CADERNO_DE_RESUMOS_-_MESTRADO_2024
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encontra-se o trabalho mediado por plataforma digital, que se desenvolveu nas transformações da
Quarta Revolução Industrial e tem como maior característica a informalidade (Abílio, 2021; Grohmann &
Salvagni, 2023). Nesse contexto, destaca-se o trabalho uberizado, realizado por motociclistas e ciclistas
em plataformas de delivery, o qual cresceu nos últimos anos, dentre outros aspectos, devido ao
processo de profundo desemprego vivenciado no Brasil na última década. Estudos mais recentes do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2023) apontam que, no final do quarto trimestre de
2022, existiam aproximadamente 1,5 milhões de brasileiros em situação de trabalho uberizado. Na
categoria de motociclistas em atividades de malote e de entrega, esses estudos apontam a existência
de 338 mil trabalhadores. Destes, 171 mil (50,8%) realizavam trabalhos por meio de aplicativos de
entrega, com um rendimento médio mensal de R$1.784,00 e jornada de trabalho de 47,6 horas
semanais. Em Natal, Sales et al. (2022) pontuam que
Introdução: Desde antes do nascimento, a identidade de gênero é atribuída a cada pessoa e passa a
ser tomada como algo naturalmente dado, a partir do sexo biológico, numa evidente dicotomia
homem/mulher, evidenciando a lógica binária a qual impera em nosso horizonte histórico. Essa
identidade é reforçada pela família e pela sociedade ao longo do tempo e direciona desejos,
comportamentos e modos de existir, muitas vezes aprisionando essas existências em modos de ser no
mundo previamente estabelecidos e silenciando outros modos de ser que não estejam em consonância
com o ser homem ou ser mulher (Trzan-Ávila, 2019). Dessa forma, a transgeneridade pode ser
entendida como uma experiência de segregação, tendo em vista a imposição da cisheteronormatividade
presente nesse horizonte histórico (Almeida e Silva, 2020). A transição de gênero não é algo
historicamente novo, mas ainda é considerada tabu, uma vez que acarreta uma série de implicações
físicas, emocionais, familiares, sociais e políticas, não sendo experienciada de forma isolada, afetando
também os familiares. Diversos sentimentos podem ser suscitados a partir da descoberta de um filho
como pessoa transgênero, como sentimento de perda, culpa, medo do preconceito e da violência (Braz,
Reis, Horta e Fernandes, 2020). Além disso, lidar com a transição de gênero de um filho significa
romper com uma identidade construída até ali, sendo uma experiência de luto simbólico (Almeida e
Silva, 2020). O fato dessa perda não ser legitimada pela sociedade, torna a vivência do luto solitária e
mais sofrida. Diante do exposto, a presente pesquisa questiona: como é ser mãe de uma pessoa
transgênero? Quais os afetos envolvidos nessa vivência? Quais os sentidos atribuídos à experiência de
ser mãe de uma pessoa transgênero? Compreender as histórias dessas mães é se aproximar de uma
temática sensível, atual e relevante, considerando o número expressivo de pessoas que passam por
esse processo. Ademais, a transição de gênero constitui-se como um potencial gerador de sofrimento
para aqueles envolvidos, dado o desconhecimento, incompreensão e preconceito que circundam a
temática e a invisibilidade dessa população numa sociedade marcadamente transfóbica. Desta forma, é
importante trazermos dados que retratam a realidade da população transgênero e que denotam sua
vulnerabilidade. No Brasil, cerca de 2% da população adulta é composta por pessoas trans e não
binárias, correspondendo a aproximadamente 3 milhões de indivíduos (Spizzirri, G., Eufrásio, R., Lima,
M.C.P. et al., 2021). Embora esse número seja expressivo, as pessoas transgênero ainda estão em um
lugar de exclusão social e preconceito, sendo alvo de muitas violências em contextos diversos. A
realidade do país é desoladora, uma vez que o Brasil é o país que mais mata a população LGBTQIA+
no mundo (Observatório do Grupo Gay da Bahia, 2023). O Observatório de Mortes e Violências contra
LGBTQIA+ aponta que, em 2023, ocorreram no Brasil 230 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+,
dentre assassinatos, suicídios e outras não tipificadas. Na população transgênero e travesti, foram
contabilizadas 155 mortes (Acontece; ANTRA; ABGLT, 2024). O Atlas da Violência de 2024 registra 175
vítimas de tortura em 2022 (Cerqueira, D., et al., 2024). Porém, esses números não correspondem à
2
realidade de fato devido à subnotificação, uma vez que depende do reconhecimento da identidade de
gênero e orientação sexual das vítimas. Para se ter uma ideia do quão distantes os dados podem estar
da realidade, o Atlas da Violência de 2021 (Cerqueira, D., et al., 2021) indicava que 98,8% dos registros
do SINAN não possuíam a informação sobre a identidade de gênero das pessoas. Os dados acima nos
colocam diante de uma realidade que retrata uma sociedade excludente, preconceituosa e violenta.
Porém, não se pode deixar de apontar também o desconhecimento a respeito das questões de gênero
e transgeneridade. Se esse fenômeno já é pouco estudado no campo da Psicologia, estudos sobre seus
impactos em relação à família são quase inexistentes. Em rápida busca nas bases de dados Scielo,
Lilacs e BVS-
encontramos apenas três pesquisas sobre transição de gênero no âmbito familiar, todas
elas no campo da enfermagem. Em relação à vivência especificamente das mães, não foi encontrado
nenhum estudo. Dessa forma, compreende-se que estudar os impactos da transição de gênero nas
famílias e, particularmente, para as mães, significa preencher uma lacuna existente no campo da
Psicologia. Objetivo: Diante do exposto, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo
compreender os sentidos de ser mãe de um(a) filho(a) transgênero, à luz da ontologia heideggeriana.
