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© Cadernos de Dereito Actual Nº 21. Núm. Ordinario (2023), pp.

130-143
·ISSN 2340-860X - ·ISSNe 2386-5229

O surgimento do Chat GPT e a insegurança sobre o


futuro dos trabalhos acadêmicos
The emergence of Chat GPT and insecurity about the future
of academic papers
Rafael Clementino Veríssimo Ferreira 1
Gustavo Henrique Maia Garcia 2
Deilton Ribeiro Brasil 3
Universidade de Itaúna

Sumário: 1. Introdução. 2. A evolução tecnológica e a humanidade. 3. Uma


máquina de fabricar mentiras. 3.1. Automatização de trabalhos e direitos autorais.
4. Conclusão. 5. Referências.

Resumo: Este artigo examina a relação entre evolução tecnológica decorrente da


disseminação da inteligência artificial nos campos acadêmicos e escolares. Para tal,
utiliza-se do método indutivo, por meio de pesquisas teórico-bibliográficas e
documentais, visando discutir o potencial de influência do ChatGPT na qualidade dos
trabalhos acadêmicos, e ao final, na autonomia do pensamento humano. Os
resultados encontrados apontam para a necessidade de adequação das instituições
educacionais para a nova realidade imposta pela Inteligência Artificial, promovendo
o desenvolvimento humano sobre a automação, garantindo que o contrário não
ocorra.

Palavras-chave: IA; Liberdade acadêmica; Epistemologia.

Abstract: This article examines the relationship between technological evolution


resulting from the spread of Artificial Intelligence in academic and school fields. For
this, the inductive method is used, through theoretical-bibliographical and
documental research, to discuss the potential influence of ChatGPT on the quality of
academic works, and in the end, on the autonomy of human thought. The results
point to the need to adapt educational institutions to the new reality imposed by
Artificial Intelligence, promoting human development over automation, ensuring that
the opposite does not occur.

Keywords: AI; Academic freedom; Epistemology.

1. Introdução
A relação entre a tecnologia e a humanidade é pauta de debates pela
sociologia, pela sociedade civil e pelo Direito há alguns séculos. Se por um lado, as
previsões pessimistas da Revolução Industrial apontavam para uma inevitável
realidade em que a automação iria substituir a manufatura por completo, elevando
gradativamente os índices de desemprego e pobreza. Por outro lado, os prognósticos
otimistas enxergavam na automação o fim do trabalho árduo e das jornadas

1 Mestre em Proteção dos Direitos Fundamentais pela Universidade de Itaúna - UIT (2020-
2021). Bacharel em Direito pela Universidade de Itaúna - UIT (2019). Advogado.
2 Mestre em Proteção dos Direitos Fundamentais pela Universidade de Itaúna - UIT (2020-

2022). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2018). Advogado.
Membro do Observatório do Mundo em Rede - Cyber Leviathan.
3 Pós-Doutor em Direito pela UNIME, Itália. Doutor em Direito (UGF/RJ). Professor da

Graduação e do PPGD em Direito da Universidade de Itaúna (UIT) e das Faculdades Santo


Agostinho de Sete Lagoas (FASASETE-AFYA).

Recibido: 21/03/2023
Aceptado: 06/06/2023
DOI: 10.5281/zenodo.8043807
Rafael C. V. Ferreira et al. O surgimento do Chat GPT e a: (...)

exaustivas, permitindo ao ser humano exercer o ócio criativo, desenvolvendo as


artes, a filosofia, e o aperfeiçoamento da sociedade. Entretanto, nenhuma dessas
máximas se confirmou.
É inegável que as máquinas substituíram diversos postos de trabalho. Em
contrapartida, novas funções foram criadas, possibilitando alguma compensação.
Esse contrapeso pôde até dar uma impressão de simbiose, até o surgimento da
internet. Fato é que o advento da rede promoveu grandes rupturas no trato da
matéria, devido ao encurtamento das distâncias e o hasteamento das relações online.
A comunicação instantânea por e-mail e aplicações de mensagem que
tiveram seu boom na primeira década do século XXI pareciam o apogeu da
tecnologia. Ocorre que, foi só com a popularização dos smartphones alguns anos à
frente que surgiu a grande reviravolta na relação entre homens e máquinas.
Ainda antes de ser percebida a forte influência social e política das novas
tecnologias digitais, outros aplicativos - como os de delivery, redes sociais e bankline
- já impactavam diretamente na vida cotidiana. Nesse entretempo em que se discute
o impacto das plataformas na organização social e sua capacidade de transformação
do mercado de trabalho e de toda a economia, uma outra inovação passou a ganhar
protagonismo nos últimos meses - o ChatGPT.
A inovadora aplicação consegue elaborar textos e responder com precisão a
maioria dos eventos ocorridos até 2021 - período final de sua principal base de dados.
Embora ainda seja cedo para cravar os reais impactos dessa plataforma na vida
cotidiana, já se faz necessário pensar abordagens futuras da matéria para,
simultaneamente, otimizar sua utilização em casos pertinentes e, em contrapartida,
limitar seu uso para fins de burla à legislação ou a regras de empresas, universidades,
etc.
A par dessa nova realidade, a primeira parte do artigo aborda a relação entre
a humanidade e as evoluções tecnológicas, notadamente aquelas que surgiram após
a popularização dos smartphones. A segunda metade, por sua vez, discorre sobre os
contornos jurídicos das novas tecnologias no Estado Democrático de Direito, na vida
em sociedade e nas produções acadêmicas, para discutir de que forma o ChatGPT
pode impactar na precarização da educação e do trabalho acadêmico, ou em seu
benefício.
O trabalho parte do método indutivo, buscando construir reflexões sobre os
desafios gerados pela rápida ascensão de modelos de Inteligência Artificial de
linguagem natural em ambientes escolares e acadêmicos. A premissa central parte
da necessidade de restrição ou mesmo de vedação dessas aplicações para certas
finalidades, por iniciativa de autoridades educacionais e da sociedade.
Para isso, o estudo se divide entre pesquisa bibliográfica e documental. A
primeira se dá a partir da análise de artigos e livros, de autores nacionais e
estrangeiros, acerca do impacto das novas tecnologias na sociedade hiperconectada
do século XXI. Ao passo que a segunda enfrenta o problema epistemológico e
pedagógico que envolve a terceirização de processos cognitivos para a automação,
com o fim de promover uma base para o enfrentamento da matéria.
Como resultado, o trabalho enquadra os novos modelos de IA generativa
como um novo patamar do desenvolvimento tecnológico humano, não se
comprometendo, a priori, com avanços ou retrocessos em qualquer aspecto, o que
dependerá dos modos em que será utilizada e dos atores que possuirão domínio
sobre ela. Em última análise, de forma semelhante a outras tecnologias da
informação e da comunicação, a Inteligência Artificial também desafia a autonomia
do pensamento humano, cabendo aos cientistas e professores o esforço de trabalhar
juntos para aprimorar suas habilidades a fim de garantir que a IA seja utilizada de
forma ética e benéfica para todos.

