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SOCIEDADE CULTURAL E EDUCACIONAL DE ITAPEVA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E AGRÁRIAS DE


ITAPEVA

EFEITOS DO VÍNCULO MATERNO NA DINÂMICA


ALIMENTAR: UMA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA

Adriele Laurentino Duarte

Itapeva – São Paulo – Brasil


2024
SOCIEDADE CULTURAL E EDUCACIONAL DE ITAPEVA
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E AGRÁRIAS DE
ITAPEVA

EFEITOS DO VÍNCULO MATERNO NA DINÂMICA


ALIMENTAR: UMA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA

Adriele Laurentino Duarte


Orientador: Prof. Esp. Lucas Assis Dias Batista

“Trabalho apresentado à Faculdade de


Ciência Sociais e Agrárias de Itapeva,
como parte das exigências para
conclusão do Curso de Psicologia”.

Dezembro/2024
Itapeva – SP
D812e Duarte, Adriele L.

Efeitos do vínculo materno na dinâmica alimentar: uma perspectiva


psicanalítica / Adriele Laurentino Duarte – Itapeva, 2024.

50f.; 30 cm

Orientador: Prof. Esp. Lucas Assis Dias Batista.

Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia. Faculdade de Ciências


Sociais e Agrárias (FAIT).

1. Compulsão alimentar. 2. Abandono afetivo. 3. Psicanálise.


4. Trauma infantil. I. Título.

CDD:150
folha de aprovação
“Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes
coisas do homem foram conquistadas do que
parecia impossível.”

Charles Chaplin
Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu filho, Henrique Laurentino, minha


maior motivação e razão de persistência. Foram anos de
estudo e dedicação, em que, por muitas vezes, não pude estar
tão presente como gostaria. Ainda assim, cada página escrita,
cada conquista alcançada, foi pensando em você. Este título é
seu tanto quanto meu, pois, mesmo sem perceber, você me
deu forças para continuar e buscar ser melhor a cada dia. Que
este momento sirva como exemplo de que, com esforço e
resiliência, somos capazes de superar qualquer desafio. Amo
você, meu filho.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus professores da faculdade, que


foram essenciais nesta caminhada. Ao professor Rodrigo, que, no início do
curso, me apoiou em um momento de dificuldades financeiras, quando
pensei em trancar a faculdade, mas seu incentivo me ajudou a seguir em
frente. À professora Luciana Georgetti, pela dedicação e apoio. À
professora Daniely, que me fez gostar de Lacan e estimulou meu
pensamento clínico, ampliando minha visão na psicanálise. E,
especialmente, ao meu orientador Lucas, que ofereceu não apenas
suporte acadêmico, mas também emocional. Nos momentos em que
duvidei de minha capacidade de chegar até aqui, ele sempre acreditou em
mim, incentivando-me a continuar.
Agradeço profundamente ao meu marido, Juliano Duarte, por todo o
apoio e compreensão. Depois de tantos anos fora do ambiente acadêmico,
ele não mediu esforços para que eu pudesse alcançar este objetivo.
Esteve ao meu lado em todos os momentos, enxugando minhas lágrimas,
tranquilizando-me diante das preocupações e angústias que o processo
trouxe, e sendo meu porto seguro.
Ao meu filho, Henrique Laurentino, dedico este título com todo o
meu amor e gratidão. Durante esses cinco anos de estudo, ele esteve ao
meu lado, mas por muitas vezes não consegui lhe dar toda a atenção que
ele merecia. Mesmo assim, fiz tudo isso pensando nele, pois ele é minha
maior motivação para seguir em frente. Apesar dos desafios, sua presença
foi minha força para continuar e alcançar esse propósito. Aos meus amigos
da faculdade, que estiveram comigo durante essa jornada,
deixo meu agradecimento especial. Em particular, ao Wellington Marumbi,
que sempre foi uma inspiração, tanto como pessoa quanto como
profissional. Sua amizade sincera me ajudou a crescer e a evoluir, sendo
alguém em quem sei que posso contar para a vida toda. E à Júlia Toscan,
que, mesmo à distância, me ofereceu suporte emocional constante,
encorajando-me a acreditar mais em mim nos momentos em que pensei
em desistir da pesquisa.
Por fim, minha gratidão à minha família. Embora não sejamos uma
família de comercial de margarina, sei que torceram por mim em cada
passo dessa trajetória.
Ser a primeira da família a concluir o ensino superior é uma conquista que
compartilho com eles, por todo o apoio, direto ou indireto, que recebi.

A todos vocês, meu mais sincero agradecimento.


LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

APA American Psychiatric Association


DSM-5 Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais TA Transtornos Alimentares (TA)
TCA Transtorno de Compulsão Alimentar
EFEITOS DO VÍNCULO MATERNO NA DINÂMICA ALIMENTAR: UMA
PERSPECTIVA PSICANALÍTICA

RESUMO – Os Transtornos Alimentares (TA), como o Transtorno de


Compulsão Alimentar (TCA), são caracterizados por perturbações
persistentes no comportamento alimentar, frequentemente relacionados a
fatores emocionais profundos. Este estudo investiga a relação entre o
trauma de abandono afetivo materno na infância e o desenvolvimento da
compulsão alimentar, partindo da hipótese de que a privação emocional
pode predispor o indivíduo ao TCA. O objetivo principal é descrever os
impactos psicológicos do abandono materno no desenvolvimento desse
transtorno, analisando as dinâmicas psicanalíticas envolvidas. A
metodologia adotada consiste em uma revisão de literatura, com análise
de artigos publicados entre 2010 e 2024, extraídos de bases como Lilacs,
SciELO, PubMed e Periódicos CAPES. Foram incluídos estudos que abordam
a relação entre abandono materno e transtornos alimentares, com foco
em intervenções psicanalíticas aplicáveis. Em conclusão, o tratamento da
compulsividade alimentar em indivíduos que vivenciaram abandono
afetivo materno deve abordar tanto os aspectos emocionais profundos
quanto as dinâmicas inconscientes que moldam o comportamento. A
intervenção psicanalítica, ao explorar a relação simbólica entre o alimento
e o afeto materno, permite a ressignificação das experiências traumáticas
e oferece ao paciente um caminho para construir estratégias mais
saudáveis de regulação emocional. Assim, a compreensão e a elaboração
do trauma são fundamentais para romper o ciclo vicioso de compulsão e
culpa, promovendo maior equilíbrio emocional e bem-estar.

Palavras-chave: compulsão alimentar, abandono afetivo, psicanálise, trauma


infantil.
EFFECTS OF MATERNAL BOND ON EATING DYNAMICS: A
PSYCHOANALYTICAL PERSPECTIVE

ABSTRACT – Eating Disorders (ED), such as Binge Eating Disorder


(BED), are characterized by persistent disturbances in eating behavior,
often linked to deep emotional factors. This study investigates the
relationship between maternal affective abandonment trauma in childhood
and the development of binge eating, hypothesizing that emotional
deprivation may predispose individuals to BED. The primary objective is to
describe the psychological impacts of maternal abandonment on the
development of this disorder, analyzing the psychoanalytic dynamics
involved. The methodology adopted consists of a literature review,
analyzing articles published between 2010 and 2024 from databases such
as Lilacs, SciELO, PubMed, and CAPES Journals. The inclusion criteria
focused on studies addressing the relationship between maternal
abandonment and eating disorders, with an emphasis on applicable
psychoanalytic interventions. In conclusion, the treatment of compulsive
eating in individuals who have experienced maternal emotional
abandonment must address both the deep emotional aspects and the
unconscious dynamics that shape behavior. Psychoanalytic intervention,
by exploring the symbolic relationship between food and maternal
affection, allows for the resignification of traumatic experiences and offers
the patient a path to build healthier strategies for emotional regulation.
Thus, understanding and working through the trauma are essential to
breaking the vicious cycle of compulsion and guilt, promoting greater
emotional balance and well-being.

Keywords: binge eating, affective abandonment, psychoanalysis, childhood


trauma.
SUMÁRIO

Página

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................14
O desenvolvimento psicossocial...................................................................................14
Relação mãe-bebê-alimento..........................................................................................16
O Alimento e a Psicanálise...........................................................................................19
Compulsão alimentar na infância..................................................................................22
Compulsão alimentar e a Psicanálise............................................................................25
Transtornos alimentares e Psiquiatria: a importância de Psicofármacos......................28
Intervenções psicanalíticas no tratamento de compulsividade alimentar associada a
traumas de infância...............................................................................................................30
3. MATERIAL E MÉTODOS...............................................................................................35
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................42
6. REFERÊNCIAS.................................................................................................................44
12

1. INTRODUÇÃO

Os Transtornos Alimentares (TA) representam perturbações


persistentes no comportamento alimentar, que podem ter origens
complexas e multifatoriais. Dentro do Manual de Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-5), seis classificações de TA são
reconhecidas, incluindo o Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA), que é
o foco principal desta pesquisa. O TCA é caracterizado por episódios
recorrentes de compulsão alimentar, sem comportamentos
compensatórios subsequentes (DSM-5 TR, 2023). Além do TCA, o DSM-5
inclui transtornos como Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Pica,
Transtorno de Ruminação e Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo. Este
estudo busca explorar a influência do trauma de abandono afetivo
materno na infância e suas implicações no desenvolvimento da compulsão
alimentar (Domingues, 2023).
Fava et al. (2024) ressalta uma ligação significativa entre traumas
emocionais na infância e a manifestação de transtornos alimentares, como
a compulsão alimentar. Aproximadamente 17% das crianças e
adolescentes que sofreram privação emocional, especialmente em
decorrência do abandono afetivo materno, apresentam episódios de
compulsão alimentar. Esses episódios podem ser vistos como tentativas
de aliviar a angústia e o vazio emocional resultantes da ausência de um
vínculo afetivo seguro, funcionando como um mecanismo de compensação
emocional.
Adicionalmente, Santos e Oliveira (2021) encontraram que 22% dos
adolescentes diagnosticados com TCA relataram histórico de negligência
ou abandono materno. Essa pesquisa, realizada com 350 adolescentes de
diferentes regiões do Brasil, evidenciou que os episódios de compulsão
alimentar muitas vezes estão relacionados à busca inconsciente por
preencher lacunas afetivas deixadas pela falta de vínculo materno. Esses
comportamentos compulsivos se tornam estratégias de enfrentamento
13
frente à dor emocional, revelando uma conexão direta entre privação
emocional e transtornos alimentares na adolescência.
14

