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UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Instituto de Geociências – Departamento de Geodésia

Disciplina: GEO 05016 – Geodésia I - Apostila Professor: Gilberto Gagg 14


3.4 DATUM GEODÉSICO
O termo Datum é utilizado para designar um conjunto de parâmetros e dados, que
constitui a base para obtenção de outros dados. Historicamente, o mapeamento e os trabalhos
geodésicos foram iniciados a partir de aproximações entre a superfície elipsoidal e o geoide, o
que ocasionaram o surgimento de Data locais, exigindo a necessidade de fixar um ponto como
origem e um azimute para a orientação das direções. Este Datum local, geralmente utiliza um
elipsoide não geocêntrico para representar a figura da Terra na região a ser mapeada. A relação
entre tais sistemas, local e geocêntrico, chama-se Datum Geodésico. O sistema de coordenadas
consistia de uma definição teórica e arbitrária dos parâmetros definidores dos sistemas
geodésicos. Um datum caracteriza-se por uma superfície de referência (por ex. elipsoide)
posicionada em relação a Terra.
Um Datum local fica definido plenamente por oito parâmetros:
- dois parâmetros que especificam as dimensões do elipsoide adotado, o semieixo
maior (a) e o achatamento ();
- três parâmetros definem a orientação do elipsoide: a componente meridiana e
primeiro vertical do desvio da vertical (ξ,η), e a altura geoidal (N);
- três coordenadas que definem a posição do ponto origem, a latitude geodésica (), a
longitude geodésica () e a altitude geométrica (h).
No início dos levantamentos geodésicos foi arbitrada, nos Data locais, a coincidência das
superfícies elipsoide e geoide (N=0). Isto implicava numa translação do elipsoide até tangenciar
o geoide (Figura 8) no Datum, o que leva a coincidir no Datum, a normal e a vertical, havendo
consequentemente, a igualdade das coordenadas geodésicas e astronômicas (Gemael, 1981).

