Nomenclatura_Compostos_coordenação

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As recomendações a seguir foram retiradas, em sua íntegra (exceto quando mencionado), do livro:

NOMENCLATURA DE QUÍMICA INORGÂNICA. Recomendações da Iupac de 2005.

IR-9 Compostos de Coordenação

IR-9.1.2 Definições

IR-9.1.2.2 Compostos de coordenação e a entidade de coordenação


Um composto de coordenação é qualquer composto que contenha uma entidade de coordenação. Uma
entidade de coordenação é um íon ou uma molécula neutra constituídos por um átomo central, geralmente
de um metal, em redor do qual está ligado um conjunto de outros átomos ou grupos de átomos, cada um
dos quais denominados ligantes. Nas fórmulas, a entidade de coordenação é colocada entre colchetes quer
tenha ou não carga.
Exemplos:
1. [Co(NH3)6]3+
2. [PtCl4]2-
3. [Fe3(CO)12]

IR-9.1.2.3 Átomo central

O átomo central é o átomo de uma entidade de coordenação a que estão ligados outros átomos ou grupos
de átomos (ligantes), ocupando, portanto, uma posição central na entidade de coordenação. Os átomos
centrais em [NiCl2(H2O)4], [Co(NH3)6]3+ e [PtCl4]2- são, respectivamente, o níquel, o cobalto e a platina.

IR-9.1.2.4 Ligantes

Os ligantes são os átomos ou grupos de átomos ligados ao átomo central. A raiz da palavra é
frequentemente convertida noutras formas, tais como ligar, para significar coordenar como um ligante, e
nos particípios derivados ligante e ligado. Em português também se pode empregar os termos coordenante
e coordenado. Os termos “átomo ligante”, “átomo coordenante” e átomo doador” são usados
indiferentemente.

IR-7.1.3 Representação dos ligantes em nomes na nomenclatura aditiva

Na nomenclatura aditiva, os nomes constroem-se colocando (algumas vezes de forma modificada) os


nomes dos ligantes como prefixos do nome do átomo central. Para os ligantes aniônicos, em português,
mantêm-se as terminações do ânion ao gerar estes prefixos. No caso de os ligantes serem neutros ou
catiônicos, os seus nomes também se mantêm inalterados no prefixo, exceto em alguns casos especiais,
dos quais os mais importantes são água (prefixo “acqua”), monóxido de carbono ligado pelo carbono
(prefixo “carbonila”) e monóxido de nitrogênio ligado pelo nitrogênio (prefixo “nitrosila”). Apenas na
variante brasileira do português, a amônia como ligante denomina-se “amin”.

IR-9.1.2.6 Número de coordenação

Em compostos de coordenação, o número de coordenação é igual ao número de ligações σ entre os


ligantes e o átomo central.

IR-9.1.2.7 Quelação
1
A quelação envolve a coordenação ao mesmo átomo central de mais do que um átomo doador de um par
eletrônico σ não contíguo de um dado ligante. O número de átomos coordenantes de um mesmo ligante
quelante é indicado pelos adjetivos bidentado, tridentado, tetradentado, pentadentado, etc. O número de
átomos doadores de um dado ligante coordenados ao mesmo átomo central é designado por denticidade.

As estruturas cíclicas formadas quando mais do que um átomo doador do mesmo ligante está
coordenado ao átomo central são denominadas anéis de quelação, e o processo de coordenação desses
átomos doadores é chamado quelação.
Se um ligante potencialmente bidentado, tal como a etano-1,2-diamina, se coordenar a dois íons
metálicos, entende-se que não se quelata mas coordena-se de um modo bidentado a cada íon metálico,
formando uma ligação em ponte.
Exemplo:
1. [(H3N)5Co(μ-NH2CH2CH2NH2)Co(NH3)5]6+

