Sentença Contra Kogos (Banimento Do Twiter) - Passada Em Julgado
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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1011699-93.2022.8.26.0100 e código EC45030.
SENTENÇA
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por PATRICIA MARTINS CONCEICAO, liberado nos autos em 20/03/2023 às 11:09 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Patrícia Martins Conceição
Vistos.
Trata-se de ação de obrigação de fazer com pedido de tutela de urgência
ajuizada por PAULO HUGENNEYER KOGOS em face de TWITTER BRASIL REDE DE
INFORMAÇÃO LTDA., ambos qualificados nos autos.
O autor afirmou, em síntese, que é empresário e influenciador digital; que, famoso
por seu engajamento em discussões políticas, econômicas históricas, teológicas e filosóficas,
contratou os serviços da rede social Twitter; contudo, que foi surpreendido pela exclusão arbitrária
de sua conta, sob a alegação de violar os termos de uso da rede social. Aduziu que, para a sua
surpresa, o requerido mantém no ar uma conta fake em seu nome, a qual cria tweets de forma
descarada fingindo ser o autor; que tal conta se posiciona em nome do requerente e que já tentou
humilhá-lo na plataforma. Em sequência, afirmou ter enviado uma notificação extrajudicial ao réu,
com a intenção de resolver amigavelmente a situação, porém sem sucesso. Pleiteou pela aplicação
da legislação consumerista e do marco civil da internet; e pela concessão de tutela de urgência
para que seja determinada a reativação imediata da conta do autor, bem como para que sejam
guardados os dados relativos à sua conta, e a exclusão da conta fake em seu nome. Por fim,
pugnou pela procedência dos pedidos. Juntou documentos (fls. 22/89).
Emenda à inicial e documentos às fls. 94/100.
A tutela de urgência foi parcialmente deferida para determinar a exclusão da conta
fake (fls. 101/104).
Embargos de Declaração com pedido de atribuição de efeito suspensivo às fls.
112/122.
Às fls. 154/163, o réu prestou esclarecimentos quanto a plataforma e as regras
aplicáveis ao seu uso; discorreu sobre as violações às regras da rede social cometidas pelo autor,
tais quais: desejar a morte de pessoas que vacinam crianças, chamar a pandemia de peste chinesa,
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desejar a morte do Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde, chamando-o de terrorista,
além de dizer que o uso de máscaras é apenas para escravos. Ainda, defendeu a legitimidade da
suspensão da conta do autor, vez que a medida está prevista no Acordo do Usuário do Twitter. Ao
final, reiterou que o pedido liminar de reativação da conta deve ser indeferido. Juntou documentos
(fls. 164/208).
A liminar concedida foi suspensa até a apreciação dos embargos opostos; e o
pedido remanescente de tutela de urgência referente à reativação do perfil foi indeferido (fls.
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209/212).
Os embargos de declaração foram acolhidos (fls. 221/222).
Citado (fls. 217), o requerido ofertou contestação às fls. 223/260. No mérito,
defendeu a licitude da suspensão das contas do autor, uma vez que se trata do exercício regular do
direito do réu, ante a expressa proibição da conduta adotada pelo requerente; discorreu sobre a
inexigibilidade de se enviar uma notificação prévia à parte inadimplente a respeito da resolução do
contrato; sobre a inexistência de ilicitude na suspensão da conta; e sobre a legalidade dos Termos
de Serviço do Twitter e das disposições relativas à suspensão do serviço. Por conseguinte, prestou
esclarecimentos acerca do pedido de preservação de dados e o determinado pelo Marco Civil da
Internet; bem como sobre a “Política de Falsa Identidade” na plataforma; e sobre a
desproporcionalidade da pretensão de remoção integral da conta fake do Twitter, vez que tal conta,
atualmente, não se relaciona de qualquer forma com o autor, e que tal ato configuraria censura.
Por fim, pugnou pela improcedência dos pedidos. Juntou documento (fls. 261).
Instadas a especificarem as provas que pretendiam produzir (fls. 262/263), o
requerido pugnou pelo julgamento antecipado da demanda (fls. 283/285), enquanto o requerente
não se manifestou.
Embargos de declaração com pedido de atribuição de efeito suspensivo às fls.
268/273. Manifestação aos embargos às fls. 277/279. Os embargos de declaração não foram
acolhidos (fls. 280).
Réplica às fls. 286/300.
Sobreveio decisão concedendo efeito suspensivo ao agravo interposto pelo
requerido (fls. 327/331), para suspender a remoção do perfil "@PauIoKogos2022".
