Malinowski
Malinowski
-- - -- -
1.',
~ ,~ v> uu~lvalu. em Melbourne,fui grandemente auxiliado em meus
estudos pelo. funcionários da excelente Biblioteca Pública de Victoria; a todos
eles expresso minha gratidão através do bibliotecário, Sr. E. La Touclle Arms-
.' trong.meuamigoSr. E. Pitt, o Sr. Cooke e outros. .
. Dois mapas e duas ilustraçõesacham-se aqui reproduzidospor gentil con-
cessão do Professor Seligman, retirados que foram de seu .livro Os Melanésios da
Nova Guiné Británica. Desejo, também, expressar meus agradecimentos ao Capi- INTRODUÇÃO
tão T. A. Joyce, editor da revista Man, que me permitiu usar aqui fotos anterior- ,~.:
mente publicadas naquele periódico. :~~
,'"
Tema, m~odo e objetivo desta pesquisa
O Sr. William Swan Stallybrass, Diretor Gerente Senior, .!la editora Geo. :~
Routledge & Sons, Ltd., não poupou esforços no sentido de certificar-se de que ~..
todas as minhas indicações referentes a detalhes cient[ficos fossem seguidas à . (
risca na publicação deste livro. A ele, portailto, desejo também manifestar meu
sincero agradecimento. III
I'~
Com raras exceções, as populações costeiras das ilhas do sul do Pacífico
Nota fonética são - ou foram, anles de sua extinção -
constituídas de hábeis ~veJ!:adores c
<:.omerciant~. Muitas delas produziram excelentes variedades de canoas grandes
i:i
~.
..$.
:.
para navegação marítima, usadas em expedições comerciais a lugares distantes ou i!
Os nomes e vocábulcs nativos empregados neste texto seguem a regras sim- i~. Os papua-melanésios, habitantes da costa e das "I'
ples de pronúncia, conforme recomendação da Sociedade Geográfica Real e do ilhas periféricas da Nova Guiné, não são exceção a est~ regra. São todos, de ma-
Instituto Antropológico Real. As vogais devem ser pronunciadas como em italiano, neira.geral,. ave adores destemidos artesãos laboriosos ame' '. i!
I'
e as consoantes como em inglês. Esta grafia é bastante adequada para repro-
duzir razoavelmente bem os sons das IInguas da Nov'l Guiné. O apóstrofo colocado Os~s de manu atur
mica, Implement
rti os im ortantes -
tais como artefatos de cerâ-
e pedra, canoas, cestas finas e ornamentos de valor -~n-
entre duas vogais indica que estas se devem pronunciar separadamente, i. e., tram-se em localidades diver~s, .sk..w.cçlsu:om " hahilidade dos habitantes, a
não formam ditongo. Na maioria dos casos, acentua-se a penúltima, raramente
a antepenúltima sOaba. Todas as sflabas devem ser anunciadas com clareza
~k,l tradiçãoherdadaporcadatribo~ RCfllci1idades-especi~xiste~.!~!~~.2!~-
~
e precisão. / .1tito. Destes centros os artigos manufaturados sã9 transportados a diversos focaIs,
ar vezesa ce~nauic-milb;1sde distincil... fim de serem comerciados.
ncontram-se, entre as várias tribos, formas bem definidadas de comércio ~
ao longo de rotas comerciais específicas. Entre os motu de Port Moresby e as
tribos do golfo Papua encontra-se uma das mais notáveis formas de comércio. Os I~
motu navegam ctntenas de milhas em suas tQ.$.Ç;I~~P.~~~.\L~~.oas, chamadas,
!
I .!t' ,y ....... G!lkãtifA munidas das' características velas em\ró.rn1,,!.de "pin~d~_c;wngucjQ).'
" j;~ 4"- Trazem artefatos de cerâmica e ornamentos feitos de conchas e, em épocas ante-
IV ,,- .... , \1
ó;'''' ." riores, lâminas de pedra aos habitantes do golfo Papua, deles obtendo em troca
..y"- o sagu' e os pesados troncos escavados que são mais tarde usados pelos motu na ~.1
construção de suas canoas lakatoi.' .
Mais para o leste, na costa sul, vivem o~, população laboriosa e nave-' r
gadora que, através de expedições feitas anu~, servem de elo entre o ~e-
mo leste da ~'y'a,.ollinLc: as tribos da c~t;u:entra1.s' .
~á,1iiialmente, os ~ativos das ilhas e arquipélagos, esoalhados no extremo
leste que também se encontram em consta~çõl!S coml!rc:WSuns com os ou-
tros. No livro do Professor Seligmaõ'õTeftOr encontrará uma excelente descrição
sobre o assunto, especialmente no que se refere às rotas comerciais mais próxi-
mas existentes entre as várias ilhas habitadas pelos massim meridionais.. A par
desse tipo de comércio,existe entretanto outro ~ bulintc: I.."..' ,,-,,!,';- I,
I,
m.e~~~lexo, '!'Ie abr~ge, ~~ suasramificações,
não só as ilhaspróximas j!I
ac extremo leste da Nova Guiné, mas também as Lusiadas, a ilha de Woodlark, o acessíveis mas também extremamente'enganosas e com lexas; não estão incor-
arquipélago de Trobriand, e o grupo d'Entrecasteaux; penetra no interior da Nova
- Guiné e exercc influênciaindireta sobre vários distritoscircunvizinh~, tais como
porãcfãsà documentos mate:..~,tS ."~()~'-~~. s.t~ a.oc m or amen o e memon ~
.seres humanos. Na etnografla, é (reqlIentemente tmensa a tstancla entre a apre-
.s~ntação final dos resultados da pesquisã é.().niáteriarbtutefdáS-informaçoesCOle-
asistema
ilha dedeRossel
comércio,. o ula é o que
e algu~rções dosme proponho'
lítorals a descrever
sul e norte neste
da Nova volume
Guiné. Essee .tadas pelo~~'p'~sgi!i1~3i.§!at.~_a,!es,-f~
.sll,a~_p'!QPE~~~_.2.~§ry§§~~:-
das ã.sserç,ões.QQL
como veremos mais adiante, Úâta-se de um ~nômeno econômico de considerável nàtivos, do caleidoscópio 4.a.vtda tribal. O etnógrafo tem que percorrer esta
iu!P.2Itância teó~ca. Ele assume uma importância fundamental na vida tribal. e distância ao longo dos anos laboriosos que transcorrem desde o momento em
sua importância é plenamente reconhecida pelos nati\'os que vivem no seu círculo, que pela primeira vez pisa numa praia nativa e faz as primeiras tentativas no
cu~~ffias,~ ~.,:"b~$s"i:lesei~s e .vaidade estão intimamente ~acio"adas ao Kul~. sentido de comunicar-se com os habitantes da região, até à fase final dos seus
estudos, quando redige a versão definitiva dos resultados obtidos. Uma breve
II apresentação acerca das tribulações de um etnógrafo -
as mesmas por que pas-
sei - pode trazer mais luz à questão do que qualquer arg.umentaçãomuito
Antes de iniciarmos aqui o relato sobre o KlIla, será interessante apresentar longa e abstrata.