IR-9.1.2.8 Estado de oxidação

O estado de oxidação de um átomo central numa entidade de coordenação é definido como a carga com
que ficaria se todos os ligantes fosses removidos levando os pares de elétrons que eram partilhados com o
átomo central. É representado por um numeral romano. Deve sublinhar-se que o estado de oxidação é um
índice derivado de um conjunto de regras formais simples e não é um indicador direto da distribuição de
elétrons. Em certos casos, o formalismo não conduz a estados de oxidação do átomo central aceitáveis.
Devido a esses casos ambíguos, na maioria das utilizações práticas da nomenclatura é preferível considerar-
se apenas a carga global da entidade de coordenação. Os exemplos seguintes lustram a relação entre a
carga global de uma entidade de coordenação, o número de cargas dos ligantes, e o estado de oxidação
derivado para o átomo central.
Estado de oxidação
Fórmula Ligantes
do átomo central
1. [Co(NH3)6] 3+ 6 NH3 III
2. [CoCl4]2- 4 Cl- II
3. [MnO4] - 2O 2- VII
4. [MnFO3] 2-
3O +1F - VII
5. [Co(CN)5H]3- 5 CN- + 1H- III
6. [Fe(CO)4] 2- 2 CO -II

2
IR-7.1.4 Íons

Na nomenclatura aditiva, os nomes das espécies aniônicas têm a terminação “ato”, enquanto que não se
usa qualquer terminação distintiva para espécies catiônicas ou neutras. Nesta nomenclatura, os nomes dos
íons terminam com o número de carga.

IR-9.1.2.9 Nomenclatura de coordenação: uma nomenclatura aditiva

Quando a teoria da coordenação foi desenvolvida, considera-se que os compostos de coordenação eram
formados por adição de compostos, eles próprios estáveis, a um composto central simples. Eram, portanto,
nomeados com base em um princípio aditivo, em que os nomes dos compostos adicionados e do composto
simples central eram combinados. Este princípio, de base histórica, permanece como fundamento para a
nomenclatura dos compostos de coordenação.
O nome é construído em torno do nome do átomo central, tal como a entidade de coordenação é
construída em torno do átomo central.
Exemplo:
1. Adição de ligantes a um átomo central:
Ni0 + 6 H2O → [Ni(OH2)6]2+
Adição de nomes de ligantes ao nome de um átomo central:
hexa-acquaníquel(II)

IR-9.1.2.10 Ligantes em ponte

Em espécies polinucleares, um ligante pode também atuar como grupo em ponte ao formar,
simultaneamente, ligações a dois ou mais átomos centrais. A ponte é indicada em nomes e fórmulas
adicionando o símbolo μ como prefixo da fórmula ou nome do ligante.
Os ligantes em ponte unem átomos centrais, dando origem a entidades de coordenação contendo mais do
que um átomo central. O número de átomos centrais reunidos numa mesma entidade de coordenação por
ligantes em ponte ou ligações diretas entre átomos centrais é indicado pelos termos binuclear, trinuclear,
tetranuclear, etc.
O índice da ponte é o número de átomos centrais ligados por um mesmo ligante em ponte. A ponte
pode ser estabelecida por um único átomo ou por um arranjo maior de átomos.
Exemplo:

[Al2Cl4(μ-Cl)2] ou [Cl2Al(μ-Cl)2AlCl2]
di-μ-cloreto-tetracloreto-1κ2Cl,2κ2Cl-dialumínio

IR-9.2 DESCRIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

IR-9.2.1 Generalidades
Existem três métodos principais para descrever a constituição de compostos: podem ser desenhadas as
estruturas, escritos nomes ou escritas fórmulas. Uma estrutura desenhada contém informação acerca dos
constituintes estruturais da molécula bem como das suas relações estereoquímicas. Infelizmente, tais
estruturas não são habitualmente adequadas para inclusão num texto. São por isso utilizados nomes e
fórmulas para descrever a constituição de um composto.
3
O nome de um composto de coordenação fornece informação pormenorizada acerca dos
constituintes estruturais presentes. Contudo, é importante que o nome possa ser facilmente interpretado
sem ambiguidades. Por esta razão devem existir regras que definam como o nome é construído.

Figura IR-9.1 Procedimento por passos para denominar compostos de coordenação (adaptado). As
recomendações para identificar/descrever os três últimos passos não é descrita neste material.

O nome de um composto pode, contudo, ser demasiado longo e a sua utilização pode não ser conveniente.
Em tais circunstâncias, uma fórmula constitui um método abreviado de representar um composto. São
fornecidas regras para tornar mais simples o uso de fórmulas. É de se notar que, devido à sua forma
abreviada, é frequentemente impossível fornecer tanta informação acerca da estrutura de um composto
através de sua fórmula como a que é fornecida através de seu nome.

