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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Economia
UNICAMP

A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS GRANDES EMPRS~ 'i


BRASILEIRAS DE CAPITAL NACIONAL NOS ANOS ey

Maria Lussieu da Silva

Tese de Doutoramento apresentada


ao Instituto de Economia da UNICAMP
para obtenção do título de Doutor em
Ciências Econômicas - área de
concentração Política Econômica, sob
a orientação do Prof Dr. Mariano
Francisco Laplane.

Este exemplar cor·responde ao ortginal


da tese de{endtda por .ltaria Lussieu da
Silva em 1510312002 e orientada pelo

I
Prof. Dr. Mariano Fra11cisco·_,.-..-""'

Campinas. 2002

UNICAMP
BIBLIOTECA CENTRAL
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO


CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO INSTITUTO DE ECONOMIA

Silva, Maria Lussieu da.


Si38i A internacionalização das grandes empresas brasileiras de ca-
pital nacional nos anos 90 I Maria Lussieu da Silva. -Campinas,
SP : [s.n.], 2002.

Orientador: Mariano Francisco Laplane.


Tese (Doutorado) -Universidade Estadual de Campinas.
Instituto de Economia. ~

1. Comercio exterior. . Exportação. 3. Empresas de capital


nacional. 4 Empresas in ustriais- Brasil. I. Laplane, Mariano
Francisco. 11. Universida e Estadual de Campinas. Instituto de
Economia. 111. Título.
111

"Não há fatos eternos, como


não há verdades absolutas"

(Nietzsche)

UNiCAMP
BIBLI OTECA CENTRAL
SEÇÃO cmCULANTE
v

Para Carlos Alberto (in memorian) , incentivo


maior da minha vida acadêmica, por mais um 'sonho-
objetivo' realizado; Aos Meus Pais, mestres iniciais da
minha vida, pelo esforço incansável que se refletiu nos
objetivos alcançados; Ao Cláudio, Luciene e
Claudeci, meus irmãos, pela alegria do convívio; Ao
Edvânio, em especial, pelo apoio e compreensão,
fundamentais à constante renovação de forças e
incentivos ao longo de nossa convivência.
vu

AGRADECIMENTOS

Esta tese só foi viabilizada mediante a conjugação de apoios institucional e de


pessoas, no campo acadêmico, profissional e pessoal. Durante a sua elaboração,
muitos contribuíram para que ela chegasse ao seu final, dando demonstrações de
amizade e paciência em muitos momentos e incentivando com palavras de confiança e
estímulo - muitas vezes necessárias no desenvolvimento de uma tarefa tão árdua.
Impossível agradecer a todos; mas, mesmo correndo riscos de cometer injustiças,
gostaria de demonstrar minha gratidão.

Ao Professor Mariano Laplane, em especial, que orientou este trabalho com


extrema dedicação e por se fazer presente desde sempre, com seu apoio incondicional
e sua compreensão permanente. Sua capacidade intelectual e as discussões
realizadas ao longo desses anos muito contribuíram para o meu aprendizado
acadêmico e profissional.

Aos professores Antônio Carlos de Macedo e Júlio Sérgio de Almeida, pelas


contribuições feitas durante o exame de qualificação.

Ao Célio Hiratuka, pelos vários momentos em que as trocas de idéias


contribuíram para a elaboração do trabalho.

Ao Edvânio, pelo seu apoio constante. A sua dedicação e o auxílio nos diversos
momentos do trabalho foram essenciais para que tudo terminasse bem.

A Rildeci e Rogério, pela amizade e incentivo e pelo apoio inicial em Campinas.


vi i i

Aos amigos especiais Márcia e André; Cristina e Cláudio (meus afilhados); Carla,
Leonardo e Giulia; Marcilene e Eneuton, pela saudável convivência e afeto que nos
acompanha. Aos amigos que se tornaram importantes ao longo dos anos em
Campinas, Graça, Noemi, Camilo, Cid, Alfredo e Nágela, Lenice e Mauro, Glenda,
Simone.

Aos amigos distantes, Marconi e Lindaura, que se mostraram sempre prontos a


ajudar, independentemente de onde e como se encontravam no momento em que a
eles recorri.

As pessoas que se mostraram dispostas a me auxiliar, cada uma delas de forma


e em momentos diferentes, em especial: Cida (o anjo da guarda) e Alberto (da
Secretaria Acadêmica do IE), Almira, Lurdes e Dora (do CEDOC), Pedro (do NEIT),
Daniel, Conceição, Zé e Bia (do xerox), D. Judith e D. Isabel (funcionárias do Instituto
de Economia).

As instituições UFRN, CAPES e UNICAMP, que me deram as condições


necessárias para a realização do meu curso de doutoramento.
ix

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....... ....... .... ........................................ ...... ........ ....... .... ........ ........... .. ......... 1

1. A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS ........... 7

1.1. 0 PARADIGMA ECLÉTICO ................ ... ........................... ... ..................... ...... ........... 13
1.2. CONSIDERAÇÓES GERAIS ACERCA DA INTERNACIONALIZAÇÃO PRODUTIVA DE
EMPRESAS DE PAÍSES EM DESENVOLVIMENT0 .......... .... ... ..... .... .............. .................. ....... 23

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DE UMA DÉCADA DE MUDANÇAS ........................ 37

2.1. ASPECTOS MACROECONÓMICOS E IMPACTOS NA BALANÇA COMERCIAL .................... 37


2.2. MUDANÇAS NA ESTRUTURA EMPRESARIAL ... ........... .......... ............................... ....... 44

3. AS EMPRESAS NACIONAIS NA REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA NOS ANOS


90 ...................... ..... ...... .. ........ .......... ......... ................ ........ ... ....... ..................... .............. 49

3.1 . A REESTRUTURAÇÃO DAS EMPRESAS NACIONAIS .... ..... ..... ...... ... .......... ... .... ... ...... .... 49
3.2. AS EMPRESAS NACIONAIS NA CúPULA EMPRESARIAL 8RASILEIRA ............ ... .... .......... 52
3.3. AS GRANDES EMPRESAS NACIONAIS NO COMÉRCIO ExTERIOR ......... .. ....................... 56

4. A INTERNACIONALIZAÇÃO COMERCIAL E PRODUTIVA DAS EMPRESAS DE


CAPITAL NACIONAL ............................................................ ..... ........ ......... .................. .61

4.1. AS CARACTERISTICAS DAS EMPRESAS NACIONAIS SELECIONADAS ..... ... ...... ............. 61
4.2. A INTERNACIONALIZAÇÃO COMERCIAL COEFICIENTES DE ABERTURA DAS EMPRESAS
NACIONAIS................ .......................................... .. ......... ............... ................................ 77
4.2.1. Classificação do Painel a partir dos Coeficientes de Abertura das Empresas ... 79
4.2.2. Classificação do Painel em Setores lndustriais ....... ......... .................... ........ 88
4.3. A INTERNACIONALIZAÇÃO PRODUTIVA: INVESTIMENTOS DAS EMPRESAS DE CAPITAL
NACIONAL NO ExTERIOR ... ............ ....................................................................... .......... 97

5. UMA TENTATNA DE INTERPRETAÇÃO ......... ............. ............................ .. .......... 113

6. REFERtNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................... ............................................ ...... 123

ANEXOS ................................ ................................................................................. ..... 135


xi

Lista de Tabelas

Tabela 01 - Participação do Brasil nas Exportações Mundiais de Bens, 1990-1999 40


Tabela 02- Balança Comercial Brasileira, 1989- 1999.. .... .... ................................... 41
Tabela 03 - Exportações por Valor Agregado...................................... ....................... 42
Tabela 04 - Número de Transações de Fusões e Aquisições Efetuadas entre 1992
e 1998, por Setor de Atividade................... ....... ....... .............. ....... ........ .. 44
Tabela 05- Propriedade das 100 Maiores Empresas Não-Financeiras no Brasil,
1990 -1998.... ..... .......... ......... ........ ............................. .. ...... ......... ............. 46
Tabela 06- Dados Gerais do Número de Empresas Nacionais e Vendas nas 500
Maiores..... ............................................................................................... 55
Tabela 07- Crescimento do Comércio Exterior do Brasil e Regiões do Mundo,
1990 -1998...... .......... .. .. .............................................. ....................... .. .... 56
Tabela 08- Saldo Comercial das 500 Maiores Empresas Privadas........................... 58
Tabela 09- Painel das Empresas Selecionadas - Números de Empresas e
Vendas por Setor............................................. ................. ....................... 64
Tabela 10- Participação Relativa dos Principais Setores no Total das Exportações
e Importações do Painel..... .... ... ...... ............. ...... ................. ...... .............. 65
Tabela 11 - Comércio Exterior das Empresas Nacionais Selecionadas por Região.. 66
Tabela 12 - Comércio Exterior dos Principais Setores das Empresas Nacionais
Selecionadas por Região... ....... .... .. .... ............................ ......... .......... ...... 67
Tabela 13- Composição das Exportações e Importações das Empresas Nacionais
Selecionadas por Regiões e Tipo de Produtos, 1997.......... .. ....... .. ....... . 72
Tabela 14- Composição das Exportações e Importações das Empresas Nacionais
Selecionadas por Tipo de Produtos e por Regiões, 1997......... ......... ..... 75
Tabela 15- Indicadores Síntese do Painel por Grau de Internacionalização, 1989 e
1997......... .......................... ... ............. .................... .......... ...... ............. .. .. 79
Tabela 16- Indicadores Síntese do Painel de Empresas Agrupadas por Setores,
por Grau de Internacionalização 1989 e 1997..... .. ...... .................... ... ..... 89
Tabela 17- Investimento Estrangeiro Direto lntra-Regional de 1990 a 1999............. 107
xiii

Lista de Gráficos
Gráfico 01 - Participação das Empresas Nacionais entre as 500 Maiores...................... . 53
Gráfico 02 - Participação das Empresas Nacionais e Estrangeiras nas Vendas das
500 Maiores.................................................................................................. 54
Gráfico 03- Participação das Empresas Nacionais Selecionadas na Balança
Comercial Brasileira e nas 500 Maiores........................ ............................... 63
Gráfico 04 - Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de
Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Vendas,
1989....................................................................................... ........ ............... 82
Gráfico OS - Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de
Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Vendas,
1997.... ... ...... ...................... ......... ......................... .............. .............. ...... ...... 82
Gráfico 06 - Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de
Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Exportações,
1989..................................................................... ................................ ......... 83
Gráfico 07 - Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio ~r Grau de
Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Exportações,
1997.................................... .......................................................................... 83
Gráfico 08- Painel de Empresas Agrupadas por Setores: Coeficientes de Comércio
por Grau de Internacionalização, Ponderado pela Participação nas
Vendas, 1989.. ... .. ... . .. . ... .... . ... . .. .... ..... ... . .. . .. ..... . .. . ... .. . .. ... .. .. .. .... . .. .. ... ... . .. ..... . 94
Gráfico 09- Painel de Empresas Agrupadas por Setores: Coeficientes de Comércio
por Grau de Internacionalização, Ponderado pela Participação nas
Vendas, 1997........... ......... ............................... .............................. ............... 94
GráfiCo 10- Painel de Empresas Agrupadas por Setores: Coeficientes de Comércio
por Grau de Internacionalização, Ponderado pela Participação nas
Exportações, 1989........................................................................................ 95
Gráfico 11 - Painel de Empresas Agrupadas por Setores: Coeficientes de Comércio
por Grau de Internacionalização, Ponderado pela Participação nas
Exportações, 1997.............................. ... .. . .. ... . .. . ... .. ... .. .... ... .. .. . . .. . .. .. . .... .. .. .. .. 95
Gráfico 12 - Subsidiárias Instaladas no Exterior (amostra de 70 empresas),
1989/95.. .... .. .. ... .... ... ... . ..... ... . .. . .. ... .. .. ... .. ... .. .. . . .. . .. .... .. ... .... .. .. ... .. .. .. .. .. ... ... . .. .. 102
Lista de Quadros

Quadro 01- Internacionalização Avançada: Empresas, Produtos e Mercados de


Destino - 1997........................ .. . .............................. .. ................... ...... 85
Quadro 02- Internacionalização Incipiente: Empresas, Produtos e Mercados de
Destino - 1997............... ............... ....................... ... ................. ... ........ 86
Quadro 03- Internacionalização Não Internacionalizada: Empresas, Produtos e
Mercados de Destino - 1997.................................. ................. ...... ..... 87
Quadro 04- Evolução das Empresas Brasileiras no Mercado Internacional........ .. 105
xvii

RESUMO

A tese discute o grau e a direção do processo de internacionalização da


produção das empresas de capital nacional nos anos 90. O estudo em tela está
respaldado nos elementos concertuais subjacentes ao processo de internacionalização
bem como nas discussões acerca das transformações da economia brasileira na última
década, sobretudo àquelas relacionadas aos processos de abertura da economia e da
reestruturação da indústria. A análise ferta a partir dos dados de um painel de
empresas nacionais, selecionadas entre as 500 maiores do país, constatou que, com
raras exceções, o grau de internacionalização da produção das grandes empresas de
caprtal nacional é baixo, tanto sob a ótica da parcela da produção no Brasil que é
destinada ao exterior, via exportações, como pela ótica dos que produzem fora do país,
via investimentos diretos no exterior.
xix

ABSTRACT

The thesis concems the degree and direction of the process of


intemationalizatíon of the production of national capital in the 1990s.
The study is supported in its conceptual elements underlying the process of
intemationalization as well as in the discussions around the
transformations of the Brazilian economy in the last decade, especially
around those related to the processes of the opening up of the economy and
the restructuring of industry. The analysis is based on the data from the
boards of national companies, selected from among the 500 largest in the
country, and it shows that, with rare exceptions, the degree of
intemationalization of the production of the large companies with national
capital is low, as much from the point of view of the amount of production
in Brazil that is destined for export as from the point of view of what they
produce outside of the country by way of foreign investment.
INTRODUÇÃO

A economia mundial teve sua estrutura transformada pelo processo de


globalização (comercial e financeira) e apresentou nos anos 90 um cenário cada vez
mais competitivo, contribuindo para o surgimento de novas estratégias, principalmente
por parte das grandes empresas, como forma de enfrentar à concorrência internacional.
Tais estratégias não se limitaram a um aspecto específico, mas incorporaram desde
novos processos de produção até novas formas de gestão e atuação no cenário
mundial. Dentre outros fatores , cita-se por exemplo: a incorporação do novo padrão
tecnológico industrial, baseado principalmente na microeletrônica; as alianças
estratégicas; a busca de novos mercados por meio da inserção comercial ou do
investimento direto estrangeiro.

Nesse cenário se inserem principalmente as grandes empresas transnacionais,


que são responsáveis por uma produção com tendência ascendente e que pode ser
ilustrada pelos seguintes dados: o produto bruto das filiais (em tomo de 450.000) de
empresas estrangeiras em 1997 ultrapassou os 2 trilhões de dólares, o que representou
algo próximo dos 7% em termos de participação no PIB mundial (cerca de 30 trilhões
de dólares); suas vendas foram estimadas em 9,5 trilhões de dólares nesse mesmo ano
(UNCTAD, 1998). Esses dados retrataram o poder econômico dessas corporações na
economia mundial.
2

A partir das transformações ocorridas na economia mundial e da abertura da


economia, as empresas brasileiras de capital nacional tiveram que passar a conviver
com uma concorrência internacional intensa, apoiando-se em bases fragilizadas , em
função das próprias debilidades da economia brasileira. Vale salientar que a situação
das empresas nacionais também foi agravada em conseqüência das medidas
macroeconômicas adotadas ao longo dos anos 90, que influenciaram tanto os preços
relativos (em função da valorização cambial) quanto o custo do capital (em função das
elevadas taxas de juros domésticas), conduzindo a intenso processo de
desnacionalização da economia brasileira.

Esperava-se que a pressão competitiva resultante da abertura promovesse a


competitividade das empresas nacionais e das filiais estrangeiras e, desta forma,
melhorasse a inserção internacional da economia brasileira. Entretanto, mesmo com a
abertura da economia e com conseqüente reestruturação da indústria brasileira, a
composição das exportações do país, em sua maioria de produtos de baixo valor
adicionado, não mudou de forma expressiva mantendo-se a inserção comercial do país
como exportador de commodities agrícolas e industriais.

Se, por um lado, as grandes empresas de capital nacional não apresentaram


desempenho exportador capaz de reverter os déficits comerciais verificados após 1995;
por outro, a maioria das filiais de empresas estrangeiras estabelecidas no país se
voltaram principalmente para o mercado interno e não houve por parte delas qualquer
movimento no sentido de mudança de estratégias que favorecessem a balança
comercial brasileira, o que se refletiu no saldo comercial deficitário dessas empresas.

Parece inevitável concluir que a abertura comercial e financeira não apenas não
alterou significativamente a inserção do Brasil no mundo, pelo menos do lado das
exportações, como agravou o grau de fragilidade da economia, na medida em que os
déficits comerciais aumentaram a restrição externa ao crescimento.
3

Neste contexto, este estudo está centrado na discussão da internacionalização


da economia brasileira nos anos 90, a partir da análise da internacionalização das
grandes empresas privadas nacionais, como forma de observar a sua contribuição para
a mudança da inserção externa.

A relevância desta pesquisa decorre da necessidade de se analisar em que


direção caminhou a internacionalização das grandes empresas de capital nacional,
sobretudo porque é preciso ter uma visão do comportamento desses agentes diante de
um novo cenário. Em décadas passadas, o envolvimento internacional era visto pelas
empresas nacionais como uma espécie de 'válvula de escape' em função das restrições
recorrentes ao crescimento do mercado doméstico e atualmente pode ser considerado
como uma estratégia necessária para sobrevivência, dadas as novas características da
economia mundial.

Este trabalho sustenta que o grau de internacionalização das grandes empresas


brasileiras de capital nacional não se alterou significativamente após a abertura e que a
forma de internacionalização predominante continuou sendo a comercial. Em geral,
estas empresas continuam produzindo no país, exportam pouco e apresentam um
volume de importação também muito baixo. Os investimentos no exterior das grandes
empresas nacionais são ainda muito incipientes e normalmente estão vinculados à
necessidade de driblar os obstáculos que impedem a realização de sua atividade
comercial.

A escolha do "paradigma eclético" de Dunning, como referencial teórico para


analisar esta questão, se deve ao fato deste proporcionar um recurso analítico
adequado à discussão do tema, pois ele fornece os componentes necessários para a
compreensão abstrata dos elementos gerais presentes no processo de
internacionalização da produção.
4

De forma complementar recorreu-se às contribuições de Lall e Chudnovsky para


situar a discussão da internacionalização de empresas oriundas de países em
desenvolvimento, como uma forma de compreender as razões que permitem estas
empresas a buscarem com êxito o envolvimento internacional.

Para o desenvolvimento do estudo foram utilizados os dados oficiais de comércio


exterior por empresa divulgados pelo MDIC/SECEX. Além disso, foram utilizados os
dados da publicação da revista Exame Melhores e Maiores (vários anos), para
acompanhar o total de vendas das empresas brasileiras bem como o controle acionário
das mesmas, como forma de identificar as empresas privadas nacionais e estrangeiras.

O uso destas fontes permitiu estabelecer uma padronização da análise, quanto a


sistematização dos dados básicos da pesquisa, evitando-se trabalhar com informações
de fontes diferenciadas. Ademais, o cruzamento das informações obtidas destas fontes
possibilitou a apreensão do movimento da participação das empresas de capital
nacional no comércio exterior brasileiro.

Desse modo, foi possível estimar a importância e o perfil do comércio exterior


realizado pelas empresas de capital nacional, dando uma dimensão do grau de
internacionalização da produção alcançado por elas. Essa avaliação foi
complementada com informações qualitativas, de outras fontes, relativas aos
investimentos das grandes empresas nacionais no exterior, para avaliar também essa
outra forma de internacionalização da sua produção.

A tese está estruturada em quatro capítulos, além desta introdução, conforme


descritos abaixo.
5

O primeiro capítulo recupera os elementos conceituais que tentam explicar o


processo de internacionalização de uma forma abstrata nos países em desenvolvimento
em particular, com intuito de respaldar uma análise subseqüente acerca da inserção
internacional das empresas brasileiras de capital nacional.

O segundo capítulo discute os principais fatores que caracterizaram a evolução


da economia brasileira nos anos 90, com ênfase nos movimentos que conduziram a
uma determinada forma de internacionalização das grandes empresas nacionais.

O terceiro capítulo trata das empresas brasileiras de capital nacional a partir do


cenário da reestruturação industrial ocorrida nos anos 90, destacando a sua presença
entre as 500 maiores do país.

O quarto capítulo analisa os dados empíricos que subsidiaram nosso trabalho, no


sentido de avaliar o grau e a direção do processo de internacionalização das empresas
de capital nacional na última década e o seu impacto na balança comercial do país.

As principais conclusões do nosso trabalho serão apresentadas no capítulo final.


7

1. A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS

O objetivo deste capítulo é discutir de fonna abstrata os aspectos subjacentes ao


processo de internacionalização da produção, se reportando à literatura disponível,
tanto para os países desenvolvidos como para os países em desenvolvimento, como
uma tentativa de constituir elementos que possam dar suporte a análise desse processo
na economia brasileira.

O processo de internacionalização da produção de uma empresa está


relacionado ao seu grau de envolvimento internacional e ocorre através de fonnas
distintas, que podem ser substitutas ou complementares. Esse processo pode ser
detectado pela intensidade do comércio de bens/serviços (inserção comercial). do
investimento direto no estrangeiro, pelas associações com empresas estrangeiras (que
assumem diversas fonnas) e pelos fluxos de capital financeiro . Todas essas formas
têm no seu bojo a busca pela acumulação/valorização do capital além das fronteiras da
economia do país de origem da empresa.

Para tentar explicar o avanço das atividades desenvolvidas por empresas além
das fronteiras do país de origem, após a Segunda Guerra Mundial diversos estudos
surgiram com o objetivo de analisar os principais determinantes do processo de
internacionalização, em suas diferentes modalidades. Cada estudo tomou para si uma
questão particular, o que gerou abordagens distintas em relação ao mesmo processo.
Em linhas gerais, pode citar-se pelo menos quatro vertentes importantes:
8

• o estudo elaborado por Hymer (1993), que buscou explicações para a


internacionalização das empresas a partir das vantagens monopolistas
possuídas pelas firmas. Esta vertente está relacionada à teoria da organização
industrial, principalmente ao trabalho de J . Bain acerca das barreiras à entrada;
• o estudo de Vemon (1993), que através da teoria do ciclo do produto entendia o
processo de internacionalização a partir da maturação dos mercados. Os novos
produtos seriam introduzidos e produzidos inicialmente nos países avançados e
difundidos pelo mundo através das exportações. Posteriormente, após uma fase
de estandardização esses produtos passariam a ser produzidos em outros
países, para viabilizar a defesa das posições de mercado das empresas
produtoras por meio da redução de custos, especialmente do trabalho;
• a tradição coasiana, conforme pode ser observado nos trabalhos de Coase
(1996) e Hennart (1991), que viu nas falhas de mercado o estímulo para
internacionalizar a produção e assim reduzir os custos provenientes das
transações. Nesse sentido, as empresas tenderiam a substituir o mercado para
produtos intermediários e, assim, a produção passaria a ser realizada fora das
fronteiras do país de origem;
• o paradigma eclético de Dunning (1988, 1993), que busca entender o processo
de internacionalização incorporando os diversos aspectos ressaltados nas três
vertentes acima; e, em razão de sua diversidade teórica será utilizado como
alicerce deste trabalho.

Aliado a estes estudos, o cenário que se desenhou após a Segunda Guerra


Mundial também permite a compreensão do processo de internacionalização das
economias.
9

Durante os anos 50 e 60 assistiu-se a um período de crescimento extraordinário


dos países industrializados, que de certa forma influenciou na formação do sistema
internacional e na integração progressiva dos países em desenvolvimento dentro deste
sistema. No entanto, nos anos 70 ocorreu uma inflexão do ciclo expansivo dos países
desenvolvidos, marcando o fim de um período prolongado de crescimento destes
países; e, o capital passou a ir em busca de novos espaços onde ele pudesse continuar
a ser valorizado.

O fato é que desde os anos 70, em função da crise econômica que afetou os
países desenvolvidos, o processo de internacionalização vem apresentando um
movimento bastante acentuado e as empresas transnacionais passaram a atuar como
os principais atores da economia mundial, pelo seu envolvimento nas várias atividades
econômicas. Além disso, o avanço das transformações ocorridas em meados dos anos
80 e nos anos 90 - envolvendo as esferas tecnológica, produtiva, organizacional e
financeira - e que afetou todo o conjunto das economias, permitiu a aceleração desse
processo, que tomou-se explícito em função de$sas mudanças.

Uma das faces do processo de internacionalização se sobressaiu às demais, e


logo o investimento direto estrangeiro passou a representar um dos veículos principais
da internacionalização da produção, contribuindo para a criação e acumulação de
1
riqueza, e sobrepondo-se inclusive aos fluxos do comércio mundial (Chesnais, 1996) .

Com as mudanças ocorridas no cenário global, diversos tipos de associações entre


empresas ocorreram com maior freqüência, tais como joint-ventures, licenciamento,
franchising, alianças estratégicas. Progressivamente o investimento direto estrangeiro
destinado a fusões e aquisições de empresas em outros países transformou-se no
principal canal de concentração de propriedade do capital em escala internacional.

1
Vale salientar que aqui está sendo considerada a intensidade dos fluxos de investimento direto
estrangeiro e não a sobreposição/substituição do comércio pelo investimento direto estrangeiro.
lO

Assim, durante meados da década de 80 e por todo os anos 90, observou-se um


crescimento considerável do movimento do investimento direto estrangeiro, sobretudo
nos países desenvolvidos. Em linhas gerais, pode-se buscar as explicações desse
movimento em fatos como a emergência do Japão como grande investidor
internacional; o crescimento dos países da OCDE, após a recessão que os atingiu no
início da década de 80; o movimento de fusões e aquisições ocorrido sobretudo em
razão do processo de globalização financeira; e a necessidade das empresas
transnacionais adotarem estratégias globais, envolvendo acordos e alianças
estratégicas, como forma de manter e criar novas fontes de vantagens competitivas em
escala mundial, já que sua produção e comercialização vêm se tomando cada vez mais
integradas e internacionalizadas.

No que se refere aos países em desenvolvimento, é nos anos 90 que estes


voltam a participar de forma proeminente do movimento intenso do investimento direto
estrangeiro2 . Um dos fatores que contribuíram para este crescimento foram às políticas
de abertura comercial e financeira adotadas por estes países nos últimos anos. Estas
políticas se caracterizaram como mais agressivas no sentido de atrair os recursos
externos através da diminuição dos controles de movimentos cambiais e da
privatização.

2
Essa participação se evidencia mais pela recepção do investimento direto estrangeiro (IDE) do que pela
em1ssão desse investimento; embora. deva-se salientar que há um movimento crescente de IDE por
parte dos atores institucionais presentes nos países em desenvolvimento nas últimas décadas,
principalmente em alguns países asiáticos.
11

Além da disputa dos governos nacionais por atrair o investimento direto


estrangeiro para seus países, através da utilização de vantagens locacionais e de
políticas liberalizantes, o crescimento do movimento dos fluxos de investimento direto
estrangeiro nos anos 90 deveu-se basicamente à pressão competitiva que impôs a
necessidade incessante de inovações (processos e produtos) e de ampliação de
mercados. Assim, as empresas expandiram suas atividades nos mais diversos
sentidos, seja por meio de exportações ou de investimento direto estrangeiro, como
forma de ter acesso a mercados, recursos , tecnologia.

