História 10ºano 5ºteste

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História 10ºano 5ºteste

Da monarquia feudal à centralização do poder


A monarquia portuguesa dos primeiros tempos da independência do reino é
considerada uma monarquia feudal, isto é o rei considerava-se um senhor, o proprietário do
reino que transmitia o reino ao filho primogénito, como bem pessoal. E foi por ser considerado
um bem pessoal que os monarcas efetuaram largas doações ao clero e à nobreza, como
recompensa de vários serviços prestados. Deste modo, a realeza criou uma corte de vassalos,
que lhe devia fidelidade e apoio nas tarefas da defesa, expansão do território e administração
do reino. Como a nobreza tinha fraca capacidade de sustentar séquitos de vassalos, apenas o
rei foi considerado o único e verdadeiro senhor feudal, para quem convergiam diretamente
todas as dependências vassálicas.

A centralização do poder: defesa, justiça, legislação e fiscalidade


Desde cedo, a monarquia portuguesa caminhou para a centralização do poder. Os
monarcas sempre basearam o seu poder na doutrina do direito divino, considerando-se os
representantes de Deus na Terra. Nos documentos assinados, intitularam-se Reis por “graça”
ou “clemência” de Deus e assumiram o papel de órgão máximo do poder público.
Concentraram-se no Rei as mais altas funções militares, judiciais, legislativas e fiscais.

Só ao rei competia a chefia militar na guerra contra os inimigos externos, fossem eles
os vizinhos cristãos, ou fossem eles inimigos da cristandade. Esta vasta competência militar
relacionou-se com as circunstâncias em que o reino de Portugal nasceu e cresceu e que foram
a luta pela independência contra Leão e Castela e a Reconquista de territórios aos
muçulmanos.

O Rei assumiu-se como responsável máximo pela manutenção da paz e da justiça


interna. Coube-lhe o controlo de todas as formas de abuso e violência, o direito de julgar os
nobres, a função de tribunal de apelação como juiz supremo e o exercício do justiça maior,
que lhe permitiu condenar à morte ou ao talhamento de membros.

Desde 1211, reinava Afonso II, a monarquia assumiu o exclusivo da legislação


suprema. Aplicada em todo o reino, as leis gerais pretendiam um poder régio fortalecido
capaz de se sobrepor aos particularismos e poderes locais. Só com as leis gerais o reino se
assemelharia a um todo nacional.

A fiscalidade constituiu outro domínio de intervenção da realeza, empenhada na


cobrança dos seus direitos.

A reestruturação da administração central


Quer permanecessem em Lisboa, quer se instalassem numa cidade ou vila do reino, o
rei e a corte faziam-se acompanhar de funcionários e assembleias, que compunham a
administração central, ou seja, o governo do reino.
O funcionalismo
Desde o reinado de D. Afonso Henriques que os Altos funcionários da corte eram:
alferes-mor, o mordomo-mor e o chanceler.

O Alferes-mor ocupava o mais alto posto da hierarquia militar. Nas batalhas


transportava o pendão real e na ausência do rei, ele próprio chefiava o exército. O mordomo-
mor entendia de administração civil do reino. Era coadjuvado por um vedor para assuntos
privados do monarca, chamado dapífero. O Chanceler redigia os diplomas régios e a guarda do
selo real. Distingue-se dos restantes funcionários pelos seus conhecimentos superiores e pela
sua cultura jurídica.

A centralização do poder régio originou um acréscimo documental e o reforço dos


poderes da chancelaria régia. O chanceler tornou-se indispensável na administração do reino.

A Cúria Régia
A Cúria Régia era um órgão que exercia um papel de proximidade dos monarcas,
aconselhando-os em questões militares, económicas e judiciais. Era composta por membros
da corte régia (Rainha, irmão, tios do rei, ricos-homens e prelados). A cúria régia contava
também com a presença dos altos funcionários e com o alcaide da cidade onde a corte se
instalasse.

Convocava-se uma cúria extraordinária se o assunto tivesse uma dimensão nacional.


Aos elementos da Cúria ordinária acrescentavam-se os bispos, os abades, os alcaides e os
membros da mais alta nobreza e mestres das ordens religioso-militares.

A primeira cúria régia extraordinária realizou-se em Coimbra, em 1211 onde se


elaboraram as primeiras Leis Gerais.