IR-9.2.2 Nomes de compostos de coordenação

4
Os nomes sistemáticos de entidades de coordenação são derivados seguindo os princípios da nomenclatura
aditiva. Assim, os grupos que rodeiam o átomo ou a estrutura central devem ser identificados no nome.
Eles são apresentados como prefixos do nome do átomo central em conjunto com quaisquer
multiplicadores adequados. Estes prefixos são geralmente derivados de uma forma simples a partir dos
nomes dos ligantes. Aos nomes de entidades de coordenação aniônicas é, além disso, acrescentada a
terminação “ato”.
[IR-7.1.1] A nomenclatura aditiva foi originalmente desenvolvida para compostos de
coordenação do tipo Werner, que foram considerados como constituídos por um átomo central (ou átomos
centrais) rodeado(s) por grupos a que se deu o nome de ligantes. No entanto, também se podem atribuir
nomes a muitos compostos de outros tipos usando a nomenclatura aditiva. Estes nomes são construídos
através da colocação dos nomes dos ligantes (por vezes modificados) como prefixos ao(s) nome(s) do(s)
átomo(s) central(ais).

IR-9.2.2.1 Sequência dos ligantes e átomos centrais nos nomes


Usam-se as seguintes regras gerais para denominar compostos de coordenação:
(i) os nomes dos ligantes são apresentados antes do(s) nome(s) do(s) átomo(s) central(ais),
(ii) não são deixados espaços entre as partes do nome que se referem à mesma entidade de
coordenação,
(iii) os nomes dos ligantes são apresentados por ordem alfabética (para a determinação dessa
ordem não são considerados os prefixos multiplicadores que indicam o número de cada ligante),
(iv) é desaconselhado o uso de abreviaturas nos nomes.

Exemplos:
1. [CoCl(NH3)5]Cl2
cloreto de penta-amincloretocobalto(2+)
2. [AuXe4]2+
tetraxenoneto-ouro(2+)

IR-9.2.2.2 Número de ligantes numa entidade de coordenação


Existem duas classes de prefixos multiplicadores para indicar o número para cada tipo de ligante no nome
da entidade de coordenação.
(i) Os prefixos di, tri, etc. são usados com os nomes dos ligantes simples. Não são necessários
quaisquer sinais gráficos de inserção.
(ii) Os prefixos bis, tris, tetrakis, etc. são usados em nomes mais complicados de ligantes e de forma
a evitar ambiguidades. Devem ser colocados sinais gráficos de inserção em torno do
multiplicando.

Nota sobre sinais gráficos:


[IR-2.2.1] A nomenclatura química utiliza três tipos de sinais gráficos de inserção: chaves { },
colchetes [ ] e parênteses ( ).
Nas fórmulas os vários conjuntos de sinais gráficos de inserção são usados na sequência seguinte,
[ ], [( )], [({ })],[({( )})], [({({ })})],, etc.. Os colchetes são normalmente usados para conter fórmulas
completas; os parênteses e as chaves são usados alternadamente.
Nos nomes, a sequência é: ( ), [( )], {[( )]}, ({[( )]}), etc.. Esta ordenação é a que se usa na
nomenclatura substitutiva.
Por exemplo, usa-se diamin para (NH3)2 mas bis(metilamina) para (NH2Me)2, para distinguir de
dimetilamina. Não há elisão de vogais ou utilização de um hífen como, por exemplo, em tetraiodeto e
nomes similares. No entanto, em português recorre-se ao hífen nos casos em que as regras da ortografia
5
assim o exijam, como em tetra-amin, onde há duas vogais iguais seguidas ou tetra-hidreto, onde o nome
do ligante começa por h.