uma descrição dos ~~tilizados na coleta do material etnográfico. Os re-
sultados da pesquisa científica, em qualquer ramo do conhecimento humano, de-
-IlI
vem ser apresentados de maneira clara e absolutamente honesta. Ninguém so-
nharia em fazer uma contribuição às ciências fisicas ou químicas sem apresentar Imagine-se o leitor sozinho, rodeado apenas de seu equipamento, numa
um relato detalhado de todos os arranjos experimcntais, uma descrição exata dos praia tropical próxima a uma aldeia nativa, vendo a lancha ou o barco que o
trouxe afastar-se no. mar até desaparecer de vista. Tendo encontrado um lugar
aparelhos utilizados, a maneira pela qual se conduziram as observações, o número
de observações, o tempo a elas devotado e, finalmente, o grau de aproximação
para morar no alojamento de algum homem branco -
negociante ou missio-
nário - você nada tem para fazer a não ser iniciar imediatamenteseu trabalho
com que se realizou cada uma das medidas. Nas ciências menos exatas, tais como etnográfico. Suponhamos, além disso, que você seja apenas um principiante,sem
a biologia e a geologia, isso não se pode fazer com igual rigor; mas os estudio-
sos dessas ciências não medem esforços no sentido de fornecer ao leitor todos os , -'
,
-I nenhuma experiência, sem roteiro e sem ninguém que o possa auxiliar - pois
o homem branco está temporariamente ausente ou, então, não se dispõe a per-
dados e condições em que se processou o experimento e se fizeram as observa- -r der tempo com .você. Isso descreve exatamente minha iniciação na pesquisa de
ções. ~.Qgra' ciência
ainda mais necessário ue em outras .. cias.-I
to hon.ç.s!O
,de todos .o~ dados é t v z
ente nem ~tou)"
. campo, no litoral sul da Nova Guiné. Lembro-me bem das longas visitas que fiz
às aldeias durante as primeiras semanas; do sentimentode desespero e desalento
.!!.2-p'assao com ulJ)~ ~ IClcnte deste tipo de generosidade, l'1uitos dõs.seus .}} após inúmeras tentativas obstinadas mas inúteis para tentar estabelecer contato
autores não utilizam olenam~ecu~a smcen e-ID~IQdQLógi~a ao ~an!: real com os nativos e deles conseguir material para a minha pesquisa. Passei por
éltlar os tatos e. .apres.~Jlt~!I1:.n9s
ao. leitor como Que_e.:U~ídos-do ~. . fases de grande desânimo, quando então me entregava à leitura de um romance
Facilmente poderíamos citar muitas obras de grande reputação e cunho I, ~ qualquer,exatamentecomoum homemque, numacrisede depressãoe tédiotro-
aparentemente científico, nas quais se fazem as mais amplas generalizações, sem .g!,cal,~entrega à .bebi~. .
que os autores nos revelem algo sobre as experiências concrctas que os levaram -' Imagine-seentrando pela primeira vez na aldeia, sozinho ou acompanhadode
às suas conclusões. Em obras desse tipo, não há nenhum capítulo ou parágrafo
destinado ao relato das condi ões sob as uais foram feitas as ob -s e seu guia branco. Alguns dos nativos se reúnem ao seu redor -
principalmente
quando sentem cheiro de tabaco. Outros, os mais velhos e de maior dignidade,
coletadas as informações.. meu. ver, um .traba o etnografico so terá valor cien- continuam sentados onde estão. Seu guia branco possui uma rotina própria para
tífico irrefutável ~e nos perll1iti~.~!~ti~g~ir claramente, de um lado, os resultados tratar os nativos; ele não compreende e nem se preocupa muito com a maneira
da observação direta e das declarações e interpretações nativas e, de outro, as como você,o etnógrafo,terá que aproximar-sedeles.A primeiravisitao enche
inferências do autor, baseadas em seu próprio bom-senso e intuição psicológica.7 da esperança de que, ao voltar sozinho, as coisas lhe serão mais fáceis. Era isso.
O resumo que apresento mais adiante (seção VI deste capítulo) ilustra aJi!!ha pelo menos, que eu esperava.
de pesquisa a ser o.p$rvada. I! necessária a apresentação desses dados para que Realmente, voltei como planejara. Logo reu!1ir.am;:se os nativos ao meu
óSleitores possam avaliar .com precisão, num passar de olhos, guão familiarizado redor. Trocamos alguns cumprimentos em inglêsÚ1idgin~"')dei-lhes um pouco de
está o autor com os fatos que descreve e sob que condicões obteve as informaçõês tabaco - e assim criou-se entre nós uma atmosfeCã'<íemútua cordialidade.Ten-
çj~ nativos.
tei, então, dar início ao meu trabalho. Primeiro; comecei por "fazer" tecno-
Nas ciências históricas, como já foi dito, ninguém pode ser visto com serie- logia, a fim de não entrar diretamente em assuntos que pudessem levanrã"rsus-
dade se fizer mistério de suas fontes e falar do passado como se o conhecesse --- j petfãs entre os nativos. Alguns deles estavam absortos em suas ocupações,fabri-
por adivinhação. ~ 1:19~ar~fi~ o autor é. ao mesmo tempo. o seu próprio cra- . cando este ou aquele objeto. Foi fácil observá-Ios e deles obter os nomes dos
QiU8 e his~ .su~~ fontes de ~nformação ~ubitavelmente, ba!;tai'lte instrumentos que estavam usando, e até mesmo algumas expressõestécnicas.rela-
I ~
tivas aos seus métodos de trabalho; mas ficou nisso o assunto. Devemoster em
mente que o inglês pidgin é um instrumento muito imperfeito como veículo de
, No que diz respeito à metodologia, devemos à Cambridge School of Anlhropology a intro-
dução de critérios realmente cientlficos no tralamento do problema. Esp~ialmente nas obras
\ de Haddon. Riven e Seligman há sempre perfeita distinção entre obstrvução dos jalos e
,'onc/usõrs e nelas podemos claramente perceber sob que condições e circunstâncias foram
realizadas as pesquisas.
J
~
. N. do revisor: Inglês modificado e simplificado usado como lingua franca em diver~s
reg iõesdo ~acífico. ---
..,.: ----
\
-"-'~'--'----
I 'co - ---
"_0"- -- .." v v u "'nL.. ~I !
I
- - .-
.. aprendemosa conhecê-Ios,
familiarizamo-nos
com seus costumese crençasde
e coerência. Ainda mais, em sua maioria, como era de esperar. esses hometts1 . (
tinham preconceitos e opiniões já sedimentadas, coisas essas inevitáveis no homem ~;"II~, modo muito melhor do que quando dependemosde informantes paStose, como
comum, seja ele administrador, missionário ou negociante, mas ~ivas àquele~
- o - freqüentemente acontece, entediados.
J::enormea diferençaentre o relacionar-seesporadicamente com os nativos I
ue scam uma vi - b'etiva e científica da realidad O hábito de tratar com
e estar efetivamenteem contato com eles. Que sinifica estar em contato..?Para '::..
uma frivolidade mesclada de auto-sa IS açao u o que é realmente importante para
o etnógrafo, o menosprezo pelo que constitui para o pesquisador um tesouro cien- i- o etnógrafosignificaque sua vida na alde,ia,no começo uma estranha aventura
por vezs. desagravel. por vezes..interessantíssima,logo assume um caráter
-- ,
tífico, isto é, a independência e as' peculiaridades mentais e culturais dos nativos, ,
tudo isto, tão comum nos livros de amadores, eu encontrei no tom da maioria dos natural em plena harmoniacom o ambiente.queo rodeia. "1'
~.
residentesbrancos.8 . !o'". .J Pouco depois de me haver fixado em Omarakana (ilhas Trobriand). come-
i cei, de certo modo, a tomar parte na vida da aldeia; a antecipar com prazer os
De fato, em minha primeira pesquisa etnográfica no litoral sul, foi somente ! A.. .... '. I
acontecimentosimportantese festivos;a assumir um interesse pessoal nas male-
quando me vi só no distrito que pude começar a realizar algum progresso nos
meus estudos e, de qualquer forma,jescobri onde estava o segreslotb p".q1lisa e i -- -' dicênciase no desenvolvimentodos pequenos acontecimentosda aldeia; a acor-
!;tecampo eficaz. Qual é, então, esta magia do etn6grafo,com a qual ele con- I -
. dar todas as manhãs para um dia em que minhas expectativas eram mais ou
segue evocarãverdadeiro espírito dos nativos, numa visão autêntica da vida tri- I!.., menosas mesmasque as dos nativos.Saía de meu mosquiteiropara encontrar
bal? C9.!I1o..~emp~e.