Figura 8 - Representação do Datum local

3.4.1 SISTEMAS DE REFERÊNCIA CLÁSSICO X MODERNO


Abordagem Clássica: antes das técnicas espaciais de posicionamento, os referenciais
geodésicos conhecidos por “datum astro-geodésico horizontal” – DGH, eram obtidos através de
3 etapas:
a) escolha de um sólido geométrico (elipsoide de revolução) que representará a Terra e
sobre o qual são feitos os cálculos;
b) definição do posicionamento e orientação do referencial por meio de 6 parâmetros
topocêntricos: as coordenadas do ponto origem (2), a orientação (um azimute inicial), a
separação geoide-elipsoide (ondulação geoidal N) e as componentes do desvio da vertical
(meridiana ξ e primeiro vertical η), para assegurar boa adaptação entre a superfície do elipsoide
ao geoide na região onde o referencial será desenvolvido;
c) realização (ou materialização) do referencial através do cálculo de coordenadas dos
pontos a partir de observações geodésicas de distâncias, ângulos e azimutes. O conjunto de
estações terrestres formam as chamadas redes geodésicas, que representam a superfície física da
Terra na forma pontual [CASTAÑEDA, 1986]. O posicionamento tridimensional de um ponto
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através de métodos da Geodésia Clássica (triangulação, poligonação e trilateração) é
incompleto, pois as redes verticais e horizontais caminham separadamente (In
ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/geodesia/sisref_2.pdf.). O procedimento clássico na
definição da situação espacial de um elipsoide de referência corresponde à antiga técnica de
posicionamento astronômico, onde arbitra-se a coincidência da normal ao elipsoide e a vertical
no ponto origem, bem como do geoide e o elipsoide, induzindo a coincidência das coordenadas
geodésicas e astronômicas (o mesmo vale para os azimutes geodésico e astronômico). Assim, o
emprego dos métodos clássicos em Geodesia implicou na adoção de dois SGRs (um horizontal e
outro vertical). O SGR vertical fornece a referência para a determinação precisa da componente
altimétrica do SGB (Sistema Geodésico Brasileiro); já o SGR horizontal fornece a referência
para a determinação precisa das componentes planimétricas (latitude e longitude). Os sistemas
Córrego Alegre, Astro Datum Chuá e o SAD-69 são exemplos de SGR de concepção clássica.
Abordagem Moderna: os referenciais modernos foram concebidos na era da Geodésia
Espacial e também envolvem definição e materialização. As etapas necessárias na obtenção
destes sistemas terrestres são:
a) adoção de uma plataforma de referência para representar a forma e dimensões da
Terra em caráter global (são os chamados Sistemas Geodésicos de Referência – SGR), que estão
fundamentados em um CTS (espaço abstrato), sendo portanto geocêntricos. São derivados de
observações por satélite do campo gravitacional terrestre. São definidos por modelos,
parâmetros e constantes (ex: um sistema de coordenadas cartesianas geocêntrico - CTS e
constantes do GRS80). Além das constantes geométricas definidoras, os SGR modernos passam
a ser definidos também por constantes físicas. Considerando a Terra um corpo com rotação e
massa, a melhor aproximação física é definida através de quatro parâmetros, sendo eles:
- raio equatorial (o equivalente ao semieixo maior do elipsoide de referência);
- constante gravitacional geocêntrica GM (com ou sem atmosfera);
- o harmônico zonal de segunda ordem do potencial gravitacional da Terra (J2), ou o
achatamento terrestre (f). O coeficiente J2 é objeto de rigorosas determinações;
- e a velocidade de rotação da Terra.
b) a materialização de um sistema de referência terrestre geocêntrico é dada da mesma
forma que um DGH, ou seja, através das redes geodésicas, com coordenadas tridimensionais
estabelecidas através de técnicas de posicionamento espacial de alta precisão como por exemplo
o VLBI (Very Long Baseline Interferometry), SLR (Satelite Laser Range) e o GPS. Estas
técnicas tem 2 vantagens perante as outras terrestres: o posicionamento 3D de uma estação
geodésica e a alta precisão das coordenadas, surgindo como consequência uma quarta
componente, associada à época de obtenção destas coordenadas. Assim, as coordenadas das
estações que compõem a materialização de um sistema de referência terrestre geocêntrico,
possuem 4 componentes: 3 de definição espacial e 1 de definição temporal (as velocidades
descrevem as variações dos valores das coordenadas com o tempo). Um exemplo prático de
sistema de referência terrestre geocêntrico é o IERS Terrrestrial Reference System (ITRS), o
qual é realizado anualmente através do IERS Terrestrial Reference Frame (ITRF), uma rede de
estações fiduciais implantadas por todo mundo, nas quais estão instalados sistemas de medidas
SLR, LLR, VLBI e GPS. In ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/geodesia/sisref_2.pdf.

3.4.2 Breve Histórico de Data usados no Brasil:


Córrego Alegre
Face às necessidades da época, a Rede Planimétrica do SGB foi submetida a vários
ajustes, efetuados em calculadoras ou tábuas de logaritmos. Um destes ajustes definiu o sistema
geodésico de referência Córrego Alegre (1949). Foi escolhido o vértice Córrego Alegre para
ponto datum, que na realidade é o ponto fundamental da rede (vértice Córrego Alegre, em Minas
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Gerais, da cadeia de triangulação 20°S), e o elipsoide internacional de Hayford como superfície
matemática de referência. O posicionamento e orientação no ponto datum (vértice Córrego
Alegre) foram feitos astronomicamente. Na época toda a rede brasileira foi referida a este
datum, situado perto da cidade de Frutal-MG, oficialmente adotado entre as décadas de 50 a 70.
Os parâmetros adotados na definição do sistema foram:
- Superfície de referência : Elipsoide Internacional de Hayford 1924
( semi-eixo maior : 6.378.388,0 metros e achatamento : 1/297).
- Ponto Datum : Vértice Córrego Alegre, de coordenadas:
φ= -19° 50´ 14,91”, λ= -48° 57´ 41,98” e h = 683.81 metros.
- A orientação elipsoide-geoide no ponto datum : ξ=η=0 (componentes do desvio da
vertical) e N=0 metros (ondulação geoidal)

PSAD-56 (Provisional South American Datum of 1956.


Posteriormente buscou-se uma adaptação para toda a América do Sul, e com isso adotou-
se o PSAD-56 (Provisional South American Datum of 1956) com origem no vértice La Canoa,
na Venezuela, e parâmetros ainda do elipsoide de Hayford. Como esta adequação não ficou
satisfatória usou-se um novo vértice: Astro-Chuá.