Deve-se reiterar também que o investimento direto estrangeiro em grande parte


não significou nova capacidade produtiva (investimentos do tipo greenfielá) , mas
apenas transferência de patrimônio, o que elevou significativamente a participação do
capital estrangeiro na estrutura empresarial dos países em desenvolvimento, sem
ampliação equivalente do estoque de capital ou da capacidade produtiva.

Assim, o movimento das empresas transnacionais visando ingressar ou expandir


sua presença nos países em desenvolvimento, sobretudo na América Latina, através de
fusões e aquisições de empresas existentes, facilitado pelas privatizações de empresas
estatais, alterou significativamente a propriedade do capital nos países receptores.

É relevante salientar que por trás dessa estratégia das empresas transnacionais
houve uma busca constante pela valorização de seu capital, uma vez que ao se instalar
em países em desenvolvimento o objetivo foi distribuir os seus investimentos em
diversos setores/países com vistas a uma racionalização da produção e redução de
custos. A conseqüência para estes países foi uma desnacionalização bastante
acentuada; e, em alguns casos, uma forte desindustrialização em determinados
setores, quando estruturas produtivas foram desarticuladas de forma brusca (Coutinho,
1997b).
12

Muitos desses investimentos foram realizados nos setores de serviços, sobretudo


em função das privatizações de empresas estatais, como já mencionado. O resultado
desse processo foi o aumento da remessa de divisas ao país de origem sem
contrapartida na criação de potencial exportador, trazendo conseqüências negativas
para o balanço de pagamentos dos países receptores.

Segundo Chudnovsky et ai (1999) as vendas de empresas de países em


desenvolvimento aos investidores estrangeiros sinalizaram para a falta de condições
financeiras e tecnológicas das empresas nacionais para continuar enfrentando um
padrão de concorrência tão adverso, nas condições em que foram realizados os
processos de abertura. Algumas poucas empresas nacionais de países em
desenvolvimento, no entanto, conseguiram desenvolver determinadas competências
para continuar competindo nesse novo cenário, através do comércio de bens/serviços,
da busca de outros caminhos como as alianças estratégicas com outras empresas
nacionais ou estrangeiras; ou ainda, da emissão de investimento direto para o exterior.

É, portanto, para captar os aspectos mais gerais do movimento de


internacionalização do capital em curso que o nosso estudo recorre aos recursos
analíticos constantes nos trabalhos de Dunning (1988, 1993), de Lall (1983) e de
Chudnovsky (1999). Com base nessas análises, é possível compreender o processo
de internacionalização da produção de uma forma geral, e a partir daí, situar como as
grandes empresas de países em desenvolvimento, corno o Brasil, se voltam para esse
movimento e os determinantes que as permitem seguir essa trajetória.
13

1.1. O Paradigma Eclético

A estrutura analítica do paradigma eclético (Dunning, 1988, 1993)3 consiste em


uma tentativa de integração dos elementos de diversos estudos voltados à
compreensão da produção internacional, principalmente àqueles surgidos após a
Segunda Guerra Mundial.

Embora a produção internacional4 tenha origens remotas, seu avanço se deu


principalmente a partir dos anos setenta, em conseqüência da crise que atingiu as
economias desenvolvidas, como visto anteriormente. Desde então, as empresas
transnacionais vêm conduzindo o movimento cada vez mais intenso do investimento
direto estrangeiro (IDE) - meio pelo qual estas empresas ampliaram seus
empreendimentos no exterior.

É preciso ter claro, no entanto, que a estrutura analítica elaborada por Dunning
não se propõe a ser uma teoria das empresas transnacionais (ET) nem tampouco do
investimento direto estrangeiro (IDE) per se. O propósito é permitir que as atividades
desenvolvidas por essas empresas no exterior sejam analisadas em função de alguns
determinantes e, por conseguinte, das estratégias implementadas por estas empresas,
dando uma dimensão do processo de internacionalização da produção5 .

3
Para uma visão mais abrangente dos antecedentes históricos do paradigma eclético ver Dunning
~ 198 ) , cap. 4.
Entendida como uma atividade produtiva controlada e organizada por um investidor fora das fronteiras
de seu país.
5
Desde o in ício, Dunning assume que não é possível obter uma teoria geral desse processo, dada a
importâncta dos aspectos históncos específicos.
14

Assim, o paradigma eclético deve ser considerado mais como um arcabouço


para analisar os determinantes da produção internacional do que como uma teoria da
firma multinacional. Ademais, não se pode esperar que uma única teoria possa
incorporar todos os tipos de produção externa de forma satisfatória, uma vez que as
razões específicas de cada investimento variam muito. As variáveis que explicariam
uma produção que tivesse por objetivo a substituição de importações, a busca de
mercados, a racionalização da produção, são provavelmente distintas uma das outras.

O empreendimento internacional tem como requisito básico que as empresas


propensas a realizá-lo possuam certos tipos de vantagens sobre seus competidores.
Dessa forma, a discussão relevante quando se refere à internacionalização da
produção é em relação ao por quê, como e onde realizar este empreendimento, no
lugar de simplesmente fazer uso do licenciamento ou recorrer ao comércio exterior,
para atingir mercados além da fronteira.

Dunning (1988, 1993), ao elaborar o paradigma eclético, formulou essas


questões e buscou as respostas nas diversas vertentes mencionadas acima: o "por
quê" e o "como" é possível a internacionalização encontrou nas teorias da organização
industrial; e, o "onde", na teoria da localização. A teoria do ciclo do produto auxiliou na
questão do "quando" o investimento direto é empreendido pelas empresas. O esforço
do Dunning foi integrar essas teorias, independentes umas das outras, em um único
esquema analítico.

É nesse sentido que o paradigma eclético, possuidor de um caráter generalista,


possibilita explicar os diversos tipos de envolvimento internacional como o comércio, o
investimento direto estrangeiro, o licenciamento de produtos/serviços, etc.
15

Segundo Cantwell (1991), pode-se perceber no estudo da produção internacional


três razões que justificam a diversidade teórica encontrada no paradigma eclético:
• a produção internacional pode ser uma plataforma de exportação, uma forma de
substituir importação, uma estratégia de integração global, ou uma forma de
obter recursos para a produção. Portanto, são formas de envolvimento
internacional distintas que requerem análises diferenciadas, não só em relação
aos motivos que conduzem a este envolvimento mas também quanto às
conseqüências que trazem para os países envolvidos;
• estas formas de envolvimento, por sua vez, requerem que vários campos da
teoria econômica estejam articulados para uma análise condizente com os fatos
analisados, tais como a teoria do movimento internacional do capital; do
comércio; localização, organização industrial; inovação e da firma;
• é possível compreender a produção internacional em diferentes níveis de
análises, sejam ao nível macroeconômico, com questões relacionadas ao
comércio, localização, efeitos no balanço de pagamentos; ao nível
mesoeconômico, envolvendo questões referentes à inovação e a economia
industrial; e; ao nível microeconômico, com as questões relacionadas à firma.

Ainda de acordo com o referido autor, estas diferentes formas de abordagens


permitem que o estudo da produção internacional possa ser feito através de quatro
estruturas de análise alternativas, aplicadas a um objeto comum. Estas estruturas
comportariam as teorias da firma na visão de Hymer (poder de mercado) e na de Coase
(internalização); uma-abordagem voltada para o desenvolvimento macroeconômico dos
países; e, uma outra que envolvesse a indústria sob uma ótica da competitividade
internacional.
16

O paradigma eclético, formulado por Dunning, consegue incorporar todos os


elementos presentes nestas abordagens, podendo ser utilizado nos diferentes níveis de
análises para explicar os vários tipos de internacionalização da produção bem como os
ambientes em que ela se estabelece.

Conforme o próprio Dunning (1991, p. 125) afirma, o paradigma eclético não


pode ser visto como algo que
"ofereça uma explicação completa dos diversos tipos de produção internacional;
mas, antes, deve ser visto como algo que aponta para uma metodologia e para
um conjunto genérico de variáveis que contém os elementos necessários para
qualquer explicação específica de tipos particulares de atividades produtivas no
exterior" .

O que se deduz é que, como vantagem, o paradigma eclético fornece uma


estrutura geral que permite analisar todos os tipos de envolvimento internacional,
incluindo o comércio de bens e produtos intermediários.

Para fazer uso dessa estrutura analítica, é preciso considerar determinadas


vantagens, que são específicas das próprias firmas e dos países, e que tornam possível
explicar as atividades das empresas no exterior. Nesse sentido, o paradigma eclético
permite entender os determinantes dos fluxos de comércio, de investimento direto
estrangeiro, e as características das estratégias dessas empresas quando decidem por
algum tipo de investimento internacional.
17

Dessa forma, o processo de internacionalização produtiva está vinculado ao


aproveitamento das vantagens de propriedade (O) que são detidas pelas firmas, tais
como as vantagens relacionadas aos ativos tangíveis e intangíveis (marcas,
capacidades tecnológicas, potencial humano) e que permitem que as empresas as
utilizem para aproveitar as vantagens de localização (L) oferecidas pelos países
(recursos naturais, mão-de-obra, infra-estrutura, tamanho e características do mercado,
estabilidade da política econômica).

Por outro lado, o investimento fora das suas fronteiras de origem leva as
empresas a decidir entre as vantagens de intemalizar (I) a produção ou conceder
licenças de produção desses bens/serviços para terceiros. As vantagens de
intemalização surgem da maior facilidade com que uma firma integrada é capaz de
apropriar-se de um retorno total de sua própria tecnologia, retendo o controle e
administrando uma rede mais complexa de ativos (reais, tecnológicos e financeiros).

Ressalta-se, ainda, que em função das vantagens "O" e das falhas de mercado
existentes, a empresa tende a recorrer a intemalização de suas atividades tanto como
uma tentativa de tomar mais eficiente o uso dos recursos quanto para não tornar
acessível para os concorrentes potenciais as vantagens que detém e que permite a elas
um fluxo de renda e de poder de competição diferenciados.

O que se pretende chamar a atenção é que há duas decisões envolvidas nesse


contexto: uma que se refere à própria internacionalização da produção; e. outra, que
implica na decisão de como a firma pode explorar suas vantagens de propriedade no
país receptor. Como já mencionado, essa exploração pode ocorrer por caminhos
distintos: através da exportação de bens/serviços produzidos no país de origem; da
concessão de licenças de produção destes bens/serviços a outras firmas localizadas no
país-alvo; ou, intemalizar estas vantagens, instalando unidades produtivas próprias
nesses mercados.
18

A escolha por uma das alternativas apontadas acima é influenciada por


determinados fatores, que definem uma relação de "custo/beneficio" que precisa ser
levada em consideração nesta decisão. Estes fatores dizem respeito à forma
dominante de concorrência no setor; a magnitude dos custos de transação; ao grau de
imperfeição da informação disponível; ao nível de enforcement dos direitos de
propriedade; ao grau de apropriabilidade dos ativos tecnológicos próprios; ao tamanho
e característica do mercado objetivo; ao perfil macroeconômico e das políticas públicas
vigentes nos países (Chudnovsky et ai, 1999).

Nesse sentido, mediante o avanço da globalização, expressa nos crescentes


fluxos de comércio, de capital e de tecnologia, as empresas transnacionais têm se
tomado responsáveis pela expansão dos fluxos de investimento direto estrangeiro nas
últimas décadas e estes investimentos estão relacionados a determinados tipos de
estratégias adotadas por estas empresas. Estas estratégias podem ser classificadas
em função do motivo que conduz as empresas ao empreendimento internacional em
determinado país ou região.

O investimento do tipo resource seeking expressa uma estratégia de exploração


de recursos locais (naturais ou humanos) para baratear a produção de bens/serviços
destinados a outros mercados. Neste caso, a disponibilidade de recursos constitui a
vantagem de localização dominante no país receptor.
19

A estratégia do tipo market seeking visa aproveitar o mercado doméstico do país


receptor. Neste caso, a existência de um mercado doméstico importante, ao qual é
possível atender com menos custo estando localizado mais próximo, ao invés de
exportar desde outro lugar, se traduz em uma vantagem de localização não pelo
mercado em si; mas, porque algumas condições tomam a presença no país uma
localização privilegiada, tais como: proximidade com o comprador, custo com
transporte, canais de distribuição, disponibilidade de recursos (naturais e humanos)
baratos. O que diferencia esta estratégia da anterior é o mercado principal de destino
da produção local.

Os tipos de estratégias denominados de efficiency seeking e strategic asset


seeking estão relacionados, respectivamente: (a) a racionalização da produção, cujo
intuito é explorar as economias de especialização dos países ao integrar ativos,
produção e mercados; e, (b) a aquisição de recursos e capacidades capazes de
sustentar/avançar as competências das empresas investidoras nos mercados regionais
ou globais. A estratégia effteiency seeking se manifesta na redefinição da divisão do
trabalho entre as filiais das empresas transnacionais, com aumento da especialização,
de modo a aumentar o comércio intrafirma e, com ele, a eficiência. Em relação ao tipo
strategic asset seeking, ela se expressa através do movimento de fusões e aquisições
realizado pela empresa transnacional, com o intuito de fortalecer a rede corporativa,
ampliando suas vantagens de propriedade.

O que está por trás desses dois tipos de investimentos é que com o crescimento
do grau de internacionalização dessas empresas, elas passam a utilizar suas vantagens
de propriedade, em busca de melhorar sua posição no mercado global, aumentando a
sua eficiência ou adquirindo novas fontes de vantagens competitivas.
20

Com relação a esta tipologia de estratégias, pode-se ainda adicionar que as duas
primeiras geralmente dizem respeito à motivação dos investimentos iniciais das
empresas no exterior; enquanto que as duas últimas, podem estar vinculadas aos
investimentos seqüenciais de empresas já internacionalizadas.

Pode-se afirmar que o processo de internacionalização da produção, nos anos


90, especificamente, vem apresentando diferenças em relação às décadas passadas,
tanto no que se refere às firmas, que mudam de comportamento em conseqüência das
transformações da economia mundial; quanto no que diz respeito aos países, cujos
governos passam a ver o investimento direto estrangeiro como forma de avançar nos
requisitos básicos para competir no cenário global. Para tanto, adotaram políticas
liberalizantes de comércio e do capital financeiro, privatizaram o setor produtivo e o de
serviços estatais e eliminaram/reduziram os empecilhos ao mercado como tarifas,
controle de preços, etc.

Um exemplo dessa diferença pode ser observado em parte nos países em


desenvolvimento, sobretudo na América Latina, nos quais os investimentos realizados
anteriormente, principalmente nas décadas de 60 a 80, se caracterizavam claramente
como sendo dos tipos resource e market seeking, pelo próprio processo de
industrialização adotado por estes países. Especificamente no caso brasileiro, as
barreiras impostas pelo governo com o objetivo de proteger mercado e indústria
nacionais fizeram com que as empresas transnacionais implantassem aqui filiais como
forma de contornar qualquer tipo de entrave à sua expansão. Esse fato implicou na
influência das ações dessas empresas tanto na estrutura e desempenho industrial do
país quanto na sua propensão a exportar e importar, o que acabou repercutindo na
orientação do comércio exterior brasileiro.
21

Na década de 90, o processo de internacionalização das empresas


transnacionais foi conduzido pela busca do aproveitamento das economias de escala e
escopo de suas unidades produtivas já instaladas, embora geograficamente dispersas.
Esse fato representa uma forma de racionalizar a produção realizada por estas
empresas. Segundo Hiratuka (1999, p. 1073),
"o processo de internacionalização atual das empresas transnacionais busca
administrar os ativos tangíveis e intangíveis da corporação de forma mais
integrada, seja através da forma simples de complementação produtiva e
comercial, seja através de formas complexas, onde as filiais atuam ativamente
também nos processos de P&D e planejamento estratégico global'.

Nesse sentido pode-se afirmar que no movimento de internacionalização das


empresas transnacionais nos anos 90, as estratégias do tipo efficíency seeking e
strategic asset seeking tendem a ser mais importantes do que antes. Isto não significa,
entretanto, que as motivações resource seeking e market seeking não possam ser
determinantes em casos específicos, como o brasileiro. Significa apenas que as
modalidades de atuação para explorar recursos ou para atender o mercado interno
mudaram em relação às décadas passadas.

Portanto, se nas décadas passadas, ou no movimento inicial do processo de


internacionalização da produção, as empresas buscaram se integrar/engajar
internacionalmente através da exportação/importação de bens/serviços; atualmente, os
principais veículos utilizados pelas empresas são o investimento direto estrangeiro e as
alianças estratégicas, que têm influenciado e/ou determinado o comércio mundial em
virtude do papel desempenhado pelas transnacionais, no sentido de serem as
produtoras e organizadoras da produção internacional.
22

Dessa forma, o resultado desse movimento foi que o investimento direto


estrangeiro se constituiu nos anos 90 como uma das forças principais do processo de
globalização financeira e econômica. No caso específico da América Latina fatos como
a estabilidade econômica, implementação de reformas, a privatização e a possibilidade
de crescimento serviram como fatores de atratividade deste tipo de investimento; além
disso, a crescente integração regional estimulou este investimento como forma de servir
como estratégia global de empresas transnacionais na busca por novos mercados ou,
ainda, como complementação produtiva. Vale ressaltar que os países em
desenvolvimento6 começam a fazer parte desse processo ao "produzir" suas próprias
multinacionais, integrando-se à economia mundial através de outras formas de
internacionalização.

A liberalização comercial e financeira ocorrida nos países em desenvolvimento


promoveu uma mudança nos investimentos nos últimos anos, fazendo com que as
empresas transnacionais passassem a ver estes países sob uma perspectiva regional
tanto no que se refere à sua produção quanto ao investimento de portfó/io , o que
sugere que as decisões dessas empresas, quanto ao que produzir, como, onde e a
quem vender seus produtos/serviços, não estão baseadas apenas nos fatores
locacionais de atração para esses países; mas, em alguns casos, o interesse global das
empresas transnacionais é que vai prevalecer na tomada de decisão, seja para investir
em toda cadeia produtiva ou em algum elo dela.

O que se percebe também nesse movimento mais recente do investimento direto


estrangeiro é o crescimento do comércio intrafirma em função das próprias estratégias
adotadas pelas empresas transnacionais, que buscam maior integração dos mercados
mundiais. O fato é que essa forma de internacionalização (investimento direto
estrangeiro e portfólio) tem se tomado mais atuante do que o próprio comércio exterior
e está influenciando nas estruturas produtivas e comerciais dos países/região em que
atuam.

6
Confira Lall (1983) e Chudnovsky et ai (1999).
23

Nesse sentido, o advento da globalização comercial e financeira e das mudanças


impostas pelas nações desenvolvidas no cenário mundial; a concorrência acentuada do
mercado internacional; e, a adoção da política neoliberal, como programa de reformas,
pela maioria dos países em desenvolvimento (que implicou na desregulamentação e
liberalização dos mercados), contribuiu para que o investimento direto estrangeiro
passasse a ter novos condicionantes, distintos das formas tradicionais7 de exploração
de recursos e superação de barreiras comerciais para proteger mercados.

Nessa nova onda de investimentos, está por trás uma busca de integração dos
ativos (tangíveis e intangíveis) das grandes corporações, que dinamizam a sua atuação
global. E, portanto, o que leva uma empresa definir a forma de internacionalizar a sua
produção8 é a possibilidade de explorar as opções que oferece uma economia
internacional mais permeável aos movimentos de produtos e de capital. Essas
mudanças alteram as condições de atuação, tanto das empresas transnacionais como
das grandes empresas de capital nacional nos países em desenvolvimento.

1.2. Considerações Gerais Acerca da Internacionalização Produtiva de


Empresas de Países em Desenvolvimento

Os aspectos gerais do processo de internacionalização produtiva de empresas


de capital nacional dos países em desenvolvimento podem ser buscados em Lall (1 983)
e Chudnovsky et ai (1999).

De acordo com Chudnovsky et ai (1999), estas empresas buscaram a


internacionalização de sua produção em momentos distintos, que podem ser
ca racterizados como "ondas" de investimento, conforme relatados abaixo.

7
Não se trata de substituição dessas formas tradicionais, mas de novos condicionantes do investimento
direto estrangeiro, como os processos de fusões e aquisições e de privatizações.
8
É interessante ressaltar que mesmo com as mudanças ocorridas nas últimas décadas, que alterou todo
um padrão de concorrência mundial , o paradigma eclético de Dunning pode ser empregado como um
recurso analítico apropriado para entender estas questões.
24

Em um primeiro momento, ocorrido no início do século XX e de forma mais


acentuada por volta dos anos 1960/1 970, algumas empresas originárias de países em
desenvolvimento ampliaram suas atividades no exterior. Dentre estas empresas,
algumas de países latino-americanos como Argentina, Brasil, México, Colômbia,
Venezuela, além de outros fora da região, como a Índia, são exemplos desse
movimento. O motivo mais evidente dessa onda de investimentos foi a necessidade de
ultrapassar barreiras comerciais. Tratavam-se principalmente de atividades dos setores
extrativos e da engenharia e construção civil, bem como de substituição de importações
dos países receptores. Em geral, o alvo desses investimentos foi o mercado interno
dos países vizinhos.

Nos anos 80, todavia, o ciclo de investimentos no exterior ocorridos nas décadas
anteriores, por parte de empresas latino-americanas, começou a perder dinamismo,
dando espaço para que as empresas dos países asiáticos assumissem a liderança
desse movimento entre os países em desenvolvimento. As que mais se sobressaíram
foram às empresas de Hong Kong, Singapura, Coréia e Taiwan, conhecidas por sua
forte orientação exportadora, advinda do processo de industrialização acelerada
adotado por seus governos. Esses investimentos tiveram como motivo principal a
necessidade de manter/aumentar a competitividade das firmas nos mercados locais e
externos. A maioria desses investimentos ocorreu nos segmentos de maior sofisticação
tecnológica e visava basicamente a exportação e não o mercado interno dos países
receptores. O investimento direto estrangeiro era tido como peça fundamental para as
estratégias competitivas de longo prazo, dadas as limitadas dimensões dos mercados
nacionais de origem dessas empresas.
25

Nos anos 90, considerado o período de realização da terceira onda de


investimentos por parte das empresas de países em desenvolvimento, mais uma vez as
empresas latino-arnericanas9 voltam a disputar espaço nesse cenário de mudanças, e
passam a utilizar o investimento direto estrangeiro como forma de ampliar sua atuação
no "mundo globalizado".

Assim, considerando os países em desenvolvimento, deve-se observar


determinados aspectos para compreender o processo de internacionalização de suas
empresas: primeiro, que este processo pode ser visto como uma evolução no próprio
crescimento das empresas, cujo resultado tem relação com as suas estratégias e
competências básicas; segundo, que existem diferenças nos processos de
internacionalização seguidos por empresas de diferentes países, em função do próprio
processo de desenvolvimento econômico dos mesmos; e, terceiro, que as
competências de cada setor ditam as estratégias de suas empresas em função do
ambiente seletivo e concorrencial em que elas se inserem.

Ademais, as pressões competitivas advindas da reestruturação da economia


mundial impõem a necessidade de uma resposta não só das empresas, mas também
dos atores institucionais dos países em desenvolvimento. Nesta perspectiva, a
internacionalização poderia ser considerada pelos governos como uma estratégia que
permitisse que as grandes empresas nacionais passassem a explorar suas core
competences, buscando as possíveis sinergias entre suas atividades locais e no
exterior; e, ao mesmo tempo, permitisse que as economias nacionais fortalecessem
seus setores mais competitivos.

9
Os estudos de Chudnovsky et ai (1999) apontam os casos de em presas da Argentina, do Brasil , do
Chile e do México como exemplos dessa situação.
26

Nesse sentido, para se analisar o processo de internacionalização da produção


de empresas dos países em desenvolvimento, além do paradigma eclético elaborado
por Dunning, pode-se recorrer à contribuição de Lall (1983) como fonna complementar
ao entendimento geral desse processo, já que é interessante ressaltar alguns aspectos
peculiares que caracterizam esse movimento nos referidos países.

A estratégia de inserção adotada pelas empresas nacionais e pelos governos de


cada país definem a sua fonna de se relacionar com o mundo. No caso dos países em
desenvolvimento pode-se pensar em dois ''tipos ideais" de estratégias: atração de
investidores estrangeiros para a economia local (explorar vantagens de localização do
país) ou promover a internacionalização das empresas nacionais (explorar as
vantagens de propriedade dessas empresas).

Cada uma dessas opções acarretaria conseqüências diferentes sobre a


produção, sobre o emprego e sobre o desenvolvimento tecnológico nacional, assim
como sobre a balança comercial e sobre o balanço de pagamentos em geral. No
primeiro caso. a atração de investimento direto estrangeiro pode ser privilegiada como
fonna de expandir a produção e o emprego local, além de promover spil/overs
tecnológicos das empresas estrangeiras para as nacionais. Em alguns casos o objetivo
pode ser atrair investimento direto estrangeiro que utilize a economia local como base
de exportação. No segundo caso, o objetivo de ampliar a presença da empresas
nacionais no exterior poderia ser garantir o acesso dessas empresas à mercados no
exterior, contornando barreiras comerciais, ou facilitar seu acesso à tecnologia e/ou
financiamento.
27

De modo geral, nos países latino-americanos predominam as estratégias de


atração de investimento direto estrangeiro (exploração das vantagens de localização
existentes no país). Nos países asiáticos, por sua vez, a estratégia predominante
promove a internacionalização das empresas nacionais. A estratégia dos países em
desenvolvimento da Ásia é mais próxima das implementadas pelos países
desenvolvidos ainda hoje.

O fato é que a transnacionalização constitui a característica central do sistema


internacional contemporâneo, mas com uma desigual relação de interdependência entre
empresas de países desenvolvidos e em desenvolvimento. O cenário internacional
impõe uma forte necessidade das empresas destes últimos delinearem uma estratégia
de internacionalização, para aumentar seu potencial de expansão. No caso dos países
asiáticos, os respectivos estados nacionais apóiam o processo de internacionalização
de suas empresas, enquanto nos países latino-americanos o envolvimento dos estados
nesse processo é significativamente menor.

É importante ressaltar que o esquema analítico utilizado por Dunning inicialmente


surgiu com o objetivo de explicar os determinantes da produção internacional e as
estratégias das empresas transnacionais originárias nos países desenvolvidos; porém,
o fato é que o fenômeno da internacionalização, quando se refere aos países em
desenvolvimento, requer explicações adicionais relacionadas às vantagens que tanto
empresas quanto os próprios países possuem e que portanto lhes permitem investir e
competir em outros países.

Segundo Dunning (1991 ), o paradigma eclético permite que o significado de cada


uma das vantagens (OU) bem como a configuração entre elas, varie entre indústrias
(tipos de atividades produtivas), regiões e países (dimensão geográfica) e entre
empresas. Assim, pode-se afirmar que empresas de países desenvolvidos e em
desenvolvimento apresentam tipos de vantagens OU distintas entre si.
28

Lall (1983) desenvolve esta idéia e complementa o paradigma eclético de


Dunning, auxiliando na análise do processo de internacionalização de empresas de
países em desenvolvimento. Para Lall, a natureza das vantagens de propriedade
possuídas pelas grandes empresas dos países em desenvolvimento, e que são
apontadas como um dos fatores básicos para o processo de internacionalização, é em
geral diferente daquela das empresas dos países desenvolvidos. Os ativos nos quais
se apóiam as vantagens de propriedade dessas duas categorias de empresas
envolvem diferentes ordens de recursos naturais e humanos, desenvolvimento
tecnológico, tamanho de mercado, capacitações, políticas de governo, e outros fatores
que interferem de forma relevante na construção dessas vantagens.