s6se pode obter êxito através da aplicação sistemáticae ao meu redor os primeirosburburinhosda vida da aldeia, ou os nativos já tra-
paçiente de algumas regrê!.u;l~J>.Qm:~~ns.o
assim como de princípios científico~ balhando há várias horas, de acordo com o tempo e a época do ano, pois eles
I se levantame começamseu trabalho às vezes cedo, às vezes tarde. conforme sua
bem ,conhecidos, e !tão. pela descoberta de qualquer atalho maravilhoso que .. urgência.No meu passeio matinal pela aldeia, podia observar detalhes íntimos
c9nduza ao resultlJ.dodesejado..sem esforços e sem problemas. Os princí~
I- ,
-
da vida familiar os nativos fazendosua toalete, cozinhando, comendo; podia
m~dol6gicos
cQ Q..J!..~fsa*,odemser agrupados
or d~possulr em três unidades:emt1)t~
obJetivos~enulOãme' lugar, é ~i-
e ci~(~c~~hecer.~ observaros preparativospara os trabalhos do dia. as pessoas saindo para realizar
i suas tarefas;gruposde homense mulheresocupados em trabalhos de manufat a
valorese critérios da etnografiamoderna. Em se u - lugar,.dc:y~..opesqui~a~.I?~ :- - I
.a$Segu_~aCQ9~_gmg!ç~es ãeTrã5'ãThõ,o que slgmica'. . nte, viver mesmo (veja figo3). Brigas,brincadeiras,cenas de família, incidentes geralmente'triviais
entre os nativos, sem dependeÍ"-dc.õutros..brancos. inalmente eve ele aplicar .- ::I às vezes dramáticos.mas sempresignificativos,formavam a atmosfera da mIO a
êertP.s_.iiiK"9!f.Q~_!=s~Cials-
de coleta;tntlrtipulaçãoe registro a evidência.Algumas'
. I
vida diária, tanto quanto a da deles. Com o passar do tempo, acostumados a
-'" :. ver-me constantemente, dia após dia. os nativos deixaram de demonstrar curiosi-
palavras são necessánãs-arespeito' desses três fundamentosda pesquisade campo. .. dade ou alarma em relação à minha pessoa nem se sentiam tolhidos com minha
Comecemospelo segundo,o mais elementar dos três. ;
I
.
presença
.da
- g,eixeide representar um elemento perturbador na vida tribal e
esrudar, alterando-a com_i!!!1!!!O-SC1Upre a
8 Devo dizer. enlretan'o. que houve e)(cecões admiráveõs: meus amigos Bi1Iy Hancock, nas I um estranho em.qualQUer comuniâaae se va em."Fabendo que eu metei.a o nariz
.... . --, I
ilhas Trobriand; o Sr. Raphael Brudo, também negociante de pérolas; e o missionário, Sr. M. em tudo, até me)ino nos assuntos em que um nativo bem educado jamais ousaria
K. Gilmour. ,--,
....... intrometer-se, os nativos realmente acabaram por aceitar-me como parte de: sua
...
....... ..-
._.a, .
.. .. ~ ~~"''-~'
';:;:r~T~- -- h- --..
~ ~-~_.. ... -. -.- .-- ..-. _. ._-~~ ---.-.--
\
22 \yMALlNOWSKI
-/
~
vida, como um mal ncc.gsário, como um aborrecimento mitigado por doações ...
de tabaco. Os conceitos de "fetichismo" e "culto ao demônio", termos vazios de signifi-
- Tudo o que se passava no decorrer do dia estava plenamente ao meu alcance
~. cado, foram suplantados pelo conceito de animismo. O entendimento e a utilização
dos sistemas classificatórios de relações abriram novos caminhos às modernas e
e não podia, assim, escapar à minha observação. O alarma ante a aproximação ,--
do feiticeiro, à noite;.uma ou duas brigas' e questões realmente sérias, os casos brilhantes pesquisas sobre a sociolol!ia nanva,. através dos trabalhos de pesquisa
de doença e as tentativas de cura; os falecimentos; os rituais de magia que de- de campo realizados pelos cientistas de CãiQb~ A análise psicológica intro.
viam ser realizados- todas essas coisas ocorriam bem diante dos meus olhos e, duzida pelos pensadores alemães tornou possíveis as valiosas informações conse-
t. guidas pelas recentes expedições alemãs à ~frica,iI., A.@érica do Sul e ao Pacífico.
por assim dizer, à soleira de minha porta (veja figo 4); eu não precisava sair à
Simultaneamente, o trabalho teórico de FraZ~ 'pur!.õenn e outros já inspirou e
procura delas, nem me preocupava com a possibilidade /i#' percl\-las. Devo res-
saltar que, se algo dramático ou importante ocorre, é imprescindível que o inves-
--=tF"""
por muito tempo continuará a inspirar ospesquisãaõres de campo, conduzindo-os
a novasdescobertas.~quis.adnu:le campodeoendeinteiramente da inspira- .,
tiguemos imediatamente, no momento em que acontece, pois então os natívos
naturalmente não podiam deixar de comentar o ocorrido, estando demasiado exci-
tados para ser reticentes e demasiado interessados para ter preguiça mental de
- Sãsuw.e lhe oferecem
.seja também os estudos
um pet:l.sador teóricos. 1:. certamente ~ossív~.
teóricQ;..!!~.s~~ .c!S.q, ~.!1_cp_'!.~!!r...
que ele .~.odo._o
prQj>rio o(<P-<;'.,..:,.I)\ \
~.!!1__s.i..I~.r.9prlo
e.stímulo à sua pesquisa. Mas as dui!.s fUQções são bc:.m.distmtas uma da outra, .e 'li"':> '..,te
relatar os detalhes do incidente. Muitas e muitas vezes também cometi erros de .~ ?~
,~
na pesquisa propriamente dita devem ser separadas tanto cronologicamente .qua.n.!o
etiqueta que os nativos, já bem acostumados comigo, me apontavam imediata- -_.. em condições de trabalho.
mente. Tive de aprender a comportar-me como eles e desenvolviuma certa per-
cepção para aquilo que eles consideravam como "boas" ou "más" maneiras. Dessa - Como geralmente acontece quando o interesse científico se volta para um
forma, com a capacidade de aproveitar sua companhia e participar de alguns de'
seus jogos e divertimentos, fui começando a sentir que entrara realmente em con-
tato com os nativos. Isso constitui, sem dúvida alguma, um dos requisitos preli-
minares essenciais à realização e ao bom êxito da pe!quisa de campo.
-_.-
campo explorado apenas pela curiosidadede amadores,~ etnologiatrouxe eis
qrdem àquilo que pareci~co e anômalo. 'I:.ransform.!>u.oe2't.~!I.o!dJíi~lp~
plicável e P-~~~I~. m~n~o~~s "selvagens" ..n~a ,s.e!!~.!;Ie..çomunidades...bem
órganlzada~,J~g~~p.P.r.1el~,_~gíndo e pensando de acordo com princípios coeren-
!~h~ palavra "selvagem", qualqüercjuc"tenha sido suàacepção primitiva, conota
mex- ~
~
v ---'- liberdade ilimitada, algo irregular, mas extremamente, extraordinariamente ori-
ginal. A. i4él~ .gçraJ. ql!e. §e JI!.~ é a de_~e_o~.n..a!iv~.s ~!,:~m ..rtO.seio da ':1~t.~!E.~a,_-
Não é suficiente, todavia, que o etnógrafo coloquesuas redes no local certo' --~ fa.7;eJ1c,io.IT!~l.s...QI,I.
me~~.~}!Q...q!l~.P.o~~~ e,.que!.=!!!!. J!1.a~.presos. a crenças e
e fique à espera de que a caça caia nelas, Ele precisa ser um caçador ativo e
atento, atraindo a caçà, seguindo-a'cautelosamente até a toca de mais difícil
- a~~n~§.~s..!~reg':l!!lr~s,..~.Ja~t_a~mag~:i~~s._~
q\le.Ml~.!ILc!ade~attvas-
~ienc~a mo~~~na, I:0rém! .:norm'ostra
tem uma or!?;anlza.ç!.~ bem deftnld8,L.~aog9y_e~daslior
~
.; i>'
leis, autoridade e or~em .em...suas relações púb1iêas e particulares, e que -estãõ, ~O'
acesso. Isto exige o emprego de métodos mais eficazesna procura de fatos etno- I1-lém de tudo, sob o controle ae.tâçõ.sextrê'riiáirieõiê"comprexos-de Í"ãçã'e-páren-
gráficos. No fim da seção III falamos da necessidadede o etnógrafo inspirar-se
nos resultados mais recentes do estudo científico,em seus princípiose objetivos. '~ tesc.o De fato, podemos constatar nas sociedades nativàs' a existência de 'üm1
.
