Nomenclatura_Compostos_coordenação
Nomenclatura_Compostos_coordenação
Nomenclatura_Compostos_coordenação
IR-9.1.2 Definições
O átomo central é o átomo de uma entidade de coordenação a que estão ligados outros átomos ou grupos
de átomos (ligantes), ocupando, portanto, uma posição central na entidade de coordenação. Os átomos
centrais em [NiCl2(H2O)4], [Co(NH3)6]3+ e [PtCl4]2- são, respectivamente, o níquel, o cobalto e a platina.
IR-9.1.2.4 Ligantes
Os ligantes são os átomos ou grupos de átomos ligados ao átomo central. A raiz da palavra é
frequentemente convertida noutras formas, tais como ligar, para significar coordenar como um ligante, e
nos particípios derivados ligante e ligado. Em português também se pode empregar os termos coordenante
e coordenado. Os termos “átomo ligante”, “átomo coordenante” e átomo doador” são usados
indiferentemente.
IR-9.1.2.7 Quelação
1
A quelação envolve a coordenação ao mesmo átomo central de mais do que um átomo doador de um par
eletrônico σ não contíguo de um dado ligante. O número de átomos coordenantes de um mesmo ligante
quelante é indicado pelos adjetivos bidentado, tridentado, tetradentado, pentadentado, etc. O número de
átomos doadores de um dado ligante coordenados ao mesmo átomo central é designado por denticidade.
As estruturas cíclicas formadas quando mais do que um átomo doador do mesmo ligante está
coordenado ao átomo central são denominadas anéis de quelação, e o processo de coordenação desses
átomos doadores é chamado quelação.
Se um ligante potencialmente bidentado, tal como a etano-1,2-diamina, se coordenar a dois íons
metálicos, entende-se que não se quelata mas coordena-se de um modo bidentado a cada íon metálico,
formando uma ligação em ponte.
Exemplo:
1. [(H3N)5Co(μ-NH2CH2CH2NH2)Co(NH3)5]6+
O estado de oxidação de um átomo central numa entidade de coordenação é definido como a carga com
que ficaria se todos os ligantes fosses removidos levando os pares de elétrons que eram partilhados com o
átomo central. É representado por um numeral romano. Deve sublinhar-se que o estado de oxidação é um
índice derivado de um conjunto de regras formais simples e não é um indicador direto da distribuição de
elétrons. Em certos casos, o formalismo não conduz a estados de oxidação do átomo central aceitáveis.
Devido a esses casos ambíguos, na maioria das utilizações práticas da nomenclatura é preferível considerar-
se apenas a carga global da entidade de coordenação. Os exemplos seguintes lustram a relação entre a
carga global de uma entidade de coordenação, o número de cargas dos ligantes, e o estado de oxidação
derivado para o átomo central.
Estado de oxidação
Fórmula Ligantes
do átomo central
1. [Co(NH3)6] 3+ 6 NH3 III
2. [CoCl4]2- 4 Cl- II
3. [MnO4] - 2O 2- VII
4. [MnFO3] 2-
3O +1F - VII
5. [Co(CN)5H]3- 5 CN- + 1H- III
6. [Fe(CO)4] 2- 2 CO -II
2
IR-7.1.4 Íons
Na nomenclatura aditiva, os nomes das espécies aniônicas têm a terminação “ato”, enquanto que não se
usa qualquer terminação distintiva para espécies catiônicas ou neutras. Nesta nomenclatura, os nomes dos
íons terminam com o número de carga.
Quando a teoria da coordenação foi desenvolvida, considera-se que os compostos de coordenação eram
formados por adição de compostos, eles próprios estáveis, a um composto central simples. Eram, portanto,
nomeados com base em um princípio aditivo, em que os nomes dos compostos adicionados e do composto
simples central eram combinados. Este princípio, de base histórica, permanece como fundamento para a
nomenclatura dos compostos de coordenação.
O nome é construído em torno do nome do átomo central, tal como a entidade de coordenação é
construída em torno do átomo central.
Exemplo:
1. Adição de ligantes a um átomo central:
Ni0 + 6 H2O → [Ni(OH2)6]2+
Adição de nomes de ligantes ao nome de um átomo central:
hexa-acquaníquel(II)
Em espécies polinucleares, um ligante pode também atuar como grupo em ponte ao formar,
simultaneamente, ligações a dois ou mais átomos centrais. A ponte é indicada em nomes e fórmulas
adicionando o símbolo μ como prefixo da fórmula ou nome do ligante.
