Livro Pensamento e Vida Emmanuel

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Francisco Cândido Xavier

Pensamento e
Vida

Ditado pelo Espírito


Emmanuel
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 2
Emmanuel

Índice
Pensamento e Vida...........................................................................4
1 O espelho da vida.........................................................................5
2 Vontade.........................................................................................7
3 Cooperação...................................................................................9
4 Instrução.....................................................................................11
5 Educação.....................................................................................13
6 Fé................................................................................................15
7 Trabalho......................................................................................17
8 Associação..................................................................................19
9 Sugestão......................................................................................21
10 Entendimento............................................................................23
11 Berço.........................................................................................25
12 Família......................................................................................27
13 Filhos........................................................................................29
14 Corpo........................................................................................31
15 Saúde........................................................................................33
16 Vocação....................................................................................35
17 Profissão...................................................................................37
18 Sociedade..................................................................................39
19 Prosperidade.............................................................................41
20 Hábito.......................................................................................43
21 Dever........................................................................................45
22 Culpa.........................................................................................47
23 Auxílio......................................................................................49
24 Humildade.................................................................................51
25 Tolerância.................................................................................53
26 Oração.......................................................................................55
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 3
Emmanuel

27 Obsessão...................................................................................57
28 Enfermidade..............................................................................59
29 Morte........................................................................................61
30 Amor.........................................................................................63
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 4
Emmanuel

Pensamento e Vida
Perguntou-nos coração amigo se não possuíamos algum livro
no Plano Espiritual, suscetível de ser adaptado às necessidades da
Terra.
Algumas páginas que falassem, ao espírito, dos problemas do
espírito... Algo leve e rápido que condensasse os princípios supe-
riores que nos orientam a rota ...
E lembramo-nos, por isso, de singela cartilha falada de que
dispomos em nossas tarefas, junto aos companheiros em trânsito
para o berço, utilizada em nossas escolas de regeneração, entre a
morte e o renascimento.
Anotações humildes que repontam do cérebro como flores
que rebentam do solo, sem pertencerem, no fundo, ao jardim que
as recolhe, por nascerem da Bondade de Deus que conjuga o Sol e
a gleba, a fonte e o ar, o adubo e o vento, para nelas instilar a cor
e a forma, a beleza e o perfume...
Eis aqui, portanto, adaptada quanto possível ao campo do es-
forço humano, a nossa cartilha simples.
“Pensamento e Vida”, chamamos-lhe no Mundo Espiritual e,
sob a mesma designação, oferecemo-la aos nossos irmãos de luta,
temporariamente internados na esfera física, para informá-los,
ainda uma vez, de que o nosso pensamento cria a vida que procu-
ramos, através do reflexo de nós mesmos, até que nos identifi-
quemos, um dia, no curso dos milênios, com a Sabedoria Infinita
e com o Infinito Amor, que constituem o Pensamento e a Vida de
Nosso Pai.
EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 11 de fevereiro de 1958.
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Emmanuel

1 - O espelho da vida

A mente é o espelho da vida em toda parte.


Ergue-se na Terra para Deus, sob a égide do Cristo, à feição do
diamante bruto, que, arrancado ao ventre obscuro do solo, avança,
com a orientação do lapidário, para a magnificência da luz.
Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas almas
humanas surge entre as ilusões que salteiam a inteligência, e revela-se
nos Espíritos Aperfeiçoados por brilhante precioso a retratar a Glória
Divina.
Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos
achamos entre a animalidade e a angelitude, somos impelidos a
interpretá-la como sendo o campo de nossa consciência desperta, na
faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.
Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração
lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a
força do pensamento que tudo move, criando e transformando,
destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar.
Em todos os domínios do Universo vibra, pois, a influência
recíproca.
Tudo se desloca e renova sob os princípios de interdependência
e repercussão.
O reflexo esboça a emotividade. A emotividade plasma a idéia.
A idéia determina a atitude e a palavra que comandam as ações.
Em semelhantes manifestações alongam-se os fios geradores das
causas de que nascem as circunstâncias, válvulas obliterativas ou
alavancas libertadoras da existência.
Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria
mente, muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo,
assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa
relativa capacidade de assimilação.
Ninguém permanece fora do movimento de permuta
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incessante.
Respiramos no mundo das imagens que projetamos e recebe-
mos. Por elas, estacionamos sob a fascinação dos elementos que
provisoriamente nos escravizam e, através delas, incorporamos o
influxo renovador dos poderes que nos induzem à purificação e ao
progresso.
O reflexo mental mora no alicerce da vida.
Refletem-se as criaturas, reciprocamente, na Criação que re flete
os objetivos do Criador.
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2 - Vontade

Comparemos a mente humana – espelho vivo da consciência


lúcida – a um grande escritório, subdividido em diversas seções de
serviço.
Aí possuímos o Departamento do Desejo, em que operam os
propósitos e as aspirações, acalentando o estimulo ao trabalho; o
Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e
da cultura; o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do
ideal e da sensibilidade; o Departamento da Memória, arquivando as
súmulas da experiência, e outros, ainda, que definem os investimentos
da alma.
Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade.
A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando
todos os setores da ação mental.
A Divina Providência concedeu-a por auréola luminosa à razão,
depois da laboriosa e multimilenária viagem do ser pelas províncias
obscuras do instinto.
Para considerar-lhe a importância, basta lembrar que ela é o
leme de todos os tipos de força incorporados ao nosso conhecimento.
A eletricidade é energia dinâmica. O magnetismo é energia estática.
O pensamento é força eletromagnética.
Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em to- das
as manifestações da Vida Universal, criando gravitação e afinidade,
assimilação e desassimilação, nos campos múltiplos da forma que
servem à romagem do espírito para as Metas Supremas, traçadas pelo
Plano Divino.
A Vontade, contudo, é o impacto determinante.
Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento
ou a inércia da máquina.
O cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a
capacidade de reflexão que lhe é própria; no entanto, na Vontade
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Emmanuel

temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo


causas que comandam os problemas do destino.
Sem ela, o Desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de
reparação e sofrimento, a Inteligência pode aprisionar-se na enxovia
da criminalidade, a Imaginação pode gerar perigosos monstros na
sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora,
conforme a destinação que a Natureza lhe assinala, pode cair em
deplorável relaxamento.
Só a Vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia
do espírito.
Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental,
quando se trate da conexão entre os semelhantes, porque a sintonia
constitui lei inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre
os elementos que administra, de modo a mantê-los coesos na
corrente do bem.
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3 - Cooperação

Para que alguém dirija com êxito e eficiência uma empresa


importante, não lhe basta a nomeação para o encargo.
Exige-se-lhe um conjunto de qualidades superiores para que a
obra se consolide e prospere. Não apenas autoridade, mas direção com
discernimento. Não só teoria e cultura, mas virtude e juízo claro de
proporções.
Dilatados recursos nas mãos, a serviço de uma cabeça sem
rumo, constituem tesouros nos braços da insensatez, assim como a
riqueza sem orientação é navio à matroca.
Quem governa emitirá forças de justiça e bondade, trabalho e
disciplina, para atingir os objetivos da tarefa em que foi situado.
Quando o poder é intemperante, sofre o povo a intranqüilidade e
a mazorca, e, quando a inteligência não possui o timão do caráter
sadio, espalha, em torno, a miséria e a crueldade.
Daí, conhecermos tantos tiranos nimbados de grandeza mental e
tantos gênios de requintada sensibilidade, mas atolados no vício.
No mundo íntimo, a vontade é o capitão que não pode relaxar no
mister que lhe é devido.
E assim como o administrador de um serviço reclama a ajuda de
assessores corretos, a vontade não prescindirá da ponderação e da
lógica, conselheiros respeitáveis na chefia das decisões.
No entanto, urge que o senso de cooperação seja chamado a
sustentar-lhe os impulsos.
Nas linhas da atividade terrestre, quem orienta com segurança
não ignora a hierarquia natural que vige na coexistência de todos os
valores indispensáveis à vida.
Na confecção do agasalho comum, o fio contará com o apoio da
máquina, a máquina esperará pela competência do operário, o operário
edificar-se-á no técnico que lhe supervisiona o trabalho, o técnico
arrimar-se-á na diretoria da fábrica e a diretoria da fábrica equilibrar-
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Emmanuel

se-á no movimento da indústria, dele extraindo o combustível


econômico necessário à alimentação do núcleo de serviço que lhe
obedece aos ditames.
Observamos, assim, que no Estado Individual a vontade, para
satisfazer à governança que lhe compete, sem colapsos de equilíbrio,
precisa socorrer-se da colaboração a fim de que se lhe clareie a
atividade.
A cooperação espontânea é o supremo ingrediente da ordem.
Da Glória Divina às balizas subatômicas, o Universo pode ser
definido como sendo uma cadeia de vidas que se entrosam na Grande
Vida.
Cooperação significa obediência construtiva aos impositivos da
frente e socorro implícito às privações da retaguarda.
Quem ajuda é ajudado, encontrando, em silêncio, a mais segura
fórmula de ajuste aos processos da evolução.
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4 - Instrução

Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à


presença de Deus.
Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria.
Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a
criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos
outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que
começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos
vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da
própria grandeza, impelindo-a para o Alto.
Através do amor valorizamo-nos para a vida. Através da
sabedoria somos pela vida valorizados.
Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bon-
dade.
Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena
sombra, a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.
Inteligência que não ama pode ser comparada a valioso poste de
aviso, que traça ao peregrino informes de rumo certo, deixando-o
sucumbir ao tormento da sede.
Todos temos necessidade de instrução e de amor. Estudar e servir
são rotas inevitáveis na obra de elevação.
Toda a cultura intelectual é formada em cadeia de gradativa
expansão.
As civilizações sucedem-se, ininterruptas, ao influxo da herança
mental.
A arte, na palavra ou na música, no buril ou no pincel, evolui e
se aprimora, por intermédio da repercussão a exprimir-se no trabalho
dos cultivadores do belo, que se inspiram uns nos outros.
A escola é um centro de indução espiritual, onde os mestres
de hoje continuam a tarefa dos instrutores de ontem.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 12
Emmanuel

O livro representa vigoroso ímã de força atrativa, plasmando as


emoções e concepções de que nascem os grandes movimentos da
Humanidade, em todos os setores da religião e da ciência, da opinião e
da técnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dínamo de energia
criadora, encontramos os mais adiantados serviços de telementação,
porquanto, a imensas distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos
as idéias dos espíritos superiores que passa- ram por nós, há Séculos.
Sócrates reflete-se nas páginas dos discípulos que lhe
comungavam a intimidade e, ainda hoje, consumimos os elevados
pensamentos de que foi ele o portador.
Retrata-se Jesus nos livros dos apóstolos que lhe dilataram a
obra e temos, no Evangelho, um espelho cristalino em que o Mestre
se reproduz, por divina reflexão, orientando a conduta humana para a
construção do Reino de Deus entre as criaturas.
Conhecer é patrocinar a libertação de nós mesmos, colocando-
nos a caminho de novos horizontes na vida.
Corre-nos, pois, o dever de estudar sempre, escolhendo o melhor
para que as nossas idéias e exemplos reflitam as idéias e os exemplos
dos paladinos da luz.
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Emmanuel