É preciso ter claro que a maioria das empresas dos países em desenvolvimento
não possui vantagens competitivas relacionadas à capacitações que permita que essas
empresas atuem na fronteira tecnológica. A internacionalização dessas empresas deve
estar associada a algum tipo de vantagem que elas construíram sobre tecnologias
amplamente difundidas, conhecimento especial de mercado, habilidades de gestão, e
que podem ter surgido de adaptações ou melhoramentos na tecnologia de processos
ou produtos. Nesse sentido é importante salientar que, em função do processo de
aprendizado e desenvolvimento das capacitações de cada empresa, o resultado será
um tipo de internacionalização com características diferentes daquelas encontradas nos
países desenvolvidos.
29

Ainda de acordo com Lall, existem determinados fatores que podem influenciar
na criação e desenvolvimento de vantagens "O" de empresas de países em
desenvolvimento. O fato de que, em geral, a atuação destas empresas não se
encontrar na fronteira tecnológica e que o processo de mudança técnica ocorra de
forma diferente de seus competidores de países avançados, realça ainda mais um
mercado não perfeito e não homogêneo. Em outras palavras, as empresas dos países
em desenvolvimento devem apoiar sua internacionalização com base em vantagens
que compensem sua relativa fragilidade, especialmente tecnológica, em relação às
empresas dos países desenvolvidos. A construção de outros tipos de vantagens e/ou a
implementação de estratégias de especialização em mercados nos quais a relevância
da capacitação tecnológica é relativizada assume um ritmo compatível com os recursos
da empresa ou criam oportunidades de internacionalização acessíveis.

As vantagens "O" construídas pelas empresas de países em desenvolvimento,


que permitem a estas internacionalizar sua produção, podem ser entendidas a partir de
um conjunto de condições que podem favorecer o seu surgimento.

Lall (1983) 10 expôs cinco situações que poderiam justificar estas vantagens,
conforme mencionado abaixo:

10
As s1tuações expostas por Lall (1983) podem ser vistas apenas como uma referência do que pode
ocorrer com as empresas de países em desenvolvimento , no sentido de desenvolverem algum tipo de
vantagem de propriedade (0 ), uma vez que há uma série de fatores que poderão influenciar a forma
como estas se inserem e concorrem nos dias atuais. Exemplo disso é como empresas asiáticas e latino-
americanas buscaram cam inhos e tempos diferentes à sua internacionalização.
30

• o conhecimento técnico das empresas pode estar localizado em torno de um


conjunto de técnicas bastante diferenciado daquele desenvolvido e/ou alcançado
pelos países desenvolvidos e que, portanto, pode se aproximar mais das
condições de preço/qualidade de outros países em desenvolvimento, seja em
função do próprio processo de inovação desenvolvido por estas empresas; pelas
possíveis adaptações das tecnologias importadas; ou, pela especialização em
determinados campos/áreas da tecnologia antes empregada pelos países
desenvolvidos e por ter sido substituída já não pode ser vendida pelos mesmos.
• o produto pode ser específico às condições dos países em desenvolvimento e/ou
adaptado de forma a manter apenas as funções essenciais do mesmo. Aqui vale
o mesmo raciocínio do item anterior.
• as vantagens tecnológicas possuídas pelas empresas de países em
desenvolvimento não se limitam apenas ao fato de seus processos e produtos se
adaptarem melhor as condições locais de preço, qualidade e demanda. Mas
também há de se considerar que as inovações realizadas por estas empresas
podem desenvolver técnicas que são mais eficientes a escalas menores vis-à-vis
as utilizadas pelas empresas de países desenvolvidos.
• as empresas dos países em desenvolvimento, em função do tamanho do
mercado doméstico, podem desenvolver produtos diferenciados para competir
com a marca de produtos de empresas de países desenvolvidos. Este fato pode
levá-las a desenvolver determinados tipos de capacidades competitivas em
função de sua experiência em atender uma diversidade de usuários e
necessidades domésticas.
• as condições relatadas acima podem ainda fortalecer a capacidade dessas
empresas em operar melhor no ambiente de outros países em desenvolvimento,
seja por razões étnicas, culturais, políticas ou por ter experiência em contratar e
treinar mão-de-obra não qualifiCada. No entanto, isso não signifiCa que não
possam atuar também nos países desenvolvidos.
31

Ademais, deve-se considerar que a transformação da própria estrutura industrial


de determinados países em desenvolvimento (industrialização tardia) contribuiu para
que ocorresse uma expansão rápida nas competências tecnológicas de suas firmas, em
função de formas distintas de aprendizado peculiares às empresas late comers, que
permitiu a expansão de sua atuação no cenário internacional.

Lall aponta que a internacionalização da produção de empresas dos países em


desenvolvimento também envolve uma opção entre realizar um investimento no exterior
(ou licenciar o produto) e continuar produzindo no país de origem e exportar. Como
também já mencionado por Dunning, dois fatores influenciam tal decisão: (a) custo
relativo de localizar essa produção em um mercado externo, que incluiria os custos de
produção, trabalho, operacionais, insumos etc vis-a-vis a exportação; e, (b) a
lucratividade de intemalizar o processo através do investimento externo, no lugar de
licenciar.

Nesse sentido, o investimento direto funcionaria como uma forma de preservar


um mercado já estabelecido através das exportações ou para abrir novos mercados.
Fatores externos à empresa também influenciariam nesta decisão como, por exemplo, a
restrição à expansão no mercado doméstico, recessão da economia doméstica,
possibilidade de acesso a tecnologia estrangeira, as barreiras comerciais (tarifárias e
não tarifárias) impostas pelos países aos seus concorrentes, pressões governamentais
no sentido de incentivar filiais no exterior como uma forma de promover as exportações.

Os investimentos diretos realizados pelas empresas de países em


desenvolvimento geralmente acompanham o movimento, ao longo do tempo, do
desenvolvimento de suas vendas externas. Em determinados casos, o objetivo do
investimento é ser utilizado como veículo de promoção das exportações.
32

O paradigma eclético de Dunning 1 \ aliado às abordagens de Lall e Chudnovsky,


fornece uma visão geral útil para se compreender a dinâmica do processo de
internacionalização trilhado pelas empresas de países em desenvolvimento 12. Embora
desenvolvido originalmente nos anos 80, o esquema analítico é suficientemente geral
para compreender o processo, a despeito das transformações ocorridas na última
década, como a reestruturação da economia mundial, a abertura de mercados, as
privatizações de empresas estatais, etc.

A partir dos elementos conceituais acima descritos é possível compreender como


as empresas de capital nacional brasileiras estão inseridas no contexto internacional.
A análise deve ter em vista as transformações experimentadas pela economia brasileira
e que colocaram novos desafios para os agentes econômicos do país. A resposta às
mudanças foi a busca por uma adequação das estruturas produtivas no sentido de
definir novas estratégias de expansão e competição em um cenário diferente daquele
vigente até o final dos anos 80.

11
De forma complementar. poder-se-ia também compreender o processo de internacionalização através
do que Dunning (1988) denominou de ciclo do desenvolvimento do investimento. Nessa perspectiva, a
relação entre o investimento direto estrangeiro emitido e/ou recebido estaria vinculada a determinadas
etapas do desenvolvimento dos países. A idéia é que países em desenvolvimento provavelmente seriam
receptores de IDE; quando estes avançassem em seu desenvolvimento passariam a ser em issores e
receptores de IDE; e, ao atingir a maturidade do desenvolvimento, seriam emissores de IDE. Dessa
forma, as vantagens de propriedade que permitem a internacionalização das empresas seriam criadas e
consolidadas ao longo dessas etapas de desenvolvimento. Esta discussão também está presente em
Chudnovsky et ai (1999), mas os autores advertem para as indispensáveis adaptações do esquema para
a sua aplicação. uma vez que geralmente as etapas de desenvolvimento dos países não coincidem com
a sua posição de emissor/receptor de IDE.
12
Desde já se esclarece que não é objeto desse trabalho um mapeamento do processo de
internacionalização de empresas dos países em desenvolvimento, sejam asiáticas ou latino-americanas.
Pretende-se situar o Brasil nesse processo nos anos 90; e, em particular, a internacionalização das
empresas nacionais do país após a abertura da economia. Salienta-se também que foge ao escopo
deste estudo a questão da internacionalização financeira.
33

O caminho que o Brasil trilhou no processo de industrialização, iniciada a partir


dos anos 30, foi marcado pela preponderância do mercado interno como destino da
produção industrial. O resultado desse longo processo, até o final dos anos 80, foi a
implantação de um grande parque industrial, que possibilitou a diversificação da pauta
de exportação brasileira com a participação crescente de produtos industrializados 13.
De todos os modos, com raras exceções, o principal destino da produção industrial
continuou sendo o próprio mercado brasileiro. Em outras palavras, o grau de
internacionalização da produção das empresas industriais era muito baixo. Mesmo as
filiais de empresas transnacionais aqui instaladas, nesse período tinham (e ainda tem,
mesmo com a mudança do regime de comércio 14} por objetivo atender ao promissor
mercado interno brasileiro, de forma que na maioria dos casos a exportação de seus
produtos tinha importância limitada.

Fatores adversos, como as crises do petróleo nos anos 70 e o problema da


dívida externa nos 80, motivaram o governo brasileiro a adotar políticas de promoção
das exportações, inicialmente com incentivos fiscais e creditícios e posteriormente com
o manejo do câmbio, visando à geração de divisas, necessárias para fazer frente aos
compromissos assumidos internacionalmente. Nessas ocasiões, as empresas
industriais, nacionais e estrangeiras, aumentaram, conjunturalmente, a parcela de sua
produção destinada ao exterior.

13
Até a década de 30, o principal produto da pauta de exportação brasileira era o café.
14
A expressão •mudança de regime de comércio" está sendo utilizada neste estudo para caracterizar o
processo de abertura comercial implementado no Brasil no inicio dos anos 90.
34

Nesse sentido, percebe-se que esse movimento de internacionalização das


empresas brasileiras não teve como característica um processo de trajetória natural de
crescimento e expansão, mas na maioria dos casos constituía uma resposta às
circunstâncias desfavoráveis no mercado interno e aos incentivos fiscais. Nos anos 80,
por exemplo, embora os problemas no balanço de pagamentos do país tenham
resultado na implantação de fortes incentivos para a promoção das exportações, as
empresas brasileiras foram em busca de novos mercados no exterior para seus
produtos muito mais em função do quadro recessivo que se desenhou no mercado
interno brasileiro. As exportações industriais apresentaram, dessa forma,
comportamento anticíclico visível, ou seja, sempre que havia qualquer reação do
mercado interno as empresas acabavam vottando sua produção para dentro e
reduzindo seu envolvimento no exterior. A instabilidade da inserção externa e seu
papel relativamente pouco importante acabaram desestimulando as empresas
nacionais de tentar formas de internacionalização mais avançadas, por exemplo, por
meio do investimento no exterior.

Nos anos 90, porém, a internacionalização poderia ter sido adotada como uma
estratégia mais importante das empresas, como uma resposta aos desafios impostos
pela própria reestruturação da economia mundial e pela abertura da economia. Esse
fato, entretanto, não se verificou. A internacionalização do mercado doméstico de
produtos industriais não foi acompanhada por aumento proporcional da
internacionalização da produção industrial brasileira.
35

A liberalização comercial evidenciou a posição competitiva mais frágil das


empresas nacionais, principalmente nos setores intensivos em capital, tecnologia e
escala, onde há forte presença de grupos estrangeiros 15, os quais conseguiram se
reestruturar, até mesmo em função da facilidade do acesso ao capital e a tecnologia.
As vantagens de propriedade em poder das filiais das empresas estrangeiras tomaram-
se extremamente relevantes no novo contexto de abertura, permitindo que as empresas
estrangeiras enfrentassem em melhores condições a concorrência imposta pelos
produtos importados após a abertura da economia.

Aliado a este fato, o contexto macroeconômico em que se deu a abertura foi


extremamente desfavorável para as empresas nacionais. As dificuldades de acesso a
financiamento determinaram que muitas empresas nacionais passassem às mãos de
controladores estrangeiros.

O contexto que condicionou à resposta das empresas nacionais à


internacionalização do mercado doméstico, e em particular, suas iniciativas em favor da
internacionalização de sua produção será analisado no próximo capítulo.

15
No período anterior à abertura. o comportamento de empresas estrangeiras e nacionais era
semelhante (baixo nível de produtividade, atualização de produtos e processos). A partir da abertura, no
entanto, as diferenças se evidenciaram, pois os recursos disponíveis às filiais de empresas estrangeiras
eram mais abundantes que para as empresas nacionais (por exemplo, financiamento, acesso a
tecnologia, etc).
37

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DE UMA DÉCADA DE MUDANÇAS

O objetivo deste capítulo é contextualizar a análise da internacionalização das


grandes empresas brasileiras de capital nacional, abordando os principais aspectos que
caracterizaram a evolução economia na década de 90. Para tanto, recorre-se aos
estudos que analisam a economia brasileira, tais como Carneiro (2000), Coutinho
(1 997a), Franco (1998), Holanda (1997), Laplane et ai (2001), Moreira (1999a, 1999b,
2000), como forma de identificar os elementos necessários para uma melhor
compreensão do andamento do processo de internacionalização das empresas neste
período.

2.1 . Aspectos Macroeconômicos e Impactos na Balança Comercial

Nos anos 90. a economia brasileira foi marcada pela abertura comercial,
promovida desde o início da década no governo Collor. Um dos argumentos que
justificaram a abertura foi que as empresas industriais brasileiras seriam ineficientes e
estavam acomodadas em uma economia fechada , e portanto "protegidas'' de uma
exposição maior à concorrência internacional. Assim, fazia-se necessário aumentar a
competitividade dessas empresas por meio da abertura e de outras reformas estruturais
que aumentassem a pressão da concorrência sobre os produtores.
38

Em um contexto bastante diferente daquele que caracterizou a economia


brasileira nos 80, com a estagnação da atividade econômica e com a instabilidade
macroeconômica decorrente da alta inflação; os anos 90 foram marcados por profundas
reformas estruturais e por transformações que conduziram o Brasil a uma nova
inserção no mercado internacional. Fatores como a abertura comercial e a privatização
das empresas públicas, associados à estabilidade de preços após a implantação do
Plano Real, promoveram uma reestruturação industrial no Brasil englobando tanto
investidores nacionais como estrangeiros.

A década de 90, no que diz respeito ao desempenho da economia brasileira,


pode ser caracterizada por dois períodos distintos: a primeira metade da década é
caracterizada por uma inflação alta e crescente, com recessão nos anos de 1990 a
1992; por um déficit fiscal relativamente modesto; por uma taxa de câmbio bastante
desvalorizada; e por uma folga na situação externa tanto por superávits na conta
corrente quanto pelo volume de capitais externos que começavam a voltar ao país. A
partir de 1995, o quadro muda para uma situação de: inflação baixa; desequilíbrio nas
contas públicas; apreciação da taxa de câmbio e deterioração da conta corrente.

A política monetária contracionista, implementada a partir do Plano Real, com o


objetivo de estabilizar preços, passou a ser funcional também para remunerar os
capitais externos que aqui se aportaram, como forma de financiar o déficit em conta
corrente, que atingia a patamares elevados.

A partir de 1994, a adoção de uma política de sobrevalorização do câmbio e


juros elevados, provocou uma mudança de sinal na balança comercial brasileira,
quando ocorreu uma maior incidência das importações em relação às exportações
(Coutinho, 1997a). Dessa forma os déficits comerciais tomaram-se recorrentes,
encerrando um período de anos consecutivos de superávits comerciais.
39

Durante a segunda metade da década aconteceram diversas crises , de ordem


financeira em países em desenvolvimento, tais como a do México (1995), a da Ásia
(1997) e a da Rússia (1998), que não passaram sem causar conseqüências no país.
Suas repercussões se fizeram sentir principalmente na instabilidade da taxa de juros,
que comprometeu o nível de atividade do país, recorrentemente freando os impulsos de
crescimento da economia (Sampaio e Naretto, 2000). Como conseqüência, o
desempenho macroeconômico, principalmente na segunda metade da década, ficou
aquém das expectativas quando da implantação do Plano Real e muito próximo do
verificado na década de 80.

No que se refere à inserção comercial, a economia brasileira se viu exposta a


uma concorrência internacional acirrada em função da abertura em condições
desfavoráveis, dada a orientação da política econômica e o perfil das vantagens
competitivas acumuladas. A composição das exportações brasileiras revelou-se como
um dos aspectos frágeis da inserção brasileira na economia mundial (Coutinho, 1997 a;
Carneiro, 2000). Com uma pauta concentrada em commodities, o Brasil estava na
contramão da tendência do comércio mundial, cuja base era o novo padrão tecnológico
industrial presente nas inovações de processos e produtos.

O fato da competitividade internacional do Brasil se concentrar em setores


caracterizados por baixo dinamismo tecnológico e comercial, intensivos em recursos
naturais e baixo valor agregado, deixa transparecer a fragilidade da posição competitiva
do país. Dessa forma, a despeito das exportações brasileiras terem crescido, o Brasil
perdeu participação nas exportações mundiais, conforme tabela 01 abaixo.

U NICAMP
BiBLipTECA CENTRAL
SECAO CIRCULANTF
40

Tabela 01
Participação do Brasil nas Exportações Mundiais de Bens: 1990-1999
valores em US$ milhões e coeficientes em rcenta em

1990 31.414 0,91


1991 31.620 0,90
1992 35.793 0,95
1993 38.555 1,03
1994 43.545 1,03
1995 46.506 0,92
1996 47.747 0,89
1997 52.986 0,96
1998 51 .140 o,94
1999 48.011 5.610.000 0,86
Fonte: OMC, Annual Report 1999 e OMC, Press Release n. 175 apud Gonçalves. 2000, p. 89.

Entre 1994 e 1998, enquanto as exportações brasileiras cresceram em média


4,1% aa, o comércio mundial crescia no mesmo período a uma taxa média de 6,3% aa,
expressando a falta de dinamismo das exportações brasileiras e a necessidade de
melhorar a composição da pauta tanto em termos de produtos como de mercados. Em
1999, mesmo com a desvalorização do real , o país não foi capaz de reverter a situação
e impulsionar as exportações brasileiras, ao contrário das exportações mundiais que
conseguiram manter o seu ritmo de crescimento.

A abertura comercial e a apreciação cambial permitiram que os preços dos


tradables ficassem contidos desde do início do real, possibilitando o controle da
inflação; mas, por outro lado, provocaram a deterioração das contas externas do país.
Estes fatos fizeram com que o Brasil passasse a conviver com déficits comerciais cada
vez mais elevados, sobretudo a partir de 1995, como se pode ver nos dados da tabela
02 abaixo.
41

Tabela 02
Balan a Comercial Brasileira - 1989/1999 - milhões de dólares

1989 34.383 18.263 16.120


1990 31.414 20.661 10.753
1991 31 .620 21.041 10.579
1992 35.793 20.554 15.239
1993 38.555 25.256 13.299
1994 43.545 33.079 10.466
1995 46.506 49.972 (3.466)
1996 47.747 53.301 (5.554)
1997 52.986 61 .358 (8.372)
1998 51 .140 57.730 (6.590)
1999 48.011 49.210 1.199
Fonte: Ministério do Desenvolvimento , Indústria e Comércio/SECEX/DECEX/GEREST

Assim,
"o comportamento da balança comercial na segunda metade da década de 90 foi
condicionado por diversos fatores, a maior parte com efeitos expansionistas
sobre as importações. Nesse sentido, merecem destaque a liberalização
comercial e a estabilização da economia após o lançamento do Plano Real em
julho de 1994, além do processo de integração no âmbito do Mercosul, o
aprofundamento do programa de privatização, a retomada dos investimentos e a
própria crise asiática." (Averburg, 1999, p. 49).

Na tabela 02 percebe-se que o crescimento das importações não foi


compensado pelo aumento das exportações do país. Comparando 1998-1994, as
importações cresceram 75% contra 17% das exportações. A redução apontada em
1998 deveu-se ao menor dinamismo da atividade econômica do país. Considerando as
exportações, os fatores que contribuíram para a queda, principalmente em 1998, foram
as repercussões das crises financeiras da Ásia e da Rússia e a queda dos preços das
principais commodities no mercado externo e o desaquecimento da economia mundial.
42

Segundo o estudo de Moreira (1999a), no final da década, considerando a


intensidade de fatores , os setores que apresentaram coeficientes de importações mais
elevados foram os intensivos em tecnologia. No que diz respeito à categoria de uso,
são os bens de capital que apresentam maior penetração do coeficiente de importação.

Do lado das exportações, os setores que mais se destacaram, por intensidade de


fatores, foram o de tecnologia 16 e o de recursos naturais - cujos principais setores
exportadores do país aí se encontram, tais como celulose e metalurgia. Quanto a
categoria de uso, comparando-se o início com o final da década de 90, todas elas
apresentam crescimento no coeficiente de abertura, embora ainda seja modesto.

A análise de Averbug (1999), por sua vez, permite afirmar que a balança
comercial brasileira, por valor agregado, mostra as exportações do Brasil concentradas
principalmente nos produtos manufaturados (tabela 03) e quanto ao destino, a ALADI
representa o principal destino das exportações do Brasil.

Tabela 03
Exportações por Valor Agregado (US$ milhões FOB)

Ano Básicos Semi manufaturados Manufaturados Outros Total I


1989 9.549 5.807 18.634 393 34.383
1990 8.746 5.108 17.011 549 31.414
1991 8.737 4.691 17.757 435 31 .620
1992 8.830 5.750 20.754 459 35.793
1993 9.366 5.445 23.437 307 38.555
1994 11 .058 6.893 24.959 635 43.545
1995 10.969 9.146 25.565 826 46.506
1996 11 .900 8.613 26.413 821 47.747
1997 14.474 8.478 29.194 844 52.990
1998 12.970 8 .111 29.382 657 51 .120
Fonte: SECEX/MDIC apud Averbug, 1999, p.50.

16
Ressalta-se que o setor intensivo em tecnologia abrange as empresas automobilísticas instaladas no
país bem como a Embraer, fabricante de aviões. São, portanto, produtos de alto valor agregado e
conteúdo tecnológico; além disso, é um setor liderado por empresas transnacionais (com exceção da
Embraer, de capital nacional) e que repercute na obtenção desse resultado.
43

Dessa forma, neste período a economia brasileira passou a depender das


entradas de capital externo, em função dos altos juros adotados no país, como forma de
financiar os déficits comerciais e de conta corrente, tendo como impacto uma tendência
ascendente da vulnerabilidade externa do Brasil. O processo de privatização adotado
pelo governo serviu como um mecanismo para manter os fluxos de investimentos
estrangeiro no país.

Este processo foi implementado de forma mais efetiva no início da década e


tomou-se mais incisivo nos anos de 1996 a 1998, período de maior volume de receitas,
obtidas das vendas das empresas estatais brasileiras. Foram nestes anos que setores
como de telecomunicações, transportes, eletricidade, passaram parcial ou totalmente
para o controle da iniciativa privada. 17

A primeira fase do processo de privatização, 1990-1994, esteve concentrada em


setores pertencentes à indústria de transformação tais como siderurgia e petroquímica.
A partir de 1995, o processo se dá principalmente nos setores de infra-estrutura como
os de telecomunicações e energia, sendo esta ênfase seguida de perto pelos governos
estaduais.

De acordo com Pinheiro (1999), entre 1990 e 1994 foram privatizadas 33


empresas. Já no período 1995-98, o número de privatizações elevou-se para 80
empresas, incluindo-se aí a esfera estadual. Associado a este processo pode-se
perceber um crescimento expressivo das fusões e aquisições ocorrido na década de 90,
o que provocou parte da desnacionalização da economia brasileira.

17
Para ma1ores detalhes acerca dos fatores que conduziram à presença de estatais na econom1a
brasileira , ver Pinheiro, 1999.
44

2.2. Mudanças na Estrutura Empresarial

As transformações ocorridas na economia brasileira contribuíram para o


surgimento de um novo mapa da estrutura de propriedade do país. Nesse contexto,
parte dessa mudança no quadro patrimonial brasileiro se deveu à mudança do papel do
Estado na economia, o qual transferiu para o setor privado seus ativos produtivos
(tanto de bens como de serviços). A outra parte do processo foi resultado das
mudanças no portfólio de ativos do setor privado que envolveu transferência de
propriedade entre empresas nacionais e estrangeiras.

Pode-se perceber uma forte ligação entre os movimentos de fusão e aquisição e


de privatização com a entrada de investimento direto estrangeiro no Brasil. Da ótica
dos valores envolvidos, as transferências de propriedade concentraram-se nos setores
intensivos em capital (privatizados), como telecomunicações, energia e siderurgia.
Estes, porém, não foram os mais importantes no que diz respeito ao número de
transações efetuadas, as quais ocorreram principalmente nos setores de alimentos;
bebidas e fumo; financeiro; químico e petroquímico, conforme mostra a tabela 04
abaixo.

Tabela 04
Número de Transações de Fusões e Aquisições Efetuadas
ent re 1992 e 1998 , por Set or de Af1v1'dade
Principais Setores 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Total
Alimentos, Bebidas e Fumo 12 28 21 24 38 49 36 208
Financeiro 4 8 15 20 31 36 28 142
Químico e Petroquímico 4 18 14 13 18 22 25 114
Metalurgia e Siderurgia 11 13 11 9 17 18 23 102
Elétrico e Eletrônico 2 7 5 14 15 19 9 71
Telecomunicações 1 7 5 8 5 14 31 71
Outros 24 69 104 124 204 209 193 927
Total das Fusões 58 150 175 212 328 367 345 1.635
Fonte: KPMG apud S1ffert F1lho, 1999, p. 383.
45

A presença de empresas estrangeiras nos processos de privatização e de fusão


e aquisição foi bastante expressiva; porém, as empresas de capital nacional também
participaram nestes processos visando mudar o perfil de atividades.

Do ponto de vista setorial, o processo de fusão e aquisição apresentou


movimento diferenciado, que pode ser assim descrito:

a) no setor privado, os movimentos aconteceram sem qualquer tipo de estímulo


externo ou estatal e concentraram-se em setores como alimentos; bebidas e fumo;
comércio varejista; autopeças; automobilístico; têxtil e vestuário e cimento. Em razão
da abertura, principalmente nos quatro primeiros setores, percebe-se um aumento da
intensidade das fusões e aquisições; e, nos dois primeiros pode-se caracterizar esse
movimento como uma "resposta dos produtores em busca de maior poder de barganha
com relação aos seus distribuidores" (Siffert Filho, 1999, p. 387).

Observa-se também, em alguns casos, uma "diversificação especializada", que


diz respeito ao fato do foco das fusões e aquisições ocorrerem em diversos subsetores
de uma atividade principal como alimentos e bebidas. Pode-se afirmar que o objetivo
buscado foi a maior participação em mercados regionais e de maiores escalas; e, da
parte das empresas estrangeiras, acesso ao promissor mercado brasileiro foi o
elemento-chave para esse tipo de investimento.

b) quanto às privatizações, os movimentos de fusões e aquisições decorreram da


iniciativa estatal e se localizaram nos setores de telecomunicações, energia,
petroquímica e siderurgia. Foi traço marcante a participação dos bancos privados
nesse processo, em especial no setor da siderurgia, onde muitos bancos participaram
na privatização com o objetivo de trocar moedas por ativos reais, em um primeiro
momento, para em seguida saírem do setor.
46

Entre 1991 a 1998, o processo de privatização foi responsável por mais da


metade das fusões e aquisições ocorridas no Brasil, dando início as reestruturações
societária e produtiva em diversos setores da economia brasileira.