Os ligantes em ponte unem átomos centrais, dando origem a entidades de coordenação contendo mais do
que um átomo central. O número de átomos centrais reunidos numa mesma entidade de coordenação por
ligantes em ponte ou ligações diretas entre átomos centrais é indicado pelos termos binuclear, trinuclear,
tetranuclear, etc.
O índice da ponte é o número de átomos centrais ligados por um mesmo ligante em ponte. A ponte
pode ser estabelecida por um único átomo ou por um arranjo maior de átomos.
Exemplo:
[Al2Cl4(μ-Cl)2] ou [Cl2Al(μ-Cl)2AlCl2]
di-μ-cloreto-tetracloreto-1κ2Cl,2κ2Cl-dialumínio
IR-9.2.1 Generalidades
Existem três métodos principais para descrever a constituição de compostos: podem ser desenhadas as
estruturas, escritos nomes ou escritas fórmulas. Uma estrutura desenhada contém informação acerca dos
constituintes estruturais da molécula bem como das suas relações estereoquímicas. Infelizmente, tais
estruturas não são habitualmente adequadas para inclusão num texto. São por isso utilizados nomes e
fórmulas para descrever a constituição de um composto.
3
O nome de um composto de coordenação fornece informação pormenorizada acerca dos
constituintes estruturais presentes. Contudo, é importante que o nome possa ser facilmente interpretado
sem ambiguidades. Por esta razão devem existir regras que definam como o nome é construído.
Figura IR-9.1 Procedimento por passos para denominar compostos de coordenação (adaptado). As
recomendações para identificar/descrever os três últimos passos não é descrita neste material.
O nome de um composto pode, contudo, ser demasiado longo e a sua utilização pode não ser conveniente.
Em tais circunstâncias, uma fórmula constitui um método abreviado de representar um composto. São
fornecidas regras para tornar mais simples o uso de fórmulas. É de se notar que, devido à sua forma
abreviada, é frequentemente impossível fornecer tanta informação acerca da estrutura de um composto
através de sua fórmula como a que é fornecida através de seu nome.
4
Os nomes sistemáticos de entidades de coordenação são derivados seguindo os princípios da nomenclatura
aditiva. Assim, os grupos que rodeiam o átomo ou a estrutura central devem ser identificados no nome.
Eles são apresentados como prefixos do nome do átomo central em conjunto com quaisquer
multiplicadores adequados. Estes prefixos são geralmente derivados de uma forma simples a partir dos
nomes dos ligantes. Aos nomes de entidades de coordenação aniônicas é, além disso, acrescentada a
terminação “ato”.
[IR-7.1.1] A nomenclatura aditiva foi originalmente desenvolvida para compostos de
coordenação do tipo Werner, que foram considerados como constituídos por um átomo central (ou átomos
centrais) rodeado(s) por grupos a que se deu o nome de ligantes. No entanto, também se podem atribuir
nomes a muitos compostos de outros tipos usando a nomenclatura aditiva. Estes nomes são construídos
através da colocação dos nomes dos ligantes (por vezes modificados) como prefixos ao(s) nome(s) do(s)
átomo(s) central(ais).
Exemplos:
1. [CoCl(NH3)5]Cl2
cloreto de penta-amincloretocobalto(2+)
2. [AuXe4]2+
tetraxenoneto-ouro(2+)
6
Exemplos:
1. K4[Fe(CN)6]
hexacianetoferrato(II) de potássio ou
hexacianetoferrato(4-) de potássio ou
hexacianetoferrato de tetrapotássio
2. [Co(NH3)6]Cl3
cloreto de hexa-amincobalto(III)
3. [CoCl(NH3)4(κN-NO2)]Cl
cloreto de tetra-amincloretonitrito-κN-cobalto(III)
Uma fórmula (em linha) de um composto de coordenação é usada para fornecer informação básica acerca
da constituição do composto de uma forma concisa e conveniente. Diferentes aplicações podem requerer
flexibilidade na escrita das fórmulas. Assim, há ocasiões em que pode ser desejável violar as orientações
apresentadas a seguir, de forma a oferecer mais informação acerca da estrutura do composto que a
fórmula representa.
7
Podem-se usar abreviaturas para representar ligantes orgânicos complicados nas fórmulas (ainda que não
devam ser normalmente usadas em nomes). Quando usadas em fórmulas, são geralmente colocadas entre
parênteses.
Exemplos de tais abreviaturas estão catalogadas alfabeticamente no Quadro VII.
