Segurança internacional
Segurança internacional
Segurança internacional
AULA 2
Seja bem-vindo(a)!
Nesta aula, aprenderemos o conceito de segurança, com o objetivo de
entender como esse conceito foi introduzido nas Relações Internacionais, ou
seja, pensar em que momento e de que forma os analistas de Relações
Internacionais iniciaram os estudos de segurança. Vimos que o estudo teve início
na área de assuntos estratégicos e, aos poucos, foi sendo desenvolvido nas
grandes correntes teóricas das RI.
Com o desenvolvimento da área de Relações Internacionais como um
todo, foi possível que as subáreas se desenvolvessem e se responsabilizassem
pelas conquistas de seus objetos. Isso inclui a subárea de Segurança
Internacional. Pesquisadores de Relações Internacionais se dedicaram,
exclusivamente, a entender a segurança internacional, o seu conceito, a sua
evolução e também a sua aplicabilidade nos dias atuais.
Tendo em vista o desenvolvimento da subárea de segurança
internacional, nesta aula vamos nos dedicar às correntes teóricas específicas da
área de segurança. Iniciaremos conversando sobre a teoria de securitização da
Escola de Copenhague. Essa teoria será vista em dois momentos:
primeiramente em sua versão ampliada e depois em seu conceito de processo
de securitização. Em seguida, trataremos do conceito de segurança sob a luz da
corrente de segurança humana. Seguiremos para a teoria pós-estruturalista e,
por fim, veremos os debates dos estudos feministas de segurança internacional.
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pessoas, alavancando o processo de análise acadêmica sobre o conceito de
segurança. Nesse contexto foi criada, em 1985, a Escola de Copenhague,
originalmente chamada de Copenhagen Peace Research Institute (Tanno,
2003).
A Escola, formada inicialmente por Barry Buzan, Lene Hansen, Ole
Waever e Jaap de Wilde, surgiu da insatisfação com o engessamento da teoria
realista que mantinha apenas o Estado e suas teses militares como foco das
questões de segurança. A insatisfação com o conceito de poder militar na
segurança foi estimulada pelas agendas internacionais ambientais e econômicas
durante as décadas de 1970 e de 1980.
O argumento central dos autores da Escola foi formulado com base em
três premissas: 1. A segurança deveria deixar de ser pensada apenas como
defesa ou ataque. 2. As armas nucleares – reflexão feita em detrimento do
contexto do pós-Segunda Guerra Mundial. Analisar somente os meios militares
para entender a segurança não era mais suficiente, especialmente para entender
a utilização ou não de armas nucleares. A disputa nuclear se tornou a arte de
evitar guerras. 3. Um caráter civil fortalecido. Eram necessárias novas
especialidades para desabilitar o oponente. Era importante, por exemplo,
também analisar as fragilidades econômicas dos adversários (Silva, 2013).
Os autores de Copenhague deixaram claro que o objetivo da Teoria de
Securitização não é uma ruptura com as teorias tradicionais das Relações
Internacionais, mas sim uma nova forma de analisar a política internacional. Os
autores optaram por desenvolver a ideia lançando mão de conceitos clássicos
da Teoria Realista e também da Teoria Construtivista (Silva, 2017).
Na Teoria Realista é utilizada a centralidade do Estado, ou seja, a análise
de securitização de um tema é baseada no Estado. Desta forma, a pergunta
parte sempre da premissa de como um Estado securitiza determinado tema de
segurança. Essa centralidade no Estado organiza a aplicação da Teoria de
Securitização, vinculando o analista aos meios de o Estado lidar com
determinado tema de segurança (Silva, 2013).
Já na Teoria Construtivista, o conceito de construção social que é
utilizado. Os autores de Copenhague entenderam que um problema de
segurança é compreendido como de segurança por ser argumentado como tal.
O mundo é construído por falas, conversas e relações sociais. Se um objetivo é
visto como um tema de segurança, significa que houve um discurso nesse
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sentido. Um agente securitizador argumenta em sua fala que determinado tema
é uma ameaça à existência do Estado. É assim que se inicia a construção social
do tema (Silva, 2019).
Sendo assim, a securitização é um processo que trata de uma
argumentação sobre o futuro. Os argumentos sempre envolvem a decisão em
duas possibilidades de caminho: o que irá acontecer se não for tomada uma
ação e o que ocorrerá se a ação for tomada. Partindo da ideia de que todo tema
de segurança é visto efetivamente como um tema de segurança porque foi
argumentando como tal, os autores definem que: a) Existe sempre um
interlocutor, alguém que discursa pelo tema. Esse interlocutor é chamado de
agente securitizador. b) O agente securitizador discursa sobre um tema,
alegando que esse tema é uma ameaça à existência do Estado. (Buzan; Waever;
Wilde, 1998)
Nessa etapa da discussão, os autores argumentam que questões de
segurança devem ser analisadas de forma mais ampla; não devemos olhar
apenas para o setor militar. Os pesquisadores afirmam que uma ameaça à
existência do Estado pode vir de diversos setores: econômico, político, societal,
ambiental, militar e cibernético. Essa possiblidade de análise de diversos setores
é chamada de visão ampliada da agenda de segurança (Silva, 2019).
O setor militar concentra os temas focados em ameaças externas e
também internas. Refere-se à possibilidade de um Estado ser atacado por outro
Estado e a capacidade que ele tem de se defender militarmente de ameaças
internas. Sendo assim, está relacionado às forças armadas, tanto ofensivas
quanto defensivas. Também trata da capacidade dos Estados em perceberem a
intensão (força, impetuosidade) dos outros Estados. O setor militar ocupa-se do
uso do poder militar para defender os estados e governos de ameaças à sua
integridade territorial (Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998).