IR-9.2.2.3 Representação dos ligantes nos nomes


As características gerais são as seguintes:
(i) Os nomes de ligantes aniônicos, quer inorgânicos quer orgânicos, têm a terminação “o”,
nomeadamente, “eto”, “ito” ou “ato”. É o que acontece com os alcoolatos, tiolato, fenolatos,
carboxilatos, aminas ou fosfanos parcialmente desidronados, etc.. os ligantes halogenados são
denominados fluoreto, cloreto, brometo e iodeto. O cianeto coordenado mantém a sua
designação.
Nos seus complexos, exceptuando os que contêm hidrogênio molecular, o hidrogênio é
sempre considerado como aniônico. Utiliza-se “hidreto” para denominar o hidrogênio
coordenado a todos os elementos incluindo o boro.
(ii) Os nomes de ligantes neutros e catiônicos, incluindo ligantes orgânicos, são usados sem
modificação.
(iii) Utilizam-se sempre sinais gráficos de inserção para nomes de ligantes neutros e catiônicos, para
nomes de ligantes aniônicos inorgânicos que contenham prefixos multiplicadores (tal como
trifosfato), para nomes de acordo com a nomenclatura composicional (tal como dissulfeto de
carbono), para nomes de ligantes orgânicos substituídos (mesmo que a sua utilização não crie
ambiguidade), e sempre que seja necessário para evitar ambiguidades. No entanto, os nomes
de ligantes comuns como acqua, Amin, carbonila, nitrosila, metila, etila, etc., não requerem
quaisquer sinais gráficos de inserção, a não ser que a ausência destes crie ambiguidade.
Exemplos:
Fórmula Nome do ligante
1. Cl- cloreto
2. CN- cianeto
3. H- hidreto
4 PhCH2CH2Se- 2-feniletano-1-selenolato
5. MeCOO- acetato ou etanoato
6. MeCONH2 acetamida
7. MeCONH- acetilamideto
8. MeNH2 metanamina
9. MeNH- metilamideto

IR-9.2.2.4 Números de carga, números de oxidação e proporções iônicas


Para descrever a composição de um composto podem usar-se os seguintes métodos:
(i) O número de oxidação do átomo central numa entidade de coordenação pode ser indicado por
um numeral romano dentro de parênteses anexado, sem espaço intermédio, ao nome do
átomo central (incluindo a terminação “ato”, se aplicável), mas apenas se o estado de oxidação
puder ser definido sem ambiguidade. Quando necessário coloca-se um sinal negativo antes do
número. O zero arábico indica o número de oxidação zero.
(ii) Em alternativa, pode indicar-se a carga numa entidade de coordenação. A carga global é escrita
em números arábicos, com o número a preceder o sinal da carga, e dentro de parênteses.
Escreve-se a seguir ao nome do átomo central (incluindo a terminação “ato”, se aplicável) sem
qualquer espaço intermédio.
(iii) Ainda se podem indicar as proporções estequiométricas das entidades iônicas (contraíons) num
composto de coordenação utilizando prefixos multiplicadores.

6
Exemplos:
1. K4[Fe(CN)6]
hexacianetoferrato(II) de potássio ou
hexacianetoferrato(4-) de potássio ou
hexacianetoferrato de tetrapotássio
2. [Co(NH3)6]Cl3
cloreto de hexa-amincobalto(III)
3. [CoCl(NH3)4(κN-NO2)]Cl
cloreto de tetra-amincloretonitrito-κN-cobalto(III)

IR-9.2.3 Fórmulas de compostos de coordenação

Uma fórmula (em linha) de um composto de coordenação é usada para fornecer informação básica acerca
da constituição do composto de uma forma concisa e conveniente. Diferentes aplicações podem requerer
flexibilidade na escrita das fórmulas. Assim, há ocasiões em que pode ser desejável violar as orientações
apresentadas a seguir, de forma a oferecer mais informação acerca da estrutura do composto que a
fórmula representa.

IR-9.2.3.1 Sequência de símbolos na fórmula de coordenação


(I) O símbolo ou símbolos do átomo ou átomos centrais são escritos em primeiro lugar.
(II) As representações dos ligantes (fórmulas em linha, símbolos, abreviaturas ou acrônimos) são
escritos a seguir por ordem alfabética. A colocação de um ligante na sequência não depende da
carga do ligante.
(III) As fórmulas que apresentam os ligantes com os átomos doadores mais perto do átomo central
transmitem mais informação; recomenda-se a utilização deste procedimento sempre que
possível, incluindo a água coordenada.