O trauma na infância, caracterizado por exposições crônicas a


eventos estressantes, impacta profundamente o desenvolvimento
psicossocial da criança. A relação mãe-bebê é fundamental para o
equilíbrio emocional e o desenvolvimento saudável. Dentro do contexto
psicanalítico, o vínculo inicial entre mãe e filho é crucial para a formação
do ego e para a capacidade de regulação emocional. A falta de um vínculo
afetivo seguro pode gerar dificuldades emocionais que, muitas vezes, se
manifestam em comportamentos de compulsão alimentar ao longo da vida
(Asnis, 2021).
A pergunta norteadora deste estudo é: “Quais são as intervenções
psicanalíticas frente aos impactos que o abandono afetivo materno pode
gerar no desenvolvimento da compulsão alimentar? ” A hipótese que
norteia a pesquisa é que o trauma do abandono afetivo materno aumenta
a vulnerabilidade do indivíduo ao desenvolvimento de comportamentos
alimentares compulsivos.
O objetivo geral deste estudo é descrever os impactos que o
abandono afetivo materno pode causar no desenvolvimento da compulsão
alimentar. Especificamente, pretende-se: (a) analisar a relação mãe-bebê-
alimento; (b) investigar o desenvolvimento da compulsão alimentar na
infância; (c) compreender a relação entre alimento e psicanálise; e (d)
discutir o transtorno de compulsão alimentar sob a ótica da psicanálise.
Justifica-se este estudo pela crescente prevalência de casos de
compulsão alimentar em crianças e adolescentes, o que demanda uma
investigação mais aprofundada sobre os fatores emocionais e
psicanalíticos que podem contribuir para o surgimento desse transtorno. A
análise do abandono afetivo materno, em especial, permite uma
compreensão mais ampla de como a falta de afeto durante a infância pode
predispor o indivíduo a comportamentos compulsivos na fase adulta,
oferecendo subsídios para futuras intervenções terapêuticas.
15

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O desenvolvimento psicossocial

O desenvolvimento psicossocial é um dos pilares da psicologia


contemporânea, com teorias que buscam desvendar os fatores e as fases
que moldam o comportamento humano ao longo da vida. Dentre os
principais teóricos, Erik Erikson destacou-se ao propor um modelo
abrangente de oito estágios do ciclo vital, ressaltando que os primeiros
anos de vida desempenham um papel determinante na construção da
confiança básica ou, em contraste, da desconfiança. Nessa etapa inicial, a
interação entre a criança e seus cuidadores primários, especialmente a
figura materna, revela-se essencial (Erikson, 1987). A qualidade do
cuidado recebido influencia diretamente a formação do senso de
segurança da criança, impactando de maneira profunda o
desenvolvimento emocional e suas interações sociais futuras (Berk, 2018).
Complementando essa perspectiva, John Bowlby, por meio da Teoria
do Apego, ofereceu uma análise detalhada sobre o vínculo entre mãe e
filho e seu impacto no desenvolvimento psicossocial. Para Bowlby (1982),
um apego seguro, construído a partir de interações consistentes e
responsivas, oferece à criança uma base sólida para a exploração do
mundo, favorecendo o desenvolvimento de competências socioemocionais
saudáveis. Pesquisas subsequentes reforçam essa visão, demonstrando
que o tipo de apego formado nos primeiros anos de vida tem correlações
profundas com o bem-estar psicológico e o ajustamento social ao longo
das demais fases da vida (Ainsworth et al., 1978).
A qualidade das interações precoces, portanto, emerge como um
fator preponderante na construção do vínculo mãe-filho. Donald Winnicott,
com o conceito de "mãe suficientemente boa", sublinhou a importância de
a mãe estar em sintonia com as necessidades do bebê, respondendo de
maneira apropriada e constante (Winnicott, 1965). A falta de sintonia
16
adequada pode levar a desdobramentos
17

emocionais significativos, comprometendo não apenas o desenvolvimento


infantil imediato, mas também as fases subsequentes do desenvolvimento
psicossocial.
No que tange à reciprocidade nas interações mãe-filho, Stern (2007)
investigou como essa dinâmica molda tanto o desenvolvimento emocional
quanto as capacidades cognitivas da criança. Teorias contemporâneas de
cognição social indicam que o vínculo afetivo exerce um papel
determinante no desenvolvimento das funções executivas, tais como a
tomada de decisão, além de ser essencial para o desenvolvimento de
habilidades empáticas. Essas descobertas corroboram a ideia de que as
experiências afetivas vivenciadas nas primeiras etapas do
desenvolvimento são estruturantes, sendo o vínculo parental um elemento
formador da personalidade (Shonkoff; Phillips, 2000).
O desenvolvimento emocional durante a infância permanece uma
área de estudo fundamental na psicologia, com teóricos como Erikson e
Winnicott oferecendo contribuições inestimáveis sobre o impacto das
primeiras experiências na formação do ego e na regulação emocional.
Erikson, por exemplo, delineou que o desenvolvimento psicossocial é
marcado por crises que, quando adequadamente resolvidas, promovem a
construção de uma identidade sólida. Nos primeiros anos de vida, a crise
principal envolve o embate entre confiança e desconfiança, sendo o papel
dos cuidadores, especialmente da figura materna, essencial para a
resolução positiva dessa etapa.
Conforme proposto por Erikson (1987), a confiança é estabelecida
quando os cuidadores atendem às necessidades da criança de maneira
consistente e previsível, criando um ambiente seguro que favorece a
exploração do mundo e a construção de uma autoimagem positiva. A
ausência de tal cuidado adequado pode gerar desconfiança,
comprometendo a formação de um ego saudável e prejudicando a
capacidade da criança de regular suas emoções frente aos desafios
futuros.
Winnicott, em consonância com essa perspectiva, destacou a
centralidade do vínculo materno por meio do conceito de "mãe
suficientemente boa". Para Winnicott (1965), a mãe deve ser capaz de
atender às necessidades emocionais da criança de modo apropriado,
18
fornecendo um ambiente seguro e acolhedor que favoreça o
desenvolvimento do self e a capacidade de enfrentar frustrações e
desafios.
Quando há falhas na constituição desse vínculo, as consequências
podem ser severas. Winnicott argumenta que a incapacidade da
mãe de se conectar
19

emocionalmente às necessidades da criança pode gerar insegurança e


dificultar o desenvolvimento da regulação emocional. A criança que não
desenvolve as ferramentas adequadas para lidar com suas emoções tende
a apresentar comportamentos disfuncionais, como a compulsão alimentar,
na qual a comida é utilizada como uma estratégia de enfrentamento para
aliviar sentimentos de ansiedade ou insegurança (Filó, 2024).
A compulsão alimentar, nesse sentido, exemplifica como o
comprometimento do desenvolvimento emocional pode se manifestar em
comportamentos prejudiciais. Indivíduos que apresentam dificuldades em
regular suas emoções frequentemente recorrem à alimentação como uma
forma de anestesiar a dor emocional, utilizando a comida como um
substituto para suprir necessidades emocionais não satisfeitas (Polivy;
Herman, 2002). Esse comportamento, por sua vez, tende a se perpetuar
em um ciclo vicioso, onde o alívio temporário proporcionado pela
alimentação compulsiva reforça padrões emocionais disfuncionais.
O impacto das experiências precoces na saúde mental é, ainda,
evidenciado em pesquisas que associam o estilo de apego desenvolvido
na infância com a manifestação de transtornos alimentares na vida adulta.
Indivíduos que cresceram em ambientes marcados por instabilidade
emocional, onde suas necessidades afetivas não foram devidamente
atendidas, apresentam maior propensão a desenvolver comportamentos
alimentares desordenados como uma forma de buscar controle ou
conforto (Mikulincer; Shaver, 2007). Dessa forma, a relação entre as
experiências emocionais da infância e a regulação do comportamento
alimentar revela-se uma questão crucial na compreensão das disfunções
emocionais e comportamentais na vida adulta.