Às fls. 341/343 o autor pugnou pela concessão de tutela de urgência, com
fundamento em fatos novos, que foi indeferida pela decisão de fls. 344.
Sobreveio v. acórdão dando provimento ao recurso do requerido (fls. 520/527).
É o relatório.
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Fundamento e decido.
A lide comporta julgamento antecipado, nos moldes preconizados pelo artigo
355, inciso I, do Código de Processo Civil, pois não há a necessidade de produção de provas em
audiência de instrução e julgamento, tratando-se de fatos provados por prova documental
suficientemente colacionada aos autos.
Consoante o artigo 370 do Código de Processo Civil, cabe ao magistrado avaliar a
pertinência da produção das provas requeridas pelas partes, de acordo com os elementos
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constantes nos autos, juízo que se mostra negativo na lide em questão. Este entendimento encontra
ressonância na jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça:
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terceiros.
O art. 19 da norma mencionada dispõe que apenas será responsabilizado o
provedor de aplicações se não cumprir ordem judicial específica nesse sentido.
Contudo, tal texto não está a permitir o acionamento direto dos provedores, senão
que, lido em conjunto com o art. 18 acima e com a garantia constitucional de liberdade de
expressão e responsabilização dos autores pelos atos ilícitos, a norma exige a identificação do
produtor do conteúdo para que contra ele seja ajuizada a medida de remoção.
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A inteligência da legislação na matéria (Lei 12.965/2014, art. 22, par. único, I) é
no mesmo sentido, exigindo indício de ato ilícito para que, em face de provedor de aplicação de
internet possa o juiz deferir (até mesmo em caráter incidental) medida determinando exibição de
dados.
Isso, contudo, não insere a legitimidade jurídica (material, no caso) do requerido
para remover definitivamente perfil/conteúdo ou responder pelo que está ali hospedado como se
fosse de sua autoria.
Em verdade, a remoção do perfil/conteúdo requer o seu reconhecimento como
ilícito, e tal reconhecimento pode ser feito apenas contra o produtor dos comentários tidos por
abusivo, e não contra aquele que, detendo plataforma eletrônica de publicação de informações,
hospeda o conteúdo cuja legalidade é questionada.
Em especial, considerando que o requerido informou que na descrição do perfil
que o autor alega ser fake, consta expressamente que é um perfil de paródia humorística e que não
é dono do canal ocidente em fúria, ou seja, a clara distinção do perfil do autor.
Por essa razão, as ações que pretendam a remoção de conteúdos ofensivos devem
ser precedidas da medida judicial correspondente à identificação dos usuários produtores.
A remoção das contas/conteúdos só pode ser deferida contra os autores em si
mesmos. Apenas quando muito difícil ou impossível sua identificação, a medida poderá ser
exigida dos provedores, sem a identificação cabal do autor da mensagem, como forma de evitar a
perpetuação dos danos.
Assim, e tendo em conta que o caso dos autos revela que o autor tem condições de
identificar o usuário titular da conta, não se pode deferir a simples remoção da conta sem que tal
pessoa seja previamente identificada e chamada a juízo pela parte autora.
Autorizar o contrário, seria violar o direito (do autor da conta/perfil) ao devido
processo legal e ao contraditório, já que se estaria efetuando a exclusão de seu perfil, sem sua
integração ao processo respectivo.
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Desse modo, tem-se que, em relação ao pedido de remoção da conta
“@PauloKogos” (atual “@PauIoKogosReaI”), não tem o requerido legitimidade de parte para
discutir eventual abuso no direito de manifestação do usuário apontado pela autora, devendo ela,
na forma da lei, exigir do próprio autor a remoção e valer-se do requerido apenas
subsidiariamente, em caso de descumprimento por ele, mas primeiro obtendo a identidade da
pessoa referida.
No mérito, os pedidos são improcedentes.
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A relação jurídica estabelecida entre autor e requerida é consumerista, diante ada
teoria finalista mitigada, o que, contudo, não implica em inversão do ônus da prova, diante da
ausência de verossimilhança das alegações autorais, como se passa a analisar.
O autor afirma que teve sua conta junto ao requerido suspensa, sem comunicação
prévia ou justificativa. Por outro lado, sustenta o requerido ter agido no exercício regular de
direito, porque o autor teria infringido os termos contratuais com os quais concordou ao criar a
página e assinar os termos de uso, efetuando publicações de discurso de ódio.