Nos casos em que a coordenação ocorre através de um dos vários átomos doadores possíveis de
um ligante, pode ser desejável indicar qual é esse átomo doador. Nos nomes, isto pode ser conseguido
através da utilização da convenção capa, em que o capa minúsculo (κ) é usado para indicar o átomo doador.
Este dispositivo pode ser também usado, até certo ponto, em fórmulas. Por exemplo, se o ânion glicinato
(gly) se coordenar apenas através do átomo de nitrogênio, a abreviatura do ligante seria apresentada como
gly-κN, como no complexo [M(gly-κN)3X3].
IR-9.2.4.1 Generalidades
Não é necessário especificar qual o átomo doador de um ligante que tenha apenas um átomo capaz de
formar uma ligação com um átomo central. No entanto, pode haver ambiguidade quando há mais do que
um átomo doador possível num ligante. É então necessário especificar qual o átomo ou átomos doadores
do ligante que estão ligados ao átomo central. Esta situação inclui os casos em que se considera que um
ligante é formado pela remoção de H+ de uma posição particular de uma molécula ou íon. Por exemplo, o
acetilacetonato, MeCOCHCOMe-, tem como nome sistemático de ligante 2,4-dioxopentan-3-eto, o que,
contudo, não implica ligação do átomo de carbono central do ligante. O átomo doador pode ser
especificado como se mostra em IR-9.2.4.2.
Os únicos casos em que não é requerida a especificação do átomo doador de um ligante que pode
ligar-se a um átomo central por mais de uma forma são:
- grupos carboxilatos monodentados ligados por O;
- cianeto monodentado ligado por C;
- monóxido de carbono monodentado ligado por C (nome do ligante “carbonila”);
- monóxido de nitrogênio monodentado ligado por N (nome do ligante “nitrosila”).
Por convenção, nestes casos os nomes dos ligantes implicam o modo de coordenação mostrado.
8
bis(2,3-dimetilbutano-2,3-diamina)(η2-peróxido)cobalto(1+)
Os prefixos multiplicadores que se aplicam a um ligante ou parte de um ligante também se aplicam aos
símbolos dos átomos doadores. Nalguns casos, isto pode requerer a utilização de um nome do ligante
alternativo, por exemplo, quando os prefixos multiplicadores não possam ser usados porque seria diferente
a ligação de partes equivalentes do ligante. São apresentados abaixo vários exemplos deste caso.
Exemplos simples são tiocianato-κN para NCS ligado pelo nitrogênio e tiocianato-κS para NCS ligado
pelo enxofre. O nitrito ligado pelo nitrogênio é denominado nitrito-κN e o nitrito ligado pelo oxigênio é
denominado nitrito-κO, como em penta-aminnitrito-κO-cobalto(III).
Para ligantes com vários átomos coordenantes dispostos linearmente ao longo de uma cadeia, a
ordem de símbolos κ deve ser sucessiva, começando por um dos extremos. A escolha do extremo baseia-
se na ordem alfabética se os átomos coordenantes forem diferentes, por cisteinato-κN,κS; cisteinato-
κN,κO.
Os átomos doadores de um determinado elemento podem ser distinguidos por adição de um
localizador numérico como índice superior direito ao símbolo do elemento em itálico ou, em casos simples,
de uma ou mais plicas.
Por outro lado, a utilização de numerais como índices superiores baseia-se numa numeração
adequada de alguns ou todos os átomos do ligante, tal como a numeração dos átomos do esqueleto em
hidretos parentais, e permitem especificar a posição da ligação ou ligações ao átomo central em casos
bastante complicados. No caso simples do acetilacetonato, MeCOCHCOMe-, mencionado acima, o nome
do ligante 2,4-dioxopentan-3-eto-κC3 implicaria ligação através do átomo de carbono central do esqueleto
de pentano.
Nalguns casos, os procedimentos padrão de nomenclatura não fornecem localizadores para os
átomos doadores em questão. Em tais casos, podem aplicar-se procedimentos ad hoc simples. Por
exemplo, para o ligante (CF3COCHCOMe)-, podia ser usado o nome 1,1,1-trifluoro-2,4-dioxopentan-3-eto-
κO para indicar coordenação, através do oxigênio, do fragmento CF3CO da molécula, enquanto que a
coordenação de MeCO seria identificada por 1,1,1-trifluoro-2,4-dioxopentan-3-eto-κO’. A plica indica que
o átomo de oxigênio de MeCO está associado ao localizador de ordem mais elevada da molécula do que o
átomo de oxigênio de CF3CO. O átomo de oxigênio do fragmento CF3CO do ligante está ligado a C2,
enquanto que o de MeCO está ligado a C4. Em alternativa, o nome podia ser alternado, respectivamente,
para 1,1,1-trifluoreto-2-(oxo-κO)-4-oxopentan-3-eto e 1,1,1-trifluoreto-2-oxo-4-(oxo-κO)pentan-3-eto
para os dois modos de coordenação referidos acima.
