RelatórioFinal_FátimaAguiar

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ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

DE PAULA FRASSINETTI

Mestrado em Educação Pré-Escolar

RELATO DE UMA INTERVENÇÃO PERANTE


PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO NUMA
CRIANÇA DE CINCO ANOS

Relatório de Estágio apresentado à Escola Superior de


Educação de Paula Frassinetti para obtenção de grau de
Mestre em Educação Pré-Escolar

Nome: Fátima Alexandra Pinto Aguiar


Orientação: Mestre Maria Ivone Couto Monforte das Neves

Porto
2015
RESUMO

O jardim-de-infância surge como primeira instância de interação social


nos primeiros anos de vida da criança. Logo, é através deste contexto que a
criança começa a desenvolver as suas competências emocionais e habilidades
sociais. Contudo, existem situações em que desenvolvem-se comportamentos
menos adequados que podem vir a ser considerados problemas de
comportamento.
Neste sentido, o presente relatório cita referentes teóricos que expõem a
influência da regulação emocional e da promoção da autoestima positiva no
comportamento. Para além disso, são propostas estratégias para aplicar junto
de uma criança que demonstra problemas de comportamento.
Deste modo, foi realizado um estudo de caso, que relata a intervenção
com uma criança de cinco anos que aparenta problemas de comportamento. O
objetivo deste estudo consistiu identificar as manifestações perturbadoras da
criança e, posteriormente procurar estratégias eficazes para a sua modificação.
Através de uma observação participante e com a aplicação de
instrumentos de avaliação comportamental, foi possível perceber quais os
comportamentos a modificar. Os resultados obtidos demonstraram que a
utilização de estratégias como, o contrato comportamental e a aplicação do
reforço positivo, alteraram o comportamento da criança.
Além disso, os educadores de infância, perante o seu grupo, devem ter
em conta na sua prática educativa, a promoção de interações positivas como
requisito fundamental para um desenvolvimento pessoal e social harmonioso da
criança na sua totalidade, tanto para o presente, como para o seu
desenvolvimento futuro.

Palavras-Chave: Problemas de Comportamento, Interação Social,


Competências Emocionais, Regulação Emocional, Habilidades Sociais, Jardim-
de-Infância
ABSTRACT

Kindergarten is the very first time a child is able to socially interact in


his/her first years of age. Hence, it is through this context that the child starts to
develop their emotional competences and social skills. Yet, there are situations
where the child develops inadequate behaviors that can be considered in the
future as behavioral problems.
In this sense, this paper cites theory referents that talk about the influence
of the emotional regulation and also the positive self-esteem promotion in the
behavior. Also, strategies are proposed to be used on a child that demonstrates
this kind of behavioral problem.
This way, a case study was done that reports the intervention done to a
five year old child that showed behavioral problems. The goal of this study
consisted in identifying the disturbing manifestations of the child and, after a first
assessment, try to find effective strategies in order to modify them.
Through observation and the use of behavioral evaluation tools, it was
possible to find which behaviors needed to be modified. The results obtained
showed that the use of strategies like the behavioral contract and the use of
positive reinforcement changed the child’s behavior.
In addition, kindergarten educators - in their own group – have to always
have in mind on their educational careers the use of positive interaction as a
fundamental requisite for the personal and social development of the child in its
totality in the present, and as well in the future.

Key-Words: Behavioral problems, Social Interaction, Emotional Competences,


Emotional regulation, Social skills, Kindergarten
AGRADECIMENTOS

Com o término de mais uma etapa da minha vida, quero agradecer:


Aos meus pais, pois sem o seu apoio não seria possível concretizar este
sonho.
À Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e ao respetivo corpo
docente, por me terem oferecido estes quatro anos gratificantes para a minha
formação pessoal e profissional.
Ao centro de estágio que me recebeu de forma acolhedora e me
proporcionou momentos que irão deixar saudades.
À educadora Mónica e à auxiliar Isabel que sempre me acompanharam e
apoiaram ao longo de todo o estágio, pois juntas formamos uma boa equipa e
adorei trabalhar com vocês.
À minha supervisora, Mestre Ivone Neves, que sempre me orientou e me
ajudou a evoluir na minha prática, através da partilha dos seus saberes, pelas
suas palavras de apoio que me motivaram para seguir em frente com a cabeça
erguida e nunca baixar os braços.
Aos meninos do meu grupo, que me proporcionaram um estágio incrível,
nunca vos vou esquecer, afinal foram o primeiro grupo que ajudei a formar.
À Joana, por se ter revelado e me ter feito rir muito ao longo destes meses.
À Cecília, Diana e Marina, que comigo também partilharam este caminho.
Àqueles que partilharam comigo estes quatro anos de vida académica e
ofereceram-me sempre apoio: Sara, Koca, Tixa, Cácá, Mariana, Tiago e em
especial à Cátia, a minha companheira das “Franças”.
A todos os meus amigos que de alguma forma contribuíram para a pessoa
que sou hoje, em especial, a Carolina, Sanú e Raquel.
Para finalizar, à minha amiga e irmã, Catarina, por ter sido a pessoa que
mais me compreendeu e teve paciência comigo. A sua disponibilidade e apoio
foram imprescindíveis e nunca irei esquecer. Obrigada por tudo!
ÍNDICE

Introdução ........................................................................................................ 6

Capítulo 1. Enquadramento Teórico ............................................................... 7

1.1. A importância da Educação Pré-Escolar no desenvolvimento da


Formação Pessoal e Social da Criança .......................................................... 7

1.1.1. Educar para a Cidadania ................................................................... 7

1.1.2. Conceções de Cidadania da Infância .............................................. 10

1.1.3. A influência do educador no desenvolvimento da Formação Pessoal


e Social da criança .................................................................................... 11

1.2. O Jardim-de-Infância como instância de interação social ...................... 13

1.3. A Regulação Emocional ......................................................................... 16

1.3.1. As bases da autoestima e os seus influentes no comportamento .... 18

1.4. Problemas de Comportamento .............................................................. 19

1.4.1. Como identificar crianças perturbadoras num grupo ........................ 20

1.4.2. O papel do educador e estratégias para modificar problemas de


comportamento ......................................................................................... 22

1.5. Contributo de alguns estudos sobre o tema ........................................... 26

Capítulo 2. Metodologias de Investigação ................................................... 28

2.1. Opções Metodológicas .......................................................................... 28

2.2. Pertinência do tema ............................................................................... 30

2.3. Instrumentos .......................................................................................... 30

2.3.1. Observação Participante ................................................................. 30

2.3.2. Entrevista Semiestruturada.............................................................. 31

2.3.3. Escala Revista de Conners (1997) .................................................. 32

2.3.4. Contrato Comportamental e Menu de Reforços ............................... 33

2.4. Sujeito de Estudo ................................................................................... 33


2.5. Análise e Tratamento de Dados ............................................................. 33

Capítulo 3. Contexto Organizacional ............................................................ 39

3.1. Caracterização da Instituição ................................................................. 39

3.2. Caracterização do Grupo ....................................................................... 43

3.2.1. Caracterização Sociofamiliar .............................................................. 48

3.3. Traçado das prioridades de intervenção conjunta ao nível da Instituição


..................................................................................................................... 50

Capítulo 4. Intervenção e Exigências Profissionais .................................... 52

Considerações Finais .................................................................................... 57

Bibliografia ..................................................................................................... 59

ÍNDICE DE ANEXOS

ANEXO I – Guião da Entrevista à Educadora

ANEXO II – Guião da Entrevista à Criança

ANEXO III – Escalas de Conners (1997)

ANEXO IV – Registos de Observação

ANEXO V – Pedido de Autorização ao Encarregado de Educação

ANEXO VI – Transcrição da Entrevista à Educadora

ANEXO VII – Análise de Conteúdo da Entrevista à Educadora

ANEXO VIII – Resultados da Escala de Conners para Professores

ANEXO IX – Resultados da Escala de Conners para Pais

ANEXO X – Contratos Comportamentais com a Criança

ANEXO XI – Registo da Autoavaliação Diária da Criança

ANEXO XII – Análise do Comportamento (Semanal)


ANEXO XIII – Transcrição da Entrevista à Criança

ANEXO XIV – Análise de Conteúdo da Entrevista à Criança

ANEXO XV – Reforços (Contrato Comportamental)

ANEXO XVI – Gráficos

ANEXO XVII – Registo Fotográfico

ANEXO XVIII – Plantas da Sala

ANEXO XIX – Algumas Reflexões (Portfólio Reflexivo)

ANEXO XX – Registo do Projeto Lúdico “As Abelhas”

ANEXO XXI – Grelha de Avaliação do Projeto Lúdico


INTRODUÇÃO

O presente relatório foi elaborado no âmbito da unidade curricular Estágio


inserida no Mestrado de Educação Pré-Escolar, posteriormente será
apresentado pela aluna em defesa pública para a obtenção do grau mestre. Este
relatório surge da intervenção realizada em contexto de jardim-de-infância, no
ano letivo 2014/2015, num grupo de cinco anos, sob a orientação da Mestre
Ivone Neves, para a aquisição de experiência na prática profissional.
Para facilitar a leitura do relatório, o mesmo encontra-se organizado por
capítulos, que por sua vez, encontram-se divididos por subcapítulos.
Primeiramente realizou-se um enquadramento teórico fundamentado por
referentes teóricos sobre a problemática detetada no contexto de intervenção,
sendo esta descrita no capítulo dois como objetivo de estudo.
No capítulo dois é feita referência à metodologia e aos instrumentos
utilizados para a recolha e tratamento de dados que possibilitaram o
esclarecimento dos objetivos delineados para a investigação. No terceiro
capítulo é evidenciado e analisado o contexto organizacional. Esta análise apoia-
se ainda numa caracterização sociofamiliar, das crianças e traçou-se as
prioridades de intervenção conjunta ao nível da instituição e comunidade.
O quarto e último capítulo é destinado à intervenção e às exigências
profissionais, onde é retratada a prática pedagógica desenvolvida ao longo do
estágio. No final, são apresentadas algumas considerações finais, onde se
procura evidenciar os fatores que contribuíram para o desenvolvimento e
crescimento pessoal e profissional, bem como, os aspetos positivos da
experiência vivida no estágio.
Importa referir que a prática profissional consistiu em preparar e criar os
pilares essenciais para o exercício da futura profissão, neste caso, como
educadora de infância.

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CAPÍTULO 1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1. A importância da Educação Pré-Escolar no


desenvolvimento da Formação Pessoal e Social
da Criança

1.1.1. Educar para a Cidadania

Quando se fala em educação, muitas vezes remete-se apenas para a


adquirição de conhecimentos, porém existe uma grande importância de educar
as novas gerações para o desenvolvimento de valores e atitudes positivas, ou
seja, dar tanto enfâse à aprendizagem emocional como à cognitiva. (Hargreaves,
2003).
O conceito de educação é considerado polissémico devido às várias
definições existentes para o mesmo. Cabanas (2002), na sua obra sobre a teoria
da educação, menciona uma definição defendida pela Liga Internacional da
Educação Nova, em que, “a educação consiste em favorecer um
desenvolvimento tão completo quanto possível das aptidões de cada pessoa,
quer enquanto indivíduo, quer como membro de uma sociedade regida pela
solidariedade.” (Cabanas, 2002, p. 57)
Neste sentido, a educação é um processo de desenvolvimento que
acompanha o individuo ao longo de toda a vida. Este processo é composto por
uma série de habilidades e valores, que proporcionam alterações intelectuais,
emocionais e sociais no indivíduo.
Segundo o relatório apresentado pela UNESCO, a educação baseia-se
em quatro pilares fundamentais para a formação dos indivíduos, sendo estes:

(…) aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão;


aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos,
a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas;
finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. (Delors,
2001, p. 77)

7
Ainda neste relatório é declarado que “a educação tem como objetivo
essencial, o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão social.” (Idem, p.
45). Por isso, existe a necessidade de ser incutida precocemente uma educação
para a cidadania, sendo esta considerada “uma necessidade inadiável de
qualquer projeto educativo.” (Jares, 2002, p. 89).
O documento proveniente do Ministério da Educação em 1997,
denominado por Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar
(OCEPE), referem que a educação para a cidadania está “baseada na aquisição
de um espírito crítico e da interiorização de valores, pressupõe conhecimentos e
atitudes que poderão iniciar-se na educação pré-escolar através da abordagem
de temas transversais.” (Idem, p. 55).
Parece portanto fundamental articular a teoria com a prática da cidadania,
ou seja, devem ser proporcionadas às crianças oportunidades para vivenciarem
situações em que avaliem as suas consequências. Comprovando com a opinião
de Jares (2002):

(…) se quisermos que a escola forme pessoas democráticas e


participativas, ela própria terá de estar organizada de acordo com estes
pressupostos. Isto porque a aprendizagem dos valores e das regras sociais não são
para ser inculcadas mas para serem praticadas, devendo por isso articular-se o
processo educativo com os princípios que norteiam a ideia de cidadania que se
pretende promover. (Idem, p. 99).

Assim, importa definir a educação pré-escolar, segundo a Lei-Quadro,


sendo esta:

(…) a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao


longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família, com a qual deve
estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento
equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como
ser autónomo, livre e solidário. (Lei nº5/97 de 10 de fevereiro).

A partir desta definição, verifica-se que a educação pré-escolar educa


desde logo, para a convivência, transmitindo assim os valores necessários para
a vida em sociedade. Referindo a opinião de Vasconcelos (2007):

O jardim-de-infância, enquanto organização social participada, pode e deve


proporcionar às crianças, de modo sistemático, uma das suas primeiras
experiências de vida democrática. No jardim-de-infância a criança deixa de ser o
centro, para se tornar um entre outros. Ela vai aprender a viver em grupo, a trabalhar
com os outros, com a consequente distribuição de tarefas e gestão dos problemas
de forma participativa. Aprende a ser autónoma nestas tarefas e a recorrer ao adulto
como mediador, quando necessário. (Idem, p. 112).

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Além desta perspetiva, também Jares (2002) defende que o “sistema
educativo, juntamente com a família (…) é confiada a aprendizagem das normas
de convivência (…) para se viver em sociedade.” (Idem, p. 89). Ou seja, a
educação para a cidadania não é somente responsabilidade do contexto
educativo, mas também da família e naturalmente de toda a sociedade.
Deste modo, para ser implementada uma educação com qualidade, é
necessário desenvolver desde a primeira etapa educativa, o desenvolvimento
dos indivíduos no seu todo. Este princípio é fundamentado em alguns dos
objetivos pedagógicos apresentados pela Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar:

a) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em


experiências de vida democrática numa perspetiva de educação para a cidadania;
b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito
pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência do seu
papel como membro da sociedade; (Lei nº5/97 de 10 de fevereiro).