5 - Educação

Disse-nos o Cristo: “Brilhe vossa luz ...”1


E ele mesmo, o Mestre Divino, é a nossa divina luz na evolução
planetária.
Admitia-se antigamente que a recomendação do Senhor fosse
mero aviso de essência mística, conclamando profitentes do Culto
externo da escola religiosa a suposto relevo individual, depois da
morte, na imaginária corte celeste.
Hoje, no entanto, reconhecemos que a lição de Jesus deve ser
aplicada em todas as condições, todos os dias.
A própria ciência terrena atual reconhece a presença da luz
em toda parte.
O corpo humano, devidamente estudado, revelou-se, não mais
como matéria coesa, senão espécie de veículo energético, estruturado
em partículas infinitesimais que se atraem e se repelem,
reciprocamente, com o efeito de microscópicas explosões de luz.
A Química, a Física e a Astronomia demonstram que o homem
terrestre mora num reino entrecortado de raios.
Na intimidade desse glorioso império da energia, temos os raios
mentais condicionando os elementos em que a vida se expressa.
O pensamento é força criativa, a exteriorizar-se, da criatura que
o gera, por intermédio de ondas sutis, em circuitos de ação e reação no
tempo, sendo tão mensurável como o fotônio que, arrojado pelo fulcro
luminescente que o produz, percorre o espaço com Velocidade
determinada, sustentando o hausto fulgurante da Criação.
A mente humana é um espelho de luz, emitindo raios e assi-
milando-os, repetimos.
Esse espelho, entretanto, jaz mais ou menos prisioneiro nas
sombras espessas da ignorância, à maneira de pedra valiosa in-
crustada no cascalho da furna ou nas anfractuosidades do precipício.
Para que retrate a irradiação celeste e lance de si mesmo o próprio
brilho, é indispensável se desentrance das trevas, à custa do esmeril
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 14
Emmanuel

do trabalho.
Reparamos, assim, a necessidade imprescritível da educação
para todos os seres.
Lembremo-nos de que o Eterno Benfeitor, em sua lição verbal,
fixou na forma imperativa a advertência a que nos referimos:
“Brilhe vossa luz.”
Isso quer dizer que o potencial de luz do nosso espírito deve
fulgir em sua grandeza plena.
E semelhante feito somente poderá ser atingido pela educação
que nos propicie o justo burilamento.
Mas a educação, com o cultivo da inteligência e com o
aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e
bondade, saber e virtude, não será conseguida tão-só à força de
instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a
consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si
própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode libertar e
polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de
refletir a Vida Gloriosa e transformar, conseqüentementemente, o
cérebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de
beleza e sublimação.

1
Mateus, 5:16 (Nota do autor espiritual)
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6 - Fé

Para encontrar o bem e assimilar-lhe a luz, não basta admitir-lhe


a existência. É indispensável buscá-lo com perseverança e fervor.
Ninguém pode duvidar da eletricidade, mas para que a lâm- pada
nos ilumine o aposento recorremos a fios Condutores que lhe
transportem a força, desde a aparelhagem da usina distante até o
recesso de nossa casa.
A fotografia é hoje fenômeno corriqueiro; contudo, para que a
imagem se fixe, na execução do retrato, é preciso que a emulsão
gelatinosa sensibilize a placa que a recebe.
A voz humana, através da radiofonia, é transmitida de um
continente a outro, com absoluta fidelidade; todavia, não prescinde do
remoinho eletrônico que, devidamente disciplinado, lhe transporta as
ondulações.
Não podemos, desse modo, plasmar realização alguma sem
atitude positiva de confiança.
Entretanto, como exprimir a fé? – indaga-se muitas vezes. A fé não
encontra definição no vocabulário vulgar.
É força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na
Sabedoria de Deus que é a sabedoria da própria vida. Palpita em todos
os seres, vibra em todas as coisas. Mostra-se no cristal fraturado que
se recompõe, humilde, e revela-se na árvore dece- pada que se refaz,
gradativamente, entregando-se às leis de reno- vação que abarcam a
Natureza.
Todas as operações da existência se desenvolvem, de algum
modo, sob a energia da fé.
Confia o campo no vigor da primavera e cobre-se de flores.
Fia-se o rio na realidade da fonte, e dela não prescinde para a
sua caudal larga e profunda.
A simples refeição é, para o homem, espontâneo ato de fé.
Alimentando-se, confia ele nas vísceras abdominais que não vê.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 16
Emmanuel

Todo o êxito da experiência social resulta da fé que a


comunidade empenhe no respeito às determinações de ordem legal
que lhe regem a vida.
Utilizando-nos conscientemente de semelhante energia, é-nos
possível suprimir longas curvas em nosso caminho de evolução.
Para isso, seja qual for a nossa interpretação religiosa da idéia de
Deus, é imprescindível acentuar em nós a confiança no bem para
refletir-lhe a grandeza.
Recordemos a lente e o Sol. O astro do dia distribui
eqüitativamente os recursos de que dispõe. Convergindo-lhe porém, os
raios com a lente comum, dele auferimos poder mais amplo.
O Bem Eterno é a mesma luz para todos, mas concentrando-lhe
a força em nós, por intermédio de positiva segurança íntima, decerto
com mais eficiência lhe retrataremos a glória.
Busquemo-lo, pois, infatigavelmente, sem nos determos no
mal.
O tronco podado oferece frutos iguais àqueles que produzia,
antes do golpe que o mutilou.
A fonte alcança o rio, desfazendo no próprio seio a lama que
lhe atiram.
Sustentemos o coração nas águas vivas do bem inexaurível.
Procuremos a boa parte das criaturas, das coisas e dos sucessos que
nos cruzem a lide cotidiana. Teremos, assim, o espelho de
nossa mente voltado para o bem, incorporando-lhe os
tesouros eternos, e a felicidade que nasce da fé, generosa e operante,
libertar-nos-á dos grilhões de todo o mal, de vez que o bem,
constante e puro, terá encontrado em nós seguro refletor.
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Emmanuel

7 - Trabalho

Se nos propomos retratar mentalmente a luz dos Planos


Superiores, é indispensável que a nossa vontade abrace
espontaneamente o trabalho por alimento de cada dia.
No pretérito, apreciávamo-lo por atitude servil de quantos
caíssem sob o ferrete da injúria.
A escola, as artes, as virtudes domésticas, a indústria e o amanho
do solo eram relegados a mãos escravas, reservando-se os braços
supostos livres para a inércia dourada.
Hoje, porém, sabemos que a lei do trabalho é roteiro da justa
emancipação. Sem ela, o mundo mental dorme estanque. Fugir-lhe
aos impositivos é situar-se à margem do caminho, onde o carro da
evolução marcha, inflexível, deixando à retaguarda quantos se
amolgam à ilusão da preguiça.
O usurário não padece apenas a infelicidade de seqüestrar os
bens devidos ao Bem de Todos, mas igualmente o infortúnio de erguer
para si mesmo a cova adornada em que se lhe estiolarão as mais
nobres faculdades do espírito.
Não vale, contudo, agir por agir.
As regiões infernais vibram repletas de movimento.
Além do trabalho-obrigação que nos remunera de pronto, é
necessário nos atenhamos ao prazer de servir.
Nas contingências naturais do desenvolvimento terrestre, o
espírito encarnado é compelido a esforço incessante, para o sustento
do corpo físico. Recolhe, de graça, a água pura, os princípios solares
e os recursos nutrientes da atmosfera; entretanto, é preciso suar e
sofrer em busca da proteína e do carboidrato que lhe assegurem a
euforia orgânica
Cativo, embora, às injunções do plano de obscura matéria em
que transitoriamente respira, pode, porém, desde a Terra, fruir a
ventura do serviço voluntário aos semelhantes todo aquele que
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 18
Emmanuel

descerre o espelho da própria alma aos reflexos da Esfera Divina.


O trabalho-ação transforma o ambiente. O trabalho-serviço,
transforma o homem.
As tarefas remuneradas conquistam o agradecimento de quem
lhes recebe o concurso, mas permanecem adstritas ao mundo, nas
linhas da troca vulgar.
A prestação de concurso espontâneo, sem qualquer base de
recompensa, desdobra a influência da Bondade Celestial que a todos
nos ampara sem pagamento
A maneira que se nos alonga a ascensão, entendemos com mais
clareza a necessidade de trabalhar por amor de servir.
Quando começamos a ajudar o próximo, sem aguilhões,
matriculamo-nos no acrisolamento da própria alma, entrando em
sintonia com a Vida Abundante.
Nos círculos mais elevados do espírito, o trabalho não é
imposto. A criatura consciente da verdade compreende que a ação no
bem é ajustamento às Leis de Deus e a ela se rende por livre vontade.
Por isso, nos domínios superiores, quem serve avança para os
cimos da imortalidade radiosa, reproduzindo dentro de si mesmo as
maravilhas do Céu que nos rodeia a espelhar-se por toda parte.
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Emmanuel

8 - Associação
Se o homem pudesse contemplar com os próprios olhos as
correntes de pensamento, reconheceria, de pronto, que todos vivemos
em regime de comunhão, segundo os princípios da afinidade.
A associação mora em todas as coisas, preside a todos os
acontecimentos e comanda a existência de todos os seres.
Demócrito, o sábio grego que viveu na Terra muito antes do
Cristo, assevera que “os átomos, invisíveis ao olhar humano,
agrupam-se à feição dos pombos, à cata de comida, formando assim
os corpos que conhecemos”.
Começamos agora a penetrar a essência do microcosmo e, de
alguma sorte, podemos simbolizar, por enquanto, no átomo entre- gue
à nossa perquirição, um sistema solar em miniatura, no qual o núcleo
desempenha a função de centro vital e os elétrons a de planetas em
movimento gravitativo.
No plano da Vida Maior, vemos os sóis carregando os mun- dos
na imensidade, em virtude da interação eletromagnética das forças
universais.
Assim também na vida comum, a alma entra em ressonância
com as correntes mentais em que respiram as almas que se lhe
assemelham.
Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como
pensamos.
É que sentindo, mentalizando, falando ou agindo, sintonizamo-
nos com as emoções e idéias de todas as pessoas, encarnadas ou
desencarnadas, da nossa faixa de simpatia.
Estamos invariavelmente atraindo ou repelindo recursos mentais
que se agregam aos nossos, fortificando-nos para o bem ou para o
mal, segundo a direção que escolhemos.
Em qualquer providência e em qualquer opinião, somos sempre
a soma de muitos.
Expressamos milhares de criaturas e milhares de criaturas nos
expressam.
O desejo é a alavanca de nosso sentimento, gerando a energia
que consumimos, segundo a nossa vontade.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 20
Emmanuel

Quando nos detemos nos defeitos e faltas dos outros, o espelho


de nossa mente reflete-os, de imediato, como que absorvendo as
imagens deprimentes de que se constituem, pondo-se nossa
imaginação a digerir essa espécie de alimento, que mais tarde se
incorpora aos tecidos sutis de nossa alma. Com o decurso do tempo,
nossa alma, não raro, passa a exprimir, pelo seu veículo de
manifestação, o que assimilara, fazendo-o seja pelo corpo carnal, entre
os homens, seja pelo corpo espiritual de que nos servimos, depois da
morte.
É por esta razão que geralmente os censores do procedimento
alheio acabam praticando as mesmas ações que condenam no
próximo, porquanto, interessados em descer às minúcias do mal,
absorvem-lhe inconscientemente as emanações, surpreendendo- se,
um dia, dominados pelas forças que o representam.
Toda a brecha de sombra em nossa personalidade retrata a
sombra maior.
Qual o pequenino foco infeccioso que, abandonado a si mesmo,
pode converter-se dentro de algumas horas no bolo pestífero de
imensas proporções, a maledicência pode precipitar-nos no vício,
tanto quanto a cólera sistemática nos arrasta, muita vez, aos labirintos
da loucura ou às trevas do crime.
Pensando, conversando ou trabalhando, a força de nossas idéias,
palavras e atos alcança, de momento, um potencial tantas vezes maior
quantas sejam as pessoas encarnadas ou não que concordem conosco,
potencial esse que tende a aumentar indefi- nidamente, impondo-nos,
de retorno, as conseqüências de nossas próprias iniciativas.
Estejamos, assim, procurando incessantemente o bem, aju-
dando, aprendendo, servindo, desculpando e amando, porque, nessa
atitude, refletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurança
o nosso problema de companhia.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 21
Emmanuel

