua rea; (g) que a cada subconjunto de
f :RR
2.
g1 : Y X e ento g1 = g2 .
Sugesto:
mesmos domnios e contradomnios e seus valores so iguais em todos os elementos do domnio. Assim, procure mostrar que todo
g1 (y) = g2 (y),
para
y Y. f :XY f f
uma funo. Mostre que:
3.
Seja
(a)
g:Y X
tal que
f g = IY
(isto , (b)
f f
g:Y X
tal que
g f = IX
(isto ,
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Exerccios Suplementares
4.
f : X Y uma funo. g2 : Y X tais que f g1 = IY neste caso, f ser invertvel).
Seja
g1 : Y X e e g2 f = IX , ento g1 = g2 (portanto,
5. 6.
Podemos garantir que a inversa esquerda e a inversa direita (denidas como no Exerccio 3), caso existam, so nicas? Justique sua resposta. D exemplos de funes no invertveis. Para cada um dos exemplos que voc der, determine a relao inversa, a funo inversa direita e a funo inversa esquerda, caso existirem.
7.
Seja
f :XY
um subconjunto de
X.
Dene-se
f (A) = {f (x) ; x A} Y.
Se
AeB
so subconjuntos de
8.
Seja
f :XY
subconjuntos de
X.
A, B X ?
(c) Determine que condies deve satisfazer feita no item (b) seja verdadeira.
3.5
Exerccios Suplementares
Seja ou
1.
f :XY
y Y , denimos a contra
imagem
Mostre que
(a) Se
f f
injetiva e
um elemento qualquer de
Y, Y,
o que se pode
f 1 (y)?
o que se pode
um elemento qualquer de
(y)?
10
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(c) Se
bijetiva e
um elemento qualquer de
Y,
o que se pode
(y)?
2.
Seja ou
f :XY
(a) (b)
3.
Seja
(a) (b)
f (f 1 (B)) B ,
para todo
B Y;
se, e somente se,
sobrejetiva.
4.
Seja
(a) (b)
f 1 (f (A)) A, f 1 (f (A)) = A,
A X; AX
se, e somente se,
injetiva.
5.
f :XY
g : Y X.
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Textos Complementares
3.6 Textos Complementares
A Denio de Bourbaki
Acima, denimos funo como um tipo especial de relao entre dois conjuntos. Podemos pensar em relao como qualquer forma de associar elementos de um conjunto
Y.
Entretanto, no enunci-
amos uma denio para esse termo isto , neste texto consideramos relao como um termo primitivo, sem denio (assim, como os termos ponto e reta geralmente so considerados na Geometria Euclidiana). Uma alternativa para este caminho denir uma relao entre os conjuntos
X Y,
isto , como
(x, y) X Y .
Formar um conjunto de
xX
com elementos
x X,
existe um nico
y Y | (x, y) f.
De fato, esta denio (proposta pelo grupo de matemticos Bourbaki em 1932) a mais rigorosa e abstrata para o conceito de funo. Neste texto,
optamos pelo enunciado da Denio 1 por ser esta mais prxima da prtica de sala de aula do ensino bsico.
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De Euler a Bourbaki
O conceito funo um dos mais genricos e mais unicadores de toda a Matemtica contempornea, fazendo-se presente em efetivamente todos os seus campos, incluindo lgebra, Geometria, Anlise, Combinatria, Probabilidade, etc. Diversas noes importantes desde as mais elementares at as mais
sosticadas admitem formulaes em linguagem de funes, que contribuem para a clareza da exposio e impulsionam o desenvolvimento de ideias. Para dar conta de toda essa generalidade, o conceito de funo sofreu signicativas mudanas ao longo de seu desenvolvimento histrico, at que se chegasse denio atual de Bourbaki. Nem sempre no passado o conceito foi assim to genrico como hoje. Por exemplo, observe as denies de fun-
(1707-1783) e por
Uma funo de uma varivel uma expresso analtica composta de uma maneira qualquer de quantidades variveis e de nmeros ou quantidades constantes. L. Euler, 1748
Suponhamos que
gradualmente, todos os possveis valores reais, ento, se para cada um desses valores corresponde um nico valor da quantidade indeterminada
w, w z
z.
[. . . ] No faz [. . . ]
Na denio de Euler, funo considerada apenas como uma expresso analtica, isto , uma frmula envolvendo as variveis, nmeros e constantes. O desenvolvimento da Matemtica e da Fsica e a necessidade de resolver problemas cada vez mais complicados, forou a generalizao do conceito. De fato, Riemann chama ateno explicitamente para o fato de que indiferente se uma funo denida por meio de uma frmula envolvendo as operaes ou no.