Método: A presente pesquisa está ancorada na perspectiva fenomenológica hermenêutica, uma vez
que visa compreender o vivido a partir dos sentidos atribuídos pelas participantes ao fenômeno em
questão, qual seja, o da maternidade de um(a) filho(a) trans.
fenomenológico constitui-se numa abordagem descritiva, partindo da ideia de que se pode deixar o
fenômeno falar por si, com o objetivo de alcançar o sentido da experiência, ou seja, o que a experiência
significa para as pessoas que tiveram a experiência em questão e que estão, portanto, aptas a dar uma
etar a
partir de uma circularidade, que é formada por estruturas compreensivas, denominadas de posição
prévia, visão prévia e concepção prévia. A posição prévia seria a própria abertura do Dasein que o
projeta no mundo em uma trama de significados já pré-c
porque, como ser-no-mundo, o Dasein já está em meio a outros Daseins e entes que lhe vêm ao
encontro, estabelecendo com eles relações de sentidos. À interpretação cabe se apropriar desses
sentidos já pré-
determinada de interpretação. A visão prévia seria, então, um modo determinado de interpretação
daquilo que foi assumido na posição prévia. A esses dois movimentos, acrescenta-se um terceiro, a
concepção prévia, que seria a articulação entre os dois primeiros no sentido da conceituação daquilo
que foi compreendido/interpretado, correspondendo aos sentidos apreendidos até então. Esse processo
de compreender/interpretar os fenômenos não ocorre de forma única, linear ou finita. Como afirmam
conhecimento não pode ser apreendido e encapsulado, tornando-se uma espécie de descoberta de
como o conhecimento produzido, não são estruturas estáticas, estão em permanente movimento,
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atualizando-se a partir de novas compreensões. O público-alvo do estudo será quatro mães, maiores de
18 anos, residentes na cidade de Natal, cujos filhos se identifiquem como pessoas transgênero. Esse
número justifica-se tendo em vista que o que se busca é a compreensão do fenômeno estudado e a
apreensão dos sentidos e significados das vivências para cada participante e não sua generalização.
Para ter acesso à experiência dessas mães, pretende-se realizar entrevistas narrativas partindo da
entrevistas serão gravadas e posteriormente transcritas. Além disso, será utilizado o diário de afetações
(Azevedo e Dutra, 2021), que vem a ser um instrumento no qual a pesquisadora registra o que acontece
o diário de
afetações possibilita ampliar compreensões, juntamente com as narrativas, partindo do vivido e do
sentido. Na perspectiva de uma ciência que se dá pela experiência, o registro dos afetos é parte do que
hermenêutico, adaptado por Azevedo e Dutra (2021) para a pesquisa, compreendendo os seguintes
revisões da literatura específica; diálogo entre as reflexões feitas a partir das etapas anteriores e a
literatura, no qual ocorre a conceituação do fenômeno oriunda da interpretação, correspondendo à
concepção prévia. Resultados esperados e implicações: como resultados dessa pesquisa, espera-se
a compreensão dos sentidos atribuídos pelas participantes à experiência de ser mãe de um filho
transgênero, a fim de subsidiar o trabalho na clínica ou outros espaços de atuação, bem como contribuir
com outros estudos acerca da temática. Entende-se também que trazer essa temática para a academia
é uma forma de dar visibilidade, contribuir com a minoração do preconceito, além de olhar para o
sofrimento advindo dessa vivência.
Palavras-chave: Transgeneridade, maternidade, pesquisa fenomenológica hermenêutica.
Referências:
Acontece Arte e Política LGBTI+, ANTRA (Associa o Nacional de Travestis e Transexuais), ABGLT
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Mortes e violências contra LGBTI+ no Brasil: Dossi 2023.
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heteronormativos. In G. Casellato (Org), Luto por Perdas Não Legitimadas na Atualidade (p. 58-72).
São Paulo: Summus Editorial.
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possibilidades metodológicas para a pesquisa em psicologia. Pesquisa em Psicologia
Fenomenológica-existencial: interpretações do sofrimento na contemporaneidade II (pp. 27-39).
Curitiba: CRV.
4
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Cerqueira, D., et al. (2021). Atlas da Violência 2021. São Paulo: FBSP.
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https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/14031
Costa, A. M. Q. (2024). O último grito: compreensões fenomenológicas sobre ideação e tentativa de
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4.
Trzan-Ávila, A. (2019). Identidade de Gênero: Performatividade, ser-aí e subversões. Rio de Janeiro:
IFEN.