Relação mãe-bebê-alimento

Desde o nascimento, o bebê é lançado em um processo de


adaptação à vida fora do útero, rompendo com a fusão simbiótica que
experienciou no ambiente intrauterino. Esse rompimento inaugura o que
Freud (1923), define como o estágio do narcisismo primário, no qual o
bebê vive em uma ilusão de autossuficiência e completude, acreditando
que suas necessidades são imediatamente satisfeitas sem a intervenção
de um outro externo.
20

Conforme Laender (2005, p. 64), "o narcisismo primário caracteriza-


se pelas primeiras satisfações narcísicas, predominando a
autossuficiência, ideal de toda perfeição". No entanto, essa
autossuficiência é apenas aparente, pois o bebê depende completamente
da figura materna para sobreviver. A alimentação, especialmente o ato de
amamentar, torna-se a primeira manifestação tangível desse vínculo
simbiótico rompido. Para a psicanálise, o seio materno representa mais do
que uma fonte de nutrição; ele é o primeiro objeto de desejo e frustração.
Essa ambivalência é elaborada por Klein (1996), que concebe a relação do
bebê com o seio como uma experiência de amor e ódio, de gratificação e
frustração.
Klein (1996) introduz a ideia de que o seio pode ser percebido como
"seio bom" ou "seio mau", dependendo da experiência subjetiva da
criança. Quando o seio materno atende às necessidades do bebê, ele é
idealizado como bom, protetor e nutridor. No entanto, quando essas
necessidades não são satisfeitas de maneira imediata, o seio pode ser
percebido como frustrante, provocando sentimentos de ódio e destruição.
Esse conflito gera uma ansiedade que só será mitigada pela introjeção de
um "seio bom" estável, que oferece segurança emocional e psíquica.
Esse processo de introjeção é crucial para o desenvolvimento de um self
coeso e integrado.
Winnicott (1999) complementa essa visão, ao afirmar que o "seio
bom" não deve ser entendido meramente como um objeto interno ou
externo, mas como uma técnica de maternagem suficientemente boa, que
envolve tanto a alimentação adequada quanto o suporte emocional
necessário para que o bebê desenvolva uma relação saudável com o
mundo externo. Para Winnicott (1999, p. 245), "a mãe deve ser
suficientemente boa para perceber as necessidades do bebê e fornecer o
ambiente que lhe permita desenvolver-se com segurança".
A partir dessa relação inicial com o alimento e a mãe, o bebê
começa a desenvolver suas primeiras representações do mundo externo e
de si mesmo. O alimento, simbolizado pelo seio materno, torna-se um
objeto de satisfação que, quando associado a experiências de frustração,
pode gerar angústia e sentimentos de destruição. Klein (1996, p. 332)
afirma que "o mundo de objetos da criança durante os primeiros dois ou
21
três meses de vida consiste em partes gratificantes ou hostis e
perseguidoras do mundo real". Esse cenário de objetos fragmentados
reflete a incapacidade inicial do bebê de perceber a mãe como um todo
integrado, o que intensifica a experiência de ambivalência.
22

Essas primeiras interações com a mãe têm repercussões


significativas ao longo da vida do indivíduo, especialmente em relação à
forma como este lida com o alimento. A criança, ao longo do seu
desenvolvimento, aprende a utilizar a alimentação como uma forma de
regulação emocional. Gonçalves et al. (2013) observam que, desde o
nascimento, o bebê associa o ato de ser alimentado a uma sensação de
alívio, criando um padrão que, posteriormente, pode ser transferido para
outros objetos de satisfação oral, como dedos na boca ou chupetas.
A relação entre mãe, alimento e afeto é, portanto, uma matriz
simbólica na qual se fundem as primeiras experiências psíquicas do bebê.
Para alguns psicanalistas, como Freud (1923), o seio materno torna-se o
protótipo de todas as experiências subsequentes de objeto, uma vez que
ele é tanto fonte de prazer quanto de frustração. A criança, nessa fase,
passa a internalizar as primeiras representações do objeto materno,
processo que terá consequências duradouras em sua vida emocional.
Essas primeiras interações podem também estar na raiz de
transtornos alimentares. Ávila et al. (2007) ressaltam que a anorexia e a
bulimia, por exemplo, são frequentemente associadas a experiências
emocionais mal resolvidas na primeira infância, onde o alimento não é
apenas uma necessidade fisiológica, mas também um meio de lidar com o
vazio emocional. Esses transtornos são, muitas vezes, uma forma
inconsciente de tentar reaver o controle sobre uma situação psíquica
originalmente marcada pela impotência e frustração diante da relação
com o primeiro objeto de desejo o seio materno.
Além disso, a relação com a alimentação pode ser impactada pela
maneira como a mãe responde às demandas do bebê. Gonçalves et al.
(2013) observam que, quando a mãe interpreta todas as demandas do
bebê como fome, sem considerar outras necessidades emocionais, ela não
ensina a criança a diferenciar a fome de outros desconfortos. Isso pode
criar uma relação disfuncional com o alimento, na qual a criança, e
posteriormente o adulto, busca preencher lacunas emocionais com a
comida.
A abordagem psicanalítica dos transtornos alimentares, como
observa Gorgati et al. (2002), fundamenta-se em teorias das pulsões, das
relações objetais e da psicologia do self. A anorexia, por exemplo, pode
23
ser vista como uma forma de recusa ao objeto materno, enquanto a
bulimia reflete uma relação mais ambivalente e impulsiva com o
alimento. A compulsão alimentar, por sua vez, representa uma
24

tentativa de preencher um vazio emocional profundo, muitas vezes


associado a sentimentos de abandono ou privação emocional na relação
primária com a mãe.
Nesses casos, o alimento torna-se um substituto simbólico para o
afeto materno ausente ou insuficiente, funcionando como uma forma de
compensação. A compulsão pode ser compreendida como uma busca
incessante por gratificação, que reflete a incapacidade de a pessoa
integrar de forma saudável o objeto "bom" e "mau", como descrito por
Klein (1996), levando a uma repetição contínua de comportamentos
autodestrutivos em uma tentativa de aliviar angústias psíquicas
profundamente enraizadas. Essas condições podem ser interpretadas
como tentativas inconscientes de resolver conflitos psíquicos subjacentes
que se originam na primeira relação com o seio materno e, por extensão,
com a mãe como figura de cuidado.
Portanto, a relação mãe-bebê-alimento não é meramente uma
questão de nutrição física, mas uma estrutura psíquica complexa que
influencia profundamente o desenvolvimento emocional da criança. Desde
o narcisismo primário, passando pela ambivalência em relação ao seio
materno, até as manifestações adultas de transtornos alimentares, o
vínculo inicial com o alimento é carregado de significados inconscientes
que moldam o psiquismo do indivíduo. Como Freud (1923, p. 28) afirma,
"o reprimido é, para nós, o protótipo do inconsciente", e essas primeiras
experiências com o alimento e a mãe permanecem como marcas
indeléveis no inconsciente do indivíduo, influenciando suas relações com o
mundo externo e com seu próprio corpo.

O Alimento e a Psicanálise

De acordo com Freud (1923), possibilitou uma visão revolucionária


sobre os impulsos humanos, ao sugerir que são largamente regidos por
desejos inconscientes, muitos dos quais relacionados à alimentação. Essa
relação, no entanto, vai além da mera satisfação fisiológica e se insere em
um complexo simbólico dentro da teoria psicanalítica. Em O Ego e o Id,
Freud destaca que o ato de comer não só atende às demandas biológicas
do organismo, mas também se associa à busca por prazer e ao manejo
das angústias internas. Sob o prisma da teoria da libido, o alimento
25
adquire uma dupla função: ele proporciona saciedade física e,
simultaneamente, oferece uma sensação de conforto emocional,
transformando-se em um caminho para gratificações
26

mais profundas. Freud correlaciona esse processo diretamente à pulsão


oral1, um dos primeiros estágios do desenvolvimento psíquico, no qual o
indivíduo busca, no ato de se alimentar, uma fonte de segurança e afeto.
Psicanalistas pós-freudianos expandiram essa perspectiva ao
aprofundar a conexão entre alimentação e vida emocional. Melanie Klein
(1988), por exemplo, centralizou o vínculo mãe-bebê como fundamental
para a internalização de experiências afetivas, onde o ato de alimentar
assume um simbolismo que transcende a mera sobrevivência física. Para
Klein, o momento da alimentação é a via primária pela qual o bebê
internaliza as primeiras representações de amor e proteção. Esse processo
é determinante para a formação da identidade e da internalização do
"objeto bom", conceito crucial na teoria kleiniana, que alude às primeiras
percepções do bebê sobre o cuidado materno. Assim, a alimentação torna-
se o reflexo simbólico da dinâmica relacional primordial, impregnada de
significados emocionais que moldam a maneira como o sujeito se
relaciona com o mundo ao longo de sua vida.
Winnicott (1965), por sua vez, adiciona à discussão o conceito de
"holding", que aprofunda a compreensão do papel do ambiente emocional
no processo alimentar. Para Winnicott, o ato de alimentar é muito mais do
que uma resposta biológica. A mãe, ao nutrir o bebê, cria um "espaço
potencial", um ambiente emocional seguro, onde a criança se sente
acolhida e protegida. A ausência desse "holding" pode resultar em
distúrbios emocionais significativos, manifestando-se em comportamentos
desajustados, como a compulsão alimentar. Assim, a alimentação, sob
essa ótica, também se torna uma busca por segurança emocional em um
ambiente que pode ser percebido como hostil ou indiferente. O comer,
portanto, adquire uma função simbólica, não apenas de saciar a fome,
mas de tentar preencher lacunas emocionais e existenciais.
Conforme Batista e Corrêa (2024), o handling é uma função materna
de grande importância que envolve a maneira como a mãe interage e
cuida do bebê, promovendo um ambiente seguro e acolhedor. Essa prática
permite que a psique do bebê se aloje no corpo, facilitando a formação de
vínculos afetivos e a construção de