2. A evolução tecnológica e a humanidade


O desenvolvimento e o domínio de tecnologias é uma das molas propulsoras
das sociedades humanas desde os seus primórdios. Foi assim com os caçadores-
coletores, com as primeiras sociedades agrárias e com as tecnologias modernas. Em
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diferentes estágios, a capacidade de se organizar e de trabalhar coletivamente


possibilitou à humanidade elevar o patamar do seu apogeu.
O passar dos anos permitiu a elevação da complexidade das atividades e,
consequentemente, da organização estrutural das sociedades. Os bandos, que eram
de dezenas, passaram à casa das centenas e, posteriormente, dos milhares. O
domínio da agricultura possibilitou uma melhor compreensão sobre as estações do
ano, o que levou à seletividade na produção, e, a longo prazo, provocou um aumento
ainda maior dos agrupamentos, na medida em que os indivíduos passaram a
compartilhar elementos culturais, como a linguagem complexa e a religião. 4
Os bandos se transformaram em comunidades, a organização possibilitou
que os animais fossem domesticados e as relações se tornaram cada vez mais
complexas. Toda essa evolução era indicativo de uma ciência viva, antes mesmo de
existirem disciplinas hábeis a estudar tal evolução. Atualmente, já é possível
compreender tais épocas como Período da Pedra Lascada, da Pedra Polida e a Idade
dos Metais, que recebem tal nomenclatura devido aos instrumentos desenvolvidos e
aos avanços que permitem melhor compreensão sobre esses momentos.
À medida que a tecnologia foi evoluindo, as Idades se tornaram mais curtas.
Se antes cada era durava milhares de anos, com a evolução tecnológica, os períodos
passaram a ser de séculos. A partir da Idade Média, os grandes saltos tecnológicos
tornaram-se mais emblemáticos, de sorte que a evolução de tecnologias como a
escrita e a pólvora levaram a comunicação e a beligerância a novos níveis.
Mais à frente, o domínio da energia elétrica, a descoberta do petróleo e a
evolução dos motores colocaram a humanidade em outro patamar. Soma-se a isso,
a popularização da escrita. Como resultado, tornou-se mais fácil registrar e acumular
conhecimento, principalmente após a criação da imprensa, com a veiculação de
jornais e livros.
Com as máquinas de tipografia, os escribas tornaram-se obsoletos, com
menos pessoas realizando um nível muito maior de trabalho, o que, com o tempo,
também significou maior pluralidade das fontes de publicação. Em contrapartida, as
evoluções tecnológicas, que exigem cada vez menos esforço humano para obtenção
de produtos e resultados, tornaram as guerras mais violentas e destrutivas.
Os exércitos de homens marchando passaram a dividir a zona de guerra com
tanques, navios e aeronaves cada vez mais destrutivos. A sede pelo poder levou ao
desenvolvimento de bombas nucleares e mísseis intercontinentais, representando
ameaça constante de aniquilação. 5
Também foi no contexto bélico que os primeiros passos da computação
foram dados, como ferramenta importante para criptografar informações e quebrar
a criptografia das transmissões do inimigo. Como um dos maiores frutos desse
desenvolvimento bélico-tecnológico está o surgimento da internet. Essa tecnologia,
que ficou por décadas exclusivamente sob o domínio das autoridades militares, teve
maior abertura à sociedade civil a partir da década de 1990.
Gradativamente, essas tecnologias foram incorporadas a praticamente todos
os processos produtivos da economia global e apropriadas por boa parcela da
população humana. Até por isso, os esforços inéditos de desenvolvimento das TICs -
tecnologias da informação e da comunicação no século XXI demonstram a relevância
desse setor para a sociedade. 6
A inovação em TICs se expande continuamente em diversas áreas, incluindo
a internet móvel de 5ª geração, que traz diversas vantagens, incluindo a
possibilidade de aplicação da Internet das Coisas (IoT), conectando eletrodomésticos
e até mesmo veículos autônomos com maior confiabilidade. A cada novo avanço,

4 HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade, L&PM, Porto Alegre, 2019.
5 FONSECA FILHO, C. História da computação: o caminho do pensamento e da tecnologia.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.
6 PEREIRA, D. M., & SILVA, G. S.“As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como

aliadas para o desenvolvimento”, Cadernos De Ciências Sociais Aplicadas, 7(8), 2020,


Recuperado de https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/1935
Rafael C. V. Ferreira et al. O surgimento do Chat GPT e a: (...)