IR-9.2.3.2 Uso de sinais gráficos de inserção


A fórmula da entidade de coordenação, seja ou não carregada, é na sua totalidade envolvida por colchetes.
Quando os ligantes são poliatômicos, as suas fórmulas são envolvidas por parênteses. As abreviaturas de
ligantes são também envolvidas por parênteses. A ordem de colocação de sinais gráficos é a que foi
apresentada anteriormente. Os colchetes são apenas usados para envolver entidades de coordenação e os
parênteses e as chaves são colocadas alternadamente.

IR-9.2.3.3 Cargas iônicas e números de oxidação


Se a fórmula de uma entidade de coordenação com carga for escrita sem a fórmula do contraíon, a carga
é indicada exteriormente ao colchete como um índice superior direito, com o número antes do sinal. O
número de oxidação de um átomo central pode ser indicado por um numeral romano, que deve ser
colocado como um índice superior direito no símbolo do elemento.
Exemplos:
1. [PtCl6]2-
2. [Cr(OH2)6]3+
3. [CrIII(NCS)4(NH3)2]-
4. [CrIIICl3(OH2)3]
5. [Fe-II(CO)4]2-

IR-9.2.3.4 Uso de abreviaturas

7
Podem-se usar abreviaturas para representar ligantes orgânicos complicados nas fórmulas (ainda que não
devam ser normalmente usadas em nomes). Quando usadas em fórmulas, são geralmente colocadas entre
parênteses.
Exemplos de tais abreviaturas estão catalogadas alfabeticamente no Quadro VII.
Nos casos em que a coordenação ocorre através de um dos vários átomos doadores possíveis de
um ligante, pode ser desejável indicar qual é esse átomo doador. Nos nomes, isto pode ser conseguido
através da utilização da convenção capa, em que o capa minúsculo (κ) é usado para indicar o átomo doador.
Este dispositivo pode ser também usado, até certo ponto, em fórmulas. Por exemplo, se o ânion glicinato
(gly) se coordenar apenas através do átomo de nitrogênio, a abreviatura do ligante seria apresentada como
gly-κN, como no complexo [M(gly-κN)3X3].

IR-9.2.4 Especificações de átomos doadores

IR-9.2.4.1 Generalidades
Não é necessário especificar qual o átomo doador de um ligante que tenha apenas um átomo capaz de
formar uma ligação com um átomo central. No entanto, pode haver ambiguidade quando há mais do que
um átomo doador possível num ligante. É então necessário especificar qual o átomo ou átomos doadores
do ligante que estão ligados ao átomo central. Esta situação inclui os casos em que se considera que um
ligante é formado pela remoção de H+ de uma posição particular de uma molécula ou íon. Por exemplo, o
acetilacetonato, MeCOCHCOMe-, tem como nome sistemático de ligante 2,4-dioxopentan-3-eto, o que,
contudo, não implica ligação do átomo de carbono central do ligante. O átomo doador pode ser
especificado como se mostra em IR-9.2.4.2.
Os únicos casos em que não é requerida a especificação do átomo doador de um ligante que pode
ligar-se a um átomo central por mais de uma forma são:
- grupos carboxilatos monodentados ligados por O;
- cianeto monodentado ligado por C;
- monóxido de carbono monodentado ligado por C (nome do ligante “carbonila”);
- monóxido de nitrogênio monodentado ligado por N (nome do ligante “nitrosila”).
Por convenção, nestes casos os nomes dos ligantes implicam o modo de coordenação mostrado.

As seções seguintes pormenorizam os modos como os átomos doadores são especificados. A


convenção capa (κ), que se introduz na Seção IR-9.2.4.2, é geral e pode ser usada para sistemas muito
complicados. Nalguns casos pode ser simplificada através da utilização apenas do símbolo do átomo
doador.
Estes sistemas podem ser usados nos nomes, mas não são sempre adequados para serem usados
em fórmulas. A utilização dos símbolos dos átomos doadores nas fórmulas de sistemas simples é possível
(ver a Seção IR-9.2.3.4), mas deve haver cuidado para evitar ambiguidades. A convenção capa não é em
geral compatível com o uso de abreviaturas de ligantes.
Estes métodos são normalmente usados apenas para especificar as ligações entre o átomo central
e átomos doadores isolados. Utiliza-se a convenção eta (η) para todos os casos em que o átomo central
está ligado a átomos doadores contíguos de um mesmo ligante. Embora a maior parte dos exemplos deste
último tipo seja de compostos organometálicos, o exemplo abaixo mostra a sua aplicação a um composto
de coordenação.