-. Ju
r..'UV u I"~ LJU,t'ACIt-'ICU UC1DENTAL 25
t-"
,~'l\: ou punir os criminosos, uma pergunta direta, do tipo "Como são tralados e puni-
I.ecero contor .. " r - ,..e
de todos os fcno~:~s ~=s
~~[nc.m~.!:9
;~~s~!.t.';Ii ão t.riba!..e delinear as leis e os
esIsoland~os-aefa{os
uisa etn " ICrelevantes.
a o é ortanto, necessário,
estabe-
.es ~j'
;,{J,r;1
dos os criminosos?" é inútil -
e, além de tudo, impraticável, pois que não
existem na l!nguagem nati.va,.ou m~smo.n~ !nglês pidgin, palav,ras adequadas com
t")',
\.1' cia real, estimula o nativo a expressar sua opinião e a fornecer muitas inrormações.
(cnõmenos. e não um me~rUâ[in p~s coisas siOl!Ulares e sensacignais e - Com efeito, um fato realmente ocorrido incita os nativos a uma série de comen-
\~;~
'.~'
\\ l1\..uito menOJ,..ainda daquilo Que oarece oriJ!:inal e enJ!:raçado. Foi-se o tempo em tários, neles evocando expressões de indignação, fazendo com que se dividam '~:
que se aceitavamrelatos nos quais o nativo aparecia como uma caricatura infantil
do ser humano. Relatos desse tipo são falsos -
e, como tal, a ciência os rejeita
inteiramente. O etnógrafo de campo deve analisar com seriedade e mod,eração
em suas opiniões e, provavelmente, em tudo isso iremos não só encontrar uma
grande variedade de pontos de vista já formados e censuras morais bem derinidas,
.-,
mas também descobrir o mecanismo social ativado pelo crime em questão. A
todos os fenômenosque caracterizam cada aspecto da cultura tribal sem privi- partir daí é fácil levá-los a falar sobre outros casos semelhantes, a lembrar-se de ,.
legiar aqueles que lhe causam admiração ou estranheza em detrimento dos fa~ outros acontecimentos, a discuti-los em todos os seus aspectos e implicações,
comuns e rotineiros.Deve, ao.mesmo tempo, ~.!~~~u.~ara cultura nativa na tota- o-<J<
!idade de seus aspectos.A lei, a ordem e a coerencla Que prevalecem em cada l
Deste material, que deve cobrir o maior número possível de fatos, a inrerência é
~_. obtida por simples indução. O tratamento cientírico direre do senso comum. pri-
um desses aspectossão as mesmasque é:§!~ ~~ d~m tod'o~- meiro, pelo fato de que o cientista se empenha em continuar sua pesquisa siste-
O etnógrafoque se propõe estudar apenas a religião,ou somente a tecnologi;'\' ~ mática e metodicamente, até que ela esteja completa e contenha, assim, o maior
ou ainda exclusivamentea organização social, estabelece um campo de pesquis~ -==-' número possível de~s; segundo, porque, dispondo de um cabedal cientírico,
artificial e acaba por prejudicar seriamente seu trabalho.' . o investigador tem a capacidade de conduzir a pesquisa através de linhas de
efetiva relevância e a objetivos realmente importantes. Gom.,efeito, o treinamento '"
-:L VI
científico tem por finalidade fornecer ao pesquisador um "~Quema mental" ..que
I~~~ixya de~cin-e pIaJ!Iita estabelecer o roteiro a segu\r.s.tnJ~):\U!:.ab~!b.Ps. )
Estabelecido esseprincípio geral, passemosagora a c.Qrnideraçõesmais deta- Voltando ao nosso exemplo: através da discussão. com os nativos, de uma "
série de fatos realmente ocorridos, o etnógrafo tem a oportunidade de conhecer .-,
".
~sobre temmet~,~eSqUiSa
etnógrafo o~e de .c::ampo,
a resDonsabilldade1de como todas
estabelecer acabamos deedizer,.Q
as leis regula- bem o mecanismo social ativado, por exemplo, no processo de punição de um
Sridades que regem a vida tribal, tudo que é permanente e fixo; apresentar a ana- crime. Isso constitui uma das partes ou aspectos da autoridade tribal. Imagine-
mos também que, através de ~tQdQs inclutivos, análogos ao anterior e baseados ::.
1 tomia da culturae epermanentes,
de cristalizados descrever a co.I!§!!!.~~~ Mas estes em
ao se encontram ormulados elementos,
lu ahesar
nen um em dados concretos e específicos, o pesquisador passe a entender direrentes as- :';
Não há códigosde lei, escritos ou expressosexp ICltamente;to a a r . - .. ai pectos da vida nativa tais como a liderança na guerra, nos empreendimentos eco- i:'
c..sua estrutura social inteira estão incorooradas ao mais elusivo nn<. m"tp.ri,,~ nômicos, nas festividades da tribo; nisso tudo ele terá os dados necessários para ~;:
Q próprio ser humano. ~as ne~. ~esmo na mente ou na mem.ória do nativo se formular teorias relativas ao governo e autoridade social tribal. Na prática. a ::;
podem encontrar estas leis defmltlvamente'formuladas. ~!IVOS obedecem àS ~ comparação dos diversosdados assim obtidos,a tentatiY2.d,ereunH'?s nUIJ1..~oqo i:::
ordense à for.ça...da c6dil!0tribal.mas não as entendem.do mesmomodocomo -=: .coere[fe~-re'verii-müitas
'vezes"lãc'uõiis
e falhasna inrormaçãoque nos levama :::
obedecem a seus próprios instintos e impulsos, embora sejam incapazes de for- ,-.-o lIovas investigaçõe.s. ..., ::1,
mular qualquer lei da psicologia.As reJ!:ularidadesexistentes nas instituições nati-' -v-.-V\1,o
vas são resultado automático da ação recíp.!9.c.!.E_!!UÇ~Ç.~~_mç.l.u~J§
c;latradição e l Com base em minha própria experiência, posso arirmar que muitas vezes,
somente ao fazer um esboço preliminar dos resultadosde um problema aparen-
tementeresolvido,fixadoe esclarecido,é que eu deparavacom enormesdefi-
;!!:
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i:j
dauQ.~.içi?e~~!~ais
mais humilacs...dcqualquer do m~~~te.
lnstltulçao modernaQ..amesma -
seíaforma
o Est~ue
no os" memb,,:os
Ig[!lli\, o
ciências em meu estudo - dericiências essas que indicava!" a existência de pro- ;:!