diversas novas oportunidades se abrem para a indústria da tecnologia, que parece


não ter limites de expansão e estar cada dia mais longe do verdadeiro apogeu.
Nessa esteira, os esforços de anos em torno da Inteligência Artificial - IA
parecem avançar em um ritmo inédito. Desde Alan Turing, pioneiro no
desenvolvimento dos primeiros computadores, questiona-se se é possível uma
máquina processar informações de forma semelhante ao cérebro humano, ou até
mesmo se passar por um, com capacidade de aprender e melhorar suas habilidades.
Desde então, plataformas de IA foram usadas para diversas funcionalidades
simples e de média complexidade. Nesse período, as aplicações baseadas em IA
evoluíram muito lentamente, enquanto inúmeras obras de ficção científica
vislumbraram seu infinito potencial, principalmente em cenários distópicos.
Finalmente, com a ampliação da capacidade computacional, e com a
disseminação do uso de aplicações de internet, grandes bancos de dados foram
formados e usados para criar com sucesso modelos de inteligência artificial complexa.
Este é o caso do ChatGPT, plataforma de linguagem natural da OpenIA, lançada em
novembro de 2022, que tem se destacado pela grande capacidade de gerar textos
de forma semelhante a um ser humano. 7
Esse nível de evolução tecnológica tem surpreendido a todos, com sua
grande capacidade de articulação, principalmente em língua inglesa, colecionando
aprovações em exames de seleção de médicos, advogados e programas de pós-
graduação. 8 Tanto que a própria IA foi capaz de externalizar sua habilidade:

O ChatGPT é capaz de processar e gerar respostas de


linguagem natural em uma ampla gama de idiomas e dialetos,
incluindo o espanhol, e de se adaptar ao tom e estilo das
consultas que recebe. Além disso, sua impressionante
capacidade de processar grandes quantidades de dados o
converte em uma ferramenta inestimável para aqueles que
buscam extrair conhecimento de grandes conjuntos de dados
(trad. livre). 9

Em outro artigo, antecessor do ChatGPT, o programa GPT-3 já havia


demonstrado um grande avanço ao conseguir se autodescrever com sucesso, com
mínima interferência humana. Neste caso, ele é apontado como co-autor. 10
Em todo esse histórico de evolução tecnológica, parece evidente que as
novas ferramentas de IA não são apenas novos produtos de um mercado
consolidado. Elas representam o início de uma revolução, capaz de mudar por
completo a já consolidada comunidade humana interconectada, com impactos não
só no modo de vida, mas também para alterar o eixo de poder.
O fato dessa plataforma especializada dominar somente a linguagem natural
humana não pode, de forma alguma, ser menosprezado. Importante lembrar que a
virada linguística deixou evidente que a linguagem, e principalmente o diálogo, mais
do que ferramentas de ação, constituem a forma de ser e de compreender o mundo. 11
Assim, o fato de um computador conseguir estabelecer conversas de maneira tão

7 OPENAI. ChatGPT: Optimizing Language Models for Dialogue, 30 nov. 2022. Disponível em:

https://openai.com/blog/chatgpt/. Acesso em: 25 fev. 2023.


8 LISBOA, A. “ChatGPT | IA é aprovada em provas para médico, advogado e pós-graduação

nos EUA”, Canaltech, 26 jan. 2023. Disponível em: https://canaltech.com.br/apps/chatgpt-ia-


e-aprovada-em-provas-para-medico-advogado-e-pos-graduacao-nos-eua-237548/. Acesso
em: 25 fev. 2023.
9 CASTELLS, M. “ChatGPT”. La Vanguardia, 25 fev. 2023. Disponível em: https://www.

lavanguardia.com/opinion/20230225/8782438/chatgpt.html. Acesso em: 25 fev. 2023.


10 TRANSFORMER, G. G. P., THUNSTRÖM, A. O., STEINGRIMSSON, S. “Can GPT-3 write an

academic paper on itself, with minimal human input?. HAL, 2022. n. 03701250. Disponível
em: https://hal.science/hal-03701250. Acesso em: 25 fev. 2023.
11 HEIDEGGER, M. Ser e Tempo, Vozes, Petrópolis, 2006.

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semelhante a um ser humano pode ser o passo inicial de uma evolução muito maior
da Inteligência Artificial.
A empresa OpenAI, responsável pelo ChatGPT, foi fundada como entidade
sem fins lucrativos em 2015, com o objetivo declarado de promover a pesquisa e a
implantação da Inteligência Artificial em benefício de toda a humanidade. 12 Desde
então, ela vem recebendo investimentos bilionários de companhias tradicionais do
ramo tecnológico, como a Microsoft. 13 Enquanto grandes interesses econômicos
envolvem essas novas tecnologias de automação, direitos fundamentais e interesses
legítimos precisam ser resguardados, principalmente daqueles em posição de
vulnerabilidade. 14
O ChatGPT é apenas um dos modelos de inteligência artificial em
desenvolvimento na atualidade, mas, apesar de ainda estar em fase de testes, o
impacto provocado não tem precedentes, sendo capaz de ameaçar até mesmo a
hegemonia do buscador do Google. 15
Nos primeiros meses de teste, a ferramenta demonstrou cumprir muito bem
os objetivos propostos, principalmente quando se trata de grandes bancos de dados,
superando de longe o que até então se tinha como modelos de inteligência artificial
- assistentes pessoais, como SIRI, da Apple e Alexa, da Amazon, ou atendentes
automatizados de serviços ao consumidor.
Ainda é difícil saber em que medida essas aplicações aproximam-se da forma
de processamento de dados do cérebro humano, mesmo porque este ainda não é
bem compreendido pela ciência. É de se destacar o caso das aplicações de IA para a
produção de imagens, que têm sido alvo de debate sobre a originalidade de suas
produções. Não se pode descurar que o trabalho realizado pela máquina mistura
elementos de bilhões de imagens presentes em seus bancos de dados, várias delas
protegidas por direitos autorais, o que pode ensejar violação da propriedade
intelectual de milhões de artistas. 16
Isso conduz a questionamentos filosóficos muito mais profundos: não é
exatamente o que o ser humano faz? Assimilar, processar e reproduzir elementos
visuais e linguísticos disponíveis no ambiente natural para criar algo ‘novo’? E os
direitos de propriedade intelectual não seriam criações artificiais para proteger e
fomentar determinados mercados? A inteligência artificial, nesse caso, deveria ser
considerada co-autora de uma produção acadêmica?
Este tem sido o posicionamento de alguns pesquisadores que utilizaram a
plataforma para a escrita de artigos científicos, mas o assunto ainda é muito
controverso, já que a posição de autor de uma publicação impõe responsabilidade
legal, algo incompatível com a máquina. 17 Nesse caso, a questão gira em torno de

12 OPENAI. “OpenAI is an AI research and deployment company. Our mission is to ensure that
artificial general intelligence benefits all of humanity”, OpenAI, 2023. Disponível em:
https://openai.com/about/. Acesso em: 25 fev. 2023.
13 BASS, D. “Microsoft Invests $10 Billion in ChatGPT Maker OpenAI”. Bloomberg, 23 jan. 2023.