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Textos Complementares
Como comentamos acima, atualmente, o conceito de funo no est atrelado a existncia de frmulas algbricas, nem mesmo a variveis numricas. Uma funo pode ter como varivel, no apenas nmeros, mas quaisquer objetos matemticos como vetores, conjuntos, e at mesmo outras funes (ver Exerccio 1). Para saber mais, veja por exemplo [2].
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g :Y X
com
f g = IY ,
mas no existe
e vice-versa. Por isso, precisamos escrever as duas condies na denio de funo inversa (Denio 3), pois uma condio no implica a outra. Dada
f :X Y,
direita
g:Y X de f ;
tal que
f g = IY g f = IX
dita uma
g:Y X esquerda de f .
tal que
dita uma
Assim, pode existir inversa direita sem que exista inversa esquerda, e vice-versa. Se ambas, existirem a funo original ser invertvel. No caso do Exemplo 1,
funo inversa
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Textos Complementares
Os Tamanhos do Innito
Os Teoremas 7 e 8 expressam ideias que podem parecer a princpio bastante intuitivas, a saber,
f : X Y, Y;
Y , pois X
sucientemente
f : X Y,
Y , pois X
sucientemente
Y.
Embora as demonstraes dos teoremas sejam relativamente simples e as ideias acima possam parecer claras, preciso entend-las com cuidado. caso de tada por No
conjuntos nitos,
#X ,
X,
deno-
bijetiva injetiva
#X = #Y #X #X #Y #Y
sobrejetiva
Portanto, para conjuntos nitos, as duas ideias intuitivas acima correspondem precisamente aos teoremas matemticos. Entretanto, quando se tratam A denio de conjuntos
conjuntos innitos,
cardinalmente equivalentes tambm se aplica a conjuntos innitos. De fato, no enunciado Denio 6 no h nenhuma restrio quanto natureza dos conjuntos. No entanto, as cardinalidades de conjuntos innitos tm propriedades que contrariam a intuio. Para comear, um conjunto innito se, e somente se, admite uma bijeo com um subconjunto prprio (isto diferente de vazio e do conjunto todo). Em outras palavras, um conjunto innito cardinalmente equivalentes a uma parte prpria de si mesmo. Quando retiramos elementos de um conjunto nito, o subconjunto restante tem cardinalidade estritamente menor que o original. Entretanto, podemos retirar uma parte de um conjunto innito sem que a sua cardinalidade seja alterada.
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Esta surpreendente propriedade tem intrigado matemticos h muito tempo. Galileo Galilei (1563-1643), em sua obra clssica Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze, editada em 1638, cita os assim chamados paradoxos do innito. Um desses paradoxos a associao
n 2n
que determina uma correspondncia um a um entre o conjunto dos nmeros naturais e o conjunto dos nmeros pares. Neste sentido, podemos pensar que existem tantos nmeros naturais quanto pares embora o conjunto dos pares esteja contido estritamente no dos naturais. Outro paradoxo de Galileo a correspondncia um a um entre dois segmentos de reta, de comprimentos distintos, por meio de uma construo geomtrica simples (ilustrada abaixo).
O A A X B B
Da mesma forma que existem tantos naturais quantos pares, podemos provar que existem tantos nmeros naturais quantos inteiros e quantos racionais (isto ser feito mais adiante). Hoje, essas propriedades dos conjuntos innitos no so mais vistas como paradoxos. Grande parte da teoria atual de conjuntos
innitos se deve ao trabalho do matemtico russo de origem alem Georg Cantor (1845-1918). Dentre as descobertas de Cantor est outra propriedade surpreendente: nem todos os conjuntos innitos so cardinalmente equivalentes. Neste sentido,
podemos pensar que existem innitos maiores que outros. Por meio do argumento proposto por ele, que cou conhecido como diagonal de Cantor,
f : N R, sempre existir um elemento y R tal que y = f (x), para todo x N. Isto , no pode haver uma bijeo entre N e R. Assim, embora N, Z e Q sejam cardinalmente equivalentes, a cardinalidade de R estritamente maior que a destes
possvel mostrar, por exemplo, que, dada qualquer injeo conjuntos.