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(R)EXISTÊNCIAS INVISIBILIZADAS: A NOTIFICAÇÃO DE TENTATIVAS DE SUICÍDIO DE
PESSOAS LGBTQIA+ EM NATAL
Introdução: Os sistemas da informação avançam cada vez mais e vêm se tornando a base que
fundamenta a gestão de informação e de conhecimento, passando a ser uma das principais fontes para
a comunicação e produção científica (Sousa, 2012). Entre as muitas etapas que os dados passam até
chegarem a esses sistemas, está a etapa de coleta, definida como a base desse processo (Cunha &
Vargens, 2017). Esses autores definem, ainda, um tipo específico de sistema, os Sistemas de
Informação em Saúde, que foram implantados no Brasil a partir da década de 1970. De acordo com o
Ministério da Saúde (2006), entre os sistemas que foram implantados no país, temos o SINAN (Sistema
de Informação de Agravos de Notificação), implantado a partir de 1993, e responsável pelo
armazenamento de dados de ocorrências em saúde. Os dados armazenados nesse sistema dizem de
adoecimentos, infecções e doenças, em sua maioria, mas não apenas, alguns dos dados armazenados
nesse sistema são relativos às violências interpessoais e autoprovocadas, entre elas as tentativas de
suicídio. O SINAN é alimentado a partir da Ficha de Notificação Individual, que é preenchida por
profissionais das redes pública e privada de saúde e que, no caso de violências autoprovocadas, tem
sua notificação compulsória, a partir da Lei 13.819/19. A ficha é muito completa quanto às informações
sobre os agravos e sobre os usuários e, entre os campos a se preencher, temos os campos de
orientação sexual e identidade de gênero, sendo esses dados fundamentais a identificação de pessoas
LGBTQIA+ que acessam os serviços de saúde por tentativa de suicídio. Dutra (2018) nos convida a
compreender o suicídio como uma manifestação do desassossego humano, atormentando pessoas a
ponto dessas quererem tirar suas próprias vidas, se retirando de um mundo o qual se anuncia
esvaziado de sentidos. O desassossego que o suicídio manifesta traz inquietações à própria
Organização Mundial da Saúde (2019), que, ao caracterizar grupos que se mostram mais vulneráveis à
tentativa de suicídio, dentre eles a população LGBTQIA+, mostra que existem populações cuja
existência encontra-se rodeada de tormentos e vulnerabilidade. Em consonância com a OMS, pensar
sobre essa população nos desvela as opressões relativas às hegemonias de identidades historicamente
construídas e sedimentadas no mundo, que, por conceberem uma identidade normalizada
normativamente, como nos aponta Casanova (2021), tornam existências que fogem à norma um
- - el
(Cabral, 2020). Ao nos voltarmos ao campo prático dessas problemáticas, encontramos estudos como o
de Svaldi e Kempfer (2021), que nos denunciam a falta de preparo de profissionais da saúde para
realizar o atendimento de pessoas LGBTQIA+ que chegam aos serviços de saúde. Esse autor nos
mostra que ao chegar a esses serviços de saúde, esses usuários enfrentam a falta de preparo técnico,
preconceito, discriminação e falhas éticas, passando por todo um processo de revitimização, fazendo
com que essas pessoas sejam expostas novamente às diminuições violentas de suas identidades.
Nesse sentido, pensamos no que Heidegger (1927/2015) trouxe como o modo de cuidado mais comum
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na cotidianidade: a indiferença, sendo esse um modo similar ao que é vivido com os entes, com
suposições, sentidos naturalizados e diferenças niveladas (Santos e Sá, 2013). Evidenciada a
invisibilização da população LGBTQIA+ nos dados, anunciada por Silva e Azevedo (2022), considera-se
necessário olhar para as bases do processo, indo diretamente aos profissionais responsáveis por
preencher as estatísticas de tentativas de suicídio buscando escutar as experiências desses, seus
sentidos e significados sobre os campos que permitem evidenciar uma população já tão invisibilizada.
Dessa maneira, considero demasiado importante um outro olhar para o fenômeno da tentativa de
suicídio, tirando de foco a mortalidade e suas causalidades, adentrando uma instância anterior à
quantificação e armazenamento dos casos em bases de sistemas, compreendendo os sentidos dados
pelos profissionais responsáveis pela notificação dos dados relativos às tentativas de suicídio de
pessoas LGBTQIA+. Compreendo, ainda, que olhar para esse fenômeno em uma perspectiva
fenomenológico-existencial é um passo importante à abertura de caminhos para uma gestão correta de
informações imprescindíveis ao cuidado com essa população já muito vulnerabilizada. Isso se dá visto
que é a partir da percepção desses profissionais que uma das populações mais suscetíveis ao suicídio
é, ou não, visibilizada dentro dos sistemas de informação e, consequentemente, nas políticas públicas
de saúde e assistência. Ainda, é de suma importância que os estudos a respeito do suicídio de voltem,
também, para as notificações do mesmo, possibilitando uma sensibilização dos profissionais que as
realizam a respeito das várias interseccionalidades que podem ser visibilizadas e cuidadas a partir do
preenchimento completo das fichas de notificação.
Objetivo: Compreender como profissionais da saúde da cidade de Natal notificam tentativas de suicídio
de pessoas LGBTQIA+
Método: O presente trabalho trata-se de uma pesquisa fenomenológico-existencial de base
Dutra, E. (2018). O desassossego humano na contemporaneidade (1st ed.). Rio de Janeiro: Via
Verita
Lei nº 13.819 (2019, 26 de abril). Institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio,
a ser implementada pela União, em cooperação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; e
altera a Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Brasília, DF: Ministério da Saúde
World Health Organization (2019). Suicide worldwide in 2019: global health estimates. Geneva: World
Health Organization
INVESTIGAÇÃO DOS ASPECTOS COGNITIVOS, SOCIOEMOCIONAIS E DO SONO EM
CRIANÇAS QUE RESIDEM EM COMUNIDADES PRÓXIMAS A EMPREENDIMENTOS
EÓLICOS
usinas eólicas é assinalada como capaz de atender aos requisitos necessários referentes aos custos
econômicos e à sustentabilidade ambiental (Martins et al., 2008; Jaber, 2013). Contudo, diversos
estudos contestam esta afirmação, suas investigações revelam os seguintes impactos: modificações
visuais das paisagens (Mirasgedis et al., 2014); mortandade de pássaros pelos aerogeradores (Carrete
et al., 2012; Lucas et al., 2012; Kikuchi, 2008; Kunz et al., 2007); causa de mortalidade de animais
comunidades onde os parques foram instalados (Munday et al., 2011; Landry et al., 2013); interferência
nos serviços de telecomunicação (Ngulo et al., 2014); e impactos decorrentes do ruído mecânico e
aerodinâmico (European Wind Energy Association, 2009).