E,!(ército,.etc. ---2!!!,~!!,Ç!!!L~,JJ!.:...!!ela.,!e
,;rt~tram. ~em ter visão da ação blemas até então desconhecidose me forçavama novas investigações.Com efeito, ;;:
intêFrãrdõtõãõ e, enos ainda sem ó8er rornecer det de sua organização passei alguns meses, no intervaloentre min},,,primeira..e-scg\!!1sl.L~~J!!,ções
- i;!
seria inúti~r o nativo e~os sociológicosabstra~. A unlca I
no caso, é que cada,uma das instituiçõesda sociedade civilizada possui, em seu
ça c:...!2.ç\1l.JJlais.,
~~E,I1\..ano--en~ a ~egunda e a terceira -
revendo o matenal t?do H
meio, elementos inteligentes,historiadores, arquivos e documentos; no caso da
sociedade nativa, nada disso existe. Depois que se constata essa dif~e, é li ,. -~, @ \ que tinha em .mãos e preparando, inclusive, .algumas porç~es dele para pubh.c~-
ção, mesmo ciente, a cada passo, de que teCia de reescreve-lo. Essa dupla atlvI-
U
!~:
':
d~de d~ trabalho.construti~oe observ~çãofoi~mebasta~te valiosa e, sem el~,. iIP';~: I :;
onecessário
etnógrafoque se procure umconcretos
recurso através do qual ;:~:~~;~~~;;curso para
nao creio que tena conseguIdo progredir em mmha pesquIsa. faço este peQueno )o~'" " :: :
é coletar dados sobrp.tqcl~ os fatos.,o s e através --- '(. :t
disso formular as inferênclas gerais. Este princípio parece ser muito simples e
evidente; mas a verdade é que não foi descoberto, ou pelo menos utilizado, na
aparte.<:~I!1--!:.e!aç,ã<?
,ao
(vazia- é, ~l;Iit<?
ao de~en~'?!yi.~.!1to
lei~orque tudp o qu~ate de meus trabalhos
agora,y~nfi9.~!i!!!!.a.!I.~o a~enas
estaJ<mgC;-- para móstrar c;'
~_~~L!lJ!1_P!ograma
pel,2.contrário, resul~a!i.Q...de__~p'!:qê!lcia$_Yiyjda~.
No present
~ :!
'
': \.
::'
etnografia até o aparecimentodas primeiras pesquisas de campo feitas pelos ho-
mens de ciência. Além disso, na prática, é muito difícil planejar-se a aplicação voJ\!mç..llç9
v~r,e.<!!!de
_~.!!I.Ldescriç!SUlo
d~~~tos
y..a instituifião
nativadota~ade umaenorme
e a~2~la~aj~.~!!1_,~~m:t!úmer~~~t~~ida~,Aosque.rené~
:
:,
h'::
efetiva desse métodoe desenvolvê-lode maneira sistemática e coerente.
cFi- Emboraos nativosjamaisnos possamfornecerregrasgeraise abstratas,..bí
tirem um. pouco sobre o assunto, f~~@..~.!!llQ...9.\!e
as mformac;oes aorespeito, de ; I; li
~
~ sem re ssibilid de os inte elarmos'so - . a deter-
;;> mmados Drobleinas.Assim, por exemp o, se quisermos saber seu modo de tratar
'
-~j um fenômeno tã,p cOlJmlexo e de tantas ramir~c.!\çõ~~_c.Q..q1Q,9._K,!!C!--n_a9.
~eiCõmpleran:'~ãfiiSiiãcnoss~"p!:la'
E9P~~
cõn,~ta.l!~e inte!:.r!:~!!.Ç~~ntre esfoio; c~ns.
I;
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R~
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triillvõs"~ ~~~te~.e:l1'mfr.icõS:
Com efeito,-fiz esboços da instituição do u a pelo ; ~:
.>J" I I(
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~
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. ~ , ~.._..-._.._..__..._- '".'~:Ü~: .. _..~..~~
"m"m .00''''N.loo ,"ore.m. , ...m ""diçáo. A "'"' .o~ ..."d~. """" 'vantes contidas em cada um deles. A resposta aos meus problemas abstratos eu
; "i -:
1. ,\
problemas e dificuldades apareciam. .... a obtinha através de inferência a partir do conjunto de casos. Os capítulos XVII
e XVIII ilustram esse método.12 Não me posso aprofundar na discussão deste
,: . / A..colc:ta de dados referentes a um I!rande núm~ro de f.atos~p'ois, uma das assunto, pois que, para isso, precisaria fazer novas distinções, tais como as exis-
! '.:'.~, r f!lsesprincpais da pesquisa de campo. No~~~!.e.s.p~~Sabi!!
dade n~o se, deve 'limitar tentes entre um mapa de dados reais e concretos (uma genealogia, por exemplo)
,
j~:, ' '.:' , 1! à,eiiurp~ao
'\\~;';-;"J de.a.1guns
~a~~~~ na medIda exe~~losexausttvo.ae
do posslvel apenas; mas-~~!"Q..1:>r,gatoriamente,
tQÇ(QS"osJatos ao" nosso,ao' levan-
alcancei,
e um mapa em que se resumem as características de determinada crença ou cos-
tume nativo (por exemplo, um mapa do sistema mágico).
i/H.,"
: J -! :' t:!a busca desses fat~s" terá,l!1!li~,Jx.i!~P ,pesquisador cujo "esquema mental" for
:; p' : mã}(r~cI~,~e-compl~~o. Sem pre que Q' ~at~!ial da. pesquisa4:pén'litir, esse "es-'
Voltando uma vez mais à questão metodológica discutida na seção lI, quero
chamar a atenção do leitor para o fato de que o método de apresentação de dados
::: '\ qU.e.m.a ,
.~~n!,~L,cJ~y.~..tod,3:via,t~ansformar-se num "esquema real" -:.. ou seja",'
:::, I
mat~r.ializ!!=li~..n~~!ma,de diagramas.,
, planosde estudoe pesquisae quadros
,
concretos sob a forma de quadros sinóticos deve, antes de mais nada, ser aplicado
::~
:::
\.sUiOticoscomp~~~~/Há já ~astante tempo esperamos encontrar, em todos os
bons livros atuatS sobre a vtda nativa, uma lista completa ou um quadro de
às credenciais
. do...etnógrafo. Em outras palavras,
eira clara o etnóRmÍQ.
e concisa, Que deseja
sob a forma de um mere~er
qua ro Jwv- \' t. 'I
,1 -.;,.;,-, sinótico. e.n1re os resultados de~suas o servaçoes Iretas e e m ormacoes que--
,;i: termos de ~ue inclua todos os dados relevantes, e não apenas a seleção tecebeu indiretamente.- pois seu relato inclui a1J1P~sO quadro que apresentamos
!:~; de algumasexpressõesde parentesco.ou relaçõesgenealógicasanômalas.Nas inves-
;L: tigaçõessobre parentesco, o estudo consecutivodas relações de um .indivíduo a seguir servirá como ilustração desse procedimento e auxiliará o leitor a julgar
~':: para outro, em casosconcretos,leva naturalmenteà construçãode gráficosgenea- da fidedignidade de quaisquer asserções em que tenha particular interesse. Por
meio desse quadro e das demais referências feitas no texto, ao modo, às circuns-
~!i ~ lógicos. Esse método, posto em prática já pelos melhores escritores antigos -
~,:i tais comoMunzinger.e, se não me falha~ória, Kubary encontrou máximo - tâncias e ao grau de precisão com que cheguei a determinadas conclusões, espero,
não restarão dúvidas quanto à autenticidade das fontes de meu estudo.