Também a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), lei nº46/86 de 14


de outubro, atribui importância à educação para a cidadania, sendo esta
apresentada através dos princípios gerais 4 e 5 do sistema educativo:
4- O sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade
social, contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade
dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis,
autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho.
5- A educação promove o desenvolvimento do espírito democrático e
pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca
de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo
o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação
progressiva.

Em suma, no documento da Divisão da Educação Pré-Escolar e Ensino


Básico (DEPEEB), refere que, “a educação pré-escolar cria condições para o
sucesso da aprendizagem de todas as crianças, na medida em que promove a
sua autoestima e autoconfiança, e desenvolve competências que permitem que
cada criança reconheça as suas possibilidades e progressos.” (DEPEEB, 2006,
p.15).
Posto isto, é importante referir que o sistema educativo para dar resposta
à legislação estabelecida, intercedeu, de modo, a possibilitar um espaço e tempo
dedicados à promoção dos valores necessários para o desenvolvimento pessoal
e social nos contextos educativos. (Pedro, 2002). Intervenção essa, realizada
com a introdução da área de Formação Pessoal e Social.

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1.1.2. Conceções de Cidadania da Infância

Como já foi referido, o jardim-de-infância, promove o desenvolvimento


pessoal e social da criança e prepara-a para a prática da cidadania. A cidadania
na infância é algo proclamado na Convenção sobre os Direitos da Criança
(CDC), em que a criança é vista como portadora de direitos, o que implica a
necessidade de reconhecer que os seus atos influenciam a vida coletiva.
Segundo um trabalho apresentado por Sarmento (2006, in Vasconcelos,
2007) existem cinco tipos de cidadania essenciais a ter em conta na construção
da cidadania na infância, sendo estas:
Cidadania Social que “afirma a importância de aceitar a voz das crianças
como expressão legítima de participação na vida da cidade.” (Idem, p. 113).
Logo, salienta-se o facto de a criança ter uma participação ativa na vida em
sociedade, o que implica que a mesma contribua com atitudes de respeito,
tolerância, cooperação, partilha.
Cidadania Participativa “como forma de auscultação de opinião da
criança e de produção de formas de decisão.” (Ibidem). Ou seja, “a criança tem
o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre questões que lhe digam
respeito e de ver essa opinião tomada em consideração.” (UNICEF, 2004, p. 10).
Também é necessário chamar atenção para o papel dos agentes educativos
(pais, família, educadores), que devem ajudar a criança na análise e crítica das
suas escolhas.
Cidadania Organizacional consiste na “necessidade de proporcionar às
crianças a pertença a comunidades de aprendizagem, procurando a
desburocratização da escola, investindo numa organização curricular aberta.”
(Ibidem). Neste caso, pode-se fazer referência ao espaço jardim-de-infância,
visto que, é um espaço onde as crianças são reconhecidas como cidadãs,
membros participantes de um grupo, convivem com outras crianças, criando
assim laços, valores e sobretudo o desenvolvimento das suas habilidades
sociais. Isto permite à criança desenvolver diferentes modos de expressão
através do diálogo, confronto, deliberação e pensamento crítico.
Cidadania Cognitiva,

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(…) decorrente de formas múltiplas de aceder ao conhecimento. Neste
sentido se pode entender as perspetivas de Loris Malaguzzi, fundador das escolas
de Reggio Emilia, quando fala das «cem linguagens» da criança, ou corroborar a
«Teoria das Inteligências Múltiplas» de Howard Gardner (1985) que afirma uma
multiplicidade de formas de exercício cognitivo e de apropriação da realidade pelo
intelecto. (Idem, p. 114).

Nesta cidadania a criança tem diversas formas de aceder ao


conhecimento e a oportunidade de ser a construtora do mesmo.
Cidadania Intima “é o espaço de afirmação da identidade e da alteridade,
de reconhecimento de uma diferença não menorizante no que toca género,
cultura, religião, origem social ou étnica, língua, etc.” (Ibidem). Esta cidadania
promove a capacidade de ultrapassar estereótipos e de aceitação da diferença,
colocando o outro no centro, bem como, colocando limites à nossa própria
individualidade.
Dada a pertinência que estes tipos de cidadania integram, podemos
considerar que constituem as bases de um perfil desejável de cidadania. De
salientar ainda que estas dimensões estão interligadas configurando uma
identidade participativa e socialmente integrada.

1.1.3. A influência do educador no desenvolvimento da


Formação Pessoal e Social da criança

A designação de educador de infância passa por vários estigmas sociais


relativamente às suas funções. Contudo, Oliveira-Formosinho (2000), refere que
“(…) a acção profissional dos educadores de infância desenvolve-se numa
interligação profunda entre o educar e o cuidar dada a vulnerabilidade que
apresentam as crianças desta idade.” (Oliveira-Formosinho, 2000 in Pires, 2007,
p. 44)
Deste modo importa realizar uma análise do perfil do educador de
infância, tendo em conta o Decreto – Lei nº 241/2001, de 30 de Agosto, no qual
são aprovados os perfis específicos de desempenho profissional do educador de
infância e do professor do 1º ciclo do ensino básico. No que diz respeito à
educação pré-escolar, o educador deve conceber e desenvolver o currículo,
planificando, organizando e avaliando o ambiente educativo, bem como as

11
atividades e projetos curriculares, com vista à construção de aprendizagens
integradas.
Relativamente à organização do ambiente educativo, o educador deve
dispor o espaço e os materiais de modo a disponibilizar e a utilizar recursos
apelativos, lúdicos e diversificados. Esta organização deve proporcionar ao
grupo o desenvolvimento da sua autonomia, independência, oportunidade de
escolha e responsabilização. Ou seja, “este processo de desenvolvimento
pessoal e social decorre de uma partilha entre o educador, as crianças e o
grupo.” (OCEPE, 1997, p. 53). Além disso, o educador deve procurar tornar o
ambiente educativo num lugar acolhedor, para que, a criança possa estar em
grupo ou de forma individual, fomentando assim a cooperação entre as crianças,
para que todas se sintam valorizadas e integradas no grupo.
O educador na sua prática deve ter em conta as propostas e ações que
as crianças vão apresentando, uma vez que, deve atuar em conformidade com
os seguintes níveis de intervenção: o observar, o planear, o agir, o avaliar, o
comunicar e o articular. (Idem, p. 26). Desta forma, o educador, ao escutar e ao
observar a criança irá contribuir para que a própria participe ativamente na
construção e na descoberta de novas aprendizagens.
A observação deve estar presente constantemente na prática do
educador, para que este possa identificar as competências que as crianças já
adquiriram, assim como, quais são as suas necessidades e interesses, tendo
essas observações em conta na realização da sua planificação. Neste sentido,
o educador planifica a sua intervenção de forma integrada e flexível, com o intuito
de proporcionar aprendizagens nos vários domínios curriculares.
De salientar ainda, um aspeto importante na intervenção do educador,
que se refere à avaliação. O educador deve avaliar as crianças, bem como a si
próprio. Deste modo, é importante criar momentos de revisão e reflexão, para
dar voz às crianças de falarem, mostrarem, criticarem aquilo que realizaram.
“Para além disso, ao pensarem sobre as coisas, começam a perceber que
podem fazer as coisas acontecer, aprender coisas novas e resolver os seus
próprios problemas.” (Hohmann & Weikart, 2011, p. 341).

12
Além destes momentos de revisão e reflexão proporcionados para as
crianças, o educador também deve ser um educador reflexivo relativamente à
sua intervenção. “Em Educação de Infância, a reflexão consiste numa ação que
leva à reestruturação de práticas educativas para o melhor atendimento e
desenvolvimento global da criança.” (Pinheiro, Neves, Pinho, Santos, Oliveira &
Marques, 2007, p. 130). Ou seja, através de uma prática reflexiva, o educador,
poderá criar uma formação crítica e ser capaz de analisar situações e contextos
que vivencia, possibilitando uma resolução de problemas eficaz. Deste modo,
estará a adaptar a sua prática às necessidades das crianças e
consequentemente a influenciar na resposta às necessidades e solicitações das
mesmas.

1.2. O Jardim-de-Infância como instância de interação


social

A criança no decorrer do seu desenvolvimento social é submetida a


“fatores socialmente determinados por um grupo, capazes de influir na pessoa
dentro deste grupo.” (Grünspun, 1981, p. 295). O que significa que a criança
adota atitudes de conduta de acordo com a sua realidade e contexto vivenciado.
“O comportamento humano seja ou não adequado, é resultante das inter-
relações que se estabelecem entre os indivíduos e os grupos.” (Gotzens, 2003,
p. 152). É na entrada para o jardim-de-infância que a criança começa a
desenvolver as suas competências e habilidades sociais, isto é, um “conjunto de
comportamentos que geralmente leva a criança a ser aceita pelas outras como
amiga ou como parceira para brincar.” (Boyd & Bee, 2011, p. 290).
Importa deste modo referir, os marcadores de desenvolvimento emocional
em relação à interação social nestas idades, para uma melhor compreensão das
características emocionais das crianças, sendo estas, fortes influenciadores nos
seus comportamentos. Neste sentido, segundo Bar-On e Parker (2002), em
idade pré-escolar, as crianças enfrentam e devem ter a capacidade de regular

13
emoções de constrangimento, contudo ainda procuram o apoio do adulto, mas
já é notável nesta idade uma maior capacidade de resolução de problemas.
Quanto ao seu comportamento expressivo, em idade pré-escolar, a
criança já adota uma postura emocional tranquila com outras crianças.
Relativamente à construção de relacionamentos, a criança tem maior
coordenação de capacidades sociais perante as suas emoções e as emoções
dos outros. Surge ainda nesta idade, a perceção do que é consensualmente
aceite. À medida que as crianças adquirem as capacidades emocionais, “elas
demonstram, em seu comportamento, as consequências da competência
emocional.” (Idem, p. 71). Sendo essas:
Administração da emoção: “capacidade de administrar suas próprias
emoções de forma eficaz, (…) para que (…) seja capaz de negociar o seu
caminho por meio de interações interpessoais.” (Idem, p. 72). Ou seja, a criança
deve ser capaz de regular as suas emoções perante situações desafiadoras e
adversas.
Bem-estar subjetivo e resiliência adaptativa: é a capacidade de “evitar
uma excitação emocional negativa perante situações sociais de alta
intensidade.” (Idem, p. 74). No caso das brincadeiras cooperativas, se a criança
não interagir de forma agressiva com os pares, ou começar a gritar e correr
freneticamente, está a evitar expor-se a interações sociais negativas e procura
responder de modo mais construtivo e socialmente competente.
Portanto, no jardim-de-infância, a criança começa a aprender que
determinados comportamentos são adequados e que existem regras de
convivência social, enquanto outros comportamentos são menos corretos
causando transtornos ou situações menos agradáveis. É neste espaço de
comunicações interpessoais que são vivenciados os primeiros conflitos e
confrontos, numa realidade distinta e menos protegida que no núcleo familiar.
É ainda neste contexto que é possível detetar precocemente prováveis
problemas de comportamento que influenciam negativamente o
desenvolvimento e aprendizagem da criança. Logo, quanto mais cedo for
realizada uma intervenção para modificar esses comportamentos, tanto melhor.

14
No entanto Lopes (2003) menciona que, o contexto escolar não é só um
meio de identificar esses problemas de comportamento, mas também um meio
para a moldagem dos mesmos, ou seja, uma criança pode adquirir
comportamentos menos adequados a partir da convivência com os pares que
apresentem esse mesmo tipo de comportamentos.
Paralelamente, é importante mencionar o papel da família, sendo esta o
primeiro contato social da criança, antes de ingressar no jardim-de-infância, e
sendo “(…) a principal modeladora da criança (…).” (Alcántara, 2000, p. 83).
Para evitar os problemas de comportamento, para além da idade normal,
é primeiramente fundamental um trabalho precoce por parte dos familiares,
sendo por vezes recorrida à chamada disciplina. A disciplina é sinónimo de
aprendizagem e desempenha um papel importante nas conquistas da criança
(Brazelton & Sparrow, 2013). Os mesmos autores acreditam que a disciplina
transmite segurança para as crianças, porque sem ela não há limites.
Salientam ainda que, o objetivo da disciplina a longo prazo é promover o
autocontrolo, para que a criança futuramente se torne autónoma e estabeleça os
seus limites; que reconheça os seus sentimentos, que os identifique, os expresse
ou mantenha-os guardados; que tenha a perceção dos sentimentos dos outros;
que desenvolva um sentimento de justiça e a motivação para adquirir
comportamentos justos; e que se torne altruísta, para que ajude os outros.
Assim, estas aprendizagens devem ser incutidas na infância, ao contrário, mais
tarde a sua aquisição será mais complicada.
A exigência de regras e a transmissão de valores éticos e morais por parte
dos pais nos primeiros anos de vida devem ser vistas como manifestações de
afeto e não de punição.

Ao aprender com os adultos o que é ou não aceitável, ao aprender com um


adulto compreensivo, mas firme, a ganhar o controlo sobre o ego em desintegração,
uma criança começa a aprender a impor limites a si própria. A disciplina constitui,
pois, o papel de um pai ou uma mãe. (Brazelton, 1998, p. 105)

Além da disciplina, a família tem um papel importante na valorização dos


aspetos positivos da criança, ou seja, na promoção da sua autoestima. Neste
sentido a família deve, ser um bom modelo de autoestima; deixar de ser
demasiado protetora, contudo a criança deve-se sentir um membro importante e

15
para isso basta valorizar as suas opiniões e contributos; devem elogiar a criança
em todas as boas condutas mesmo que sejam mínimas e insignificantes.
(Alcántara, 2000).