8
bis(2,3-dimetilbutano-2,3-diamina)(η2-peróxido)cobalto(1+)

IR-9.2.4.2 A convenção capa


Átomos coordenantes isolados indicam-se através do símbolo do elemento em itálico precedido por um
capa grego (κ). Estes símbolos são colocados depois da parte do nome do ligante que representa o anel,
cadeia ou grupo substituinte em que se encontra o átomo coordenante.
Exemplo:
1. [NiBr2(Me2PCH2CH2PMe2)]
dibrometo[etano-1,2-di-ilbis(dimetilfosfano-κP)]níquel(II)

Os prefixos multiplicadores que se aplicam a um ligante ou parte de um ligante também se aplicam aos
símbolos dos átomos doadores. Nalguns casos, isto pode requerer a utilização de um nome do ligante
alternativo, por exemplo, quando os prefixos multiplicadores não possam ser usados porque seria diferente
a ligação de partes equivalentes do ligante. São apresentados abaixo vários exemplos deste caso.
Exemplos simples são tiocianato-κN para NCS ligado pelo nitrogênio e tiocianato-κS para NCS ligado
pelo enxofre. O nitrito ligado pelo nitrogênio é denominado nitrito-κN e o nitrito ligado pelo oxigênio é
denominado nitrito-κO, como em penta-aminnitrito-κO-cobalto(III).
Para ligantes com vários átomos coordenantes dispostos linearmente ao longo de uma cadeia, a
ordem de símbolos κ deve ser sucessiva, começando por um dos extremos. A escolha do extremo baseia-
se na ordem alfabética se os átomos coordenantes forem diferentes, por cisteinato-κN,κS; cisteinato-
κN,κO.
Os átomos doadores de um determinado elemento podem ser distinguidos por adição de um
localizador numérico como índice superior direito ao símbolo do elemento em itálico ou, em casos simples,
de uma ou mais plicas.
Por outro lado, a utilização de numerais como índices superiores baseia-se numa numeração
adequada de alguns ou todos os átomos do ligante, tal como a numeração dos átomos do esqueleto em
hidretos parentais, e permitem especificar a posição da ligação ou ligações ao átomo central em casos
bastante complicados. No caso simples do acetilacetonato, MeCOCHCOMe-, mencionado acima, o nome
do ligante 2,4-dioxopentan-3-eto-κC3 implicaria ligação através do átomo de carbono central do esqueleto
de pentano.
Nalguns casos, os procedimentos padrão de nomenclatura não fornecem localizadores para os
átomos doadores em questão. Em tais casos, podem aplicar-se procedimentos ad hoc simples. Por
exemplo, para o ligante (CF3COCHCOMe)-, podia ser usado o nome 1,1,1-trifluoro-2,4-dioxopentan-3-eto-
κO para indicar coordenação, através do oxigênio, do fragmento CF3CO da molécula, enquanto que a
coordenação de MeCO seria identificada por 1,1,1-trifluoro-2,4-dioxopentan-3-eto-κO’. A plica indica que
o átomo de oxigênio de MeCO está associado ao localizador de ordem mais elevada da molécula do que o
átomo de oxigênio de CF3CO. O átomo de oxigênio do fragmento CF3CO do ligante está ligado a C2,
enquanto que o de MeCO está ligado a C4. Em alternativa, o nome podia ser alternado, respectivamente,
para 1,1,1-trifluoreto-2-(oxo-κO)-4-oxopentan-3-eto e 1,1,1-trifluoreto-2-oxo-4-(oxo-κO)pentan-3-eto
para os dois modos de coordenação referidos acima.

9
Nos casos em que estão envolvidos dois ou mais ligantes idênticos (ou partes de um ligante
polidentado), usa-se um índice superior no κ para indicar o número de tais ligações. Como foi mencionado
acima, presume-se que quaisquer prefixos multiplicadores para entidades complicadas operam também
no símbolo κ. Assim, usa-se o nome parcial “...bis(2-amino-κN-etil)...” e não “...bis(2-amino-κ2N-etil)...” no
Exemplo 2 abaixo. Os exemplos 2 e 3 apresentam quelação tridentada pelo ligante tetra-amina linear N,N’-
bis(2-aminoetil)etano-1,2-diamina para ilustrar estas regras.
Exemplos:
2.