Um traço característico desse processo foi o predomínio do controle


compartilhado misto (ou participações cruzadas), no qual os arranjos societários
englobaram tanto investidores nacionais quanto estrangeiros, consórcios nacionais com
fundos de pensão. Salienta-se que neste tipo de sociedade não há um sócio
majoritário, o que leva a gestão da empresa depender de um acordo entre os
controladores 18.

Os estudos de Siffert Filho (1999), apontam para a seguinte evolução da


estrutura societária no Brasil (tabela 05}, considerando uma amostra de 100 empresas
não-financeiras.

Tabela 05
Propriedade das 100 Maiores Empresas Não-Financeiras
no Brasil (1990-1998)
Ano Propriedade Propriedade Propriedade Propriedade Propriedade Cooperativas
Dispersa Dominante Familiar Governamental Estrangeira
1990 1 5 27 38 27 2
1995 3 15 26 23 31 2
1997 3 19 23 21 33 1
1998 4 23 26 12 34 1
Fonte: S1ffert Filho , 1999, p. 402 .

A pressão sofrida pelas empresas nacionais, em função tanto de sua estrutura


de capital - financiamento do investimento - quanto da exposição aos capitais externos,
estimulou o avanço das fusões e aquisições, constituindo uma nova forma de
governança corporativa nessas empresas ao se desenhar um novo quadro da estrutura
de propriedade: articulação de investidores institucionais e investidores externos;
alianças estratégicas com outros grupos nacionais19 .

18
Várias empresas passaram recentemente pelo processo de descruzamento das ações, como por
exemplo a CSN e CVRD .
19
Maiores detalhes em Miranda e Martins (1999).
47

Diante do cenário macroeconômico que se desenhou na última década, foi


imprescindível que as grandes empresas brasileiras atentassem para uma reavaliação
de suas principais atividades.

Miranda e Tavares (1999) apontam algumas características gerais a respeito do


surgimento/evolução das grandes empresas nacionais do país:
• o controle acionário muitas vezes pertence a grupos familiares nacionais que se
beneficiaram de políticas do Estado.
• os conglomerados brasileiros não se caracterizam por uma expansão vertical em
cadeias integradas de produção. Esse fato deve-se à sua constituição, nos anos
50, ter sido excessivamente diversificada setorialmente, em função tanto da
redução do risco patrimonial quanto da garantia de expansão do nível de
atividade no mercado interno, proveniente do processo de substituição de
importações; assim, não existiu nenhuma preocupação com as possíveis
sinergias destes setores.
• a década de 80 teve como marco, no que se refere aos grupos econômicos
nacionais, uma conduta patrimonialista defensiva, dado o momento de
instabilidade e crise macroeconômicas pelas quais passava o país. O objetivo foi
redução de risco e aumento de margens de lucro financeiras, a partir da busca
de ativos seguros e de alta liquidez, visando a proteção do patrimonial.

Na década de 90, a dinãmica dos uconglomerados" brasileiros apresentou um


comportamento diferenciado em relação aos períodos anteriores. Em função da
abertura comercial e do processo de desnacionalização da economia brasileira, ocorreu
uma reestrutu ração patrimonial no país, de forma que houve redução tanto em termos
do número de setores de atuação das empresas nacionais quanto do número de
participantes.
48

Ademais, a reestruturação patrimonial nos anos 90 foi caracterizada por uma


mudança do perfil produtivo dos grupos industriais brasileiros, com uma migração de
parte deles para setores commoditizados e/ou fortalecimento de atividades dos que já
pertenciam a esta área; e, uma transferência patrimonial de alguns produtores de bens
de consumo duráveis e nãcrduráveis para o capital estrangeiro. Determinados grupos
adotaram uma estratégia especulativa, tomando-se "rentistas", a partir das
privatizações ou grandes empresas que foram vendidas, uma vez que participaram
destes processos visando uma valorização das ações das empresas adquiridas, para
revendê-las posteriormente.

Em suma, as grandes empresas de capital nacional que não sucumbiram diante


dos desafios impostos por todas as mudanças ocorridas na economia brasileira nos
anos 90, implementaram mudanças tanto na estrutura de govemança (controle
compartilhado), como no perfil de suas atividades (especialização na produção de
commodities intensivas em recursos naturais e em atividades de serviços). As
mudanças na forma de controle acionário foram resultado da necessidade de mobilizar
recursos para participar no processo de privatização, dividindo riscos. As mudanças no
perfil de especialização setorial visaram atividades apoiadas em vantagens naturais,
com forte concentração e/ou na concessão de serviços de utilidade pública, altamente
rentáveis e protegidos da concorrência estrangeira.

No próximo capítulo será analisado, com maior detalhe o envolvimento das


grandes empresas nacionais na reestruturação da indústria brasileira neste período. No
capítulo subseqüente analisaremos os impactos dessas mudanças no grau e no tipo de
internacionalização produtiva dessas empresas.
49

3. AS EMPRESAS NACIONAIS NA REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA NOS


ANOS 90

Este capítulo apresenta as informações disponíveis sobre a participação das


empresas nacionais no processo de reestruturação industrial ocorrido nos anos 90,
sobre a sua importância relativa no grupo das grandes empresas da economia brasileira
e sua contribuição para os resultados da balança comercial. O objetivo é situar essas
empresas no contexto das transformações ocorridas na economia brasileira ao longo
desse período.

3.1. A reestruturação das Empresas Nacionais

A abertura comercial e o regime macroeconômico induziram adaptações por


parte das empresas industriais, fossem elas de ordem organizacional ou tecnológica.
Nesse sentido, pode-se afirmar que as mudanças na economia do país impuseram às
empresas uma necessidade de adotar ajustes referentes a quatro pontos principais:
"concentração seletiva de atividades nas áreas de maior competência, redução
dos níveis de integração vertical com ampliação do conteúdo importado de
partes e componentes; reorganização e compactação dos processos e layouts
de plantas; e redução das hierarquias e níveis organizativos das empresas"
(Miranda, 2001 , p. 18).
50

Os diversos setores da atividade industrial do país, alguns dos quais foram mais
atingidos do que outros , responderam de formas e em momentos diferentes às
transformações que ocorreram na economia brasileira. Nesse contexto, na visão de
Ferraz, Kupfer e Serrano (1999, p. 57), estas respostas tiveram por conseqüência a
alteração permanente da estrutura industrial brasileira20 , uma vez que
"um sub-conjunto de empresas desenvolveu estratégias, capacitações e
desempenho mais adequadas ao enfrentamento das incertezas do que outras.
O perfil das empresas com maior e menor capacidade de resposta não foi
aleatório; elas apresentaram características comuns, tanto estruturais - setor e
capital de origem, grau de concentração, porte - quanto comportamentais - nível
de eficiência, direção de vendas, esforço tecnológico".

Diante deste cenário tiveram melhores perspectivas de enfrentar as mudanças as


grandes empresas, sobretudo as multinacionais, em função do acesso ao capital e à
tecnologia junto às suas matrizes. As empresas nacionais e de pequeno porte que não
dispunham de recursos para redirecionar suas estratégias para a busca de eficiência
do processo produtivo, enfrentaram maiores dificuldades e algumas até não
sobreviveram às transformações.

As empresas nacionais sofreram impactos fortes advindos do processo de


reestruturação da economia. Para elas, a transição para urna economia aberta ocorreu
em condições desfavoráveis, uma vez que "a abertura comercial, implementada de
forma rápida e unilateral pelo país, (.. .), aumentou substancialmente o grau de
exposição da estrutura produtiva interna à competição internacional e aos mercados
globalizados" (Sampaio e Naretto, 2000, p, 118).

20
Não faz parte do escopo deste trabalho uma análise acerca da estrutura produtiva do país bem como
do seu desempenho após as mudanças ocorridas nos anos 90.
SI

Fatores como o processo inflacionário até meados da década, a elevação das


taxas de juros e a valorização cambial contribuíram para a fragilidade de suas posições
frente as filiais de empresas estrangeiras estabelecidas no país. Um exemplo desse
fato pode ser percebido quando se considera a questão da escassez do crédito, dado
que parte considerável do financiamento para investimentos de longo prazo das
empresas nacionais advinha do faturamento disponível no mercado interno brasileiro,
alvo principal de suas vendas, implicando em uma situação desigual de concorrência.

Assim, as empresas nacionais se depararam com uma situação fortemente


adversa e buscaram se adaptar a esse novo ambiente competitivo. Os desafios mais
urgentes se referiam principalmente a capacitação tecnológica e a obtenção de escalas
mais competitivas, que lhes dariam uma proximidade com os padrões internacionais de
produção, sobretudo em questões de produtividade e qualidade.

Diante disso, ao longo da década de 90, as grandes empresas industriais de


capital nacional passaram a adotar medidas visando enfrentar a concorrência com as
empresas estrangeiras. Para tanto buscaram renovar os equipamentos de suas
instalações na tentativa de atingir melhores níveis de produtividade e adequar sua linha
de produtos para atingir escalas mais compatíveis com a dos concorrentes
estrangeiros.

O aumento da produtividade foi notório, mas esse fato expressou-se muito mais
na redução do nível de emprego industrial do que no aumento da produção. As
empresas tentaram reagir através da terceirização, da racionalização da produção -e
algumas delas optaram por operações de transferência de propriedade com o intuito de
abandonar linhas de produtos fora de seu core business ou ainda fechar unidades
produtivas.
52

Quanto à reestruturação do processo produtivo, muitas empresas passaram a


importar máquinas e equipamentos com tecnologia mais avançada, que conduziria a
uma redução de custos e a uma aproximação da forma de produzir do padrão
intemacional21 .

Segundo Erber (2001 , p. 192)


"é importante notar que a força da competição obriga empresas nacionais que
concorrem com filiais de transnacionais (diretamente ou através de importações)
a também buscar tecnologia no exterior para apresentarem produtos
semelhantes em prazos compatíveis com os seus competidores".

Este processo de mudanças se manifestou em tipos de especialização produtiva


diferenciados. Enquanto as empresas estrangeiras, detentoras de tecnologia mais
atualizada, voltaram a fazer parte das estratégias de suas matrizes e avançaram em
produtos de maior valor agregado; as grandes empresas nacionais, tentaram se inserir
em nichos de mercado nos quais conseguiam ser mais competitivas e se voltaram para
os produtos intensivos em recursos naturais, portanto, de baixo conteúdo tecnológico e
de menor valor agregado.

3.2. As Empresas Nacionais na Cúpula Empresarial Brasileira

A partir das informações levantadas a respeito das 500 maiores empresas do


país, é possível ter uma estimativa da participação das grandes empresas nacionais no
grupo das grandes empresas na economia brasileira.

21
A discussão realizada acerca da reestruturação das empresas nacionais nos anos 90 está respaldada
nos estudos de Erber (2001 ), Gonçalves (2001 ), Ferraz, Kupfer e Serrano (1999), Kupfer, Ferraz e
Serrano (1997), Bielschowsky e Stumpo (1996).
53

O gráfico abaixo, pennite visualizar a participação das empresas nacionais entre


as 500 maiores empresas do país. Observa-se que, embora percam espaço para as
empresas estrangeiras em razão dos movimentos de fusões e aquisições, privatizações
e da própria reestruturação produtiva, ainda mantêm sua importância dentro desse
conjunto de empresas, detendo ainda, em 1997, mais de 60% de participação entre as
maiores.

Gráfico 01

Participação das Empresas Nacionais entre as 500 Maiores(%)

80,0 70,2 70,6 O Empresas Nacionais


70,0 63,6 FrJ Empresas Estrangeiras
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
o'o +---'---_...,
1989 1992 1997

Fonte· NEIT/IE- UNICAMP, a partir dos dados da Exame- Melhores e Maiores; Elaboração própria.

Quando se observa a composição das vendas das 500 maiores empresas,


constata-se que a perda de importância relativa das grandes empresas nacionais foi
bastante acentuada. As empresas nacionais caíram de 58,8% do total das vendas em
1989 para 50,2%, em 1997. A contrapartida, obviamente. foi o aumento da participação
das empresas estrangeiras, de 41 ,2% para 49,8% (ver gráfico 02).
54

Gráfico 02

Participação das Empresas Nacionais e Estrangeiras nas Vendas


das 500 Maiores (%)

• · Empresas

60,0 l •
Nacionais
-<>-- Empresas
5o,o I Estrangeiras
40,0 1
30,0 1
20,0 i
10,0 ~
0,0 - - - - ---:-- - - - ---.-- - - - - - ,
1989 1992 1997

Fonte: NEITIIE - UNICAMP, a partir dos dados da Exame - Melhores e Maiores; elaboração própria.

As vendas das 500 maiores empresas apresentaram uma taxa média de


crescimento de 7,7% ao ano no período 1989-1997, enquanto que as empresas
nacionais cresceram 5,5%. O período pode ser dividido em dois sub-períodos: 1989-
1992 e 1992-1997. As vendas das 500 maiores empresas diminuíram 3,1% ao ano no
sub-período 1989-1992, enquanto as vendas das empresas nacionais caíram mais
(5,0% ao ano). No sub-período 1992-1997, as vendas das 500 maiores aumentaram
15% ao ano, enquanto as das nacionais cresceram com ritmo menor (12% ao ano). Em
suma, as vendas das empresas nacionais caíram mais rápido na recessão e cresceram
mais lentamente no período de recuperação. O resultado evidente foi a queda de
participação das empresas nacionais nas vendas das 500 maiores.
55

No que diz respeito especificamente ao setor industrial, apesar das empresas

nacionais, após a segunda metade da década, ter cedido espaço às empresas


estrangeiras, em 1997 a participação relativa destas empresas no setor industrial ainda
22
era relevante, como mostram os dados da tabela abaixo . As empresas nacionais
ainda representavam 53 ,9% das grandes empresas industriais no Brasil. Em termos

de valor das vendas, a perda de importância relativa foi, entretanto, muito acentuada
(de 48,8% , em 1989, para 39,7%, em 1997).

Tabela 06
Dados Gerais do Número de Empresas Nacionais
e Vendas nas 500 Maiores(%)
Anos 1989 1992 1997
Participação do total das empresas industriais no total das 500 maiores 71 ,8 72,4 68,6
Participação do total das vendas da indústria no total das vendas das 500
maiores 66,2 67,1 65,9
Participação das empresas nacionais do setor industrial no total das 64 ,1 64,6 58,2
empresas nacionais presente nas 500 maiores
Participação das empresas nacionais no setor industrial 62 ,7 63,0 53,9
Participação das vendas das empresas nacionais da indústria nas 55,0 57 ,8 52,1
vendas das empresas nacionais das 500 maiores
Participação das empresas nacionais nas vendas da indústria 48,9 49,1 39,7
-
Fonte: NEIT/IE- UNICAMP. a part1r dos dados da Exame- Melhores e Ma1ores; Elaboraçao própna.

22
A redução observada na participação do número de empresas bem como das vendas da indústria, em
1997, provavelmente se deve ao avanço do setor de serviços ao longo dos anos analisados: a
participação do número de empresas deste setor cresceu de 2,8% (1989) para 9,6% (1997); e, suas
vendas, de 2,6% (1989) para 8,1% (1997).
56

Os dados mostram que, a despeito das reestruturações realizadas para enfrentar


o contexto adverso dos anos 90, as grandes empresas nacionais perderam importância
relativa na cúpula empresarial brasileira, particularmente no faturamento e na atividade
industrial. Cabe ressaltar que não se trata, neste caso, das empresas nacionais de
pequeno e médio porte, seguramente fragilizadas para enfrentar os desafios das
mudanças, mas da elite das empresas nacionais, que tinha sobrevivido às adversidades
da década perdida dos anos 80.

3.3. As Grandes Empresas Nacionais no Comércio Exterior

As refonnas na economia e, em particular, a reestruturação da indústria, visavam


integrar a economia brasileira mais intensamente nos fluxos de comércio da economia
mundial. No entanto, vale ressaltar que os resultados se revelaram assimétricos
quando se comparam os coeficientes de exportação e de importaç.ã o da economia
brasileira: elevação considerável de coeficiente de importação diante de um modesto
coeficiente de exportação.

A assimetria dos coeficientes pode ser evidenciada quando se compara o


desempenho externo do Brasil com outras regiões do mundo, ao longo dos anos 90,
confonne mostra a tabela abaixo.

Tabela 07
Crescimento do Comércio Exterior do Brasil e de Regiões do Mundo
1990- 1998 (% aa)
Exportações Importações !
Mundo 6,2 6,5
Desenvolvidos 5,6 6,1
Em Desenvolvimento 8,4 7,9
Ásia 10,0 8,7
América Latina 8,5 12,5
Brasil 6,3 13,4
Fonte: Banco Central do Brasil; e UNCTAD (1999) apud Carneiro, 2000, p .87.
57

De acordo com Carneiro (2000, p. 87)


"do ponto de vista das exportações, o crescimento situou-se na média mundial,
mas bem abaixo dos demais países em desenvolvimento. As importações
cresceram o dobro da taxa mundial e sensivelmente acima dos outros grupos de
países".

Para caracterizar melhor o problema, deve-se levar em consideração as


características da inserção comercial das grandes empresas (nacionais e estrangeiras),
uma vez que o desempenho do comércio exterior brasileiro é basicamente explicado
por estes grandes grupos23 .

Considerando os fluxos de comércio exterior, houve um aumento da participação


das 500 maiores na balança comercial brasileira tanto nas exportações quanto nas
importações: em 1989 elas participavam de 35,7% do total das exportações e 27,6%
do total importado pelo Brasil. Em 1997, as 500 maiores respondiam por 48,1% das
exportações brasileiras e por 34,6% das importações.

Cabe também ressaltar que embora as empresas nacionais, ao longo do


período, tenham apresentado queda em sua participação nas exportações das 500
maiores, de 51,7% em 1989 para 46,8% em 1997, bem como nas importações, de
47,1% em 1989 para 36,9% em 1997, o saldo comercial destas empresas é
superavitário de forma crescente nos anos considerados, de US$ 3.974 milhões em
1989 para US$ 4.078 milhões em 1997, ao contrário da performance alcançada pelas
empresas estrangeiras que apresentam participação sempre crescente: de 48,3% nas
exportações das 500 maiores em 1989 e de 53,3% em 1997 e ainda mais acentuado
nas importações, de 52,9% em 1989 para 63,1% em 1997.

23
Em 1997, as 500 maiores empresas brasileiras, listadas pela Exame. responderam por 46% das
exportações brasileiras. A participação das pequenas e médias empresas mais recentemente é que vem
buscando se mtegrar internacionalmente e portanto tem pouca influência na determinação do resultado
comercial do país. Esta afirmação também pode ser constatada em Miranda (2001 }.
58

Quando se observa o setor industrial, o comportamento dos fluxos de comércio


respalda a afirmação feita anteriormente quanto à sua importância para o conjunto da
economia, pois considerando as 500 maiores empresas do país, em 1989, a indústria
foi responsável por 86,1% do total exportado, sendo 42,6% por empresas nacionais e
43,5% pelas filiais de empresas estrangeiras. As importações da indústria responderam
por 90,8% do total importado, composto por 38,9% das empresas nacionais e 51 ,9%
das estrangeiras. Em 1997 a indústria já respondia por 93% (42,7% das empresas
nacionais e 50,3% da estrangeiras) das exportações e por 90,9% das importações
brasileiras (28,5% das empresas nacionais e 62,4% das empresas estrangeiras).

Esses números revelam fortes diferenças no desempenho comercial das grandes


empresas nacionais e estrangeiras. Este fato pode ser evidenciado quando se compara
o desempenho de empresas estrangeiras e nacionais no saldo comercial das
quinhentas maiores empresas privadas do país24, conforme tabela abaixo:

Tabela 08
Saldo Comercial das 500 Maiores Empresas Privadas (em milhões de dólares)
1989 1992 1997
Setor Nacionais Estrangeiras Nacionais Estrangeiras Nacionais Estrangeiras
Agncultura, silvicultura e pesca 35,0 - 78 ,7 - (48,1) -
Indústria Geral 3 269 ,1 2.730,4 5.649 ,0 3.422,9 4 838,7 (432 ,0)
Extrativa mineral 732.8 164.9 788 ,6 185,4 2.675,5 603,9
Indústria de Transformação 2.536 ,3 2.565,5 4.860,4 3.237,5 2 .163,2 (1.035,9)
Serv1ços (75,0) - (280 ,5) (0,5) (954 ,0) (7,6)
Comérc1o 755 ,3 536,1 487,1 494,2 243,4 647,5
Construção civil (10,8) - (2,8) 0,1 (1,9) (30 ,7)
Total 3.973,6 3.266,5 5.931 ,5 3 916,7 4 .078,1 177,2
Fonte: NEIT/IE-U NICAMP, a partir de dados da Secex e Exame Ma1ores e Melhores apud Laplane et ai, 2000, p. 77 .

24
É interessante ressaltar que a atenção deve estar voltada para os setores que compõe a indústria
brasileira por serem eles responsáveis pela parte relevante das vendas e exportações/importações
brasileiras.
59

A partir dos dados acima se percebe que as expectativas de redução da


vulnerabilidade externa do país por meio das atividades comerciais das empresas
estrangeiras não se concretizaram, pois mesmo em 1997 quando a internacionalização
da economia já se encontrava em estágio bastante avançado, a contribuição mais
expressiva no sentido de conter os déficits foi resultado do comércio exterior das
empresas nacionais (Laplane et ai, 2000).

Vale ressaltar, porém, que nos anos considerados neste trabalho, a


característica assimétrica da composição do comércio exterior brasileiro contribuiu para
a fragilidade do saldo comercial do país: enquanto as exportações brasileiras, têm sua
maior participação em commodities agrícolas e industriais, sujeitas às oscilações do
comércio mundial; as importações, ocorrem de forma preponderante naqueles setores
intensivos em tecnologia (fornecedores especializados e intensivos e P&D), portanto,
com maior valor agregado e que são controladas essencialmente pelas atividades
comerciais das filiais de empresas estrangeiras.

As informações apresentadas ao longo deste capítulo mostram que as grandes


empresas nacionais com atuação na indústria, reagiram às mudanças do regime
macroeconômico e a abertura comercial de forma bastante ágil. Basicamente,
acentuaram sua especialização em produtos intensivos em recursos naturais, além de
realizar mudanças na estrutura organizacional e nas estruturas de controle acionário.

A despeito da resposta ter sido bem sucedida no sentido de permitir a


sobrevivência dessas empresas, foi acompanhada de forte perda de importância
relativa da empresas nacionais no grupo de elite das grandes empresas que atuam no
país. A perda de importância relativa foi mais acentuada na indústria.

UI~CAMP
8JBLIOYECA CENTFIAL
60

Apesar da queda na participação das empresas nacionais nas vendas das 500
maiores empresas brasileiras, constatou-se que ainda realizam contribuição importante
para o saldo da balança comercial brasileira. Nos três anos estudados, o superávit
comercial das empresas nacionais ultrapassou o das empresas estrangeiras que
participam do mesmo grupo. Na atividade industrial as empresas nacionais
continuaram superavitárias após a abertura, enquanto o comércio das empresas
estrangeiras tomou-se deficitário.

Em suma, este capítulo mostrou que as empresas nacionais que participam da


elite empresarial brasileira sobreviveram às pressões provocadas pelas transformações
da economia e que ainda realizaram uma contribuição importante na geração de divisas
para o país. Esta constatação sugere que o grau e o tipo de internacionalização da
produção dessas empresas merecem um exame detalhado, com propósito de verificar
sua sustentabilidade e as perspectivas de aprofundamento, ambas essenciais para
avaliar as perspectivas de expansão dessas empresas e sua contribuição futura para a
balança comercial brasileira. A análise da internacionalização da produção das grandes
empresas nacionais será desenvolvida no próximo capítulo.
61

4. A INTERNACIONALIZAÇÃO COMERCIAL E PRODUTIVA DAS EMPRESAS


DE CAPITAL NACIONAL

Em função do que foi exposto nos capítulos precedentes, é importante examinar


o processo de internacionalização das grandes empresas nacionais no contexto das
transformações dos anos 90. Para tanto, este capítulo está organizado em três itens.
No primeiro são analisadas as características do comércio exterior de um painel de
empresas nacionais. O segundo item discute o grau de internacionalização das
empresas do painel a partir da análise dos coeficientes de comércio. O terceiro item
discute as informações disponíveis sobre os investimentos das empresas do painel no
exterior, e adicionalmente algumas outras poucas empresas nacionais.

4.1. As características das empresas nacionais selecionadas

A análise do processo de internacionalização da produção por meio das


exportações das empresas de capital nacional foi realizada a partir do estudo de um
painel formado por 90 empresas do setor industrial25, por ser ele responsável pela parte
relevante dos fluxos de comércio brasileiro e por ter sido o palco de profunda
reestruturação após a mudança do regime comercial 26.

O processo de seleção das empresas incluídas no painel (anexo 01) levou em


consideração os seguintes fatores:
• a sua presença entre as 500 maiores empresas do país27 , o que expressa a
importância das mesmas para a economia brasileira;

25
A Petrobrás, mencionada apenas na discussão acerca da internacionalização produtiva, em razão do
avanço de sua estratégia internacional, por ser ainda uma empresa estatal foi excluída da amostra que
serviu de base para a análise dos fluxos de comércio das empresas brasileiras de capital nacional.
26
Detalhes adicionais sobre a metodologia são apresentadas no anexo 02.
27
Estas empresas são acompanhadas pela revista Exame - Melhores e Maiores. Ademais, foram
consideradas também no painel as empresas nacionais do setor industrial que foram privatizadas na
década de 90, e que continuaram pertencendo ao capital nacional.
62

• a diversidade setorial, para que fosse possível acompanhar o comportamento


das empresas que atuassem em diversos setores da indústria brasileira
(extrativa e transformação).
• A disponibilidade de dados sobre as empresas nos anos de 1989 e 1997. Esses
dois anos foram selecionados em razão de representar dois momentos
diferentes da indústria brasileira. O primeiro ilustra as condições anteriores à
abertura, enquanto o segundo representa um ano de bom desempenho da
indústria brasileira ainda sob o regime cambial originalmente implantado para
estimular a estabilização e a abertura acelerada da economia28. .

As informações obtidas a partir do painel permitem que se visualizem as


principais características do processo de internacionalização das empresas nacionais.
A participação relativa do painel na balança comercial do país não apresenta mudanças
significativas no que se refere às exportações, pois tanto em 1989 quanto em 1997,
essa participação era de aproximadamente 17%. Esse comportamento, todavia, é
diferente quando se observa o lado das importações, uma vez que a participação das
empresas selecionadas apresenta uma queda, de 11 ,7% em 1989 para 6,3% em 1997,
conforme mostra o gráfico abaixo.

Os dados relacionados à participação das empresas do painel entre as 500


maiores expressam uma redução relativa nos fluxos de comércio dessas empresas. Os
números mostram que em 1989, as empresas selecionadas detinham 48,1% das
exportações entre as 500 maiores, reduzindo-se para 35,6% em 1997. O mesmo
movimento é percebido nas importações, quando a participação da amostra passa de
42,4% em 1989 para 18,3% em 1997 (ver gráfico abaixo). Esse fato possivelmente se
deve ao crescente número de empresas estrangeiras no conjunto das 500 maiores e
não a uma queda das receitas de exportações das empresas nacionais.

