INSUFICIENCIA CARDIACA AGUDA
INSUFICIENCIA CARDIACA AGUDA
INSUFICIENCIA CARDIACA AGUDA
DEFINIÇÃO
• O coração precisa encher-se de sangue (diástole) e ejetá-lo (sístole). Qualquer condição que afete a sístole
e/ou diástole pode levar à insuficiência cardíaca (IC).
• Com isso, o principal achado fisiopatológico da IC será a presença de débito cardíaco reduzido e/ou pressões
de enchimento elevadas durante o repouso ou aos esforços.
CLASSIFICAÇÃO
• A insuficiência cardíaca tem várias causas, mas a doença arterial coronariana é a principal delas. Qualquer
condição que dificulte a ejeção ou o relaxamento pode causar
• IC Sistólica: está relacionada ao dano miocárdico (infarto, miocardite) e à sobrecarga ventricular (valvopatia,
hipertensão). Pode ocorrer ainda na doença de Chagas.
• IC Diastólica: está relacionada à restrição no enchimento ventricular (cardiopatias restritivas, hipertensão,
cardiopatias de depósito).
• IC Direta: cor pulmonale (relacionado à DPOC), tromboembolismo pulmonar, estenose mitral e outros
• IC Diastólica: hipertireoidismo (tireotoxicose), deficiência de tiamina ou vitamina B1 (beribéri), cirrose, sepse,
entre outras.
FISIOPATOLOGIA
Encontramos redução no volume sanguíneo ejetado por distúrbio primário na ejeção ventricular. O organismo
responderá a essa redução do volume ejetado de três formas:
• Mecanismo de Frank-Starling: imagine o coração como uma grande cama elástica. Quanto maior a quantidade
de sangue que chega ao coração, maior a distensão de suas fibras e mais sangue será ejetado. No entanto, tanto
o coração como a cama elástica, têm um limite de distensão. Após atingir esse limite, as fibras não respondem
mais com aumento do débito cardíaco. A quantidade de sangue que chega ao coração é denominada pré-carga.
Na ICFER, encontramos sobrecarga de volume na cavidade ventricular esquerda, que comprometerá o débito
cardíaco. Por isso, utilizamos diuréticos para reduzir a sobrecarga de volume no coração.
• Sistemas neuro-hormonais: a ativação do sistema neuro-hormonal ocorre devido à redução do débito cardíaco
e elevação das pressões de enchimento. A redução do débito cardíaco ativa barorreceptores periféricos que
promovem resposta compensatória por meio do aumento do tônus adrenérgico (eles acham que a pressão
arterial está baixa e tentam compensar isso). Assim, ocorre aumento da frequência cardíaca e aumento da
liberação renal de renina (que é mediada, principalmente, pela hipoperfusão renal). O uso de betabloqueadores
visa interromper esse mecanismo. O baixo débito cardíaco também reduz a perfusão renal, que responde com
intensa ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), promovendo a retenção de sódio e água
(responsável pelo quadro congestivo da insuficiência cardíaca) e vasoconstrição periférica (aumento da pós-
carga). Em pacientes não tratados cronicamente, a elevação das catecolaminas, da angiotensina II (potente
estimulador de hipertrofia ventricular) e aldosterona aumentam o gasto energético miocárdico, induzindo
apoptose dos miócitos e deposição de colágeno, que geram fibrose miocárdica, responsável pela ocorrência de
arritmias graves nesses pacientes. A hipervolemia e o aumento do estresse ventricular gerado pela sobrecarga
estimulará o aumento sérico do BNP (peptídeo natriurético cerebral). Esse hormônio possui potente ação
natriurética de vasodilatação e supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Além do BNP, outras
moléculas vasodilatadoras endógenas são ativadas, em menor escala, como bradicinina, prostaglandinas e óxido
nítrico, na tentativa de compensar o quadro excessivo de vasoconstrição periférica. Em contrapartida, a
neprilisina, que possui atividade aumentada na IC, degrada essas moléculas vasodilatadoras (incluindo o BNP),
promovendo efeito vasoconstritor e reduzindo o efeito dessas moléculas.