9 - Sugestão

Comenta-se o fenômeno da sugestão mental, qual se fora


privativo de gabinetes magnéticos específicos, mobilizando-se
hipnotizadores e hipnotizados, à conta de taumaturgos.
Grasset, o eminente neurologista da escola de Montpellier,
chega a classificar as sugestões em duas categorias: – as intra-
hipnóticas, que se efetuam no curso do sono provocado, e as pós-
hipnóticas, que se realizam além do despertar.
Entretanto, a sugestão é acontecimento de toda hora, na vida de
todos os seres, com base na reflexão mental permanente.
Dela se apropriou com mais empenho a magia, que, significando
o governo das forças ocultas, tem sido, antes de tudo, o clima de
todas as cerimônias religiosas na Terra, cerimônias essas em que se
conjugam as forças de poderosas mentes encarnadas e desencarnadas,
gerando sucessos que impressionam a mente popular, disciplinando-
lhe os impulsos.
Força mental pura e simples, carreando a idéia por imagem viva,
a sugestão, como a eletricidade, o explosivo, o vapor e a desintegração
atômica, não é boa nem má, dependendo os seus efeitos da aplicação
que se lhe confere. Temo-la, assim, não apenas no altar da oração e
nos símbolos sagrados do serviço religioso, aconselhando a virtude e o
progresso ao coração do povo, mas também nos espetáculos
deprimentes dos ritos bárbaros e na demagogia de arrastamento,
ressumando o psiquismo inferior que inspira a licenciosidade e a
rebelião.
Nossas emoções, pensamentos e atos são elementos dinâmicos
de indução.
Todos exteriorizamos a energia mental, configurando as formas
sutis com que influenciamos o próximo, e todos somos afetados por
essas mesmas formas, nascidas nos cérebros alheios.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 22
Emmanuel

Cada atitude de nossa existência polariza forças naqueles que se


nos afinam com o modo de ser, impelindo-os à imitação consciente ou
inconsciente.
É que o princípio de repercussão nos comanda a atividade em
todos os passos da vida.
A escola é um lar de iniciação para as almas que começam as
lides do burilamento intelectual, constituindo, simultaneamente, um
centro de reflexos condicionados para milhões de espíritos que
reencarnam para readquirir pelo alfabeto o trabalho das pró- prias
conquistas na esfera da inteligência.
Com o auxílio dos múltiplos instrutores que nos guiam da
cátedra e da tribuna, pelo livro e pela imprensa, retomamos no mundo
a nossa realidade psíquica, determinada pela soma de nossas
aquisições emocionais e culturais no passado, com a possibilidade de
mais ampla educação da vontade para o devido ajustamento à Vida
Superior.
Somos hoje, deste modo, herdeiros positivos dos reflexos de
nossas experiências de ontem, com recursos de alterar-lhes a direção
para a verdadeira felicidade.
Auxiliando a outrem, sugerimos o auxilio em nosso favor.
Suportando com humildade as vicissitudes da senda regenerativa,
instilamos paciência e solidariedade, para conosco, em todos aqueles
que nos rodeiam.
Ajudando, ajudamo-nos. Desservindo, desservimo-nos.
Por intermédio da sugestão espontânea, plantamos os reflexos de
nossa individualidade, colhendo-lhes os efeitos nas individualidades
alheias, como semeamos e obtemos no mundo o cânhamo e o trigo,
a cenoura e a batata.
Somos, assim, responsáveis pela nossa ligação com as forças
construtivas do bem ou com as forças perturbadoras do mal.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 23
Emmanuel

10 - Entendimento

O cultivador do campo não prescinde do arado com que sulcará


o corpo da gleba.
O estatuário recorrerá ao buril para afeiçoar o mármore à idéia
criadora que lhe inflama a cabeça.
A criatura interessada na produção de reflexos mentais
protetores de sua senda não dispensará o entendimento por alicerce do
trabalho renovador.
Entendimento que simbolize fraternidade operante.
Simpatia que se converta em fulcro de força atrativa,
exteriorizando-nos a melhor parte, para que a melhor parte dos outros
se exteriorize ao nosso encontro.
Todos somos compulsoriamente envolvidos na onda mental que
emitimos de nós, em regime de circuito natural.
Categorizamo-nos bons ou maus, conforme o uso de nossos
sentimentos e pensamentos, que, no fundo, constituem cargas de
energia eletromagnética, com as quais ferimos ou acalentamos,
ajudamos ou prejudicamos, vitalizamos ou destruímos, e que voltam,
invariavelmente, a nós mesmos, impregnadas dos recursos felizes ou
infelizes com que lhes marcamos a rota.
Quando coléricos e irritadiços, agressivos e ásperos para com os
outros, criamos, por atividade reflexa, o desalento e a intemperança, a
crueldade e a secura para nós mesmos e, quando generosos e
compreensivos, prestimosos e úteis para com aqueles que nos
cercam, criamos, conseqüentemente, a alegria e a tranqüilidade, a
segurança e o bom ânimo para nós próprios.
Responde-nos a vida em todas as coisas e em todas as criaturas,
segundo a natureza de nosso chamamento.
Até o ingresso na Consciência Cósmica, todos os seres se dis-
tinguem pela face de luz com que se alteiam para os cimos da
evolução e pela face de sombra pela qual ainda sofrem a influência da
retaguarda.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 24
Emmanuel

A própria posição vulgar do homem na Terra vale por símbolo


dessa condição específica. Por cima o fulgor pleno do Sol, por baixo a
escuridade do abismo.
Todos recolhemos do Pai Celeste os estimulos ao futuro e todos
padecemos os reflexos do passado a se nos projetarem sobre a
existência.
Desatando, assim, as algemas do mal que nós mesmos forja-
mos em detrimento de nossas almas, há que buscar o bem, senti- lo,
mentalizá-lo e plasmá-lo com todos os potenciais de realização ao
nosso alcance.
Para começar, precisaremos separar o criminoso da
criminalidade, como o lavrador que estabelece diferença entre o verme
e a plantação, para abolir o domínio do primeiro e enriquecer a
utilidade da segunda. E assim como o trabalhador rural extingue a
praga, salvando a lavoura, é necessário que o nosso entendimento
improvise meios de auxiliar o companheiro que caiu sob o guante da
delinqüência, sem alentá-la.
Apequenar-se para ajudar, sem perder altura, é assegurar a
melhoria de todos, acentuando a própria sublimação.
Entretanto, só o culto infatigável do entendimento pode garantir-
nos o equilíbrio indispensável no serviço de auto- burilamento em que
devemos empenhar os nossos melhores so- nhos, de vez que apenas o
amor puro é capaz de criar em nossa mente a energia da luz divina, a
expandir-se de nós em reflexos de protetora renovação.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 25
Emmanuel

11 - Berço

Excetuando-se os planos organizados para as obras especiais,


em que Espíritos missionários senhoreiam as reservas fisiológicas
para a criação de reflexos da Vida Superior entre os homens,
impelindo-os a maior ascensão, todo berço de agora retrata o
ontem que passou.
O caminho que iniciamos em determinada existência é o
prolongamento dos caminhos que percorremos naquelas que a
precederam.
Esfalfa-se a investigação científica na Terra, estudando o
continuísmo biológico.
Núcleos de cromossomos e veículos citoplásmicos, fatores de
ambiente e genealogias familiares são chamados pelos geneticistas
à equação dos problemas da origem e é natural que de suas
indagações surjam resultados notáveis, quais sejam aqueles que
tangem aos caracteres morfológicos e às surpresas da adaptação.
O escalpelo da observação humana, porém, não consegue, por
agora, ultrapassar o recinto externo da constituição orgânica,
detendo-se no exame da conformação e da estatura, da pigmenta-
ção e do grupo sangüíneo, alusivos à filiação corpórea, já que os
meandros da hereditariedade psíquica são, por enquanto, quase
que integralmente inacessíveis à sondagem da inteligência terres-
tre.
É que as células germinais, por sementes vivas, reproduzem
os nossos clichês da consciência no trabalho impalpável da
formação de um corpo novo.
Na câmara uterina, o reflexo dominante de nossa
individualidade impressiona a chapa fetal ou o conjunto de
princípios germinativos que nos forjam os alicerces do novo
instrumento físico, selando-nos a destinação para as tarefas que
somos chamados a executar no mundo, em certa quota de tempo.
Nisso não vai qualquer exaltação ao determinismo absoluto,
porque ninguém pode suprimir o livre-arbítrio, com o qual
articulamos as causas de sofrimento ou reparação em nossos
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 26
Emmanuel

destinos, dentro do determinismo relativo em que marchamos para


mais altas formas de emoção e pensamento, na conquista da
liberdade suprema.
Pelo transe da morte física, regressamos à Vida Maior com a
soma de realizações que nem sempre são aquelas que devêramos
efetuar. Em muitas circunstâncias, as imagens trazidas da
permanência na carne são fantasmas temíveis, nascidos de nossas
próprias culpas, exigindo reajuste e pagamento, a modelarem para
os nossos sentidos o inferno torturante em que se nos revolvem as
queixas e aflições.
Eis, porém, que a Justiça Fiel, por misericórdia, nos concede
o retorno para a bênção do reinício. Retomamos, assim, através do
berço, o contato direto com os nossos credores e devedores para a
liquidação dos débitos que contraímos, cujo balanço efetivo jaz
devidamente contabilizado nas Leis Divinas.
É desta maneira que comumente renascemos na Terra, segundo
as nossas dívidas ou conforme as nossas necessidades, assimilando
para esse fim a essência genética daqueles que se nos afinam com o
modo de proceder e de ser.
Os problemas da hereditariedade, em razão disso, descendem,
de forma geral, dos reflexos mentais que nos sejam próprios.
Em verdade, por vezes, abnegados corações, cultivando a leira
do amor pelo sacrifício, trazem a si corações desditosos, guardando
transitoriamente, nos braços, monstruosas aberrações que destoam
do elevado nível em que já se instalaram; contudo, devemos
semelhantes exceções ao espírito de renúncia com que fazem
emergir das regiões infernais velhos laços afetivos, distanciados no
tempo, usando o divino atributo da caridade.
De conformidade com a regra, porém, nosso berço no mundo
é o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada um de nós,
quando na reencarnação, honrá-lo com trabalho digno de
restauração, melhoria ou engrandecimento, na certeza de que a ele
fomos trazidos ou atraídos, segundo os problemas da regeneração
ou da mordomia de que carecemos na recomposição de nosso
destino, perante o futuro.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 27
Emmanuel

12 - Família

A família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada


como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis ou
desagradáveis que o pretérito nos devolve.
Certo, não incluímos aqui os Espíritos pioneiros da evolução
que, trazidos ao ambiente comum, superam-no, de imediato, criando o
clima mental que lhes é peculiar, atendendo à renovação de que se
fazem intérpretes.
Comentamos a nossa posição no campo vulgar da luta.
Cada criatura está provisoriamente ajustada ao raio de ação que
é capaz de desenvolver ou, mais claramente, cada um de nós apenas,
pouco a pouco, ultrapassará o horizonte a que já estenda os reflexos
que lhe digam respeito.
O homem primitivo não se afasta, de improviso, da própria taba,
mas aí renasce múltiplas vezes, e o homem relativamente civilizado
demora-se longo tempo no plano racial em que assimila as
experiências de que carece, até que a soma de suas aquisições o
recomende a diferentes realizações.
É assim que na esfera do grupo consangüíneo o Espírito
reencarnado segue ao encontro dos laços que entreteceu para si
próprio, na linha mental em que se lhe caracterizam as tendências.
A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum
modo, a natural aglutinação dos espíritos que se afinam nas mesmas
atividades e inclinações.
Um grande artista ou um herói preeminente podem nascer em
esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam. É a
manifestação do gênio pacientemente elaborado no bojo dos
milênios, impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco
trabalho criativo.
Todavia, na senda habitual, o templo doméstico reúne aqueles
que se retratam uns nos outros.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 28
Emmanuel

