sumula 637 STJ
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637
SÚMULA N. 637
Referências:
CF/1988, art. 5º, XXV.
CC/2002, art. 1.210, § 2º.
CPC/1973, arts. 56 e 923 (revogado).
CPC/2015, art. 557.
Precedentes:
EREsp 1.134.446-MT (CE, 21.03.2018 – DJe 04.04.2018) –
acórdão publicado na íntegra
REsp 780.401-DF (3ª T, 03.09.2009 – DJe 21.09.2009)
AgRg nos
EDcl no REsp 1.099.469-DF (3ª T, 15.09.2011 – DJe 22.09.2011)
AgRg no REsp 1.282.207-DF (3ª T, 15.12.2015 – DJe 02.02.2016)
EMENTA
ACÓRDÃO
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SÚMULAS - PRECEDENTES
DJe 4.4.2018
RELATÓRIO
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SÚMULAS - PRECEDENTES
Sustenta que, tanto nos casos paradigma como no caso objeto dos embargos
de divergência, o Poder Público defende sua posse sobre o bem, invocando não o
domínio, mas sua própria posse.
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SÚMULAS - PRECEDENTES
VOTO
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SÚMULAS - PRECEDENTES
Com o fim de se encontrar para o art. 923 do CPC/73 (atual art. 557 do
CPC/2015) uma interpretação que não conflite com garantias constitucionais, é
preciso compreender de forma restrita - não ampliativa - a previsão legal de que
“é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio”.
No caso ora em exame, é de se notar, em primeiro lugar, que o opoente (a União,
no caso em exame, e a Terracap, nos paradigmas) não é em sentido estrito nem
autor nem réu na demanda possessória, mas terceiro que dá início à oposição.
Para além dessa questão lateral, tratando-se da questão principal (relativa à
possibilidade ou impossibilidade de se alegar domínio em pleito possessório), é
de se ver que o que o art. 923 do CPC/73 (atual art. 557 do CPC/2015) proíbe
é “propor ação de reconhecimento do domínio”. Não há proibição em tal preceito
normativo de se alegar incidentalmente o domínio em demanda possessória.
Com efeito, um fundamento factível para que em demanda possessória não
se possa alegar domínio é a intenção de se imprimir às demandas possessórias
cognição que não abranja possíveis discussões acerca da propriedade do bem
cuja posse é discutida, uma vez que o pedido em demanda possessória é o
de que se conceda tutela possessória, não que se declare por sentença quem
é o proprietário do bem. Tal finalidade, porém, não parece fazer sentido
quando a tutela possessória é pleiteada com fundamento no domínio. E isso,
especialmente, quando se trata de bem público, situação bem delineada no
trecho acima transcrito no acórdão prolatado no julgamento do REsp 780.401.
Pensamento em sentido contrário inviabilizaria que o Poder Público pudesse
exigir em juízo o exercício regular de sua posse sobre terrenos públicos cuja
posse é disputada entre particulares.
É certo que a oposição tem natureza jurídica de ação, de modo que se
poderia argumentar que o ajuizamento de oposição em demanda possessória
consistiria precisamente na proibição formulada no art. 923 do CPC/73 (atual
art. 557 do CPC/2015). Contudo, é por meio desta forma de intervenção de
terceiro que se realiza o pleito do opoente de ver reconhecido seu direito à
posse controvertida na demanda possessória pendente entre os opostos. E não
se pode admitir que a literalidade do preceito legal constante do art. 923 do
CPC/73 (atual art. 557 do CPC/2015) possa inviabilizar a prestação de tutela
jurisdicional para a defesa da posse de bens públicos pelo titular do direito
material disputado.
Ainda que se admita que o art. 923 do CPC/73 (atual art. 557 do
CPC/2015) veda a ampliação do objeto da demanda possessória, não se pode
admitir (sob uma leitura do preceito a partir da Constituição da República) que
o art. 923 do CPC/73 (atual art. 557 do CPC/2015) proíba que se postule a
posse mesma sobre o bem com fundamento no domínio.
Não se está a afirmar que o proprietário haverá de se sagrar sempre
vencedor de demanda possessória. Tanto assim que o parágrafo único do art.
557 do CPC/2015 veio a dispor que “Não obsta à manutenção ou à reintegração de
posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa”. Com efeito, a tutela
possessória há de ser concedida àquele que tenha melhor posse, que poderá ser
não o proprietário, mas o arrendatário, o cessionário, o locatário, o depositário,
etc.
O que se está a afirmar é que um dos fundamentos do pleito de tutela
possessória poderá ser a titularidade do domínio. A titularidade do domínio
poderá induzir melhor posse, mas poderá ser insuficiente para a tutela
possessória (é o caso, por exemplo, do possuidor-cessionário que tem melhor
posse que o proprietário-cedente).
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SÚMULAS - PRECEDENTES
Foi neste sentido que se operou a revogação da parte final do art. 505 do
CC/1916 (“Não obsta a manutenção, ou reintegração na posse, a alegação de
domínio, ou de outro direito sobre a coisa. Não se deve, entretanto, julgar a posse
em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o domínio.”) para que, no art.
1.210, parágrafo 2º, do CC/2002 se viesse a dispor que “Não obsta à manutenção
ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa”.
Em outros termos: o fato de a parte não ser titular do domínio não importa
necessariamente a sucumbência na demanda possessória (como decorria da
literalidade do revogado art. 505 do CC/1916). Nos termos do atual art. 1.210,
parágrafo 2º, do CC/2002, a propriedade não induz por si só direito à tutela
possessória.
Em síntese: a alegação de domínio, embora não garanta por si só a obtenção
de tutela possessória, pode perfeitamente ser formulada incidentalmente com o
fim de se obter tutela possessória.
São interessantes, no ponto, os comentários de José Miguel Garcia Medina
e Fábio Caldas de Araújo ao art. 1.210 do CC/2002 (Código Civil Comentado.
São Paulo: RT, 2014):
que esta situação não se aplica para os casos em que ocorre o desmembramento
legítimo da propriedade e da posse. Em situações como aquelas exemplificadas
pelo art. 1.197, CC, de nada adiantará a alegação de domínio. É o caso do
desmembramento da posse (em direta e indireta), quando esteja suportada
por relação jurídica prévia. A comprovação e alegação do domínio em nada
beneficiarão o possuidor indireto, caso este seja alvo de um interdito proibitório.
O importante é realizar a leitura do dispositivo dentro de uma nova concepção,
pois a sua interpretação ainda está atrelada aos princípios que orientaram o seu
surgimento há mais de dois mil anos.
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