Adicionalmente, no RN, empreendimentos eólicos estão instalados em áreas de instabilidade
ambiental acentuada (Vasconcelos, 2005; Gorayeb et al., 2005), dentro de territórios de comunidades
tradicionais de pescadores, quilombolas, agricultores familiares e aldeias indígenas, impactando a
dinâmica natural do meio físico e influindo negativamente no modo de vida das comunidades
tradicionais (Meireles, 2011). Trata-se de área historicamente ocupada por estas comunidades,
definidas como grupos com formas próprias de organização social, que ocupam e utilizam os territórios
e recursos naturais como condição para a sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e
econômica, a partir de conhecimentos, inovações e práticas entre gerações (Mendes, 2016; Brasil,
2007).
Outrossim, é descrito na literatura que moradores sofrem com barulhos incessantes que
interferem na qualidade do sono, ocasionando, dentre outras consequências, o aumento do número de
acompanhamentos realizados pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e de prescrições de
medicamentos contra insônia e ansiedade (Costa et al., 2019). Pesquisas estão sendo realizadas com o
objetivo de compreender, além das consequências ambientais e socioeconômicas, possíveis impactos
sociais, culturais, emocionais e cognitivos nos indivíduos das comunidades onde usinas eólicas estão
em atividade. Além disso, há escassez de estudos que descrevam os impactos para o desenvolvimento
infantil.
Nesse cenário, interroga-se: Haverá impactos cognitivos, comportamentais e socioemocionais
em crianças que residem em comunidades próximas aos empreendimentos eólicos? O tempo de
exposição aos estímulos visuais e sonoros é uma variável relevante nesta relação?
Objetivo Geral
Estabelecer relações entre o desenvolvimento infantil, a presença e o tempo de exposição aos
estímulos visuais e sonoros associados a empreendimentos eólicos
Objetivos Específicos
Investigar o desenvolvimento cognitivo de crianças que residem em comunidades próximas de
empreendimentos eólicos.
Investigar o desenvolvimento socioemocional de crianças que residem em comunidades
próximas de empreendimentos eólicos.
Investigar a qualidade do sono de crianças que residem em comunidades próximas de
empreendimentos eólicos.
Metodologia
Em termos de delineamento, trata-se de estudo transversal descritivo. A execução deste projeto
seguirá rigorosamente os preceitos éticos exigidos pela legislação vigente e, após o exame de
qualificação, será encaminhado ao comitê de ética em pesquisa da UFRN.A caracterização dos
participantes do estudo, notadamente em termos de faixa etária, será estabelecida em conjunto com as
comunidades nas quais este será realizado. Serão constituídos três grupos de crianças, pareados por
sexo, idade e escolaridade, sendo um composto por crianças que residem desde que nasceram em
comunidade na qual se identifica a presença de empreendimento eólico, um segundo grupo constituído
por crianças que residem em comunidade com a presença recente (menos de dois anos) de um
empreendimento eólico, e um terceiro que reside em uma comunidade na qual será instalado um
empreendimento eólico. Todas as comunidades devem pertencer a uma mesma microrregião do Estado
do RN,, bem como devem ser similares em termos de aspectos econômicos, sociais e culturais.
A investigação será realizada com o auxílio de instrumentos utilizados no processo de avaliação
neuropsicológica. Planeja-se utilizar ferramentas para avaliar aspectos cognitivos: capacidade
intelectual, subsistemas atencionais, subsistemas de memória, além do sono e do domínio
socioemocional . Serão utilizados testes e tarefas que possuem normatização para a população
brasileira, assim, os resultados obtidos durante os processos serão classificados de acordo com a
normatização.
Para a seleção das comunidades participantes do estudo foram utilizados critérios de inclusão
para o levantamento e delimitação dos possíveis territórios: comunidades próximas, com aspectos
históricos, sociais, culturais e econômicos semelhantes. Para tanto, foram selecionadas três. O primeiro
local chama-se Macambira, comunidade quilombola localizada no município de Lagoa Nova, no qual o
empreendimento está em atividade há 8 anos. Dessa forma, existem crianças que desde o nascimento
estão submetidas ao estímulo sonoro constante proveniente da usina. A segunda comunidade chama-
se Acauã, assentamento próximo à Macambira, onde foi recéminstalado um empreendimento eólico,
sua atividade é recente e as crianças dessa comunidade estão expostas aos estímulos constantes da
usina eólica há tempo inferior àquelas que residem em Macambira. A terceira é Serra Verde,
comunidade também localizada numa região próxima às demais, na qual um empreendimento está em
processo de instalação, assim ainda não há atividade de empreendimento de exploração dos ventos e
as crianças ainda não foram submetidas a estímulos visuais e sonoros constantes.
Para o delineamento do desenho metodológico, a definição da faixa etária, número de
participantes do estudo, assim como os instrumentos a serem utilizados, serão realizadas após visitas
aos territórios. Essa decisão justifica-se pela proposta ético-metodológica, pois o método não é
entendido como um conjunto de procedimentos a priori, independente dos limites e das possibilidades
que se apresentam nos territórios, mas como efeito da experiência no campo (Simoni, 2012).
loucos, profetas, esfomeados e povo de rua: tirem dos lixos deste imenso país restos de
Embala o corpo / A loucura é geral / Larguem minha fantasia, que agonia / Deixem-me
mostrar meu carnaval / Firme, belo perfil / Alegria e manifestação / Eis a Beija-Flor tão linda /
-Flor,
consolidava o grito dos excluídos.
Inicio o trabalho comparando o desfile supracitado com o meu primeiro encontro com
o Centro de Convivência e Cultura (CECCO) de Natal. Era 18 de maio, Dia Nacional da Luta
Antimanicomial e eles haviam organizado um cortejo pelo centro da cidade. Nele, conheci
algumas das pessoas que mudaram minha trajetória na Psicologia e me fizeram passar a
frequentar o CECCO, inicialmente como voluntária, depois como estagiária e hoje, fazendo
desse lugar meu campo de pesquisa.