~:: desenvolvimentonos ttabalhos do Dr. ~. Também no caso das transações
}j econômicas,em estudos feitos com o objetivode traçar as origens de um objeto ,Resumindo aqui a prim~~, prin~uestão metodológica, posso dizer
:r; de valor e aferir a natureza de sua circulação,de igual forma devemos estudar, que cada- fenômeno-deve-serestudado a partir do maior número posslvel de suas
H exaustivamente, todos os dados concretos -
o que nos levaria à construção de ~~""-' rrià111f~sta'Ções
concretas; cada um deve ser estudado atraves ae um levantamento
;:, qua s sinóticos das transações, tais quais os encontramos na obra do Professor tr''' JfN' exaustivo de exemplos detalhados. Quando possíve1;õs' resüitãaõs 'õbt1aos ãti-ã:vés. ..
eli ma Foi seguindo o exemplo do Pro Seli man neste ue dessa análise devem ser dispostos na forma de um quadro sinótico, o'qual'então
n: 11
~ ;'f- Sêrá utilizado como instrumento de estudos e apresentado como documento etno-
:~~ c nse u" uns os ..ma.is..dilic;ejse complicados do K-«k!. Esse
t: m todo de se condensaremem a ou quadros sinóticosos dados de informa- lógico. .Por meio de documentos como esse e, através do estudo de fatos concretos,
é possível apresentar um esboço claro e minucioso.da strutura cultura natIva
:11; ção, deve sempre, na medida do possível, ser aplicado ao estudo de praticamente
:;:; todos os aspectos da vida nativa. Todos os tipos de transações econômicas podem 'em seu sentido mais lato, e da sua constituiçãosocial. Esse métodopodec amar-se
-, G método de documentaçãoestatísticapor evidênciaconcreta./
:i11 ~,,~I ser estudados analisando-sedados concretos, relacionando-osuns aos outros e
,(:i <:',,., colocando-os em quadros sinóticos. Da mesma forma, deve-se fazer um quadro
VII
li! ,Y1"j'P sinótico de todos os presentes que costumeiramente se fazem numa determinada
;:; \~{" comunidade nativa, incluindo-se nele a definição sociológica, cerimonial e econô- -----
ii;' mica referente a cada item. Do mesmo modo, sistemas mágicos, séries de ceri- Desnecessário é dizermos que, neste particular, a pesquisa de campo realizada
ii: mônias interligadas, tipos de ações legais -
todos devem ser colocados em ~
em moldes científicos supera, e muito, quaisquer trabalhos de amadores. Há,
,.P ~. todavia, um aspecto em que o trabalho de amadores freqüentemente se sobressai:
n quadros deste tipo, cada item sendo classificado sob diversos títulos. Além dos
.J1' cP' em sua apresentação de fatos íntimos da vida nativa, de certas facetas com as
:i: quadros sinóticos, é óbvio, são documentos fundamentais da pesquisa etnográfica: .J4.0c,,}i
o ~!lS.~to (!enealQW de cada comunidade,na forma de estudos detalha- , .(-' quais só nos podemos familiarizar através de um contato .muito estreito com os
, -.-::! (f
\9 r\d.o~:
,
mapas, esquemas e diagramas
\ ~eglos de caça e pesca, etc.
ilustrando a posse da terra de cultivo, privi- nativos durante um longo período de tempo. Em certos tipos de pesquisa cientí-
< . fica- especialmente
o quese costumachamarde "levantamentode dados",ou
:'.: Uma genealogia nada mais é do que o quadro sin,ótico,ge..um .determinado ~::r-~- é possívelapresentar, por assim dizer, um excelente esqueletoda cons-
grupo-de-relações--ue -pãfénte.sc9~.í~tei'ligaâas. Seu V~!9.LÇQIDOins~[u~e. .",i?" tituição tribal, mas ao qual faltam carne e sangue.Aprendemos muito a respeitoda
,'pesqUiSa reside.E9 .fato de-!ju~1a-pe~mite-fori-iiüIã(_ques.tõ.s:_s_q~~..o .pesql!is.!ldor estrutura social nativa mas não conseguimosperceber ou imaginar a realidade
da vida humana, o fluxo regular dos acontecimentos cotidianos, as ocasionais
levanta-a"síinesmo :i!!;-.abstracto,. ,mas fg, ~,o..natLvo, de maneira concr~a. Seu ~III- i
!j valor como documento etnográi'ico reside no fato de que abrange uma serie de demonstrações de excitação em relação a uma festa, cerimônia ou fato peculiar.
dados autenticados, dispostos em seu arranjo natural. Um quad'ro sinótico sobre Ao desvendar as regras e regularidadesdos costumes nativos, e ao obter do con-
a magia serve à mesma função. Como instrumentos de pesquisa, tenho-os utilizado,
- -
por exemplo, para descobrir o que pensam os nativos com referência à natureza 11 Neste volume. além do quadro apresentado a seguir o qual, aliás, não pertence integral-
do poder mágico. Com um esquema à frente, eu conseguia analisar facilmente mente à classe dos documentos a que me refiro o leitor encontrará apenas algumas amos-
os itens, uns após os outros, fazendo anotações sobre as crenças e práticas rele- tras de quadros sinóticos: por exemplo. a lista de parceiros do Kula (mencionada e analisada
no capítulo XIII, seção 11); a lista de oferendas e presentes descrita (capítulo VI, seção VI),
mas não apresentada sob a forma de quadro sinótico; o quadro sinótico dos dados referentes
\;~ a uma das expedições do Kula (capítulo XVI), e o quadro dos rituais mágicos relacionados aO
'" 11 Por exemplo. os quadros sinóticos relativos à ~I~ção das valiosas lâmi~e~a- Kula (capítulo XVII). Decidi não sobrecarregar o presente volume com quadros. mapas. ele.,
do. op. cit.. pp. 53\ e 532. f pois os estou reservando para uma futura publicação completa do meu material.
,);
~~ ,-~:.
"
~~
. .--~v,.,.v '''''> uu l'1"\\...U-ICU UCIUENTAL 29
LISTA CRONOLÓGICA D~ ACONTECIMENTOS REFERENTES AO KULA.
TESTEMUNHADOS PELO AUTOR I ,.Jr' junto de fatos e de asserções nativas uma fórmula exata que os traduza, verifi-
- -J'~ ~ +
,,'
tOe .'1';)
camos que es~óp.ria precisão é estmnh~ ~ yicla...real...JUjlUILjamais
l1ams:ntea nen.hullla...Iegca.
adere rigi-
Os princípios precisam ser suplementadospor dados
referentesao modocomo um determinadocostumeé seguido,ao comportamento t
P~~E;IRA EXPEDiÇÃO. AgOstode~marçode 1915. <j[j-''V
dos nativos na obediência às regras que o etnógrafo formulou com tanta precisão
Março de 1915. Na Aldeia de Dikoyas (ilha Woodlark). foram obser\'adas algumas oferen. e às próprias exceçõestão comuns nos fenômenos sociológicos.
das cerimoniais. Obtidas algumas informações preliminares. Se todas as conclusõesforem baseadas única e exclusivamenteno relato de fi
informantes ou, então, inferidas de documentos objetivos, será logicamenteim- ~
possívelsuplementá-lascom dados de comportamento real. Eis o motivopor que
---
SEGUNDA EXPEDiÇÃO. Maiode~-maiode I@ certos trabalhos de amadores que viveram muitos anos entre os nativos tais- I;
comonegociantese fazendeirosinstruídos,médicose funcionáriose, finalmente
Junho de 1915. Uma expedição kabigidoya chega a Kiriwina. proveniente de Vakuta. Obser.
(mas não menosimportantes),os oucos . 'onáriosint . entes e de men -
vei ancoragem em Kavataria.
recolhi informações.
Encontrei.me com os visitantes em Omarakana. onde
~lidade aberta aos quais a etnografia ~anto -
superam em plasticidade e
vtVídeza lIIaluna d6s rêTãtosestritamente científicos. Desde que, porém, o pes-
Julho de 1915. Algumas comitivas provenientes de Kita\'a chegam à praia de Kaulukuba. quisador especializado possa adotar as condições de vida acima descritas,estará
Examinei os visitantes em Omarakana. Pude recolher muita informação nessa época. muito mais habilitado a entrar em contato íntimo com os nativos do que qualquer
Setembro de 1915. Tentativa frustrada de embarcar com To'uluwa. chefe de Omarakana.
residente branco da região. Nenhum dos residentes brancos realmente vive numa
rumo a Kitava. aldeia nativa, a não ser por breves períodos de tempo; além disso, cada um deles
tem os seus próprios afazeres e negócios, que lhes tomam grande parte do tempo.