• Remodelamento cardíaco: o remodelamento é a dilatação ventricular e perda da conformação cardíaca (assume
um formato esférico). Com a morte de diversos grupamentos celulares, os miócitos remanescentes precisam
dar conta do recado: eles hipertrofiam, levando então a perda de miócitos por apoptose, hipertrofia dos miócitos
remanescentes, proliferação de fibroblastos e fibrose.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
• O diagnóstico é CLÍNICO. Uma boa história clínica e um bom exame físico serão suficientes para o diagnóstico
sindrômico de insuficiência cardíaca, na maioria das vezes. Os exames complementares auxiliarão nos casos
duvidosos, na investigação da etiologia e identificação de complicações e causa da descompensação. Para o
diagnóstico, utilizaremos os critérios de Framingham.
• Para o diagnóstico de IC, devemos ter dois critérios maiores SIMULTÂNEOS ou um critério maior e dois
menores.
EXAMES COMPLEMENTARES
• Radiografia de Tórax: Auxilia no diagnóstico diferencial entre causas torácicas e pulmonares da dispneia, além
de permitir avaliação da congestão pulmonar. Deve ser sempre solicitada em pacientes com suspeita de IC.
Avaliamos cardiomegalia através do do índice cardiotorácico (ICT), o qual se for maior que 0,5 temos
cardiomegalia.
• Eletrocardiograma: Fundamental na avaliação inicial do paciente com IC, pois pode fornecer informações
quanto à etiologia da IC ou ao fator de descompensação. Um eletrocardiograma (ECG) normal na IC é
incomum. Achados característicos: bloqueio de ramo esquerdo, hemibloqueio anterior esquerdo + bloqueio de
ramo direito (doença de Chagas),
• Ecocardiograma: Está indicado, na avaliação inicial, para todos os pacientes com sinais e sintomas sugestivos
de IC. Traz informações sobre a função ventricular (sistólica e diastólica), diâmetros cavitários, motilidade das
paredes, função valvar e estado volêmico. O exame deverá ser repetido em situações de mudança súbita do
quadro clínico ou na reavaliação da função ventricular, após terapia específica. A fração de ejeção, que muda
a classificação do paciente portador de IC, deve ser estimada, preferencialmente, através do método de
Simpson.
• Peptídeos natriuréticos (BNP): é um marcador de sobrecarga cardíaca. Além de apresentarem valor
prognóstico, possuem alto valor preditivo negativo (95%) para exclusão do diagnóstico de IC. Valores menores
que 100pg/mL tornam improvável o diagnóstico. Valores elevados à admissão estão associados à pior evolução
hospitalar. A dosagem no momento da alta traz informações prognósticas importantes, assim como a queda
absoluta do BNP durante a internação.
• É um quadro de falência da função cardíaca (sistólica e/ ou diastólica) de início rápido e progressivo que pode
acontecer em um paciente com ou sem história de IC.
• Na maioria das vezes, será apresentado como um quadro de dispneia progressiva (começando em grandes
esforços até estar em repouso). Em outros casos, será um quadro de dispneia súbita, onde outras características
da IC estarão presentes (apresentação típica do edema agudo de pulmão).
• Nos pacientes sem histórico de IC, devemos pensar em disfunção miocárdica aguda (isquêmica, inflamatória
ou tóxica), disfunção valvar aguda ou tamponamento cardíaco.
• Nos pacientes com histórico de IC, a descompensação pode ocorrer sem nenhum fator causal, mas alguns
fatores podem estar presentes, como: infecção, hipertensão não controlada, distúrbios do ritmo ou má
aderência ao tratamento.
CLASSIFICAÇÃO DE STEVENSON
AVALIAÇÃO INICIAL
ABORDAGEM TERAPÊUTICA
DIURÉTICOS
• Como promove a diurese, reduzirá a sobrecarga hídrica no paciente com IC e reduzirá a hipervolemia.
• Portanto, essa droga está indicada nas situações de congestão (pulmonar e/ou sistêmica).
• NÃO altera mortalidade!
• A melhor opção será o diurético de alça (furosemida), pois promove maior eliminação de sódio e água.
• Os pacientes com IC aguda nova, por serem virgens ao tratamento com furosemida, respondem muito bem ao
tratamento diurético em baixas doses. Neles, utilizaremos uma dose inicial de 20mg a 40mg (1 a 2 ampolas)
• Os pacientes com IC crônica agudizada são mais resistentes ao uso da furosemida. Devemos usar, no mínimo,
a mesma quantidade da dose que seu paciente utilizava previamente. Para maior alívio sintomático, podemos
utilizar uma dose 2,5 vezes maior. Na conversão da dose oral para venosa, precisamos saber que a dose oral
equivale à metade da venosa (por exemplo: 40mg de furosemida comprimido equivale a 20mg de furosemida
ampola).