O dispositivo compõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Natal, é aberto à
toda população e composto por espaços híbridos voltados para sociabilidade, produção
cultural e intervenção na cidade. Ele conta com uma equipe multiprofissional de
colaboradores vindos de outros trabalhos da RAPS, artistas voluntários, estudantes e
professores que realizam diversas oficinas, dentre elas: dança, percussão, poesia,
artesanato, teatro e música. Também são desenvolvidas atividades programadas que
buscam ampliar a ocupação de espaços e inserção dos convivas - como são chamados os
frequentadores do CECCO - na cidade, desenhando uma rotina mutante, realizada
conforme a disponibilidade e desejo daqueles que compõem o coletivo (Schenkel et al.
2022).
Foi fácil enxergar semelhanças entre o CECCO e meu desfile carnavalesco favorito,
principalmente, porque nos dois há um convite à inclusão social por meio da arte, seja pela
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exuberância dos carros alegóricos ou pelas obras espalhadas por todo espaço ocupado
pelos convivas. Em ambos, a música, por sua vez, tem papel fundamental. Se por um lado o
refrão do samba-enredo falava em derramar os frutos da imaginação na avenida, por outro,
as rodas de música do CECCO trazem consigo o espaço de vazão para a imaginação dos
convivas. Parte daí meu interesse pela música enquanto objeto de pesquisa. Pretendo
acompanhar esses movimentos, sabendo que, embora sejam contextos com gente sorrindo
e muitas cores, a alegria contrasta com outros sentimentos e afetações. E é essa
multiplicidade de afetações que almejo visibilizar ao realizar a pesquisa. Afinal, não se faz
festa porque a vida é boa, mas pela razão inversa (Simas, 2021).
A arte é o social em nós e, se o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto
não significa que suas raízes sejam individuais. A refundição das emoções realiza-se por
força de um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e
fixado nos objetos externos, que se tornaram instrumentos da sociedade (Vigotski, 1999), o
que pode ser observado nesse exercício coletivo de escolher, compor, cantar e tocar
músicas desempenhado pelos convivas. Para Arndt (2015), fazer música em comunidade é
apostar que o engajamento coletivo supera uma formatação individualista do social e assim
o transforma. É compreender que há ali cultura, música, voz, sonoridade. É reconhecer que
os modos de existir não são estáticos.
E consciente de que, conforme apontado pela autora, trabalhar com música em
momentos prazerosos ou ocupar idosos ociosos como forma de evitar quadros depressivos
na senilidade. Com esse projeto, almejo escutar atentamente os sons e os diálogos
produzidos em grupo, a fim de interrogar o que pode a música como experiência coletiva no
CECCO de Natal.
Objetivos: diante do exposto, a pesquisa tem como objetivo geral investigar a potência da
música como experiência coletiva no CECCO de Natal. Para isso, pretendo contemplar os
objetivos específicos de testemunhar as rodas de música do CECCO; investigar se e como
essa experiência contribui para o aumento da potência de ação dos convivas; e identificar se
tal experiência constrói e/ou fortalece laços coletivos entre os convivas.
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pretendo dialogar com outros campos de estudo como a Psicologia da Arte, a
Etnomusicologia e a Musicoterapia Social e Comunitária. Ademais, levarei em consideração
os conceitos de afetividade e potência para Espinosa e o método da cena de Jacques
Rancière (2012).
Acompanharei as rodas de música do CECCO, a fim de elaborar um diário de campo
(Freitas & Pereira, 2018) que me permita futuramente utilizar o método da cena. Ciente de
que a cena não é mera descrição de acontecimentos, mas também a produção de arranjos
e agenciamentos enunciativos que questionem a reprodução das hierarquias dentro das
instituições e das práticas comunicativas. O método consiste na ideia de uma cena que
assume a forma de uma estrutura de racionalidade sensível, produzindo um modo de
apresentação de diferentes objetos, situações e acontecimentos no qual eles se tornam
inteligíveis, desviando de consensos já estabelecidos. A cena, portanto, é como uma
pequena máquina anti-hierárquica indicadora do que pode interromper determinada
perpetuação de experiências embrutecedoras, visando a visibilidade de uma lógica de
inteligibilidade e relação entre elementos singulares/heterogêneos, o que produz
descontinuidades na aparição dos corpos, das demandas e das existências (Marques,
2022).
O trabalho da cena se associa, assim, à produção de intervalos e descontinuidades
que impossibilitam uma roteirização da experiência dos sujeitos (Rancière, 2012) o que,
conforme aponta Marques (2022), implica na percepção da cena como um complexo de
outras cenas singulares, situando-as em uma rede de intriga que permite a comunicação
entre múltiplos elementos e significações. O ponto de interseção entre estética, política e
comunicação se traduz na cena polêmica de aparência e interlocução, na qual se inscrevem
as ações, a palavra e o corpo do sujeito falante, e na qual esse próprio sujeito se constitui
de maneira performática, poética e argumentativa a partir da conexão e desconexão entre
os múltiplos nomes e modos de apresentação de si que o definem.
No CECCO, os(as) sujeitos(as) e artistas principais são os(as) convivas e são eles(as) que
estarão presentes nas cenas a serem construídas em combinação com outros múltiplos
elementos teóricos e artísticos. A primeira etapa do projeto consiste no estudo realizado em
áreas que contemplem as temáticas aqui abordadas. No entanto, reforço que esse é um
trabalho construído na observação de uma prática executada por pessoas cujas opiniões e
ideias são tão importantes quanto às de quem o elabora. Diante disso, não vejo como
construir um bom trabalho sem estar imersa no campo. Por isso, pretendo estar presente no
CECCO durante as rodas de música que acontecem semanalmente nas sextas-feiras pela
manhã para escutar e questionar a respeito do que se constrói a partir daquela experiência
e qual a potência da música nesse contexto.
