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ASPECTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS À EXTRAÇÃO DE AREIAS DO

LITORAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - PRAIAS E RESTINGAS

Elmo da Silva Amador

Les accumulations sableuses marines du littoral de


l'Etat de Rio de Janeiro, principalement constituées par les fIe
ches de sable et les plages, sont soumises à une exploitation i~
tensive et irrationnelle.
Les organismes de contrôle du milieu ambient manquent
de données techniques permettant de controler cette activité:
Ce travail analyse les principales restr.i ctions apportées par
.
le mllieu amblent a l'extraction du sable~ afln de contrIbue r
.
a
régulariser laite activité.

INTRODUÇÃO

Grandes extensões do litoral fluminense sao constituf-


das por depósitos arenosos de acumulação marinha quaternária.
Feições morfológicas como as praias, sistemas de restingas,dunas
e lagunas costeiras podem ser consideradas como excelentes fon-
tes para a atividade extrativa mineral, principalmente as areias.
No entanto,considerando o caráter geologicamente efêmero de tais
feições (ambientes) e a grande suscetibilidade a mudanças ambie~
tais naturais ou provocadas pelo homem, a utilização de tais áreas
precisa ser vista com grande cautela.
Algumas destas feições, como as praias e dunas, são pa~
ticularmente vulneráveis a impactos.
Intervenções que se produzam nestes ambientes dão por
conseqüência um encadeamento de reações perigosas, introduzindo
um fator de alto risco às ocupaçoes litorâ~eas . Praias coloca-

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das em estado erosivo, por um desequillbrio no mecan~smo de for-
necimento de sedimento~ . , comprometem toda a estabili~ade do lito
ral, ameaçando e gerando prejuízos, principalmente para as areas
ocupadas. Feições como as restingas e lagunas, embora possam
vir a servir de fonte para a extração de areiaJapresentam restri
çoes ambientai" que pre'cisam ser consideradas.
Lamentavelmente, embora a extração de areias l1torâ-
neas, pelos danos ambientais que acarreta, seja considerada ati-
vidade poluidora, estão: ausentes nos instrumentos legais que re-
gem a atividade, dispositivos restritivos, sob o ponto de vista
ambiental.
Neste trabalh:o, com o objetivo de fornecer subsldios p~
ra o estabelecimento de diretrizes quanto ao control~ da ativida
de extrativa)é feito um breve resumo dos . ambientes d 1 praia e
restinga, bem como são :avaliadas as principais restrições
I
ambi-
entais.

PRAIAS

A praia corresponde à faixa da região litorânea cober-


ta por sedimentos arenosos ou rUdáceos, compreendida desde a li-
nha de baixa-mar até o iocal em que se configura uma mudança fi-
siográfica ou tem inIcio a vegetação permanente (Mendes, 1984) .
A largura das praias atuais está compreendida entre dezenas e
centenas de metros, podendo estender-se por centenas de quilôme-
tros (Rio Grande do Sul).
A inclinação f' a largura de uma praia dependem da gI'a-
nulometria dos sedimentos que a consti tui, da . altura e tamanho das

ondas e da amplitude da maré. Praias com sedimentos grosseiros


normalmente são inclinadas e estreitas.
A formação da praia é uma conseqüência do fluxo de a-
gua que se dirige para a costa ser mais intenso que o fluxo de
retorno (Mendes, op. cit.). Se esses fluxos apresentassem ames
ma intensidade não haveria a acumulação de sedimentos.