9
Nos casos em que estão envolvidos dois ou mais ligantes idênticos (ou partes de um ligante
polidentado), usa-se um índice superior no κ para indicar o número de tais ligações. Como foi mencionado
acima, presume-se que quaisquer prefixos multiplicadores para entidades complicadas operam também
no símbolo κ. Assim, usa-se o nome parcial “...bis(2-amino-κN-etil)...” e não “...bis(2-amino-κ2N-etil)...” no
Exemplo 2 abaixo. Os exemplos 2 e 3 apresentam quelação tridentada pelo ligante tetra-amina linear N,N’-
bis(2-aminoetil)etano-1,2-diamina para ilustrar estas regras.
Exemplos:
2.
[N,N’-bis(2-amino-κN-etil)etano-1,2-diamina-κN]cloretoplatina(II)
3.
[N-(2-amino-κN-etil)-N’-(2-aminoetil)etano-1,2-diamina-κ2N,N’]cloretoplatina(II)
O exemplo 2 ilustra como a coordenação pelos dois grupos amina primários terminais do ligante é indicada
pela colocação do índice κ depois do nome do substituinte e sob o efeito do prefixo duplicados “bis”. O
aparecimento do índice simples κN depois de “etano-1,2-diamina” indica ligação por apenas um dos dois
átomos de nitrogênio do grupo amina secundário.
No Exemplo 3, apenas uma das aminas primárias está coordenada. Isto é indicado pela não
utilização do prefixo duplicador “bis”, pela repetição de (2-aminoetil) e pela inserção do índice κ apenas na
primeira dessas unidades, isto é, (2-amino-κN-etil). O envolvimento de ambos os átomos de nitrogênio
secundários da etano-1,2-diamina na quelação é indicado pelo índice κ2N,N’.
10
Quadro VII Abreviaturas de ligantes (adaptado).
Outro nome (a partir do qual deriva a
Abreviatura Nome sistemático
abreviatura)
acac 2,4-dioxopentan-3-eto acetilacetonato
aet 2-aminoetanotiolato
ala 2-aminopropanoato alaninato
asp 2-aminobutanodioato aspartato
biim 2,2’-bi(1H-imidazole)-1,1’-dieto 2,2’-bi-imidazolato
bn butano-2,3-diamina
bpy 2,2’-bipiridina
bzac 1-fenil-1,3-dioxobutan-2-eto benzoilacetonato
bzim 1H-benzimidazol-1-eto
bztz 1,3-benzotiazole
cys 2-amino-3-sulfanilpropanoato cisteínato
dbm 1,3-dioxo-1,3-difenilpropan-2-eto dibenzoilmetanato
depe etano-1,2-di-ilbis(dietilfosfano) 1,2-bis(dietilfosfino)etano
dien N-(2-aminoetil)etano-1,2-diamina dietilenotriamina
dma N,N-dimetilacetamida dimetilacetamida
dpm 2,2,6,6-tetrametil-3,5-dioxo-heptan-4-eto dipivaloilmetanato
ea 2-amino(etan-1-olato) etanolaminato
edta 2,2’,2’’,2’’’-(etano-1,2-di-ildinitrila)tetra-acetato etilenodiaminatetra-acetato
en etano-1,2-diamina etilenodiamina
fta 1,1,1-trifluoro-2,4-dioxopentan-3-eto trifluoroacetilacetonato
gly aminoacetato glicinato
his 2-amino-3-(imidazol-4-il)propanoato histidinato
im 1H-imidazol-1-eto
leu 2-amino-4-metilpentanoato leucinato
lut 2,6-dimetilpiridina lutidina
ox etanodioato oxalato
phen 1,10-fenantrolina
pn propano-1,2-diamina
terpy 2,2’:6’,2’’-terpiridina terpiridina
val 2-amino-3-metilbutanoato valinato
11
Quadro VIII Fórmulas estruturais de ligantes selecionados (adaptado).
12