Disponível em: https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-01-23/microsoft-makes-


multibillion-dollar-investment-in-openai. Acesso em: 24 fev. 2023.
14 BEZERRA SALES SARLET, G., & MOLINARO, C. A. (2020). “Questões tecnológicas, éticas e

normativas da proteção de dados pessoais na área da saúde em um contexto de big data”,


Revista Brasileira De Direitos Fundamentais & Justiça, 13(41), 183–212.
https://doi.org/10.30899/dfj.v13i41.811.
15 PATI, R. “Google investe em inteligência artificial para bater de frente com o Chat GPT”,

Correio Braziliense, 21 fev. 2023. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/


economia/2023/02/5075122-google-investe-em-inteligencia-artificial-para-bater-de-frente-
com-o-chat-gpt.html. Acesso em: 25 fev. 2023.
16 INCENT, J. “AI art tools Stable Diffusion and Midjourney targeted with copyright lawsuit”,

The Verge, 16 jan. 2023. Disponível em: https://www.theverge.com/2023/1/16/


23557098/generative-ai-art-copyright-legal-lawsuit-stable-diffusion-midjourney-deviantart.
Acesso em 25 fev. 2023.
17 STOKEL-WALKER, C. “ChatGPT listed as author on research papers: many scientists

disapprove”, Nature, 18 jan. 2023. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-


023-00107-z. Acesso em: 25 fev. 2023.
Rafael C. V. Ferreira et al. O surgimento do Chat GPT e a: (...)

qual é o compromisso da aplicação, com qual objetivo ela foi desenhada, qual é o
seu viés e qual a responsabilidade do ser humano por trás da máquina.
A resposta que o ChatGPT fornece quando lhe solicitam uma autodescrição
busca exatamente satisfazer a requisição do usuário, com linguagem correspondente
ao pedido, ao encontro dos seus anseios. Torna-se necessário, então, avaliar a
compatibilidade da sua utilização com a lógica da pesquisa científica, aferindo os
limites e os termos de utilização que não comprometam os resultados.
A partir disso, torna-se urgente questionar qual deve ser considerado o bom
uso delas e qual é a natureza da sua capacidade criativa. Pouco tempo após o
lançamento, enquanto já é atribuída à IA a autoria de livros infantis 18 e artigos
científicos 19, autoridades educacionais logo restringiram o acesso de alunos à
plataforma, temendo prejuízo para o ensino e os métodos de avaliação. 20 Daí, torna-
se imprescindível aferir se, e em que circunstâncias, esses modelos de IA são
benéficos para a produção acadêmica e como evitar a sua má utilização.
Tratando-se de uma autêntica tecnologia disruptiva, é preciso demarcar, o
quanto antes, a posição do ser humano e da máquina nesse novo ambiente de
produção de conhecimento, principalmente o científico. Caso contrário, como tem
ocorrido em diversos setores, corre-se o risco dessas ferramentas assumirem o papel
de protagonismo, colocando o ser humano em segundo plano, sacrificando ainda a
busca pela verdade científica.

3. Uma máquina de fabricar mentiras


A discussão acerca da possibilidade ou não da utilização de modelos de
Inteligência Artificial generativa na produção acadêmica deve regressar
necessariamente à metodologia científica, e à razão pela qual se escrevem artigos
científicos. Por sua vez, isso conduz novamente à história da evolução tecnológica e
as formas de acúmulo do conhecimento pela humanidade.
Um dos traços principais com o qual a tradição ocidental se auto identifica -
embora não lhe seja exclusivo - é a paixão pelo conhecimento, que remete à Grécia
Antiga, e os filósofos que ainda hoje influenciam o pensamento humano. Os gregos,
também influenciados por pensadores árabes, deixaram relevantes contribuições
para a sistematização do conhecimento, preocupando-se com a experimentação e
com a demonstração dos resultados - um salto em relação às explicações mitológicas
da realidade, até então preponderantes.
Porém, mesmo a evolução das formas de construção do conhecimento não
teve uma evolução linear, enquanto a ciência dividiu esse papel com outros campos,
como o religioso, o jurídico e o político. Em avanços e retrocessos, a afirmação do
pensamento autônomo foi freada inúmeras vezes por interesses de grupos
majoritários e por vontades circunstanciais. Isso porque os sistemas de produção de
verdade se vinculam às práticas sociais de onde provêm. Logo, estão sempre em
disputa. 21
O conhecimento, enquanto tecnologia, é empregado para alcançar
determinados resultados por aqueles que o detêm. Por isso está naturalmente sujeito

18 NOLAN, B. “This man used AI to write and illustrate a children's book in one weekend. He
wasn't prepared for the backlash”, Insider, 15 jan. 2023. Disponível em:
https://www.businessinsider.com/chatgpt-midjourney-ai-write-illustrate-childrens-book-one-
weekend-alice-2023-1. Acesso em: 23 mar. 2023.
19 STOKEL-WALKER, C. “ChatGPT listed as author on research papers: many scientists

disapprove”, Nature, 18 jan. 2023. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-


023-00107-z. Acesso em: 25 fev. 2023.
20 TENENTE, L. “Tentar proibir ChatGPT nas escolas será perda de tempo, dizem especialistas;

veja prós e contras do robô na sala de aula”, G1, 29 jan. 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/01/29/tentar-proibir-chatgpt-nas-escolas-sera-
perda-de-tempo-dizem-especialistas-veja-pros-e-contras-do-robo-na-sala-de-aula.ghtml.
Acesso em: 25 fev. 2023.
21 FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral de Melo Machado;

Eduardo Jardim Morais, Nau Ed., Rio de Janeiro, 1999.