Uma família de músicos terá mais facilidade para recolher


companheiros da arte divina em sua descendência, porque, muita vez,
os Espíritos que assumem a posição de filhos na reencarnação, junto
deles, são os mesmos amigos que lhes incentivavam a formação
musical, desde o reino do Espírito, refletindo-se reciprocamente na
continuidade da ação em que se empenham através de séculos
numerosos.
É ainda assim que escultores e poetas, políticos e médicos,
comerciantes e agricultores quase sempre se dão as mãos, no culto dos
melhores valores afetivos, continuando-se, mutuamente, nos genes
familiares, preservando para si mesmos, mediante o trabalho em
comum e segundo a lei do renascimento, o patrimônio evolutivo em
que se exprimem no espaço e no tempo. Também é assim, de
conformidade com o mesmo princípio de sintonia, que vemos
dipsômanos e cleptomaníacos, tanto quanto delinqüentes e enfermos
de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam
espiritualmente as deficiências e as provas, porquanto muitas
inteligências transviadas se ajustam ao campo genético daqueles que
lhes atraem a companhia, por força dos sentimentos menos dignos ou
das ações deploráveis com que se oneram perante a Lei.
A tara familiar, por esse motivo, é a resultante da conjunção de
débitos, situando-nos no plano genético enfermiço que merecemos, à
face dos nossos compromissos com o mundo e com a vida. Dessa
forma, somos impelidos a padecer o retorno dos nossos reflexos
tóxicos através de pessoas de nossa parentela, que no-los devolvem por
aflitivos processos de sofrimento.
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e
alegria que já conseguimos tecer, por intermédio do amor
louvavelmente vivido, mas também as algemas de constrangimento e
aversão, nas quais recolhemos, de volta, os clichês inquietantes que
nós mesmos plasmamos na memória do destino e que necessitamos
desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e humildade,
recursos novos com que faremos nova produção de reflexos
espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior,
conturbada e infeliz.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 29
Emmanuel

13 - Filhos

Nasce a criança, trazendo consigo o patrimônio moral que lhe


marca a individualidade antes do renascimento no plano físico; no
entanto, receberá os reflexos dos pais e dos mestres que lhe
imprimirão à nova chapa cerebral as imagens que, em muitas ocasiões,
lhe influenciarão a existência inteira.
Indiscutivelmente, a instrução espera-lhe o espírito em nova
fase, enriquecendo-lhe o caminho nesse ou naquele mister; contudo,
importa reconhecer que a palavra escrita, em confronto com a palavra
falada ou com o exemplo direto, revela poderes de repercussão menos
vivos, mormente quando torturada entre os preconceitos da forma
gramatical.
É que a voz e a ação prática jazem impregnadas do magnetismo
indutivo que se desprende da reflexão imediata, operando
significativas transformações para o bem ou para o mal, segundo a
natureza que lhes personaliza as manifestações.
As crianças confiadas na Terra ao nosso zelo são portadoras
de aparelhagem neurocerebral completamente nova em sua estrutura
orgânica, à feição de câmara fotográfica devidamente habilitada a
recolher impressões. A objetiva, que na máquina dessa espécie é
constituída por um sistema de lentes apropriadas, capazes de colher
imagens corretas sobre recursos sensíveis, é representada na mente
infantil por um espelho renovado em que se conjugam visão e
observação, atenção e meditação por lentes da alma, absorvendo os
reflexos das mentes que a rodeiam e fixando-os em si própria, como
elementos básicos de Conduta.
Os pequeninos acham-se, deste modo, à mercê dos moldes
espirituais dos que lhes tecem o berço ou que lhes asseguram a escola,
assim como a argila frágil e viva ante as idéias do oleiro.
Não podemos, pois, esquecer na Terra que nossos filhos, embora
carreando consigo a sedimentação das experiências passadas, em
estágios anteriores na gleba fisiológica, são companheiros que nos
retomam transitoriamente o convívio, quase sempre para se
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 30
Emmanuel

reajustarem conosco, aos impositivos da Lei Divina, necessitados


quanto nós mesmos, de provas e ensinamentos, no que tange ao
trabalho da regeneração desejada.
Excetuados aqueles que transcendem os nossos marcos
evolutivos, à face da missão particular de que se investem na
renovação do ambiente comum, todos eles nos sofrem os reflexos,
assimilando impressões entranhadamente perduráveis que, às vezes,
lhes acompanham os passos desde a meninice até a morte do corpo
denso.
Tratá-los à conta de enfeites do coração será induzi-los a fu-
nestos enganos, porquanto, em se tornando ineficientes para a luta
redentora, quando se lhes desenvolve o veículo orgânico facilmente se
ajustam ao reflexo dominante das inteligências aclimatadas na sombra
ou na rebeldia, gravitando para a influência do pretérito que mais
deveríamos evitar e temer.
É assim que toda criança, entregue à nossa guarda, é um vaso
vivo a arrecadar-nos as imagens da experiência diária, competindo-
nos, pois, o dever de traçar-lhe noções de justiça e trabalho,
fraternidade e ordem, habituando-a, desde cedo, à disciplina e ao
exercício do bem, com a força de nossas demonstrações, sem,
contudo, furtar-lhe o clima de otimismo e esperança. Acolhendo- a,
com amor, cabe-nos recordar que o coração da infância é urna
preciosa a incorporar-nos os reflexos, troféu que nos retratará no
grande futuro, no qual passaremos todos igualmente a viver, na função
de herdeiros das nossas próprias obras.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 31
Emmanuel

14 - Corpo

Abstendo-nos de qualquer digressão científica, porquanto os


livros técnicos de educação usual são suficientemente esclarecedores
no que reporta aos aspectos exteriores do corpo humano, lembremo-
nos de que o Espírito, inquilino da casa física, lhe preside à formação
e à sustentação, consciente ou inconscientemente, desde a hora
primeira da organização fetal, não obstante quase sempre sob os
cuidados protetores de Mensageiros da Providência Divina.
Trazendo consigo mesmo a soma dos reflexos bons e menos
bons de que é portador, segundo a colheita de méritos e prejuízos que
semeou para si mesmo no solo do tempo, o Espírito incorpora aos
moldes reduzidos do próprio ser as células do equipamento humano,
associando-as à própria vida, desde a vesícula germinal.
Amparado no colo materno, estrutura-se-lhe o corpo mediante as
células referidas, que, em se multiplicando ao redor da matriz
espiritual, como a limalha de ferro sobre o ímã, formam, a principio,
os folhetos blastodérmicos de que se derivam o tubo intestinal, o tubo
nervoso, o tecido cutâneo, os ossos, os músculos, os vasos.
Em breve, atendendo ao desenvolvimento espontâneo, acha- se
o Espírito materializado na arena física, manifestando-se pelo veículo
carnal que o exprime. Esse veículo, constituído por bilhões de células
ou individuações microscópicas, que se ajustam aos tecidos sutis da
alma, partilhando-lhes a natureza eletromagnética, lembra uma oficina
complexa, formada de bilhões de motores infinitesimais, movidos por
oscilações eletromagnéticas, em comprimento de onda específica,
emitindo irradiações próprias e assimilando as irradiações do plano
em que se encontram, tudo sob o comando de um único diretor: a
mente.
Desde a fase embrionária do instrumento em que se manifestará
no mundo, o Espírito nele plasma os reflexos que lhe são próprios.
Criaturas existem tão conturbadas além-túmulo com os
problemas decorrentes do suicídio e do homicídio, da delinqüência e
da viciação, que, trazidas ao renascimento, demonstram, de imediato,
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 32
Emmanuel

os mais dolorosos desequilíbrios, pela disfunção vibratória que os


cataloga nos quadros da patologia celular.
As enfermidades congênitas nada mais são que reflexos da
posição infeliz a que nos conduzimos no pretérito próximo,
reclamando-nos a internação na esfera física, às vezes por prazo curto,
para tratamento da desarmonia interior em que fomos comprometidos.
Surgem, porém, outras cambiantes dos reflexos do passado na
existência do corpo, da culpa disfarçada e dos remorsos ocultos. São
plantações de tempo certo que a lei de ação e reação governa,
vigilante, com segurança e precisão.
É por isso que, muitas vezes, consoante os programas traçados
antes do berço, na pauta da dívida e do resgate, a criatura é visitada
por estranhas provações, em plena prosperidade material, ou por
desastres fisiológicos de comovente expressão, quando mais
irradiante se lhe mostra a saúde.
Contudo, é imperioso lembrar que reflexos geram reflexos e que
não há pagamento sem justos atenuantes, quando o devedor se revela
amigo da solução dos próprios débitos.
A prática do bem, simples e infatigável pode modificar a rota do
destino, de vez que o pensamento claro e correto, com ação edificante,
interfere nas funções celulares, tanto quanto nos eventos humanos,
atraindo em nosso favor, por nosso reflexo melhorado e mais nobre,
amparo, luz e apoio, segundo a lei do auxílio.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 33
Emmanuel

15 - Saúde
A saúde é assim como a posição de uma residência que
denuncia as condições do morador, ou de um instrumento que
reproduz em si o zelo ou a desídia das mãos que o manejam.
A falta cometida opera em nossa mente um estado de
perturbação, ao qual não se reúnem simplesmente as forças
desvairadas de nosso arrependimento, mas também as ondas de
pesar e acusação da vítima e de quantos se lhe associam ao
sentimento, instaurando desarmonias de vastas proporções nos
centros da alma, a percutirem sobre a nossa própria instrumentação.
Semelhante descontrole apresenta graus diferentes, provocando
lesões funcionais diversas.
A cólera e o desespero, a crueldade e a intemperança criam
zonas mórbidas de natureza particular no cosmo orgânico, impondo
às células a distonia pela qual se anulam quase todos os recursos de
defesa, abrindo-se leira fértil à cultura de micróbios patogênicos nos
órgãos menos habilitados à resistência.
É assim que, muitas vezes, a tuberculose e o câncer, a lepra e
a ulceração aparecem como fenômenos secundários, residindo a
causa primária no desequilíbrio dos reflexos da vida interior.
Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células
em estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregação.
Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da
nutrição constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.
Enquanto encarnados, é natural que as vidas infinitesimais
que nos constituem o veículo de existência retratem as substâncias
que ingerimos. Nesse trabalho de permuta constante adquirimos
imensa quantidade de bactérias patogênicas que, em se instalando
comodamente no mundo celular, podem determinar moléstias
infecciosas de variegados caracteres, compelindo-nos a recolher,
assim, de volta, os resultados de nossa imprevidência.
Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se
originam os processos patológicos multiformes.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 34
Emmanuel

Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que


sejam, geram estados enfermiços.
Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos
voltam-se sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas
mentais, tumultuando o serviço das células nervosas que, instaladas
na pele, nas vísceras, na medula e no tronco cerebral, desempenham
as mais avançadas funções técnicas; acentue-se, ainda, que esses
reflexos menos felizes, em se derramando sobre o córtex
encefálico, produzem alucinações que podem variar da fobia oculta
à loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles companheiros
encarnados ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de
proceder e de ser, nos atingem com sugestões destruidoras, diretas
ou indiretas, conduzindo-nos a deploráveis fenômenos de alienação
mental, na obsessão comum, ainda mesmo quando no jogo das
aparências possamos aparecer como pessoas espiritualmente sadias.
Não nos esqueçamos, assim, de que apenas o sentimento reto
pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela
carência de equilíbrio interior, imprimindo no aparelho somático
os desvarios e as perturbações que lhe são conseqüentes.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 35
Emmanuel