1.3. A Regulação Emocional

A inteligência emocional

envolve a capacidade de perceber, avaliar e expressar emoções com


precisão; a capacidade de acessar e /ou gerar sentimentos quando estes facilitam
o pensamento; a capacidade de entender as emoções e o conhecimento emocional
e a capacidade de regular emoções para promover o crescimento emocional e
intelectual. (Mayer & Salovey. 1997 in Bar-on & Parker, 2002, p. 74 )

Seguindo o pressuposto destes autores, uma das características


definidoras da inteligência emocional é a capacidade de regular emoções.
Bar-on e Parker (2002) defendem que “a capacidade de regular emoções
torna-se mais sofisticada durante os anos pré-escolares e da tenra infância.”
(Idem, p. 185). Como já foi referido anteriormente, é no jardim-de-infância que
as crianças começam a desenvolver as suas habilidades sociais e para isso é
importante que as crianças reconheçam e entendam as emoções. Deste modo,
antes de mais, as crianças devem ter a capacidade de refletir sobre as suas
emoções e também de compreendê-las.
Os mesmos autores salientam que estas aprendem a entender, a
expressar e a regular as suas emoções através das interações com os pares. Só
quando a criança interage com os outros é que é possível verificar a presença
das suas capacidades de regulação emocional. “Os investigadores concordam
que indivíduos emocionalmente inteligentes são capazes de regular, assim como
de perceber e gerar expressões emocionais de forma precisa, e que essa
capacidade se desenvolve durante a vida.” (Ibidem).
Neste sentido, segundo estes referentes teóricos, podemos averiguar que
as características comportamentais apresentadas por crianças perturbadoras
aparentam uma inteligência emocional pouco desenvolvida.
Contudo, quando as crianças são capazes de regular as suas emoções,
pode-se reconhecer que possam ser resilientes, isto porque, a resiliência

16
consiste na capacidade que os indivíduos têm de enfrentar adversidades da vida
com êxito e até saírem beneficiados delas. (Melillo, Ojeda et al, 2005).
Porém, os autores referem que a postura resiliente perante as
adversidades de algum modo pode ser influenciada se a criança tiver um apoio
sustentado, ou seja, “ter a estrutura social disponível para ela.” (Bar-on & Parker,
2002, p. 74). Já uma criança que tenha “um apoio social pequeno ou
inconsistente de figuras de apego irá expor sua vulnerabilidade.” (Ibidem).
Contudo, é possível proporcionar às crianças um desenvolvimento da sua
inteligência emocional, através da educação para a literacia emocional. Segundo
Steiner e Perry (2000), “a literacia emocional melhora as relações, aumenta as
possibilidades de criação de relações afetivas entre as pessoas, (…) e facilita o
sentimento comunitário.” (Idem, p. 25). É na infância que melhor se desenvolve
a literacia emocional, visto que, as informações são apreendidas através dos
exemplos que a criança segue. (Ibidem). Deste modo, o papel do adulto é
fundamental, pelo facto de ser ele o maior exemplo a seguir para a criança. Posto
isto, este deve ter atenção aos seus próprios atos e atitudes perante e para com
a criança.

As crianças vão adoptar os hábitos emocionais que se encaixam no modo


com se encaram a elas próprias: rezingão, doce, imperturbável, impaciente,
complicado, santo, malvado. Quando as crianças começam a atuar de uma
determinada maneira, elas acabam por ser rotuladas de boas ou más, felizes ou
infelizes. (Idem, p. 201).

As crianças devem ser educadas a partir de uma autoestima positiva, para


que não se sintam rotuladas e não adequem permanentemente comportamentos
menos adequados. Desta forma, as crianças terão a orientação emocional
necessária, para que consigam estabelecer um melhor relacionamento com os
pares e terem menos problemas de comportamento. (Gottman & DeClaire,
1999).
Neste sentido, a tarefa do adulto, tanto no contexto escolar como familiar,
é ter em atenção a forma como aborda a criança, assim como deve proporcionar
sempre interações positivas, visto que, a criança reproduz tudo aquilo que lhe é
transmitido. Por essa razão, cada vez mais os educadores de infância trabalham
em conjunto com as famílias. Se a criança não obtiver uma orientação emocional

17
necessária num dos contextos, naturalmente as estratégias aplicadas poderão
não obter os resultados esperados.

1.3.1. As bases da autoestima e os seus influentes no


comportamento

A autoestima é uma atitude que o indivíduo tem para consigo mesmo.


(Alcántara, 2000). Segundo Sequeira (1948), a autoestima “é a apreciação do
valor próprio sem minimização nem superiorização em relação aos outros. A
autoestima traz satisfação e gera autoconfiança que leva a enfrentar a vida com
coragem.” (Sequeira, 2012, p. 179). Neste sentido, o indivíduo deve valorizar-se
e ter confiança em si mesmo, isto porque, como refere o autor, “para nos darmos
aos outros temos de apreciar-nos a nós próprios.” (Ibidem). Isto é, uma criança
que não gosta de si mesma também não irá transmitir empatia pelos outros.
O mesmo autor sintetiza a autoestima como um estado mental que
funciona em torno do sistema de valores que o indivíduo tem adquirido, fazendo
portanto uma acoplagem com aquilo que pensa e faz. Um pensamento e uma
atitude adequada por parte do indivíduo possibilita uma relação social positiva,
em que, são reconhecidos os valores e a afirmação de si com os pares e dos
pares, facultando um modelo de autoconfiança em ambas as partes. (Alcántara,
2000).
Posto isto, no que concerne ao contexto de jardim-de-infância, o educador
deve apostar numa valorização positiva da autoestima nas suas crianças, tendo
este como um dos objetivos fundamentais a alcançar no desenvolvimento das
mesmas. (Ibidem). Sendo os problemas comportamentais uma resposta
inadequada aos direitos dos outros e às normas de conduta é absolutamente
pertinente um trabalho em torno de uma autoestima positiva.
Uma educação para a autoestima positiva oferece vantagens para a
criança, principalmente quando esta encontra-se na aprendizagem e adquirição
das suas habilidades sociais, que consequentemente causará um impacto
positivo nos seus comportamentos e oferecendo uma preparação em pleno para
a vida social.

18
Segundo o mesmo autor, frequentemente são observadas crianças
indisciplinadas e agitadas, “porque essa é a imagem que têm de si mesmos e
que muitas vezes nós educadores reforçamos com as nossas sanções
imprudentes.” (Idem, p. 10). Este autor defende que para haver mudança no
comportamento destas crianças, o educador deve apelar com base nas
qualidades da criança e captar a sua atenção para valores positivos.
“Educar é suscitar a autoestima. Se nós, educadores, descurarmos esta
tarefa, abandonaremos a tarefa prioritária.” (Idem, p.15)

1.4. Problemas de Comportamento

A definição de problemas de comportamento tem várias conceitos,


critérios e possibilidades de diagnóstico dependendo dos seus investigadores.
O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-
5), chama a atenção para a dificuldade da obtenção de um diagnóstico destes
problemas na infância devido a determinados comportamentos serem
caraterísticos da fase de desenvolvimento em que a criança se encontra e não
ser necessariamente um problema de comportamento associado a categorias de
necessidades especiais (NE). Em idade pré-escolar a criança ainda está a
desenvolver as suas habilidades sociais e por vezes, esta pode ser disruptiva,
impulsiva, teimosa e resolve os seus conflitos interpessoais recorrendo a
posturas agressivas, sendo difícil, muitas vezes delimitar a fronteira entre o que
é normal e o que é patológico (Grillo & Silva, 2004).
No entanto, Paasche, Gorrill e Strom (2010) definem um problema de
comportamento quando uma criança “exibe um comportamento ou emoção
exagerados ou o oposto (…). Pode igualmente ser considerado um problema o
facto de a criança exibir um comportamento inadequado para um determinado
contexto.” (Idem, p. 131).
Porém, Ramalho (2006) refere que, os problemas de comportamento
surgem quando se permite que as crianças tenham atitudes inapropriadas como
a agressão física e verbal, a falta de respeito pelos outros, o incumprimento de
regras, a desobediência, o desafio, ou seja, tenham comportamentos

19
indisciplinares. Contudo este autor, assim como Paasche, Gorrill e Strom (2010),
averiguam que, estes tipos de comportamentos só são considerados graves
quando acontece muitas vezes e durante um determinado período tempo, sendo
normal que na primeira infância a criança tenha comportamentos de oposição.
“Só quando um comportamento inadequado se prolonga por muito tempo, ocorre
frequentemente, com grande intensidade é que é visto como um problema
comportamental/emocional ou de interação social. (Idem, p. 131).
Outros autores como Caballo, Simón e Dolinsky (2005) afirmam que,
existem duas dimensões para classificar os problemas de comportamento: os
comportamentos de manifestação externa (excesso de atividade, agressão) e
interna (isolamento, depressão, ansiedade, problemas de atenção). Os
comportamentos de dimensão externa correspondem a atos dirigidos aos outros
e de dimensão interna correspondem a sentimentos ou estados de espírito.
Neste sentido, as manifestações externas são as mais frequentes,
principalmente no sexo masculino, assim como DSM-5 defende. “Os meninos
manifestam mais dificuldades que as meninas durante a primeira e média
infância, especialmente com relação os transtornos de comportamento
perturbador.” (Caballo, Simón & Dolinsky, 2005, p. 32).
A comunidade educativa manifesta cada vez mais a necessidade de
intervir e corrigir esses problemas de comportamento, “porque percebem neles
níveis preocupantes de risco e ameaça, inclusive para a integridade física das
pessoas.” (Gotzens, 2003, p. 13). De ressaltar que existe uma grande
diversidade de problemas de comportamento, em que se evidencia a pertinência
de aplicar estratégias de disciplina distintas, de acordo com o objetivo
comportamental que a criança apresenta e que os agentes educativos (pais,
educadores) pretendem atingir. (Idem).

1.4.1. Como identificar crianças perturbadoras num grupo

Quando uma criança está inserida num grupo, neste caso, um grupo pré-
escolar, esta deve ser capaz de se integrar no quotidiano do mesmo,
desenvolvendo comportamentos de cooperação. “Estes pressupõem adoção de

20
um comportamento individual que tem em conta a vida em grupo, o
reconhecimento de diferentes papéis sociais e o respeito pelas regras e
princípios de vida em comum (e.g., escutar, ajudar, ter iniciativas, cuidar).”
(Portugal & Laevers, 2010, p.39). Também as OCEPE, referem este fato de
forma mais detalhada, em que a criança

(…) terá, por exemplo, que ser capaz de aceitar e seguir regras de
convivência e de vida social, colaborando na organização do grupo; saber escutar
e esperar pela sua vez para falar; compreender e seguir orientações e ordens,
tornando também as suas próprias iniciativas sem perturbar o grupo; ser capaz de
terminar tarefas. (OCEPE, 1997, p. 91).

No entanto quando estes pressupostos não são concretizados, estamos


perante um caso de perturbação, que em relação a um grupo causa influência
no seu quotidiano. Como comprova Gotzens (2003), “o grupo escolar (…) são
conjuntos de pessoas cujas atitudes e ações afetam, em maior ou menor grau,
os demais membros.” (Idem, p. 25). Contudo, Lopes (2003) afirma que, os
membros perturbadores de um grupo podem evidenciar-se de forma grupal ou
apenas um membro pode-se revelar potencialmente perturbador.
Graubard (1973) apresenta a seguinte definição da atitude da criança
perturbadora:

Definem-se as incapacidades comportamentais como sendo um tipo de


comportamentos excessivos, crónicos e desviantes, que vão desde os atos
impulsivos e agressivos até aos atos depressivos e de afastamento, que frustram
as expetativas do recetor no que diz respeito aquilo que considera ser adequado, e
que o recetor quer ver eliminados. (Lopes, 1993, p. 15).

Esta definição diz-nos que ao depararmo-nos com uma criança


perturbadora, podemos deparamo-nos com dois extremos (de agressivos a
depressivos), extremos esses que correspondem às duas dimensões que
classificam os problemas de comportamento referidos anteriormente. Estas
situações criam enormes desafios para o educador trabalhar e modificar,
causando por vezes sentimentos de frustração quando os comportamentos não
se apresentam os mais adequados.
A partir de uma observação ao comportamento infantil efetuada pelo
pediatra e educador, Dreikurs (1970 in Gotzens, 2003), este assinalou quatro
objetivos que resumem os propósitos da criança perturbadora, sendo estes:

21
Conseguir a atenção dos adultos que incluem comportamentos como,
“fazer palhaçadas, travessuras, atitudes caraterísticas do enfant terrible,
instabilidade, arrogância, desordem, timidez exagerada, falta de concentração,
ansiedade, temores, etc.” (Idem, p. 145);
Manifestar o seu poder, desafiando o adulto que, ao tentar dominar a
situação, reforça ainda mais o valor do poder. Os comportamentos adjacentes a
esta situação são, a “desobediência, obstinação, desafio, impaciência, hábitos
inadequados – chupar o dedo, cutucar o nariz -, (…) mentir (…).” (Ibidem).
Desejo de vingança, onde tentam causar algum dano aos outros, com a
certeza que ao atingi-los da mesma forma em que o magoam terá o seu lugar
que lhe pertence, o mesmo faz referência “a comportamentos violentos e de
agressão a pessoas ou coisas.” (Ibidem).
Ser prestigiado, demonstrando qualquer incapacidade, real ou
imaginária que “inclui comportamentos de indolência, desinteresse simulado,
inépcia ou total passividade.” (Idem, p. 146).
Neste sentido estes quatro objetivos facilitam a deteção de um perfil
diferencial de um comportamento de indisciplina, para posteriormente ser feita
uma intervenção adequada segundo a problemática analisada.

1.4.2. O papel do educador e estratégias para modificar


problemas de comportamento

Um educador deve estar atento e avaliar as atitudes do seu grupo para


ser-lhe possível identificar e conhecer precocemente fatores de risco, quer para
detetar problemas comportamentais, quer para promover de forma intencional e
sistemática estratégias de desenvolvimento positivas (Lopes, 2003).
Laevers (1997, in Portugal & Laevers, 2010) apresenta uma lista de
estratégias para o educador tomar as medidas necessárias junto de uma criança
que demonstra problemas de comportamento, sendo estas:
Apoio e atenção positiva, em que, “algumas crianças provocam
continuamente atenção negativa através de mau comportamento.” (Idem, p.