1
O conceito de pulsão oral, desenvolvido por Freud, refere-se à fase inicial do
desenvolvimento psicossexual, na qual a boca é a principal fonte de prazer e satisfação
27
para o bebê. Durante essa fase, as atividades relacionadas à alimentação, como sugar e
morder, estão associadas a experiências de prazer e segurança. A pulsão oral está ligada
à necessidade biológica de se alimentar, mas também vai além disso, representando
uma forma primária de interação com o mundo e com as primeiras figuras de apego,
influenciando o desenvolvimento emocional e afetivo da criança (Freud, 1923).
28

sua identidade. Além de oferecer conforto físico, o handling contribui para


o desenvolvimento psicossocial da criança, ajudando-a a estabelecer a
confiança e a segurança necessárias para explorar o mundo ao seu redor.
Essa interação rica e sensível é fundamental para o crescimento
emocional e social saudável do bebê.
Lacan (1966) oferece uma contribuição única à compreensão
psicanalítica do alimento, ao inseri-lo no contexto de sua teoria do desejo.
Para Lacan, o alimento está intimamente ligado ao conceito de "falta", que
ocupa um lugar central em sua obra. A busca por comida simboliza, em
última instância, a tentativa humana de preencher um vazio estrutural que
jamais pode ser completamente satisfeito. Nesse sentido, o ato de comer
não é apenas uma resposta à fome física, mas uma tentativa de lidar com
a ausência e com o desejo que permanece insaciável. A comida, para
Lacan, funciona como um substituto simbólico para objetos de desejo
inalcançáveis, reforçando a ideia de que o ser humano está
continuamente em busca de uma completude impossível.
Ao explorar a pulsão oral freudiana, torna-se claro que a alimentação
desempenha um papel central na constituição psíquica do indivíduo. A
pulsão oral representa a primeira forma de satisfação, vinculada às
experiências de cuidado e nutrição na infância. A maneira como essas
primeiras interações ocorrem molda profundamente a relação do sujeito
com o mundo externo. A alimentação, nesse contexto, deixa de ser
apenas uma necessidade básica e passa a incorporar significados
emocionais profundos, que influenciarão a constituição do self e a forma
como o indivíduo estabelecerá vínculos futuros (Leader, 2023).
Os distúrbios alimentares, em particular a compulsão alimentar,
podem ser compreendidos à luz dessa dinâmica psíquica como tentativas
de restaurar um senso de controle e segurança em face de experiências
emocionais perturbadoras. Para indivíduos que passaram por traumas ou
abandonos na infância, o alimento pode funcionar como um substituto
emocional, oferecendo alívio temporário frente à sensação de desamparo.
Conforme discutido por Santos e Santos (2023), o controle sobre a
alimentação torna-se um mecanismo para lidar com o caos interno, onde a
compulsão alimentar reflete a busca por estabilidade em um ambiente
emocionalmente desestruturado.
29
Bloc et al. (2019), corroboram essa análise, ao sugerirem que a
compulsão alimentar é um comportamento adaptativo diante de uma
carência emocional profunda. O alimento, nesse cenário, atua como um
preenchimento simbólico de
30

lacunas deixadas por relações afetivas fragilizadas ou ausentes. A


compulsão torna- se, assim, uma tentativa de lidar com o vazio
existencial, oferecendo uma satisfação provisória que busca compensar as
necessidades emocionais insatisfeitas.
Portanto, a perspectiva psicanalítica sobre os distúrbios alimentares
revela que a relação com o alimento está intrinsecamente ligada às
experiências emocionais primordiais. A comida, mais do que sustento,
funciona como veículo de expressão de angústias e como busca de alívio
para sofrimentos psíquicos profundos. Como apontam Silva e Gomes
(2023), o vínculo estabelecido entre mãe e bebê durante a alimentação
molda significativamente a capacidade do indivíduo de formar
relacionamentos saudáveis, demonstrando a intersecção indissolúvel
entre nutrição física e emocional.

Compulsão alimentar na infância

A compulsão alimentar caracteriza-se pela ingestão excessiva de


alimentos em um curto período, frequentemente acompanhada de uma
intensa sensação de perda de controle. Esse fenômeno não se restringe a
um transtorno alimentar específico, podendo manifestar-se em diferentes
fases da vida, sendo a infância uma etapa crítica para o seu
desenvolvimento. Durante esse período, os hábitos e padrões
comportamentais estão em formação, o que torna crucial compreender os
fatores que contribuem para a compulsão alimentar desde cedo (Farah;
Castanho, 2018).
Farah e Castanho (2018), apontam que os fatores de risco
associados ao desenvolvimento da compulsão alimentar na infância são
diversos e interligados. Um dos principais aspectos é o ambiente familiar.
Crianças criadas em lares com padrões alimentares disfuncionais, nos
quais a comida é utilizada como forma de recompensa ou punição, tendem
a desenvolver comportamentos alimentares inadequados. Essa
instrumentalização da alimentação como um mecanismo de controle
emocional predispõe as crianças a utilizar a comida como uma estratégia
para lidar com sentimentos de estresse, ansiedade e depressão. Esse
comportamento evidencia a complexidade das interações familiares no
desenvolvimento dos transtornos alimentares, sugerindo que a
31
alimentação transcende o aspecto fisiológico, inserindo- se no campo das
relações emocionais.
Experiências traumáticas na infância, como abuso físico ou
emocional, também são amplamente reconhecidas como fatores de
risco significativos. A literatura
32

evidencia que essas vivências podem aumentar a vulnerabilidade ao


desenvolvimento de transtornos alimentares, incluindo a compulsão
alimentar. Crianças que passam por esses traumas frequentemente
encontram dificuldade em expressar suas emoções de maneira saudável,
e a alimentação pode se tornar uma forma alternativa de lidar com o
sofrimento emocional. Nesse sentido, a relação entre trauma e compulsão
alimentar revela-se um aspecto central na compreensão dessas
dinâmicas, demonstrando como a comida pode ser utilizada como uma
válvula de escape para emoções reprimidas e traumas não elaborados
(Fava et al., 2023).
Outro fator crítico é a negligência emocional, caracterizada pela falta
de apoio e atenção adequados por parte dos cuidadores. Quando as
necessidades emocionais das crianças não são devidamente atendidas,
elas podem recorrer à alimentação como uma forma de suprir essa
carência afetiva. A negligência emocional destaca a relevância do
ambiente psicoafetivo no desenvolvimento de comportamentos
alimentares, evidenciando que o ambiente emocional da criança é tão
importante quanto o ambiente físico no que se refere à alimentação e ao
bem-estar (Vale; Elias, 2011).
Além das influências familiares e das experiências traumáticas, os
fatores socioculturais desempenham um papel significativo na gênese da
compulsão alimentar. As pressões sociais para a conformidade a padrões
corporais idealizados afetam a maneira como as crianças percebem a
comida e a própria imagem corporal. A exposição constante a mídias que
promovem a magreza como o ideal pode levar a distúrbios alimentares, à
medida que as crianças, ainda em desenvolvimento, tentam se adequar a
essas expectativas. Ademais, a influência dos pares durante a infância
também contribui para comportamentos alimentares disfuncionais, uma
vez que o desejo de aceitação social pode impulsionar a adoção de
práticas prejudiciais, incluindo episódios de compulsão alimentar (Assis et
al., 2020). Esse fenômeno é intensificado pelas comparações sociais e pela
busca por aprovação, resultando em uma espiral de comportamentos
inadequados, muitas vezes reforçada por sentimentos de inadequação e
baixa autoestima.
Berk (2018), destaca que a identificação precoce de sinais de
33
compulsão alimentar é fundamental para a implementação de
intervenções eficazes. O reconhecimento de comportamentos alimentares
disfuncionais, como o ato de comer em segredo, a sensação de vergonha
após as refeições ou o consumo de alimentos
34

em momentos de ausência de fome, são indicadores importantes para a


prevenção de problemas mais graves na adolescência e na vida adulta.
Nesse contexto, a educação alimentar nas escolas, combinada com a
promoção de ambientes alimentares saudáveis, apresenta-se como uma
estratégia relevante para o enfrentamento desse problema. A intersecção
entre traumas infantis e o uso da alimentação como forma de regulação
emocional é um tema de crescente relevância na literatura acadêmica,
especialmente no campo da saúde mental.
Traumas vivenciados na infância, como abusos físicos e emocionais,
bem como a negligência, exercem uma influência significativa sobre a
maneira como as crianças lidam com suas emoções e com a alimentação.
O uso da comida como um mecanismo de enfrentamento pode surgir
como uma estratégia para atenuar o sofrimento emocional, resultando em
episódios de compulsão alimentar (Jurek; Maruda, 2024). Essa prática
pode, com o tempo, se consolidar como uma resposta condicionada a
emoções negativas, perpetuando um ciclo vicioso de desregulação
emocional e comportamentos alimentares inadequados.
Crianças expostas a traumas apresentam maior risco de desenvolver
comportamentos alimentares desregulados. Bittar e Soares (2020)
conduziram uma pesquisa com adolescentes que relataram experiências
traumáticas e identificaram que esses jovens tendem a usar a alimentação
como uma forma de automedicação, buscando no consumo excessivo de
alimentos uma sensação temporária de conforto ou prazer que alivia
momentaneamente o sofrimento emocional. Essa resposta condicionada
evidencia o papel central da alimentação como um mecanismo de
compensação emocional, uma forma de controle diante da falta de
recursos psicoafetivos.
As consequências a longo prazo desse processo são alarmantes.
Crianças que desenvolvem padrões de compulsão alimentar como
resposta a traumas tendem a perpetuar esses comportamentos na vida
adulta, o que aumenta significativamente o risco de transtornos
alimentares, obesidade e problemas de saúde mental, como depressão e
ansiedade (Jurek; Maruda, 2024). Indivíduos vivenciam uma deterioração
da autoestima e perpetuam comportamentos disfuncionais, agravando o
sofrimento psíquico e dificultando o rompimento do ciclo da compulsão
35
alimentar (Assis et al., 2020).
36

Além disso, a desregulação alimentar pode impactar a percepção da


própria imagem corporal, gerando insatisfação e distorções de imagem
que, por sua vez, podem se intensificar ao longo da vida (Rosen et al.,
2014). A pressão social e a idealização de padrões de beleza intensificam
essa insatisfação, gerando sentimentos de vergonha e culpa em relação à
alimentação e à autoimagem, o que reforça ainda mais os
comportamentos de compulsão alimentar e perpetua o ciclo de sofrimento
emocional.