[N,N’-bis(2-amino-κN-etil)etano-1,2-diamina-κN]cloretoplatina(II)

3.

[N-(2-amino-κN-etil)-N’-(2-aminoetil)etano-1,2-diamina-κ2N,N’]cloretoplatina(II)

O exemplo 2 ilustra como a coordenação pelos dois grupos amina primários terminais do ligante é indicada
pela colocação do índice κ depois do nome do substituinte e sob o efeito do prefixo duplicados “bis”. O
aparecimento do índice simples κN depois de “etano-1,2-diamina” indica ligação por apenas um dos dois
átomos de nitrogênio do grupo amina secundário.
No Exemplo 3, apenas uma das aminas primárias está coordenada. Isto é indicado pela não
utilização do prefixo duplicador “bis”, pela repetição de (2-aminoetil) e pela inserção do índice κ apenas na
primeira dessas unidades, isto é, (2-amino-κN-etil). O envolvimento de ambos os átomos de nitrogênio
secundários da etano-1,2-diamina na quelação é indicado pelo índice κ2N,N’.

IR-9.2.4.4 Uso de símbolo isolado de átomo doador em nomes


Em certos casos, a convenção capa pode ser simplificada. Os átomos doadores de um ligante podem ser
denotados por adição apenas do(s) símbolo(s) italicizados(s) do átomo (ou átomos) doador(es) no final do
nome do ligante. Assim, para o ânion 1,2-ditio-oxalato, nomes de ligante tais como 1,2-ditio-oxalato-κS,κS’
e 1,2-ditio-oxalato-κO,κS podem, sem possibilidade de confusão, ser abreviados, respectivamente, para
1,2-ditio-oxalato-S,S’ e 1,2-ditio-oxalato-O,S. Outros exemplos são tiocianato-N e tiocianato-S, e nitrito-N e
nitrito-O.

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Quadro VII Abreviaturas de ligantes (adaptado).
Outro nome (a partir do qual deriva a
Abreviatura Nome sistemático
abreviatura)
acac 2,4-dioxopentan-3-eto acetilacetonato
aet 2-aminoetanotiolato
ala 2-aminopropanoato alaninato
asp 2-aminobutanodioato aspartato
biim 2,2’-bi(1H-imidazole)-1,1’-dieto 2,2’-bi-imidazolato
bn butano-2,3-diamina
bpy 2,2’-bipiridina
bzac 1-fenil-1,3-dioxobutan-2-eto benzoilacetonato
bzim 1H-benzimidazol-1-eto
bztz 1,3-benzotiazole
cys 2-amino-3-sulfanilpropanoato cisteínato
dbm 1,3-dioxo-1,3-difenilpropan-2-eto dibenzoilmetanato
depe etano-1,2-di-ilbis(dietilfosfano) 1,2-bis(dietilfosfino)etano
dien N-(2-aminoetil)etano-1,2-diamina dietilenotriamina
dma N,N-dimetilacetamida dimetilacetamida
dpm 2,2,6,6-tetrametil-3,5-dioxo-heptan-4-eto dipivaloilmetanato
ea 2-amino(etan-1-olato) etanolaminato
edta 2,2’,2’’,2’’’-(etano-1,2-di-ildinitrila)tetra-acetato etilenodiaminatetra-acetato
en etano-1,2-diamina etilenodiamina
fta 1,1,1-trifluoro-2,4-dioxopentan-3-eto trifluoroacetilacetonato
gly aminoacetato glicinato
his 2-amino-3-(imidazol-4-il)propanoato histidinato
im 1H-imidazol-1-eto
leu 2-amino-4-metilpentanoato leucinato
lut 2,6-dimetilpiridina lutidina
ox etanodioato oxalato
phen 1,10-fenantrolina
pn propano-1,2-diamina
terpy 2,2’:6’,2’’-terpiridina terpiridina
val 2-amino-3-metilbutanoato valinato

11
Quadro VIII Fórmulas estruturais de ligantes selecionados (adaptado).

12

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