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às limitações cognitivas do ser humano. Foi somente no século XIX que se reuniu
condições para reflexões especificamente voltadas para aprimorar as formas de
construção do conhecimento científico, a partir das contribuições de Karl Popper e do
Círculo de Viena, expoentes da corrente do empirismo lógico. 22
A ressignificação da razão desvelou que o cérebro humano, este enquanto
animal, não se desenvolveu como uma ferramenta divina capaz de enxergar o mundo
como ele é. Na verdade, é o produto da evolução que nos permitiu a melhor
adaptação à vida em comunidade em condições adversas. É, portanto, uma
ferramenta especializada para este fim, mas sujeita a diversas falhas.
O rigor que caracteriza a ciência moderna é, na verdade, um dos grandes
responsáveis pelo rápido desenvolvimento tecnológico que culminou nos sofisticados
modelos de inteligência artificial que já surpreendem o mundo. O método científico,
como hoje é compreendido, foi desenvolvido para minimizar as armadilhas cognitivas
do ser humano, permitindo a construção de um pensamento contra-intuitivo,
racionalmente válido.
Um dos pontos centrais nesse processo envolve atacar a arrogância do
cérebro e seu viés de confirmação, a partir da noção de falseabilidade. O
conhecimento científico, portanto, não pode ser tido como verdade permanente, pelo
contrário, deverá ser considerado provisório, permitindo sucessivos testes que o
fortalecerão ou o refutarão, mas sempre acumulando experiências e resultados. 23
O método científico importa, então, na necessária transparência dos
processos que levaram a um resultado, comprovando, através de evidências, uma
relação de causalidade. Para isso, é preciso demonstrar o processo de forma que ele
possa ser repetido pelos pares, afastando a pessoalidade da pesquisa, tornando-a a
mais objetiva possível. É por isso que cientistas escrevem artigos, para apresentar
pormenorizadamente o processo percorrido por eles, expondo o estudo à análise de
outros pesquisadores.
A ciência deve ser compreendida, portanto, como uma refinada arte de
detectar mentiras 24, e não um instrumento para encontrar a verdade, o que foge
mesmo da compreensão comum acerca da ciência. Isto é, a ciência não pode ser
viciada pela lógica do convencimento, da crença ou da arbitrariedade. O que a rege
é o pensamento cético, capaz de reconhecer um argumento falacioso ou fraudulento,
independentemente de se gostar ou não da conclusão que emerge de uma cadeia de
raciocínio, mas considerando se ela deriva da premissa ou ponto de partida, e se ele
é verdadeiro. 25
Aí reside o problema central da utilização da Inteligência Artificial para a
construção de trabalhos acadêmicos e também uma oportunidade de os aplicar de
forma positiva para a ciência. Os modelos de linguagem natural atualmente testados
foram construídos para conversar e dissertar de forma coerente sobre determinados
assuntos. É de se dizer que eles se mostraram extremamente capazes para essas
tarefas. A narrativa convincente do ChatGPT e outras AI generativas é exatamente o
oposto do que se espera da demonstração de resultados de uma pesquisa científica.
A máquina, ao que se sabe, não tem senso crítico.
Uma das grandes preocupações com a ferramenta, inclusive, se volta para
seu potencial de promover a desinformação, criando e repetindo de forma muito
convincente teorias conspiratórias e narrativas enganosas. 26 Ao utilizar a plataforma

22 BOMBASSARO, L. C. As fronteiras da epistemologia: uma introdução ao problema da

racionalidade e da historicidade do conhecimento, Vozes, Petrópolis, 1992, p. 25.


23 POPPER, K. R. A lógica da pesquisa científica, Trad. Leonidas Hegenberg; Octanny Silveira

da Mota, 2. ed., Cultrix, São Paulo, 2013.


24 SAGAN, C. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro,

Trad. Rosaura Eishemberg, Companhia de Bolso, São Paulo, 2006.


25 SAGAN, C. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro,

Trad. Rosaura Eishemberg, Companhia de Bolso, São Paulo, 2006.


26 HSU, T.; THOMPSON, S. A. “ChatGPT será maior espalhador de desinformação que já existiu,

diz pesquisador”, Trad. Luiz Roberto M. Gonçalves, Folha de S. Paulo, 9 fev. 2023. Disponível
Rafael C. V. Ferreira et al. O surgimento do Chat GPT e a: (...)