16 - Vocação

A vocação é a soma dos reflexos da experiência que trazemos de


outras vidas.
É natural que muitas vezes sejamos iniciantes, nesse ou naquele
setor de serviço, diante da evolução das técnicas de trabalho que
sempre nos reclamam novas modalidades de ação; todavia,
comumente, retomamos no berço a senda que já perlustramos, seja
para a continuação de uma obra determinada, seja para corrigir nossos
próprios caminhos.
De qualquer modo, o titulo profissional, em todas as ocasiões, é
carta de crédito para a criação de reflexos que nos enobreçam.
O administrador, o juiz, o professor, o médico, o artista, o
marinheiro, o operário e o lavrador estão perfeitamente figurados
naquela parábola dos talentos de que se valeu o Divino Mestre
para convidar-nos ao exame das responsabilidades próprias perante os
empréstimos da Bondade Infinita.
Cada espírito recebe, no plano em que se encontra, certa quota
de recursos para honrar a Obra Divina e engrandecê-la.
Acontece, porém, que, na maioria das circunstâncias, nos
apropriamos indebitamente das concessões do Senhor, usando-as no
jogo infeliz de nossas paixões desgovernadas, no aloucado propósito
de nos antepormos ao próprio Deus.
Daí a colheita dos reflexos amargos de nossa conduta, quando se
nos desgasta o corpo terrestre, com o doloroso constrangimento do
regresso às dificuldades do recomeço, em que o instituto da
reencarnação funciona com valores exatos.
E como cada região profissional abrange variadas linhas de
atividade, o juiz que criou reflexos de crueldade, perseguindo
inocentes, costuma voltar ao mesmo tribunal, onde exercera as suas
luzidas funções, com as lágrimas de réu condenado injustamente, para
sofrer no próprio espírito e na própria carne as flagelações que impôs,
noutro tempo, a vítimas indefesas. O médico que abusou das
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 36
Emmanuel

possibilidades que lhe foram entregues, retorna ao hospital que


espezinhou, como apagado enfermeiro, defrontado por ásperos
sacrifícios, a fim de ganhar o pão. O grande agricultor que dilapidou
as energias dos cooperadores humildes que o Céu lhe concedeu, para
os serviços do campo, vem, de novo, à gleba que explorou com vileza
de sentimento, na condição de pobre lidador, padecendo o sistema de
luta em que prendeu moralmente as esperanças dos outros. Artistas
eméritos, que transformaram a inteligência em trilho de acesso a
desregramentos inconfessáveis, reaparecem como anônimos
companheiros do pincel ou da ribalta, debaixo de inibições por muito
tempo insolúveis, à feição de habilidosos trabalhadores de última
classe. Mulheres dignificadas por nomes distintos, confiadas ao vicio e
à dissipação, com esque- cimento dos mais altos deveres que lhes
marcam a rota, freqüen- temente voltam aos lares que deslustraram, na
categoria de ínfi- mas servidoras, aprendendo duramente a
reconquistar os títulos veneráveis de esposa e mãe...
E, comumente, de retorno suportam preterição e hostilidade,
embaraços e desgostos, por onde passem, experimentando sublimes
aspirações e frustrações amargosas, porquanto é da Lei venhamos a
colher os reflexos de nossas próprias ações, implantados no ânimo
alheio, retificando em nós mesmos o manancial da emoção e da idéia,
para que nos ajustemos à corrente do bem, que parte de Deus e
percorre todo o Universo para voltar a Deus.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 37
Emmanuel

17 - Profissão

Pelos contatos da profissão cria o homem vasta escola de


trabalho, construindo a dignidade humana; contudo, pela abnegação
emite reflexos da beleza divina, descerrando trilhos novos para o
Reino Celestial.
A profissão, honestamente exercida, embora em regime de
retribuição, inclina os semelhantes para o culto ao dever.
A abnegação, que é sacrifício pela felicidade alheia, sublima
o espírito.
É por isso que todos os povos sentem necessidade de erguer, no
imo do próprio seio, um altar permanente em que rendam preito
aos legítimos heróis.
A abnegação que começa onde termina o dever possibilita a
repercussão da Esfera Superior sobre o campo da Humanidade.
O delinqüente comum, algemado ao cárcere, inspira piedade e
sofrimento. O paladino de uma causa nobre, injustamente recluso no
mesmo sítio, provoca respeito e imitação.
O administrador consciente e amigo que reparte os bens do
serviço, gastando a parte que lhe compete com escrupulosa probidade,
é um padrão de virtudes terrenas. O homem que cede suor e sangue de
si mesmo, a benefício de todos, sem cogitar do seu interesse, é um
apóstolo das virtudes celestes.
A ama, devidamente paga por seu trabalho, junto à criança
que lhe recebe carinho, é credora natural de atenção e reconhecimento,
mas o coração materno, em constante renúncia, arrebata, quem o
contempla, à glória do amor puro.
É assim que o matemático, laureando-se de considerações
públicas, dignamente gratificado pela obra que realiza, é catalogado à
conta de cientista, e o cientista, mergulhado no trabalho incessante, em
favor da tranqüilidade e da segurança da civilização, esquecido de si
mesmo, é classificado por benfeitor.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 38
Emmanuel

Pela fidelidade ao desempenho das suas obrigações, o homem


melhora a si mesmo e, pela abnegação, o anjo aproxima-se do homem
melhorado, aprimorando a vida e o mundo.
Nas atividades que transcendem o quadro de serviços
remuneráveis na Terra, fruto das almas que ultrapassaram o impulso
de preservação do próprio conforto, descem os reflexos mentais das
Inteligências Celestes que operam, por amor, nas linhas da bene-
merência oculta, linhas em que encontramos os braços eternos do
Divino Incognoscível, que é Deus.
Nessa província moral do devotamento sem lindes, em que
surpreendemos todos os corações humanos consagrados ao serviço
espontâneo do bem, nem sempre respira o gênio, por vezes onerado de
angústia pela soma dos reflexos infelizes que carreia consigo desde o
passado distante, mas identificamos facilmente os altos sacerdotes de
todas as religiões, os admiráveis artistas de todas as pátrias, os nobres
inventores de todos os climas, os artífices iluminados de todos os
povos e as grandes mães, tanta vez esquecidas e sofredoras, de todas
as latitudes. Por todos esses a Espiritualidade Superior desce
gradativamente à esfera humana, sem qualquer ligação com o
pagamento da popularidade e do ouro, porque é aí, pelo completo
desprendimento de si mesma, no auxilio aos outros, que a alma vive o
apostolado sublime da renúncia santificante, atraindo o Pensamento
Divino para o burilamento e a ascensão da Humanidade.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 39
Emmanuel

18 Sociedade

A sociedade humana pode ser comparada a imensa floresta de


criações mentais, onde cada espírito, em processo de evolução e
acrisolamento, encontra os reflexos de si mesmo.
Aí dentro os princípios de ação e reação funcionam exatos.
As pátrias, grandes matrizes do progresso, constituem notáveis
fulcros da civilização ou expressivos redutos de trabalho, em que
vastos grupos de almas se demoram no serviço de auto-educação,
mediante o serviço à comunidade, emigrando, muita vez, de um país
para outro, conforme se lhes faça precisa essa ou aquela aquisição nas
linhas da experiência.
O lar coletivo, definindo afinidades raciais e interesses do clã, é
o conjunto das emoções e dos pensamentos daqueles que o povoam.
Entre as fronteiras vibratórias que o definem, por intermédio dos
breves aprendizados “berço-túmulo”, que denominamos existências
terrestres, transfere-se a alma de posição a posição, conforme os
reflexos que haja lançado de si mesma e conforme aqueles que haja
assimilado do ambiente em que estagiou.
Atingida a época de aferição dos próprios valores, quando a
morte física determina a extinção da força vital corpórea, emprestada
ao espírito para a sua excursão de desenvolvimento e serviço, reajuste
ou elevação, na esfera da carne, colhemos os resultados de nossa
conduta e, bastas vezes, é preciso recomeçar o trabalho para regenerar
atitudes e purificar sentimentos, na reconstrução de nossos destinos.
Dessa forma, os corações que hoje oprimem o próximo, a se
prevalecerem da galeria social em que se acastelam, na ilusória
supremacia do ouro, voltam amanhã ao terreno torturado da
carência e do infortúnio, recolhendo, em impactos diretos, os raios
de sofrimento que semearam no solo das necessidades alheias. E se
as vitimas e os verdugos não souberem exercer largamente o perdão
recíproco, encontramos no mundo social verdadeiro círcu- lo vicioso
em que se entrechocam, constantemente, as ondas da vingança e do
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 40
Emmanuel

ódio, da dissensão e do crime, assegurando clima favorável aos


processos da delinqüência.
Sociedades que ontem escravizaram o braço humano são hoje
obrigadas a afagar, por filhos do próprio seio, aqueles que elas
furtaram à terra em que se lhes situava o degrau evolutivo. Hordas
invasoras que talam os campos de povos humildes e inermes, neles
renascem como rebentos do chão conquistado, garantindo o
refazimento das instituições que feriram ou depredaram.
Agrupamentos separatistas, que humilham irmãos de cor, voltam na
pigmentação que detestam, arrecadando a compensação das próprias
obras. Citadinos aristocratas, insensíveis aos problemas da classe
obscura, depois de respirarem o conforto de avenidas suntuosas
costumam renascer em bairros atormentados e anônimos, bebendo no
cálix do pauperismo os reflexos da crueldade risonha com que
assistiram, noutro tempo, à dor e à dificuldade dos filhos do
sofrimento.
Em todas as épocas, a sociedade humana é o filtro gigantesco do
espírito, em que as almas, nos fios da experiência, na abastança ou na
miséria, na direção ou na subalternidade, colhem os frutos da
plantação que lhes é própria, retardando o passo na planície vulgar ou
acelerando-o para os cimos da vida, em obediência aos ditames da
evolução.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 41
Emmanuel

19 - Prosperidade

Prosperidade na Terra quer dizer fortuna, felicidade.