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o ambiente de praia possui uma extensão que permi te
uma subdivisão geomórfica. são distinguíveis neste ambiente:
- a antepraia (shoreface) corresponde a u~a faixa permanenteme~
te submersa, situada além da zona de arrebentação, onde as on-
das já não selecionam nem mobilizam as areias.
- o estirâncio ou zona intermarés (foreshore) e uma faixa situ~
da entre o nível médio de maré baixa e o ·nível de maré alta.
- pós-praia, berma ou terraço de tempestade (backsore) situa-se
acima da linha média de preamar, correspondendo a uma faixa re
lativamente estreita, atingida pelas águas do mar em ocasiões
de tempestade ou marés excepcionais.
A berma é uma das feições mais características da zona
de pós-praia, sendo principalmente construída durante as ressa-
cas, e quanto maior a tempestade, mais alta e distinta ela se
apresenta.
Uma feição diagnóstica de condições erosivas da praia
sao as cúspides praianas, acumulações de sedimentos regularmente
espaçados em forma de crescente.
Para o interior, o ambiente de praia e limitado pelos
cordões litorâneos (restingas ou cristas de · praias) e/ou dunas.
A flora e a fauna associadas ao ambiente de praia sao
especialíssimas .
Araújo (1984) descreve como vegetação de praia; na paE
te superior da praia, lavada eventualmente pelas ondas, dominam
suculentas halófitas, principalmente Philoxerus portucaloides;na
anteduna, primeiro cordão arenoso, ou duna ~zona do pós - praia)
t~m lugar as gramíneas (eg. : Sporobolus virginicus) e outras pl~
tas reptantes (eg . : Ipomea pes-caprae) .
Maciel (1984) ,analisando a fauna de praia,descreve em
seu trabalho: "Na zona de arrebentação ocorrem "tatu Í s" e "sar-
nambis", invertebrados de grande importância como elo de uma
grande cadeia alimentar. Na faixa de praia estão presentes a
"pulga-de-praia" e "besourinhos-da-praia".Na parte mais alta
da praia, distante da ação constante da maré , zona onde começa a
surgir a vegetação , ficam as tocas do cru t á c e o "maria-farinha".

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Mais adiante, Maciel (op. cit.) enumera aves e maQtferos que têm
na fauna da praia seu alimento. Gaivotões, gaviões, corujas, Q~
çaricos e batul r as revezam-se com pacas, gambás, cotias e guaxl
mins na luta pela sobrevivência.

RISCOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS À EXTRAÇÃO DE AREIAS DE


PRAIA

As praias, além de serem local privilegiado de lazer


público, representam forma de equiltbrio dinâmico de sedimenta-
ção costeira, ajustada à interveniência de fatores diversos. sã~
em última análise, a melhor proteção contra a ação erosiva das
ondas.
A estabilidade de uma praia depende do equiltbrio din!
mico entre o suprimento de sedimentos para a face de praia (for!
shore) e a remoçao de ~edimentos lateralmente. Essas
I
formas de
construção marinha -'
sao supridas por sedimentos modernos de ori-
gem fluvial, sedimentos produzidos pelo desgaste de superftcies
de abrasão e/ou retrabalhamento de sedimentos. relictos da Plata-
forQa Continental. A produção de sedimentos, a partir da abra-
são de superftcies rochosas litorâneas, é insignificante, princl
palmente no Estado do Rio de Janeiro.
Excluindo o rio Paratba qo Sul e, em menor escala, os
rios Macaé e são João, praticamente não há, no Estaqo do Rio de
Janeiro, aporte de sedimentos fluviais para Plataforma f ontinen-
tal. Os sedimentos fluviais são, em quase sua totalidade, reti-
dos nos sistemas de lagunas situadas na retaguarda qos cordões
litorâneos ou das baLas. Desta forma, os sedimentos relictos da
PlataforQa Continental constituem a principal fonte de sedimen-
tos para a manutenção das praias .
Estes sedimentos relictos sao , geralmente, de idade
pleistocênica e testemunham sistemas de depOSição costeira, numa
fase em que o ntvel do mar encontrava-se dezenas de metros abai-
xo do atual . Alguns desses sedimentos relictos da plataforma
possuem textura grosseira tendo se originado da deposição de an