Astro Datum Chuá


Correspondente ao vértice Chuá, na mesma cadeia do Córrego Alegre, com coordenadas
obtidas por Astronomia. Por ser um sistema provisório ignoraram-se as componentes do desvio
da vertical, ou seja, assumiu-se a coincidência entre geoide e elipsoide (adotou-se N=i=0), e
manteve-se o elipsoide de Hayford. Posteriormente foi feito um estudo gravimétrico na região
do vértice Chuá, obtendo-se novas coordenadas para o ponto, referidas ao elipsoide da
Associação Geodésica Internacional. Este novo ajuste acabou válido para toda a América do
Sul, que já em 1969 havia adotado este elipsoide que recebeu o nome de SAD-69 (South
American Datum 1969). Com o ajustamento concluído em 1978, passou a ser adotado
oficialmente como novo datum no Brasil, com vértice em Chuá.

SAD-69
É um sistema geodésico regional de concepção clássica, cujo uso foi recomendado para
os países sul-americanos em 1969. Foi adotado oficialmente em 1979 como um sistema de
referência para trabalhos geodésicos e cartográficos desenvolvidos no território brasileiro.
Buscava-se um sistema geodésico cujo elipsoide adotado apresentasse “boa adaptação” regional
ao geoide. A triangulação foi a metodologia principal usada no estabelecimento das novas redes,
e uma rede de trilateração HIRAN fez a ligação entre as redes geodésicas da Venezuela e Brasil.
Devido às limitações computacionais da época, dividiu-se a rede brasileira em 10 áreas
de ajuste, processadas em blocos separados. O posicionamento envolveu os parâmetros
topocêntricos no ponto origem Chuá, que são: as componentes do desvio da vertical (ξ,η) e a
ondulação geoidal (N). Estes valores foram obtidos para otimizar a adaptação elipsoide-geoide
no continente (ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/geodesia/sisref_2.pdf - Castañeda).
O SAD-69 é materializado por um conjunto de pontos geodésicos implantados na
superfície do país e foi, até 2005, o único referencial para obtenção de coordenadas no território
brasileiro.
Os parâmetros adotados na definição deste Datum (conforme PR no 22, de 21-07-83)são:
a) Figura geométrica:
- Superfície de referência: Elipsoide de Referência Internacional de 1967(GRS67), cujos
parâmetros são: Semieixo maior: 6.378.160,0 m e Achatamento: 1/298,25.
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b) Orientação:
- Geocêntrica (eixo de rotação paralelo ao eixo de rotação da Terra; plano do meridia-
no origem paralelo ao plano do meridiano de Greenwich);
- Topocêntrica, no vértice da cadeia de triangulação do paralelo 20°S:
- Origem: Vértice Chuá, com coordenadas geodésicas:
Latitude 19°45´41,6527”S
Longitude 48°06´04,0639”W
Azimute (Chuá-Uberaba) 2710 30 04,05"
- Altitude Ortométrica: 763,28 m
- Orientação elipsoide-geoide na origem: =0,31”; =-3,52”; N=0m.
Na densificação do SAD-69, ocorreram problemas devido à extensão da rede, limitações
computacionais, acúmulo de distorções geométricas (escala e orientação) na rede planimétrica,
uso de mapas geoidais pouco precisos, e uso de instrumentos e métodos variados para
estabelecer a rede, dificultando a análise da precisão das coordenadas das estações (Castañeda).
A Figura 9 mostra a materialização do Datum SAD69, Vértice Chuá-Minas Gerais. A
estação é materializada por uma chapa metálica do Conselho Nacional de Geodésia (CNG),
sobre uma base de concreto. É circundada por uma mureta de proteção, e uma base adicional, de
concreto. Sobre a base, há uma viga de concreto armado, sobre duas pilastras de apoio. Essa
viga possui um orifício de centragem forçada, coincidente com a vertical do centro da estação,
para a instalação de antenas utilizadas no rastreio de sinais de satélite GPS. Para o usuário que
não dispõe do pino de centragem forçada, o posicionamento tem que ser feito com o auxílio do
tripé. A montagem do tripé sobre a viga de concreto é tarefa trabalhosa, pois a viga dificulta a
movimentação das pernas do tripé. Além disso, há certa dificuldade para medir a altura da
antena, devido à altura da viga, que obriga o usuário a instalar o tripé numa altura maior.