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Textos Complementares
No nal do sculo XIX, muitos matemticos ilustres viam com sria desconana as novas ideias lanadas nos trabalhos pioneiros de Georg Cantor. Mas, lenta e seguramente, esse ponto de vista se consolidou. O trabalho de
Cantor revelou-se to signicativo para a compreenso do conceito de innito que David Hilbert (1862-1943), com sua extraordinria autoridade, referiu-se a ele da seguinte forma:
Ningum nos expulsar desse paraso que Cantor nos doou. D. Hilbert, 1925
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N e Q so cardinalmente
equivalentes isto , existem tantos nmeros racionais quantos naturais. A demonstrao deste fato baseia-se na representao dos racionais na forma de frao, isto , por meio de um par de nmeros inteiros. Assim, podemos ver
que, por simplicidade consideramos apenas os pares de inteiros positivos) pode ajudar a entender esta demonstrao. Se percorremos os pontos de
NN
ao
longo das diagonais, na forma mostrada abaixo, enumerando os pontos na ordem em que eles forem aparecendo, estaremos estabelecendo uma correspondncia bijetiva entre
N N.
5 4 3 2 1
5 4 3 2 1
2
de
5
p , temos q
(p, q)
NN
sobre o conjunto
NN Q+ dos
a frao
nmeros racionais
Esta funo no injetiva, pois, claramente, um mesmo nmero racional positivo imagem de mais de um ponto do conjunto
N N.
Por exemplo,
1 o nmero 2
imagem de
(1, 2)
e tambm de
(2, 4)
(e de innitos outros).
Q+ ,
NN
nmero racional, basta pul-lo e passar para o prximo, obtendo assim uma bijeo entre
Q+ .
Isto nos permite concluir que existem tantos naturais A generalizao deste argumento mostra-nos que
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Textos Complementares
cardinalmente equivalente a
Q.
um conjunto
enumervel.
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Unidade 3
Frmulas e Funes
Como comentamos no incio desta unidade, uma frmula algbrica, por si s, no dene uma funo. Por exemplo, a expresso
Na Sala de Aula
y = x2
pode ser usada
p1 : R R x x2
p2 : [0, +[ [0, +[ . x x2 p1
e
p2 ,
acima, so
funes diferentes tanto que uma bijetiva e a outra no. Por outro lado, existem funes que no so denidas por uma nica frmula em todo o seu domnio, como por exemplo
h: R R x 0, se x R \ Q 1, se x Q .
A restrio do conceito de funo ideia de frmula algbrica pode ser to forte, que alguns alunos tm diculdade em entender funes denidas por mais de uma expresso como uma funo s (como se cada uma das expresses denisse uma funo diferente).
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Unidade 3
Textos Complementares
Na Sala de Aula
mumente apresentados em um contexto restrito: os assim chamados casos de congruncia e casos de semelhana que se aplicam apenas a tringulos. Pode ser enriquecedor para os alunos perceber guras congruentes como resultantes de um deslocamento (isto , uma translao), e guras semelhantes como resultantes de uma ampliao ou uma reduo (isto , uma homotetia). Neste caso, no h qualquer restrio sobre as guras com que se trabalha estas no precisam nem mesmo ser polgonos ou outras guras regulares. H diversos materiais concretos que podem ser usados para servir de apoio para essa abordagem. Translaes e homotetias so exemplos de funes, cujo domnio e o contradomnio so o plano (ou o espao) euclidiano.
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Referncias Bibliogrcas
[1] Carmo, Manfredo P.; Morgado, Augusto C., Wagner, Eduardo & Pitombeira, Joo Bosco. Trigonometria e Nmeros Complexos. Rio de Janeiro: SBM, Coleo Professor de Matemtica. [2] Eves, Howard. An Introduction to the History of Mathematics. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1964. 14 [3] Figueiredo, Djairo G. Anlise I Rio de Janeiro: LTC, 1996. [4] Figueiredo, Djairo G. Nmeros Irracionais e Transcedentes Rio de Janeiro: SBM, Coleo Iniciao Cientca. [5] Halmos, Paul. Naive Set Theory. New York: Springer, 1974. [6] Hefez, Abramo e Fernandez, Ceclia de Souza. Introduo lgebra Linear. Rio de Janeiro: SBM, Coleo PROFMAT, 2012. [7] Lima, Elon Lages. Coordenadas no Espao. Rio de Janeiro: SBM, Coleo Professor de Matemtica. [8] Lima, Elon Lages. Curso de Anlise, Vol. 1. Rio de Janeiro: SBM, Projeto Euclides, 1976. [9] Lima, Elon Lages. Logaritmos. Rio de Janeiro: SBM, Coleo Professor de Matemtica. [10] Lima, Elon Lages. Meu Professor de Matemtica e Outras Histrias. Rio de Janeiro: SBM, Coleo Professor de Matemtica. [11] Lima, Elon Lages. Anlise Real, Vol. 1. Rio de Janeiro: IMPA, Coleo Matemtica Universitria.
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