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tigo sistema fluvial. As areias quartzosas grosseiras , com ocor
rência nas praias de Itaipuaçu e do litoral de Macaé (Barra de
Maçaé, são José do Barreto, Grande, Carapebus e Lagoinha), pos-
suem diâmetro ~édio superior a 1 . 000 m, atingindo ocasionalmente
o tamanho de seixo .
A Plataforma Continental interna, no entanto, segundo
estudos recentes (Zenkovich, 1976; Muehe e Sucharov, 1981, entre
outros) , vem deixando progressivamente de suprir a quantidade de
sedimentos necess~rios ~ manutenção das praias. Os fenômenos
erosivos observados nas praias são decorrência deste débito sedi
mentar. Tais eventos erosivos passaram a ser freqüentes,tende~

do a se agravar e~ função de condições meteorológicas/oceanogr~­


ficas espectficas de tempestade.
A di~inuição do supri~ento de sedimentos da Plataforma
Continental estaria relacionada a uma atual tendência de subida
do nivel do mar (ordem de 10 a 15 mm/século, segundo alguns auto
res) que seria respons~vel pela redução do aporte, quer por esg~
tamento, quer pela progressiva diminuição das ~reas afetadas pe-
la ação das ondas (segundo o modelo transgressivo de Swift,1976~
Embora sejam raras no Brasil as observações, a longo
prazo, sobre o comportamento das praias, os efeitos erosivos j~

são vistveis em diversas areas, particularmente no litoral do


Nordeste brasileiro. No Estado do Rio de Janeiro h~ evidências
tanto da atual tendência de subida do nível do mar quanto do c~
ráter erosivo das praias. Essa tendência erosiva das praias po-
de ser perigosamente acelerada por qualquer forma de extração de
areia que se faça, quer na face de praia (foreshore) quer na
berma (crista do primeiro cordão j~ colonizado pela vegetação) ,
ou na zona de arrebentação (breakerzone). Formas de ocupaçao
situadas no topo das berma (ou crista do primeiro cordão) ou nas
~reas baixas situadas na sua retaguarda encontram-se seriamente
ameaçadas com as atuais tendências erosivas.
Na Av . Sernambetiba, na Barra da Tijuca, nao so a rodo
via asfaltada , construída sobre as areias do primeiro cordão, c~
mo as construções irregularmente realizadas na s margens da Lagoa

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de Marapendi encontraQ-se expostas à açao destrutiva do mar .
O mes~o valendo para outras áreas do litoral fluminen-
se, principalmente, praias de Maricá, Saquarema, Araruama e Ma~.
Face ao exposto, são questionáveis as alegações que
aparecem com freqüência nos pedidos de Pesquisa e/ou lavra, sub-
metidos pelos extratores ao DNPM, de que as areias de praias se
constituem em bem renovável ou de que as areias ext ~aIdas da
praia são renovadas durante a ressaca.
O que existe, de fato, são modificações temporárias do
perfil de praia, conforme as condições do mar: um ev~ntual acúm~
lo em um trecho de praia corresponde à retirada de um outro tre-
cho.

RESTINGAS

O termo restinga e invariavelmente empregado , pelos bió


logos, como uma expressão genérica para designar diversas comunl
dades que se desenvolvem nas faixas litorâneas. Dessa forma , fei
ções morfológicas distintas co~o cordões litorâneos, cristas de
praias, tômbolos, dunas , praias , margens de lagunas , tendem a ser
englobados sob a denominação de "restinga". No entanto , restin-
ga er.l termos geológico/ p:eomorfológicos e apenas um tipo particu-
lar de feição litorânea, entre outros, que compoem a geologia de
regiões costeiras.
Geologicamente , as diferentes feições litor âneas ten ~

dem a ser individualizadas, com base na morfologia e nos proces-


sos de formação .
Existem duas feições morfológicas , sUbáreas, caract~
rísticas do litoral flu~inense : as cristas de praias "beach ridges"
e os sistemas de restingas "barrie r systems ".
As cristas de praias ou cordões are nosos ("beach r i dges" )
sao feições ~longadas , subparalelas à linha de co sta , es t rei t as
(20 a 50 metros de largura) , possuem pequeno relevo ( 1 a 2 me -
tros) , te nd endo a decres c er em alt i tude do interior para o lito-