para a demonstração dos resultados de uma pesquisa, o autor poderá se deixar levar
pelo viés de confirmação, ao ver um texto escrito por outrem, chancelando as
conclusões obtidas por ele.
Ao fazê-lo, também sacrifica uma parte importante do processo de reflexão,
de autorrevisão ao reconstruir o raciocínio. Ao ocultar contradições, a narrativa
artificial e harmônica dificulta também o trabalho dos pares revisores e pode facilitar
a desinformação científica. Não por acaso, alguns já constataram a capacidade do
ChatGPT de inventar fatos e estudos para corroborar as conclusões por meio do
argumento de autoridade. 27
Também vale ressaltar que a produção científica não é algo linear. Ela
precisa de testes e ser colocada à prova. Guardadas as devidas proporções, construir
um trabalho é como montar um quebra-cabeças. Ou seja, é necessário analisar se
as peças se encaixam ou não. Às vezes dar passos à frente, outrora regressar. É a
partir dessa montagem que se consegue oferecer algo robusto. Daí, confiar
exclusivamente em algo produzido rapidamente pela IA pode ser um caminho
perigoso.
Caso o pesquisador tenha ciência desse risco, é possível tirar vantagem da
transparência que processos automatizados podem oferecer. Sabendo exatamente o
caminho percorrido pela Inteligência Artificial para oferecer um texto coerente,
inclusive que pontos foram omitidos, e quais contradições foram ignoradas, a
ferramenta pode acrescentar uma nova camada de testes para os resultados
encontrados.
Valendo-se de uma outra perspectiva, novos modelos de IA também podem
ser treinados para detectar falhas em pesquisas, reduzindo ainda mais a influência
subjetiva dos cientistas em suas pesquisas. Para isso é necessário questionar desde
a base de dados utilizada para treinamento do modelo até as medidas tomadas por
seus criadores para mitigar vieses discriminatórios presentes na sociedade.
A eliminação desse tipo de preconceito é primordial para o futuro das
pesquisas. O ambiente científico necessita de independência e afastamento de
lideranças políticas e grupos de dominação. Uma ciência que não age em prol da
sociedade se coloca, muitas vezes, em rota de colisão com garantias fundamentais
e, consequentemente, catalisa o risco de rupturas na sociedade 28.
Um bom exemplo dos riscos trazidos pelo afastamento entre a ciência e a
sociedade está na energia nuclear. 29 Se por um lado a quimioterapia e a radioterapia
são técnicas extremamente avançadas para o enfrentamento do câncer atualmente,
por outro as bombas atômicas e erros no manuseio desse tipo de avanço podem
provocar - e já provocaram - desastres tais quais o de Chernobyl, que ainda traz
preocupações que não poder ser colocadas em segundo plano.
Guardadas as devidas proporções, os aplicativos, como o ChatGPT,
representam, no século XXI, o mesmo nível de ruptura trazido pela energia nuclear,
em meados do século passado. Mais uma vez, o que se percebe é um amplo poderio
que se concentra nas mãos de poucos. Enquanto a bomba atômica sempre foi algo
possuído e manuseado por pouquíssimos Estados, o oligopólio da Inteligência
Artificial também tem se apresentado como algo restrito às bilionárias organizações
voltadas ao ramo da tecnologia da informação.

em:https://www1.folha.uol.com.br/tec/2023/02/chatgpt-sera-maior-espalhador-de-
desinformacao-que-ja-existiu-diz-pesquisador.shtml. Acesso em: 25 fev. 2023.
27 HSU, T.; THOMPSON, S. A. “ChatGPT será maior espalhador de desinformação que já existiu,

diz pesquisador”, Trad. Luiz Roberto M. Gonçalves, Folha de S. Paulo, 9 fev. 2023. Disponível
em:https://www1.folha.uol.com.br/tec/2023/02/chatgpt-sera-maior-espalhador-de-
desinformacao-que-ja-existiu-diz-pesquisador.shtml. Acesso em: 25 fev. 2023.
28 MACHADO DOS SANTOS, A., Mendes, D., & Freiberger, R. L. (2022). Capitalismo,

globalização e interações com a pesquisa científica. Conjecturas, 22(2), 1089–1107.


Recuperado de http://www.conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/791.
29 BECK, U. Sociedade de risco: Rumo a uma Outra Modernidade. Editora 34; 2. Reimpressão.

2011, 384p. p. 275.


137
138 Cadernos de Dereito Actual Nº 21. Núm. Ordinario, (2023)

Abordando a energia nuclear no idos de 1986, Ulrich Beck alertava para o


fato de que o excesso de conhecimento pode ser tão - ou mais - perigoso que a falta
dele. Naquele então, abordava-se o antagonismo entre sociedade e natureza,
juntamente com os perigos que esse tipo de situação poderia trazer à humanidade,
devido ao potencial destrutivo e disruptivo causados pelas mudanças climáticas que,
têm no homem, seu maior responsável:

Isto significa, contudo: as fontes de perigos já não são mais o


desconhecimento, e sim o conhecimento, não mais uma
dominação deficiente, e sim uma dominação aperfeiçoada da
natureza, não mais o que escapa ao controle humano, e sim
justamente o sistema de decisões e coerções objetivas
estabelecido com a era industrial. A modernidade acabou
assumindo também o papel de sua antagonista — da tradição
a ser superada, da força da natureza a ser controlada. Ela é
ameaça e promessa de isenção da ameaça que ela mesma
gera. 30

A partir do momento em que o desconhecimento dá lugar ao excesso de


conhecimento, que fica restrito a um pequeno grupo, riscos são produzidos. Pela
primeira na história, máquinas estão ameaçando superar a exclusividade dos
humanos na produção dos trabalhos exclusiva e efetivamente intelectuais.
Com isso, volta nascer a preocupação acerca dos vieses.
Atualmente, o oligopólio da tecnologia é dominado precipuamente por Apple,
Meta, Amazon, OpenAI e Google, entre pouquíssimas outras. O Planeta, em
contrapartida, possui cinco grandes continentes - África, América, Ásia, Europa e
Oceania - povoado por cerca de 8 bilhões de pessoas. Cada uma dessas porções de
terra possuem clima, cultura e modos de vida diferentes. Por outro lado,
praticamente todas as grandes empresas do segmento estão sediadas no Vale do
Silício - uma das regiões mais ricas do globo 31.
Nesse ponto, seria, no mínimo, ingenuidade pensar que os processos de
tomada de decisão por trás desse tipo de ferramenta não reflita visões de mundo
extremamente peculiares, típicas das novas elites econômicas mundiais. Os homens
de negócios que agora ditam os rumos políticos e econômicos globais são, em sua
maioria, engenheiros, inventores, pesquisadores, e sua lógica é a busca da eficiência.
No entanto, a ultraespecialização em suas áreas pode - e vai - provocar a alienação
em relação a questões importantes para a sociedade, incluindo segregação racial,
econômica e de gênero. 32
Por isso, se a inteligência implica em escolhas, é necessário saber
exatamente como elas são tomadas, sob pena de comprometer a transparência do
processo, ou pior, submetê-lo à visão hegemônica de determinada parcela da
sociedade ou de um grupo econômico mantenedor do banco de dados.
Como uma nova tecnologia, os modelos de IA representam riscos e
oportunidades para o desenvolvimento da sociedade humana, o que vai depender da
destinação dada por seus usuários. Tomando por base uma analogia, ressalta-se que
a pólvora serve tanto para a fabricação de explosivos quanto de fogos-de-artifício e
a imprensa serve tanto para a publicação de romances quanto de discursos
supremacistas e/ou de ódio.