Compulsão alimentar e a Psicanálise

A compulsão alimentar emerge como um fenômeno complexo, de


grande relevância em diferentes áreas do conhecimento, sendo um objeto
de estudo especialmente significativo na psicanálise. Fundamentada nas
obras de Sigmund Freud e seus sucessores, a psicanálise busca
compreender a intersecção entre os impulsos instintivos, os mecanismos
de defesa e a constituição subjetiva. Nessa perspectiva, a compulsão
alimentar é frequentemente interpretada como uma manifestação
simbólica de conflitos internos, expressando-se na busca por alívio através
da ingestão excessiva de alimentos (Winnicott, 2021).
A psicanálise dá especial ênfase às experiências infantis e aos
vínculos afetivos na formação da personalidade e na regulação emocional.
Freud (1905), ao introduzir o conceito de satisfação oral, refere-se à fase
do desenvolvimento em que a criança encontra prazer e segurança
através da alimentação e do contato com a mãe. Essa conexão inicial é
determinante para a formação do ego e do self, constituindo-se como uma
base afetiva fundamental. Quando essa satisfação é frustrada, ou seja,
quando as necessidades emocionais e fisiológicas da criança não são
adequadamente atendidas, pode-se desenvolver uma relação ambivalente
com a comida, que passa a funcionar como um substituto para a
satisfação emocional. Desse modo, a compulsão alimentar pode ser vista
como uma tentativa de compensação emocional, fruto de uma busca por
segurança e conforto que não foi plenamente atendida nas interações
primárias.
A negligência emocional e as dinâmicas parentais disfuncionais são
fatores de risco significativos no desenvolvimento da compulsão
37
alimentar. A teoria do apego de Bowlby (1969), sugere que a maneira
como a criança experimenta amor e segurança nas suas relações com
os cuidadores impacta diretamente suas habilidades
38

emocionais e sociais. Relações marcadas pela ausência de empatia ou por


experiências de abuso podem deixar a criança com um vazio emocional,
levando-a a recorrer à comida como uma estratégia para lidar com a dor
psíquica. Sob essa ótica, a compulsão alimentar se revela como um
mecanismo de sobrevivência, destinado a mitigar a ansiedade e a
insegurança decorrentes de experiências adversas na infância.
Winnicott (1965), contribui para essa compreensão ao destacar a
importância de um ambiente emocional seguro e responsivo para o
desenvolvimento saudável da criança. A ausência desse suporte pode
gerar dificuldades na regulação emocional e na formação de uma
identidade coesa. Assim, a compulsão alimentar pode ser compreendida
como uma tentativa de preencher as lacunas deixadas por relações
parentais inadequadas, com a comida assumindo o papel de um objeto
transicional que oferece alívio momentâneo para o desconforto emocional.
Essa perspectiva evidencia como experiências de abandono ou
negligência podem desencadear um ciclo vicioso, onde a alimentação se
torna uma forma de consolo frente à carência afetiva.
Além disso, a relação entre compulsão alimentar e a construção da
identidade é um tema central na psicanálise. À medida que a criança
enfrenta conflitos internos e externos, ela busca formas de expressar e
regular suas emoções. A comida, frequentemente associada a momentos
de prazer e recompensa, pode se transformar em um meio de expressão
dessas emoções reprimidas. Comportamentos alimentares compulsivos,
portanto, podem representar uma tentativa de restabelecer um senso de
controle em um ambiente que se revela instável e desestabilizador. A
compulsão alimentar pode ser uma estratégia para recuperar uma
sensação de integridade e autonomia comprometida por experiências
emocionais negativas (Polivy; Herman, 2002).
Freud (1905), argumenta que os comportamentos alimentares
podem ser vistos como expressões das pulsões inconscientes, onde o
alimento se configura como um objeto de desejo associado à satisfação de
necessidades emocionais e afetivas, revelando a complexa dinâmica entre
o ego e o inconsciente. Lacan (1966), ao introduzir o conceito de "objeto
a", oferece uma compreensão mais detalhada dessa dinâmica do desejo e
da insatisfação. O "objeto a" representa aquilo que falta ao sujeito,
39
simbolizando um desejo nunca plenamente satisfeito. Essa falta é
constitutiva
40

do ser humano e, quando não adequadamente elaborada, pode


desencadear comportamentos compulsivos, nos quais a comida atua
como um substituto temporário para o que falta, proporcionando uma
sensação fugaz de preenchimento. Nesse contexto, a compulsão
alimentar pode ser interpretada como uma tentativa de lidar com o
desejo insatisfeito, com o alimento funcionando como uma solução
momentânea para a lacuna emocional. Contudo, essa satisfação é
temporária, gerando um ciclo vicioso de busca incessante por mais
alimento para tentar preencher o vazio. A teoria lacaniana sugere que, em
vez de abordar a origem do desejo, o sujeito recorre a objetos de
substituição que, embora ofereçam alívio
momentâneo, não conseguem resolver a angústia subjacente (Silva, 2000).
Melanie Klein (1988) também oferece importantes contribuições
para a compreensão dessa dinâmica, ao enfatizar como as experiências de
abandono ou rejeição nas relações primárias podem moldar o
comportamento compulsivo. Klein argumenta que a formação do eu está
profundamente relacionada às relações com figuras maternas, e que a
ausência dessas relações protetoras gera sentimentos de insegurança e
ansiedade, que podem se manifestar em comportamentos de busca de
alívio, como a compulsão alimentar. O alimento, nesse cenário, funciona
como um mecanismo compensatório, capaz de proporcionar um alívio
temporário para a dor emocional.
A teoria do apego de Bowlby (1982), complementa essa análise ao
sugerir que as relações afetivas precoces influenciam profundamente a
saúde emocional ao longo da vida. Crianças que vivenciam abandono ou
negligência frequentemente desenvolvem estilos de apego inseguros,
caracterizados por ansiedade ou evitação. Esses estilos de apego
inseguros podem se manifestar em comportamentos compulsivos na vida
adulta, incluindo a compulsão alimentar, na medida em que o sujeito
busca formas de compensar a ausência de afeto e cuidado que deveria ter
recebido na infância.
Esse mecanismo de busca de conforto na alimentação reflete uma
tentativa de preencher as lacunas emocionais deixadas por experiências
de apego disfuncionais. Quando os vínculos afetivos não são
suficientemente sólidos, a comida pode tornar- se um objeto de consolo,
41
um recurso acessível para lidar com sentimentos de solidão e
insegurança. Dessa forma, a compulsão alimentar emerge como uma
resposta
42

adaptativa ao sofrimento psíquico, onde o ato de comer serve como


uma forma temporária de alívio para as dores emocionais não resolvidas
(Garrido, 2022).

Transtornos alimentares e Psiquiatria: a importância de


Psicofármacos

O tratamento de transtornos alimentares requer uma abordagem


multifacetada, combinando estratégias psicoterapêuticas com
intervenções farmacológicas. Os psicofármacos têm um papel essencial no
manejo de transtornos alimentares, como bulimia nervosa e transtorno de
compulsão alimentar. Em muitos casos, os pacientes apresentam
comorbidades psiquiátricas, como depressão e ansiedade, que agravam os
sintomas relacionados aos distúrbios alimentares, demandando uma
abordagem integrada para o tratamento (Carvalho et al., 2023).
No campo da psiquiatria, Lisboa e Colli (2021), discutem o uso de
benzodiazepínicos e outros psicofármacos no tratamento de transtornos
de ansiedade, que muitas vezes estão presentes em pacientes com
transtornos alimentares. Esses medicamentos são eficazes para aliviar os
sintomas agudos de ansiedade e pânico, mas é fundamental que seu uso
seja monitorado cuidadosamente para evitar o risco de dependência,
especialmente entre os jovens. A atenção farmacêutica desempenha um
papel relevante nesse contexto, garantindo que os pacientes utilizem os
medicamentos de forma adequada e evitando o uso prolongado ou
abusivo.
A combinação de psicoterapia com psicofármacos é um dos pilares do
tratamento, conforme Pimentel e Resende (2022) destacam. O uso de
antidepressivos, particularmente os inibidores seletivos de recaptação de
serotonina (ISRS), tem sido amplamente indicado para pacientes com
bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar. Esses
medicamentos ajudam a reduzir episódios de compulsão alimentar e
comportamentos compensatórios, como o vômito autoinduzido, ao
equilibrar os neurotransmissores no cérebro. Entretanto, o uso de
psicofármacos isoladamente não é suficiente; é necessária uma
abordagem psicoterapêutica que auxilie o paciente a lidar com questões
43
emocionais e comportamentais subjacentes ao transtorno alimentar.
No contexto dos transtornos alimentares, Nardi, Silva e Quevedo
(2021), apontam que os pacientes frequentemente sofrem de
comorbidades psiquiátricas,
44

como transtornos de humor e de ansiedade, o que justifica o uso de


psicofármacos como parte do tratamento. Os ISRS, por exemplo, têm se
mostrado eficazes em melhorar o humor dos pacientes e reduzir os
impulsos de compulsão alimentar. No entanto, é necessário um
acompanhamento psiquiátrico regular para ajustar as doses e minimizar
possíveis efeitos colaterais. O tratamento com psicofármacos deve ser
personalizado, levando em consideração a complexidade de cada caso e
as interações medicamentosas que podem ocorrer.
Appolinario, Nunes e Cordás (2021), reforçam a importância do
diagnóstico preciso no manejo dos transtornos alimentares, destacando
que o tratamento farmacológico não deve ser negligenciado,
especialmente nos casos em que os sintomas psíquicos comprometem a
qualidade de vida do paciente. O uso de antidepressivos e estabilizadores
de humor pode ser um complemento eficaz à psicoterapia, ajudando a
estabilizar as emoções e controlar comportamentos autodestrutivos. O
sucesso do tratamento, porém, depende de uma equipe multidisciplinar
que inclua psiquiatras, psicólogos e nutricionistas, trabalhando em
conjunto para tratar tanto os aspectos físicos quanto os psicológicos do
transtorno alimentar.
O uso de antipsicóticos também é mencionado como uma opção em
alguns casos de transtornos alimentares, particularmente em pacientes
que apresentam sintomas psicóticos ou alterações graves de humor, como
enfatizam Nardi, Silva e Quevedo (2021). Esses medicamentos ajudam a
regular o comportamento e a estabilizar os sintomas de pacientes que não
respondem bem aos antidepressivos convencionais. Contudo, é preciso
cautela no uso de antipsicóticos devido aos possíveis efeitos colaterais,
como ganho de peso e alterações metabólicas, que podem agravar o
quadro clínico dos pacientes com transtornos alimentares.
Lisboa e Colli (2021), também abordam a questão do uso prolongado
de benzodiazepínicos, destacando a importância da atenção farmacêutica
para evitar a dependência química e garantir que o tratamento com esses
medicamentos seja restrito ao período necessário. No tratamento de
transtornos alimentares, o uso desses ansiolíticos pode ser indicado para
tratar episódios agudos de ansiedade, comuns em pacientes que
enfrentam crises de compulsão alimentar ou distúrbios de imagem
45
corporal. Contudo, seu uso deve ser controlado para evitar que o paciente
desenvolva dependência, o que complicaria ainda mais o quadro clínico.
46

