Brasil - Sinais da arte na educação

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BRASIL: SINAIS DA ARTE NA EDUCAÇÃO

COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL COLÔNIA (1549-1759):


A Companhia foi uma ordem religiosa da Igreja Católica, fundada na Europa em 1540,
por Inácio de Loyola. Era formada por padres designados de jesuítas, que tinham como
missão catequizar e evangelizar as pessoas, pregando o nome de Jesus.
No Brasil, a chegada dos portugueses colocou em confronto duas culturas absolutamente
diversas, a europeia e a indígena. Os jesuítas começaram a utilizar conhecimentos de pintura,
música, danças, inclusive nativas, teatros e festas católicas para ajudar na catequese dos
povos indígenas. Essa apropriação e transmissão da arte possuía o objetivo centrado na
“domesticação”, na “doutrinação” e na catequese. Graças ao seu prestígio e habilidades, os
jesuítas tornaram-se os principais expoentes do desenvolvimento da arte e da arquitetura
brasileira durante os dois primeiros séculos da colonização. A partir do exemplo da arquitetura
do período, fica evidente que os professores jesuítas tinham grandes habilidades, bem como a
necessidade de formação de artífices para as construções arquitetônicas e produções de toda
uma série de objetos e artefatos. Daí surge a primeira denominação Artes e Ofícios. A
abordagem didática dos jesuítas se pautava na observação e imitação do aprendiz em relação
ao mestre. Este fora o modelo implantado pelos jesuítas, a cargo dos quais estivera a educação
brasileira desde os princípios da colonização até 1759, quando foram expulsos do Brasil por
razões políticas, econômicas e culturais. Embora ausentes da atividade educativa, eram os
ecos de suas concepções que orientavam a cultura brasileira quando aqui chegou D. João VI e
oito anos depois a Missão Francesa.

ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS-ARTES – AIBA (1826-1889)


A partir das primeiras décadas do século XIX, com a vinda da família real para as terras
brasileiras, nasceram as primeiras escolas técnicas e científicas. Proporcionou-se, também, a
iniciação de um ensino artístico no Brasil com a presença da Missão Artística Francesa. O
decreto de doze de agosto de 1816 criou a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios para a
qual foi contratada uma Missão Artística Francesa que chegou ao país no mesmo ano para
inaugurar as atividades da instituição. A Escola, possui dupla face: formar o artista para o
exercício das belas-artes e o artífice para as atividades industriais. A transposição do
modelo de ensino artístico francês, que associava o neoclassicismo e o mercantilismo, pela
Missão Artística de 1816, foi o marco inicial de uma ruptura com o jesuitismo e a
experimentação, no contexto brasileiro, de uma prática educativa que não restringia a
aprendizagem do desenho apenas às Belas Artes, mas o articulava, simultaneamente, aos
propósitos da industrialização.
Na Academia Imperial de Belas Artes - AIBA, nome que a instituição adotou após alguns
anos de sua criação, foi uma escola superior de artes e ofícios no Brasil chefiada por
Lebreton. Seu projeto reivindicava a construção simultânea de uma Escola de Belas Artes e de
uma Escola Gratuita de Desenho acoplada ao funcionamento de ateliês práticos (oficinas de
ofícios). O desenho seria um elo na formação para as Belas Artes e na formação para o
artífice, ou seja, predominava o ensino de desenho.
Na Academia havia cinco seções de estudos com suas subdivisões: arquitetura,
escultura, pintura, música, ciências acessórias. Os alunos eram divididos em dois grupos:
os artistas que se dedicavam às belas artes e os artífices que professavam as artes mecânicas.
A Academia Imperial que determinou a sistematização do ensino artístico.

LICEU DE ARTES E OFÍCIOS (1856-ATUAL)


Outra importante instituição de ensino foi o Liceu de Artes e Ofícios, criado no Rio de
Janeiro em 1856, por iniciativa do arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, com o
objetivo de difundir o ensino das belas-artes aplicadas aos ofícios e indústrias, ou seja,
com finalidade garantir a educação fundamental e o ensino profissionalizante para a
população operária, que ele julga primordial para o desenvolvimento de uma sociedade
industrial. A filosofia norteadora do Liceu está amparada na ideia de que a arte é uma via
fundamental para o aprimoramento das cidades. No Liceu de Artes e Ofícios o ensino
compreendia uma parte teórica e outra de preparação profissional e artística. Essa formação,
no entanto, está relacionada a cursos profissionalizantes

RUI BARBOSA (1849-1923)