3
Resultados esperados e implicações: segundo Arndt (2015), a música em um contexto
social comunitário pode ser uma constante aposta no encontro como mais uma
possibilidade para o aumento da potência de existir dos sujeitos. Pode assumir um tipo de
prática que não teme o caos, que sustenta o barulho, que não pretende desconstruir o
contexto que chega. Ela pode ser a própria possibilidade de criação de espaços,
composições instrumentais, vocais, corporais, dando tempo para que aqueles que se
aproximem experimentem se fazer soar de um modo novo e criem relações por meios outros
que não somente pelo convencionalmente posto.
Nesse sentido, enquanto pesquisadora, almejo tomar para mim o trabalho das cenas
tecendo-as por meio de múltiplos elementos, palavras, pessoas, histórias, imagens, letras e
melodias. E espero conseguir expressar complexos que contemplem as conexões entre
fragmentos, permitam a atribuição de sentido àqueles leitores que tiverem acesso à leitura e
respondam o que pode a roda de música no Centro de Convivência e Cultura de Natal.
Ademais, com os resultados deste trabalho pretendo, junto às minhas orientadoras,
publicar 2 artigos em periódicos científicos e produzir um produto técnico que possa circular
nas unidades básicas de saúde, tendo como objetivo contribuir com a queda de
preconceitos em torno do sofrimento psíquico e dar visibilidade ao aumento da potência de
ação de usuários de diferentes serviços, a partir de experiências semelhantes vivenciadas
no CECCO.
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em um CRAS da região metropolitana de Curitiba. 2015. 196 f. Dissertação (Mestrado) -
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Brasileira. 175 p.
5
PÓS-GRADUAÇÃO
Introdução. É recente o direito ao acesso à educação para todos, assim como disposto
constitucionalmente, tendo em vista a história do país. O ingresso no ensino superior foi
legalmente negado às pessoas pretas e escravizadas durante o período pós abolição (Alcântara &
Silva Júnior, 2020). Em consequência, tais barreiras impostas fizeram com que, durante tempos,
houvesse baixo número de acesso da população negra às instituições de ensino e educação.
Realidade que sofre mudanças apenas no ano de 2018, dez depois da promulgação da Lei
12.711, a Lei de Cotas, com a ocupação de cerca de mais de 50% das vagas em instituições por
pessoas negras (Venturini & Silva, 2023). A história do ensino superior começa inserida dentro da
lógica de favorecimento do modelo colonial. Durante um período, as formações eram possíveis
apenas para brancos. Somente em 1808 foi regulamentado o ensino superior no Colégio Pedro II,
no Rio de Janeiro. Posteriormente, surgiram leis que expandiram o ensino. Destaco o Decreto de
1854 que regulamentou a proibição de pessoas escravizadas dentro do ensino superior. Devido a
esta e outras pautas, organizações de pessoas negras começaram a surgir em prol da
reivindicação do direito ao acesso, como por exemplo a Frente Negra Brasileira (Almeida &
Sanchez, 2016; Alcântara & Silva Júnior, 2020; Nascimento & Meinerz, 2023). bell hooks
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PSICÓLOGAS(OS) DO SUAS NO CONTEXTO POTIGUAR: QUAIS PERCEPÇÕES SOBRE AS
CONDIÇÕES DE TRABALHO E QUE SIGNIFICADOS DO TRABALHO SÃO PRODUZIDOS?
Introdução: O processo de reestruturação produtiva, intensificado, dentre outros fatores, pela crise de
1970, ensejou profundas transformações no mundo do trabalho com acentuada precarização do trabalho e
consequente exacerbação e corrosão dos direitos sociais do trabalho (Antunes, 2018). Os desafios
enfrentados pelos trabalhadores em decorrência do modo de produção capitalista, denominadas
expressões da questão social, são objeto de intervenção pelo Estado através das políticas públicas, com
vistas a garantir a mínima sobrevivência desta classe (Costa & Oliveira, 2022). A desproteção social
vivenciada pela classe pauperizada teve novo capítulo com a promulgação da Constituição Federal em
1988, prevendo a assistência social enquanto política pública (Cordeiro, 2018). Somente em 2004, o
Estado assume a responsabilização pela oferta de ações sistematizadas em assistência social com
implementação do Sistema Único de Assistência Social, o SUAS ofertado através de dois níveis de
proteção: Proteção Social Básica, através dos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e
Proteção Social Especial, que, dentre os dispositivos previstos, estão os Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS) (Macedo et al., 2011). A implementação do SUAS propiciou
considerável mercado de trabalho para a(o) psicóloga(o), por ser categoria prevista pela política. Dados do
Censo SUAS de 2023 (Brasil, 2023) apontam, no contexto nacional, a existência de 11.174 psicólogas(os)
que trabalham nos CRAS, dos quais 284 estão no estado potiguar. Todavia, para os CREAS, tais dados
não foram evidenciados. Apesar da importância dessa política, os trabalhadores do SUAS vem
experimentando processos de intensa precarização em suas condições de trabalho. Estudos (Freire &
Alberto, 2013; Pauli, Traesel, & Siqueira, 2019) sobre as(os) psicólogas(os) do SUAS têm apontado as
precárias condições de trabalho, a exemplo de ausência de estabilidade nos vínculos trabalhistas, baixos
salários, infraestrutura das instalações precárias e ausência de suporte organizacional. Em cenário
potiguar, sabe-se que as condições das(os) psicólogas(os) que trabalham nas políticas sociais são ainda
mais degradantes do que as(os) demais psicólogas(os) do estado que atuam em outros segmentos das
políticas públicas (Seixas & Yamamoto, 2012). Tais achados se agravam, quando se considera que
ho. É como se se colocassem em
(Cordeiro & Sato, 2017, p. 43). A presente proposta de pesquisa parte das
provocações vivenciadas em minha trajetória enquanto trabalhadora do SUAS que, tanto em minha
vivência prática, quanto nas redes informais de trocas com colegas, permitiram ver, na prática, aquilo que
a literatura aponta, como alta rotatividade de profissionais e poucos recursos para efetiva realização das
atividades demandadas (Nascimento & Moraes, 2020). Ainda que em um trabalho assalariado e, em tese,
protegido, as(os) psicólogas(os) e demais trabalhadores do SUAS estão imersos em um cenário de
condições de trabalho alarmantes. Diante disso, alguns questionamentos são possíveis: Que condições de
trabalho são percebidas por psicólogas(os) atuantes do SUAS em contexto potiguar? Que significados são