Figura 9 - Materialização do Datum horizontal (Vértice Chuá)

SAD69 – realização 1996


Com os avanços tecnológicos, foi possível efetuar um reajustamento da rede, de forma
global, abrangendo todas as observações disponíveis, no qual foram mantidos os mesmos
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parâmetros definidores e injunções iniciais do primeiro ajustamento, e também a mesma
denominação para o sistema de referência SAD69 na sua nova materialização após o
reajustamento. O uso de posicionamento com satélites GPS, permitiu estabelecer ao mesmo
tempo as três componentes definidoras de um ponto no espaço, mudando os procedimentos de
campo e respectivo processamento com ajustamento da rede em 3 dimensões, com uso do
sistema computacional GHOST (Canadá- Projeto North American Datum of 1983 (NAD-83).
Segundo Castañeda, foram usadas observações GPS e as referentes à rede clássica no
reajustamento, num total de 4759 estações, contra 1285 ajustadas na definição do SAD69.
No reajustamento foi disponibilizado o erro absoluto ou o desvio padrão das
coordenadas, informação esta disponibilizada aos usuários que buscam dados no BDG (Banco
de Dados Geodésicos) do IBGE. A tabela abaixo apresenta os valores médios dos erros das
coordenadas obtidos após o reajustamento.
Precisão Estações GPS Estações rede clássica
Planimétrica 10 cm 40 a 70 cm
Altimétrica 10 a 30 cm -
Ocorrem diferenças provenientes das duas materializações distintas (distorções), as quais
não têm comportamento sistemático e homogêneo, o que dificulta sua estimativa. Num mapa,
estas distorções aparecem como um deslocamento, que será significativo conforme a escala e
sua localização geográfica. Os deslocamentos correspondentes às distorções máximas (15m) são
negligenciáveis até a escala de 1:50.000 (nesta escala ocorre um deslocamento de 0,3mm)
(CASTAÑEDA,1986).

Datum Geocêntrico – SIRGAS2000


O Datum geocêntrico pressupõe a adoção de um elipsoide de revolução cuja origem
coincide com o centro de massa da Terra, e sua materialização se dá mediante o estabelecimento
de uma rede geodésica com coordenadas tridimensionais conhecida (não há a definição de um
ponto Datum, mas um conjunto de estações). O Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas (SIRGAS) é um exemplo de Datum geocêntrico, e foi criado na Conferência
Internacional para definição de um Referencial Geocêntrico para América do Sul, realizada em
1993 em Assunção–Paraguai (IBGE, 1997). Os resultados do SIRGAS se traduzem em uma das
redes de referência continentais mais precisas do mundo. A opção pela adoção do SIRGAS está
vinculada ao fato de que sua existência/manutenção não depende apenas de uma única técnica
de posicionamento (caso do WGS84, que depende somente do GPS). E também o fato de que o
novo referencial deveria atender às precisões da Geodesia, e não só da Cartografia. Na figura 10
são esboçadas as diferenças de referenciais locais e geocêntricos.

Fig. 10 - Diferenças na definição de referenciais: local (SAD-69), e geocêntricos (WGS-84, ITRFyy e SIRGAS).
Extraído de (PEREIRA,K.D., LOBIANCO, M.C.B, COSTA,S.M.A., 2004)

Considerando um breve histórico do SIRGAS2000:


a) Década de 80: instalação de redes de controle geodinâmico usando GPS (Peru, Chile,
Equador, etc).
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b) 1993: interesse em unificar os sistemas de referencia - criação do projeto SIRGAS.
c) 1995: primeira campanha e processamento dos dados (até 1997).
d) 2000: segunda campanha.
e) 2001: recomendado na Conferencia Cartográfica das Nações Unidas – SIRGAS2000.
A caracterização do SIRGAS2000 segundo a RPR01/2005 do IBGE, de 25/02/2005 é:
• Sistema Geodésico de Referência: Sistema de Referência Terrestre Internacional - ITRS
(InternationalTerrestrial Reference System)
• Figura geométrica para a Terra: Elipsoide do Sistema Geodésico de Referência de 1980
(Geodetic Reference System 1980 – GRS80)
Semieixo maior a = 6.378.137 m e Achatamento f = 1/298,257222101
• Origem: Centro de massa da Terra
• Orientação: Pólos e meridiano de referência consistentes em ±0,005” com as direções
definidas pelo BIH (Bureau International de l´Heure), em 1984,0.
• Estações de Referência: As 21 estações da rede continental SIRGAS2000, estabelecidas no
Brasil e identificadas nas Tabelas 1 e 2, constituem a estrutura de referência a partir da qual o
sistema SIRGAS2000 é materializado em território nacional. Está incluída nestas tabelas a
estação SMAR, pertencente à Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo do Sistema GPS
(RBMC), cujas coordenadas foram determinadas pelo IBGE posteriormente à campanha GPS
SIRGAS2000.
• Época de Referência das coordenadas: 2000,4
• Materialização: estabelecida por intermédio de todas as estações que compõem a Rede
Geodésica Brasileira, implantadas a partir das estações de referência.