28
Ocasionalmente, apresentam-se dados correspondentes ao ano de 1992, ano que retrata a situação
econômica no final da profunda recessão provocada pelo Plano Collor, no início da abertura .
63

Gráfico 03
Participação das Empresas Nacionais Selecionadas na Balança Comercial Brasileira e
nas 500 Maiores (%)

60,0 l
01989
50,0 1 .1992

40,0 1 01997

30,0 -

20,0 ~
10,0 J

Exportação Importação Exportação Importação 500


Balança Balança 500 Maiores Maiores
Comercial Comercial

Fonte. NEIT/IE- UNICAMP, a partir dos dados da Secex e da Exame- Melhores e Maiores;
Elaboração própria.

As informações acima permitem que se avalie a representatividade das


empresas nacionais selecionadas no comércio exterior brasileiro. Mostram que,
embora os fluxos de comércio representem parcela pequena do comércio brasileiro
como um todo, são relativamente importantes nos fluxos comerciais das grandes
empresas que atuam na economia brasileira. A importância dos fluxos no grupo das
500 maiores está associada a perda de participação das empresas nacionais no grupo
da elite empresarial da economia brasileira, conforme visto no capitulo anterior.
64

Tabela 09
Painel das Empresas Selecionadas
Número de Empresas e Vendas por Setor - 1997 (em US$ milhões e %)
N°de
Setores Empresas % Faturamento %
Minerais Metálicos
3 3,3 3.651 7,2
Alimentos e Beb1das
24 26,7 14.602 28,9
Têxteis e Calçados
8 8,9 2.391 4,7
Madeira
1 1,1 417 0,8
Papel e Celulose
8 8,9 3.270 6,5
Fab. De coque, ref .petróleo
2 2,2 375 0,7
Produtos Químicos (Químlca/Petroquímica)
13 14,4 6.830 13,5
Borracha e Plásticos
2 2,2 714 1,4
Minera is Não Metálicos
3 3,3 1.027 2,0
Siderurgia/Metalurgia
13 14,4 12.715 25 ,1
Fab. Produtos de Metal
3 3,3 716 1,4
Máquinas e Equipamentos
1 1' 1 304 0,6
Eletroeletrônicollnformática
5 5,6 2.106 4,2
Fab. Mont. Veic., reb., carrocerias.
3 3,3 715 1,4
Outros Equipamentos de Transportes
1 1'1 731 1,4
TOTAL
90 100 50 .564 100
Fonte: NEIT-IEIUNICAMP , a partir dos dados da Exame e da Secex; Elaboração Própria .

A tabela acima descreve a composição do painel das 90 empresas, do ponto de


vista setorial, para o ano de 1997. Como pode ser observado, os setores que
concentraram o maior número de empresas foram alimentos e bebidas (26,7%),
produtos químicos (14,4%) e siderurgia/metalurgia (14,4%). As vendas se
concentraram nos setores de alimentos e bebidas e siderurgia/metalurgia, que juntos
detiveram, em 1997, 54% do faturamento total das empresas selecionadas.

Quanto à composição setorial do comércio do painel, percebe-se que as


empresas de alguns poucos setores concentram mais de 80% do valor total exportado e
mais de 75% do valor importado. Este dado confirma que as exportações estão
concentradas em commodities agrícolas e industriais, características do comércio
exterior brasileiro, como mencionado nos capítulos anteriores.
65

Tabela 10
Participação Relativa dos Principais Setores no Total das Exportações e Importações
d p . I 0A
I .......-'~"'{.JP4=-, \ -
J_
-. "T-:.,'~
. ~=· . •_:.,~T· •- ·.-. ---~ ~ -
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... - - . . .
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---
•-'
....... ---. --
... ~ ... --·----- -·--- -·~ .. - - _..,__ - -- --·- . . _ -- ~- - '~"=·- • - -- __ :~. •
Metalurgia Básica 37,5 Metalurgia Básica 50 ,2
Ext de Minerais Metálicos 27,1 Fab de Outros Equip de Transporte 16,6
Fab de Prod Alimentícios e Bebidas 15,3 Fab de Prod Alimentícios e Bebidas 6,8
Fab de Outros Equip de Transporte 9,3 Fab de Prod Químicos 5,6
89,2 79,2

Metalurgia Básica 31,4 Metalurgia Básica 37 ,2


Ext de Minerais Metálicos 26 ,2 Fab de Mat. Eletr. e de Ap e EqUip de Comun1c 15,3
Fab de Prod Alimentícios e Bebidas 14,8 Fab de Outros Equip de Transporte 11 ,4
Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 9,8 Fab de Prod Químicos 9,4
~ n~
Fonte: NEIT-IEJUNICAMP, a partir dos dados da Exame e da Secex; Elaboração Própria .

O comércio exterior realizado pelas empresas selecionadas não apresentou


mudanças significativas quanto ao destino/origem de suas atividades comerciais (tabela
11 ). Tanto em 1989 como em 1997, as exportações destinavam-se principalmente aos
blocos comerciais nos quais participam os países desenvolvidos. No que se refere às
importações, estas continuaram vindo do Nafta. No conjunto das regiões, a Aladi e o
Mercosul não representam, tanto nas exportações quanto nas importações, os
principais parceiros comerciais desse grupo de empresas.

O saldo comercial do painel mostra-se superavitário nos dois momentos. O


superávit comercial gerava-se principalmente com o mundo desenvolvido (Nafta. União
Européia e Ásia).
66

• • • •• . -
Tabela 11
N . SI . .. .. -- ...
.d R

,-- . . ·----: -:;;i7 \ -_ --- -.. ---.


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,~: -.~ ~-. ~:. -~ ·~- -~:;·ç. ~- -~ ~:·


-~ -".... ~"'- -·~.!;: ... -.~ ........ .:_,·~ ........ _-'·--.ao
Mercosul 188 3,2 164 7,7 24
Nafta 1.375 23,3 830 38,9 545
Ala di 84 1,4 240 11,2 (156)
União Européia 1.456 24,7 378 17,7 1.078
Ásia 1.799 30,5 222 10,4 1.577
Resto do Mundo 1.000 16.9 301 14,1 699
Total 5.902 100 2.135 100 3.767

Mercosul 810 8,9 224 5,8 586


Nafta 2.170 23,9 1.239 31 ,8 931
Ala di 359 4,0 341 8,8 18
União Européia 2.048 22,6 752 19,3 1.296
Ásia 2.104 23,2 845 21 ,7 1.259
Resto do Mundo 1.582 17,4 490 12,6 1.092
Total 9.073 100 3.891 100 5.182
Fonte: NEIT-IE/UNICAMP, a partir dos dados da Exame e da Secex; Elaboração Própria

O comércio com as diversas regiões apresenta características diferenciadas,


principalmente do lado das exportações (Tabela 12). No comércio com a União
Européia e com a Ásia predominam as empresas dos setores de extração de minérios,
metalurgia básica e alimentos e bebidas. No comércio com o Nafta, as empresas do
setor outros equipamentos de transporte desempenham papel importante. Já no caso
da Aladi e do Mercosul as empresas nacionais da química têm certo destaque.
67

Tabela 12
Comércio Exterior dos Principais Setores das Empresas Nacionais Selecionadas
or

Ext de Minerais Metálicos Metalurgia Básica


Metalurgia Básica Fab de Prod Qufmicos
Fab de Prod Qufmicos Ext de Minerais Metálicos
Fab de Prod AJimentfdos e Bebidas Fab de Prod AJimentfaos e Bebidas
Fab de Prod Têxteis

1989 1997
Metalurgia Básica 38,5 Metalurgia Básica 44,6
Fab de Outros Equip de Transporte 22,7 Ext de Minerais Metálicos 14,3
Fab de Prod AJimentídos e Bebidas 13,8 Fab de Outros Equip de Transporte 13,8
Ext de Minerais Metálicos 10,9 Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 11 ,0
Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 9,5 Fab de Prod Alimentfdos e Bebidas 5,0
Fab de Prod Químicos 2,6

Metalurgia Básica 69,9 Metalurgia Básica 60,7


Fab de Prod Químicos 10,8 Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 6 ,7
Ext de Minerais Metálicos 9,1 Fab de Prod Químicos 6,5
Fab de Prod de Minerais Não-Metálicos 3,4 Fab de Prod Alimentfcios e Bebidas 5 ,2
Fab de Prod Alimentícios e Bebidas 2,0 Prep Couros e Fab Art Couro, Art Viagem e Calçados 4 ,8
Fab e Mont. de Veic Autom. Reboques e Carrocerias 4 ,7

1989
Fab de Prod Alimentícios e Bebidas 30.3 Ext de Minerais Metálicos 35,7
Ext de Minerais Metálicos 29,0 Fab de Prod AJímentfcios e Bebidas 25,1
Metalurgia Básica 16,6 Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 12,3
Fab de Outros EqUip de Transporte 9,8 Metalurgia Básica 12,2
Fab de Prod Qulmicos 7,6 Fab de Outros Equip de Transporte 7,1
93,3 92,4

1989 1997
Metalurgia Básica 53,7 Metalurgia Básica 40,5
Ext de Minerais Metálicos 36,3 Ext de Minerais Metálicos 40.0
Fab de Prod AJimentfdos e Bebidas 5,3 Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 8,4
F ab de Prod Qulmicos 3,8 Fab de Prod AJimenticios e Beb1das 7,1
Fab de Prod Qufmicos 3,8
99,1 99,8

1989 1997
Metalurgia Básica 36, 1Fab de Prod Alimentídos e Bebidas 30,4
Ext de Minerais Metálicos 28.1 Ext de Minerais Metálicos 24,6
Fab de Prod Alimentfclos e Bebidas 16,9 Metalurgia Básica 16,8
Fab de Outros Equip de Transporte 9,1 Fab de Outros Equip de Transporte 12,3
Fab de Prod Químicos 5,6 Fab de Celulose, Papel e Prod de Papel 10,5
95,8 94,6

(Continua)
68

Metalurgia Bás1ca 84,1 Metalurgia Básica


Fab de Prod de Metal - Exclusiva Maq e Equlp 12,2 Fab de Prod de Metal - Exclus1ve Maq e Equip
Fab de Maq e EqUip 1,8 Fab de Prod QuímiCOS
Fab de Prod Al1mentlcios e Bebidas 1,1 Fab de Prod Alimenliaos e Bebidas
Fab de Outros Equ1p de Transporte

Fab de Outros Equip de Transporte Metalurg1a Básica


Metalurgia Básica Fab de Outros Equip de Transporte
Fab de Prod Químicos Fab de Prod Qulm1cos
Fab de Celulose. Papel e Prod de Papel Fab de Prod Alimentlaos e Beb1das
Fab de Prod Alimenllcios e Bebidas Fab de Art de Borracha e Plástico

1997
Fab de Material EletrOmco e de Ap e Equip de Fab de Material Eletrônico e de Ap e Equlp de
Comunicações 49,3 Comunicações 56.2
Metalurgia Básica 3 1,7 Metalurgia Básica 28,6
Fab de Maq, Ap e Mal Elétricos 5,2 Fab de Maq. Ap e Mat Elétricos 6,4
Ext de M1nerais Metálicos 5,0 Prep Couros e Fab Art Couro, Art Viagem e Calçados 3,3
Fab de Maq Para Esailório e Equip de Informática 4.2 Fab de Prod Oulm1cos 1,9

Metalurgia Bás1ca Metalurgia Básica


Fab de Prod Ouím1cos Fab de Prod Têxteis
Ext de Minerais Metálicos Fab de Prod Ouim1cos
Fab de Prod Alimentiaos e Beb1das Fab de Prod Alimentfdos e Bebidas
Fab de Prod TêxteiS Ext de Minerais Metálicos
Fab de Outros Equip de Transporte

Fonte· NEIT-IE/UN
69

Para analisar a composição da pauta de exportações e importações do painel, os


produtos foram agrupados conforme a classificação CTP29 (anexo 03). Em 1989, as
exportações se concentraram nos produtos da indústria intensiva em escala (36,5%),
tais como ferro e aço e suas obras (barras, ligas e chapas); nos primários minerais
(25,5%), sobretudo minérios de ferro; e, da agroalimentar (10,3%), com forte incidência
dos sucos de laranja e das gorduras e óleos animais ou vegetais.

As importações desse mesmo ano foram concentradas em torno dos produtos


primários energéticos (28,8%), representados pelos combustíveis minerais e óleos
minerais; de fornecedores especializados (1 5,5%), tais como máquinas, aparelhos e
materiais elétricos e suas partes (turbopropulsores, por exemplo); e, da indústria
intensiva em P&D (1 4,4%}, como componentes para aviões e de aparelhos e materiais
elétricos.

Como resultado, os déficits comerciais se fiZeram presentes em produtos


primários energéticos, em função dos produtos importados pelas siderúrgicas (CSN, por
exemplo); nos fornecedores especializados, devido a importação das empresas que
pertencem a indústria de eletroeletrõnicos, como CCE e Evadin; e, na indústria
intensiva em recursos energéticos, importados tanto pela siderurgia como pela
petroquímica nacional.

Nos demais tipos de produtos houve superávits, totalizando um saldo comercial


positivo de US$ 3.767 milhões. Foram os produtos da indústria intensiva em escala, ou
seja, produtos da metalurgia básica na qual se encontram as siderúrgicas brasileiras
(CSN, Usiminas, Acesita); e os primários minerais, das indústrias extrativas de minerais
metálicos cujo exemplo mais notório é a Companhia Vale do Rio Doce, que mais
contribuíram para esse resultado.

29
Esta classificação é adaptada da taxonomia de Pavitt por Guerrieri (1994) em seus estudos de
competitividade internacional e permite classificar os setores segundo a intensidade de fatores, de forma
que se pode ter uma avaliação da pauta da ótica do valor adicionado.
70

O comércio exterior das empresas selecionadas em 1997 apresentou algumas


alterações em relação a 1989, sobretudo nas importações. Dessa forma, do total
exportado por estas empresas, as transações comerciais se concentraram nos produtos
da indústria intensiva em escala (30,4%), representados pelo ferro e aço e suas obras;
nos primários minerais (24,0%), com forte presença do minério de ferro; e, nos produtos
da indústria intensiva em outros recursos agrícolas (13,0%), como as pastas de
madeiras, papel e cartão e açúcares.

O comportamento das importações mostra o comércio exterior das empresas


selecionadas concentrado nos produtos de fornecedores especializados (24,8%), como
as máquinas, aparelhos e materiais elétricos e suas partes (turboreatores, laminadores,
por exemplo), dos intensivos em P&D (22,5%), com presença de componentes tanto
para aviões como para os produtos eletroeletrônicos; e, nos primários energéticos
(15,1%), tais como os combustíveis minerais, sobretudo carvão.

Em razão disso, em 1997, a pauta foi deficitária para os produtos de


fornecedores especializados, importados por empresas de diversos setores da
indústria, como o eletroeletrônico (com presença de empresas como CCE, Semp
Toshiba), Petroquímica (com empresas como a Deten Química, Oxiteno Nordeste,
Copesul), Papel e Ceulose (Aracruz Celulose, VCP e Suzana, por exemplo); os
primários energéticos, adquiridos sobretudo pela siderurgia, com presença da CST e
Gerdau, e pela extrativa mineral, exemplificada pela Vale do Rio Doce e Magnesita; os
intensivos em P&D, também com a aquisição de produtos de várias empresas nacionais
como a CCE da Amazônia, Sadia Concórdia, Chocolates Garoto, Vale do Rio Doce,
Embraer; e, nos intensivos em recursos energéticos, em particular, os produtos
requeridos pelas empresas dos setores da petroquímica (como a Deten Química) e da
metalurgia básica (como a Cosipa).
71

Como já ressaltado, o resultado final foi um superávit de US$ 5.182 milhões,


tendo os produtos intensivos em escala e os primários minerais mais uma vez
contribuído fortemente para esse saldo comercial favorável, repetindo o resultado
observado em 1989. Pode-se citar como exemplos mais notáveis, no primeiro caso,
empresas como CSN, CST e Cosipa; e, no segundo, a Vale do Rio Doce, como
principal exportadora da indústria extrativa mineral do país.

Os dados do painel também permitiram que se caracterizasse a pauta de


exportações e importações de acordo com a região (destino e origem) e tipo de produto,
de forma que se pudesse apreender das informações dos fluxos de comércio em que
direção caminhou o comércio exterior brasileiro do ponto de vista do capital privado
nacional30 . Isto é possível pois o painel é composto pelas grandes empresas nacionais,
atuantes nos vários segmentos do setor industrial e responsáveis pelo comércio
internacional do país.

A tabela abaixo confirma diversos aspectos relacionados às características da


inserção do país no cenário internacional. Ressalta-se que será considerado apenas o
ano de 1997 em razão do avanço da abertura da economia e das outras
transformações que marcaram a década.

30
Ressalta-se que há diferenças quanto ao destino das exportações brasileiras entre as empresas
nac1onais e estrangeiras. As empresas nacionais exportam sobretudo para o Nafta, União Européia e
Ásia ; enquanto que as estrangeiras têm no Mercosul e Aladi o principal destino de suas exportações. Por
outro lado, assim como as empresas estrangeiras, as nacionais importam dos pa fses desenvolvidos só
que em menor proporção, e, por isso são superavitárias (Hiratuka, 2002).
72

I
Marcoaul Aladi Unilo Asa Res1D Total
Européia Mundo
Produtos Primá nos Agrícolas 2,83 1,36 0 ,11 11 ,52 3 ,95 7.80 5,46
Produtos Primários Minerais 11 ,39 6,55 1,95 35 ,83 39,82 23.24 24,03
Produtos Primários Energéticos 0,00 0,00 0,00 0,00 0 ,00 0 ,00 0,00
Indústria Agroalimen tar 5,58 2,53 2,81 14,62 4 ,83 3,84 6,30
lnd . lntens1va em Outros Rec. Agrfcolas 5,31 11 ,56 8 ,95 11,47 7,85 29,22 13,10
lnd. Intensiva em Recursos Minerais 16,46 15,52 4,98 7 ,59 5 ,31 4,44 9,10
lnd . lntens1va em Recursos Energéticos 0,06 0,08 0 ,01 0,04 0 ,00 0 ,02 0,04
Indústria Inten siva em Trabalho 12,48 2,92 11 ,74 1,92 0,25 1,73 3,07
Indústria Intensiva em Escala 42,24 43,21 66,36 9,06 37,75 16,52 30,41
Fornecedores Especializados 1,03 2,13 2,13 0,70 0,08 0,78 1,00
Indústria lntens1va em P&D 2,62 14,14 0,96 7,25 0,16 12,42 7,49
Total regiões 100 100 100 100 100 100 100
IMPORTAÇAO
Produtos Pnmários Agrícolas 13,07 1,33 0,15 0 ,73 0, 11 0,20 1,38
Produtos Primários Minerais 1,08 1,73 70 .57 2 ,05 2,42 1,81 7 ,95
Produtos Primános Energéticos 0,00 26,06 0,45 0,00 10,21 35 ,69 15,05
Indústria Agroahmentar 57,92 4,00 3,87 1,97 0 ,25 20 ,66 7,98
lnd lnten s1va em Outros Rec. Agrícolas 1,40 0,94 0,01 1,94 0,20 0,11 0,81
lnd . lntensiva em Recursos Minerais 2 ,25 9,49 20,87 5,42 1,34 11 ,63 7,78
lnd . Intensiva em Recursos Energéticos 0,35 0,32 0,00 0, 10 0,00 0,81 0,25
Indústria Intensiva em Trabalho 8 ,65 3,01 0,50 3 ,89 3 ,99 1,81 3,35
Indústria Intensiva em Escala 8,83 7,79 1,30 11,36 8,72 7,93 8 ,19
Fornecedores Especializados 4 ,22 28,89 0,16 47,71 22,44 9,83 24 ,80
Indústria Intensiva em P&D 2 ,22 16,43 2,11 24,82 50,31 9,51 22,46
Total regiões 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: NEIT-IE/UNICAMP . a partir d os dados da Exame e da Secex; Elaboração Própria .


73

Os dados da tabela 13 revelam que, em 1997, dos produtos exportados para as


diversas regiões, prevaleceram os intensivos em escala, com forte presença dos
produtos da siderurgia nacional e os intensivos em recursos naturais, cujo exemplo
notório é o minério de ferro (Vale do Rio Doce).

Ademais, a composição da pauta de exportações por região revela que na Aladi,


no Nafta e no Mercosul foram predominantes os produtos da indústria intensiva em
escala enquanto que para a União Européia e Ásia tiveram maior incidência os produtos
intensivos em recursos naturais, nos quais se inserem os produtos primários minerais,
com atuação de empresas como a Vale do Rio Doce e a Magnesita .

Por sua vez, as informações advindas da pauta de importações revelam que


incide sobre o total importado, os produtos de fornecedores especializados e intensivos
em P&D. Estes dois tipos de produtos atingem uma gama de setores da indústria
nacional (metalurgia, petroquímica, papel e celulose, fabricantes de produtos
alimentares).

A composição desta pauta, por região, foi caracterizada por: as importações do


Mercosul foram de produtos da indústria agroalimentar, tais como leite e laticínios,
malte, algodão; enquanto que produtos de fornecedores especializados
(turbopropulsores, turboreatores, laminadores de metais) e intensivos em P&D
(componentes para aviões ou helicópteros, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e
suas partes) resultaram das transações com o Nafta, a União Européia e a Ásia.
74

Os dados da tabela 14 complementam a análise anterior. Pode-se constatar


que, em termos da distribuição dos produtos por região, os intensivos em escala
predominam na exportação para o Nafta e para a Ásia (principalmente obras de ferro
fundido , ferro e aço, ou seja, mais uma vez a presença da siderurgia nacional); os
primários agrícolas (carnes e miudezas comestíveis e café, cujo exemplos de empresas
nacionais com grande atuação externa nestes mercados são a Sadia Concórdia e a
Cooxupé), e os primários minerais (minérios de ferro) são exportados sobretudo para a
União Européia e para a Ásia.

No que diz resperto a origem das importações, por tipo de produto, percebe-se
que produtos intensivos em escala (produtos da indústria química; obras de ferro
fundido, ferro ou aço; plásticos e suas obras; borracha e suas obras) e fornecedores
especializados (sobretudo máquinas, aparelhos e materiais elétricos e suas partes, para
diversos setores da indústria brasileira) vem principalmente do Nafta e da União
Européia; os primários agrícolas (amêndoas; cevada cervejeira; extratos e suco de
lúpulo; milho; trigo) do Mercosul e Nafta; os primários minerais (cobre e outros produtos
químicos inorgânicos) da Aladi e os intensivos em P&D (sobretudo componentes de
produtos eletroeletrônicos) foram originados na Ásia. Essas informações podem ser
conferidas na tabela 14.
75

Tabela 14
Composição das Exportações e Importações das Empresas Nacionais Selecionadas
or Ti o de Produtos e or Re iões - 1997 %
EXPOR.TAÇAO
Meroosul Nafta Aladl UniãQ ia Resto Total
Européia Mundo
Produtos Primários Agrícolas 4,64 5,97 0,08 47 ,64 16,76 24 ,91 100
Produtos Primários Minerais 4,23 6,52 0,32 33,65 38,42 16,86 100
Produtos Primários Energéticos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 o
Indústria Agroalimentar 7,90 9,58 1,77 52,37 17,77 10,61 100
lnd . Intensiva em Outros Rec. Agrícolas 3,62 21 ,11 2,70 19,76 13,90 38,90 100
lnd. Intensiva em Recursos Minerais 16,16 40,81 2,17 18 ,82 13,53 8,51 100
lnd. Intensiva em Recursos Energéticos 14,22 51,71 0,72 22,57 0,87 9,92 100
Indústria Intensiva em Trabalho 36 ,30 22 ,76 15,1 4 14 ,13 1,88 9,80 100
lndústna Intensiva em Escala 12,41 33,99 8 ,64 6,72 28,78 9,47 100
Fornecedores Especializados 9,22 51 ,02 8,43 15,93 1,86 13.53 100
Indústria Intensiva em P&D 3,13 45,11 0,50 21,85 0,51 28,90 100
Total regiões 8,93 23,92 3,96 22,57 23,18 17,44 100
IMPORTAÇAO
Produtos Primários Agrícolas 54 ,56 30 ,65 0,98 10,21 1,76 1,83 100
Produtos Primários Minerais 0,78 6,95 77,79 5,00 6,60 2,87 100
Produtos Pnmários Energéticos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 o
Indústria Agroalimentar 41 ,75 15,97 4,25 4,78 0,68 32,57 100
lnd. Intensiva em Outros Rec. Agrícolas 9,91 36,76 0,13 46,05 5,38 1,78 100
lnd. Intensiva em Recursos Minerais 1,67 38,83 23,49 13,46 3,74 18,80 100
lnd. Intensiva em Recursos Energéticos 8,08 41,89 0,00 8,23 0,33 41,47 100
Indústria Intensiva em Trabalho 14,88 28 ,62 1,31 22,48 25,89 6,81 100
Indústria Intensiva em Escala 6,21 30,30 1,39 26,80 23,12 12,18 100
Fornecedores Especializados 0,98 37,12 0,06 37,20 19,65 4,99 100
Indústria Intensiva em P&D 0,57 23,30 0,82 21,36 48,62 5.33 100
Total regiões 5,75 31 ,86 8,76 19,33 21,71 12,59 100
Fonte: NEIT-IE/UNICAMP, a partir dos dados da Exame e da Secex; Elaboração Própria .
76

O que se apreende dessas informações é que as exportações das grandes


empresas brasileiras que conformam o painel se concentram nos setores intensivos em
recursos naturais e intensivos em capital e suas importações naqueles intensivos em
tecnologia.

Além da constatação das diferenças entre as pautas de exportação e


importação, deve-se ressaltar que as empresas do painel foram superavitárias em
todas as reg iões3 1 nos anos da análise.

As caracterjsticas acima descritas mostram que o painel de empresas


selecionadas é representativo das grandes empresas sob controle do capital nacional
que sobreviveram na indústria brasileira às transformações dos anos 90. A composição
setorial do painel assim como a pauta comercial, por produto e por origem/destino dos
fluxos, descrevem a inserção externa das grandes empresas industriais de capital
nacional.

Portanto, as características do painel são condizentes com os resultados das


pesquisas sobre o curso da reestruturação da indústria brasileira e, em particular, das
grandes empresas resenhadas no capítulo anterior. São também condizentes com a
importância relativa das empresas nacionais na 500 maiores empresas que atuam no
Brasil e com a análise da contribuição dessas empresas à balança comercial do país,
analisadas no capítulo 3.

31
A exceção foi o comércio deficitário com a Aladi em 1989, mas com recuperação de um pequeno saldo
pos1tivo em 1992 e 1997.
77

4.2. A Internacionalização Comercial: Coeficientes de Abertura das Empresas


Nacionais

No enfoque proposto por Dunning (1988, 1993), o grau de internacionalização


produtiva das empresas pode ser avaliado, pelo menos em parte, com base na parcela
de produção destinada aos mercados externos. Partindo dessa perspectiva,
desenvolvemos neste item uma avaliação do tipo e do grau de internacionalização
produtiva das grandes empresas brasileiras com base no exame de seus coeficientes
de abertura.