No reinado de D. Afonso III, verificaram-se alterações no funcionamento da Cúria


Régia em que as reuniões ordinárias e extraordinárias evoluíram para um Conselho Régio e
para Cortes. Criaram-se tribunais superiores aos quais ficaram reservadas as funções judiciais
que anteriormente pertenciam à Cúria Régia.

O Conselho Régio e as Cortes


Para aconselharem o monarca na administração do reino, os membros do Conselho
Régio necessitaram de uma preparação em matéria jurídica. Os monarcas recrutaram os
conselheiros privados de entre os legistas devido à sua opinião sábia e a sua competência
técnica.

As cortes apresentavam-se bem mais representativas do que as anteriores cúrias


régias extraordinárias. Para além de elementos do clero secular e regular, das ordens
religiosas-militares, dos ricos-homens e outros fidalgos, as Cortes contavam com os
procuradores dos concelhos das cidades e vilas. Assim, estavam representados nas cortes os
três estados do reino (clero, nobreza e povo) dando-lhes uma dimensão nacional. Dos três
estados o rei ouvia queixas, pedidos e conselhos acerca de:

- Abusos dos senhores sobre os povos ou da falta de consideração do rei para com os
privilégios do clero.

- Inconvenientes do lançamento de novos tributos ou da desvalorização monetária.


A reestruturação da administração
Os monarcas tinham poder de gerir a administração local: Não só dos reguengos e na
dependência direta na coroa, mas também dos concelhos e senhorios. D. Afonso III dividiu o
reino em comarcas, subdivididas em julgamentos e estes em almoxarifados, onde
funcionários nomeados pelo rei cobravam as rendas fundiárias e zelavam pelos direitos
militares, judiciais e fiscais devidos à coroa.

O combate à expansão senhorial e a promoção política das elites urbanas


Desde D. Afonso II, os monarcas deixaram de tolerar o crescimento desenfreado da
propriedade nobre e eclesiástica. Os clérigos acumularam na sua posse inúmeras
propriedades territoriais que compravam, herdavam ou recebiam como oferta de particulares
preocupados em garantir a salvação da sua alma.

Também os nobres e eclesiásticos se serviam de estratagemas fraudulentos para


expandirem os seus bens, convertendo propriedades do rei e de herdadores em honras e
coutos.

Leis de desamortização proibiram os mosteiros e as igrejas de comprarem bens de raiz, de os


herdarem ou de aceitarem doações de particulares. Evitava-se, assim, a fuga ao fisco de bens
que eram considerados “mortos” para os cofres régios porque eram dotados de imunidade.

Confirmações gerais representaram o reconhecimento, pelo rei, dos títulos de posse de terras
e direitos da nobreza e do alto clero, doados pelos predecessores. Os senhores eram
consciencializados que os seus bens podiam regressar à Coroa.

Inquirições averiguavam a natureza das propriedades, se eram efetivamente imunes ou se


havia direitos e rendas devidos ao rei.

Resistências
A legislação antissenhorial não foi nada fácil de implementar. Encontraram poderosas
resistências, tendo a luta adquirido contornos violentos. Os senhores prestavam falsas
declarações dizendo aos funcionários régios que as terras averiguadas sempre haviam sido
imunes. Caso eles não acreditassem expulsavam-nos e até os assassinavam.

Os prelados e os bispos queixavam-se ao Papa de o rei de Portugal atentar contra a


liberdade da Igreja, violando os seus foros e imunidades. O direito a ser julgado em tribunais
canónicos e isenção de serviço militar contavam-se entre os privilégios dos eclesiásticos.

O apoio dos concelhos


No combate à expansão senhorial, os monarcas contaram com o precioso apoio dos
concelhos. Desde 1254 que a realeza os fez entrar nas cortes. O Porto dos séc. XII e XIV foi um
exemplo de aliança entre o rei e os concelhos. Sempre em luta contra a prepotência do bispo,
os vizinhos acolhiam de braços abertos o rei que tomava partido por eles. Para a realeza era a
oportunidade de limitar os privilégios do couto episcopal, que tanto empobreceram as
finanças do reino.