produzidos por essas(es) psicólogas(os) acerca dessa experiência de trabalho? Compreende-se as
condições de trabalho como um fenômeno multifacetado, que difere de acordo com a ocupação, definido
como as circunstâncias nas quais o trabalho se realiza e como afeta a experiência do trabalho,
abrangendo o conteúdo e o entorno do trabalho (Borges et al. 2015). Esses autores propuseram um
modelo composto por quatro categorias: condições contratuais e jurídicas (p. ex., modalidade contratual do
trabalho, sistema de incentivos), condições físicas e materiais (condições do entorno da atividade de
trabalho, como as instalações), características da atividade (refere-se ao conteúdo da atividade, como as
demandas e sua organização) e condições do ambiente sóciogerencial (abarca as interações relativas à
gestão, horizontal ou verticalmente). Ao mesmo tempo, se adota a concepção de significados do trabalho
de Borges e Tamayo (2001), enquanto um fenômeno dinâmico e processual, subjetivo e que, ao mesmo
tempo, carrega atravessamento de aspectos socialmente partilhados, demarcados pelo seu cenário
histórico. Os referidos autores propõem quatro facetas: centralidade do trabalho (qual lugar de importância
o sujeito atribui ao trabalho dentre as demais esferas da sua vida), atributos valorativos (aquilo que o
trabalho deve ser); atributos descritivos (aquilo que o trabalho é) e hierarquia dos atributos (a ordem de
importância dos atributos que o sujeito atribui). O desenvolvimento do presente estudo assume alguns
pressupostos das perspectivas psicossociológicas (Borges & Barros, 2021). Os fenômenos sociais aqui
estudados são dinâmicos e processuais, devendo-se considerar, para sua compreensão, os contextos
históricos e culturais aos quais estão sujeitos. Dada a complexidade e as múltiplas dimensões que
atravessam os fenômenos estudados, fazem-se igualmente necessário considerar: uma interpretação que
integre os diferentes níveis de análise (do micro ao macro); os aspectos estruturais das atividades
humanas, conferindo equilíbrio aos aspectos individuais (psicológicos) e sociais; a não-neutralidade do
pesquisador, sua implicação e seu engajamento; e a pesquisa como uma ação humana, compreendendo o
uso de diferentes técnicas, na escolha metodológica, como complementares entre si. Objetivos: Propõe-
se, então, como objetivo geral, compreender a percepção sobre as condições de trabalho e os significados
do trabalho atribuídos por psicólogas(os), enquanto técnicas(os) de referência da política pública do SUAS,
em contexto potiguar, e as possíveis relações entre ambos os fenômenos. E como objetivos específicos:
(1) Levantar, a partir de documentos oficiais do Governo e do Conselho da categoria profissional, as
atividades previstas e/ou orientações para a atuação de psicólogas(os) no SUAS; (2) Descrever as
condições de trabalho percebidas por essas(es) psicólogas(os), e possíveis estratégias de enfrentamento
a essas condições; (3) Identificar a práxis dessas(es) psicólogas(os), considerando o quão próximo ou
distante encontram-se das orientações presentes nos documentos oficiais; (4) Compreender os
significados do trabalho produzidos por essas(es) psicólogas(os); e (5) Explorar as possíveis relações
entre a percepção das condições de trabalho e os significados do trabalho produzidos por essas(es)
psicólogas(os). Método: Para responder os objetivos propostos, será realizada uma pesquisa de campo,
do tipo descritiva (Triviños, 1987), por meio de duas estratégias: análise documental, de modo a elaborar
um banco de dados que abarque normativas, resoluções, bem como editais de concursos que abordem
vagas de trabalho e versem sobre a ocupação laboral de psicólogos atuantes no SUAS e em contexto
potiguar; e realização de entrevistas semiestruturadas, a qual contará com um roteiro previamente
elaborado, baseado na revisão de literatura especializada sobre os temas em tela. Também será aplicado,
no momento da entrevista, uma ficha sociodemográfica para caracterização dos participantes. Embora não
se tenha um número exato de psicólogos atuantes no SUAS, sabe-se que é superior a 284. Serão
convidados a participar as(os) psicólogas(os) atuantes nos dispositivos CRAS e CREAS, no contexto
potiguar. Eles deverão ter, no mínimo, seis meses de atuação no SUAS. Serão considerados profissionais
que, em virtude de licença ou mudança de função dentro da política (p. ex., assumir cargo de coordenador
dentro do dispositivo), tenham desempenhado a função de psicóloga(o) por, no mínimo, seis meses. Toda
a coleta de dados se dará predominantemente em formato online, em razão das diferentes localidades
presentes no estado, e terá início quando for emitida aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. A
participação do público-alvo estará condicionada à livre disponibilidade, à ciência e ao consentimento
devidamente assinado. O acesso aos participantes contará com a técnica bola de neve, na qual o
participante-chave indica novos participantes, permitindo o acesso à comunidade investigada (Vinuto,
2014). O público-alvo não será abordado em seu respectivo local de trabalho, para evitar possíveis
tensionamentos entre participante e organização. A referida técnica, então, contribuirá para evitar tal risco,
sendo um cuidado ético pertinente para com as(os) participantes. As entrevistas serão gravadas com
prévio consentimento do entrevistado e transcritas na íntegra. Com o suporte do software Qualitative Data
Analysis Software (QDA Miner versão 4.0), será construído um banco de dados com as entrevistas
transcritas, por meio do qual será realizada análise estatística descritiva (frequências) para melhor
sistematizar as características sociodemográficas dos participantes e análise de conteúdo temática,
seguindo as etapas indicadas por Bardin (2016). A coleta de dados será encerrada quando verificada a
saturação dos conteúdos identificados. Resultados esperados: Espera-se, com os resultados: apresentar
um mapeamento das condições de trabalho e da produção de significados do trabalho desses
profissionais, e contribuir informações que possam subsidiar decisões e recursos de efetivação das
políticas com dados do contexto potiguar; ampliar a construção de uma Psicologia do Trabalho articulada
com a realidade concreta do trabalho; e, finalmente, contribuir com o avanço e a produção de
conhecimento sobre os temas em tela.