A preocupação central a respeito do ensino da arte, no início do século XX, era a sua
implantação nas escolas primárias e secundárias e mesmo a sua obrigatoriedade. Os modelos
de implantação estavam baseados, principalmente, nas ideias de Rui Barbosa, expressas, em
1882 e 1883, em seus projetos de reforma do ensino primário e secundário. O século XIX foi
o século que difundiu a instrução pública e Rui Barbosa foi influenciado pelas discussões de
sua época. Tanto que, empenhado num projeto de modernização do país, interessou-se pela
criação de um sistema nacional de ensino – gratuito, obrigatório e laico, desde o jardim de
infância até a universidade. Os pareceres sobre a Reforma do Ensino Primário, Secundário e
Superior originou-se da análise do decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879.
A reforma de ensino proposta por Rui Barbosa procurava preparar para a vida. Esta
preparação requeria o estabelecimento de um ensino diferente do ministrado até então, ensino
este marcado pela retórica e memorização. Era preciso privilegiar novos conteúdos, como
ginástica, desenho, música, canto e, principalmente, o ensino de ciências. Esses novos
conteúdos, associados aos conteúdos tradicionais, deveriam ser ministrados de forma a
desenvolver no aluno o gosto pelo estudo e sua aplicação. Para tanto, o método que guiaria
este aprendizado basear-se-ia na observação e experimentação, procurando cultivar os
sentidos e o entendimento. Recomendava, portanto, a adoção do método intuitivo.
O desenho linear ou geométrico e desenho figurado estavam presentes no ensino da
escola primária e secundária nas primeiras décadas do século XX, tendo-se acrescentado a
este conteúdo, o desenho de ornato ou arte decorativa pela influência da Escola de Belas
Artes e do Liceu de Artes e Ofícios. A metodologia da Escola Nacional de Belas Artes
influenciou grandemente o ensino da Arte nos níveis primário e, principalmente, secundário,
durante os vinte e dois primeiros anos do século XX, mas outras influências dominavam
durante esse período: os processos resultantes do impacto do encontro efetivo entre as artes e
a indústria e o processo de cientifização da arte
A escola a ser difundida deveria estar voltada para a vida, esta deveria estar carregada de
conteúdos científicos, formando o trabalhador e o cidadão. A evidência da relação que se fazia
entre educação e preparação para o trabalho pode ser demonstrada também pela ênfase dada
ao ensino de desenho. Nos pareceres sobre o ensino primário e secundário foi evidenciada a
imperiosa exigência desse ensino.
O ensino de desenho não era o de ornamentação, nem tinha como objetivo transformar
todos os alunos em artistas, mas exercitar o olho e a mão para que eles pudessem ver com
exatidão e reproduzir coisas de seu interesse ou que pudessem ser aplicadas, principalmente,
nas indústrias. Assim, o ensino proposto não se destinava ao cultivo da pintura, da escultura
ou estatuária, mas explorava as possibilidades da adaptação da arte ao desenho industrial
através do estudo do desenho, adequando a arte ao trabalho mecânico e fabril. Dessa forma,
contribuiria para o progresso do país, pois era necessário criar a indústria nacional.
Nos EUA, o assombroso progresso industrial foi atribuído à precoce iniciação da
juventude americana no estudo do desenho e a boa organização do ensino de arte aplicada à
indústria. Já no Brasil, a única entidade educacional brasileira que na época tentava ensinar o
desenho com aplicações à arte e à indústria era o Liceu de Artes e Ofícios. Para Rui Barbosa a
Educação Artística seria uma das bases mais sólidas para a educação popular, e sua introdução
na escola pública americana, principalmente através do desenho geométrico, já demonstrara
enorme sucesso. Por isso foi o modelo americano de ensino da arte que pretendia implantar no
Brasil na escola secundária. Estabelecia que o desenho devesse obrigatoriamente ser
ensinado em todos os anos do currículo secundário.