Duas observações devem ser feitas sobre a metodologia aqui utilizada. Em


primeiro lugar, utilizamos tanto o coeficiente de exportações. como o de importações. O
uso deste último, embora não inteiramente compatível com a proposta original do
Dunning é justificado pelo teor das estratégias de internacionalização das empresas
transnacionais nos anos 90, com ênfase crescente na especialização das filiais com o
objetivo de aumentar a eficiência. Trabalhos mais recentes de Dunning, resenhadas no
primeiro capítulo, respaldam o uso de ambos os coefiCientes. Em segundo lugar, os
coeficientes são construídos comparando o valor dos fluxos de comércio com as
vendas totais das empresas. Dessa forma, os coeficientes refletem a participação das
vendas/compras externas no faturamento das empresas, no lugar da parcela da
produção vendida/comprada no exterior. Embora os coeficientes de abertura assim
calculados sejam sensíveis às variações de preços e do câmbio, são a única alternativa
disponível, dada a ausência de dados de quantidades produzidas e comercializadas no
exterior.
78

A avaliação do grau de internacionalização das grandes empresas nacionais foi


feita a partir de duas óticas. Inicialmente, foram analisados os coeficientes individuais
das empresas e, com base nessa análise, foram criadas categorias que representam
graus diferenciados de internacionalização. Em um segundo momento, as empresas
foram primeiro agrupadas em setores principais de atuação. Essa classificação
permitiu calcular os coeficientes médios de abertura por setor. Na seqüência a
comparação dos coeficientes permitiu agrupar os setores em grupos que apresentaram
graus diferenciados de abertura.

A partir de ambas classificações é possível estabelecer um paralelo com a


tipologia de Dunning relativa às vantagens que impulsionam o processo de
internacionalização das empresas (vantagens de propriedade, vantagens de localização
e vantagens de internalização).

A utilização de Dunning enquanto referência para uma tipologia dos graus de


internacionalização das empresas nacionais é semelhante a uma tentativa de
caracterizar estas empresas em função do que já havia sido realizado para as filiais das
empresas estrangeiras que atuam no Brasil em Laplane et ai (2000, 2001 ) e Híratuka
(2002). O que diferem as duas pesquisas é que, neste trabalho, Dunning está sendo
utilizado para caracterizar a internacionalização comercial das empresas de capital
nacional, enquanto que em Laplane et ai (2000, 2001) e Hiratuka (2002) a sua
utilização se deu para o investimento direto estrangeiro no Brasi132 •

32
A utilização de Dunning para uma tipologia da mtemacionalização comercial das empresas de capital
nacional necessita de adaptações, pois seu uso pode causar confusões na interpretação das atividades
comerciais dessas empresas.
79

4.2.1. Classificação do Painel a partir dos Coeficientes de Abertura das Empresas

As 90 empresas nacionais do painel podem ser classificadas em três categorias


em função do valor dos seus coeficientes de exportação e importação. Na primeira
categoria são incluídas as empresas com coeficientes mais elevados; na segunda,
aquelas cujos coeficientes tem valor médio; e, finalmente, na terceira, são incluídas
empresas cujos coeficientes têm valores reduzidos.

As principais variáveis que descrevem as características de cada grupo são


apresentadas na tabela 15.

Tabela 15
Indicadores Síntese do Painel de Empresas por Grau de Internacionalização
1989 e 1997 (em US$ milhões e%)
Internacionalização Internacionalização Não
Variável avançada Incipiente Internacionalizada ~
1989 1997 1989 1997 1989 1997 I

N° de Empresas 7 5 7 15 76 70
Faturamento 4.760,77 5.518,20 4 .009,75 6 .478 ,20 23 .692,69 38.567,40
Exportação 3.694,18 4.264,09 1.127,84 2.246,78 1.079 ,73 2.562,60
Importação 588,48 848,98 285,49 761 ,18 1.261,72 2.280,83

Saldo 3.105,70 3.415,11 842,35 1.485,60 (181 ,99) 281 ,77


Coef. X (médio) 77,60 77,27 28,13 34 ,68 4,56 6,64
Coef. M (médio) 12,36 15,39 7,12 11 ,75 5,33 5,91
%Faturamento Total 14,67 10,91 12,35 12,81 72 ,98 76,27
% Exportação Total 62,59 47,00 19,11 24,76 18,30 28,24
% Importação Total 27,55 21 ,82 13,37 19,56 59 ,08 58,62
Fonte: NEIT/IE-UNICAMP, a part1r dos dados da Secex e da Exame- Melhores e Ma1ores; Elaboração Propna .
Nota: Painel das Empresas por Coeficientes de Abertura.
80

No grupo de empresas classificadas como "Internacionalização Avançada"


constam empresas que possuíam uma propensão a exportar bastante elevada e uma
propensão a importar relativamente baixa. Em 1997, cinco grandes empresas
brasileiras de capital nacional foram classificadas nesta categoria de grau de
internacionalização; e, este conjunto de empresas detinha mais de 10% do faturamento
total do painel; suas exportações respondiam por 47% do total exportado pelas 90
empresas selecionadas e por mais de 20% das importações. O saldo comercial deste
grupo de empresas foi superavitário em 1997.

Em relação a 1989, algumas mudanças podem ser percebidas nessa categoria


de internacionalização. Há uma perda de participação relativa no faturamento total do
painel desse grupo, que reduziu de 14,67% (em 1989), para 10,91% (em 1997). Foi
bastante significativa a queda da participação relativa tanto nas exportações quanto
nas importações; porém, a queda da participação relativa das exportações é mais
acentuada do que das importações, o que demonstra que as empresas dessa categoria
apresentaram um crescimento assimétrico dos seus fluxos de comércio, representados
por seus coeficientes de abertura. A despeito desse comportamento, o saldo comercial
do grupo apresentou um crescimento no período em torno de 10%.

No grupo das empresas classificadas como "Internacionalização Incipiente", em


1997, constava um total de 15 grandes empresas brasileiras. É um grupo de empresas
que apresenta coeficientes de exportação e importação que podem ser considerados
médios. A participação desse grupo no total do faturamento do painel era de 12,81 %
em 1997. Em tem1os de fluxos de comércio, respondiam ainda por 24,76% das
exportações totais do painel bem como por aproximadamente 20% das importações.
Como pode ser observado na tabela 15 acima, o saldo comercial desse grupo de
empresas também foi superavitário em 1997.
81

A mudança mais significativa para esse grupo, em relação a 1989, foi o aumento
no número de empresas, que passou de 7 para 15, mostrando uma alteração no grau
de internacionalização para algumas empresas do painel, mesmo que de forma
incipiente. Esse fato foi responsável pelo aumento das participações relativas das
exportações e importações no total do painel de empresas selecionadas, sobretudo das
importações. Em termos de saldo comercial, também houve um crescimento relevante
no período.

A categoria classificada como "Não Internacionalizada" concentrou o maior


número de empresas (70 empresas em 1997). Estas empresas possuíam coeficientes
de abertura muito baixos. Mas, a despeito desse fato, a participação relath!a nas
importações totais do painel é maior do que nos dois outros grupos mencionados
acima. O mesmo se aplica a participação relativa dessas empresas no faturamento
total do painel, que em 1997 era responsável por mais de 70% das vendas das
empresas selecionadas.

Observando as informações para o ano de 1997 e comparando-as com 1989,


pode-se afirmar que a mudança significativa desse grupo foi um aumento na sua
propensão a exportar. Mesmo com uma redução no número de empresas, que caiu de
76 para 70, sua receita de exportação dobra nesse período, passando deUS$ 1.079,73
milhões para US$ 2.562,60 milhões, implicando em um aumento significativo de sua
participação relativa no total exportado pelas empresas do painel.

Estas três categorias de graus de internacionalização podem ser visualizadas


nos gráficos abaixo.

UN ICAM P
BIBLI!JTECA CENTRAL
SEÇAQ CfRCULANTF
82

Gráfico 04

o Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de


•ro
c>
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Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Vendas- 1989
t
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Coeficiente de Exportação

Gráfico 05

Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de


Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Vendas - 1997
70,0
.,oc> 60,0
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~ 50,0
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- 10~o .o o 10.0 20.0 30,0 40,0 50,o so.o 70,0 ao.o 90,0 1oo.o
Coeficiente de Exportação

c:=J Internacionalização - fnternacionalização ~Não Internacionalizada


Avançada Incipiente

Fonte: NEIT/IE-UNICAMP, a partir dos dados da Secex e da Exame -Melhores e Maiores Adaptado de Laplane et
ai (2001).
Nota. O tamanho dos círculos corresponde a participação relativa de cada categoria no total das vendas das
empresas nacionais e a posição cfrculos reflete os seus coeficientes de comércio.
83

Gráfico 06

Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de


o Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Exportações-
1(1)
(.)o 1989
i
C1l
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Coeficiente de Exportação

Gráfico 07

Painel de Empresas: Coeficientes de Comércio por Grau de


Internacionalização, Ponderado pela Participação nas Exportações -
~ 70,0 ~ 1997
-ê 60,0
o
E" so.o
Q) 40,0
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-1 <r.OO.o cY,o 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0
Coeficiente de Exportação

c::=J Internacionalização - Internacionalização Não internacionalizada


Avançada f ncipiente
Fonte: NEIT/IE-UNICAMP, a part1r dos dados da Secex e da Exame -Melhores e Maiores Ad aptado de Laplane et
ai (2001 ).
Nota O tamanho dos círculos corresponde a participação relat1va de cada tipolog1a no total das exportações
das empresas nacionais e a posição dos circuios reflete os seus coeficientes de comércio .
84

A partir dos gráficos acima, algumas observações podem ser feitas em relação à
evolução do grau de internacionalização das empresas selecionadas no painel. Em
primeiro lugar, pode-se perceber pela posição dos círculos que os grupos de fato
apresentam fortes diferenças no grau de internacionalização. Segundo, a posição dos
círculos não se altera, comparando 1989 a 1997, porque os coeficientes não sofreram
maiores alterações. Isso mostra que o grau de internacionalização não se alterou
significativamente. Terceiro, o tamanho relativo dos círculos não altera também, o que
mostra que a importância relativa dos três grupos no total do painel também não sofreu
grandes mudanças.

Algumas informações adicionais podem ser feitas em relação às empresas


classificadas em cada categoria de grau de internacionalização.

No grupo da "Internacionalização Avançada" estão presentes empresas de vários


setores: mineração (Vale do Rio Doce e MBR), papel e celulose (Aracruz Celulose),
siderurgia/metalurgia (Companhia Siderúrgica de Tubarão) e aeronáutico (Embraer). A
heterogeneidade das empresas do grupo reflete as diferenças nos coeficientes de
abertura.

As empresas do setor de mineração e de papel e celulose apresentam


coeficientes de exportação bastante elevados, seus coeficientes de importação são
muito baixos em função do próprio setor que está baseado em vantagens de
propriedades associadas aos recursos naturais.

A Embraer, em função do seu próprio setor, apresenta os coeficientes de


abertura elevados. A CST, apresenta um coeficiente de exportação bastante elevado e
um coeficiente de importação que pode ser considerado médio.
85

No quadro abaixo, pode-se observar alguns produtos e mercado de destino do


grupo de empresas inseridas no grupo da "Internacionalização Avançada"

Quadro 01
Internacionalização Avançada: Empresas, Produtos e Mercado de Destino - 1997
Empresas Produtos Destino
Mercosul, Aladi , União
Minério de ferro Européia, Ásia e Resto do
Mundo
Vale do Rio Doce Minério de manganês Nafta, Aladi , União Européia
Ouro Nafta
Ligas de Alumínio União Européia
MBR Minério de ferro Aladi
Mercosul, Aladi, União
Pasta química de madeira Européia, Ásia e Resto do
Aracruz Celulose Mundo
Outras sementes para Ala di
semeadura
Companhia Siderúrgica de Produtos semimanufaturados de Aladi, União Européia, Asia e
Tubarão ferro/aço Resto do Mundo
Peças e materiais relacionados Nafta e União Européia
Embraer à fabricação e montagem de
aviões
Fonte NEIT/IE-UNICAMP, a partir dos dados da Secex e da Exame - Melhores e Ma1ores. Elaboração Propna

O grupo da "Internacionalização Incipiente" também é bastante heterogêneo e


estão presentes empresas como: Ripasa e Riocell (papel e celulose); Companhia
Brasileira de Alumínio, Cosipa (siderurgia/metalurgia); Artex (têxtil); Granol (alimentos);
Oxiteno Nordeste (química).
86

Embora exista a heterogeneidade de empresas no grupo, no geral, os


coeficientes de exportação estão próximos da média estabelecida e os de importação,
abaixo dela. As diferenças ficam por conta das empresas que pertencem ao setor da
siderurgia/metalurgia e da Química/petroquímica, cujo coeficiente de importação fica
acima da média do grupo.

Tal como no caso anterior, o quadro abaixo expõe alguns exemplos dos produtos
e os mercados de destino das empresas inseridas neste grupo.
Quadro 02
Internacionalização Incipiente: Empresas, Produtos e Mercado de Destino - 1997
Empresas Produtos Destino
Papel de desenho Mercosul
Outros papéis e cartões União Européia
Ripasa Papéis, cartão para escrita, impressão, fins Mercosul, Nafta, Aladi, União
gráficos Européia, Ásia e Resto do Mundo
Ceras artificiais de polietileno Mercosul. Nafta, União Européia,
Oxiteno Resto do Mundo
Nordeste Outros produtos e prep. para ind. química Mercosul
Produtos semimanufaturados de ferro/aço Nafta e As ia
Laminados de ferro/aço Mercosul. Nafta. Ala di, União
Gosipa Européia, Ásia e Resto do Mundo
Billets de ferro/aço Mercosul, Nafta. Aladi, União
Açominas Européia, Ásia e Resto do Mundo
Produtos semimanuf. de outras ligas de aço Mercosul, Nafta e Asia
Artex Roupas de cama, mesa e banho Sobretudo Mercosul e Ala di
Ligas de alumínio Aladi e Resto do Mundo
CBA Fios de alumínio Mercosul, Nafta, Aladi, União
Européia, Ásia e Resto do Mundo
Fios de algodão e outros tipos de algodão Mercosul
Granol Oleo de amendoim e outros grãos de soja União Européia e Asia
Fonte: NEITIIE-UNICAMP. a partir dos dados da Secex e da EJ<ame - Melh ores e Ma1ores. Elaboração Própria.

I
87

O grupo das empresas de capital nacional que constam no painel e que foram
classificadas como "Não Internacionalizadas" comportam empresas de todos os setores
industriais brasileiros, entre elas: Coopervale, Usina da Barra (alimentos), Teka (têxtil),
VCP (papel e celulose), Petroquímica União e Deten Química (Química) CSN
(siderurgia/metalurgia). Embora exista a heterogeneidade de empresas no grupo, no
geral, ambos os coeficientes de abertura podem ser considerados muitos baixos.

Alguns exemplos podem ser observados no quadro abaixo:

Quadro 03
Não Internacionalizada: Empresas, Produtos e Mercado de Destino - 1997
Empresas Produtos Destino
Coopervale Outros grãos de soja União Européia e Asia
Oteo de soja União Européia
Soja para semeadura Mercosul
Usina da Barra Outros açúcares de cana, Aladi, União Européia, Resto do
beterraba, sacarose Mundo
Teka Roupas de cama, mesa e banho Mercosul, Aladi, União Européia
e Resto do Mundo
VCP Pasta química para madeira Nafta. União Européia, Asia e
Resto do Mundo
Fonte: NEIT/IE-UNICAMP, a partir dos dados da Secex e da Exame - Melhores e Ma1ores. Elaboraçao Propna
88

Comparando as informações de 1989 e 1997 percebe-se que houve uma


pequena alteração no grau de internacionalização das empresas do painel. Duas
empresas do setor de alimentos que em 1989 foram classificadas como
Internacionalização Avançada, em 1997 apresentaram recuo no seu grau de
internacionalização. Outras seis empresas, principalmente dos setores de
siderurgia/metalurgia e de papel e celulose, saíram de um grau de internacionalização
quase nulo para incipiente. Mas, a despeito desse movimento de um grupo seleto de
empresas, no geral, o grau de internacionalização das empresas de capital nacional
não teve alterações significativas, considerando as profundas transformações ocorridas
na economia.

4.2.2. Classificação do Painel em Setores Industriais

Para complementar o exercício anterior, as empresas do painel foram


classificadas segundo seus setores de atuação. Depois de calculados os coeficientes
médios de cada setor, estes foram agrupados segundo a metodologia acima
(coeficientes elevados, médios e baixos). Novamente foram construídas três
categorias: Setores de Internacionalização Avançada, Setores de Internacionalização
Incipiente e Setores Não Internacionalizados.

As características de cada grupo são apresentadas na tabela 16 abaixo.


89

Tabela 16
Indicadores Síntese do Painel de Empresas Agrupadas por Setores, por Grau de
Internacionalização 1989 e 1997 (em US$ milhões e %)
Internacionalização Internacionalização Não
Variável Avançada Incipiente Internacionalizada
1989 1997 1989 1997 1989 1997
N° de Empresas 4 4 13 21 73 65
Faturamento 3.239,49 4 .381,60 9.855,51 15.985,70 19.368,21 30.196,50
Exportação 2.151 ,29 3.020,62 2.215,90 3.740,59 1.534,56 2.312,26
Importação 423,68 580,48 1.072,94 1.510,57 639,07 1.799,94
Saldo 1.727,61 2.440,14 1.142,96 2.230,02 895,49 512,32
Coef. Exportação (médio) 66 ,41 68,94 22,48 23,40 7,92 7,66
Coef. Importação (médio) 13,08 13,25 10,89 9,45 3,30 5,96
Part. Faturamento no Total 9,98 8,67 30 ,36 31 ,61 59,66 59,72
Part. Exportação no Total 36,45 33,29 37,55 41 ,23 26,00 25 ,48
Part. Importação no Total 19,84 14,92 50,24 38,82 29,92 46,26
Fonte. NEIT/IE-UNICAMP, a partir dos dados da Secex e da Exame- Melhores e Ma1ores. Elaboração Própna .
Nota: Painel das Empresas Agrupadas por Setores de Atuação.

Os setores da indústria classificados como "Internacionalização Avançada" foram


o da extrativa mineral e da fabricação de outros equipamentos de transporte. Os
coeficientes médios de exportação e importação destes setores se mostraram
elevados em relação às demais categorias. Em 1997, quatro empresas faziam parte
destes setores e detinham 8,67% do faturamento total do painel de empresas; a
participação relativa no total das exportações das empresas selecionadas era mais
de 30% e algo em torno de 15% das importações. Em relação a 1989, não houve
alterações significativas que resultassem em mudanças no grau de
internacionalização desse conjunto de setores. Ao longo do período, o saldo
comercial foi superavitário.
90

Os setores classificados como "Internacionalização Incipiente", em 1997, era


composto por 21 empresas de dois setores da indústria; siderurgia/metalurgia e papel e
celulose, e apresentaram coeficientes de exportação e importação abaixo da categoria
descrita anteriormente. Juntos, estes setores foram responsáveis por mais de 30% do
faturamento total das empresas selecionadas no painel. Em relação a 1989, esta
categoria apresentou mudanças significativas, como pode ser observado nos
indicadores síntese acima. O número de empresas aumentou em razão de um dos
setores que compõe a categoria ter apresentado um avanço no seu grau de
internacionalização. Esse fato implicou no aumento da importância relativa desses
setores nas exportações totais do painel, que foi acompanhado por uma redução
considerável de suas importações. Como resultado, houve um crescimento do saldo
comercial da categoria.

A categoria dos setores classificados como "Não Internacionalizados" foi o mais


heterogêneo de todos e comportou 65 empresas dos diversos setores da indústria do
país. Em linhas gerais, este grupo apresentou como característica relevante
coeficientes de comércio (exportação e importação) muito baixos, refletindo um grau de
internacionalização quase nulo. Em 1997, foram responsáveis por quase 60% do
faturamento das empresas do painel e por mais de 45% das importações totais. A
participação relativa nas exportações do total das empresas selecionadas foi de 25%.
Em relação a 1989, duas observações podem ser feitas . Como visto anteriormente,
houve um grupo (papel e celulose) que migrou dessa categoria para a
"internacionalização Incipiente", daí a redução no número de empresas que faziam
parte dessa categoria. Há um aumento importante das importações desse grupo e que
se refletiu em uma redução do seu saldo comercial, embora ele tenha permanecido
superavitário no período analisado.
91

A tabela 16 portanto sintetiza os dados relacionados ao grau de


internacionalização alcançado por este grupo de setores. A análise revelou que a
internacionalização das grandes empresas de capital nacional, agrupadas
setorialmente, apresentou um avanço ao longo da década. O coeficiente de exportação
cresceu na categoria "Internacionalização Incipiente", o que demonstra de certa forma a
possibilidade das empresas dos setores que compõem este grupo atingir ainda um
padrão de internacionalização mais significativo. As categorias "Internacionalização
Avançada" e "Internacionalização Incipiente", somadas as suas participações, detinham
mais de 70% das exportações da amostra em 1997.

Os coeficientes de importação também cresceram no período analisado. No


grupo classificado como "Internacionalização Avançada", esse crescimento não foi
significativo. No entanto, o grupo "Não Internacionalizado", apontou um comportamento
diferenciado em relação as demais categorias, que pode ser percebido no aumento da
sua participação no total importado pelas empresas do painel.

Mesmo que o comportamento dos coeficientes de comércio tenha apresentado


um crescimento simultâneo, em função do baixo nível de importação das grandes
empresas de capital nacional o saldo comercial foi superavitário. Portanto, a
contribuição à balança comercial foi positiva em razão do tipo de internacionalização
perseguido pelas empresas brasileiras.

É preciso ainda ressaltar alguns pontos que caracterizam esses grupos.

Dentro do grupo de empresas cujos setores foram caracterizados como tendo


uma "Internacionalização Avançada", houve uma que apresentou um comportamento
diferenciado em relação às demais no que diz respeito ao coeficiente de importação.
92

Trata-se da Embraer que, mesmo sendo uma exportadora líquida, tem na


produção de seus equipamentos um conteúdo de importação bastante elevado; e, isso
se deve a própria característica do setor, cuja competitividade exige um grau elevado
de sofisticação do produto. São produtos que resultam da montagem de um grande
número de componentes produzidos por fornecedores especializados. A empresa
brasileira se especializa no desenho e montagem dos produtos finais . Como a
encomenda de fornecedores especializados é parte importante dos componentes que
utiliza nos produtos finais destinados à exportação, os coeficientes de exportação e
importação estão indissoluvelmente articulados.

As demais empresas desse grupo atuam em setores que se sobressaem


mundialmente em razão de uma vantagem competitiva associada aos recursos
naturais. Este conjunto de empresas, entre elas a Companhia Vale do Rio Doce,
produz commodities com baixo nível de transformação, com um coeficiente de
importação muito baixo.

Os setores nos quais atuam as empresas classificadas no grau de


"Internacionalização Incipiente'' são aquelas que, na classificação CTP, correspondem
as categorias: produtos intensivos em escala (como a metalurgia básica, alumínio) e os
intensivos em outros recursos agrícolas (como papel e celulose). A sua estratégia
comercial privilegia tanto o mercado interno quanto o mercado externo, em proporções
diferentes. São setores que possuem vantagens competitivas em função do acesso
aos seus insumos básicos (recursos naturais); mas, por outro lado, concorrem com
grandes oligopólios no mercado externo, o que de certa forma, mas não apenas por
essa razão, dificulta o avanço do seu processo de internacionalização.
93

A internacionalização deste conjunto de empresas nacionais foi viabilizada não


só pelos recursos naturais, mas também pelos investimentos realizados nos anos 70/80
e que resultaram em empresas com instalações de escalas adequadas para concorrer
no mercado internacional.

A categoria de setores "Não Internacionalizados", onde se encontra a maioria


das empresas nacionais, é aquele que possui uma estratégia comercial quase que
totalmente voltada para o mercado interno, portanto reflete um comportamento
nitidamente diferente dos dois grupos mencionados acima. Os exemplos notórios são
as empresas pertencentes aos setores de alimentos, têxteis, eletroeletrônicos.

No geral, o que se constatou a partir da análise setorial acima, e que pode ser
visualizado nos gráficos 08 e 09, foi que as estratégias comerciais perseguidas pelas
empresas selecionadas sugerem um impacto direto, em termos de saldos comerciais
positivos, na balança comercial do país. Ressalta-se ainda que o comportamento
comercial das empresas nacionais e estrangeiras resulta em tendências distintas pelo
fato destas últimas serem, no conjunto, mais deficitárias33.

No que se refere ao processo de abertura comercial, este não causou quase


nenhuma mudança no grau de internacionalização das empresas nacionais até 1997 já
que, comparando-se os dois anos extremos, suas posições quase não se alteraram.

Provavelmente este resultado está vinculado ao fato de que em 1989 um


conjunto destas empresas já era internacionalizado e a abertura não significou aumento
substancial de suas exportações ou importações em relação ao seu volume de
negócios. Aquelas empresas que identificaram o mercado intemo como o seu foco
principal de atuação também não mudaram suas estratégias em razão da mudança do
regime de comércio; e, como pode ser observada no gráfico abaixo, a participação das
vendas para o mercado doméstico destas empresas se acentua ainda mais em 1997.

33
Esta afirmação pode ser corroborada pelas pesquisas de Laplane et ai (2000, 2001 ).
94

Gráfico 08

Painel de Empresas agrupadas por setores: Coeficientes de Comércio


o por grau de Internacionalização e Ponderado pela Participação nas
•ro
(..)o Vendas - 1989
ro
8. 70,0 I
E 60,0
~ 50,0
-E 40,0


·~ 30,0
'mo 20 ,0 o
o 10,0
l

-10:\9·00,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0
Coeficiente de Exportação

Gráfico 09

Painel de Empresas agrupadas por setores: Coeficientes de Comércio


por grau de Internacionalização e Ponderado pela Participação nas
Vendas - 1997
70,0
o
'3.
ro
60 ,0
t
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a. 50,0
É
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"'~ 30,0
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~ (.)
20 ,0
o
20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90 ,0 100,0
Coeficiente de Exportação

c=J Internacionalização - Internacionalização ~ Não Internacionalizada


Avançada Incipiente
Fonte: NEIT/IE-UNICAMP. a partir dos dados da Secex e da Exame - Melhores e Maiores. Adaptado de Laplane et
ai (2001 ).
Nota : O tamanho dos círculos corresponde a participação relativa de cada tipologia no total das vendas das
empresas naciona is e a posição dos círculos reflete os seus coeficientes de comércio.
95

Gráfico 1O

Painel de Empresas agrupadas por setores: Coeficientes de Comércio


l(ll "' por grau de Internacionalização e Ponderado pela Participação nas
(,)o
Exportações - 1989

j
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E 60,0
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.g 30,0 ~
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10,0 -; o
20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0
Coeficiente de Exportação

Gráfico 11

Painel de Empresas agrupadas por setores: Coeficientes de Comércio


por grau de Internacionalização e Ponderado pela Participação nas
Exportações - 1997
70,0
o
~ 60,0
111
1:
g_ 50,0
É
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I
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-10.Qo,oOJO 10.0 20.0 3o,o 40,o 5o.o 6o,o 1o.o 8o.o 9o,o 100.0
Coeficiente de Exportação

CJ Internacionalização - I nternacionalização ~ Não internaciOnalizada


Avançada Incipiente

Fonte: NEIT/IE-UNICAMP, a partir dos dados da Secex e da Exame - Melhores e Maiores Adaptado de Laplane et
ai (2001 )
Nota: O tamanho dos cfrculos corresponde a participação relativa de cada tipologia no total das exportações
das empresas nacionais e a posiçao dos cfrculos reflete os seus coeficientes de comércio.
96

Os gráficos 1O e 11 acima também confirmam as informações anteriores no que


diz respeito tanto a contribuição positiva das empresas nacionais para o saldo comercial
brasileiro, em função do nível de importação ser menor que o das exportações, quanto
ao impacto da abertura da economia no ritmo de intemacionalização dessas empresas.