22
120). Nesta medida os autores defendem que, o educador deve sempre, que for
identificado, um comportamento adequado por parte da criança, dar-lhe uma
atenção positiva. Caso contrário, nos comportamentos que sejam menos
adequados, que não sejam graves, deve-se ignorar e evitar a confrontação.
“Ignorar significa não dar atenção e indicar que o comportamento em causa “não
me aquece nem arrefece”, sendo importante que outros adultos presentes
tenham idêntica atitude.” (Idem, p. 121).
Os autores referem ainda que, o educador deve assegurar à criança
condições para obtenção de conquistas, sendo estas proporcionadas através de
atividades simples para que a criança vivencie a sensação de triunfo.
Trabalho em torno de emoções é importante porque,

Muitas crianças não têm oportunidades de explorar e expressar as suas


emoções, não compreendendo o que se passa com elas. Muitas emoções
permanecem enclausuradas, não são faladas e as dificuldades emocionais podem
surgir. Trabalhar emoções ajuda as crianças a perceberem melhor as suas
experiências internas e a lidarem com elas de uma forma mais positiva. (Idem, p.
122)

Neste sentido, o educador deve trabalhar as emoções através de


atividades especificas que permitam explorar e lidar com as mesmas, por
exemplo, os autores mencionam o uso de histórias infantis que referem
acontecimentos experienciados pelas crianças e a sua exploração pode ajudá-
las a lidar com os sentimentos face às situações (divórcio, hospitalização, morte
de um familiar, nascimento de um irmão…). O jogo de “faz-de-conta” também é
referido, como uma estratégia em que a criança “pode reviver e lidar com
experiências com forte carga emocional.” (Ibidem). Os materiais de desenho,
pintura ou outras expressões que existem em abundância numa sala de jardim-
de-infância, também podem ajudar a criança a lidar com as emoções de forma
positiva.
Trabalho em torno de competências sociais, em que as crianças
“percebem melhor as situações sociais e aprendem a lidar com os conflitos de
uma forma mais positiva, pois aprendem a colocar-se na perspetiva do outro e a
considerar o seu vivido na tomada de situações.” (Idem, p. 124). Deste modo, os
autores referem que, o educador deve criar situações em que a criança vivencie
e participe ativamente em atividades conjuntas, de forma a “construir interações

23
sociais simples e positivas e apoiando a criança nos seus contactos sociais,
providenciando-lhe bons modelos ou funcionando como modelo.” (Ibidem).
Como estratégias, os autores referem que o educador deve, elogiar o
comportamento de outra criança, de forma que a criança em “dificuldade” se
aperceba, assim ela irá perceber o modelo de comportamento aceite. Quando
se trabalha com histórias, o educador também pode usar o comportamento das
personagens para fazer alusão a alguma competência social.
“Um questionamento por parte do educador em torno de questões
emocionais e sociais é também muito importante.” (Ibidem). Ou seja, os autores
defendem algumas questões pertinentes que o educador deve fazer a uma
criança que demonstre comportamentos inadequados, por exemplo, questionar
“Já alguma vez foste gentil ou simpático? Vamos falar sobre isso? O que é que
achas que leva as pessoas a serem simpáticas umas com as outras?” (Idem, p.
125). Estas questões farão toda a diferença na reflexão da criança em relação
ao seu comportamento.
Controlo de impulsos e libertação de energia, em que,

(…) algumas crianças acumulam tanta tensão e energia que não são
capazes de a controlar, manifestando nervosismo ou mesmo comportamento
violento. As crianças necessitam de libertar a tensão de alguma forma, pelo que é
importante providenciar atividades vigorosas. Note-se que a libertação de energia
por si só pode não resolver os problemas da criança, mas poderá acalmá-la um
pouco e torna-la mais disponível para outras atividades. (Idem, p. 128)

Desta perspetiva, os autores referem como estratégias para o educador,


o trabalho através de atividades no exterior e experiências físicas,
nomeadamente, trabalho em madeira, modelagem com argila ou massa de
farinha, que são recursos para um escape físico para as suas emoções.
Nesta medida, os autores pronunciam a questão da punição e defendem
que “deve ser usada em apenas ultimo recurso e em forma de retirada de
privilégios (e.g., proibição de realizar uma determinada atividade).” (Idem, p.
131).
Estrutura, regras e limites, é necessária porque “as crianças necessitam
de estabilidade e de referências, ou seja, de estrutura, regras e limites.” (Idem,
p. 132). Nesta medida, os autores referem a criação de rotinas como um fator
importante para o dia-a-dia da criança porque, “oferece à criança confiança,

24
reduz a confusão e, por conseguinte, a probabilidade de surgirem
comportamentos desorganizados”. Salientam ainda “o comportamento
inadequado da criança é despoletado pelo medo ou pela confusão perante a
incerteza dos acontecimentos.” (Ibidem).
Quanto às regras, os autores referem que são necessárias e devem ser
facilmente compreendidas pelas crianças, ou seja, as regras devem ser impostas
às crianças de forma positiva, como por exemplo, “na sala anda-se devagar, em
vez de, não se corre na sala.” (Ibidem).
Com estas propostas apresentadas pelos autores o educador tem várias
estratégias em que abordam as diversas áreas de conteúdo, podendo assim
diversificar as atividades que apresenta.
Numa perspetiva mais individualizada, os autores Lopes (1993) e Kearney
(2009), apresentam ambos, planos individualizados de mudança de
comportamentos. Planos esses, que consistem num contrato comportamental e
na criação de um “sistema de créditos” para Lopes (1993), ou denominado “menu
de reforços” para Kearney (2009).
Um contrato comportamental consiste num “acordo entre duas (…)
pessoas, estipulando as responsabilidades dessas pessoas (…).” (Lopes 1993,
p. 78). Este contrato tem como objetivo mudar o comportamento da criança. Para
uma maior eficácia,

(…) é mais fácil mudar o comportamento, se as pessoas cujos


comportamentos estão a ser alvo de mudança souberem exatamente o que se
espera que façam e quais serão as suas consequências, tanto se o seu
desempenho for aceitável, como senão o for. (Kearney, 2009, p. 109).

Esta formalidade pode motivar a criança a cumprir as condições do


contrato. (Kearney, 2009). De salientar que o contrato deve ser feito com base
no reforço positivo. Para recompensar o cumprimento das condições do contrato
ou pela apresentação de um comportamento adequado, os autores referidos
anteriormente, propõe uma estratégia de oferta de um determinado prémio.
Contudo, estes dois autores apresentam a mesma estratégia com uma pequena
diferença entre eles.
Lopes (1993) defende que o sistema de créditos consiste em entregar à
criança créditos (bilhetes, selos, estrelas…) após determinado comportamento

25
adequado. Posteriormente esses créditos poderão ser trocados por um reforço
de apoio (objeto, privilégio, usufruto). (Idem). O número de créditos, bem como
o reforço de apoio, são previamente definidos entre o educador e a criança.
Kearney (2009) defende o menu de reforços, que funciona na mesma
lógica que o sistema de créditos de Lopes (1993), mas este apresenta mais que
um reforço de apoio, ou seja, apresenta um menu de reforços de apoio. “Se for
usado apenas um reforço, em breve qualquer um se sentirá farto dele e este
perderá a sua eficácia. Porém, ao oferecermos uma seleção de reforços à
escolha, aumentamos a probabilidade de termos algo que seja apelativo.”
(Kearney, 2009, p. 110).
Para a implementação destas estratégias, o educador deverá conhecer a
criança para descobrir qual o reforço adequado para ela e despender de um
tempo para ouvir a criança e falar com ela, de maneira a fazê-la refletir no seu
comportamento e a partir daí ir adequando o plano de modificação do
comportamento de acordo com as mudanças exibidas.

1.5. Contributo de alguns estudos sobre o tema

No intuito de verificar diferentes perspetivas contributivas para esta


investigação, foram analisados estudos pertinentes. Um estudo realizado por
Vale (2008) recolheu os dados de 65 educadoras de infância, com o objetivo de
conhecer quais as estratégias que utilizam e qual a sua eficácia na gestão do
comportamento das crianças no jardim-de-infância.
Com este estudo, foi concluído que, a maioria das educadoras elabora
regras de comportamento para a sua sala de jardim-de-infância e envolve as
crianças no desenvolvimento das mesmas. Vale (2008) salienta ainda o facto de
as crianças precisarem saber a razão da existência de regras e a melhor forma
será participarem na sua elaboração em conjunto com a educadora, o que vai
atribuir-lhes responsabilidade e, por outro lado, desenvolver nelas motivações
autênticas para cumprir essas regras.
Quanto ao registo do comportamento, os dados obtidos neste estudo
mostraram que aproximadamente metade das educadoras da sua amostra

26
(48%), não efetua qualquer registo do comportamento das crianças. Este dado
não deixa de ser preocupante pois, nas OCEPE (1997), é feita referência ao
processo de observação contínua de cada criança. As educadoras que fazem
registo, na maioria, envolve as crianças neste processo, o que se torna uma
forma interessante na interiorização das regras.
A autora refere que, os registos que são efetuados com a colaboração das
crianças utilizam simbologias criadas pelas mesmas. Nas assembleias são
discutidos os comportamentos e decididos os castigos, “o que revela da parte do
educador uma postura flexível e dialogante, ajudando as crianças a exprimirem
as suas emoções, dando relevância às suas opiniões e contribuindo para a sua
maturação e para a construção do seu controlo interno.” (Idem, p. 34) Assim, o
educador, ao promover momentos de partilha e adquirição de um espírito crítico
com interiorização de valores, vai incutindo nas crianças uma educação para a
cidadania.
Relativamente à postura das educadoras perante a gestão dos
comportamentos e o controlo de futuros problemas de comportamento na sua
sala, a maioria das educadoras afirmou sentir-se segura das suas capacidades.
Quanto ao tipo de estratégias, observou-se que recorrem a estratégias
proactivas, (resolução de problemas, a gestão da raiva e a identificação de
sentimentos das crianças), seguidas de recompensa (incentivos de grupo,
programas individuais de incentivo e comentários ao bom comportamento) e
registou-se a máxima pontuação quanto à sua eficácia. Vale (2008) afirma que
estas estratégias fazem parte de uma educação emocional. “Pois ao estimular a
criança a identificar os seus sentimentos o educador, além de a ajudar a
demonstrar as emoções, ajuda-a a rotular as próprias emoções para que possa
comunicar verbalmente aos outros os seus sentimentos.” (Idem, p. 37).
Num outro estudo realizado por Bracinhos (2014), em que, pretendeu
aprofundar o conhecimento sobre o tipo de modalidade de construção dos
comportamentos sociais e das regras que são praticadas em contexto de creche
e jardim-de-infância.
Este estudo teve como base a observação participante em dois contextos,
um de creche e outro de jardim-de-infância. Com a análise dos resultados foi

27
concluído que as regras e os comportamentos sociais assumem-se como uma
prioridade na prática educativa em contexto pré-escolar. As regras são
negociadas mediante um compromisso de respeito mútuo e são entendidas,
quer pelas educadoras quer pelas crianças, como uma forma de respeitar o
espaço da sala e os outros. Por outro lado, os comportamentos sociais são
promovidos através do diálogo e da realização de atividades lúdicas, dando-se
particular realce a comportamentos de convivência social como o respeito e a
entreajuda. Os resultados encontrados mostram que as crianças, quando são
bem orientadas pelos adultos, assimilam facilmente aquilo que lhes é
transmitido.

CAPÍTULO 2. METODOLOGIAS DE
INVESTIGAÇÃO

2.1. Opções Metodológicas

A escolha da metodologia de investigação deve-se realizar em função do


problema a estudar e a analisar. Tendo em conta que nesta investigação
pretende-se estudar o comportamento de uma criança no seu dia-a-dia no
jardim-de-infância, será optada uma metodologia de investigação qualitativa
recorrendo ao processo de investigação-ação.
Na opinião de vários cientistas sociais, esta metodologia deve ser utilizada
em situações “para compreender aspetos psicológicos, cujos dados não podem
ser coletados de modo completo por outros métodos devido à complexidade que
envolve a pesquisa. Neste caso, temos estudos dirigidos à análise de atitudes,
motivações, expetativas, valores, opinião, etc.” (Oliveira, 1997, p. 117)
O mesmo autor também afirma que “a pesquisa qualitativa tem como
objetivo situações complexas ou estritamente particulares.” (Ibidem). Uma
abordagem qualitativa nesta investigação vai permitir ao investigador, descrever
a complexidade do problema, bem como, apresentar propostas para um

28
processo de mudança e permitir a interpretação dos comportamentos ou atitudes
do indivíduo. (Ibidem).
Neste sentido, o investigador é envolvido em todo o processo, sendo que
nesta investigação opta-se por um estudo de caso para analisar uma realidade.
Yin (2010) define estudo de caso como “uma investigação empírica que investiga
um fenómeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre o fenómeno e o contexto não são
claramente evidentes.” (Yin, 2010, p. 39)
O objeto de investigação no estudo de caso pode ser uma unidade
particular, ou seja, uma pessoa, um grupo, uma organização, uma comunidade.
O estudo de caso possibilita ao investigador, adequar e personalizar os
instrumentos de recolha de dados, de acordo com o seu objetivo específico da
investigação. (Morgado, 2012). “Daí o recorrer a técnicas variadas de recolha de
dados, tais como questionários, entrevistas, observações, análise de
documentos e notas de campo, que permitam ao investigador apropriar-se das
intrincadas e complexas inter-relações que ocorrem num determinado contexto.”
(Idem, p. 59)
Segundo Stake (1999, in Morgado, 2012), num estudo de caso podem
descrever-se traços definidores, como: estudo holístico; estudo empírico;
trabalho interpretativo e estudo empático.
No que concerne a esta investigação, os traços definidores seriam: um
estudo empírico, visto que trata-se de um trabalho de campo que se baseia na
recolha de informações através de diversos instrumentos, “do qual se destaca a
observação.” (Idem, p.60). É também, definido como um trabalho interpretativo,
em que “o investigador mantem-se atento a qualquer acontecimento que se
configure relevante para a compreensão do problema em estudo.” (Ibidem).
Além disto, existem também tipos de estudo de caso, que Stake define
como: estudo de caso intrínseco; estudo de caso instrumental e estudo de caso
coletivo. (Ibidem).
Nesta investigação o tipo de estudo de caso é intrínseco, em que é
utilizado “quando o investigador tem um interesse particular por uma situação ou
um caso específico e o seleciona para estudo.” (Idem, p. 65).

29
2.2. Pertinência do tema

No decorrer do estágio profissional, foi detetado na sala dos cinco anos


um problema relacionado com as interações entre criança-criança e criança-
adulto, devido à existência de uma criança que se destaca em relação ao
restante grupo de forma negativa, causando diferentes efeitos/impactos perante
o mesmo. Isto é, uma criança que perturba o desenvolvimento das atividades e
demonstra uma enorme dificuldade em respeitar as regras de convivência social.
Esta investigação pretende analisar o comportamento desta criança no
intuito de perceber qual a postura que o educador deve adotar para ser feita uma
intervenção para uma possível alteração do seu comportamento. Posto isto, são
definidos para esta investigação os seguintes objetivos: 1) Como identificar as
manifestações de uma criança perturbadora; 2) Quais as estratégias mais
eficazes a utilizar pelo educador perante uma criança com problemas
comportamentais.