A revisão de literatura realizada por Appolinario, Nunes e Cordás


(2021) também menciona o papel dos estabilizadores de humor no
tratamento de transtornos alimentares, especialmente em pacientes
que apresentam flutuações emocionais intensas e instabilidade no
controle de impulsos. Esses medicamentos podem ajudar a equilibrar os
níveis de serotonina no cérebro, proporcionando um efeito calmante que
reduz a necessidade de recorrer à alimentação como forma de lidar com o
estresse ou as emoções negativas. No entanto, o tratamento com
estabilizadores de humor deve ser acompanhado de perto, considerando
os possíveis efeitos colaterais e a resposta individual de cada paciente ao
medicamento.
Pimentel e Resende (2022) destacam que, para o tratamento de
transtornos alimentares ser eficaz, é importante que os psicofármacos
sejam combinados com psicoterapia. A integração de abordagens
psicofarmacológicas e psicoterapêuticas tem mostrado resultados
promissores na redução de episódios de compulsão alimentar e na
melhora da qualidade de vida dos pacientes.
No tratamento dos transtornos alimentares, é imprescindível uma
abordagem personalizada, que leve em consideração as características
únicas de cada paciente, como o histórico de saúde mental e as condições
associadas. Conforme apontado por Nardi, Silva e Quevedo (2021), os
pacientes que apresentam sintomas graves ou comorbidades
psiquiátricas, como depressão ou transtornos de ansiedade, podem se
beneficiar do uso combinado de psicofármacos e intervenções
psicoterapêuticas.

Intervenções psicanalíticas no tratamento de compulsividade


alimentar associada a traumas de infância

A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, constitui-se como um


método clínico voltado à investigação dos processos inconscientes que
influenciam diretamente os comportamentos e estados psíquicos
manifestos. No tratamento de compulsões alimentares, particularmente
em indivíduos que vivenciaram traumas de abandono na infância, a
psicanálise oferece uma abordagem profunda para a compreensão dos
47
mecanismos inconscientes subjacentes a esse quadro.
O tratamento da compulsão alimentar em indivíduos que
vivenciaram traumas de abandono na infância pode ser significativamente
enriquecido por intervenções psicanalíticas. A psicanálise, enquanto
método terapêutico, busca acessar o
48

inconsciente e promover a compreensão das dinâmicas emocionais que


sustentam comportamentos disfuncionais. Nesse contexto, a interpretação
dos desejos inconscientes emerge como uma estratégia central para lidar
com a compulsão alimentar, permitindo que o paciente conecte seus
comportamentos alimentares a conflitos emocionais subjacentes (Freud,
1905).
A interpretação dos desejos inconscientes proporciona ao paciente a
oportunidade de tomar consciência de suas motivações mais profundas,
frequentemente relacionadas à sua história de abandono. Klein (1996)
observa que a compreensão das ansiedades internas e das fantasias
associadas ao alimento pode revelar como as experiências de rejeição
influenciam o comportamento alimentar. Dessa forma, a análise das
relações internas do paciente pode levar a uma reinterpretação de sua
relação com a comida, desafiando a ideia de que a alimentação é um
mero ato físico e destacando seu papel como um meio de lidar com a dor
emocional.
Uma abordagem essencial no tratamento é a reconstrução da
relação mãe-filho dentro do espaço terapêutico. A figura materna é
fundamental para o desenvolvimento psíquico da criança, e a falta de um
vínculo saudável pode gerar diversas dificuldades emocionais na vida
adulta. A terapia pode proporcionar um ambiente seguro onde o paciente
é encorajado a explorar suas experiências de abandono e a trabalhar
através de suas emoções não resolvidas (Winnicott, 1965). A abordagem
winnicottiana enfatiza a importância do "espaço potencial", onde o
paciente pode vivenciar e expressar suas experiências de forma livre,
permitindo que novas formas de se relacionar com os outros e consigo
mesmo surjam.
O papel do terapeuta como figura de "segundo cuidador" também é
crucial nesse processo. Segundo Faimberg (2000), essa figura não
substitui a mãe, mas atua como um cuidador que oferece suporte
emocional consistente e seguro. O terapeuta deve estar atento à
transferência e à contratransferência, pois essas dinâmicas são
fundamentais para o processo de cura. A capacidade do terapeuta de criar
um vínculo seguro pode ajudar o paciente a revisitar e reprocessar as
experiências de abandono, promovendo uma nova compreensão e
49
integração emocional.
Uma das ferramentas centrais do tratamento psicanalítico é a
associação livre, que permite ao paciente verbalizar livremente seus
pensamentos e sentimentos, sem censura, o que possibilita a
emergência de conteúdos reprimidos. No contexto da
50

compulsão alimentar, essa técnica pode revelar memórias e afetos


vinculados à sensação de desamparo e abandono. Tais experiências
precoces, muitas vezes não elaboradas, tendem a se manifestar através
de uma relação simbólica com a comida, utilizada como substituto para a
satisfação emocional e como uma tentativa de preenchimento do vazio
afetivo (Benevides, 2019).
Outra técnica fundamental é a interpretação dos sonhos,
considerada por Freud como uma via privilegiada de acesso ao
inconsciente. A análise dos sonhos permite identificar, de forma simbólica,
desejos, medos e conflitos que estão reprimidos na vida consciente. No
caso de indivíduos com compulsão alimentar, os sonhos podem ser
expressões metafóricas dos traumas de abandono e de carências afetivas
não resolvidas, que, quando compreendidos, possibilitam ao paciente
integrar esses conteúdos inconscientes, ressignificando sua relação com o
afeto e, por consequência, com o alimento (Freud, 1905).
O conceito de transferência desempenha também um papel
fundamental no processo psicanalítico. Nesse fenômeno, o paciente
projeta no analista emoções e expectativas originadas em suas relações
primárias, particularmente com figuras parentais. Para pacientes que
sofreram abandono, a figura do analista pode ser percebida, de maneira
inconsciente, como um substituto parental. Através da transferência, o
paciente revivência antigos padrões de relacionamento, proporcionando
ao analista a oportunidade de intervir e ressignificar esses padrões.
Através dessa dinâmica, o paciente pode gradualmente reconstruir suas
vivências emocionais e modificar a forma como lida com a falta afetiva,
incluindo a compulsão alimentar, que muitas vezes opera como um
mecanismo compensatório para a ausência de vínculos emocionais
seguros (Kabat-Zinn, 1990).
Por fim, o tratamento psicanalítico visa a elaboração e integração
dos traumas. O sintoma da compulsão alimentar é abordado não apenas
como um comportamento isolado, mas como parte de uma estrutura
psíquica mais ampla, permeada por conflitos internos e pulsões
inconscientes. A compreensão dessas dinâmicas profundas permite ao
paciente reconstituir simbolicamente suas experiências traumáticas,
especialmente aquelas ligadas ao abandono e à privação emocional.
51
Através desse processo de elaboração, ocorre uma transformação na
relação do paciente consigo mesmo e com o outro, permitindo uma
reorganização psíquica que
52

não apenas reduz os sintomas, mas promove uma reestruturação


interna que favorece um estado de equilíbrio psíquico mais saudável e
sustentável (Yager, 2010).
Ademais, as intervenções psicanalíticas são fortalecidas pela
compreensão das dinâmicas de transferência e contratransferência. Esses
fenômenos são fundamentais para o processo terapêutico, pois oferecem
insights sobre as relações interpessoais e os conflitos emocionais que se
manifestam na terapia. A transferência refere-se ao fenômeno pelo qual o
paciente projeta sentimentos, expectativas e experiências passadas em
relação ao terapeuta, frequentemente baseados em figuras parentais.
Essa projeção é um mecanismo que pode trazer à tona emoções não
resolvidas e conflitos originados na infância, especialmente em casos de
abandono afetivo (Freud, 1912). Durante o tratamento, a transferência
possibilita que o paciente reviva experiências emocionais, proporcionando
um espaço para que ele possa explorar e reformular suas vivências. A
análise dessas dinâmicas é essencial para a compreensão das raízes de
sua compulsão alimentar, permitindo uma abordagem mais direcionada e
eficaz (Laplanche; Pontalis, 1991).
A contratransferência, por sua vez, refere-se às reações emocionais
do terapeuta em resposta à transferência do paciente. Essa dinâmica pode
ser uma fonte valiosa de informações sobre as emoções e conflitos do
paciente, pois as reações do terapeuta frequentemente refletem os
sentimentos do paciente em relação às suas próprias experiências
emocionais (Bion, 1962). A habilidade do terapeuta em reconhecer e
manejar essas reações é crucial para o sucesso do tratamento, uma vez
que as emoções do terapeuta podem influenciar a forma como a terapia
se desenrola. A supervisão clínica é uma ferramenta essencial para
auxiliar os terapeutas a lidarem com as complexidades da
contratransferência, permitindo que utilizem essas experiências como um
recurso terapêutico (Gabbard, 1994).
A compreensão do abandono afetivo e suas implicações é
fundamental para o tratamento da compulsão alimentar. O abandono
afetivo materno, que se refere à falta de afeto, cuidado e atenção por
parte da figura materna, pode resultar em um desenvolvimento psíquico
comprometido. Esse déficit afetivo pode levar a dificuldades na formação
53
do ego, na capacidade de lidar com frustrações e no desenvolvimento de
vínculos emocionais saudáveis. Teorias como as de Bowlby (1969), que
enfatizam a importância do apego na infância, ilustram como a ausência
de uma figura materna afetuosa pode resultar em problemas emocionais e
comportamentais na vida adulta.
54