D. Afonso IV conseguiu para o Porto o estatuto de concelho perfeito, que permitia à


cidade nomear os seus juízes e usufruir de autonomia judicial. Estava-se perante a promoção
política das elites urbanas, meio de os monarcas premiarem os concelhos que os apoiavam na
recuperação do poder real.

A afirmação de Portugal no quadro político ibérico


A centralização régia atingiu um ponto alto no longo reinado de D. Dinis (1279-1325).
A administração central do reino mostrou-se especialmente rigorosa na cobrança das rendas,
foros da Coroa, no exercício do justiça maior e da apelação que só ao rei competia.

Com a igreja, as relações normalizaram-se: através da concordata dos 40 artigos, o


clero aceitou real nas leis de desamortização, mas não abdicou da imunidade dos seus bens e
do direito a ser julgado nos tribunais canónicos.

As fronteiras terrestres ficaram definitivamente fixadas. Fortificaram-se vilas,


construíram-se ou repararam-se castelos, concederam-se forais, protegeram-se os concelhos.

Expandiu-se a superfície cultivada e a população de penos agricultores.


Incrementaram-se as feiras e o comércio externo, organizou-se a marinha de guerra. A firmeza
da moeda atestava a prosperidade material e financeira do reino.

A nível de obra cultural dignificou-se as letras e o português tornou-se na língua oficial


dos documentos régios e criou-se a primeira universidade portuguesa e expandiu-se a arte
gótica.

Entre 1282 e 1310, D. Dinis interveio nos conflitos internos do Reino de Castela. Uma
das intervenções originou o Tratado se Alcanises e, assim, resolveu o problema da fronteira
terrestre entre os dois reinos.

Com a coroa de aragão estreitaram-se laços. O monarca português casou a princesa


Isabel, filha de Pedro III. Aragão evidenciava-se como grande potência económica na área do
Mediterrâneo.

No reinado de D. Afonso IV, evidenciou-se a importância de Portugal, cujo o apoio


militar foi solicitado por Afonso XI de Castela, contra os Merínidas que ameaçavam a
Península. Em 1340, as forças portuguesas e castelhanas venceram na Batalha do Salado as
forças muçulmanas. Portugal afirmava-se entre os grandes.

No final do séc.XIV, em plena crise de 1383-85, Portugal sobressaiu no campo de


Aljubarrota e garantiu a independência nacional. Em 1387, D. João I casou-se com a inglesa D.
Filipa, filha do duque de Lencastre, selando a mais antiga aliança entre dois estados europeus,
consagrada no Tratado de Windsor.

Uma nova sensibilidade artística: O gótico


Estilo artístico que dominou a arte europeia entre os séculos XII e XV. Irradiou do Norte de Fra
nça e, embora se tenha desenvolvido nas várias artespermaneceu essencialmente ligado à arq
uitetura, recebendo, por vezes, o nome de ogival, em referência aos arcos cruzados das abóba
das.
A catedral, expoente do gótico
A arte gótica permaneceu intimamente ligada à arquitetura religiosa e teve, na
catedral, a sua melhor expressão.

O que distingue as catedrais góticas é a sua elevação e verticalidade. Impressionantes por um


exterior imponente e profusamente decorado, as igrejas góticas impressionam também por
um interior amplo elevado e luminoso de formas arquitetónicas graciosas e leves.

Os elementos construtivos
As características do estilo gótico são:

- Arco quebrado que se identifica com a arquitetura gótica, pode ser esticado em
altura, o que lhe confere um aspeto de verticalidade e elevação.

- A abóbada de cruzamento de ogivas deriva da abóbada de aresta que lhe dava uma
função essencialmente decorativa. Identifica -se pelos arcos diagonais de suporte (ogivas). As
abóbadas góticas são compostas por secções independentes (tramos). Os arcos de cada tramo
desempenham o papel de armação, suportando o peso da abóbada e descarregando-o nos
quatro ângulos onde se encontram os pilares. É esta concentração do peso em pontos
específicos que permite fragilizar as paredes, introduzindo grandes aberturas preenchidas por
vitrais.

- Arcobotantes compõe-se em duas partes: uma massa sólida, o estribo e um ou mais


arcos que apoiam as paredes da nave central. Para reforçar o estribo é encimado por um
pináculo.

O “livro de imagens” da Cristandade


Durante o século XIII, a relação entre a escultura e a arquitetura é muito forte. Assim,
decorando edifícios, fachadas, portais e telhados, eram visíveis imagens.