2.3. Instrumentos

Os instrumentos utilizados para a recolha de dados são elementos


fundamentais para a qualidade e êxito da investigação. (Morgado, 2012).Para a
realização desta investigação foram utilizados diversos instrumentos com o
objetivo de alcançar um maior rigor e fiabilidade nas conclusões, sendo estes:
observação participante, entrevista semiestruturada, Escala de Conners (1997)
– Versão Revista (Forma Reduzida), contrato comportamental e menu de
reforços.

2.3.1. Observação Participante

A observação participante é o método de recolha de dados que melhor


responde às necessidades do investigador. Deste modo,

A observação participante é portanto uma técnica de investigação


qualitativa adequada ao investigador que deseja compreender um meio social que,

30
à partida, lhe é estranho ou exterior e que lhe vai permitir integrar-se
progressivamente nas atividades das pessoas que nele vivem. (Lessard-Hébert,
Goyette & Boutin, 1994, in Morgado, 2012, p. 89)

Este método permite ao investigador participar na sua investigação para


além de um observador passivo, mas sim ativo, em que pode assumir vários
papéis ao longo do estudo de caso. (Yin, 2010).
A desvantagem neste método é que um observador participante “pode
não ter tempo suficiente para tomar notas ou levantar questões sobre os eventos
a partir de diferentes perspetivas, como faria um bom observador.” (Yin, 2010, p.
140).
Neste sentido, foram realizados diversos registos de observação,
propostos por Parente (2002), que irão complementar a análise desta
investigação, sendo estes: registos de incidentes críticos, registos contínuos,
amostragens de acontecimentos e descrições diárias. Além disto, adaptado de
Lopes (1993), foi aplicada uma lista de verificação de comportamentos
perturbadores e um registo de frequência.

2.3.2. Entrevista Semiestruturada

As entrevistas são um instrumento essencial num estudo de caso porque


frequentemente são dirigidas para assuntos humanos ou comportamentais. (Yin,
2010).
Nesta investigação foi recorrida à entrevista semiestruturada que consiste
num tipo de entrevista em que não é inteiramente aberta, nem muito direcionada
através de perguntas precisas. “Geralmente, o investigador dispõe de uma série
de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo
receber uma informação da parte do entrevistado.” (Quivy & Campenhoudt,
1998, p.192).
Este tipo de entrevista oferece autonomia aos entrevistados para
abordarem assuntos do seu interesse e que considerem pertinentes, “sem deixar
de respeitar os seus quadros de referência.” (Morgado, 2012, p. 74). Como
instrumento de recolha de dados permite obter “material pertinente para
compreender, ou mesmo justificar, não só os discursos dos atores mas também

31
algumas atitudes e comportamentos que assumem nos seus contextos de
trabalho.” (Ibidem).
Esta entrevista foi efetuada junto da educadora responsável pelo grupo
do sujeito de estudo, visto que esta já o acompanha desde um ano de idade e
por isso, poderia fornecer dados pertinentes para a investigação. (cfr. Anexo I).
Após a intervenção efetuada com o sujeito de estudo, também foi pertinente a
realização deste modelo de entrevista. (cfr. Anexo II).

2.3.3. Escala Revista de Conners (1997)

Segundo Fonseca et al. (1996), a Escala de Conners é o “instrumento


mais antigo e mais utilizado” na avaliação comportamental de crianças e é capaz
de especificar eficazmente os problemas de comportamento das crianças.
Rodrigues (2005, in Blanco 2012) afirma que, “as Escalas de Conners - Versão
Revista (forma reduzida) para pais e professores foram desenvolvidas de forma
a conterem os fatores de derivação clinicamente mais significativos a partir do
estudo das formas completas, sendo que todos os fatores e itens escolhidos para
as formas reduzidas apresentam excelentes propriedades psicométricas.” (Idem,
p. 65).
As escalas foram preenchidas de acordo com uma escala de Likert,
definida pelos valores (0), (1), (2) e (3) que correspondem respetivamente aos
marcos “nunca”, “um pouco”, “frequentemente” e “muito frequentemente”. Os
itens são constituídos por frases afirmativas, e quem preenche tem que indicar
a incidência do comportamento observado na criança no último mês. (Idem).
A escala deve ser preenchida separadamente, para comparar os
resultados de forma a confirmar se os mesmos são semelhantes ou opostos.
Assim indica-nos o perfil comportamental da criança e se é no contexto escolar
ou familiar que se acentua mais ou menos determinados comportamentos.
Quanto mais pessoas preencherem estas escalas, maior fiabilidade terão as
conclusões.
No que concerne a esta investigação estas escalas foram adaptadas ao
contexto em questão, e foram aplicadas com o objetivo de averiguar quais os

32
padrões de comportamento no sujeito de estudo que ocorrem com maior
frequência. As mesmas foram preenchidas pelo encarregado de educação do
sujeito de estudo, pela educadora, auxiliar e estagiária. (cfr. Anexo III).

2.3.4. Contrato Comportamental e Menu de Reforços

Como forma de intervenção, foi realizado juntamente com o sujeito de


estudo um contrato comportamental, com a estipulação dos deveres do mesmo
e a definição dos reforços para recompensar a concretização desses deveres.
Esta estratégia foi realizada durante três semanas consecutivas, através do
registo e reflexão diária concretizada pelo sujeito de estudo. De referir que o
contrato comportamental foi renovado no início de cada semana. No final de
cada semana, o sujeito de estudo foi ou não recompensado conforme as
definições estipuladas no contrato comportamental.

2.4. Sujeito de Estudo

Na presente investigação, o sujeito de estudo, denominado por criança D,


refere-se a uma criança do grupo de cinco anos, do sexo masculino, da
instituição de educação pré-escolar onde decorreu o estágio profissional.

2.5. Análise e Tratamento de Dados

No intuito de dar resposta aos objetivos definidos para a presente


investigação foi necessário proceder à aplicação dos instrumentos descritos.
Visto que, esta investigação incide numa análise ao comportamento da criança
D, foi necessária uma observação participante por parte da estagiária, tendo
como suporte diversos registos de observação.
Inicialmente, foi recorrido ao preenchimento de uma Lista de Verificação
de Comportamentos Perturbadores (Lopes, 1993). A mesma foi adaptada de
acordo com o contexto em questão. Esta lista permitiu ajudar a descrever os

33
comportamentos que necessitavam de ser alterados, a partir de um conjunto de
categorias correspondentes a problemas usualmente detetados e referenciados
na área dos problemas de comportamento. De salientar, que o preenchimento
desta lista foi baseado na observação da estagiária em contexto de sala.
Com a análise efetuada à mesma verificou-se uma maior incidência de
comportamentos relativamente às categorias: hiperativo, perturbador e
manipulador. (cfr. Anexo IV – Registo nº 3). No entanto, para uma constatação
mais específica dos factos foram utilizados alguns registos de observação, ao
longo de todo o estágio, que relatam situações de comportamentos menos
adequados, principalmente no que se refere às interrupções em momentos de
grande grupo (cfr. Anexo IV – Registo nº 4; Registo nº 7), resolução de conflitos
recorrendo a atitudes agressivas/vingativas (cfr. Anexo IV – Registo nº6; Registo
nº8) e conseguir a atenção dos adultos (cfr. Anexo IV – Registo nº 2; Registo nº
5). Estes comportamentos vão de encontro à definição apresentada por
Graubard (1973) da atitude da criança perturbadora, e as situações relatadas
também estão em conformidade com os exemplos descritos nos objetivos dos
propósitos da criança perturbadora assinalados por Dreikurs (1970, in Gotzens,
2003).
Tendo estas observações suscitado a atenção da estagiária, levaram-na
a refletir sobre a gestão das interações do seu grupo, visto que, esta deparou-se
inicialmente com algumas dificuldades devido às constantes perturbações da
criança D nas atividades, principalmente em grande grupo. (cfr. Anexo XIX –
Reflexão nº 3).
Para um melhor entendimento deste caso, foi necessário recolher dados
acerca das características afetivas e cognitivas, assim como, das dificuldades
sentidas e das estratégias utilizadas ao longo do processo educativo, com o
objetivo de obter uma análise mais aprofundada do comportamento da criança
D. Neste sentido, após a deteção da criança D como um membro perturbador no
grupo, foi pedido autorização ao encarregado de educação para realizar o estudo
de caso com maior profundidade. (cfr. Anexo V). Após a aceitação do
encarregado de educação foi realizada uma entrevista à educadora, visto que, a
mesma já acompanha a criança desde um ano de idade. (cfr. Anexo VI).

34
Assim, averiguou-se que a criança D destaca-se do restante grupo devido
a ser o maior de todos fisicamente e é uma criança muito ativa, demonstrando
essa atividade excessiva ao longo das atividades, interrompendo-as de forma
descontextualizada, assim como faz nos diálogos em grupo.
No entanto, a criança D demonstra ter capacidades para assimilar os
conteúdos trabalhados, contudo permanece um curto período de tempo atento
na execução de determinada tarefa. A educadora referiu ainda que é notória uma
maior tranquilidade na criança D após atividades que permitam uma maior
libertação de energia, como sessões de movimento. Este facto comprova o que
é defendido nas estratégias de Laevers (1997, in Portugal e Laevers, 2010), pois
as sessões de movimento proporcionam um escape físico para as emoções.
A nível afetivo é uma criança carinhosa e procura frequentemente conforto
no adulto, para além disso, é também uma criança capaz de assumir as suas
dificuldades. Neste caso, tem a noção que o seu comportamento não é o
adequado.
As estratégias utilizadas pela educadora com o intuito de melhorar o
comportamento da criança D basearam-se no diálogo apelando para as regras
de conduta e também tornar a criança D responsável por determinadas tarefas.
(cfr. Anexo VII).
Após a recolha destas informações acerca da caracterização da criança,
foram aplicadas as Escalas de Conners (1997) para professores e para pais,
versão revista (forma reduzida), assim foi possível avaliar o comportamento da
criança D, mediante a informação facultada pelos agentes educativos, que estão
em contacto com a criança D. Esta análise permitiu compreender quais os
comportamentos com maior incidência nos contextos casa e jardim-de-infância.
Deste modo, relativamente aos resultados da Escala de Conners para
professores (cfr. Anexo VIII), verificou-se conformidade entre a equipa
pedagógica, visto que, classificaram os mesmos comportamentos na pontuação
3 (muito frequentemente), correspondentes a, posturas irrequietas,
impulsividade, perturbações e interrupções em momentos menos apropriados.
Segundo Caballo, Simón e Dolinsky (2005), estes comportamentos condizem
com comportamentos de dimensão externa, ou seja, atos dirigidos aos outros.

35
Importa salientar que esta avaliação vai de encontro às situações relatadas
anteriormente nos registos de observação.
Também existiu conformidade na avaliação da equipa pedagógica quanto
ao aspeto da criança D não aparentar dificuldades a nível cognitivo, sendo estes
fatores classificados na escala com a pontuação 0 (nunca). Este facto também
foi referido pela educadora na entrevista. Existe também um registo de
observação que apresenta um exemplo da capacidade de raciocínio da criança
D. (cfr. Anexo IV- Registo nº1).
Contudo, analisando os resultados das escalas é notória uma ligeira
diferença nas classificações da equipa pedagógica ao nível da atenção da
criança D, sendo estas classificadas nas pontuações de 0 a 3, ou seja, não existe
concordância entre as classificações da equipa pedagógica quanto ao nível de
atenção que a criança D manifesta perante as tarefas. No entanto, existe
consenso quanto ao item 1, que refere-se ao facto de a criança D distrair-se
facilmente.
Relativamente à escala preenchida pelo encarregado de educação (cfr.
Anexo IX), conclui-se que foram classificados com a pontuação 2
(frequentemente) os mesmos comportamentos de dimensão externa, que a
equipa pedagógica classificou com a pontuação 3 (muito frequentemente).
Contudo, relativamente à falta de atenção é classificada com pontuação 3 (muito
frequentemente), assim como, as posturas com excesso de atividade.
Com a análise destas escalas é possível concluir que os comportamentos
da criança D nos contextos de jardim-de-infância e casa não apresentam uma
discrepância significativa.
Após a recolha e análise de todos estes dados, foi realizada uma
intervenção ao longo de três semanas consecutivas, em conjunto com a criança
D, com o objetivo de melhorar o seu comportamento. Neste sentido, foi aplicado
o contrato comportamental e menu de reforços, como propõe os autores Lopes
(1993) e Kearney (2009).
Primeiramente, no início de cada semana, foram definidos entre a
estagiária e a criança D os termos do contrato e os reforços atribuídos, sendo
estes registados em conformidade com a simbologia da criança D. (cfr. Anexo

36
X). Posto isto, diariamente, foi realizado um registo, no intuito de encaminhar a
criança D a refletir sobre o seu comportamento, proporcionando assim uma
autoavaliação do mesmo. (cfr. Anexo XI) Para essa autoavaliação, a criança D
selecionou um símbolo, neste caso, um carro, para classificar o seu dia e
igualmente elegeu a sua terminologia, sendo esta: um carrinho, se o
comportamento do dia fosse mau; dois carrinhos, se o comportamento do dia
fosse razoável e três carrinhos, se o comportamento do dia fosse bom. (cfr.
Anexo XVII – Fotografia nº 25).
No final da semana era realizada uma contagem dos carrinhos. Se fossem
alcançados o número de carrinhos correspondentes aos prémios estipulados no
contrato, a criança D recebia-os, caso contrário, não poderia recebê-los.
Com este contrato comportamental foram observados aspetos positivos e
aspetos negativos em cada semana relativos ao comportamento da criança D.
(cfr. Anexo XII). Inicialmente, foi evidente que a criança D “testou” a veracidade
deste contrato e obteve melhorias no seu comportamento, tendo conseguido
receber os prémios. No entanto, na segunda semana ocorreu o inverso, sendo
notório a discrepância entre os aspetos positivos e negativos, tendo prevalecido
os negativos.
A criança D, não conseguiu alcançar nenhum dos prémios e percebeu que
os prémios eram apenas recebidos conforme o combinado, caso contrário não
haveria oportunidades, por isso, a terceira semana foi o auge de todas as
semanas. O único aspeto negativo registado nesta semana, foi o esperar pela
sua vez para intervir nas atividades, mas mesmo esses momentos cometidos
por impulso, eram imediatamente remediados com um pedido de desculpa. (cfr.
Anexo IV – Registo nº 9).
Visto que nos termos do contrato uma das condições que a criança D
referiu foi “Esta semana vou portar-me bem”, sentiu-se a necessidade de
questionar a criança D, do significado dessa expressão. Para além disso,
também foi significante recolher as apreciações da criança D sobre a intervenção
realizada, se de facto a criança D compreendeu o objetivo da mesma, assim
como, perceber o impacto que intervenção possuiu no seu comportamento.