Estações de Referência SIRGAS2000 situadas no Brasil e respectivas coordenadas cartesianas e


geodésicas referidas à época 2000,4 (elipsoide GRS80).
• Velocidade das estações: para aplicações científicas, onde altas precisões são
requeridas, deve-se utilizar o campo de velocidades disponibilizado para a América do Sul no
site http://www.ibge.gov.br/sirgas. Com estas velocidades, é possível atualizar as coordenadas
de uma estação da época de referência 2000,4 para qualquer outra, e vice-versa, por conta das
variações provocadas pelos deslocamentos da placa tectônica da América do Sul.
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No total, o SIRGAS2000 tem 184 estações no continente americano, cujo processamento
dos dados foi efetuado no IBGE e no DGFI (Deutsches Geodätisches Forschungsinstitut).
A adoção de um sistema geocêntrico baseado no ITRF garante que o SIRGAS continuará
sempre atualizado, conforme as necessidades de georeferenciamento atuais. Abaixo a figura em
que são apresentadas as 21 estações brasileiras pertencentes à rede continental SIRGAS2000.

Figura 11: Estações brasileiras do SIRGAS2000


Fonte: Mundogeo, Junho 2005.
3.4.3. Datum Altimétrico
O Datum altimétrico é constituído pelo geoide materializado através de marégrafos
(Figura 11), e do conjunto de pontos nos quais se conhece a altitude referida a essa superfície.
Esta é a equipotencial do campo de gravidade, que coincide com o nível médio dos mares, e a
altitude obtida através do nivelamento, referida a esta superfície, é chamada de ortométrica. A
altitude geométrica obtida através do posicionamento tridimensional está referida ao elipsoide.
No Brasil, até 1946, não existia uma superfície de referência para o cálculo das altitudes no
nosso país, ou seja, não havia um Datum altimétrico brasileiro. Somente depois que o IBGE deu
inicio à implantação da rede de nivelamento de precisão, foi adotado o nível médio do mar
referido ao marégrafo de Torres (RS), o primeiro Datum altimétrico Brasileiro, que possuía
registros de 1919 e 1920. Em 1958, este foi substituído pelo marégrafo de Imbituba (SC), sendo
então que o referencial altimétrico coincide com a superfície equipotencial que contém o nível
médio do mar, definido pelas observações maregráficas tomadas no Porto de Imbituba, no litoral
do Estado de Santa Catarina, no período de 1949 a 1957 (ALENCAR,J.C.M.,IBGE,2016).
As Referências de Nível (RRNN), pertencentes à Rede Altimétrica de Alta Precisão do
Brasil (RAAP), são materializadas através de marcos de concretos e chapas, cravadas sempre
que possível em superfícies estáveis (afloramentos rochosos, pontes, bases de monumentos,
calçadas com espessura adequada, etc). As altitudes desses marcos e chapas foram obtidas a
partir de um marco inicial (Figura 12), implantado próximo ao marégrafo, e a medição foi feita
através do nivelamento geométrico. As diferenças de altitude medidas variam de acordo com o
campo de gravidade na região, e conforme as irregularidades da topografia. Gemael (1981)
chama a atenção para o nivelamento de precisão no Brasil, que na sua concepção, apresenta um
aspecto puramente geométrico, sempre desacompanhado de medições gravimétricas. Para tornar
unívoca a rede altimétrica, usa-se a chamada correção ortométrica (correção do não paralelismo
das superfícies equipotenciais), aplicada à altitude que decorre do nivelamento.
Na figura 12 tem-se que HRN é a altitude ortométrica da RN, HRN-M é o desnível entre a
RN e o marégrafo, HNI é o desnível entre a superfície instantânea do mar e o zero convencional
(marégrafo), HTO é a altitude da topografia oceânica, e HNML é o desnível entre a superfície
média local do mar e o zero convencional (marégrafo), obtido por análise harmônica a partir de
HNI.
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Atualmente, o IBGE tem se preocupado em definir novas diretrizes para o gerenciamento
da RAAP do país, com o objetivo de satisfazer as necessidades operacionais da comunidade
técnica nacional (Luz & Guimarães, 2001). Nesta filosofia, destacam-se: a recomposição de uma
estrutura homogênea da rede; a integração com os levantamentos gravimétricos e com o
posicionamento por satélite; e o estabelecimento de estações maregráficas “geodésicas”, em que
a preocupação é não somente a observação do nível do mar, mas também o monitoramento de
todos os fenômenos associados.
RN Referência de nível