No setor político são todas as questões que podem destruir ou abalar a
estabilidade organizacional do Estado. Nesse setor são pensadas ameaças aos
ideais do Estado, a sua base física e as instituições do Estado. As ameaças
desse setor são pressões para a adoção de determinadas políticas, pedidos de
substituição do governo e incentivos à sucessão (Buzan, Barry; Waever, Ole;
Wilde, 1998).
No setor societal, as ameaças vêm de identidades coletivas que podem
existir e funcionar sem a necessidade do Estado. São identidades que funcionam
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como uma nação ou uma determinada religião e essa existência é independente
do Estado local. Esse setor está ligado ao setor político, à segurança societal
está relacionada com a estabilidade da organização governamental, ao sistema
de governo e às ideologias de governos, que são ameaçadas por identidades
coletivas de determinados grupos, sociedades.
O setor econômico está vinculado à sobrevivência do Estado em uma
lógica capitalista. Uma ameaça econômica pode também se tornar uma ameaça
política e militar. Um tema econômico pode vir a se tornar um tema de segurança.
É ameaçada a habilidade do Estado de manter a capacidade de produção
quando existe a possibilidade de dependência econômica no mercado global e
pela ameaça ao abastecimento de um Estado. Além desses aspectos singulares
das economias estatais, também existe o temor de que a economia internacional
viva uma grande crise econômica, ameaçando a existência de alguns Estados
(Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998).
O setor ambiental é composto de duas premissas: o meio ambiente por si
só e a qualidade de vida. O primeiro ponto é vinculado à agenda científica, já o
segundo ponto é vinculado à agenda política. Embora elas se sobreponham e
se moldem, a agenda científica é tipicamente incorporada por ciência e
atividades não governamentais. Ela é construída fora dos fóruns políticos e
composta, principalmente, por cientistas e instituições de pesquisa e oferece
uma lista de problemas ambientais que prejudicam ou tem potencial para
prejudicar a evolução da civilização atual. Já a agenda política é essencialmente
governamental e intergovernamental. Consiste no processo público de tomada
de decisão e políticas públicas que atendam às preocupações ambientais
(Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998).
O último setor é o cibernético. A inclusão desse setor ocorreu com a
revisão da Teoria de Securitização. Em sua versão original, publicada em 1998,
eram previstos cinco setores, porém, com a inclusão da participação da autora
Lane Hansen à Escola, foi incorporada também a sua pesquisa, propiciando a
adesão do 6.º setor, o cibernético. Esse setor prevê que temas ciberespaciais
também possam gerar ameaças à existência de Estados. Desta forma, crimes
cibernéticos, por exemplo, podem ser temas favoráveis para o processo de
securitização (Silva, 2019).
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TEMA 2 – ESCOLA DE COPENHAGUE – PROCESSO DE SECURITIZAÇÃO
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2.2 Politizado
2.3 Securitizado
Importante notar que essa etapa não conta apenas com o discurso, mas
também com o chamado ato de fala. O ato de fala é um divisor de águas, muda
o status do tema, por exemplo: “Estamos em Guerra”. O status anterior era sem
guerra, o status atual é em guerra.
Essa etapa exige um esforço do analista para a confirmação da
securitização de um tema. É necessário que o analista identifique todos os
elementos da etapa anterior e some a ela a identificação do ato de fala, a
identificação da confirmação do público-alvo e a identificação de uma ação
emergencial, pontual e que fuja da política comum do Estado.
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Apenas com todos esses elementos é possível afirmar que um
determinado tema foi securitizado.
TEMA 4 – PÓS-ESTRUTURALISMO
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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as novas vertentes contribuíram com a área ao refletirem sobre o conceito de
segurança e por pensarem em como esse conceito melhor se adequa para a
análise das relações internacionais.
Iniciamos a aula conversando sobre a Escola de Copenhague, em
especial a sua teoria de securitização. Vimos que a colaboração da Escola foi
importante por sugerir a ampliação da agenda de segurança. Os autores
propõem que temas de segurança podem vir de seis setores, são eles: militar,
ambiental, político, econômico, societal, cibernético.
Além disso, a Escola de Copenhague sugere que temas de segurança
são socialmente construídos, ou seja, dependem da relação entre agente e
estrutura. Todo tema precisa de um agente securitizador que discurse sobre ele.
Os temas passam por um processo de securitização, dividido em três etapas:
não politizado, politizado e securitizado.
Seguindo em frente, tratamos do conceito de segurança humana. O
diferencial dessa corrente é a proposta de pensar segurança por indivíduos e
não por Estados. Atrelada ao desenvolvimento e à segurança, a proposta é
pensar a segurança humana como o número de anos de vida sem estar abaixo
do limiar do bem-estar. Alinhado a esse pensamento está a ONU e a verificação
do IDH dos países.
A próxima teoria que estudamos foi o pós-estruturalismo pensado para a
área de segurança. Aqui verificamos que o conceito de segurança é uma
interpretação dos riscos, ou seja, é necessário que primeiro ocorra um evento
para depois verificar a interpretação desse evento. Assim como a Teoria de
Securitização, para os pós-estruturalistas o discurso é a chave para a
compreensão.
Por fim, o último tema de nossa aula esteve voltado aos estudos
feministas de segurança internacional. Nesse ponto, verificamos a ausência das
mulheres nos temas de segurança. Essa ausência ocorre de duas formas. A
primeira é na própria academia. As autoras mulheres não são estudadas e
referenciadas. O segundo ponto é a ausência de estudos sobre mulheres em
regiões de bases militares e em regiões de conflito.
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REFERÊNCIAS
BUZAN, B.; WAEVER, O.; WILDE, J. de. Security: a new framework for analysis.
Boulder: Lynne Reinner, 1998.
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