ESCOLA MODERNA
A educação funcionava como um instrumento utilizado para realizar as reformas sociais
necessárias que o final do século XIX exigia. Na estrutura escolar permaneceu a presença do
desenho geométrico e a cópia. Enquanto isso, novos métodos de ensino da arte revigoravam
as escolas americanas onde, pela primeira vez, uma lei oficial, nos EUA, apontava como
principal finalidade da arte na educação o “desenvolvimento do impulso criativo” e
psicólogos começaram a enfatizar a relação existente entre os processos afetivo e cognitivo,
apontando a arte da criança como um elo vinculador entre eles. A Semana de Arte Moderna de
1922, que inseriu o Brasil no Modernismo, não ecoou de imediato no ensino da arte, mas
conduziu a uma renovação metodológica. O argumento dessa renovação era o de que a arte é
uma forma de liberação emocional, pensamento que permeou esse movimento pela
valorização da arte da criança após a queda do Estado Novo, responsável pelo entrave ao
desenvolvimento do ensino de arte no Brasil, quando solidificou procedimentos antilibertários
já ensaiados na educação brasileira anteriormente, como o desenho geométrico na escola
secundária e primária e, então, a partir de 1947, ocorreu uma supervalorização da arte como
livre-expressão.
O método da livre-expressão respeitava os princípios dessa nova educação, que ficou
conhecida como Escola Nova. A Escola Nova, também chamada de Escola Ativa ou Escola
Progressiva, foi um movimento de renovação do ensino, que surgiu no fim do século XIX e
ganhou força na primeira metade do século XX.

ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL (1948-ATUAL)


Criada em 1948, no Rio de Janeiro, por iniciativa do artista Augusto Rodrigues. A Escolinha
coloca o foco nas distintas expressões artísticas (dança, pintura, teatro, desenho, poesia etc.) e
iniciou seus trabalhos voltada fundamentalmente para o público infantil. O espírito não
diretivo e aberto da Escolinha de Arte do Brasil pode ser aferido na tentativa de ampliação do
repertório artístico pela inclusão de elementos da arte popular e do folclore (por exemplo,
teatro de fantoches e bonecos), na intensificação do diálogo entre as diferentes modalidades
artísticas, ou na adoção de um método pouco convencional de ensino.
A Escola Nacional de Belas Artes possuía um sistema educacional voltado aos ícones
europeus e a Escolinha de Arte buscou romper, justamente, com essa excessiva valorização,
trazendo uma nova proposta de arte/educação nacional incluindo a criança nesse processo.
Até 1973 era nessas escolinhas que se formavam os arte/educadores. A partir daí foram
criados os cursos universitários que formavam o professor em dois anos para a polivalência,
ou seja, para lecionar artes plásticas, música e teatro de 1ª a 8ª séries. O Movimento Escolinha
de Arte exerceu um papel fundamental na sistematização do ensino da arte com a visão
voltada para uma educação estética enriquecida não só envolvendo as crianças, mas também
adolescentes e adultos. Preocupou-se com a formação de arte/educadores desenvolvendo
cursos intensivos e procurando constantemente estar atualizado ao que acontecia em termos
de arte em outros países.

DITADURA MILITAR (1964-1985)


A educação artística nas escolas públicas se resumia ao ensino de desenho geométrico, o
laissez-faire, temas banais, as folhas para colorir, a variação de técnicas e o desenho de
observação. A tendência tecnicista era a maior ênfase dada nas escolas. Os exemplos do
ideário tecnicista estão em livros didáticos da época, os quais eram usados como referência
para professores que, em sua maioria, não tinham formação específica. Os alunos, em geral,
não tinham acesso ao livro didático, o(a) professor(a) tinha sua cópia e seguia os exercícios
propostos. Apreciação artística e história da arte não tinham muito lugar na escola.

A formação estética, como um objetivo primordial, foi se definindo na década de 1990


como um novo paradigma no ensino de arte. Novas abordagens passaram a questionar não
somente os objetivos do passado, desenvolver a criatividade, a percepção visual, a
coordenação motora, a aprendizagem de técnicas, como também seus métodos, que
priorizavam apenas uma produção desvinculada de qualquer reflexão ou análise. Atualmente
o desenvolvimento da criatividade não deixou de ser objetivo do ensino de arte, mas o
enfoque está na alfabetização estética. E, segundo Ana Mae, a pretensão era não só
desenvolver a criatividade através do fazer arte, mas também através das leituras e
interpretações das obras de arte, desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar, partir do
conhecido e modificá-lo de acordo com o contexto e a necessidade. Esses são processos
criadores, desenvolvidos pelo fazer e ver arte e fundamentais para a sobrevivência no mundo
cotidiano.