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ralo Podem eventualmente atingir grandes extensões, nao raragen
te ultrapassando 50 km. No Estado do Rio de Janeiro , esta fei-
ção pode ser observada na região do complexo deltaico do rio Pa-
raíba do Sul e na bacia do rio são João.
Restingas ou "barriers", por sua vez, sao fei-:ões defi
nidas como uma elevação arenosa alongada, depositada paralelame~
te e próxima à linha de costa, acima do nível da maré alta. As
dimensões das restingas são bem maiores do que as das cristas de
praias, ultrapassando eventualmente 500 metros de largura.
No litoral fluminense, as restingas ocorrem como dois
corpos arenosos paralelos,sendo o interior mais elevado de 6 a
9 metros, e o menor de 3 a 5 metros. Este sistema de dupla res-
tinga é comum na Região dos Lagos e na baixada de Jacarepaguá.
Curray (1969), in Dias e Silva (1984), subdivide os
sistemas de restingas ("barrier") em Ilhas Barreiras ("Barriers
Islands"), pontais arenosos ("barrier spits") ou "bay barriers",
conforme possua a forma de uma ilha, se é ligada ao continente
por uma extremidade ou por ambas. Uma Ilha Barreira típica é a
Ilha Comprida no Estado de são Paulo.
Os dois sistemas possuem processo de formação diferen-
ciados.
Os sistemas de cristas de praia ocorrem em are as com
grande fornecimento de sedimentos fluviais, geralmente associa-
das a regiões deltaicas tipicamente progradantes. Conseguem se
desenvolver quando a deposição de sedimentos ao longo da costa é
acentuada, excedendo a subida do nível do mar, provocando uma
progradação da linha de costa.
O processo responsável pelo desenvolvimento dos siste-
mas de restingas (barrier systeos) tem sido motivo de controvér
sias. Autores têm-se sucedido em defender 3 hipóteses princi-
pais : crescimento vertical de barras submarinas (Beaument, 1845
e Johnson , 1919); crescimento lateral de pontais arenosos (hipó-
tese muito difundida no Brasil por Lamego, 1946, e sustentada
por Hoyt, 1967 e Fisher, 1968) e isolamento de praias :mainland
beach detachement, Swift, 1975).

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Modernamente, Dias e Silva (1984) assim resuQiram o
processo de evoluçio dos sistemas de restincas: "Os sistemas de
restingas se forQaram em áreas de relevo suave , quando os efei-
tos da deposiçio e erosio ao longo da costa se equilibram com os
efeitos das variações do nível do mar . Estes depósitos crescem
verticalmente e migram em direçio à costa, acompanhando a subida
do nivel do mar".
Como foi observado, os sistemas de cristas de praias
(beach ridges) diferenciam-se dos sistemas de restingas (barrier
systems) quanto à origem e idade. Os primeiros est~o associados
a um evento regressivo do nível do mar, enquanto os últimos indi
cam uma modelagem tipica de costas transgressivas.

COIlSIDERAÇÕES BIOLÓGICAS (1)

As feições morfológicas diferenciadas do litoral . pro-


duto de origens e modos de formaçio diversos, permitem a existê~
cia de habitats distintos.
Esses habitats foram, ao longo do tempo , colonizados
I
por uma grande diversidade de comunidades vegetais que, por sua
vez, ostentam diferentes tipos de fauna. Por serem as "restin-
gas" (o termo "restinga", entre aspas, indica que está sendo er.l-
pregado na acepçio biológica, podendo estar indicando morfologia
distinta do ponto de vista geológico/geomorfológico) ambientes
particularizados, existe ai grande número de endemismos (espé-
cies que nio ocorrem em outros ecossistemas), além de adaptações
muito acentuadas para a sobrevivência nas vizinhanças do mar .
Tais adaptações estio relacionadas com a resistência ao calor e
à luz intensos, a presença de sal no ar e aos ventos litorâneos.
Essas especificidades tornam esses ecossistemas litorâneos bas-
tante vulneráveis já que os organismos que os compoem sao alta-
mente especializados. Por outro lado , a proximidade do mar sem-

(1) Item elaborado por Ronaldo Fernandes de Oliveira , Biólogo da


pIDEC-FEEMA.