Com efeito, as políticas de utilização dos serviços do requerido são registradas nas
“Diretrizes da Comunidade” e nos “Termos de Uso”; todos os usuários têm conhecimento de um
conjunto de padrões mínimos que devem ser respeitados, inclusive, no que diz respeito a tipos de
compartilhamentos permitidos e aos conteúdos que podem ser removidos. E ao criar uma conta
e/ou um canal, todos usuários tomam ciência e concordam com a política da comunidade antes de
utilizar os serviços das plataformas.
Não há como configurar conduta abusiva do requerido quando remove
determinada página e/ou conteúdo com amparo em violação objetiva aos termos de uso da
plataforma.
O Marco Civil da Internet não proíbe a remoção administrativa de conteúdo ou
contas que violem as regras específicas de comportamento ou de prestação de serviços (artigo 3°,
inciso VIII, Lei 12.965/2014 - Marco Civil da Internet).
No caso, o requerido apresentou as publicações do autor que teriam ensejado a
desativação da conta (fls. 230/232), o autor não nega as postagens, limitando-se a afirmar que não
possuem caráter de discurso de ordem, mas mera liberdade de expressão (fls. 293/294), sem razão,
contudo.
É patente o discurso de ódio, pois o usuário desejou a morte de pessoas que
vacinassem crianças, chamando a pandemia de Covid-19 de peste chinesa, além de desejar a morte
de pessoas e chama-las de terrorista, utilizando palavras de baixo calão, há evidente conotação
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racista, xenofóbica, violenta e com cunho de propagar desinformação, propagada em perfil
público, acessível a milhares de pessoas, que evidentemente extrapola todos os limites da
liberdade de expressão garantida constitucionalmente.
Portanto, observa-se que a conta foi suspensa permanentemente por reiteração de
violação aos padrões da comunidade, inclusive, com publicação de discurso de ódio.
Não há como negar ao requerido o direito de atuar em defesa dos termos de uso da
plataforma, inclusive sem a prévia manifestação do usuário, já que muitas vezes a manutenção
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indevida da publicação até o referido exercício da ampla defesa e do contraditório pode ser mais
danoso do que a prévia remoção.
A necessidade é apenas de concessão de oportunidade para a manifestação do
usuário, sendo de conhecimento do homem médio que se utiliza da plataforma que, ao ser
comunicada uma exclusão ou punição, é concedida oportunidade para manifestação, ou seja, ao
exercício do direito de defesa.
Apesar de dizer o autor que em diversas oportunidades não lhe foi garantido tal
direito de manifestação e defesa da postagem, nada de concreto trouxe aos autos neste sentido.
Portanto, não há como falar em punição injustificada, se o bloqueio e/ou exclusão
de página ou conteúdo observou os “Termos de Uso” e as “Diretrizes da Comunidade”, para a
preservação do ambiente saudável e a segurança da comunidade consumidora que se utiliza das
redes sociais.
Ante o exposto, a) JULGO EXTINTO o processo sem exame de mérito, por
ilegitimidade passiva da parte requerida, quanto ao pedido de remoção de conta supostamente
fake; b) JULGO IMPROCEDENTES os demais pedidos formulados por Paulo Hugenneyer
Kogos em face de Twitter Brasil Rede de Informação Ltda, com fundamento no artigo 487,
inciso I, do Código de Processo Civil,
Em razão da sucumbência, condeno o autor ao pagamento das custas e despesas
processuais arcadas pelo requerido, atualizadas monetariamente desde a data do desembolso
segundo a tabela prática do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, e com incidência de juros de
mora 1% ao mês a partir do decurso do prazo de 15 dias para pagamento do débito ora fixado,
consoante o artigo 523, do Código de Processo Civil, bem como honorários advocatícios ao
patrono da parte requerida arbitrados no patamar de 10% sobre o valor atualizado da causa, nos
termos do artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil.
Se interposto recurso de apelação, intime-se o(a) apelado(a) a apresentar
contrarrazões no prazo de quinze dias e, após, remetam-se os autos à Seção competente do E.
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Tribunal de Justiça, acompanhados de eventuais mídias e objetos arquivados em cartório,
independentemente de juízo de admissibilidade, nos termos do art. 1.010, § 3º, do Código de
Processo Civil.
Transitada em julgado, aguarde-se pelo prazo de cinco dias eventual início de
cumprimento de sentença e cobre-se o recolhimento das custas eventualmente em aberto. Após,
arquivem-se, observadas as cautelas legais.
P.I.C.
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São Paulo, 07 de fevereiro de 2023.
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