Grande parte das criaturas, almejando-lhe a posse, pleiteia
relevo, autoridade, domínio...
Gastam-se largos patrimônios da existência para conquistar-lhe
o prestigio e não falta quem surja no prélio estudando as forças ocultas
para incorporar-lhe o bafejo.
Milhões dos homens de hoje vivem à cata de ouro e
predominância, com o mesmo empenho com que antigamente, em
aprendizados mais simples, se entregavam aos misteres primitivos de
caça e pesca.
É que, na procura desse ou daquele valor da vida, mobilizamos a
energia mental, constituída à base de nossas emoções e desejos.
O espelho do coração, constantemente focado no rumo dos
objetos e situações que buscamos, traz-nos à rota os elementos que
nos ocupam a alma.
Não esqueçamos, todavia, que, na laboriosa jornada para a
Glória Divina, nos confundimos sempre com aquilo que nos possui
a atenção, demorando-nos nesse ou naquele setor de luta, conforme a
extensão e duração de nossos propósitos.
Como no filme cinematográfico, em que a história narrada é
feita pelos quadros que se sucedem, ininterruptos, a experiência que
nos é peculiar, nessa ou naquela fase da vida, constitui-se dos reflexos
repetidos de nossos sentimentos, gerando idéias contínuas que acabam
plasmando os temas de nossa luta, aos quais se nos associa a mente,
identificando-se, de modo quase absoluto, com as criações dela
mesma, à maneira da tartaruga que na carapaça, formada por ela
própria, se isola e refugia.
Em razão disso, o conceito de prosperidade no mundo é sempre
discutível, porquanto nem todos sabem possuir, elevar-se ou comandar
com proveito para os sagrados objetivos da Criação.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 42
Emmanuel

Muita gente, pela reflexão mental incessante em torno dos


recursos amoedados, progride em títulos materiais; entretanto, se os
não converte em fatores de enriquecimento geral, cava abismos
dourados nos quais se submerge, gastando longo tempo para libertar-
se do azinhavre da usura.
Legiões de pessoas no século ferem o solo da vida, com anseios
repetidos de saliência individual, e adquirem vasto renome na ciência
e na religião, nas letras e nas artes; contudo, se não movimentam as
suas conquistas no amparo e na educação dos companheiros da senda
humana, quase sempre, muito embora fulgurem nas galerias da
genialidade, sofrem o retorno das ondas mentais de extravagância que
emitem, caindo em perigosos labirintos de purgação.
Há, por isso, muita prosperidade aparente, mais deplorável
que a miséria material em si mesma, porque a mesa vazia e o
fogão sem lume podem ser caminhos de louvável reparação, enquanto
o banquete opíparo e a bolsa farta, em muitas ocasiões, apenas
significam avenidas de licença que correm para o despenhadeiro da
culpa, de onde só conseguiremos sair ao preço de longos estágios na
perturbação e na sombra.
Muitos religiosos perguntam por que motivo protegeria Deus
o progresso material dos ímpios. Em verdade, porém, semelhante
fortuna não existe, de vez que a prosperidade, ausente da reta conduta,
não passa de apropriação indébita e é como roupa brilhante cobrindo
chagas ocultas, que exigem a formação de reflexos contrários aos
enganos que as originaram, a fim de que a prosperidade legítima,
a expressar-se em serviço e cultura, amor e retidão, confira ao espírito
o reflexo dominante da luz.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 43
Emmanuel

20 - Hábito

O hábito é uma esteira de reflexos mentais acumulados,


operando constante indução à rotina.
Herdeiros de milênios, gastos na recapitulação de muitas
experiências análogas entre si, vivemos, até agora, quase que à
maneira de embarcações ao gosto da correnteza, no rio de hábitos aos
quais nos ajustamos sem resistência.
Com naturais exceções, todos adquirimos o costume de
consumir os pensamentos alheios pela reflexão automática e, em
razão disto, exageramos as nossas necessidades, apartando-nos da
simplicidade com que nos seria fácil erguer uma vida melhor, e
formamos em torno delas todo um sistema defensivo à base de
crueldade, com o qual ferimos o próximo, dilacerando
conseqüentemente a nós mesmos.
Estruturamos, assim, complicado mecanismo de cautela e
desconfiança, para além da justa preservação, retendo,
apaixonadamente, o instinto da posse e, com o instinto da posse,
criamos os reflexos do egoísmo e do orgulho, da vaidade e do medo,
com que tentamos inutilmente fugir às Leis Divinas, caminhando, na
maioria das circunstâncias, como operários distraídos e infiéis que
desertassem da máquina preciosa em que devem servir gloriosamente,
para cair, sufocados ou inquietos, nas engrenagens que lhes são
próprias.
Nesse círculo vicioso, vive a criatura humana, de modo geral,
sob o domínio da ignorância acalentada, procurando enganar-se depois
do berço, para desenganar-se depois do túmulo, aprisionada no
binômio ilusão-desilusão, com que despende longos séculos,
começando e recomeçando a senda em que lhe cabe avançar.
Não será lícito, porém, de modo algum, desprezar a rotina
construtiva. É por ela que o ser se levanta no seio do espaço e do
tempo, conquistando os recursos que lhe enobrecem a vida.
A evolução, contudo, impõe a instituição de novos costumes, a
fim de que nos desvencilhemos das fórmulas inferiores, em marcha
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 44
Emmanuel

para ciclos mais altos de existência.


É por esse motivo que vemos no Cristo – divino marco da
renovação humana – todo um programa de transformações viscerais
do espírito. Sem violência de qualquer natureza, altera os padrões da
moda moral em que a Terra vivia há numerosos milênios. Contra o
uso da condenação metódica, oferece a prática do perdão. A tradição
de raça opõe o fundamento da fraternidade legítima.
No abandono à tristeza e ao desânimo, nas horas difíceis, traz a
noção das bem-aventuranças eternas para os aflitos que sabem esperar
e para os justos que sabem sofrer.
Toda a passagem do Senhor, entre os homens, desde a
Manjedoura, que estabelece o hábito da simplicidade, até a Cruz
afrontosa que cria o hábito da serenidade e da paciência, com a certeza
da ressurreição para a vida eterna, o apostolado de Jesus é
resplendente conjunto de reflexos do caminho celestial para a
redenção do caminho humano.
Até agora, no mundo, a nossa justiça cheira a vingança e o nosso
amor sabe a egoísmo, pelo reflexo condicionado de nossas atitudes
irrefletidas nos milênios que nos precedem o “hoje”. Não podemos
desconhecer, todavia, que somente adotando a bondade e o
entendimento, com a obrigação de educar-nos e com o dever de
servir, como hábitos automáticos nos alicerces de cada dia,
colaborando para a segurança e felicidade de todos, ainda mesmo à
custa de nosso sacrifício, é que refletiremos em nós a verdadeira
felicidade, por estarmos nutrindo o verdadeiro bem.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 45
Emmanuel

21 - Dever

O dever define a submissão que nos cabe a certos princípios


estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para o
desenvolvimento de nossas faculdades.
Para viver em segurança, ninguém desprezará a disciplina.
Obedecem as partículas elementares no mundo atômico, obedece a
constelação na glória da Imensidade.
O homem viajará pelo firmamento, a longas distâncias do lar em
que se lhe vincula o corpo físico; no entanto, não logrará fazê-lo sem
obediência aos princípios que vigem para os movimentos da máquina
que o transporta.
Dessa forma, pode-se simbolizar o dever como sendo a faixa de
ação no bem que o Supremo Senhor nos traça à responsabilidade, para
a sustentação da ordem e da evolução em Sua Obra Divina, no encalço
de nosso próprio aperfeiçoamento.
Cada consciência bafejada pelo sol da razão será interpretada,
assim, à conta de raio na esfera da vida, evolvendo da superfície para
o centro, competindo-lhe a obrigação de respeitar e promover, facilitar
e nutrir o bem comum, atitude espontânea que lhe valerá o auxilio
natural de todos os que lhe recolhem a simpatia e a cooperação. Com
semelhante atitude, cada espírito plasma os reflexos de si mesmo, por
onde passa, abrindo-se aos reflexos das mentes mais elevadas que o
impulsionam à contemplação de mais vastos horizontes do progresso e
à adequada assimilação de mais altos valores da vida.
Desse modo, pela execução do dever – região moral de serviço
em que somos constantemente alertados pela consciência –,
exteriorizamos a nossa melhor parte, recolhendo a melhor parte dos
outros.
Acontece, porém, que muitas vezes criamos perturbações na
linha das atividades que o Senhor nos confia, e não apenas
desconjuntamos a peça de nossa existência, como também colocamos
em desordem muitas existências alheias, desajustando outras muitas
peças na máquina do destino.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 46
Emmanuel

Surge então para nós o inexorável constrangimento à luta maior,


que podemos nomear como sendo o dever-regeneração, pelo qual
somos compelidos a produzir reflexos inteiramente renovadores de
nossa individualidade, à frente daqueles que se fizeram credores das
nossas quotas de sacrifício.
É dessa maneira que recebemos, por imposição das
circunstâncias, a esposa incompreensiva, o esposo atrabiliário, o filho
doente, o chefe agressivo, o subalterno infeliz, a moléstia pertinaz ou a
tarefa compulsória a beneficio dos outros, como gleba espiritual para
esforço intensivo na recuperação de nós mesmos.
É por esse motivo que de nada vale desertar do campo de duras
obrigações em que nos vejamos sitiados, por força dos acontecimentos
naturais do caminho, de vez que na intimidade da consciência, ainda
mesmo que a apreciação alheia nos liberte desse ou daquele imposto
de devotamento e renúncia, ordena a razão estejamos de sentinela na
obra de paciência e de tolerância, de humildade e de amor, que fomos
chamados intimamente a atender; sem isso, não obstante a aparência
legal de nosso afastamento da luta, somos invencivelmente onerados
por ocultas sensações de desgosto ante as nossas próprias fraquezas,
que, começando por ligeiras irritações e pequeninos desalentos,
acabam matriculando-nos o espírito nos institutos da enfermidade ou na
vala da frustração.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 47
Emmanuel

22 - Culpa

Quando fugimos ao dever precipitamo-nos no sentimento de


culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações,
impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.
E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos
de nossa lembrança amarga, transforma-se num abcesso mental,
envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente
miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de
quem nos desfruta o convívio.
À feição do ímã, que possui campo magnético específico, toda
criatura traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destrutivas
que lhe marca a índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si
mesma. É por esse halo que estabelecemos as nossas ligações de
natureza invisível nos domínios da afinidade.
Operando a onda mental em regime de circuito, por ela
incorporamos, quando moralmente desalentados, os princípios
corrosivos que emanam de todas as Inteligências, encarnadas ou
desencarnadas, que se entrosem conosco no âmbito de nossa atividade
e influência.
Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto,
ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente
visitados por silenciosa argumentação interior que nos converte o
pesar, inicialmente alimentado contra nós mesmos, em mágoa e
irritação contra os outros.
É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto de
nós, assimilam, de imediato, as indisposições alheias, carreando para a
acústica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e
desânimo, angústia e desespero que vagueiam na atmosfera psíquica
em que respiramos, metamorfoseando-nos em autên- ticos rebelados
sociais, famintos de insulamento ou de escândalo, nos quais possamos
dar pasto à imaginação virulada pelas mórbi- das sensações de nossas
próprias culpas.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 48
Emmanuel

É nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de


sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial
ou total da harmonia orgânica, enredando corpo e alma nas teias da
enfermidade, com a mais complicada diagnose da patologia clássica.
A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que
lhe são conseqüentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a
região do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de
que sejamos portadores.
Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento
que, alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes,
exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e
restauração.
Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o
reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio
vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das
longas reparações.
É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas
também como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os
nossos adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles,
ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do
amor puro e do perdão sem limites.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 49
Emmanuel

23 - Auxílio

Auxiliar espontaneamente é refletir a Vida Divina por


intermédio da vida de nosso “eu”, que se dilata e engrandece, à
proporção que nos desdobramos no impulso de auxiliar.
A Eterna Providência é o reservatório do Amor Infinito, em
doação permanente, solicitando canais de expressão que o distribuam,
aos quais provê com matemática precisão.
É necessário, porém, estejamos de atalaia no celeiro de nós
mesmos, a fim de que não impeçamos o eterno dar-se de Nosso Pai,
dando incessantemente dos bens de que Ele nos enriquece.
Quem observa os princípios da eletricidade não ignora que o
fluxo constante da força, para a consecução dos benefícios que ela
produz, reclama um circuito completo. Se não houvesse pólos
positivos e negativos, não disporíamos do favor da luz e do
movimento.
Quem conhece igualmente o manancial sabe que a água, para
manter-se pura, exige escoadouro.
Toda obstrução, por isso mesmo, significa inércia e
enfermidade.
A Lei do Auxílio permite a solicitação, mas determina a
expansão para que a ajuda não desajude.
O sangue que não circula gera a necrose que traduz
cadaverização dentro do corpo vivo.
O homem que saiba governar muitos bens reunidos, construindo
com eles a base do trabalho e da educação de muitos, é qual represa
em lide, no campo social, missionário do progresso que as leis da vida
nutrem de esperança e saúde, segurança e alegria; ao passo que o
detentor de numerosos bens, sem qualquer serventia para a
comunidade, é um sorvedouro em sombra à margem do caminho,
usurário infeliz que as mesmas leis da vida cercam de angústia e
medo, solidão e secura.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 50
Emmanuel