Outubro - novembro de 1915. Observei em Kiriwina as partidas de três expedições com Além do mais, quando um negociante, funcionário ou missionário estabelece
destino a Kitava. Em cada uma dessas ocasiões. To'uluwa trouxe de volta um carrega. relações ativas com os nativos é para transformá-Ios, influenciá-los,ou usá-los, o
mento de ml\'ali (braceletes de concha). , que torna impossível uma observação verdadeiramente imparcial e objetiva e '
NOI'embro de 1915 - março de 1916. Preparativos para a grande expedição ultramarina
impede um contato aberto e sincero
" nários e oficiais.
-
pelo menos quando se trata de missio-
:.I'
de Kiriwina às ilhas Marshall Bennett. Construção de uma canoa: reforma de outra;
. Vivendo na aldeiadem Quaisquerresponsabilidadesque não a de observar a p;.
~
confecção de velas em Omarakana; lançamento; taSQsoria na praia de Kaulukuba.
Simultaneamente obtinha' informações a respeito desses assuntos e assuntos afins. -vida nativa,-9 etnógr/lfo vê ~ costumes cerimônias transações, etc:;!iüiítas e i
muitas vezes; obtém exemplos de suas crenças, tais como os natl:tQsrea mente
Pude obter alguns textos de magia referentes à construção de canoas e à magia do
Kula.
! o
va as constru ",<
~m. En. tão, ~ões abstratas.
carne ~ pordaesta
e o ~angue vidarazão
nativaque
realo pree!1Ç~mo
etnógrafo, trabalhando
eSCjueleto
em condiçõescomo as que vimos descrevendo,é capaz de adicionar algo essencial ~
TERCEIRA EXPEDiÇÃO. Outubro de 1917 outubro de 1918. ao esboço simplificado da constituição tribal, suplementando-o com todos os :11
~- detalhes referentes ao comportamento, ao meio ambiente e aos pequenos inci. ~1
NOl'embro de 1917 - dezembro de 1917. O Kula interno; alguns dados obtidos em Tu. dentes comuns. Ele é capaz, em cada caso, de estabelecer a diferença entre os .1
kwaukwa. - _! atos públicose privados; de saber como os nativos se comportamem suas reuniões
ou assembléias públicas e que aparência elas têm; de distinguir entre um fato
!
"-, \
.J J'
~~-- .::,H:~:ÜH:,
'['-'.rr., '~nu""
,', - ;:;;$:~:':.
_..~.:.-:...:.-
--- I
30 MALlNOWSKI ARGONAUTAS DO PACIFICO OCIDENTAL 31
I
1
1,
'I
tal que neles se expressa. ~ esse o motivo por que o trabalho de observadores
~.. !li
li,I
11
,I -:
cientificamente treinados, aplicado ao estudo consciencioso dessa categoria de
fatos, poderá, acredito, trazer resultados de inestimável valor. Até o presente,
esse tipo de trabalho vem sendo feito apenas por amadores - e de maneira
fIII!
-
--
-
tamento observado na realização de um ato.~ortamento
,!!1.~nte,um fato, e um
_.Lo..cientis1íLque. ao fato
deparar com todo!;aSSível
relevante - de de
um...t.ipo an fenOntc:n
ise e re~stro. Tolo 11
s prontos e míop~
Sf!rf!m
co,~~a~o~, p~rmite Qu~.!?lçu.~_p~rç"ItI)1._J.!1~mQ_S~,Jl.O_!!IQmçlJ!Q~ não visse a Que
é, indubitavel-
.. .est~. !JP.Q_A~tl!..do., E s~" ~a.ralela.I)1~~!~_8:~ _;l:~g!.!~ro ~iJe "fãtõS. normàis e' típicos, . ,.
são relegados a um último plano em nossa perspectiva pessoal do que a família ,.,- :" ) fize",!o~ tl!!!!~nU)J~ giS1~O__ 40S fatQs, ..qu~..orep-re$!:Jlt~m. .I.!gc:l(Os.~ a,~entuadQS
'
realmente significa para nós. I.: ," de~yJQJi k I},0!lna, estaremo~. p~rfeitamente h\l1;>.ilitlld.o$a _deWminar- ou\.Q.iu~
,
iV,.- .
Exatamente o mesmo se aplica à comunidade nativa. ~C}.1Letn6::.. ._- mos da escala da normalidade;.
1\
, , , ,
,\~ ~ J...grafo-qu.e.r.~!=~I!1:'ente
trazer a s.eusleitores uma imagem,v(vidada vida nativa, Aõ observarmoscer'iniÔ~iasou quaisquer outras ocorrências tribais, tais
,,,..
relacionamento soci!!1 seja ele entre os nativos de uma tribo ou entre os' mem- mentam, o etnógrafo deve tentar colocar-se como parte de uma assembléia de I
bros amistosos ou hostis de tribos diferentes -, existe esse lado intimo, que se
- seres humanos que se comportam com seriedade ou alegria, com fervorosa con-
expressa nos detalhes do trato ou relacionamentopessoal, no tom do compor- - centração ou frivolidadee tédio; que estã.ocom a mesma disposição de espírito
tamento do indivíduofrente a outro. Esse aspectoé bem diversodo quadro legal .. em que ele os encontra todos os dias, ou então em atitude de grande tensão ou
e cristalizado das relações sociais - e, como tal, precisa ser estudado e apre- .. excitabilidade-, e assimpor diante. Com a atenção constantemente voltada para
sentado separadamente. esse aspecto da vida tribal, e com o empenho persistente de o registrar e expres-
De igual forma, aQ.estudarmos os atos conspícuosda vida...tribal- tais sar em termos de fatos reais, o etnógrafo irá acumular uma Huantidadeenorme de
como as cerimônias, rituais e festividades~, devemosapresentar também os material informativoautêntico e expressivo. Estará, assim. habilitado a ti~r ao
detalhes e o tom do comportamenlQ,e não excluSivamenteo slmp1en'sb~o dos ato o seu devido lu ar na esfera da vida nativa i. e. ". . 1
'~
acontecimentos.Estudemos um exemplo especificopara ilustrar a importância ... c>~ ou e com o m ar-
. ,i I.''''
..J
','
..}-"
desse método: muito já, se falou e escreveusobre a questão da sobrevivênciade
traços culturais. O aspecto de sobrevivênciade um ato não pode, entretanto,
expressar-se em nada, a não ser no comportamentoque o acompanha e no
o,
-=- \ .r.~u.ccmpottamento.
'"
Estara, por fim, capacitado a trazer tudo
isso, de maneira clara e convincente,a seus leitores.