• A principal resposta à furosemida é o aumento da diurese. Esperamos eliminação de, pelo menos, 1L de urina
nas primeiras 6 horas (1,5 a 2,5ml/kg/hora). Além disso, esperamos que o paciente esteja sem ortopneia e/ou
esforço respiratório em 24 horas.
• Outros alvos terapêuticos são: (1) ausência de dispneia aos mínimos esforços em até 72 horas; (2) Sat O2 >90%
em ar ambiente; (3) frequência cardíaca.
VASODILATADORES ENDOVENOSOS
• Quando reduzimos a pressão arterial, reduzimos a pós-carga e, por isso, o VE tem mais facilidade para ejetar
o sangue, reduzindo a pressão capilar pulmonar. Analogicamente, é como abrir mais uma pista em uma avenida
engarrafada. Já o diurético, diminui a quantidade de carros.
• Promovem vasodilatação venosa (reduzem a pré-carga: o sangue que chega ao coração) e vasodilatação arterial
(reduzem a pós-carga). Com isso, essa classe será muito útil no paciente que se apresentar HIPERTENSO.
• A nitroglicerina é a mais utilizada, principalmente em pacientes de etiologia isquêmica (promovem dilatação
coronariana). Pode promover taquicardia reflexa, cefaleia e hipotensão. Não é recomendado em pacientes com
disfunção ventricular direita (pela redução da pré-carga).
• O nitroprussiato de sódio também é muito utilizado, contudo, necessita de uma vigilância superior, visto que
possui um efeito hipotensor mais potente e possui um efeito vasodilatador arterial pulmonar, diminuindo a
pós-carga direita. Deve ser
utilizado com cautela em
pacientes com disfunção
renal ou hepática pelo maior
risco de intoxicação pelo
tiocianato.
Nos pacientes com perfusão inadequada (FRIOS), precisamos de medicamentos que promoverão o aumento da
contratilidade miocárdica (INOTRÓPICOS). Dispomos de três drogas em classes diferentes: agonistas beta-
adrenérgicos, inibidores da fosfodiesterase III e sensibilizadores de cálcio.
• A dobutamina (agonista beta-adrenérgico) é o agente inotrópico mais utilizado. Deve ser utilizada,
preferencialmente, em casos de IC descompensada com hipotensão ou choque cardiogênico. Seu efeito é dose-
dependente (quanto maior a dose, maior o efeito inotrópico). Os principais efeitos limitantes são: potencial
arritmogênico e redução de sua ação com uso prolongado.
• A milrinona (inibidor da fosfodiesterase III) possui propriedades inotrópica e vasodilatadora. Pode ser utilizada
em pacientes com uso prévio de betabloqueadores e com hipertensão pulmonar. Deve ser evitado em
portadores de cardiopatia isquêmica.
• A levosimendana (sensibilizador de cálcio) promove melhora na contratilidade miocárdica e hemodinâmica
semelhante à dobutamina e milrinona. Também possui propriedade vasodilatadora e é segura em pacientes
com uso prévio de betabloqueadores. Seu principal efeito colateral é a hipotensão e, por isso, não pode ser
utilizada em pacientes com choque cardiogênico.
• Começa-se na dose mínima e ajusta-se a cada 2 a 4 horas, devendo ser utilizados parâmetros de perfusão
diretos e indiretos para chegar à dose desejada. O objetivo é atingir uma boa perfusão tecidual.
VASOPRESSORES
• Em algumas situações, a pressão arterial está tão baixa que compromete a perfusão tecidual. Nesse caso,
precisaremos do auxílio dos vasopressores para manter uma pressão arterial mínima adequada.
OPIOIDES
• Utilizados para redução da sensação de dispneia com melhora da ansiedade e da pré-carga (efeito
vasodilatador). Deve ser utilizada com cautela pelo risco de depressão respiratória e broncoespasmo por
liberação de histamina. O opioide mais utilizado é a morfina, muito recomendada nos casos de edema agudo
de pulmão. Dose: 2 a 4 mg.
MEDICAÇÕES ORAIS
Após toda abordagem endovenosa do paciente com IC aguda, chega o momento de definição sobre as medicações
orais. Devemos decidir que drogas devemos manter, quais suspender e quais iniciar. Medicação oral está recomendada
para pacientes com estabilidade hemodinâmica e sem uso de inotrópicos ou de vasodilatadores endovenosos.