30 BECK, U. Sociedade de risco: Rumo a uma Outra Modernidade. Editora 34; 2. Reimpressão.
2011, 384p. p. 275.
31 HOFFMANN-RIEM, W. (2020). BIG DATA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: desafios para o

Direito. REI - REVISTA ESTUDOS INSTITUCIONAIS, 6(2), 431–506.


https://doi.org/10.21783/rei.v6i2.484
32 MACHADO DOS SANTOS, A., Mendes, D., & Freiberger, R. L. (2022). Capitalismo,

globalização e interações com a pesquisa científica. Conjecturas, 22(2), 1089–1107.


Recuperado de http://www.conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/791.
Rafael C. V. Ferreira et al. O surgimento do Chat GPT e a: (...)

Para cada finalidade pretendida, será preciso estabelecer critérios que


respeitem a ética e os respectivos objetivos, de forma a evitar a desvirtuação da
ferramenta para finalidades escusas.
Se serão desenvolvidas eficientes ferramentas de metanálise científica
baseadas em IA, ou se o uso indiscriminado desses modelos levará a uma redução
da qualidade da ciência, privilegiando a quantidade em detrimento da qualidade,
dependerá do uso adequado ou mesmo da regulamentação dessa nova tecnologia.

3.1 Automatização de trabalhos e direitos autorais


Enquanto a comunidade científica discute a seu próprio ritmo o papel e as
possibilidades de aplicação desses modelos de linguagem natural na pesquisa,
questões urgentes emergiram quase que instantaneamente nos ensinos médio e
superior. A ameaça de utilização do ChatGPT como atalho na entrega de trabalhos
escolares e acadêmicos, faz nascer relevantes preocupações numa contraposição que
envolve: processo de aprendizado e resultados - ou seja, as notas.
Como demonstrado, o grande diferencial do ChatGPT e outros modelos
semelhantes é a capacidade de concatenar ideias de forma coerente em formato de
texto, em linguagem natural. Mas esse também é um dos objetivos principais do
processo educacional, em que os alunos precisam desenvolver habilidades e
competências intelectuais que lhes permitam articular suas próprias ideias. A
produção de texto desempenha um papel fundamental nisso, assim como a avaliação
da produção do aluno. 33
Temendo o impacto devastador da utilização da Inteligência Artificial como
subterfúgio pelos estudantes, escolas ao redor do mundo rapidamente restringiram
o acesso à ferramenta em espaços escolares, bem como passaram a discutir métodos
alternativos de avaliação para mitigar seus efeitos danosos, já que com a integração
tecnológica a sala de aula torna-se mesmo improdutivo proibir a ferramenta. 34
Ocorre que a burla nos sistemas de avaliação, principalmente em nível de
graduação e pós-graduação, já é uma realidade anterior às IA de linguagem natural.
Após a mídia australiana noticiar o aumento da prática de compra de trabalhos
acadêmicos nas universidades do país, uma pesquisa revelou diversas
vulnerabilidades do ecossistema universitário que permitem e até fomentam a
fraude. Dentre esses pontos de irresignação está a insatisfação com o ambiente de
ensino e aprendizagem; a percepção de que há “muitas oportunidades para
trapacear” e até mesmo questões envolvendo o idioma. 35
O estudo sugere que é necessária uma reformulação do ambiente de
aprendizagem e do currículo, com a ressignificação das relações aluno-professor,
reconhecendo as necessidades de todos os estudantes. Ou seja, esse problema
estrutural tende a se agravar com o surgimento de novas ferramentas que facilitem
a fraude. Para tratá-lo é preciso dar uma abordagem adequada às causas. Problemas
complexos exigem soluções complexas.
Enquanto os trabalhos escolares e acadêmicos significarem apenas um fardo
na vida de estudantes e pesquisadores, o processo de produção do conhecimento
estará comprometido, formando um grande volume de profissionais desqualificados,
sem senso crítico e sem autonomia. Ou seja, o modelo atual das universidades
precisa ser repensado, voltando-se para a qualidade de formação de seus alunos, e

33 GIL, A. C. Didática do ensino superior, 2. ed., Atlas, São Paulo, 2018.


34 TENENTE, L. “Tentar proibir ChatGPT nas escolas será perda de tempo, dizem especialistas;
veja prós e contras do robô na sala de aula”, G1, 29 jan. 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/01/29/tentar-proibir-chatgpt-nas-escolas-sera-
perda-de-tempo-dizem-especialistas-veja-pros-e-contras-do-robo-na-sala-de-aula.ghtml.
Acesso em: 25 fev. 2023.
35 BRETAG, T.; HARPER, R.; BURTON, M.; ELLIS, C.; NEWTON, P.; ROZENBERG, P.; SADDIQUI,

S.; VAN HAERINGEN, K. “Contract cheating: a survey of Australian university students”,


Studies in Higher Education, 2018, pp. 1-20. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1080/03075079.2018.1462788. Acesso em 25 fev. 2023.
139
140 Cadernos de Dereito Actual Nº 21. Núm. Ordinario, (2023)

não da quantidade de egressos; enquanto os pesquisadores precisam de incentivos


para aumentar a qualidade de seus trabalhos, não a quantidade deles.
Caso contrário, as próximas gerações serão formadas para servir às grandes
empresas de tecnologia, tornando-se cada vez mais dependentes delas, enquanto
entregam cada vez mais autonomia para a automação. É esse o processo que já se
percebe em relação à tecnologia mundana, que se converte em ferramenta de
dominação e exploração das classes mais desfavorecidas:

Acadêmicos e desenvolvedores de tecnologias frequentemente


percebem aqueles que são oprimidos como meros
consumidores de tecnologia, em vez de agentes empoderados
por elas.? Essa tensão entre opressão e empoderamento
transforma as tecnologias digitais - como qualquer outro
aspecto da vida dos oprimidos - em um campo de batalha. A
experiência do oprimido com tecnologias digitais em suas
vidas cotidianas revela a violência estrutural da Era da
Informação. 36