Por -outro la.QQoes~~Jip.o-de_p.esqui$A..J.e~~=-~J.9_etnól!rafQ que ~
\.. ..
modo como ele se verifica. Temos muitos exemplos disso em nossa própria r)J' .ir- vez em Quandodeixe de ladJL.ulpa fotográfica. lápis e caderno, e p~ticipe
cultura: a simples descriçãodos aspectosexteriores,seja da pompa e do aparato .-8- .N-.V'- pçssoalmente do Que está acontecendo. Ele pode tomar parte nos iOgQ~
de uma solenidadede Estado, seja de um costumepitorescodos garotos de rua, I --...
não é suficiente para demonstrar se o rito ainda floresce com total vigor nos '-..- "("" r;acompanhá-los em suas_visitas
e a panclQ_das..colLlletSas. e passeJ2b
Não acredito ou se!!tID::s.Lc.~~.YYiru1n
que todas as pessoas possam fazer
corações daqueles que dele participam, ou se o consideramcomo coisa já ultra- . isso tudo com igual facilidade -
talvez a natureza do eslavo seja mais flexível
passadae quase morta, conservada~por amor à tradição. Se, porém, obser-
~ e mais espontaneamente selvagem que a do europeu ocidental mas, embora o -
varmose registrarmosas particulariCiãO'Csdo comportamentodas pessoas,imedia- grau de sucessoseja variável, a tentativa é possível para tQdos. Esses mergulhos
tamentepoderemosdeterminar o grau de vitalidadedo costume.Não resta dúvida na vida nativa -
que pratiquei freqüentementenão apenas por amor à minha
de que, tanto na análise sociológicaquanto na psicológica,bem como em quais profissão,mas também porque precisava, como homem, da companhia de seres
quer questões têóricas, são de extrema importânciao modo e o tipo do compor- humanos - sempre me deram a impressão de permitir uma compreensão mais
~I~
. .., v. .nU 1r\.) uv r r\1.,;1t.!(,;üOCIDENTAL 33
,."
Passemos, finalmente, i\o/@eitoeúTt'lmo
VIII
questão.. . I.. a:
i
Em primeiro lugar, devemos partir do fato de que o bje nosso estudo Nossas considerações indicam que os objetivos da pesquiSa de campo etno-
s~C?dos
teressamos..
~~«:E.e_~tiPo~.!!9~.~~'
pelo
penSã(eseiitir. Eriqu'a!iio ocí og - nao nos m-
.qu~...AJI!I_Jl_p()~..s~.m ...se_n~~~_co.m.o .i'!4iví499.U\<?
de- suas próprias experiências: interessamo-nos, sim, apenas ~~uilo que eles
curso' acidental' l =:\ gráfica podem, pois, ser alcançados através de três diferentes caminhos:
I. A organização da tribo e a anatomia de sua cultura devem ser delineadas
de modo claro e preciso. O método de documentação concreta e estatlstica for-
,
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34 MALlNO\VSKI
81!
---
"- ., ....
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~~~~. .... .~~:8~.:_..
:':: I
'" til!
'..
',. .
:~. .
seumundo.E nossa tarefa estudar o._b..om~~e ~,=ye!"os, portanto, estudar tudo
aquilo que mais intimament~~~~i.~!.~i!~, ~~..~~J.a~
~'domínio que a vida e~e\,:': -. .- "
--
'u ~~.re.::caõãCiJlCui'ã pOSSUIseus própnos valores; as pessõas têm suas (
'"
!
"
" próprias ambições, seguem a seus próprios impulsos, desejam diferentes formas - ...
-
i
.~ de felicidade. Em cada cultura encontramos instituições diferentes, nas quais o
homem busca seu próprio interesse vital; costumes diferentes através dos quais l.. :
~ CAPITULO I
ele satisfaz às suas aspirações; diferentes códigos de lei e moralidade que pre-
-- J..
~:
~c miam suas virtudes ou punem seus defeitos. Es dar as instituições, costumes e .:..
6 A regllo e os habItantesdo dIstritodo Kula
~:: có~os, ou estudar o comp?rtamento e ment~h .a C?-~
d~
me sem atmglr os
e sentim~ntos subietlvosJ?c:~q~~.!Se~~~sémo',iii.rüitõ-:-ç1e-.com- -- . .
I
~
p.reender o que é. Dara ele. a essencla aL~!!.a..~;'é, -em minha oplõião,
perder a maior recompensa Que se possa esperar do estudo do homem. -- ---
--
~~I
~i Todas essas regras gerais o leitor as encontrarnriiSffliããsnõScãpítulos que Comexceção,talvez,dos nativosda ilha de RosseI,a respeitodos quaisquase
1~t
. se seguem. Neles veremos o selvagem lutando para satisfazer certos anseios, para ......,L nada se conhece,as tribos que vivemno âmbito do sistema comercialdo Ku/a
I~! atingir certos valores, em sua linha Cle ambição social. Nós o veremos forçado ... ,
~
:~:.
61
por uma tradição de proezas heróicas e mágicas, a perigosos e dif(eeis empreen-
dimentos, ,atrafdo pcr seu romance. Talvez, ao lermos o relato desses costumes
- ...i..
pertencemtodas
continente ao !<mn
da Nova uiné e2fUPO rCla!;)EsSastribos
em to as as ilhas que, vivem no na
dispostas extremoleste do
forma de um
alongadoarquipélago,representamcomoque um prolongamentoda faixa sudeste
~:
~i
primitivos, possamos sentir um sentimento de solidariedade pelos esforços e am- ... - - do continente, 1Jl!"o.nte,.!-NovaQuin.6..hjlhu_5a.1Qmip.
c~: bições desses nativos. Talvez a mentalidade humana se revele a nós através de A Nova umé é uma ilha-contmente montanhosa, de acesso muito diffcil
'"
caminhos nunca dantes trilhados. Talvez, pela compreensão de uma forma tão .....'-
~: .. em seu interior e em certas. porções de seu litoral, onde recifes, pantanais e ro-
. distante e estranha da natureza humana, possamos entender nossa própria natu- ....- -...:. ehedos constituemverdadeirabarreiraà entrada e mesmo à aproximaçãode em- i
~t reza. Nesse caso - e somente nesse caso - estaremos justificados ao sentirmos barcações nativas.Obviamente,tal regiãonão oferece as mesmasoportunidades
- r'--
~~
~~
que valeu a pena entender esses nativos, suas instituições e costumes, e que pude- ......- em todas as partesde influxoaos imigrantesque, provavelmente,são sponsáveis
I~ mos auferir algum proveito através de nosso estudo sobre o Ku/a. ' pela atual constituiçãodemográficado Pacifico Sul. As regiõesde fAcilacesso ,
~ ...",
i~ no litoral, bem como as ilhas vizinhas,certamenteofereceriamrecepçãohospita-
til
~ ......, "-1 leira aos imigrantesde estirpesmais altas; por outro lado, entretanto, as altas
:~:
... montanhas,as inexpugnáveisfortalezasrepresentadaspelos baixiospantanosose
~~
por praias ondeo desembarqueera difícile perigoso,forneceriamproteçãonatu.
~:
~~ -' ral aos aborigines,
desfavorecendo
o influxode imigrantes. ' '
i
~ .",..
-
A própria distribuição racial na Nova Guiné justifica
póteses.O mapa11mostraa porçãoorientaldo continenteda NovaGubé e seus
plenamente essas hi-
--
:~
~ W. F. Willianuon,The
R. Neubaus. Deuuch Neu Malulu.
Gulnea.t912vol.e de C.Berl
111, Ker:er. MAus
m, 1911. Asdem Lebenderpreliminares
publicaç&s Kaileule".em
de
~~ G. Landrmann sobre os nalivos de Kiwai, MPapuan Maalc In Ibe Buildinl of Hoos.'5", "Acla
A..boenses. Humanora". I. Abo. 1920, e "Tbe Folk-Iales of lhe Klwal Papuans". Helkors.
1; 1917. ptomelem-nos que o relalo completo irá dissipar alsuns dos mislfrios exislenles no
)) golfo Papua. Entremenles. podemos enconlnr um bom relalo semlpopular sobre esses nall.
~ "
vos na obn de W. N. Deaver, UneJlploretl New Gulnea. 1920. Pessoalmente. duvido que
as Iribos das colinas e as dos pânlanos perlençam1 mesma raça ou tenham a mesma i
cullura. Cf. lambéma mais recenle contribuiçlo1 quesllo: MMicnllonsof CulluresIn
Brilisb New Guinea", de aUloria de A. C. Haddon (Huxley Memorial Lecblre, 1921), publi.
- cado pelo Royal Anlbropological Inslltule.
, I . .......
I