Estas não demonstravam dinamismo e eram naturalistas; eram ordenadas e


simétricas, destacando-se dos edifícios aos quais se encontravam unidas. Revelam perfeição e
qualidade nos modelos de rostos e vestes, que não eram vistas no Ocidente desde o
decrescimento da arte romana.

A escultura é, então, o “livro de imagens” da Cristandade. Para além do valor


decorativo, as esculturas contavam ao povo analfabeto da Idade Média a vida de Cristo e dos
Santos.

Os vitrais também serviam de ensinamento àqueles que não sabia ler, pois retratavam
os ensinamentos que deviam seguir e aquilo em que deviam acreditar.

As mutações da religiosidade: ordens mendicantes e confrarias


A cidade era um lugar de muitos contrastes. Com as actividades económicas a
melhorarem, os ricos adquiriam cada vez mais riqueza e, consequentemente, havia rivalidade
de poderes.

Em contraste a tamanha abundância, assistia-se a uma extrema miséria. Ao chegarem


à cidade, os camponeses nem sempre encontravam trabalho e assim, sozinhos, viviam em
condições de pobreza iguais ou piores às que tinham quando chegaram à cidade.
Para acabar com a miséria, desenvolveram-se organismos de interdependência
dirigidos à ajuda mútua e à prática da caridade. Muitas destas organizações devem-se às
ordens mendicantes.

O papel das obras mendicantes


O clero, contrariando os dogmas primitivos de renúncia a bens materiais, de
humildade, vivia ostentosamente, o que fez com que muitos crentes aderissem a heresias.
Movimentos de refutação à vida eclesiástica de luxo, de retorno à humildade e pobreza
originais, pregadas pelo cristianismo, nasceram dentro da própria Igreja. As ordens
mendicantes que mais influenciaram estes movimentos foram as de S. Francisco e S.
Domingos.

S. Francisco, natural de Assis (Itália), fundou a Ordem dos Frades Menores, uma ordem
humilde que vivia em pobreza absoluta. Sobreviviam diariamente graças ao seu trabalho e às
esmolas (daí o termo mendicante). Esta ordem dedicava-se à pregação e à ajuda de quem mais
necessitava.

Os primeiros conventos Franciscanos fundaram-se desde muito cedo em Portugal.


Primeiro em Alenquer e Guimarães e logo depois em Lisboa e Coimbra. Salienta-se o de Leiria
que servia de albergue a peregrinos e mendigos.

S. Domingos de Gusmão, natural de Espanha, fundou, por sua vez, os Dominicanos e


partilhava os mesmos ideais de S. Francisco. Dando ênfase à pregação e tentando combater a
heresia, dedicavam-se ao estudo da Teologia.

As ordens mendicantes contribuíram assim para a renovação da fé cristã e para que os


sentimentos de fraternidade e entreajuda fizessem parte da comunidade medieval. Assim,
foram criadas as confrarias e outras associações de socorro mútuo.

As confrarias
As confrarias eram associações de socorro mútuo, de carácter religioso e que se
organizavam sob a proteção de um santo. Mesmo em pequenas cidades podiam existir
dezenas, pois ligavam vizinhos, pessoas com devoção ao mesmo santo, homens com a mesma
ocupação profissional (os grupos profissionais organizavam-se em corporações), ou apenas
pessoas que desejavam praticar a caridade. Dedicavam-se, portanto, à generosidade, como
meio de minimizar a pobreza urbana.

Cada confraria tinha os seus estatutos, ou seja, definiam que tipo de ajuda deveria ser
prestado: distribuição de esmolas, manutenção dos hospitais, etc. Para estas atividades, os
fundos provinham das quotas anuais obrigatórias de cada confrade, os mais ricos faziam
também doações. Do dinheiro angariado era retirado uma parte para celebrações religiosas,
como, por exemplo, procissões e festas ao santo padroeiro.

As primeiras escolas urbanas


Até ao séc. XI, a leitura e a escrita eram privilégios quase exclusivos aos clérigos. Os
mosteiros tinham vastas bibliotecas e escolas monacais. Estas escolas foram diminuindo
devido ao êxodo rural, pois estas inseriam-se em áreas rurais.