A educação de nível superior precisa deixar de ser um negócio submetido à


regra da máxima eficiência de mercado. Caso não seja possível dar tal garantia, pode
ser necessário limitar as vagas disponíveis para determinados cursos e, em
contrapartida, disponibilizar mais para outros. Assim, será possível filtrar melhor as
vagas disponíveis, possibilitando uma maior e melhor inclusão dos alunos nos
trabalhos acadêmicos, o que limitaria a possibilidade de utilização desse tipo de
ferramenta como mecanismo de burla.
A Inteligência Artificial representa um desafio sem precedentes para os
docentes do ensino básico e superior. E ela já é realidade. Tanto os professores
quanto os alunos precisam aprender a lidar, em conjunto, com as novas tecnologias,
reafirmando as ideias de Paulo Freire 37 de que a educação autônoma só ocorre por
uma via de mão dupla entre alunos e professores.
De igual modo, priorizar métodos alternativos de avaliação, como a defesa
oral dos trabalhos, mediante questionamentos sobre premissas fulcrais neles
presentes, também será necessário para diminuir o protagonismo da inteligência
artificial em detrimento do esforço humano. Nesse sentido, as novas tecnologias
devem ser compreendidas como motor de impulsão para o desenvolvimento da
sociedade, pressionando o aperfeiçoamento das instituições, mesmo as mais antigas.
Considerando o direito à liberdade de cátedra como fundamental à
manutenção das propostas das universidades, deve se ter em mente que compete
somente às instituições educacionais, no exercício de sua liberdade acadêmica,
promover a adequação de seu ambiente e de seus processos à nova realidade
imposta pela tecnologia.
Respondendo à última questão, por mais que a aplicação de IA esteja
submetida aos comandos do usuário, transferir para a máquina o trabalho cognitivo
importa em terceirizar a atividade de inteligência, abrindo mão de um exercício
importante para o discente. Com esse subterfúgio, não se pode mais dizer que ele é
o autor daquele texto, mas também não o é a máquina.
Embora seja necessário, pelas exigências de transparência, que um
pesquisador demonstre exatamente como e em que medida utilizou uma ferramenta
de linguagem generativa, ela jamais poderá constar no rol de coautores. Atribuir
personalidade à IA é um equívoco, porque seu pensamento - até o presente momento
- não é autônomo. Por mais arbitrário que o nosso sistema de atribuição de autoria
seja, não se pode perder de vista que o trabalho realizado pela máquina será da

36 NEMER, D. Tecnologia do Oprimido: desigualdade e o mundo digital nas favelas do Brasil,


Editora Milfontes, Vitória, 2021, pp. 20.
37 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, 63. ed., Paz

e Terra, Rio de Janeiro/São Paulo, 2020.


Rafael C. V. Ferreira et al. O surgimento do Chat GPT e a: (...)

mesma natureza que aquele feito por um computador, mediante cálculos de uma
equação, através de parâmetros pré-estabelecidos pelo usuário.

4. Conclusão
A história global tem mostrado que proibir a tecnologia não é o melhor
caminho, eis que foi ela que moldou o modo de vida que conhecemos, com a criação
de medicamentos que desenvolveram a medicina, o desenvolvimento processos de
produção de alimentos que minimizaram a escassez e a criação de meios de
transporte e de telecomunicação que uniram o mundo em uma única sociedade.
Logo, tentar frear uma nova tecnologia é um esforço infrutífero, pois
independentemente do bom ou mal-uso, sua utilidade sempre será explorada por
quem a detém. Com as mais recentes tecnologias da informação e da comunicação
não haverá exceção. A maior parte delas já é desenvolvida por empresas tão
poderosas quanto Estados, com operações em todo o mundo. Seu avanço é rápido e
tem povoado as discussões sobretudo no âmbito escolar e acadêmico. Em especial,
os novos modelos de linguagem natural, como o ChatGPT, chegaram como uma
tempestade sobre a pesquisa e o ensino.
Enquanto os professores desde logo enxergaram uma grande ameaça ao
processo de ensino-aprendizagem, pela capacidade da máquina de substituir o aluno
na confecção de trabalhos, cientistas debatem o papel da nova tecnologia na
produção acadêmica. Estes fenômenos já ocorriam desde muito antes da existência
de modelos de IA tão sofisticados, mas a sua eficiência gerou um alerta para a
comunidade educacional.
A abertura dessas ferramentas para o público em geral trouxe novas
oportunidades, para o bem ou para o mau. Sua exploração dependerá da capacidade
das instituições de compreender o funcionamento da máquina, e reformular seus
próprios processos de avaliação, seguindo diretrizes de transparência, e
aperfeiçoando o ambiente de aprendizagem e produção do conhecimento. Ainda que
de forma repentina e desconcertante, as plataformas de linguagem natural deverão
pressionar pelo aprimoramento dos processos educacionais, obrigando os
professores a utilizar métodos não tradicionais de avaliação e de produção de
conhecimento.
No campo científico, a aplicação da Inteligência Artificial deve conduzir a
profundas reflexões epistemológicas sobre o papel do cientista frente a um mundo
cada vez mais regulado pelas máquinas e por gigantes empresas do ramo da
tecnologia. Ao final, o ponto comum que deve pautar a discussão sobre a aplicação
de modelos de automação continua sendo a autonomia do pensamento humano,
questão essencial que deve ser tratada no âmbito da liberdade acadêmica e científica.
Assim, ao que tudo indica, é atualmente, na primeira metade do século XXI,
que o verdadeiro risco de as máquinas se mostrarem capazes de substituir, por
completo, a mão de obra e inteligência humana começa a aparecer. Antes do
surgimento da Inteligência Artificial, a relação entre homens e máquinas parecia
sedimentada. Essa viragem trazida pela IA precisa ser amplamente debatida, não só
no plano nacional, mas global, possibilitando que os Estado se debrucem sobre o
tema e estejam preparados para dialogar com as plataformas, impedindo que
interesses privados se sobreponham a garantias fundamentais.
Por fim, não se pode esquecer que as ações e/ou omissões de hoje terão
impactos no futuro.

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