HRN-M
HRN Marégrafo Zero convencional
do marégrafo
HNML Geóide
Topografia oceânica HTO HNI Nível médio local
Nível instantâneo

Figura 12 – O marégrafo e a origem da altitude ortométrica


(adaptada de Vanicek & Krakiwsky, 1986)

Na atualidade, grande parte das altitudes da RAAP refere-se ao datum de Imbituba-SC.


A pequena porção da RAAP no Amapá não está conectada ao datum Imbituba, mas sim ao nível
médio do Porto de Santana entre 1957-1958 (IBGE, 2016b).
- AS RESOLUÇÕES (Apresentado sinteticamente como subsídio histórico)
* RESOLUÇÃO - PR no 22, de 21-07-83 - na mesma ficam aprovadas as Especificações e Normas
Gerais para Levantamentos Geodésicos em território brasileiro, que abrangem levantamentos plani-
métricos, altimétricos, gravimétricos e astronômicos. Nos levantamentos planimétricos serão usados
os procedimentos de triangulação, trilateração, poligonação e o posicionamento por rastreamento de
satélites segundo o efeito DOPPLER. Os diversos processos poderão ser aplicados isoladamente ou
em conjunto, mantendo-se, contudo, a precisão operacional exigida para cada um.
As determinações astronômicas serão utilizadas subsidiariamente, na caracterização dos pontos de
controle azimutal, pontos de LAPLACE, ou nos trabalhos de apoio à pesquisa do geóide; deter-
minações feitas isoladamente não serão aceitas como contribuições ao Sistema Geodésico Brasileiro.
A resolução apresenta as especificações técnicas para triangulação, trilateração e poligonação,
envolvendo levantamentos geodésicos de alta precisão, de precisão e para fins topográficos.
Quanto às especificações para o posicionamento com o rastreamento de satélites segundo o efeito
Doppler, tem-se que, naquela época, o posicionamento geodésico com o emprego de georeceptores
no rastreamento de satélites artificiais recorrendo ao efeito DOPPLER, havia despontado no início
da década de 70 como um dos mais promissores procedimentos para realização de levantamentos
geodésicos em áreas de difícil acesso, sendo que os satélites operavam com frequências portadoras
de 150 e 400 MHz, moduladas em fase. A definição de posições se dá segundo procedimentos
diferentes, sendo usuais: o de posicionamento isolado, o de translocação e o dos arcos curtos ou
multiposicionamento, sendo que os procedimentos calcam-se em observações reduzidas a partir de
um conjunto de efemérides definidoras e descritoras da órbita ou posições do gravitante, distin-
guindo-se dois grupos de efemérides: precisas e operacionais.
Naquela época, as efemérides operacionais foram calculadas a partir de dezembro de 1975,
na consideração do modelo geopotencial WGS-72 (World Geodetic System 1972) e com o
referencial geométrico definido por 4 estações fixas. O sistema assim formado é denominado NWL-
10D (Naval Weapons Laboratory). Todos os satélites que integram o sistema são acompanhados
pela rede TRANET, composta de 20 estações distribuídas ao longo do globo terrestre.
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O referencial para as efemérides precisas variou ao longo dos anos, fruto do aprimoramento
do modelo geopotencial e das coordenadas do conjunto de estações TRANET. No período de outu-
bro de 1971 a junho de 1977 usou-se o referencial chamado NWL-9D, definido a partir do modelo
geopotencial NWL-10E e o referencial geométrico definido pelas estações TRANET, conhecido
como NWL-9D. A partir de junho de 1977 foi usado o referencial denominado NSWC-9Z-2 (Naval
Surface Weapon Center) e, com modelo geopotencial NSWC-10F e referencial geométrico definido
pelas estações TRANET. A resolução PR no 22, de 21-07-83 no seu apêndice II, apresenta os
parâmetros de transformação de sistemas geodésicos baseadas nas equações simplificadas de
Molodenskii. Apresenta parâmetros de Córrego Alegre para SAD-69 e vice-versa, de NSWC-9Z-2
PARA SAD-69 e vice-versa, de NWL-10-D PARA SAD-69 e vice-versa, e de PSAD-56 OU LA
CANOA PARA SAD-69 e vice-versa.