O apego inseguro, por exemplo, pode predispor o indivíduo a buscar


compensações emocionais em comportamentos disfuncionais, como a
compulsão alimentar, que se tornam um mecanismo de enfrentamento
frente à dor emocional.
A psicanálise propõe intervenções que visam ressignificar as
experiências de abandono e promover um entendimento mais profundo
das emoções relacionadas à alimentação. A interpretação dos desejos
inconscientes é uma abordagem terapêutica utilizada para explorar a
relação entre os sentimentos de abandono e os comportamentos
alimentares compulsivos. Ao trazer à consciência esses desejos e emoções
reprimidas, o paciente pode começar a compreender as motivações por
trás de seus comportamentos alimentares, permitindo uma reestruturação
emocional e a adoção de novos padrões de comportamento (Pereira et al.,
2022).
Outro aspecto relevante na intervenção psicanalítica é a
reconstrução da relação mãe-filho na terapia. Essa abordagem concentra-
se em revisar e reinterpretar a dinâmica da relação materna, permitindo
que o paciente lide com as feridas emocionais do passado. A terapia
oferece um espaço seguro onde o paciente pode explorar suas
experiências de abandono e trabalhar na construção de um vínculo mais
saudável, não apenas consigo mesmo, mas também em suas relações
interpessoais. A figura do terapeuta pode ser vista como um "segundo
cuidador", oferecendo apoio e segurança emocional que podem ter faltado
na infância. Essa nova relação terapêutica pode funcionar como um
modelo para o paciente, promovendo um sentimento de acolhimento e
segurança que é fundamental para a cura emocional (Benevides, 2019).
Segundo Kabat-Zinn (2004), a promoção de um suporte social
adequado e a participação em grupos de apoio podem complementar o
tratamento psicanalítico. Esses grupos oferecem um espaço para a
partilha de experiências e a construção de vínculos significativos, que
podem ser particularmente benéficos para aqueles que lidam com
traumas de abandono. A interação com outros que vivenciaram
experiências similares pode ajudar a reduzir o isolamento emocional e a
solidão, que muitas vezes acompanham a compulsão alimentar.
55

3. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia deste estudo foi fundamentada em uma revisão


bibliográfica da literatura. A revisão foi conduzida em quatro bases de
dados principais: Lilacs, Periódicos CAPES, SciELO e PubMed. Foram
selecionados estudos publicados entre 2010 e 2024, garantindo a
atualidade e a relevância dos dados analisados. Justifica- se a escolha
desse período devido à escassez de materiais publicados nos últimos cinco
anos (2019-2024) que abordassem diretamente o Transtorno de
Compulsão Alimentar (TCA) sob a perspectiva da afetividade e do
abandono materno. Essa delimitação temporal foi necessária para
assegurar uma base sólida e representativa de estudos teóricos e
empíricos relevantes.
O foco da pesquisa centrou-se na coleta de artigos que abordassem
diretamente a relação entre o abandono afetivo materno, as experiências
traumáticas na infância e o desenvolvimento do TCA, com especial
atenção às intervenções psicanalíticas voltadas para essas questões.
Os critérios de inclusão adotados foram: (a) publicações entre 2010
e 2024, assegurando a contemporaneidade das informações; (b) estudos
que abordassem diretamente a relação entre o abandono afetivo materno
e os transtornos alimentares, com ênfase no TCA; (c) a consideração de
aspectos psicanalíticos na análise do impacto emocional do abandono. Os
critérios de exclusão compreenderam estudos que se restringissem a
discussões teóricas sobre transtornos alimentares sem análise empírica ou
prática do impacto do abandono afetivo, bem como artigos que não
mencionassem especificamente a relação entre o abandono afetivo
materno e a compulsão alimentar.
Após aplicar os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionadas
61 referências, compostas por 28 livros e 33 artigos científicos. Os livros
foram escolhidos por sua relevância teórica e aprofundamento nos
conceitos psicanalíticos relacionados ao abandono afetivo e seu impacto
56
emocional na infância. Essas obras forneceram uma base sólida para a
discussão teórica, especialmente no que diz
57

respeito ao desenvolvimento do Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA)


sob uma perspectiva psicanalítica.
Já os artigos científicos foram selecionados pela atualidade e por
conterem estudos empíricos que relacionam diretamente o trauma do
abandono materno com o desenvolvimento de transtornos alimentares. A
combinação desses materiais permitiu uma análise rica e equilibrada,
unindo fundamentos teóricos clássicos com evidências contemporâneas, o
que contribuiu para a profundidade e a qualidade da revisão realizada.
58

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A compulsividade alimentar, caracterizada pelo consumo excessivo


de alimentos e perda de controle, é um mecanismo de enfrentamento
emocional em indivíduos com traumas de abandono afetivo materno.
Estudos indicam que a negligência emocional na infância contribui para
comportamentos alimentares desordenados, sendo a compulsão uma
resposta comum (Santos; Santos, 2023). Essa compulsão atua como um
preenchimento simbólico de um vazio emocional gerado pela falta de
vínculos afetivos. O trauma de abandono materno impacta profundamente
o desenvolvimento psíquico e emocional, sendo um fator central na
gênese de transtornos emocionais e comportamentais. Benevides (2019)
ressalta que o abandono na infância desorganiza o senso de segurança,
prejudicando a capacidade de estabelecer relações saudáveis no futuro.
O abandono afetivo materno refere-se à falta de suporte emocional,
manifestando-se na negligência das necessidades como carinho e
atenção. Esse conceito é essencial para o desenvolvimento psicológico
saudável da criança (Bowlby, 1982). O abandono não se limita à ausência
física, mas envolve a falta de uma conexão emocional significativa. A
teoria do apego, de Bowlby (1982), enfatiza a importância do vínculo
afetivo entre mãe e filho. O abandono pode levar a um apego inseguro,
dificultando a regulação emocional e a formação de relacionamentos
saudáveis (Ainsworth et al., 1978). O apego seguro é crucial para a
autoestima e confiança, e a ausência desse suporte pode predispor a
criança a problemas emocionais e comportamentais.
A literatura contemporânea indica que o abandono afetivo pode ser
precursor de diversas psicopatologias, como depressão e ansiedade.
Campos e Silva (2020) ressaltam que crianças que vivenciam esse
abandono frequentemente apresentam altos níveis de estresse e
vulnerabilidade emocional, manifestando dificuldades nas interações
sociais e na gestão das emoções, além de baixa autoestima e, em casos
59
extremos, transtornos de comportamento.
60

A compulsão alimentar, caracterizada por episódios descontrolados


de ingestão de alimentos, pode ser uma forma de lidar com a dor
emocional do abandono afetivo. Segundo a American Psychiatric
Association (APA, 2013), esse transtorno é frequentemente acompanhado
por culpa e vergonha, resultantes de tentativas de compensar a falta de
afeto e segurança. A ausência de uma base emocional estável pode levar
a criança a usar a comida como um meio de conforto, transformando a
alimentação em um mecanismo de enfrentamento disfuncional (Fava et al.,
2023).
Estudos indicam que a relação entre abandono afetivo e compulsão
alimentar é mediada por fatores como a regulação emocional e as
habilidades de enfrentamento. Crianças que não recebem o suporte
emocional necessário tendem a desenvolver estratégias de enfrentamento
menos adaptativas, utilizando os alimentos como forma de preencher o
vazio emocional (D’Ávila et al., 2005). Dessa forma, a compulsão alimentar
pode ser vista como um reflexo da busca por afeto e validação não
supridos durante a infância.
Pesquisas têm demonstrado uma correlação significativa entre
experiências de abandono afetivo e a manifestação de padrões
alimentares disfuncionais. Fava et al., (2023), afirmam que crianças que
vivenciam abandono emocional frequentemente se tornam adultos com
dificuldades na regulação emocional, o que resulta em comportamentos
alimentares prejudiciais. Nesse contexto, a compulsão alimentar é
frequentemente utilizada como uma tentativa de regular estados
emocionais desconfortáveis, evidenciando uma busca contínua por um
conforto que nunca foi adequadamente oferecido.
A intervenção precoce em casos de abandono afetivo materno é
crucial para reduzir os impactos negativos no desenvolvimento psicológico
da criança. Programas de parentalidade positiva e terapia familiar têm se
mostrado eficazes em restaurar vínculos afetivos saudáveis, promovendo
o equilíbrio emocional e prevenindo transtornos associados ao abandono
(Guisso et al., 2019).
A ausência de afeto materno impacta profundamente o
desenvolvimento do ego da criança, prejudicando sua capacidade de lidar
com frustrações e criando padrões de comportamento disfuncionais. A
61
psicanálise, especialmente pelas contribuições de John Bowlby e Jacques
Lacan, oferece uma perspectiva valiosa para entender essas dinâmicas. A
teoria do apego de Bowlby (1982) destaca que a relação mãe-filho é
crucial para a formação do ego, pois é por meio desse vínculo que a
criança
62