A partir dos elementos colocados acima é possível afirmar que as grandes


empresas nacionais são pouco intemacionalizadas, o que revela a necessidade de se
aprofundar o seu processo de internacionalização. No entanto, é preciso ressaltar que
há dificuldades na condução desse processo, que são condizentes com a própria
inserção setorial desse conjunto de empresas. Do ponto de vista internacional, os
setores mais internacionalizados são aqueles que trabalham com produtos que, por
suas características, adicionam mais valor (bens de consumo duráveis, por exemplo);
enquanto que as grandes empresas nacionais, que apresentaram grau avançado ou
incipiente de intemacionalização, estão em setores cujos produtos, geralmente
intensivos em recursos naturais, tem baixo valor agregado (commodities, por exemplo)
e localizados nos elos mais frágeis da cadeia produtiva tais como a produção de bens
intensivos em escala e não em tecnologia como no caso da siderurgia nacional.
97

4.3. A Internacionalização Produtiva: Investimentos das Empresas de Capital


Nacional no Exterior

A internacionalização das empresas de capital nacional é essencialmente


comercial, porém o caminho da internacionalização produtiva já vem sendo trilhado por
algumas empresas, incipientemente, desde a década de 70. Assim, a tentativa aqui é
feita no sentido de levantar uma série de informações, que não são nem de longe
exaustivas, para que se tenha uma dimensão dessa vertente da internacionalização das
empresas brasileiras 34.

Sabe-se que os investimentos diretos no exterior realizados por empresas


brasileiras são muito incipientes; e, esse fato pode estar relacionado à própria direção
dada pelo país ao seu processo de industrialização (voltado para dentro), quando
adotou a política de promover a substituição de importações, o crescimento das firmas
locais, o desenvolvimento das empresas estatais, até os anos 80.

A partir de meados dos anos 60, as empresas brasileiras foram incentivadas a


exportar e assim contribuir para a diversificação da pauta de exportação do país. Tal
fato era uma tentativa tanto de aumentar as reservas cambiais do país como também
de gerar empregos internamente. Portanto, as medidas de incentivo não se voltaram
para a exportação de capitais no sentido de estabelecer uma produção de fato no
exterior, mas apenas para a internacionalização comercial destas empresas.

34
Ressalta-se que não há pretensão de fazer qualquer tentativa de quantificação dos investimentos
realizados pelas empresas brasileiras no exteior; mas. apenas apontar alguns elementos dessa forma de
internacionalização do capital nacional. Para tanto, recorre-se aos trabalhos de Villela (1983}, Fundação
Dom Cabral {1996), Siqueira (2000}, López (1999), além de matérias publicadas em revistas e jornais.
Ademais, vale salientar que os dados oficiais publicados pelo Banco Central do Brasil não permitem que
se tenha uma visão mais detalhada sobre esse tipo de investimento realizado pelo capital nacional , uma
vez que são dados agregados e que portanto não estão disponíveis os registros sobre em que países
ocorreram os investimentos, nem tampouco quais as empresas e os setores que fizeram este tipo de
investimento.
98

É nesse sentido que, embora o universo das grandes empresas nacionais


exportadoras seja bastante amplo, poucas são as que enveredaram pelo caminho da
internacionalização por meio de investimento direto estrangeiro, quando se leva em
consideração a dimensão do país.

O processo de internacionalização das empresas de capital nacional teve seu


início na década de 70, quando algumas poucas empresas brasileiras e alguns bancos
investiram incipientemente no exterior. No primeiro caso, visando os mercados em que
o país já possuía uma forte presença exportadora; e, no segundo, se dirigindo a países
desenvolvidos e aos paraísos fiscais em busca de acesso a recursos financeiros no
mercado internacional.

Nos anos oitenta, esse processo teve continuidade principalmente com as


empresas do setor de engenharia e construção civil e algumas do setor industrial. Da
mesma forma da década anterior, estas empresas foram ao exterior em busca de
mercados e se destinaram principalmente para países em desenvolvimento.

Para López (1999), citando Villela (1983), a explicação para o baixo grau de
internacionalização produtiva das empresas de capital nacional poderia estar no
dinamismo e tamanho do mercado interno brasileiro. Com os problemas resultantes do
balanço de pagamentos na década de 80, o governo brasileiro adotou um programa de
estímulo às exportações e seu êxito teve como conseqüência a ida de empresas
brasileiras de vários setores ao exterior, quando estas investiram em escritórios
comerciais e de assistência técnica, como forma de apoiar suas exportações.
99

Nos anos 90, no entanto, as mudanças ocorridas na economia brasileira


provocaram uma reavaliação das estratégias das empresas, que adotaram programas
de reestruturação com intuito de se tornarem mais competitivas no sentido de se
adequarem ao padrão de competição da economia mundial bem como de definir mais
precisamente seus mercados de atuação.

Nesse sentido, a atenção voltou-se mais uma vez para a internacionalização


comercial, que sempre foi a forma predominante do envolvimento internacional das
empresas nacionais. Isso significou uma pequena retração do investimento direto no
exterior por parte das empresas brasileiras, mesmo quando algumas delas passaram a
adotar como estratégia de expansão a internacionalização produtiva.

Os caminhos trilhados pelo capital nacional se voltaram para compras de


empresas no exterior ou associações com outras empresas de outros países, em busca
de ganhar tamanho e assim disputar mercados de forma mais competitiva. Por trás das
estratégias de compras de empresas no exterior são alegadas razões como: aumento
no número de clientes, poder de negociar preços melhores com fornecedores, acesso
aos grandes bancos internacionais. Um cenário mais geral desse processo pode ser
construído a partir da resenha de vários estudos relacionados ao tema.

Villela (1983)35 ao analisar o processo de internacionalização, por meio do


investimento direto estrangeiro, das empresas brasileiras apontou os setores da
construção, da produção e exploração de petróleo, de engenharia, e os bancos, como
sendo os ramos de atuação destas empresas no exterior.

35
Segundo o autor, este trabalho foi realizado com base em pesquisa de campo.
100

Para o referido autor, países em desenvolvimento apresentam vantagens


competitivas em determinadas tecnologias, adaptadas para necessidades de países
localizados em regiões também em desenvolvimento e que apresentam condições
físicas similares àquelas encontradas no Brasil; além disso, a experiência obtida
mediante as exportações também seria um elemento importante para as empresas de
países em desenvolvimento irem para fora, uma vez que o caminho das exportações
serviria como base de informações para as empresas quando da sua decisão de se
internacionalizar.

Este tipo de adaptação deu às empresas brasileiras vantagens sobre os


competidores internacionais por trabalhar em condições adversas (Villela, 1983, p. 232).
Estas vantagens se referiam à tecnologia e gestão brasileiras e os motivos para investir
fora em geral foram: entrar em mercado muito protegido; busca de fontes de matéria-
prima; ou, busca de novos mercados. Portanto pode-se afirmar que seriam os
investimentos do tipo market e resource seeking, seguindo a tipologia original de
Dunning (1988, 1993) para estratégias comerciais a partir do investimento direto
estrangeiro.

A maioria das companhias brasileiras de engenharia que atua no exterior


adquiriu suas capacitações a partir das associações prévias com companhias
estrangeiras, que tinham estado no país para a realização dos grandes
empreendimentos feitos pelas estatais como hidrelétricas, usinas nucleares e de aço ou
plantas petroquímicas.
101

No caso da Petrobrás, ela foi para fora após 20 anos de experiência em


geofísica, perfuração e exploração de petróleo e gás, permitindo que a empresa fosse
em busca de recursos fora do país, além de prestar serviços de assistência técnica para
outros países. Isso não significou criação de novas tecnologias mas adaptações do seu
know how como uma vantagem para suas operações fora. Já as construtoras
desenvolveram vantagens administrativas envolvendo grandes empreendimentos e um
contingente considerável de mão-de-obra.

Até os anos 80, as empresas que instalaram unidades produtivas fora do país
foram movidas pela necessidade de fortalecer e ampliar as suas exportações. Nos
anos 90, a internacionalização também está conectada à dinâmica dos processos de
regionalização (Mercosul), e aproveitamento das oportunidades com as mudanças
ocorridas na economia e comércio mundial. Parte das empresas de capital nacional
passaram para as mãos de outro controlador, no processo de desnacionalização da
economia. Outras, porém, buscaram responder a essa nova fase por meio da
intemacionalização não só comercial mas também produtiva, redefinindo assim seus
espaços de atuação no cenário mundial. Pode-se citar como exemplos desse tipo
empresas: Odebrecht, Petrobrás, Gerdau, Marcopolo, Votorantim, CSN, Cutrale,
Brahma.

Com base no trabalho de Siqueira (2000) 36 , pode-se perceber o esforço de


inserção produtiva das empresas de capital nacional, através da instalação de
subsidiárias em vários países, conforme mostra o gráfico abaixo. O autor menciona
que, em termos percentuais, para uma amostra de 70 empresas no período de 1989 a
1995, a instalação de subsidiárias brasileiras no exterior, mostrou forte aumento em
meados dos anos 90:

36
A amostra do trabalho citado conta com 33 grandes grupos economtcos brasileiros, atuantes
principalmente na indústria de transformação. Estes grupos controlam empresas líderes, que detêm
part1c1pações expressivas nos setores em que atuam.
102

Gráfico 12
Subsidiárias Instaladas no Exterior (amostra de 70 empresas) - 1989/95
(Em%)

60,0 56

50,0

40 ,0

30,0

20,0
13
11
8 8
10,0

0,0
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Fonte: Siqueira , 2000, p. 21 .

No ano de 1995, os 56% das subsidiárias brasileiras se localizavam nos


principais mercados mundiais: União Européia (24%), América Central (24%), Mercosul
(22%), América do Norte (17%), Ásia (8%) e Outros países da América do Sul (5%). O
seu volume de investimento neste ano, representou US$ 1,3 bilhões de dólares,
configurando a seguinte distribuição, segundo a região de destino: Europa (42%),
América Central (29%), Mercosul (22%), América do Norte (4%), Outros países da
América do Sul (2%) e Ásia (1%). De acordo ainda com Siqueira (2000), o faturamento
total dessas subsidiárias atingiu a cifra de US$ 3,8 bilhões de dólares.
103

Os setores37 de atuação das empresas que investiram no exterior eram:


• Mercosul: foram instaladas 14 empresas de 09 grupos dos setores têxtil,
material elétrico, autopeças, siderurgia, financeiro, alimentos e papel e celulose;
• Na América do Norte foram 11 empresas de 09 grupos representados pelos
setores da construção pesada, celulose, material elétrico, siderurgia, alimentos e
financeiro;
• Na Europa, 16 empresas de 13 grupos, cujos setores principais foram: têxtil,
construção pesada, material elétrico, autopeças, comunicação, alimentos e
financeiro;
• Na Ásia foram instaladas 05 empresas de 04 grupos, com representação dos
setores de material elétrico, construção pesada e alimentos.

Em geral, a estratégia de internacionalização por meio do investimento direto


representou uma forma de fortalecer posições em determinadas áreas geográficas
como, por exemplo, a Gerdau 38 que consolidou sua estratégia de diversificação em
produtos com foco no mercado da construção civil ao adquirir usinas siderúrgicas de
porte menor (as chamadas minimills) nos países da América do Norte e América do Sul.

Um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral (1996) também abordou a


questão da internacionalização produtiva das empresas nacionais. É possível perceber,
através das experiências relatadas, que as empresas nacionais que também buscaram
essa forma de se internacionalizar optaram por caminhos diferentes no que se refere a
sua presença no exterior e, nesse sentido, suas estratégias vão desde a instalação de
escritórios de vendas ou de assistência técnica até unidades de produção propriamente
ditas.

37
Siqueira (2000), em seu estudo não discrimina as empresas pertencentes a estes setores. No entanto,
é preciso salientar que algumas empresas da amostra já não pertencem ao capital nacional como, por
exemplo, a Cofap, Metal Leve e Brasmotor, que foram adquindas pelo capital estrangeiro após 1995,
como o próprio autor observa na p.25 de seu texto.
38
Detalhes da trajetória do Grupo Gerdau confira Paula, 1999.
104

Tal como apontado por Villela (1983), os pesquisadores da Fundação Dom


Cabral também mencionam como razões da internacionalização a proximidade com
clientes e fornecedores, aquisição de tecnologia ou atualização tecnológica, superação
de barreiras protecionistas.

A pesquisa da Fundação Dom Cabral mostra que, de forma geral, as operações


internacionais das empresas brasileiras seguem o caminho iniciado com as
exportações. A partir de um envolvimento internacional por meio das exportações, as
empresas geralmente fazem uso de um agente de exportação, da instalação de
escritórios de vendas e/ou de assistência técnica e posteriormente de unidades
produtivas.

Ademais a própria abertura da economia e as suas conseqüências revelaram a


necessidade das empresas nacionais se tornarem competitivas interna e externamente
como forma de manter o seu mercado, o que despertou a busca por alianças e a
instalação de formas de presença externa, como meio de potencializar seus negócios.
Os mercados regionais, notadamente o Mercosul, também estimularam o processo de
internacionalização com investimento direto no exterior para muitas empresas
brasileiras- seja por associações, aquisições parcial ou total de indústrias locais.

Arruda, Goulart e Brasil (1996) apresentaram um quadro que expressa a


evolução do envolvimento internacional das empresas brasileiras, a partir de pesquisas
realizadas pela Fundação Dom Cabral.
105

Quadro 04
Evolução das Empresas Brasileiras no Mercado Internacional
Décadas Precedentes Transição Situação Atual
(até os anos 80) (a partir de meados dos 80) (a partir do início dos 90)
• exportações derivadas de • exportações condicionadas • expansão internacional
excedentes resultantes de por vantagens competitivas como estratégia de
vantagens comparativas • ação estrategicamente crescimento
• improvisação planejada • internacionalização como
• oportunismo: válvula de • forte preocupação com a diretriz estratégica
escape para adversidades conformidade dos • visão de longo prazo e
conjunturais internas produtos diversificação das
• produtos de baixa • criação de gerências, estratégias de
conformidade com as departamentos e internacionalização
exigências dos mercados diretorias de comércio • adaptação do produto às
externos exterior especificidades de cada
• pouca estruturação interna • criação de serviços pós- mercado onde atua muitas
para gerenciar venda para atender vezes com produção local
exportações mercado externo, a partir • criação de diretoria
• exportações diretas ou via da base doméstica internacional, com
agentes, sem • estratégias mais responsabilidade de
preocupações maiores complexas de ação administrar relações com
com serviços pós-venda internacional, através de subsidiárias
• estratégia internacional implantação de unidades • instalações de subsidiárias
centrada exclusivamente de produção e/ou que se encarregam de
em exportações aquisição de plantas em marketing e da assistência
• Presença no mercado outros países, formação pós-venda no mercado
internacional de um de alianças local
número restrito de grandes • número crescente de • aquisição de plantas no
empresas exportadoras de empresas exportadoras exterior por empresas não-
bens. de bens e serviços em exportadoras (non
vários segmentos. tradeable goods) em
estratégia de
internacionalização
multidoméstica.
• ampliação da presença
internacional com a
participação de empresas
de diferentes portes e
setores.
Fonte: Arruda, Goulart, Bras1l, 1996, p. 53.
106

Um levantamento feito pelo BNDES, citado tanto por Siqueira (2000) quanto por
Bonelli (1998), aponta para algumas questões interessantes relacionadas ao processo
de internacionalização das empresas brasileiras e que por sua vez corrobora com as
afirmações feitas anteriormente:
• o estabelecimento de subsidiárias no exterior é feito como complemento das
atividades de exportações dessas empresas;
• o investimento direto muitas vezes ocorre por meio de compras ou
associações com grupos locais;
• o processo de internacionalização está sendo perseguido em vários setores
da economia, com heterogeneidade da natureza da atividade desenvolvida no
exterior (unidades comerciais e/ou unidades produtivas);
• as principais razões para enveredar por esse caminho dizem respeito ao
fortalecimento do poder de competição em função da proximidade do mercado
consumidor: ao abastecimento do mercado regional, inclusive pelo
aproveitamento de oportunidades surgidas pelo processo de integração
regional; e, desenvolvimento de alianças estratégicas com empresas locais.

A atuação de empresas brasileiras no exterior já está se refletindo nos números


oficiais de organismos internacionais como a UNCTAD (United Nations Conference on
Trade and Development). Em seu ranking, entre as 50 maiores empresas
transnacionais de países em desenvolvimento, cinco grandes empresas nacionais se
encontram presentes: a Petrobrás (exploração, refino e distribuição de petróleo) com
ativos estrangeiros em tomo de US$ 3.700 milhões de dólares; a Companhia Vale do
Rio Doce, no setor de transporte, com US$ 1.947 milhões de dólares em ativos
estrangeiros; a Cervejaria Brahma39, atuante no setor de bebidas; a Gerdau, que atua
no setor de metalurgia, com US$ 520 milhões de dólares; e, a Sadia S.A40 , do setor de
alimentos (World lnvestment Report, 2000).

39
Não constam as informações relacionadas aos seus ativos no exterior.
40
Mais uma vez, não constam as Informações relacionadas aos ativos da empresa no exterior.
107

Em estudo realizado pela Cepa I, citado por Castro (2001, p. 3), o investimento
direto intra-regional de 1990 a 1999 refletia um movimento de expansão de
investimentos de empresas em países da própria região; e, embora seja ainda
incipiente quando comparado às estatísticas que envolvem o investimento direto
estrangeiro oriundos de países desenvolvidos, já é um valor significativo em relação a
décadas anteriores. No que diz respeito ao Brasil4 1 , o montante envolvido no
investimento direto para países da região somou US$ 1.532 milhões de dólares, de
1990 a 1999, sendo que mais de 60% desse valor teve como destino a Argentina;
ademais, vale salientar que a participação brasileira ainda é bastante pequena, com
7,6% do total dos investimentos dentro da região, como pode ser observado na tabela
abaixo:

Tabela 17
Investimento Estrange1ro 1reto Intra-Reg1ona I de 1990 a 1999* -em US$ m1.Ih-oes
Origem/ Argentina Bolivia Brasil Chile Colômbia Peru Venezuela Outros Total I
Destino
Argentina -- 534 1.097 400 -- 263 1.129 113 3.535
Bolfvia - -- -- 6 - -- -- -- 6
Brasil 985 48 -- -- 151 151 165 32 1.532
Chile 1.513 176 1.791 - 1.333 1.426 209 279 6.727
Colômbia - -- -- -- - 18 922 -- 940
Costa Rica
_,_
--
_,_
-- -- -- -- -- 2 2
Equador -- - -- 115 7 45 2 169
México 702 -- 206 111 700 19 2.152 897 4.787
Peru -- 6 --_,_ -- -- -- 100 30 136
Venezuela 118 -- 15 967 -- -- 480 1.580
Outros 17 -- -- -- - 31 - 737 785
América
latina e 3.335 764 3.093 532 3.265 1.915 4.721 2.573 20 .199
Caribe
Fonte: Cepai/•Tota1s acumulados no '
penodo 1990-1999, mciUI compras de at1vos pnvados e
estatais apud Castro, 2001, p. 3.

41
Não há como saber que tipo de investimento está envolvido neste montante.
108

Mesmo que seja possível ter uma dimensão geral do investimento direto no
exterior realizado por empresas brasileiras, é preciso deixar claro que há poucas
informações sistematizadas sobre empresas específicas que trilharam esse caminho,
apenas informações gerais. Dessa forma, no que se refere às empresas de capital
nacional com atuação no exterior, pode-se citar como exemplos42 :
• Votorantim: instalação de escritórios para operações internacionais, com vistas a
estar mais próximo aos clientes e evitar intermediação por tradings. Está
presente em países da Ásia, da Europa e nos Estados Unidos. A Vororatim
Cimentos possui uma fábrica no Canadá e um escritório na Argentina;
• Sadia: instalação de escritório comercial e centros de distribuição, com o
objetivo de fortalecer sua posição nos mercados consumidores. Está atuando
nos Estados Unidos e na Argentina;
• Gerdau: aquisição de usinas siderúrgicas (minimills) no exterior, com o intuito de
fortalecer o seu mercado pela proximidade com os consumidores e utilização de
insumos fornecidos localmente e ultrapassar as barreiras comerciais em função
do protecionismo de determinados países. Possui usinas nos seguintes países:
Uruguai, Chile, Canadá, Argentina, Estados Unidos;
• Weg Motores: instalação de escritórios de vendas e assistência técnica. O seu
objetivo é fortalecer o seu mercado externo, visto como estratégico para o
crescimento dos negócios. Os escritórios estão localizados na Argentina e no
México;
• Odebrecht: aquisição de empresas do setor da construção civil e projetos com
governos de vários países. O objetivo é entrar nos mercados. No total, a
empresa está presente em 14 países na América do Sul, América do Norte,
África e Europa;

42
Estes exem plos foram compilados dos diversos estudos e fontes citadas neste item do trabalho.
109

• Andrade Gutierrez: aquisição de empresas já existentes em Portugal, Argentina,


Equador Peru, Guiné, República Dominicana. Em comum, Odebrecht e Andrade
Gutierrez adquiriram empresas em Portugal visando entrar no mercado da União
Européia;
• Ambev: fusão da Brahma e da Antarctica para obter escala e assim atuar no
mercado internacional. Possui unidades na Argentina, Paraguai, Venezuela e
Uruguai;
• Embraer: associação com empresas estrangeiras, visando novos mercados e o
acesso ao capital mais barato. Possui escritórios de vendas e pós-venda, com
depósitos de peças e pessoal especializado em reparo dos aviões, na China,
Cingapura, Estados Unidos e França;
• CSN: aquisição de usina nos Estados Unidos;
• CVRD: joint venture com a canadense lamgold Corporation para exploração de
ouro na Patagônia, além de possuir cinco fábricas no exterior localizadas nos
Estados Unidos, França, Argentina, Bahrein e escritórios nos Estados Unidos,
Bruxelas, Tóquio e Xangai;
• Cutrale: compra de duas esmagadoras na Flórida, Estados Unidos, cujo objetivo
foi driblar o protecionismo e reduzir custos fiscais de suco de laranja no mercado
americano;
• Citrosuco Paulista: compra de empresa na Flórida, Estados Unidos, com o
mesmo propósito da Cutrale;
• Marcopolo: possui unidades produtivas na Argentina, México e Portugal e está
presente na África do Sul e na China por meio de associações com empresas
locais;
• Sabó: possui unidades de produção na Argentina, Alemanha, Áustria, Hungria
além de escritórios comerciais e laboratório de testes nos Estados Unidos, Itália,
Inglaterra e Austrália.
11 o

Os escassos dados disponíveis sobre as empresas brasileiras que investiram no


exterior mostram que se trata de um número reduzido de empresas cujas atividades no
exterior ainda estão vinculadas ao comércio de exportação.

Esse fato confirma a percepção de Lall (1983) em relação ao fato de que as


empresas de países em desenvolvimento muitas vezes investem no exterior como
forma de promover exportações e não substituí-las.

López (1999) também faz uma discussão geral acerca das empresas brasileiras
que enveredaram pelo caminho da internacionalização apontando os fracassos dessas
experiências bem como os êxitos e também posteriores absorções por empresas
transnacionais, como por exemplo, a Metal Leve, a Brasmotor/Embraco.

De acordo com López (1999), determinados aspectos caracterizariam o


investimento direto de empresas brasileiras no exterior, dentre eles:
• o processo de internacionalização produtivo apresenta um caráter evolutivo,
cujo início se dá por volta dos anos setenta principalmente dos setores da
construção, bancos e petróleo e com baixa presença de empresas do setor
industrial; no entanto, esse processo está sempre associado à dinâmica
interna do próprio país;
• as mudanças estruturais da economia brasileira e o conseqüente processo de
reestruturação pelo qual as empresas tiveram que passar de certa forma
retraiu um pouco esse processo de internacionalização que tinha dado um
maior impulso no início da década, em razão das modificações nas estratégias
das próprias empresas. E, nesse sentido, se depararam com situações muito
diferentes daquelas quando elas decidiram investir no exterior e muitas se
voltam para o país privilegiando os setores em que possuem capacitações e
desfazem-se daqueles em que não as possui;
11 1

• a garantia ou a ampliação de suas exportações, em geral, foi um dos


principais motivos que levaram a maioria das empresas brasileiras a investir
no exterior, seja por meio de escritórios comerciais e serviços de assistência
técnica, seja por meio de unidades produtivas;
• as vantagens que as firmas brasileiras detêm para ir em busca da
internacionalização estão assentadas tanto na capacidade de atuar em
ambientes culturalmente próximos como nas capacidades de organização e
gestão. Os êxitos das vantagens de tecnologia terminaram na
desnacionalização das empresas, que foram absorvidas por empresas
transnacionais;
• a localização desses investimentos se dá pelo destino das exportações, pela
proximidade cultural, geográfica e em mercados com níveis de
desenvolvimento similares ou inferiores ao brasileiro. Nos países em
desenvolvimento, o investimento direto brasileiro está associado a vantagens
de custos e também em função de serem mercados das exportações
brasileiras.

Observando os vários exemplos citados de internacionalização produtiva


empreendida pelas empresas de capital nacional e voltando-se mais uma vez à
tipologia utilizada por Dunning (1988, 1993) pode-se afirmar que, para a grande maioria,
esse processo se identifica com o que o referido autor classificou de investimentos
iniciais de empresas fora de suas fronteiras , quais sejam: os tipos resource seeking e
market seeking, sendo o primeiro em menor escala do que o segundo.
112

A experiência da Petrobrás permite classificar algumas de suas atividades no


exterior como sendo do tipo strategic asset seeking, pois ao associar-se a outras firmas
petroleiras em vários países, em função do desenvolvimento de sua tecnologia,
consegue ter acesso a tecnologia de ponta e assim melhorar a sua capacidade técniccr
gerencial, embora se ressalta que inicialmente a Petrobrás foi para o exterior motivada
pela necessidade de assegurar recursos, um envolvimento internacional típico de uma
estratégia resource seeking.

Pode-se afirmar, portanto, que os investimentos no exterior realizados por


empresas brasileiras estão centrados principalmente onde há incidência forte de sua
internacionalização comercial e tem como estratégias a busca de mercados e, em
menor grau, de recursos. Ademais suas vantagens se referem principalmente as
capacidades organizacional e de gestão, adaptações a condições culturais,
geográficas, econômicas dos países receptores, sobretudo da América Latina,
conforme já apontava a visão de Lall.
11 3

5. UMA TENTATIVA DE INTERPRETAÇÃO

O capítulo anterior analisou, com base nas informações de um painel, o perfil da


internacionalização das grandes empresas industriais de capital nacional que
sobreviveram às transformações da economia na década de noventa. Constatou-se
que, com raras exceções, o grau de internacionalização da produção dessas empresas
é baixo, tanto da ótica da parcela da produção no Brasil que é destinada ao exterior, via
exportações, como da ótica do que produzem fora do país, via investimentos diretos no
estrangeiro. Nesse quadro geral de baixa internacionalização, um pequeno grupo de
empresas apresenta um estágio de internacionalização avançada, algumas inclusive,
com importantes investimentos no exterior. Outro grupo, também reduzido, mostra uma
internacionalização incipiente.