*RESOLUÇÃO No 23, de 21 de fevereiro de 1989, que altera o Apêndice II da R.PR-22/83.


Art. 1o Fica alterado, na forma do Anexo, o Apêndice II da R.PR-22, de 21.07.83, itens 2.3, 2.4,
2.5 e 2.6, relativo aos Parâmetros para Transformação de Sistemas Geodésicos.
APÊNDICE II-PARÂMETROS PARA TRANSFORMAÇÃO DE SISTEMAS GEODÉSICOS
A determinação dos parâmetros de transformação entre os sistemas geodésicos adotados como
referência no rastreamento de satélites dos Sistemas TRANSIT e GPS, e o SAD-69, juntamente
com o permanente aprimoramento do Mapa Geoidal do Brasil, constituem demandas da comuni-
dade cartográfica nacional usuária da técnica de posicionamento geodésico por satélites
artificiais. Os parâmetros para transformação apresentados neste documento resultam da
conclusão de um projeto conduzido na Diretoria de Geociências, que objetivou a determinação
dos parâmetros de transformação relativos aos Sistemas NSWC-9Z2, associado às efemérides
precisas fornecidas no referencial adotado até 31 de dezembro de 1986; NWL-10D, associado às
efemérides operacionais; e WGS-84, associado às efemérides precisas a partir de 1o de janeiro de
1987 e adotado no Sistema GPS. Nos procedimentos de transformação envolvendo coordenadas
cartesianas referidas aos Sistemas NSWC-9Z2 e NWL-10D, está implícita uma fase preliminar
de correção das coordenadas, a fim de compatibilizá-las com o Sistema Terrestre Convencional
(STC), segundo os parâmetros : TRANSLAÇÃO TERCIÁRIA : Z = + 4,50 m
ROTAÇÃO TERCIÁRIA : w = – 0,814" FATOR DE ESCALA : k = – 0,6 ppm
No caso do WGS-84 esta correção não é necessária, pois este sistema é coincidente com o STC.
PARÂMETROS DE TRANSFORMAÇÃO
Para determinação de posição no Sistema Geodésico Brasileiro (SAD-69), é necessário aplicar 3
translações abaixo relacionadas, às coordenadas inicialmente referidas aos Sistemas NSWC-9Z2
e NWL-10D e corrigidas conforme o exposto no item acima, ou diretamente às coordenadas
referidas ao WGS-84 : X = + 66,87 m 0,43 m Y = – 4,37 m 0,44 m Z = + 38,52 m 0,40 m
Subscrito 1 : grandezas associadas ao sistema de satélite :
Para o NSWC-9Z2 : a1 = 6378145 m e f1 = 1 / 298,25
Para o NWL-10D : a1 = 6378135 m e f1 = 1 / 298,26
Para o WGS-84 : a1 = 6378137 m e f1 = 1 / 298,257223563
Subscrito 2 : grandezas associadas ao SAD-69 :
a2 = 6378160 m b2 = 6356774,719 m e f2 = 1 / 298,25
Mais detalhes podem ser consultados na resolução. Ressalta-se que os Sistemas Geodésicos
associados tanto às Efemérides Operacionais (NWL-10D), quanto às Efemérides Precisas
(NSWC-9Z2) tem parâmetros de transformação idênticos em relação ao SAD-69, mudando-se
apenas os parâmetros de forma e dimensões do elipsoide correspondente a cada um destes.

Bibliografia
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Disciplina: GEO 05016 – Geodésia I - Apostila Professor: Gilberto Gagg 23
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GEMAEL, C., 1981. Referenciais Cartesianos Utilizados em Geodésia. Curitiba. Universidade


Federal do Paraná. Curso de Pós-Graduação em Ciências Geodésicas. 1981.

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Brasil, Anais - I I Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, Aracaju, SE,
disponível em: http://www.cpatc.embrapa.br/labgeo/srgsr2/pdfs/palestra10.pdf

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