37
Neste sentido, foi realizada uma entrevista com a criança D, (cfr. Anexo
XIII) em que as suas respostas demonstraram terem sido compreendidos os
objetivos dos contratos comportamentais. A criança D afirmou que existiram
melhorias no seu comportamento e mencionou alguns exemplos como: deixou
de bater aos amigos e passou a recorrer da ajuda do adulto, melhorou na hora
das refeições e respeitou os pedidos dos adultos.
No que diz respeito à expressão “portar-me bem”, a criança D explicou
que significava o cumprimento das regras de conduta. Importa referir ainda que,
a criança D ao longo da entrevista, demonstrou ter noção que o seu
comportamento não é o adequado e assumiu a dificuldade que sente para
melhorar o mesmo. (cfr. Anexo XIV).
Como forma de conclusão é importante referir que a partir dos referentes
teóricos e dos instrumentos utilizados, foi possível responder aos objetivos desta
investigação.
Com a observação participante o registo das várias situações foi viável
para comprovar os comportamentos apresentados pela criança D. Esses
comportamentos também mostraram-se evidentes nas informações fornecidas
pela educadora na entrevista e nos resultados das escalas. As escalas enquanto
instrumento são uma mais-valia para a verificação da incidência dos
comportamentos e são vantajosas, visto que, proporcionam o confronto das
ocorrências nos contextos jardim-de-infância e casa.
Deste modo, confrontando os resultados com os referentes teóricos
conclui-se que, como já foi referido, os comportamentos da criança D
correspondem aos atos de dimensão externa. Percebeu-se ainda que as suas
atitudes são de carácter impulsivo e não propositado para chamar atenção, visto
que, a criança D assume o quão difícil é para ela cumprir as regras.
Apesar de se ter verificado que os seus comportamentos inadequados
são repetitivos e perduraram durante um longo período de tempo, não é possível
alegar que estamos perante um problema de comportamento associado às NE,
visto ser difícil um diagnóstico a esse nível na infância, como refere o DSM-5
(2014). No entanto, a manifestação dos comportamentos inadequados da

38
criança D, não deixam de ser considerados problemas de comportamento, como
defendem Paasche, Gorrill e Strom (2010).
Quanto à estratégia de intervenção aplicada com a criança D foi eficaz,
devido à oferta de prémios, pois sem eles, a intervenção não teria obtido os
mesmos resultados. Porém, foi essencial a estagiária cumprir o que foi
estipulado no contrato com a criança, só assim, a mesma percebeu a
veridicidade do mesmo. (cfr. Anexo XV).
A continuação da aplicação desta estratégia com a criança D iria ser uma
forma dela repensar nos seus atos antes de os executar. Visto que, através da
entrevista realizada com a mesma, notou-se que sem o contrato comportamental
e o reforço, o seu comportamento voltou a ser inadequado. Para comprovar: “E
achas que o teu comportamento melhorou? R: Mais ou menos. Quando
estávamos a fazer aquele trabalho sim, porque eu queria muito os prémios.” (cfr.
Anexo XIII).

CAPÍTULO 3. CONTEXTO ORGANIZACIONAL

3.1. Caracterização da Instituição

O Projeto Educativo é um

(…) documento de carácter pedagógico que, elaborado com a participação


da comunidade educativa, estabelece a identidade própria de cada escola através
da adequação do quadro legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o
modelo geral de organização e os objetivos pretendidos pela instituição e, enquanto
instrumento de gestão, é o ponto de referência orientador na coerência e unidade
da ação educativa.” (Costa, 1992, p. 23)

O Projeto Educativo surgiu como referência para a afirmação do poder da


autonomia da escola. Relacionado com este instrumento, existem outros
instrumentos do processo de autonomia consignados na lei que também serão
analisados nesta caracterização: o Regulamento Interno e o Plano Anual de
Atividades. Primeiramente, através do projeto educativo, foi feita uma análise da
instituição que acolheu a estagiária, no âmbito do seu estágio profissionalizante.

39
É uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), sem
finalidade lucrativa, com estatuto jurídico-legal. É uma instituição de porta aberta
para a solidariedade e para a comunidade. Tem como objetivo principal,
promover a educação e o desenvolvimento integral a crianças e jovens, visando
assumir-se como uma organização de referência e tendo como compromisso
permanente a melhoria de desempenho na prestação dos seus serviços de ação
educativa e social. Desenvolve a sua missão nas seguintes respostas sociais:
Creche, Jardim-de-Infância, ATL (1º, 2º e 3º Ciclos) e Rendimento Social de
Inserção (RSI).
Quanto ao meio envolvente, a instituição situa-se no distrito do Porto.
A organização interna da instituição está estruturada de forma hierárquica,
apresentada em formato de organograma. É uma forma de “dividir, organizar e
controlar as funções educativas, tendo em vista, teoricamente, uma melhor
consecução das finalidades.” (Alves, 1993, p. 21)
Quanto à caracterização da valência de Jardim-de-Infância, encontra-se
organizada em cinco salas, nomeadamente uma sala de três anos, uma sala de
três e quatro anos, duas salas de quatro e cinco anos e uma sala de cinco anos.
Cada sala recebe vinte e cinco crianças e são assistidas por uma educadora de
infância e uma auxiliar educativa. Estas crianças dispõem do serviço de refeições
num refeitório comum com as outras valências, um parque exterior, um campo
de jogos coberto, um salão polivalente, um dormitório e dois espaços sanitários.
O horário pedagógico prolonga-se das 9h até às 16h30.

A valência Jardim-de-Infância é uma valência a que converte o principal


agente de socialização, aquisição de competências autónomas onde as crianças
adquirem um conjunto de orientações didáticas que lhes permitirão obter um
elevado número de conteúdos (pragmáticos) fomentando uma melhor
aprendizagem e aquisição de conhecimentos. (Projeto Educativo, 2010, p. 10)

As atividades extracurriculares da instituição complementam as


competências e capacidades adquiridas no horário pedagógico como
proporciona novas aquisições, com o acompanhamento de docentes da área.
Neste sentido, as atividades extracurriculares da instituição são o Karaté e a
Natação.
O objetivo do Projeto Educativo é procurar o sucesso escolar educativo e
bem-estar dos seus alunos, o que corresponde a uma opção por uma instituição

40
que seja capaz de estabelecer algum tipo de congruência com os valores e as
finalidades de uma sociedade democrática. A instituição declara no seu Projeto
Educativo “que educar é sobretudo transmitir valores, saberes e regras de forma
a promover e permitir o desenvolvimento integral da criança.” (Idem, p. 23)
“O Projeto Educativo é o instrumento essencial de gestão estratégica
capaz de promover a mudança de uma situação indesejável para uma outra que
satisfaça os anseios da comunidade educativa.” (Grade, 2008, p. 72) A partir da
definição pode-se observar que a instituição em questão implementou alguns
projetos que pretende acompanhar, de forma a dar resposta às
questões/problemas identificados pelos encarregados de educação, as crianças,
os profissionais e colaboradores da instituição. Os projetos que estão a ser
desenvolvidos são: “Saber Ser, Saber Estar”, “A Magia nos Tempos Livres”,
“Juntos Vamos à escola”, “Educar Mais” e o mais recente “Projeto Eco Escolas”,
projetos estes que contam com a participação e colaboração das crianças e toda
a comunidade educativa.
O Regulamento Interno é

(…) o documento que define o regime de funcionamento da escola, de cada


um dos seus órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos
serviços de apoio educativo, bem como os direitos e deveres dos membros da
comunidade educativa. (Decreto-Lei nº 115-A/98 – artigo 3º, alínea b)

Analisando este instrumento, o Regulamento Interno da instituição está


disponível no site da instituição e também nas cadernetas individuais de cada
criança. O mesmo divide-se em seis capítulos. Estando este, bem organizado,
segundo os artigos, contendo de forma sistematizada e situada cada direito e
dever de todos elementos da comunidade educativa.
O capítulo I aborda a Natureza e Organização pedagógica e
Administrativa que define a instituição e apresenta os órgãos sociais da
instituição, nomeadamente as suas funções e competências e ainda, a
caracterização das instalações. O capítulo II, dirigido à comunidade educativa,
presta informações acerca da pré-inscrição e matrícula, dos direitos e deveres
tanto dos encarregados, como das crianças e dos colaboradores/voluntários. O
capítulo III refere-se ao serviço e horário da instituição, ao sistema de faltas, as
datas de interrupção de atividades, o material obrigatório e das reuniões de pais.

41
O capítulo IV explica o processo de admissão e as mensalidades. O capítulo V
explica os procedimentos na instituição acerca da alimentação, cuidados
médicos e higiene. Finalmente o capítulo VI fornece disposições finais, como
informações acerca dos seguros existentes, as sanções e as normas do
Regulamento Interno. Este instrumento é uma mais-valia na definição de regras
de comportamento e de vários direitos e deveres de todos os envolventes no
processo educativo.
De salientar que a concretização do mesmo, assim como o projeto
educativo contam com a participação de todos os elementos da comunidade
educativa.

Este documento deve contribuir para o desenvolvimento da ação da escola,


favorecendo a sua coordenação, assumindo-se como auxiliar de regulação da
autonomia, sem deixar de limitar os diferentes elementos da comunidade educativa
em participar na elaboração das normas que hão-de ordenar e regular a ação e,
simultaneamente, coresponsabilizá-los pela confiança na realização de um projeto.
(Grade, 2008, p. 45)

Finalmente, o Plano Anual de Atividades é o “instrumento de


planificação das atividades escolares para o período de um ano letivo
consistindo, basicamente, na decisão sobre os objetivos a alcançar e na previsão
e organização das estratégias, meios e recursos para os implementa.” (Costa,
1992, p. 27).Neste sentido, o Plano Anual de Atividades é uma planificação anual
com um conjunto de propostas que pretendem abranger todas as valências e as
mesmas devem estar enquadradas com as finalidades do Projeto Educativo da
instituição.

(…) só tem valor se, de facto, essas propostas traduzirem a forma possível
de satisfazer objetivamente um conjunto de necessidades realmente sentidas e
identificadas, uma situação a ultrapassar ou um problema a resolver, e que estão
(ou deverão estar) inequivocamente enquadradas nas «grandes opções
educativas» do «Projeto Educativo» da respetiva escola. (Vilar, 1993, p. 45).

É importante referir que, o Plano Anual de Atividades “não se deva medir


pela quantidade e variedade de propostas ou projetos, mas, isso sim, pelo
sentido e «oportunidade» das mesmas.” (Idem, p. 46) Ou seja, o Plano Anual de
Atividades deve ser avaliado pela sua qualidade e não pela quantidade de
propostas. Essas propostas devem causar impacto nas crianças e na
comunidade educativa, sendo realizadas de forma a promover o

42
desenvolvimento das crianças e o envolvimento parental, como rege a missão
da instituição.
Especificando na análise do Plano Anual de Atividades da instituição, este
é planificado em grelha. As atividades planificadas referem-se a visitas de
estudo, às épocas festivas, como por exemplo, a Desfolhada, o Magusto, o Natal
e a Páscoa. São ainda incluídos no Plano Anual de Atividades o Dia da Mãe e o
Dia do Pai, em que a instituição abre as portas à comunidade, nomeadamente
aos pais e mães para participarem em atividades em conjunto com os seus filhos.

3.2. Caracterização do Grupo

O grupo de crianças da sala dos cinco anos é constituído por vinte e cinco
crianças, treze do sexo masculino e doze do sexo feminino, isto é, 52% do grupo
são meninos e 48% meninas. (cfr. Anexo XVI - Gráfico nº1). Os dados das
crianças foram recolhidos através de um questionário direcionado aos
encarregados de educação.
As crianças nasceram todas no ano de 2009. Catorze crianças
frequentaram as salas de creche, nove entraram ainda com meses, uma criança
entrou com um ano e quatro entraram com dois anos, ou seja, mais de 50% do
grupo já convive desde a creche. Quando iniciaram a educação pré-escolar na
sala de três anos, juntaram-se ao grupo mais dez crianças. Ainda, no ano letivo
anterior entrou mais uma criança. (cfr. Anexo XVI - Gráfico nº2).
Verifica-se que grande parte da amostra permanece na instituição só
durante o horário pedagógico, que corresponde a 7h30 diárias (9h às 16h30),
mas também nota-se uma grande necessidade dos encarregados de educação
em deixar os seus educandos fora do horário pedagógico, devido ao seu horário
de trabalho ou por outros motivos. Há ainda três casos de crianças que
permanecem na instituição 12 horas diárias (7h30 às 19h30). (cfr. Anexo XVI -
Gráfico nº3).
Segundo as OCEPE (1997), o papel do educador é também observar as
crianças de maneira a conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades,
para compreender melhor as caraterísticas das crianças e adaptar o processo

43
educativo às suas necessidades. Através da observação em contexto de estágio
e em conversa com a educadora cooperante, foi possível concretizar uma
análise concreta e real do grupo em relação aos diferentes domínios de
desenvolvimento.
“A articulação entre os diferentes níveis de desenvolvimento (motor,
afetivo e cognitivo) não se dá de forma isolada, mas sim de forma simultânea e
integrada.” (Kaercher, 2008, p. 27). Ou seja, os níveis de desenvolvimento
devem ser trabalhados para um objetivo comum e oferecer à criança meios para
desenvolver-se na íntegra.
Posto, isto segue-se a caraterização do grupo em relação aos diferentes
domínios de desenvolvimento:
Domínio da Cognição
A partir da teoria de Jean Piaget que deu uma contribuição significativa
para a compreensão do desenvolvimento infantil, é possível concluir que as
crianças desenvolvem o seu conhecimento através do contato com o mundo, ou
seja, experimentando-o. Segundo a teoria piagetiana, o grupo em questão
enquadra-se no estádio pré-operatório (2-7 anos): “A criança nesta fase tem
também um pensamento egocêntrico. As crianças tornam-se mais sofisticadas
no uso do pensamento simbólico mas ainda não são capazes de usar a lógica”
(Papalia, 2001, p. 312).
A nível cognitivo o grupo não demonstra dificuldades de aprendizagem.
Na capacidade de atenção, é um grupo interessado, há uma visibilidade maior a
este nível nas conversas em grande grupo, embora algumas crianças não
demonstrem o mesmo interesse ou são mais introvertidas e não se sentem à
vontade para participar. São capazes de seguir as instruções e levá-las a cabo
conforme a ordem solicitada.
A maioria do grupo nomeia e reconhece as cores primárias e percebem
que a junção das mesmas gera as cores secundárias. Esta observação é notória
nas atividades de pintura quando são preparadas as tintas para as atividades.
Na área das expressões, nomeadamente, na expressão plástica dão
grande enfase aos pormenores, este fato é visível nos seus desenhos/registos.