No séc. XI criaram-se as primeiras escolas urbanas, no centro das cidades, que, ainda
sob a alçada da Igreja, se destinavam, além de clérigos, à população leiga.
Com o desenvolvimento citadino, são necessários homens instruídos em letras para
ocuparem cargos de juristas, notários e escrivães. Formavam-se novos médicos, legistas,
futuros funcionários régios, ou seja, funcionários reais que sejam capazes de planear e
executar e de fazer novas tarefas em cidades que estavam em crescimento. Para registos mais
rigorosos necessários na expansão das grandes companhias comerciais, foram criadas nas
cidades mercantis, como em Londres, Lubeque, Veneza ou Florença, uma espécie de “escolas
secundárias” que, além de Lógica e Gramática, ensinavam também Aritmética.

As universidades
Durante o século XII, algumas escolas catedralícias obtiveram fama internacional, o
que atraía estudantes de Teologia, Medicina ou Direito. Porque era necessária uma
organização mais rígida devido ao ensino ter-se tornado mais complexo, criaram-se as
universidades, que definiam objetivamente as matérias a estudar, os graus académicos e
defendiam os seus membros. Duas das primeiras escolas catedrais a assumir este sistema de
organização foram a Bolonha (1088) e a de Notre-Dame (1158). Em 1231, Gregório IX
determinou que as universidades estabeleceriam as suas próprias leis e regras, no que dizia
respeito a cursos, estados e graus (existiam os graus de bacharel, licenciado e doutor), desta
forma, ficaram sob influência do Papa.

A universidade de Bolonha centralizou-se no ensino de Direito e a de Notre-Dame, em


Paris, em Teologia.

Os estudos organizavam-se em faculdades, cada uma correspondente a um ramo de


ensino; todas tinham a de Artes que era a base dos estudos universitários. Depois de um curso
de seis anos em Artes, iniciado entre os 14 e os 16 anos, atingia-se o grau de licenciado.
Depois, era possível a especialização em Teologia (que poderia durar até mais quinze anos),
Medicina ou Direito (estes dois últimos exigiam mais seis anos de estudos). O ensino era
baseado em leitura e comentário, pelo mestre, dos escritos das autoridades no assunto
frequentado.

A primeira universidade portuguesa


Em Portugal, D. Dinis apoiou alguns pedidos dos clérigos ao Papa para que criasse um
Estudo Geral, futura universidade. Em 1290, foi fundada a primeira universidade portuguesa, O
Estudo Geral de Lisboa. Este funcionou com as faculdades de Artes, Direito Canónico, Leis e
Medicina; o ensino da Teologia continuou a ser proporcionado nas escolas dos mosteiros da
Santa Cruz de Coimbra e Alcobaça.

Em 1308, o rei transferiu o Estudo Geral para Coimbra, pois esta ocupava já uma
posição de destaque no panorama cultural português. Embora tenha sido transferida
novamente para Lisboa, em 1537, a universidade portuguesa fixou-se definitivamente em
Coimbra, o que alterou a vida académica coimbrã até aos nossos dias.

A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriais


Com um clima de prosperidade e paz, as cidades renasceram e com elas, a cultura. O
gosto por uma cultura erudita proliferou nas cidades (com as escolas e as universidades) mas
também nas cortes régias e senhoriais. A rudeza dá lugar à cortesia e os nobres tornam-se
cavaleiros ideais: bons e corajosos, defendem a causa da justiça e cortejam as damas de
acordo com o amor cortês. Nesta cultura, a literatura assume um papel central, pois assim se
espalharam os ideais cavaleirescos, cantaram-se sentimentos e honraram-se as memórias de
antepassados e de grandes feitos praticados.

O ideal de cavalaria
Nasce o ideal do perfeito cavaleiro, com que toda a nobreza se identificava. Para
atingir esse estatuto, era necessário ser filho de um nobre e ser honrado, corajoso e leal para
com o seu senhor; piedoso e justo. O cavaleiro tem como fundador o arcanjo S. Miguel e por
isso lutam por Cristo. Seguiam, portanto, modelos espirituais, mas também humanos, como
grandes figuras da Antiguidade ou o lendário Rei Artur.

Os serões das cortes eram ocupados com a leitura de narrativas de cavalaria. As


novelas arturianas foram as mais importantes na formação de narrativas deste género.