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pre foi fator atrativo à ocupaçao humana por conta da ~eleza e
do fascInio exercido pelo litoral.
Como conseqüência, o homem se instala sobre essas a-
reas e, sem conhecer suas tnter-relações e mecanismos de funciona-
mento, malbaratam os ecossistemas levando-os ao desaparecimento.
No país inteiro , vêm sendo desenvolvidas pesquisas no
sentido de desvendar os potenciais de aproveitamento da biota
das restingas, suas implicações com a formação do litoral e as
manifestações das culturas pré-históricas que ali se desenvolve-
ramo
Se esses ecossistemas sao destruIdos, sem que as pes-
quisas sejam concluídas , ficam perdidas para sempre oportunida-
des de seu aproveitamento racional em detrimento,principalmente,
das gerações futuras .

RISCOS AMBIENTAIS

Como os demais ambientes costeiros, as "restingas" vem


sofrendo um rápido e intenso processo de ocupação, havendo uma
redução gradual de sua área de ocorrência. Já sao poucas as á-
reas no Estado 'do Rio de Janeiro que apresentam bom estado de
preservação. Como áreas onde se pode ter uma noçao da exuberân-
cia primitiva das "restin~as" incluem-se a Reserva Biológi~a Es-
tadual da Praia do Sul, Ilha Grande, a Restinga de Grumari (tom-
bada pelo INEPAC), a Área de Proteção Ambiental de Maricá, Res-
tinga de Marambaia, trechos da Restinga da Massambaba, do lito-
ral de Tamoios e do litoral de Macaé.
A feição geomorfológica denominada restinga "barriers"
e a única preservada no Estado (R.B.E.P.S., APA de Maricá e Gru-
mari), precisando ainda ser incluldas áreas representativas como
as restingas de Massambaba e da Marambaia. Enquanto a feição ge~
mcrfológica denominada cristas de praias "beach ridges", que a-
tinge grandes extensões no Complexo Deltaico do rio Paraíba do
Sul e ocorre também na bacia do rio são João, ainda não foi obj~
to de proteção. A área do rio são João já foi quase completame~

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te arrasada por desmatamentos, extração de areia,terr aplanagem e
loteamentos (Amador, 1978).
Urge que seja proteg ~ da a derradeira area do Estado ,
ainda em bom estado de preservação , situada no litoral do munici
pio de Macaé , entre Barra do Macaé e Barra do Furado.
Assegurada proteção aos últimos e mais significativos
representantes dos ecossistemas associados a restingas "barriers M
e cristas de praias "beach ridges" , atendido o Código Florestal ,
nas areas remanescentes e respeitados alguns preceitos
.. ambien-
tais básicos, poderiam estar disponiveis para a extração de
areia, extensas áreas do Estado. No entanto , mesmo ne ~ tas áreas
"ambientalmente" disponíveis, a atividade extrativa mineral te-
ria de duelar com outras formas de uso dó solo e, p,rincipalmen-
te, com os custos do terren~ tornados elevados pela especulação
imobiliária.
Além da destruição da flora e da fauna , do desfigura-
mento paisagístico do terreno e da eventual destruição de si tios
arqueológicos, um dos impactos decorrentes da extração de areia
de "restingas", já observado , diz respeito à forma como as areas
minerais sao abandonadas.
Em vistoria efetuada na bacia do rio são João , observ!
mos imensos lagos com áreas de cerca de 5.000 m2 , en? ravados no
que foi outrora a restinga de Tamoios. Diversas árer s do antigo
loteamento (não viabilizado economicamente) sao vendi ~as a pes-
soas interessadas em extrair areia.
O propriet~rio do lote, utilizando dragas F bOf bas de
sucçao, produz a extração de areia até a exaustão da jazida . Co
mo o lençol freático é sempre ultrapassado , o produto fi ~ al da
extração são lagoas artificiais , posteriormente abandonadas . H~

je já se contam, entre os destroços do que. foi uma exuberante


floresta de "restinga", dezenas de lagoas abandonada!> onde cert!
mente estarão proliferando mosquitos e outras pragas nocivas à
população da vizinhança . Podemos apurar que se tratam de extra-
ções clandestinas ; no entanto, ocorre algo parecido ~m área l eg!
lizada pelo DNPM.