44
Na área da matemática, o grupo conhece as formas geométricas simples,
identificando-as conforme o seu tamanho, cor e espessura. Também reconhece
os sólidos geométricos e é capaz de identificar as superfícies planas e curvas
dos mesmos. Trabalha também fluentemente com os números (contar e
trabalhar com quantidades) e também já são capazes de resolver contas simples
através da adição e subtração. São hábeis no que concerne em agrupar e
ordenar objetos tendo em conta o tamanho (do mais pequeno ao maior) ou
mesmo utilizando diferentes critérios. De salientar que neste ano letivo foi
inserido o quadro de presenças de dupla entrada, que evoluiu de formato
semanal para mensal e as crianças manipulam-no com facilidade.
Domínio da Linguagem
Para Vygotsky (1979, in Sim-Sim, 1998), o contato social das crianças é
a função primordial da linguagem, neste sentido é uma variável fulcral a ser
analisada pelo educador acerca das crianças com quem está a trabalhar,
devendo também este, ter a responsabilidade de promover diariamente,
momentos em que a linguagem seja trabalhada.
Segundo Sim-Sim (1998) o grupo em questão encontra-se na fase do
domínio articulatório de todos os sons da língua materna (4-7 anos). Neste caso,
grande parte do grupo já atingiu a maturidade articulatória na sua fala,
exprimindo-se com facilidade. Algumas crianças apresentam maiores
dificuldades na dicção e articulação das palavras, por exemplo dizem “pato” em
vez de prato, ou “bibioteca” em vez de biblioteca, ocultando os respetivos
fonemas. Ou outros casos que dizem “cojinha” em vez de “cozinha”, substituindo
os respetivos fonemas.
O grupo já produz rimas através de jogos de sons, assim como, segmenta
silabicamente palavras através do batimento de palmas. Esta vertente é
trabalhada diariamente através de canções e lengalengas. Já reconhecem as
letras e algumas palavras do seu quotidiano, nomeadamente o seu nome e dos
seus colegas. O grupo através da observação e do som de palavras é capaz de
associar as letras às mesmas.
De salientar ainda que, o grupo demonstra curiosidade ao ouvir novas
palavras, questionando o adulto do que as mesmas significam. Desta forma

45
promovem o crescimento do seu campo lexical. Este tipo de curiosidades é
maioritariamente visível durante conversas em grande grupo e nas horas do
conto. Acerca da construção de frases, o grupo demonstra capacidades em
construir frases complexas, utilizando corretamente os pronomes pessoais e os
verbos. Por exemplo já formulam frases como “Eu quero ir brincar para a área
da casinha.”. Apenas em alguns casos, é necessário investir numa maior
intervenção em relação aos tempos verbais das suas frases.
Domínio Sócio Afetivo
“As relações sociais que as crianças pequenas estabelecem com os
companheiros e com os adultos são profundamente importantes, porque é a
partir destas relações que as crianças de idade pré-escolar geram a sua
compreensão do mundo social” (Hohmann & Weikart, 2011, p. 574). Estas
relações proporcionam à criança oportunidades de desenvolver a sua afetividade
e autoestima, criando assim, confiança em si mesma e em se relacionar com os
outros. Ao desenvolver-se a este nível das interações, como referem os autores,
a criança começa a ter um conhecimento do meio que a envolve e a integrar-se
no mesmo.
Para Henri Wallon, o grupo encontra-se na fase do personalismo (3-6
anos), “nesta fase ocorre a construção da consciência de si, através das
interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as pessoas,
predominando assim as relações afetivas” (Kaercher, 2008, p. 28).
A nível das interações adulto-crianças, verifica-se uma boa relação mas
por vezes, algumas crianças demonstram hesitação quanto às ordens dos
adultos. No entanto, agrada-lhes a atenção/proteção do adulto, que as ouça e
valorize. Assim como, procuram agradar o adulto em várias tarefas. Aceitam
também a sua supervisão.
Na interação criança-criança, nota-se que é um grupo amigável, e dão
valor à questão do “ser amigo”, talvez por conviverem desde os três anos e
mesmo algumas crianças já desde a creche. É de notar também algumas
amizades mais cúmplices, criando assim uma separação em grupos. Há uma
maior visibilidade desta ocorrência nas atividades livres em contexto de sala e
no exterior. A dificuldade do grupo na interação uns com os outros é na resolução

46
de conflitos, pois sempre que há algum conflito necessitam de dizer ao adulto
por mais insignificante que seja o ato, ou seja, ainda não são capazes de resolver
sozinhos os seus conflitos e problemas.
Quanto à interação criança-objeto, nota-se alguma falta de cuidado por
parte de alguns membros do grupo nas brincadeiras em relação aos objetos da
sala, isto porque, facilmente estragam os pertences da mesma. Contudo, numa
visão geral é um grupo que percebe como se manipulam os diversos objetos
para as suas brincadeiras, que sabe usar um livro e sabe manusear os materiais
conforme a sua funcionalidade.
A nível das regras, é um grupo que conhece muito bem as regras, pois
em momentos de conversa em grande grupo as crianças citam-nas mas a
maioria das vezes não as cumprem, como por exemplo, ainda não são capazes
de esperar pela sua vez para falar e ficam desinquietos com facilidade.
Domínio Psicomotor
“As crianças entre os 3 e os 6 anos fazem grandes progressos nas
competências motoras – tanto as competências motoras grossas, como correr
ou saltar, como as competências motoras finas, como abotoar e desenhar.”
(Papalia, 1999, p. 286). Deste modo, o grupo demonstra um total conhecimento
acerca do seu esquema corporal, sendo capaz de nomear e identificar as
diferentes partes do corpo. Nas sessões de movimento o grupo mostra-se
sempre motivado. Estas sessões de movimento são importantes, porque desta
forma é possível analisar as noções alcançadas ou não pelo grupo. Posto isto, a
análise deste grupo acerca da grande motricidade é que não existem
dificuldades, são dinâmicos e demonstram domínio nos seus movimentos. Por
exemplo, são capazes de lançar, atirar e chutar uma bola; saltar ao pé-coxinho;
equilibrarem-se sobre si ou sobre um objeto (bancos suecos ou cordas) e já
reconhecem a sua lateralidade.
No que respeita “às competências motoras finas, tal como apertar cordões
dos sapatos, cortar com uma tesoura, desenhar, pintar, envolvem a coordenação
óculo-manual e de pequenos músculos. Os ganhos nestas competências
permitem à criança assumir maior responsabilidade pela sua própria pessoa.”
(Idem, p. 287).

47
Neste sentido, o grupo pega e manipula corretamente nos materiais de
pintura, desenho e colagem sem dificuldades. Apenas existem alguns casos de
necessidade em trabalhar o recorte e o grafismo. No desenho da figura humana
de uma maneira geral, o grupo já é capaz de o fazer de uma forma completa,
assim como já são capazes de desenhar letras e até mesmo escrever o seu
primeiro nome. Algumas crianças já necessitam de “mais” e já começam a
escrever o seu apelido e outras o seu nome completo. De momento apenas uma
criança não desenha a figura humana completa.
O grupo demonstra autonomia na resolução das suas necessidades
diárias e reconhecem todos os espaços da sala e de toda a instituição. Desta
forma já são competentes e responsáveis para se dirigirem sozinhos às mochilas
e à casa de banho. O grupo já sabe comer sozinho, exceto uma criança que
demonstra falta de autonomia na hora da refeição, pois coloca as mãos debaixo
da mesa à espera que o adulto lhe dê a comida. A dificuldade mais notória no
grupo é não saber apertar os cordões, apenas três crianças o sabem e as
mesmas ajudam os colegas que ainda não sabem.

3.2.1. Caracterização Sociofamiliar

É no ambiente familiar que a criança adquire as suas primeiras


aprendizagens e o primeiro contacto social, ou seja, a família forma as crenças,
atitudes e valores. Deste modo, compete ao educador conhecer o ambiente
sócio familiar das crianças com quem trabalha. Segundo as OCEPE (1997),
“recolher as informações sobre o contexto familiar, são práticas necessárias para
compreender melhor as características das crianças e adequar o processo
educativo às suas necessidades.” (Idem, p. 25).
Os dados do contexto sociofamiliar foram recolhidos através de um
questionário direcionado aos encarregados de educação. Em relação às idades
das mães das crianças têm a idade compreendia entre 35-40 anos de idade
(36%), embora exista também um considerável número de pais com idades entre
os 30-35 (28%). A mãe mais nova tem 21 anos e a mais velha 54 anos. (cfr.
Anexo XVI - Gráfico 4). No caso da idade dos pais, é semelhante à das mães,

48
mas é notória uma pequena diferença de idades, sendo os pais mais velhos que
as mães. Da mesma forma que as mães, a maioria dos pais têm a idade
compreendida entre os 35-40 anos de idade (36%). O pai mais novo tem 24 anos
e o pai mais velho 54 anos. (cfr. Anexo XVI - Gráfico nº5).
Analisando as profissões dos pais, verifica-se que a profissão das mães
insere-se maioritariamente no setor terciário, ou seja, o setor económico
relacionado com os serviços, havendo uma maior incidência na área da
educação/formação e de vendas. Apenas existem dois casos de desemprego.
(cfr. Anexo XVI - Gráfico nº6). Quanto aos pais é novamente semelhante à
situação das mães, a maior parte exerce a sua profissão no setor terciário, porém
neste caso há um leque variado de áreas de trabalho, mas existe uma pequena
amostra de quatro pais que exercem a profissão de motoristas. Apenas existe
um caso de desemprego. (cfr. Anexo XVI - Gráfico nº7). Neste sentido,
constatou-se que, na maioria, todos os pais estão empregados, o que poderá
ser positivo no que diz respeito às condições financeiras familiares.
Ao nível das habilitações literárias da amostra, averiguou-se que, o maior
número de mães possui o ensino secundário (12ºano) e logo a seguir seis mães
possuem o 3º ciclo do Ensino Básico (9ºano) e o grau de Licenciatura. (cfr. Anexo
XVI - Gráfico nº8). Os pais têm em maioria o 3º ciclo do ensino básico concluído
(9ºano), quanto aos graus superiores, apenas um pai tem o bacharelato e cinco
pais a licenciatura. (cfr. Anexo XVI - Gráfico nº9). Posto isto, em comparação
com as mães, os pais possuem menos habilitações literárias.
Na composição do agregado familiar verificou-se que 64% das famílias
são compostas por quatro ou mais elementos. Com 36% revela que as famílias
são compostas por três elementos. (cfr. Anexo XVI - Gráfico nº10). Neste
sentido, conclui-se que grande parte da amostra é composta por famílias
nucleares, “ou seja, constituída por uma estrutura triangular: o pai, a mãe e os
filhos.” (Leandro, 2001, p. 146) De salientar que dois casos pertencem a famílias
recompostas, pois “compreende um casal de adultos, casados ou não e ao
menos um filho de uma união precedente de um dos cônjuges.” (Idem, p. 274).
Existe ainda um caso de uma família monoparental nesta amostra, em que é
composta pela mãe e os filhos. Este tipo de família surge devido, a “situações

49
anteriormente vividas ou de outras circunstâncias.” (Idem, p. 272). Estas
variáveis podem comprometer a estabilidade emocional das crianças.
A partir da composição do agregado familiar foi possível verificar o
número de irmãos das crianças, pois é um fator importante a evidenciar, visto
que influencia a personalidade das crianças e o seu convívio social. Na amostra,
pode-se observar que apenas nove crianças (36%) não têm irmãos e as
restantes na maior parte (56%) têm pelo menos um irmão. (cfr. Anexo XVI -
Gráfico nº11).
A relação escola/família deve ser forte e para isso é necessário que a
instituição seja aberta aos encarregados de educação para que participem
ativamente no desenvolvimento das aprendizagens dos seus educandos.
Verifica-se que os encarregados de educação dirigem-se com bastante
frequência a instituição e comunicam a respetiva equipa pedagógica. Existindo
assim, uma interação constante entre família-escola, sendo bastante positiva e
importante para a criança este envolvimento. (cfr. Anexo XVI - Gráficos nº12 e
13).
De referir que periodicamente são realizadas reuniões de pais
individualizadas, em que o educador de uma forma mais detalhada e específica
informa os encarregados de educação acerca das aprendizagens e
competências adquiridas dos seus educandos, assim como os encarregados de
educação têm oportunidade de partilhar informações relevantes com o educador
para o progresso do seu educando.

3.3. Traçado das prioridades de intervenção conjunta


ao nível da Instituição

Tendo em vista uma observação realizada pelo grupo de estagiárias


finalistas, foi detetada pelas mesmas a necessidade de conceber materiais para
as crianças usufruírem nos espaços da instituição.
Neste sentido, a instituição dispõe de um parque ao ar livre, organizado
por áreas, equipado com seis baloiços, um escorrega, várias casinhas e dois

50
balancés. Neste espaço as crianças encontram uma maior possibilidade de
variar as suas brincadeiras. No entanto, a utilização deste parque é dependente
das condições meteorológicas, ou seja, quando está frio ou chuva, as crianças
utilizam a área do campo coberto. Caso o tempo esteja mesmo desagradável e
as crianças não possam brincar no exterior, há um salão amplo na instituição
onde as crianças podem brincar. Ambos os espaços são suficientemente amplos
para abranger todas as crianças do jardim-de-infância, mas não contêm
materiais que proporcionem processos de aprendizagem desafiadores, somente
brincam com os materiais ou brinquedos que trazem de casa, o que por vezes
origina conflitos entre os pares.
Sendo estes dois espaços utilizados com alguma regularidade e por
longos períodos de tempo, as estagiárias finalistas tiveram como
intencionalidade intervir de modo a dinamizar os mesmos e torna-los mais
atrativos para as crianças. Segundo as OCEPE (1997), os espaços na educação
pré-escolar podem ser diversos, mas o tipo de equipamentos e materiais
existentes condicionam muito o que as crianças podem fazer e aprender.
Portanto, as estagiárias finalistas propuseram a construção de materiais, como
jogos e estruturas para o exterior (campo coberto) como para o interior (salão),
de forma a proporcionar momentos educativos intencionais que promovam as
potencialidades das crianças.
De salientar que a intenção das estagiárias finalistas foi de construir os
jogos através da reutilização de materiais de desperdício com a participação das
crianças. Neste sentido, foram construídos jogos de bowling e de lançamento de
aros, pelo grupo da sala dos cinco anos. A sala dos três anos decorou pneus.
De referir que, estas propostas de confeção foram da responsabilidade das
estagiárias finalistas em conjunto com a equipa pedagógica e os respetivos
grupos de crianças. (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº1, 2, 3).
Após a aplicação dos materiais nos espaços, os mesmos requereram a
participação dos adultos, pois o contacto entre criança-adulto é essencial em
idade pré-escolar, devido à transmissão de segurança, confiança e bem-estar
que estas relações proporcionam.