Antes de ser armado cavaleiro, um jovem tinha de ter uma educação rigorosa, prestar
provas da sua coragem e destreza e só depois possuía a honra de um cavaleiro, pertencendo,
então, a uma das muitas ordens de cavalaria que cresciam na Europa.

A educação cavaleiresca
Nos primeiros anos de vida, o rapaz era cuidado pela mãe e depois seguia para uma
“casa grande”, a casa de um senhor, onde servia, durante sete anos, como pajem, iniciando-se
na equitação e no manuseamento de armas; na adolescência, já conhecia a arte de cavalgar e
tornava-se escudeiro, ou seja, durante mais sete anos, servia um cavaleiro nas suas
expedições, tratava do seu cavalo e das armas. Durante estes anos, o jovem treinava para, no
futuro, se tornar cavaleiro.

Como treino físico eram praticados desportos como a caça, os torneios e as justas. A
caça, sobretudo a montaria, em que perseguiam grandes animais, obrigava a cavalgadas nos
bosques; no entanto os torneios eram bastante mais apreciados, simulando combates
amigáveis entre dois grupos de cavaleiros.

Após cerca de 14 anos de aprendizagem o jovem proferia os votos de cavalaria:


sagrados e de grande valor espiritual. O jovem passava por um ritual solene que incluía uma
noite de vigília na igreja, uma missa e comunhão, para que pudesse purificar a alma. Para
purificar o corpo, tomava um banho simbólico. Após este ritual, recebia as esporas de
cavaleiro e a espada, símbolo de direito e dever de combater, ingressando, assim, numa ordem
de cavalaria.

O amor cortês
O código da cavalaria integrava também um código de amor: conjunto de normas que
explica como deve ser o amor e define-o como uma parte importante na vida de um cavaleiro
que é um herói que serve por amor.

O conceito do amor cortês foi desenvolvido entre os aristocratas franceses durante o


ano 1100. No amor cortês, um homem devota uma grande paixão a dama. Por causa do
costume medieval, onde quase todos os casamentos eram feitos por interesse, o amor cortês
funcionava como o único e verdadeiro sentimento na vida da maioria das pessoas. Os autores
medievais, artistas, e trovadores inspiravam-se no amor cortês como tema principal na maior
parte de seus trabalhos. É um amor essencialmente espiritual.
O homem mantém uma atitude de veneração perante a Dama; é educado e
requintado. A mulher, por sua vez, corresponde aos ideais de perfeição a nível físico e
espiritual.

A influência da literatura
Nas cortes, assistiam-se a espectáculos de jograis que recitavam e cantavam poemas
dos trovadores que pertenciam, na maioria, à nobreza. Este tipo de poesia amorosa chamava-
se poesia trovadoresca (de influência provençal, francesa, espalhou-se pela Europa), foi a
primeira manifestação literária portuguesa.

O Romance da Rosa, alegoria ao amor, é também um documento sobre o tema do


amor; nele, a rosa simboliza a mulher, que só pode ser «colhida» depois de duas provas
prestadas pelo cavaleiro. Este romance foi popular durante dois séculos e serviu de culto
(apesar de muita polémica) entre os homens mais enobrecidos da época.

Na Península Ibérica, D. Afonso X, o Sábio (1221-1284), rei de Castela e avô de D. Dinis,


iniciou a literatura galaico-portuguesa com as cantigas de amigos e as cantigas de amor

É possível concluir que o amor foi, portanto, um elemento fundamental na cultura


erudita da Idade Média: foi, para muitos, um código de vida e, até um ideal de vida.

O culto da memória dos antepassados


Nos Livros de Linhagens, os antepassados nobres eram recordados pelas famílias suas
famílias, assim como os grandiosos feitos que praticaram e isso enaltecia aquela linhagem,
aquela família.

Esta literatura genealógica difundiu-se pela nobreza europeia nos séculos XIII e XIV. Em
Portugal, D. Pedro, Conde de Barcelos, filho ilegítimo de D. Dinis, foi quem deu autoria a um
dos mais importantes livros de linhagens: O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro. Neste livro,
inserem-se narrativas históricas como batalhas importantes, mas também lendas de tradição
oral, com personagens fantásticas, o que lhe confere um carácter literário.

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