Palavras-chave: condições de trabalho, significados do trabalho, política social, atuação da(o) psicóloga(o).
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1
ENTRE O NORDESTE E O JAPÃO: COMPREENSÕES HERMENÊUTICAS SOBRE SER
NIPO-BRASILEIRO NO RIO GRANDE DO NORTE
Pedro Sonehara de Morais ([email protected]) Mestrado - Março/2024
Orientador(a): Ana Karina Silva Azevedo ([email protected])
Leitor(a): Ana Andréa Barbosa Maux ([email protected])
Introdução: A imigração japonesa no Brasil se inicia no dia 18 de Junho de 1908. As primeiras décadas
dessa imigração foram marcadas por grande rejeição à população japonesa, vista como inassimilável e
ameaçadora ao país, chegando à quase restrição da entrada de novos japoneses (Hayashi, 2022). Já
em 1958, começam a surgir discursos celebrativos dos 50 anos da imigração no Senado Federal e
reconhecimento das contribuições econômicas e integração de imigrantes e descendentes à sociedade
brasileira (Hayashi, 2022). Contudo, essa mudança de perspectiva sobre a população nipo-brasileira se
quanto a grupos racializados (Takeuchi, 2008). Nesse contexto, a população nipônica se viu no esforço
de valorização da identidade brasileira, desconsiderando sua herança e negando dificuldades vividas.
Pensando ontologicamente a facticidade do mundo, os contextos históricos e a condição relacional
humana, a fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger (1927/2015) traz o ser humano enquanto
um ente capaz de questionar a si mesmo, tendo como modo de ser fundamental o ser-aí, ou o dasein
(Azevedo & Dutra, 2021). O ser humano é um ser, então, que existe, em um modo de abertura, em um
determinado espaço, o mundo. Ser-no-mundo é um dos fundamentos da existência humana, pois a
existência só é possível no mundo, onde as possibilidades de modos de ser se abrem e onde se dão as
relações, com as coisas, com outros ser-aí e com o próprio mundo. No pensamento heideggeriano,
mundo se refere ao mundo ontológico, composto pelo mundo fático, das coisas dadas, e dos sentidos
que o compõem, aqueles já sedimentados e aqueles construídos na existência (Escórcio & Dutra,
2018). Ainda, esse mundo ontológico e essa existência característica do ser-aí são marcados pela
historicidade, ou seja, a existência se dá em um mundo e em um contexto histórico. Essa historicidade
delimita quais são os sentidos que compõem mundo e, consequentemente, quais possibilidades surgem
na existência de cada ser-aí (Heidegger, 1927/2015). Falkoski (2018) ao aproximar o conceito de
identidade cultural, do sociólogo Stuart Hall, ao pensamento heideggeriano apresenta que identidade
cultural, como definido pelo sociólogo, é fruto do mundo pós-moderno e da globalização, e se configura
como uma multiplicação das identidades e abertura às possibilidades de identificação, compreendidas,
então, como modos de ser. Frente ao estranhamento do não pertencer, indivíduos buscam construir
suas identidades naquilo qu
reconhecem-se enquanto si mesmos (Falkoski, 2018). No Brasil, pela caracterização racial ser realizada
a partir dos traços físicos, muitos descendentes são identificados enquanto japoneses, ainda que sejam
p.36). O diário é um espaço de reflexão em que o pesquisador comunica sentidos e afetos germinados
pelo que ouviu e o tocou, compondo o caminho interpretativo da pesquisa (Silva & Azevedo, 2022).
Como caminho de interpretação, seguiremos Azevedo e Dutra (2021) e Maux e Dutra (2020) que
propõem, como adaptação para a pesquisa em psicologia, a partir da circularidade compreensiva
proposta por Heidegger, os seguintes modos de ver o fenômeno: registro das afetações do ouvido;
transcrição do depoimento ouvido; identificação de temas; e diálogo entre reflexões de etapas
anteriores e literatura. Resultados esperados e implicações: Espera-se evidenciar experiências da
população nipo-nordestina, compreendendo é uma população invisibilizada academicamente e em
representações, implicando que é uma população que, de fato, existe.
Palavras-chave: nipo-brasileiro, nordeste, pesquisa fenomenológica-hermenêutica, habitar.
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