51
CAPÍTULO 4. INTERVENÇÃO E EXIGÊNCIAS
PROFISSIONAIS

Para uma intervenção eficaz ao longo do estágio, foi necessária a criação


de laços afetivos, bem como, uma interação positiva, tanto por parte da
estagiária como das crianças, na medida em que, foi possível obter um maior
conhecimento e confidências dos interesses e necessidades do grupo.
Após a identificação das manifestações perturbadoras da criança D, no
grupo dos cinco anos, foi necessária uma intervenção baseada nas estratégias
defendidas pelos referentes teóricos apresentados no Capítulo 1. Estas
estratégias tiveram como objetivo limitar posturas menos adequadas e promover
o desenvolvimento das habilidades sociais da criança D e de todo o conjunto de
valores que lhes estão associados, pois “os valores não se “ensinam” mas que
se vivem na ação conjunta e nas relações com os outros.” (OCEPE, p. 52).
Desta forma, foi fundamental criar experiências positivas de interação
interpessoal e autoestima positiva, que não só foram gratificantes para a criança
D, como para todo o grupo de crianças. Neste sentido, importa referir, algumas
das atividades significativas realizadas ao longo da intervenção que
promoveram, a partilha, a expressão de emoções e de sentimentos entre os
elementos do grupo.
Neste sentido, foi construído um dispositivo intitulado pelas crianças de
“Caixa das Surpresas” que promoveu a cada criança um momento seu, em que,
tiveram oportunidade de partilhar com os colegas o que quisessem a partir de
objetos, fotografias, brinquedos que trouxessem de casa e que contivessem
algum significado pessoal para a criança. Este dispositivo teve também como
característica o envolvimento parental. (cfr. Anexo XIX – Reflexão nº 4; Anexo
XVII – Fotografia nº 26)
Também foi praticado um jogo promotor de autoestima positiva, em que,
as crianças tinham de definir apenas qualidades umas às outras. (cfr. Anexo IV
– Registo nº 11). Igualmente foi explorado durante vários dias o dispositivo
pedagógico “Uma Caixa Cheia de Emoções” que possibilitou uma abordagem
específica em torno das emoções. (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº 4, 5, 6, 7, 8,

52
9). De salientar que o momento mais significativo desta exploração foi quando o
grupo teve oportunidade de exprimir e verbalizar as diferentes emoções. (cfr.
Anexo IV – Registo nº 10).
Para além destas atividades, foi necessário apoiar a intervenção
educativa com base nos diferentes modelos curriculares existentes. Para
Spodek (2010) os modelos curriculares são “uma representação ideal de
premissas teóricas, políticas administrativas e componentes pedagógicas de um
contexto que visa obter um determinado resultado educativo.” (Idem, p.194).
Deste modo, o educador tem recursos e estratégias suficientes “que possibilitam
a apropriação do conhecimento, bem como nos saberes mais necessários e
importantes na aprendizagem das crianças.” (Pires, 2007, p. 62).
Neste sentido, pretende-se aqui confrontar o contributo dos modelos
curriculares com a intervenção realizada. Assim sendo, importa referir alguns
referentes teóricos acerca dos modelos curriculares utilizados, relacionando-os
efetivamente com a prática efetuada.
No modelo do Movimento da Escola Moderna (MEM)
(…) a aprendizagem é considerada um processo de emancipação que
proporciona instrumentos para que cidadãos autónomos e responsáveis se possam
envolver ativamente e agir solidariamente no mundo, bem como realizar-se pessoal
e socialmente. (Folque, 2014, p. 52)

O MEM propõe assim um currículo baseado em situações do quotidiano.


Para isso, são utilizados “instrumentos de pilotagem”, que consistem em
instrumentos que “ajudam o educador e as crianças a orientar/regular o que
acontece na sala (…).” (Idem, p. 55).
A estagiária no contexto de estágio vivenciado introduziu os seguintes
instrumentos: quadro de presenças (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº10) que “trata-
se de um quadro mensal de duas entradas” (Ibidem). Todas as manhãs na hora
do acolhimento, as crianças marcavam a sua presença; o caderno de registo das
assembleias (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº 11) que “trata-se do registo semanal
de incidentes, desejos, conflitos ou relatos de acontecimentos, que qualquer
membro do grupo pretenda assinalar.” (Idem, p. 56); quadro das regras (cfr.
Anexo XVII – Fotografia nº 14) que “contém o registo das regras que foram
acordadas para a regulação do grupo.” (Ibidem) e o quadro das
responsabilidades (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº 15) que atribui semanalmente

53
a cada criança a responsabilidade por determinadas tarefas. De salientar ainda
que cada tarefa era realiza em pares, para serem promovidos momentos de
cooperação entre os mesmos.
Importa ainda referir que nesta intervenção baseada no MEM, a
importância dos momentos de assembleias foram fulcrais para o
desenvolvimento das interações do grupo. Visto que, as assembleias são
momentos que permitem às crianças dar o seu ponto de vista nos debates e
escutar o dos outros, organizar os trabalhos, propor atividades, resolver
problemas e “dá lugar ao debate das normas de convívio e dos comportamentos
sociais do grupo.” (Garcia, 2010, p. 7).
A estagiária todas as semanas organizou assembleias, estas foram
registadas em pictograma (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº 12 e 13) e anexadas
no caderno de registos das assembleias, já referido anteriormente nos
instrumentos de pilotagem. Esse caderno de registos encontrava-se na sala ao
alcance das crianças, para que estas pudessem revisitar as suas propostas e
decisões tomadas.
Através da intervenção apoiada no MEM, concluiu-se que foi
proporcionado ao grupo autonomia, espírito cooperativo, garantindo a sua
participação de forma democrática na gestão da vida da sala.
Já numa intervenção baseada pelo modelo High/Scope, em que a
aprendizagem das crianças ocorre através de uma educação pela ação, visto
que, “(…) o poder para aprender reside na criança, o que justifica o foco nas
práticas de aprendizagem através da ação.” (Weikart, 1995, in Hohmann &
Weikart, 2011, p. 1). Isto significa que, a criança é o sujeito ativo na construção
do seu conhecimento, uma vez que este modelo dá enfâse à experimentação e
às interações sociais. Assim, a preocupação principal deste modelo “é a
construção intelectual da autonomia da criança.” (Pires, 2007, p. 65).
Comprovando estes pressupostos com a prática, a sala encontrava-se
dividida em áreas de interesse proporcionando à criança um ambiente
acolhedor, estando nitidamente organizadas: área do acolhimento, área da
casinha, área da biblioteca, área da garagem, área dos jogos, área da colagem
e área da pintura. (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22). As

54
crianças tinham oportunidade de explorar estas áreas com total liberdade, assim
como, de manipular os diversos materiais existentes, consequentemente, as
crianças tinham meios para desenvolverem e adquirirem as suas próprias
aprendizagens.
Ao longo da intervenção a estagiária refletiu acerca da organização do
ambiente educativo, onde suscitaram alterações no mesmo, nomeadamente na
localização e na dinamização das áreas, tendo essas alterações sido realizadas
sempre em conformidade com os interesses e a participação do grupo. (cfr.
Anexo XVIII; Anexo XIX – Reflexão nº 1, 2, 5). De salientar, que foram
proporcionados, constantemente, momentos para o trabalho em grande e
pequeno grupo (cfr. Anexo XIX – Reflexão nº 6).
A intervenção realizada sustentada no modelo high/scope facultou ao
grupo o confronto com novas situações e problemas essenciais para o
desenvolvimento do pensamento lógico. Pois, a criança ao deparar-se com
situações novas é encaminhada a relacionar os seus saberes prévios
adaptando-os às novas situações. Logo, é esta capacidade que as crianças
devem desenvolver para adquirirem as habilidades sociais necessárias para a
convivência harmoniosa com os outros.
Finalmente, também foi recorrida nesta intervenção à metodologia de
Trabalho de Projeto. Esta metodologia defende as mesmas ideologias que o
modelo high/scope, visto que, consiste igualmente numa estratégia pedagógica
para a construção de conhecimentos. (Araújo, 2008). O projeto “deverá
corresponder a uma iniciativa das crianças, tendo como ponto de partida os seus
interesses ou decorrendo de uma situação imprevista que desperta a sua
curiosidade.” (Departamento Educação Básica, 1998, p. 102).
No que respeita ao projeto lúdico vivenciado, intitulado de As Abelhas, o
mesmo possuiu uma ação focalizada na valorização da participação das
crianças e do adulto no processo de ensino-aprendizagem, pois em conjunto
procuraram investigar e explorar o tema, abrangendo as diversas áreas de
conteúdo. (cfr. Anexo XX).
Este projeto promoveu as relações interpessoais e o sentido de
responsabilização, devido à tomada de decisões conjuntas e à elaboração de

55
um plano de ações que foram respondidas. Ações essas que foram
concretizadas na sua maioria em grupo, o que promoveu a aprendizagem
cooperativa, sendo essa, um

(…) modelo de aprendizagem da cidadania democrática e semente de


coesão social, uma vez que ‘elege’ a heterogeneidade e o trabalho entre pares como
formas privilegiadas de reduzir estereótipo e preconceito, ao proporcionar o
conhecimento do outro, nas suas diferenças e semelhanças, na experimentação de
um percurso e na construção de um propósito comum. (Cochito, 2004, p.18).

Importa especificar a importância da vivência deste projeto para o sujeito


de estudo, visto que, proporcionou-lhe momentos/tarefas importantes que este
cumpriu com todo o empenho e seriedade, como na apresentação das suas
pesquisas (cfr. Anexo XVII – Fotografia nº 27), trabalhos realizados e o na
divulgação do projeto para a instituição e comunidade (cfr. Anexo XVII –
Fotografia nº28). Deste modo, o sujeito de estudo foi destacado em vários
momentos através da atenção e reforço positivos.
Em suma, a intervenção baseada nos diferentes modelos curriculares
promoveu na íntegra o desenvolvimento pessoal e social do sujeito de estudo,
na medida que, este tornou-se mais responsável e interessado nas tarefas e
demonstrou comportamentos de cooperação com os pares. Além do sujeito de
estudo, naturalmente, todo o grupo também foi beneficiado com a intervenção
baseada nos diferentes modelos curriculares, devido às fortes estimulações
sociais e organizacionais que estes defendem.

56
CONSIDERAÇÕES FINAIS

É indiscutível a importância que este estágio apresentou para a prática


profissionalizante ao longo deste ano letivo, o primeiro ano letivo de muitos, de
uma futura educadora de infância.
Existiu um choque inicial e muitos medos e preocupações surgiram, mas
nada que uma boa gestão de tempo, autoconfiança, uns bons conselheiros e
apoiantes não tivessem ajudado a ultrapassar isso. Deste modo, foi evidente a
mudança a nível pessoal e profissional após a vivência desta prática.
Com este estágio foi oferecida a possibilidade de serem colocadas em
prática todas as aprendizagens teóricas adquiridas ao longo da formação
académica, bem como, o contacto com a realidade educativa.
Do mesmo modo, também foram vivenciados alguns desafios que foram
gratificantes para a aplicação de estratégias e metodologias consideradas
importantes e enriquecedoras para o grupo de crianças. Estas aplicações ao
longo da prática foram alvo de momentos de reflexão pessoal, para serem
traçadas intencionalidades, de modo a aprimorar a prática pedagógica. Este
processo foi contributivo para a construção da identidade profissional.
Relativamente à educadora cooperante e à supervisora, estas foram
fundamentais para as aprendizagens, na medida que, ao mesmo tempo que
forneciam autonomia para resolver problemas e tomar decisões, colocavam-se
à disposição para auxiliar nas dificuldades, através da transmissão dos seus
saberes e experiências.
De salientar que, a instituição teve um papel fundamental, visto que,
facultou um ambiente acolhedor e proporcionou um contacto próximo aos
valores, tradições e crenças ali vivenciados e regidos. Vivências essas, que
causaram um impacto positivo, tanto na formação profissional como pessoal. Isto
é, procurou-se sempre na intervenção transmitir a ideologia da instituição ao
grupo de crianças.
Referindo agora a razão principal para a necessidade de todas estas
aprendizagens e práticas, o grupo de crianças, comprovou que, um educador de
infância para além de ensinar, também aprende e muito com as suas crianças.

57
Uma das aprendizagens oferecidas pelo grupo em questão foi a demonstração
de uma realidade, ser educadora de infância é ter a capacidade de resposta para
mil e uma solicitações. Foi um grupo desafiante, porque demonstraram
constantemente vontade de aprender mais e não se contentavam com pouco.
Assim, foi necessário muita criatividade ao longo da intervenção, de modo, a não
desapontar as suas expectativas.
Com o estudo realizado nesta intervenção, foi possível perceber o quanto
é importante estar atento às necessidades de cada criança, principalmente ao
seu estado emocional. Simultaneamente a intervenção precoce para a
emergência a atitudes socialmente adequadas é essencial, visto que, é desde a
idade pré-escolar que educámos para a cidadania. Os referentes teóricos
analisados demonstraram diversas estratégias eficazes para a abordagem de
caráter emocional como social, deste modo, estarão a ser travados possíveis
problemas de comportamento.
Neste sentido e para terminar, este estágio foi recheado de oportunidades
para explorar, errar e realizar as experiências necessárias para a melhoria da
intervenção e na adquirição de aprendizagens. Todos estes fatores descritos
contribuíram para um elevado crescimento profissional e um sentimento de
segurança para futuros desafios.

58
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DOCUMENTOS DA INSTITUIÇÃO
Projeto Educativo, 2010/2011

Regulamento Interno, 2014/2015

Plano Anual de Atividades, 2014/2015

LEGISLAÇÃO
Decreto – lei nº115 A/98 de 4 de Maio (Aprova o regime de autonomia,
administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação
pré-escolar e dos ensinos básicos e secundários, bem como dos
respetivos agrupamentos)
Decreto – lei nº 241/2001, de 30 de Agosto (Aprova os perfis específicos de
desempenho profissional do educador de infância e do professor do
1º ciclo do ensino básico)
Lei – Quadro da Educação Pré-Escolar, 5/97
Lei de Bases do Sistema Educativo – Lei nº46/86 de 14 de Outubro

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