desenvolve suas capacidades emocionais e sociais. Quando a mãe não


fornece o suporte afetivo necessário, a criança pode sofrer um déficit
emocional que compromete seu desenvolvimento psicológico.
O apego seguro é essencial para um ego saudável, enquanto a falta
de afeto materno resulta em apego inseguro, dificultando a regulação
emocional e a formação da identidade (Ainsworth et al., 1978). Essa
fragilidade torna a criança vulnerável a frustrações e busca compensações
externas. O abandono emocional gera insegurança duradoura e afeta
interações sociais. Na perspectiva lacaniana, a ausência de cuidado
materno é uma "falta" que marca o sujeito, com Lacan (1966) sugerindo
que o desejo gira em torno dessa falta, levando a comportamentos
alimentares como substituto para a satisfação emocional não vivida. Essa
busca reflete a dificuldade de integrar desejo e frustração, essenciais para
o desenvolvimento do ego.
A relação entre o ego, a frustração e a compulsão alimentar é
complexa. A criança que não recebe o afeto materno adequado pode
desenvolver uma relação disfuncional com a alimentação, utilizando-a
como uma estratégia para lidar com suas emoções e frustrações (Bowlby,
1982; Lacan, 1966). O ato de comer pode proporcionar uma sensação
temporária de alívio, funcionando como um mecanismo de enfrentamento
que, a longo prazo, pode evoluir para o desenvolvimento de transtornos
alimentares.
A teoria da privação emocional sugere que a falta de suporte
emocional na infância pode gerar ansiedade e comportamentos
alimentares compulsivos. Sehn e Lopes (2019) afirmam que crianças sem
afeto materno têm dificuldades em regular emoções, usando a comida
como alívio temporário. Essa relação entre afeto e alimentação é
fundamental para entender a compulsão alimentar. A ausência de um
modelo saudável de regulação emocional leva a estratégias inadequadas,
como o uso da alimentação para lidar com a dor emocional, perpetuando
comportamentos compulsivos na vida adulta.
Silva e Gomes (2023) destacam que a falta de apoio emocional está
ligada ao aumento de comportamentos alimentares disfuncionais. A
ausência de um vínculo seguro com a mãe compromete o
desenvolvimento do ego e facilita transtornos alimentares. A psicanálise
63
sugere que a identidade está relacionada à capacidade de lidar com a
frustração. Lacan (1966) argumenta que a experiência da falta é central
64

para o desejo, e a ausência de afeto pode desestabilizar essa dinâmica,


levando à busca compulsiva por objetos de satisfação. Assim, a compulsão
alimentar pode ser vista como uma tentativa de preencher o vazio
emocional gerado pela falta de um vínculo afetivo seguro na infância.
Segundo Vale e Elias (2011) a necessidade de intervenções
terapêuticas que abordem as dinâmicas emocionais subjacentes aos
comportamentos alimentares compulsivos torna-se evidente. A terapia
psicanalítica pode proporcionar um espaço seguro para que o indivíduo
explore suas experiências de abandono e reconstrua sua relação com a
alimentação, promovendo um ambiente favorável à expressão emocional.
O tratamento deve focar na restauração do ego e no desenvolvimento de
novas estratégias de enfrentamento que não dependam da alimentação
como fonte de alívio.
Essa falta de segurança emocional pode gerar um profundo
desamparo, que o indivíduo tenta compensar com comportamentos
compulsivos, como o consumo exagerado de alimentos. O alimento se
torna um substituto simbólico para o afeto materno ausente, e comer
compulsivamente é uma tentativa inconsciente de restaurar a sensação
de acolhimento e pertencimento. Na psicanálise contemporânea, a
compulsividade alimentar é vista como uma defesa contra o sofrimento
emocional causado pelo abandono (Benevides, 2019).
O trauma precoce afeta a capacidade de lidar com frustrações e
angústias, levando o indivíduo a buscar na comida um alívio temporário.
Esse ciclo de compulsão e culpa se repete, reforçando o comportamento
desordenado. O comportamento compulsivo pode ser interpretado como
uma repetição, onde o indivíduo tenta inconscientemente reviver e
superar o trauma inicial. Contudo, essa satisfação é fugaz, resultando em
culpa e frustração (Bloc, 2019).
O impacto do abandono materno é evidente nas teorias de apego,
onde o estilo de apego inseguro resulta da negligência afetiva (Fava et al.,
2023). A teoria do apego de John Bowlby destaca a importância dos
primeiros relacionamentos na formação da personalidade e dos padrões
de comportamento. Crianças em ambientes com cuidado emocional
inconsistente ou ausente tendem a desenvolver relações disfuncionais
com a comida, usando-a como fonte de conforto e segurança.
65
Segundo Farah e Castanho (2018) a comida se transforma em um
meio de preencher a necessidade de segurança e pertencimento que
não foi atendida na
66

relação materna. Esse padrão comportamental, desenvolvido na infância,


pode se estender até a vida adulta, manifestando-se como compulsão
alimentar. O ciclo de apego inseguro é, portanto, uma peça central na
compreensão das bases psíquicas que sustentam o comportamento
alimentar compulsivo.
Fava et al. (2023) mostram que traumas emocionais, como o
abandono materno, estão ligados à compulsividade alimentar. A
negligência precoce afeta as estruturas psíquicas responsáveis pela
autorregulação emocional, levando o indivíduo a buscar conforto na
comida. Esse comportamento, reforçado ao longo da vida, torna- se
habitual para lidar com estresse e ansiedade, perpetuando um ciclo
vicioso que agrava sentimentos de inadequação e desconforto emocional.
A intervenção psicanalítica é eficaz no tratamento da compulsão
alimentar, abordando a relação simbólica entre o alimento e as
experiências afetivas iniciais, conforme aponta Benevides (2019). O
terapeuta ajuda o paciente a compreender como o trauma de abandono
materno afeta seu comportamento alimentar, facilitando a reestruturação
emocional e a elaboração do trauma, o que diminui a necessidade de usar
a comida como defesa.
Santos e Santos (2023) destacam a importância de um ambiente
terapêutico seguro, onde o paciente possa revisitar suas experiências
traumáticas sem julgamentos. A transferência permite a reconstrução
saudável das relações afetivas, promovendo a cura do trauma e o controle
da compulsão alimentar. Assim, o espaço terapêutico se torna um local de
contenção, onde o paciente pode elaborar suas angústias relacionadas ao
abandono e desenvolver relações mais saudáveis consigo mesmo e com
os outros.
A compulsividade alimentar em indivíduos com abandono afetivo
materno deve ser tratada com foco em questões inconscientes e
regulação emocional. Benevides (2019) destaca que a cura envolve não
apenas a modificação do comportamento alimentar, mas também a
elaboração das emoções ligadas ao trauma, promovendo uma relação
mais saudável com a comida e consigo mesmo. A terapia psicanalítica
oferece um espaço para explorar dinâmicas inconscientes, utilizando
técnicas como análise dos sonhos e livre associação para conectar
67
comportamentos alimentares a experiências emocionais. O objetivo é
reestruturar a relação do sujeito com suas emoções, promovendo uma
regulação emocional mais saudável (Polivy; Herman, 2002).
68

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre o abandono afetivo materno e o desenvolvimento do


Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA) evidencia como experiências
emocionais precoces impactam o comportamento alimentar e a saúde
emocional. O estudo indica que a privação emocional na infância,
especialmente no vínculo com a mãe, pode levar os indivíduos a buscar na
comida uma forma de compensação para lidar com sentimento de vazio e
insegurança. Assim, a compulsão alimentar surge como uma tentativa
inconsciente de preencher lacunas afetivas não atendidas.
As intervenções psicanalíticas mostram-se fundamentais para
abordar o TCA, ao focar nas dinâmicas inconscientes que moldam o
comportamento compulsivo. A análise psicanalítica permite que o paciente
explore suas vivências emocionais reprimidas e compreenda como essas
experiências influenciam sua relação com o alimento. Ao acessar essas
camadas mais profundas da psique, o paciente pode elaborar o trauma
relacionado ao abandono materno e reestruturar sua percepção de afeto e
segurança, promovendo um processo de cura emocional mais sólido.
A psicanálise não apenas oferece uma compreensão mais ampla dos
fatores emocionais envolvidos, mas também facilita a criação de novas
formas de regulação emocional e enfrentamento, sem recorrer à comida
como mecanismo de defesa. Esse processo terapêutico contribui para que
o indivíduo aprenda a identificar e expressar suas necessidades
emocionais de maneira mais saudável, rompendo o ciclo destrutivo da
compulsão alimentar.
A relevância de novas pesquisas nessa área é inegável,
considerando a escassez de estudos que relacionem diretamente o
abandono afetivo materno ao desenvolvimento do Transtorno de
Compulsão Alimentar (TCA). Investigações mais aprofundadas podem não
apenas fornecer maior embasamento teórico, mas também contribuir para
a identificação precoce de crianças em risco devido à privação emocional,
69
minimizando os impactos negativos ao longo da vida. Além disso, tais
estudos são essenciais para ampliar a compreensão dos profissionais de
saúde sobre
70

a complexidade desse transtorno e suas raízes emocionais, promovendo


práticas clínicas mais integrativas e humanizadas.
Conclui-se que o tratamento da compulsão alimentar em indivíduos
afetados pelo abandono materno deve considerar as profundas
implicações emocionais desse trauma. A psicanálise, ao promover uma
reestruturação das dinâmicas emocionais e comportamentais, oferece ao
paciente a possibilidade de se libertar dos padrões desadaptativos e
desenvolver uma relação mais equilibrada consigo mesmo e com o
alimento. Ao final do processo terapêutico, o indivíduo não apenas
enfrenta o transtorno alimentar, mas também reconstrói sua capacidade
de estabelecer vínculos afetivos saudáveis, fundamentais para o seu bem-
estar emocional.
71

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