O amparo que recolhemos corresponde ao amparo que


dispensamos. E o amparo que dispensamos está invariavelmente
seguido de vastos acréscimos potenciais para a hipótese de nos
fazermos mais úteis.
Lembremo-nos de que refletir as bênçãos de Deus no socorro
espontâneo ao próximo, sem o tambor da vaidade a estimular-nos o
exclusivismo, é atrair os reflexos de Deus para aqueles que nos cercam
e que, igualmente em silêncio, se deslocam ao nosso encontro,
prestando-nos assistência efetiva.
Ajudar com o sentimento, com a idéia, com a palavra e com a
ação, ajudar a todos e melhorar sempre é invocar, em nosso favor, o
apoio integral da vida.
Não nos esqueçamos, pois, de que o auxilio que prestamos às
criaturas, sem exigência e sem paga, é a nossa rogativa silenciosa ao
Socorro Divino, que nos responde, invariável, com a luz da
cooperação e do suprimento.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 51
Emmanuel

24 - Humildade

A humildade, por força divina, reflete-se, luminosa, em todos os


domínios da Natureza, os quais expressam, efetivamente, o Trono de
Deus, patrocinando o progresso e a renovação.
Magnificente, o Sol, cada dia, oscula a face do pântano sem
clamar contra o insulto da lama; a flor, sem alarde, incensa a
glória do céu. Filtrada na aspereza da rocha, a água se revela mais
pura, e, em seguida às grandes calamidades, a colcha de erva
cobre o campo, a fim de que o homem recomece a lida.
À carência de humildade, que, no fundo, é reconhecimento de
nossa pequenez diante do Universo, surgem na alma humana doentios
enquistamentos de sentimento, quais sejam o orgulho e a cobiça, o
egoísmo e a vaidade, que se responsabilizam pela discórdia e pela
delinqüência em todas as direções.
Sem o reflexo da humildade, atributo de Deus no reino do “eu”,
a criatura sente-se proprietária exclusiva dos bens que a cercam,
despreocupada da sua condição real de espírito em trânsito nos
carreiros evolutivos e, apropriando-se da existência em sentido
particularista, converte a própria alma em cidadela de ilusão, dentro da
qual se recusa ao contato com as realidades fundamentais da vida.
Sob o fascínio de semelhante negação, ergue azorragues de
revolta contra todos os que lhe inclinem o espírito ao aproveitamento
das horas, já que, sem o clima da humildade, não se desvencilha da
trama de sombras a que ainda se vincula, no plano da animalidade que
todos deixamos para trás, após a auréola da razão.
Possuída pelo espírito da posse exclusivista, a alma acolhe
facilmente o desespero e o ciúme, o despeito e a intemperança,
que geram a tensão psíquica, da qual se derivam perigosas síndromes
na vida orgânica, a se exprimirem na depressão nervosa e no
desequilíbrio emotivo, na ulceração e na disfunção celular, para não
nos referirmos aos deploráveis sucessos da experiência cotidiana, em
que a ausência da humildade comanda o incentivo à loucura, nos mais
dolorosos conflitos passionais.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 52
Emmanuel

Quem retrata em si os louros dessa virtude quase desconhecida


aceita sem constrangimento a obrigação de trabalhar e servir, a
benefício de todos, assimilando, deste modo, a bênção do equilíbrio e
substancializando a manifestação das Leis Divinas, que jamais
alardeiam as próprias dádivas.
Humildade não é servidão. Ë, sobretudo, independência,
liberdade interior que nasce das profundezas do espírito, apoiando- lhe
a permanente renovação para o bem.
Cultivá-la é avançar para a frente sem prender-se, é projetar o
melhor de si mesmo sobre os caminhos do mundo, é olvidar todo o
mal e recomeçar alegremente a tarefa do amor, cada dia.
Refletindo-a, do Céu para a Terra, em penhor de redenção e
beleza, o Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e despediu-se
dos homens pelos braços da Cruz.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 53
Emmanuel

25 - Tolerância

Vive a tolerância na base de todo o progresso efetivo.


As peças de qualquer máquina suportam-se umas às outras para
que surja essa ou aquela produção de benefícios determinados.
Todas as bênçãos da Natureza constituem larga seqüência de
manifestações da abençoada virtude que inspira a verdadeira
fraternidade.
Tolerância, porém, não é conceito de superfície.
É reflexo vivo da compreensão que nasce, límpida, na fonte
da alma, plasmando a esperança, a paciência e o perdão com
esquecimento de todo o mal.
Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que
o mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa obrigação
adaptar-nos, com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposição de
ajudá-lo.
A Providência Divina reflete, em toda parte, a tolerância sábia e
ativa.
Deus não reclama da semente a produção imediata da espécie a
que corresponde. Dá-lhe tempo para germinar, crescer, florir e
frutificar. Não solicita do regato improvisada integração com o mar
que o espera. Dá-lhe caminhos no solo, ofertando-lhe o tempo
necessário à superação da marcha.
Assim também, de alma para alma, é imperioso não tenhamos
qualquer atitude de violência.
A brutalidade do homem impulsivo e a irritação do enfermo
deseducado, tanto quanto a garra no animal e o espinho na roseira,
representam indícios naturais da condição evolutiva em que se
encontram.
Opor ódio ao ódio é operar a destruição.
O autor de qualquer injúria invoca o mal para si mesmo. Em
vista disso, o mal só é realmente mal para quem o pratica. Revidá-lo
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 54
Emmanuel

na base de inconseqüência em que se expressa é assimilar-lhe o


veneno.
É imprescindível tratar a ignorância com o carinho
medicamentoso que dispensamos ao tratamento de uma chaga,
porquanto golpear a ferida, sem caridade, será o mesmo que converter
a moléstia curável num aleijão sem remédio.
A tolerância, por esse motivo, é, acima de tudo, completo
esquecimento de todo o mal, com serviço incessante no bem.
Quem com os lábios repete palavras de perdão, de maneira
constante, demonstra acalentar a volúpia da mágoa com que se
acomoda perdendo tempo.
Perdoar é olvidar a sombra, buscando a luz.
Não é dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade
mendaz, teatralizando os impulsos do coração, mas sim persistir no
trabalho renovador, criando o bem e a harmonia, pelos quais aqueles
que não nos entendam, de pronto, nos observem com diversa
interpretação, compreendendo-nos o idioma inarticulado do exemplo.
Oferece-nos o Cristo o modelo da tolerância ideal, em
regressando do túmulo ao encontro dos aprendizes desapontados.
Longe de reportar-se à deserção de Pedro ou à fraqueza de Judas, para
dizer com a boca que os desculpava, refere-se ao serviço da redenção,
induzindo-os a recomeçar o apostolado do bem eterno.
Tolerar é refletir o entendimento fraterno e o perdão será
sempre profilaxia segura, garantindo, onde estiver, saúde e paz,
renovação e segurança.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 55
Emmanuel

26 - Oração

A oração é divino movimento do espelho de nossa alma no rumo


da Esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza.
Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do espírito às Potências
Celestes, quer vestido na fórmula verbal, quer absolutamente sem ela,
na silenciosa mensagem da vibração.
Imaginemos a face de um espelho voltada para o Sol, desviando-
lhe o fulgor na direção do abismo.
Esta, na essência, é a função da prece, buscando o Amor Divino
para concentrar-lhe a claridade sobre os vales da ignorância e do
sofrimento, da miséria e do ódio, que ainda se estendem no mundo.
Graduada, desde o mais simples desejo, a exteriorizar-se dos
mais ínfimos seres, até a exaltação divina dos anjos, nada se faz na
Terra sem o impulso da aspiração que orienta o passo de todas as
criaturas...
No corpo ciclópico do Planeta, a oração é o movimento que o
mantém na tela cósmica; no oceano, é o fenômeno da maré, pelo qual
as águas aspiram ao grande equilíbrio. Na planta, é a chamada
fototaxia ou anseio com que o vegetal se levanta para a luz,
incorporando-lhe os princípios; no animal, é o instinto de curiosidade
e indagação que lhe alicerçam as primeiras conquistas da inteligência,
tanto quanto, no homem comum, é a concentração natural, antes de
qualquer edificação no caminho humano.
O professor planeando o ensinamento e o médico a ensimesmar-
se no estudo para sanar determinada moléstia, o administrador
programando a execução desse ou daquele serviço, e o engenheiro
engolfado na confecção de uma planta para certa obra, estão
usando os processos da oração, refletindo na própria mente os
propósitos da educação e da ciência de curar, da legislação e do
progresso, que fluem do plano invisível, à feição de imagens abstratas,
antes de se revelarem substancialmente ao mundo.
Orar é identificar-se com a maior fonte de poder de todo o
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 56
Emmanuel

Universo, absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis da renovação


permanente que governam os fundamentos da vida.
A prece impulsiona as recônditas energias do coração,
libertando-as com as imagens de nosso desejo, por intermédio da força
viva e plasticizante do pensamento, imagens essas que, ascendendo às
Esferas Superiores, tocam as inteligências visíveis ou invisíveis que
nos rodeiam, pelas quais comumente recebemos as respostas do Plano
Divino, porquanto o Pai Todo-Bondoso se manifesta igualmente pelos
filhos que se fazem bons.
A vontade que ora, tange o coração que sente, produzindo
reflexos iluminativos através dos quais o espírito recolhe em silêncio,
sob a forma de inspiração e socorro íntimo, o influxo dos Mensageiros
Divinos que lhe presidem o território evolutivo, a lhe renovarem a
emoção e a idéia, com que se lhe aperfeiçoa a existência.
Dispomos na oração do mais alto sistema de intercâmbio entre a
Terra e o Céu.
Pelo divino circuito da prece, a criatura pede o amparo do
Criador e o Criador responde à criatura pelo princípio inelutável da
reflexão espiritual, estendendo-lhe os Braços Eternos, a fim de que ela
se erga dos vales da vida fragmentária para os cimos da Vida
Vitoriosa.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 57
Emmanuel

27 - Obsessão

Observando-se a mediunidade como sintonia, a obsessão é o


equilíbrio de forças inferiores, retratando-se entre si.
Fenômeno de reflexão pura e simples, não ocorre tão-somente
dos chamados mortos para os chamados vivos, porque, na essência,
muita vez aparece entre os próprios Espíritos encarnados a se
subjugarem reciprocamente pelos fios invisíveis da sugestão.
A mente que se dirige a outra cria imagens para fazer-se notada
e compreendida, prescindindo da palavra e da ação para insinuar-se,
porquanto, ambientando a repetição, atinge o objetivo que demanda,
projetando-se sobre aquela que procura influenciar. E, se a mente
visada sintoniza com a onda criadora lançada sobre ela, inicia-se vivo
circuito de força, dentro do qual a palavra e a ação se incumbem de
consolidar a correspondência, formando o círculo de encantamento
em que o obsessor e o obsidiado passam a viver, agindo e reagindo
um sobre o outro.
Não há, por isto, obsessão unilateral. Toda ocorrência desta
espécie se nutre à base de intercâmbio mais ou menos completo.
Quanto mais sustentadas as imagens inferiores de um Espírito para
outro, em regime de permuta constante, mais profundo o poder da
obsessão, de vez que se afastam da justa realidade para o circuito de
sombra em que entregam a mútuo fascínio.
É o mesmo que se verifica com a pedra quando em serviço de
gravação. Quanto mais repetida a passagem do buril, mais entranhado
o sulco destinado a perpetuar a minudência da imagem.
Lembremo-nos, ainda, do disco comum, em cujas reentrâncias
sutis permanecem os sons fixados para repetição à nossa vontade.
Muita vez a mente obsidiada se assemelha à chapa de ebonite,
arquivando ordens e avisos do obsessor (notadamente durante o sono
habitual, quando liberamos os próprios reflexos, sem o controle da
nossa consciência de limiar), ordens e avisos que a pessoa obsessa
atende, de modo quase automático, qual o instrumento passivo da
experiência magnética, no cumprimento de sugestões pós-hipnóticas.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 58
Emmanuel