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Na Barra da Tijuca, uma empresa de ,mi neração,ligada ao
empresário Pasquale Mauro , obteve alvará junto ao DNPM para ex-
tração de areia de restinga para fins industriai s (Classe VII no
Código de Mineração) . Dezenas de caminhões levam diariamente
para são Paulo areia para o fabrico de vidros (CISPER). Como de
ccrr~ncia da extração , por estar o lençol freático do local ele-
vado, são produzidos imensos lagos. A ocupação posterior de
tais áreas terá , seguramente, problemas similares aos experimen-
tos pelos moradores do Cêntro da Barra: ruas alagadas, fossas a-
florando , mosquitos, etc ••
t fundamental que, além do atendimento a requisitos ~

bientais, caiba ao extrator a incumbência da recuperaçao da área


minerada .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

1 - Praias
Considerando:
terem as praias por principal função natural a manu-
tenção do equil!brio do litoral, propriedade esta
que vem perdendo com o débito de suprimento sedimen-
tar, conseqü~ncia de eventos geológicos recentes, e
que em decorrência tendem a se apresentar com um
caráter erosivo, qualquer subtração de sedimentos de
praia levaria a agravar esta tendência gerando a ex-
pectativa de riscos ambientais de grande magnitude.
que as extrações de areia de praias desfiguram o li-
toral , legando um quadro de terra arrasada,desvalor.!.
zando o potencial estético-turIstico do litoral.
que o uso balneário fica bastante comprometido e com
riscos face às crateras e valões que são produzidos
pela atividade extrativa .

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que frágeis cadeias biológicas que ocupam os subam-
bientes de praia são desequilibradas ou ~esmo des-
truídas.
ainda que as praias se consti tuam em bem público, de
uso comum do povo, e que após o exercício da ativid~
de extrativa ficam irremediavelmente modificadas.
Propomos:
que seja completame~te vedada a extração de areias
de praias.
seja dado conhecimento dos argumentos apresentados
neste trabalho, à Marinha de Guerra, ao SPU, à CIRM ,
a SEMA, ao DNPM, ao DRM, às preTai turas do Li toraI
Fluminense, às Associações de Meio Ambiente, e aos
empresários ligados aosetor extrativo mineral.

2 - Restingas
Considerando:
que existeQ dispositivos legais que protegeQ ~ f~o­

ra e fauna de restingas, bem como os sítios arqueql~


gicos com freqUência nelas encontrados.
que o exerclcio da atividade extrativa i inconpatl-
vel coa a existência de área de preservaçao.
que diversas áreas de restingas do Estado precisaQ
I

ainda ser protegidas em função da ir.1 portância aabien


tal e cultural que apresentan.
ainda que as extrações de areia de restinf.a, observ~
das no Estado do Rio de Janeiro, sejam clandestinas
ou licenciadas, vêm gerando problemas ambientais e
levando à destruição do solo minerado .

PropoQos:
seja vedada a e~tração de areia de restinga em areas
já protegidas sob qualquer modalidade de unidade de
preservação (Reserva Biológica, Área de Proteção Am· ·
biental, Reserva Ecológica , Parque Estadual etc .)
em ar ca s cuja preservação e prevista no CódiGo Flo-

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restaI ou instrunentos legais espec{ficos ou áreas
que apresentem valor anbiental ou cultural .
As áreas não objeto do parágrafo anterior poderão es
tar livres para a atividade extrativa, desde que a-
tendidas as restrições.
- seja o projeto subr.letido previamente a um alMA (Re-
latório de Inpacto do Meio Anbiente).
- seja a recuperação da área minerada parte integran-
te do projeto e responsabilidade do empresário ex-
trator.
- para a recuperaçao e utilização das areas ninera-
das, sugerimos o desenvolvimento de criação de pei-
xes e crustáceos.
- seja dado conhecinento aos orgaos de fomento nine-
ral (DNPM, DRM)da .elação das áreas protegidas ou
para as quais são apresentadas restrições de utili
zaçao.

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