O baixo grau de internacionalização das empresas nacionais não parece


condizente nem com as dimensões, nem com a diversificação do parque industrial
brasileiro. O futuro das grandes empresas nacionais não-internacionalizadas pode ser
visto com preocupação, num contexto de maior abertura da economia brasileira e de
crescente concentração e centralização do capital industrial no mundo. A constatação
de que a grande maioria das empresas industriais de capftal nacional pode ser
classificada como não internacionalizada indica, portanto, a forte possibilidade de novas
rodadas de desnacionalização no grupo de elfte das empresas brasileiras industriais
nos próximos anos.
114

Os fatores explicativos da situação descrita no capítulo anterior não são difíceis


de apreender. Alguns estão enraizados nas peculiaridades do processo de
industrialização periférica empreendido pelo Brasil, em particular, nas fragilidades do
processo de industrialização pesada, no pós-guerra, que reservou papel importante às
filiais das empresas estrangeiras. Os trabalhos de Lall e de Chudnovsky, resenhados no
capítulo 1, mostram que esses fatores são até certo ponto comuns a outros países em
desenvolvimento que avançaram no processo de industrialização.

Sem negar a importância desses fatores, tentamos, neste trabalho, enfatizar


outros, mais diretamente vinculados à orientação do processo de abertura da economia
brasileira nos anos 90, especialmente, ao processo de reestruturação da indústria sob
um regime macroeconômico particularmente penoso para as empresas industriais de
capital nacional (capítulos 2 e 3). É necessário, contudo, ir além da explicitação do
papel do contexto macroeconômico e aprofundar a análise de outros fatores que
incidem mais diretamente sobre o processo de internacionalização das empresas e que
explicam que um grupo, embora reduzido, tenha conseguido avançar mais do que o
conjunto.

O paradigma eclético de Dunning, desde que utilizado livremente, para captar as


peculiaridades do caso, oferece um guia útil para analisar esses fatores mais
específicos e formular uma tentativa de interpretação do processo de
internacionalização das empresas industriais brasileiras. Longe de pretender constituir
uma explicação acabada do processo. ressaltando que as evidências empíricas
apresentadas no capítulo anterior são incompletas, particularmente no que tange aos
investimentos das empresas brasileiras no exterior, o que a seguir se apresenta é uma
estilização dos fatos. O objetivo deste exercício é duplo: de um lado, construir uma
interpretação plausível dos resultados observados na análise do painel; de outro lado
definir uma agenda de novas pesquisas sobre o tema.
11 5

A tentativa de interpretação privilegia a análise dos fatores que Dunning


denomina vantagens de propriedade e de localização43 . Analisamos inicialmente as
vantagens de propriedade das empresas brasileiras (aquelas que determinam a
viabilidade da internacionalização). Na seqüência, analisamos as vantagens de
localização (aquelas que determinam a forma do processo, via exportações ou via
investimento direto).

Vantagens de propriedade das empresas industriais brasileiras

As vantagens de propriedade que explicam os casos de internacionalização bem


sucedida da produção de algumas empresas brasileiras estão vinculadas ao acesso
privilegiado a recursos naturais que podem ser explorados com baixo custo. Esta
proposição apoia-se na constatação da análise do painel que no grupo das empresas
de internacionalização avançada e incipiente predominam as que produzem
commodities intensivas em recursos naturais: minério de ferro , produtos siderúrgicos,
papel e celulose, etc. O acesso a recursos naturais constitui um ativo que diferencia as
empresas brasileiras das concorrentes, as fortalece na concorrência internacional e
alavanca o potencial de internacionalização de sua produção.

Cabe ressaltar que esta vantagem não resulta propriamente da abundância de


recursos naturais no Brasil. Mais do que a "dotação de fatores", obra da natureza, o que
determinou o potencial de expansão da empresas brasileiras e sua capacidade de
atingir o mercado internacional via exportações e, em alguns poucos casos, de investir
no exterior, foi o regime jurídico que até recentemente reservou a exploração desses
recursos às empresas nacionais (no caso da mineração), ou o investimento público
para a construção das empresas (diretamente, no caso da siderurgia, ou indiretamente,
via financiamento de longo prazo, no caso da celulose).

43
As vantagens de intemahzação seriam relevantes para analisar a forma dos investimentos diretos das
empresas brasileiros no exterior. Como as informações a esse respeito são incompletas optamos por
deixar de lado esta questão.
116

A escala de produção e o uso de instalações tecnologicamente atualizadas


conferem também vantagens às empresas nacionais na internacionalização de sua
produção. A escala é um fator importante para explicar a internacionalização da
produção das empresas siderúrgicas brasileiras. No caso da internacionalização da
produção de celulose, a adaptação dos processos para a utilização da fibra de eucalipto
também confere uma vantagem de propriedade em relação aos concorrentes. Esta
constatação reforça a observação anterior de que a dotação natural de fatores do país,
per se, não explica o potencial de expansão e de internacionalização da produção de
suas empresas. A internacionalização incipiente ou avançada da produção de
empresas brasileiras apoia-se em vantagens construídas, por meio do investimento, em
instalações com escalas e com tecnologia eficientes. Em linhas gerais são vantagens
de propriedades relacionadas ao domínio da tecnologia do processo de produção.

Em alguns poucos casos, toma-se evidente, que as vantagens de propriedade


que viabilizam a internacionalização de empresas brasileiras estão relacionadas ao
domínio da engenharia do produto, à capacidade de projeto e de inovação de produtos
com aceitação não apenas no mercado doméstico mas também no mercado
internacional. Essa situação corresponde aos casos da internacionalização da produção
de aviões (Embraer) ou de carrocerias para ônibus (Marcopolo). Cabe destacar que o
domínio da tecnologia de produto, também construído com investimento em recursos
humanos, em conhecimento e em equipamentos, oferece bases relativamente mais
sólidas para vantagens de propriedade, uma vez que este tipo de capacitação incorpora
um importante componente tácito pouco acessível aos concorrentes. A capacitação em
tecnologia de projeto é a forma paradigmática do ativo de propriedade exclusiva que
outorga vantagens e potencial de internacionalização às empresas industriais.
11 7

Às vantagens anteriores devem-se acrescentar, ainda, as advindas do


aprendizado propiciado pelo próprio processo de internacionalização da produção na
atuação no mercado internacional, seja exportando ou investindo no exterior. Na
internacionalização via exportação, essas vantagens envolvem, no caso das
commodities, o acesso aos canais de distribuição e de financiamento. No caso dos
produtos de maior valor adicionado existem outras vantagens, como reconhecimento da
marca. Na internacionalização via produção no exterior, as vantagens são de outra
natureza, pois estão vinculadas à experiência na operação de um sistema
internacionalizado de produção, com comércio e fluxos financeiros inter-filial. São
poucas as empresas brasileiras que atingiram este estágio.

Os casos de internacionalização incipiente ou avançada correspondem a


empresas nas quais algumas das vantagens acima mencionadas (ou a combinação
delas) foram suficientemente importantes para vencer as dificuldades colocadas pelo
contexto macroeconômico desfavorável na economia brasileira a ponto de alavancar ou
manter a internacionalização da produção.

Na análise do grau de internacionalização da produção por setor, no item 4.2.2,


constatou-se que as vantagens de propriedade estão mais ou menos distribuídas no
interior dos setores. Na mineração, as vantagens favorecem várias empresas de modo
que, na média, o setor apresenta um nível de internacionalização avançado. No caso da
siderurgia e do papel e celulose, na média os setores têm internacionalização
incipiente, embora empresas isoladas tenham internacionalização avançada. No caso
dos aviões, trata-se de uma única empresa, não é possível fazer referência ao setor. No
caso dos componentes para autoveículos, foram identificadas empresas com
investimentos no exterior (Marcopolo e Sabó). Trata-se das sobreviventes do processo
de desnacionalização, que transferiu para empresas estrangeiras a propriedade de
empresas nacionais relativamente internacionalizadas no início do anos 90. As
vantagens de propriedade construídas por essas empresas não foram suficientes para
compensar o quadro desfavorável às empresas nacionais resultante do regime
macroeconômico e seus ativos foram transferidos para as grandes empresas
118

transnacionais que dominam a cadeia automotiva. Assim, neste setor, vantagens de


propriedade que anteriormente estavam distribuídas entre as empresas nacionais estão
atualmente concentradas em poucas empresas.

Vantagens de localização no exterior para as empresas brasileiras

As vantagens de localização que explicam que algumas empresas brasileiras


tenham optado por transferir parte de sua produção para o exterior podem ser
analisadas superficialmente a partir das evidências esparsas apresentadas
anteriormente no item 4.3. Essas informações mostram, em primeiro lugar, que trata-se
de um número reduzido de empresas e que os investimentos são relativamente
modestos.

Os estudos disponíveis, e que foram resenhados no capítulo anterior, mostram


que as vantagens locacionais que levaram as empresas brasileiras a produzir no
exterior, de modo geral, estão vinculadas à necessidade de vencer barreiras comerciais
(tarifárias ou não tarifárias). Esta proposição pode ser ilustrada pelos investimentos das
empresas produtoras de produtos siderúrgicos (Gerdau) e de suco de laranja (Cutrale,
Citrosuco).

Em outros casos, os investimentos no exterior estão relacionados às


características da concorrência nos respectivos setores: importância de estar próximo
ao comprador para reduzir custo de transporte ou para adaptar o produto às
necessidades locais. O caso que ilustra esta situação e incorpora ainda a importância
da participação em sistemas internacionalizados de produção controlados por grandes
empresas transnacionais é o da Marcopolo. A empresa brasileira localiza seus
investimentos no exterior em função da importância dos mercados locais, mas também
das estratégias das montadoras de motores e chassis de ônibus e caminhões. De certa
forma, a empresa brasileira acompanha (follow sourcing) as montadoras na sua
trajetória de internacionalização.
119

O fato de que poucas empresas brasileiras tenham optado por realizar


investimentos para produzir no exterior não é propriamente surpreendente dado o perfil
de sua inserção setorial. A maioria das empresas brasileiras internacionaliza sua
produção por meio de exportações porque as vantagens da localização no Brasil são
mais forte do que as da localização no exterior, nos setores em que atuam. Em outras
palavras, para a produção de commodities industriais ou agro-industriais a localização
no país é vantajosa, a menos que barreiras protecionistas ou outro tipo de fatores
imponham o deslocamento da produção para o exterior.

Esta constatação revela uma situação que limita fortemente o potencial de


internacionalização via investimento das empresas que participam da elite industrial
brasileira: sua inserção nos elos iniciais, nos quais se realiza a transformação inicial dos
recursos naturais que suprem as cadeias industriais globais restringe esse movimento.
As empresas nesta situação atingem o mercado externo via exportações e, raramente,
via investimento. Sua internacionalização produtiva depende da eventual busca por
recursos naturais em outros países (resource seeking, na tipologia do Dunning), da
tentativa de contornar barreiras comerciais, já comentada ou, da integração vertical na
direção de outros elos da cadeia para a qual suprem as commodities.

Na segunda alternativa, as vantagens de propriedade até o momento construídas


pelas empresas brasileiras, poderiam ser insuficientes e precisariam ser
complementadas por esforços adicionais para poder enfrentar as empresas
estrangeiras que atualmente ocupam esses elos nas cadeias de produção. A aquisição
de participações ou do controle de empresas no exterior poderia ser a forma de iniciar o
processo de internacionalização produtiva.
120

Na atual situação, o número de empresas brasileiras com condições de


implementar sistemas de produção internacionalizados sob o seu controle é muito
reduzido. Para a Brasil, a atual situação representa uma perda importante de
oportunidades, na medida que o crescimento do comércio mundial no período recente
tem dependido em grande parte da expansão dos fluxos intra-firmas, que beneficiam
fortemente os países de origem das empresas que controlam esses sistemas. O
potencial de expansão do comércio de manufaturados do Brasil depende da
internacionalização da produção de empresas nacionais, que ocupam posições frágeis
em cadeias produtivas que operam crescentemente na forma de sistemas globais
controlados por grandes empresas transnacionais originárias dos países desenvolvidos.

Se a nossa interpretação estiver correta, as implicações do processo de


desnacionalização da indústria brasileira propiciado pelo regime macroeconômico dos
anos 90 devem ser reavaliadas, de modo a levar em conta seu impacto negativo no
sentido de perda de oportunidades para aprofundar a internacionalização produtiva e
aumentar o potencial de exportação da indústria brasileira a partir dos investimentos no
exterior das empresas nacionais. Essa proposição parece razoável, na medida em que
parte das empresas desnacionalizadas atuavam em setores nos quais existem
vantagens de localização no exterior que alavancam a implantação de sistemas
produtivos internacionalizados (bens duráveis de consumo e seus componentes). A
prova é que as empresas brasileiras desnacionalizadas, produtoras de eletrodomésticos
de linha branca e de autopeças, já contavam no momento de sua desnacionalização
com investimentos produtivos no exterior e se encontravam entre as grandes
exportadoras para o exterior.
121

Visto deste ângulo o balanço das conseqüências do regime macroeconômico dos


anos 90 para a internacionalização da indústria brasileira é duplamente frustrante: em
primeiro lugar, porque a desnacionalização implicou na perda das melhores
oportunidades de internacionalização, capazes de aumentar os investimentos e as
exportações de manufaturados; em segundo lugar, tomou o potencial de exportação da
indústria brasileira mais dependente das decisões estratégicas das matrizes que
controlam sistemas de produção internacional globalizados, em relação às quais o
potencial de indução dos instrumentos da politica industrial brasileira é limitado.

A interpretação dos determinantes do processo de internacionalização das


empresas industriais de capital nacional aqui apresentada propõe uma nova agenda de
pesquisa sobre o potencial de expansão das grandes empresas brasileiras produtoras
de commodities, em particular de sua capacidade de implementar sistemas de
produção internacionalizados que promovam exportações de manufaturados do Brasil
(insumos, equipamentos, etc.). Propõe também que o processo de desnacionalização
da indústria seja avaliado de uma ótica diferente da que é correntemente utilizada. No
lugar de considerar o processo parte inevitável da globalização da economia mundial,
deve-se levar em conta a perda potencial de oportunidades de internacionalização para
as empresas e para a indústria brasileira.
123

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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135

ANEXOS
136

ANEXO 01

PA INEL DAS EMPRESAS SELECIONADAS

Setores Empresas
Companhia Vale do Rio Doce
Minerais Metálicos Magnesita
MBR
Açuca reira Zillo Lorenzetti
Antarctica Niger
Antarctica Nordeste
Antarctica RJ
Aurora
Avipal
Brahma
Braswey
Central ltambé
Chapecó Alimentos
Citrosuco Paulista
Alimentos e Bebidas Cocamar
Coopervale
Cooxupé
Copersucar
Garoto
Granel
Leite Paulista
Perdigão Agroindustrial
Refinaria Piedade
Sadia Concórdia
Skoi-Caracu
Swift
Usina da Barra
Artex
Calçados Azaléia S/ A
Elizabeth
Têxteis e Calçados Fibra
Herino Têxtil
São Paulo Alpargatas
Teka
Vicunha Nordeste

Continua
137

Continuação

Madeira Duratex
Aracruz Celulose
Bahia Sul Celulose S/A
Klabin Fabricadora
Riocell
Papel e Celulose RiQ_asa
Suzano
Trombini
VCP
Fab. de Coque, ref. Petróleo Refinaria de Manguinhos
Refinaria de Petróleo lpiranga
Aché Laboratórios
Adubos Trevo
Co pene
Copesul
Deten Química
Produtos Químicos (Química/Petroquímica) O Boticário
OPP
Oxiteno Nordeste
Trikem
Petre>química Triunfo
Petroquimica União S/A
Politeno
Pro no r
Borracha e Plásticos Dixie Toga
Tigre
Cimento Rio Branco
Minerais não Metálicos ltabira
Votorantim
Acesita
Açominas
Aços Villares
Barra Mansa
Caraíba Metais
Siderurgia/Metalurgia CBA
Cosipa
CSN
CST
Dedin i
Gerdau
Usiminas
Zamprogna

Continua
138

Continuação

Prada
Fab. Produtos de Metal Termomecanica
Tupy
Máquinas e Equipamentos Weg
CCE da Amazônia
Evadin Amazônia
Eletroeletrônico/lnformática Semp Toshiba Amazonas
Sharp do Brasil
Sid Informática
Busscar
Fab. Mont. Veic. Reb., Carrocerias Marcopolo
Sifco
Outros Equipamentos de Transportes Embraer
139

Anexo 02

Procedimentos Metodológicos da Análise do Grau de Internacionalização das Grandes


Empresas Brasileiras de Capital Nacional

A análise do grau de internacionalização das empresas de capital nacional foi


realizada obedecendo aos critérios abaixo.

1. A construção de um painel fixo de empresas do setor industrial (extrativa e de


transformação), considerando-se os seguintes fatores:

• a participação dessas empresas entre as 500 maiores do país, acompanhadas


pela revista Exame- Melhores e Maiores;
• a inclusão de empresas nacionais do setor industrial que foram privatizadas na
década de 90 e que continuaram pertencendo ao capital nacional;
• a diversidade setorial das empresas, para contemplar diversos setores da
indústria brasileira;
• A disponibilidade de dados das empresas para 1989 e 1997, por representar dois
momentos importantes para a indústria do país. Para os dados de comércio
exterior das empresas foram utilizados os dados oficiais divulgados pelo
MDIC/SECEX. Para os dados de vendas, foram utilizados os dados publicados
pela revista Exame - Melhores e Maiores;
140

2. Avaliação do tipo e do grau de internacionalização produtiva das grandes empresas


brasileiras a partir do painel descrito acima. Essa fase obedeceu aos seguintes
critérios:

• Construção dos coeficientes de exportação e importação das empresas. Esses


coeficientes foram obtidos a partir da participação do valor das exportações e
importações no total da vendas das empresas;
• Análise dos coeficientes individuais das empresas;
• Criação de categorias de graus drferenciados de internacionalização, em razão
dos coeficientes de comércio considerados elevados, médios e baixos em
relação à média das empresas;
• Agrupamento das empresas em setores de atuação;
• Construção dos coeficientes médios de cada setor;
• Agrupamento dos setores nas categorias de graus diferenciados de
internacionalização, em função dos coeficientes considerados elevados, médios
e baixos em relação à média setorial.
A 03 ~ Cl 'f·--· - CTP-P - ... --· ---· Produtos da N . . . ·- lat ~·
c doM
Animais vivos; Carnes e miudezas, comestfveis; Pe1xes e crustáceos, moluscos e os outros invertebrados aqu; leite e laticlnios, ovos de aves,
mel natural, produtos com; Outros produtos de origem animal, nao especificados nem com; Plantas vivas e produtos de floricultura; Produtos
hortlculas, plantas, raizes e tubérculos, comestlv; Frutas, cascas de cltricos e de melões; Café, chá, mate e especiarias; Cereais; Sementes e
Produtos frutos oleaginosos, grãos, sementes e frutos div; Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais; Matérias para entrançar e outros produtos
Primários de origem vegetal; Cacau e suas preparações: Preparações de produtos hortlcolas, de frutas ou de outras; Preparações alimentlcias diversas;
Agrlcolas Fumo (tabaco) e seus sucedâneos, manufaturados; Borracha e suas obras; Peles, exceto a peleteria (peles com pêlo), e couros; Peleteria (peles
com pêlo) e suas obras; peleteria (peles c; Madeira, carvao vegetal e obras de madeira; Cortiça e suas obras; Seda; Outras fibras têxteis
vegetais· fios de papel e tecido de f
Produtos Sal; enxofre; terras e pedras; gesso , cal e cimento; Minérios, escórias e cinzas; Combustlveis minerais, óleos minerais e produtos da sua des;
Primários Produtos qulmicos inorgânicos; compostos inorgânicos ou org; Adubos ou fertilizantes; Pérolas naturais ou cultivadas, pedras preciosas ou
Minerais semipre· Cobre e suas obras· Nlquel e suas obras·
Produtos Combustlveis minerais, óleos minerais e produtos da sua des
Primários
EnerQéticos
Carnes e miudezas, comestlveis; leite e laticlnios; ovos de aves; mel natural; produtos com; Outros produtos de origem animal, nao I
especificados nem com; Produtos hortlculas, plantas, raizes e tubérculos, comestlv, Frutas; cascas de cltricos e de melões; Produtos da I

indústria de moagem ; malte; amidos e féculas; i; Sementes e frutos oleaginosos; grãos, sementes e frutos div; Matérias para entrançar e outros
Indústria produtos de origem vegetal; Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua disso; Preparações de carne, de peixes ou de crustáceos,
Agroalímentar de molusc; Açúcares e produtos de confeitaria; Cacau e suas preparações; Preparações à base de cereais, farinhas, amidos, féculas ou;
Preparações de produtos hortfcolas, de frutas ou de outras; Preparações alimentlcias diversas: Bebidas, liquides alcoólicos e vinagres;
Reslduos e desperdlcios das indústrias alimentares; aliment; Madeira, carvão vegetal e obras de madeira; Cortiça e suas obras; Papel e cartão;
obras de pasta de celulose, de papel ou de; La e pêlos finos ou grosseiros; fios e tecidos de crina; Algodão; Pérolas naturais ou cultivadas,
pedras preciosas ou semipre· Móveis, mobiliário médico-cirúrgico· colchões amofadas e
Indústria Peixes e crustáceos, moluscos e os outros Invertebrados aqu; leite e latlclnios; ovos de aves; mel natural; produtos com; Preparações de carne,
Intensiva em de peixes ou de crustáceos, de molusc: Açúcares e produtos de confeitaria; Fumo (tabaco) e seus sucedâneos, manufaturados; Pastas de
Outros madeira ou de outras matérias fibrosas celulósica; Papel e cartão; obras de pasta de celulose, de papel ou de
Recursos
Agrlcolas
Indústria Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua disso ; Açúcares e produtos de confeitaria; Bebidas, liquides alcoólicos e vinagres;
Intensiva em Produtos qufmicos inorgênicos; compostos inorganicos ou org; Produtos qulmicos orgênicos; Matérias albuminóides; produtos à base de amidos
Recursos ou de fécu; Borracha e suas obras; Fibras sintéticas ou artificiais, descontfnuas; Pérolas naturais ou cultivadas, pedras preciosas ou sem lpre,
Minerais Cobre e suas obras; Nlquel e suas obras; Alumlnio e suas obras; Chumbo e suas obras; Zinco e suas obras; Estanho e suas obras; Outros
-
_m_etais comuns· ceramais (cermets); obras dessas maté

Continua

.....
oi:>.
.....
Continuação

lndústna Combustlveis minerais, óleos minerais e produtos da sua des; Sabões, agentes orgânicos de superficie, preparações para;
Intensiva em
Recursos
Energéticos
Extratos tanantes e tintoriais; taninos e seus derivados: p; Sabões, agentes orgânicos de superflcie, preparações para I; pólvoras e
explosivos; artigos de pirotecnia; fósforos: lig; Produtos para fotografia e cinematografia; Produtos diversos das Indústrias qulmicas;
Plásticos e suas obras; Borracha e suas obras: Peles, exceto a peleteria (peles com pêlo), e couros; Obras de couro; artigos de
correeiro ou de selelro; artigos: Peleteria (peles com pêlo) e suas obras; peleteria (peles c; Obras de espartaria ou de cestaria; Papel e
cartão; obras de pasta de celulose, de papel ou de, Livros, jornais, gravuras e outros produtos das indústrias; Seda, La e pêlos finos ou
grosseiros; fios e tecidos de crina; Algodão; Outras fibras têxteis vegetais; fios de papel e tecido de f; Filamentos sintéticos ou artificiais,
Fibras sintéticas ou artificiais, descontínuas; Pastas (ouates), feltros e falsos tecidos; fios especiais; Tapetes e outros revestimentos para
pavimentos, de matérias; Tecidos especiais; tecidos tufados; rendas; tapeçarias, pas; Tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou
Indústria estratificad · Tecidos de malha· Vestuário e seus acessórios de malha·
Intensiva em Vestuário e seus acessórios, exceto de malha; Outros artefatos têxteis confeccionados; sortidos; artefato; Calçados, polainas e artefatos
Trabalho semelhantes, e suas partes; Chapéus e artefatos de uso semelhante, e suas partes; Guarda-chuvas, sombrinhas, guarda-sOis,
bengalas, bengalas-: Penas e penugem preparadas, e suas obras: flores artificial; Produtos cerâmicos; Vidro e suas obras; Pérolas
naturais ou cu~ivads , pedras preciosas ou semipre; Obras de ferro fundido, ferro ou aço; Ferramentas, artefatos de cutelaria e talheres,
e suas part; Obras diversas de metais comuns; Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instru; Máquinas, aparelhos e
materiais elétricos, e suas partes; a; Veicules automóveis, tratores, ciclos e outros veicules Ter; lntrumentos e aparelhos de óptica,
fotografia ou cinematogr; Aparelhos de relojoaria e suas partes; Instrumentos musicais, suas partes e acessórios; Armas e munições,
suas partes e acessórios; MOveis, mobiliário médico-cirúrgico, colchões, almofadas e: Brinquedos, jogos, artigos para divertimento ou
para esport Obras diversas, Objetos de arte, de colecao e antigUidades
Produtos da Indústria de moagem; malte: amidos e féculas: i; Sal; enxofre: terras e pedras: gesso, cal e cimento; Matérias albuminOides;
produtos à base de amidos ou de fécu; Produtos diversos das indústrias qufmicas : Plásticos e suas obras; Borracha e suas obras;
Outros artefatos têxteis confeccionados; sortidos: artefato: Obras de pedra, gesso, cimento, amianto, mica ou de matéria; Produtos
Indústria cerâmicos; Vidro e suas obras; Ferro fundido, ferro e aço; Obras de ferro fundido, ferro ou aço; Cobre e suas obras; Nlquel e suas obras;
Intensiva em Alumfnio e suas obras; Chumbo e suas obras: Zinco e suas obras: Estanho e suas obras: Outros metais comuns: ceramais (cermets);
Escala obras dessas maté; Ferramentas, artefatos de cutelaria e talheres, e suas part: Obras diversas de metais comuns: Reatores nucleares,
caldeiras, máquinas, aparelhos e instru; Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes: a; Vefculos e material para vias
férreas ou semelhantes, e sua; Vefculos automóveis. tratores, ciclos e outros velculos Ter; Embarcações e estruturas flutuantes;
lntrumentos e aparelhos de óptica fotografia ou cinematogr; Aparelhos de relojoaria e suas partes
Fornecedores Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instru; Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; a; Velculos e
Especializados material para vias férreas ou semelhantes, e sua; lntrumentos e aparelhos de óptica, fotografia ou cinematogr;
Indústria Produtos qulmicos orgânicos; Produtos farmacêuticos; Extratos tanantes e tintoriais; taninos e seus derivados: p; Oleos essenciais e
Intensiva em resinOides; produtos de perfumaria ou de; SabOes, agentes orgânicos de superflcie, preparações para I; produtos à base de amidos ou
P&D de fécu; artigos de pirotecnia; fósforos; llg; Produtos para fotografia e cinematografia; Produtos diversos das indústrias qulmicas;
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; a: Aeronaves e aparelhos espaciais, e suas partes; lntrumentos e aparelhos de
Opt1ca fotoarafia ou c1nematoqr

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