ABORDAGEM TRIANGULAR - ANA MAE BARBOSA


A abordagem triangular, proposta por Ana Mae Barbosa, teve início na década de 1980 e foi
sistematizada no período de 1987 a 1993. A origem dessa proposta deriva das três vertentes do
ensino e da aprendizagem: leitura da imagem, fazer artístico, e contextualização. A abordagem
foi sendo revista e passa por experimentações diversas, inclusive chega a ser adaptada pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte - PCNs/Arte.
No final dos anos 90, as alterações nas abordagens didáticas do ensino de arte
começavam a fazer parte dos debates e das práticas de docentes, não só por conta das
sugestões dos PCNs e da abordagem triangular, como, principalmente, pela formação em
novos cursos de licenciatura em todo o Brasil.
Nesse período, os livros didáticos de arte ainda não eram distribuídos para o corpo
discente da escola pública, mas já faziam parte das bibliotecas das escolas. A qualidade da
reprodução de imagens no livro didático melhorava consideravelmente. É notória a mescla de
atividades de variada origem, que vão desde a ênfase no desenho, nas técnicas ou, mesmo, nas
novas propostas de leitura e releitura de imagens. É notória também a influência persistente
das tendências tradicionais – escolanovista e tecnicista – permeando a ação pedagógica no
ensino-aprendizagem de arte.
Assim, na entrada do século XXI, coexistiam práticas de ensino de arte de origens
diversas, seja por conta da formação nas licenciaturas em artes visuais, dança, música ou
teatro, seja pela falta dela.
O acesso a obras de arte em exposições ou em acervos de museus, galerias e centros
culturais que vinha sendo ampliado desde a década de 1990 começa a ser mais desenvolvido
graças à internet.
Durante vários anos, o rumo predominante nas escolas foi o ensino do desenho, seja à
mão livre, seja à cópia, seja à mão armada, pois ele exerceu uma função social vinculada,
sobretudo, ao incremento de diferentes atividades industriais. Após a Segunda Guerra
Mundial, essa predominância foi sendo refeita por aqueles que se nutriam pela liberdade de
expressão dos indivíduos, sem restrição a métodos ou normas. Nos anos que se seguem vai
sendo gestada uma mudança, com a influência do cognitivismo nos EUA, que era adepto às
disciplinas no currículo e, a partir de então, foi sendo discutida a questão do que discentes
aprendem quando se expressam livremente. Esse debate leva à constituição da educação
artística como disciplina e, no Brasil, à relação com a abordagem triangular, sistematizada
pela professora Ana Mae Bastos Tavares Barbosa, em 1987.

LEIS
Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879
Art. 4º - Consta o ensino do “Elementos do desenho linear” e “Rudimentos
da música, com exercícios de solfejo e canto” como disciplina nas escolas
primárias e secundárias.
Art. 8º, parágrafo 9º - Fala sobre a criação de uma “escola especial ou de
aprendizado” para o “ensino prático das artes e ofícios”.
Art. 9º - Consta como disciplina para as “escolas normais do Estado”:
“Caligrafia e desenho linear” e “Música Vocal”.

- Ainda há mais para analisar a respeito do decreto. -

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB


nº 4.024/61
No art.38 da Lei 4024/61, direcionado a organização do ensino de grau médio, está
presente como norma, atividades complementares de iniciação artística. O Conselho
Federal de Educação apontou como principais atividades de iniciação artística as seguintes:
desenho de expressão e pintura; modelagem e escultura; museu didático de arte;
exposição de arte e indústria; excursões a museus, galerias, monumentos e sítios
naturais; jograis; coro seco; música e canto orfeônico; clube de decoração; clube de
cinema. O CFE ainda elaborou uma relação de disciplinas optativas para os sistemas de
ensino médio. No ciclo ginasial, Música e Canto Orfeônico e no colegial, Desenho e
Introdução às Artes. Embora alguns aspectos da arte foram determinados como práticas
educativas, ou atividades de iniciação artística, não se encontrou determinado na lei o
tempo escolar que seria reservado para tal. Apenas, em linhas gerais, está explícito como uma
das normas na organização do ensino de grau médio as vinte e quatro horas semanais de aulas
para o ensino de disciplinas e práticas educativas.

nº 5.692/71
A lei 5692 foi sancionada em 11 de agosto de 1971. No art. 7º contém a inclusão
obrigatória da Educação Artística nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º
graus. A partir dessa lei a disciplina passou a ter a nomenclatura Educação Artística, pois
ela deveria reunir artes plásticas, cênicas e música. Isso significa ainda que, pouco a pouco,
o canto orfeônico, o desenho, trabalhos manuais deixaram de existir no currículo. Dessa
forma, todas as unidades federadas do país deveriam realizar o ensino de 1º e 2º graus
conforme a nova lei.

nº 9.394/96
Art. 26. Parágrafo 2º - O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais,
constituirá componente curricular obrigatório da educação básica.
Parágrafo 6º - As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que
constituirão o componente curricular de que trata o § 2º deste artigo.
A LDB 9.394/96), define a obrigatoriedade do “ensino de arte” em lugar de “educação
artística”.

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