20140000349544

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2014.0000349544

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº


2047293-44.2014.8.26.0000, da Comarca de Cotia, em que é agravante ANA
LIZETE CALIXTO DE FIGUEIREDO, é agravado FAZENDA DO ESTADO DE
SÃO PAULO.

ACORDAM, em 6ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


REINALDO MILUZZI (Presidente sem voto), MARIA OLÍVIA ALVES E
EVARISTO DOS SANTOS.

São Paulo, 9 de junho de 2014.

SILVIA MEIRELLES
RELATORA
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Agravo de Instrumento: 2047293-44.2014.8.26.0000


Agravante: ANA LIZETE CALIXTO DE FIGUEIREDO
Agravada: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Comarca: COTIA/SP
Juiz: DR. SEUNG CHUL KIM
Voto nº. 1689 K*

AGRAVO DE INSTRUMENTO Decisão que


determinou o bloqueio de pensão e aposentadoria para
fins de quitação de débito em execução fiscal -
Pretensão de reforma Possibilidade Rol taxativo do
art. 649, do Código de Civil Bens absolutamente
impenhoráveis inciso IV do dispositivo citado
Decisão reformada - Recurso provido.

Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de


efeito suspensivo, interposto contra r. decisão transladada a fls. 100, que
nos autos da execução fiscal promovida pela FAZENDA PÚBLICA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, determinou o bloqueio, transferência e
penhora de valores constantes de contas-correntes da executada, ora
agravante, possibilitando a efetivação de penhora continuada de sua
pensão e aposentadoria até a satisfação total do débito.

Sustenta a agravante, em síntese, que a penhora


recaiu sobre as rendas provenientes de sua aposentadoria e pensão por
morte, as quis são impenhoráveis, nos termos do art. 649, inciso IV, do
Código de Processo Civil, e, além disso, tal bloqueio interfere na
sobrevivência da agravante, que é pessoa idosa e necessita dos referidos

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valores para suprir com o seu sustento. Requer, assim, a reforma da


decisão agravada, com o desbloqueio dos valores, bem como para que
haja o impedimento a novas penhoras, inclusive de percentuais sobre as
referidas pensão e aposentadoria, com a devolução dos valores
eventualmente levantados.

A petição de agravo foi instruída com os


documentos obrigatórios exigidos por lei, nos termos do art. 525, do
Código de Processo Civil.

Foi concedido o efeito suspensivo.

Dispensadas as informações do MM. Juízo a quo,


bem como a apresentação de contraminuta.

É o relatório.

Com todo o respeito, o recurso comporta


provimento.

Dispõe o art. 649, do Código de Processo Civil, in


verbis, que:

“Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:


(...)
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações, proventos de aposentadoria, pensões,

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pecúlios e montepios; as quantias recebidas por


liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3o deste artigo;” (Redação
dada pela Lei nº 11.382, de 2006).

Daí porque, merece reforma a decisão o MM. Juiz a


quo, vez que se depreende do artigo acima transcrito a vedação expressa
à incidência de constrição judicial sobre a aposentadoria e a pensão
percebidas pela agravante.
Tendo a agravante comprovado que os valores
depositados nas contas correntes constritas pelo juízo decorrem do
pagamento de aposentadoria e de benefício do INSS (fls. 98/99), estes
não podem ser objeto de penhora.

Noto, ademais, que nesse sentido é o entendimento


desta Colenda Sexta Câmara de Direito Público, conforme se verifica
abaixo:

“Agravo de Instrumento Processual Civil Execução


Fiscal Decisão de Magistrado “a quo” que acolheu
parcialmente o pedido formulado pela ora agravante,
provendo o desbloqueio de apenas 70% do valor oriundo do
benefício dimanado da autarquia Federal em conta corrente
e deixou de acolher o pedido de desbloqueio dos valores
afetos à conta poupança Recurso interposto pela executada
Provimento de rigor.
1. Constrição que recaiu sobre conta corrente da executada

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- Comprovação de que o valor depositado provém de


benefícios do INSS (pensão) Impossibilidade Caráter
alimentar - Impenhorabilidade absoluta - Inteligência do
art. 649, IV, do CPC.
2. Penhora efetivada em poupança com saldo inferior a 40
salários mínimos Impossibilidade - Inteligência do art. 649,
X, do CPC - Precedentes da Corte e do C. STJ.
Decisão reformada - Recurso provido para o fim de
determinar o desbloqueio dos 30% do valor percebido a
título de benefício previdenciário e depositado na conta
corrente da agravante, bem como dos valores constritos de
sua conta poupança até o limite de 40 salários mínimos.”
(AGRAVO DE INSTRUMENTO nº
2015194-55.2013.8.26.0000, Rel. Des. Sidney Romano dos
Reis, j. 14.10.2013)

Neste sentido também é o posicionamento já


externado em inúmeros julgados pelo E. Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL.


IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA DOS
VENCIMENTOS E PROVENTOS DE
APOSENTADORIA. 1. A Primeira Seção, ao julgar o
REsp 1.184.765/PA, sob a relatoria do Ministro Luiz
Fux e de acordo com o regime dos recursos repetitivos,
cujo acórdão veio a ser publicado no DJe de 3.12.2010,
deixou consignado que o bloqueio de ativos financeiros

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em nome do executado, por meio do Sistema BacenJud,


não deve descuidar do disposto no art. 649, IV, do CPC,
com a redação dada pela Lei n. 11.382/2006, segundo o
qual são absolutamente impenhoráveis "os vencimentos,
subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal". 2. Sobre a interpretação a ser
conferida ao art. 649, IV, do CPC, extraem-se dos vários
precedentes jurisprudenciais desta Corte os seguintes
enunciados: "É possível a penhora 'on line' em conta
corrente do devedor, contanto que ressalvados valores
oriundos de depósitos com manifesto caráter alimentar."
(REsp 904.774/DF, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, DJe de 16.11.2011); "São impenhoráveis os
valores depositados em conta destinada ao recebimento
de proventos de aposentadoria do devedor." (AgRg no
Ag 1.331.945/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, DJe de 25.8.2011); "Indevida a penhora sobre
percentual da remuneração depositado em
contacorrente, pena de violação do artigo 649, inciso
IV, do Código de Processo Civil." (AgRg no REsp
1.147.528/RO, 1ª Turma, Rel. Min. Hamilton
Carvalhido, DJe de 10.12.2010); "Indevida penhora de
percentual de depósitos em conta-corrente, onde

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depositados os proventos da aposentadoria de servidor


público federal. A impenhoralibilidade de vencimentos
e aposentadorias é uma das garantias asseguradas pelo
art. 649, IV, do CPC." (AgRg no REsp 969.549/DF, 4ª
Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ de
19.11.2007, p. 243); "É
inadmissível a penhora parcial de valores depositados
em conta-corrente destinada ao recebimento de salário
ou aposentadoria por parte do devedor." (AgRg no
REsp 1.023.015/DF, 3ª Turma, Rel. Min. Massami
Uyeda, DJe de 5.8.2008)” (REsp n. 1211366, rel. Min.
Mauro Campbell Marques, j. 6.12.2011).

No mesmo sentido:

“Os depósitos bancários provenientes exclusivamente


da pensão e da respectiva complementação pela
entidade de previdência privada são a própria pensão,
por isso mesmo que absolutamente impenhoráveis
quando destinados ao sustento do devedor ou da sua
família” (STJ 4ª T., REsp 536.760, Min. Cesar Rocha, j.
7.10.03, DJU 15.12.03).

Dessa forma, há que se reconhecer a


impenhorabilidade da aposentadoria e pensão por morte recebidas pela
agravante, com o consequente o desbloqueio dos valores de ambas as
contas, já que possuem natureza alimentar e prestam-se a garantir a sua

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sobrevivência, obstando também novos bloqueios sobre essas receitas.

Daí porque a r. decisão merece reforma.

Ressalta-se, finalmente, que o presente acórdão


enfocou as matérias necessárias à motivação do julgamento, tornando
claras as razões do decisum.

Todavia, para viabilizar eventual acesso às vias


extraordinária e especial, considera-se prequestionada toda matéria
infraconstitucional e constitucional, observando o pacífico
entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que,
tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica
dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido
decidida (EDROMS 18205 / SP, Ministro FELIX FISCHER, DJ
08.05.2006 p. 240).

Ante o exposto, pelo meu voto, dá-se provimento


ao recurso.

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