Quanto mais nos rendamos a essa ou àquela idéia, no imo de nós


mesmos, com maior força nos convertemos nela, a expressar- lhe os
desígnios.
É assim que se formam estranhos desequilíbrios que, em muitas
circunstâncias, concretizam moléstia e desalento, aflição e loucura,
quando não plasmam a crueldade e a morte.
Toda obsessão começa pelo debuxo vago do pensamento alheio
que nos visita, oculto.
Hoje é um pingo de sombra, amanhã linha firme, para, depois,
fazer-se um painel vigoroso, do qual assimilamos apelos infelizes que
nos aprisionam em turbilhões de trevas.
Urge, pois, que saibamos fugir, desassombrados, aos enganos da
inércia, porque o espelho ocioso de nossa vida em sombra pode ser
longamente viciado e detido pelas forças do mal que, em nos
vampirizando, estendem sobre os outros as teias infernais da miséria e
do crime.
Dar novo pasto à mente pelo estudo que eleve e consagrar-se em
paz ao serviço incessante é a fórmula ideal para libertar-se de todas as
algemas, pois que, na aquisição de bênçãos para o espírito e no auxílio
espontâneo à vida que nos cerca, refletiremos sempre a Esfera
Superior, avançando, por fim, da cegueira mental para a divina luz da
Divina Visão.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 59
Emmanuel

28 - Enfermidade

Ninguém poderá dizer que toda enfermidade, a rigor, esteja


vinculada aos processos de elaboração da vida mental, mas todos
podemos garantir que os processos de elaboração da vida mental
guardam positiva influenciação sobre todas as doenças.
Há moléstias que têm, sem dúvida, função preponderante nos
serviços de purificação do espírito, surgindo com a criatura no berço
ou seguindo-a, por anos a fio, na direção do túmulo.
As inibições congeniais, as mutilações imprevistas e as
enfermidades dificilmente curáveis catalogam-se, indiscutivelmente,
na tabela das provações necessárias, como certos medicamentos
imprescindíveis figuram na ficha de socorro ao doente; contudo, os
sintomas patológicos na experiência comum, em maioria esmagadora,
decorrem dos reflexos infelizes da mente sobre o veículo de nossas
manifestações, operando desajustes nos implemen- tos que o
compõem.
Toda emoção violenta sobre o corpo é semelhante a martela- da
forte sobre a engrenagem de máquina sensível, e toda aflição
amimalhada é como ferrugem destruidora, prejudicando-lhe o
funcionamento.
Sabe hoje a medicina que toda tensão mental acarreta distúrbios
de importância no corpo físico.
Estabelecido o conflito espiritual, quase sempre as glândulas
salivares paralisam as suas secreções, e o estômago, entrando em
espasmo, nega-se à produção de ácido clorídrico, provocando
perturbações digestivas a se expressarem na chamada colite mucosa.
Atingido esse fenômeno primário que, muita vez, abre a porta a
temíveis calamidades orgânicas, os desajustamentos gastrintestinais
repetidos acabam arruinando os processos da nutrição que interessam
o estímulo nervoso, determinando variados sintomas, desde a mais
leve irritação da membrana gástrica até a loucura de abordagem
complexa.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 60
Emmanuel

O pensamento sombrio adoece o corpo são e agrava os males do


corpo enfermo.
Se não é aconselhável envenenar o aparelho fisiológico pela
ingestão de substâncias que o aprisionem ao vício, é imperioso evitar
os desregramentos da alma que lhe impõem desequilíbrios aviltantes,
quais sejam aqueles hauridos nas decepções e nos dissabores que
adotamos por flagelo constante do campo íntimo.
Cultivar melindres e desgostos, irritação e mágoa é o mesmo
que semear espinheiros magnéticos e adubá-los no solo emotivo de
nossa existência, é intoxicar, por conta própria, a tessitura da
vestimenta corpórea, estragando os centros de nossa vida profunda e
arrasando, conseqüentemente, sangue e nervos, glândulas e vísceras
do corpo que a Divina Providência nos concede entre os homens, com
vistas ao desenvolvimento de nossas faculdades para a Vida Eterna.
Guardemos, assim, compreensão e paciência, bondade
infatigável e tolerância construtiva em todos os passos da senda,
porque somente ao preço de nossa incessante renovação mental para
o bem, com o apoio do estudo nobre e do serviço constante, é que
superaremos o domínio da enfermidade, aproveitando os dons do
Senhor e evitando os reflexos letais que se fazem acompanhar do
suicídio indireto.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 61
Emmanuel

29 - Morte

Sendo a mente o espelho da vida, entenderemos sem dificuldade


que, na morte, lhe prevalecem na face as imagens mais profundamente
insculpidas por nosso desejo, à custa da reflexão reiterada, de modo
intenso.
Guardando o pensamento – plasma fluídico – a precisa
faculdade de substancializar suas próprias criações, imprimindo-lhes
vitalidade e movimento temporários, a maioria das criaturas terrestres,
na transição do sepulcro, é naturalmente obcecada pelos quadros da
própria imaginação, aprisionada a fenômenos alucinatórios, qual
acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das
circunstâncias, a individualidade reencarnada, em vez de retirar-se do
aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, sofrendo os
reflexos das sensações primárias a que ainda se ajusta.
Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos
da educação, necessitam do hábito, porque todas as conquistas do
espírito se efetuam na base de lições recapituladas.
As classes são vastos setores de trabalho específico, plasmando,
por intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são
peculiares naqueles que as compõem.
É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é
submetido, nos bancos escolares, a determinadas disciplinas, incluindo
a experiência anterior dos orientadores que lhe precederam os passos
na senda profissional escolhida.
O futuro militar aprenderá, desde cedo, a manejar os instru-
mentos de guerra, cultuando as instruções dos grandes chefes de
estratégia, e o médico porvindouro deverá repetir, por anos sucessivos,
os ensinos e experimentos dos especialistas, antes do juramento
hipocrático.
Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a
infância, a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse
ou naquele ramo de estudo, fixando-lhes personalidade particular para
determinados fins, sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 62
Emmanuel

forma de lições persistentes e progressivas.


Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho
confirmativo do tempo de recapitulações indispensáveis ao domínio
do aprendiz em certo campo de conhecimento para efeito de serviço
nas linhas da coletividade.
Segundo o mesmo principio, a morte nos confere a certidão das
experiências repetidas a que nos adaptamos, de vez que cada espírito,
mais ou menos, se transforma naquilo que imagina. É deste modo que
ela, a morte, extrai a soma de nosso conteúdo mental, compelindo-nos
a viver, transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem,
teremos a nossa parcela de céu, correspondente ao melhor da
construção que efetuamos em nós, e se esse conteúdo é o mal,
estaremos necessariamente detidos na parcela de inferno que
corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o inferno
de purgação merecida, criado por nós mesmos na intimidade da
consciência.
Tudo o que foge à lei do amor e do progresso, sem a renovação
e a sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais
é que a produção de nossos reflexos pessoais acumulados e sem valor
na circulação do bem comum, consubstanciando as idéias fixas em
que passamos a respirar depois do túmulo, à feição de loucos
autênticos, por nos situarmos distantes da realidade fundamental.
É por esta razão que morrer significa penetrar mais
profundamente no mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo
em despir a túnica de nossos reflexos menos felizes, metamorfoseados
em região alucinatória decorrente do nosso monoideísmo na
sombra, ou transferindo-nos simplesmente de plano, melhorando o
clima de nossos reflexos ajustados ao bem, avançando em de- graus
conseqüentes para novos horizontes de ascensão e de luz.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 63
Emmanuel

30 - Amor
O amor puro é o reflexo do Criador em todas as criaturas.
Brilha em tudo e em tudo palpita na mesma vibração de
sabedoria e beleza.
É fundamento da vida e justiça de toda a Lei.
Surge, sublime, no equilíbrio dos mundos erguidos à glória da
imensidade, quanto nas flores anônimas esquecidas no campo.
Nele fulgura, generosa, a alma de todas as grandes religiões
que aparecem, no curso das civilizações, por sistemas de fé à
procura da comunhão com a Bondade Celeste, e nele se enraíza
todo o impulso de solidariedade entre os homens.
Plasma divino com que Deus envolve tudo o que é criado, o
amor é o hálito dEle mesmo, penetrando o Universo.
Vemo-lo, assim, como silenciosa esperança do Céu,
aguardando a evolução de todos os princípios e respeitando a
decisão de todas as consciências.
Mercê de semelhante bênção, cada ser é acalentado no degrau
da vida em que se encontra.
O verme é amado pelo Senhor, que lhe concede milhares e
milhares de séculos para levantar-se da viscosidade do abismo,
tanto quanto o anjo que o representa junto do verme. A seiva que
nutre a rosa é a mesma que alimenta o espinho dilacerante. Na
árvore em que se aninha o pássaro indefeso, pode acolher-se a
serpente com as suas armas de morte. No espaço de uma
penitenciária, respira, com a mesma segurança, o criminoso que lhe
padece as grades de sofrimento e o correto administrador que lhe
garante a ordem.
O amor, repetimos, é o reflexo de Deus, Nosso Pai, que se
compadece de todos e que a ninguém violenta, embora, em razão
do mesmo amor infinito com que nos ama, determine estejamos
sempre sob a lei da responsabilidade que se manifesta para cada
consciência, de acordo com as suas próprias obras.
Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 64
Emmanuel

E, amando-nos, permite o Senhor perlustrarmos sem prazo o


caminho de ascensão para Ele, concedendo-nos, quando
impensadamente nos consagramos ao mal, a própria eternidade para
reconciliar-nos com o Bem, que é a Sua Regra Imutável.
Herdeiros dEle que somos, raios de Sua Inteligência Infinita e
sendo Ele Mesmo o Amor Eterno de Toda a Criação, em tudo e
em toda parte, é da legislação por Ele estatuída que cada espírito
reflita livremente aquilo que mais ame, transformando-se, aqui e
ali, na luz ou na treva, na alegria ou na dor a que empenhe o
coração.
Eis por que Jesus, o Modelo Divino, enviado por Ele à Terra
para clarear-nos a senda, em cada passo de seu Ministério tomou
o amor ao Pai por inspiração de toda a vida, amando sem a
preocupação de ser amado e auxiliando sem qualquer idéia de
recompensa.
Descendo à esfera dos homens por amor, humilhando-se por
amor, ajudando e sofrendo por amor, passa no mundo, de
sentimento erguido ao Pai Excelso, refletindo-lhe a vontade sábia e
misericordiosa. E, para que a vida e o pensamento de todos nós
lhe retratem as pegadas de luz, legou-nos, em nome de Deus, a
sua fórmula inesquecível: – “Amai-vos uns aos outros como eu
vos amei.”

--- Fim ---


Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - pelo Espírito 65
Emmanuel

Amigo(a) Leitor(a),

Se você leu e gostou desta obra, colabore com a divulga-


ção dos ensinamentos trazidos pelos benfeitores do plano
espiritual. Adquira um bom livro espírita e ofereça-o de
presente a alguém de sua estima.
O livro espírita, além de divulgar os ensinamentos filo-
sóficos, morais e científicos dos espíritos mais evoluídos,
também auxilia no custeio de inúmeras obras de assistência
social, escolas para crianças e jovens carentes, etc.
As obras espíritas nunca sustentam, financeiramente, os
seus escritores; estes são abnegados trabalhadores na seara de
Jesus, em busca constante da paz no Reino de Deus.
Irmão W.

“Porque nós somos cooperadores de Deus.”


Paulo. (1ª Epístola aos Coríntios, 3, versículo 9.)

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