Acta_944_DanielChecchinato_2024_v02
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ABSTRACT
Background: Trauma to the spine can lead to vertebral fracture, luxation or subluxation. Spinal injuries can cause partial
or total loss of neurological functions. Neurologic signs of cervical spine injuries can range from mild pain to tetraplegia,
and in cases of subluxation and instability, surgical treatment is usually indicated to stabilize the vertebrae. The aim of
this study is to report the case of a dog with traumatic subluxation of the cervical spine that underwent surgical treatment
to stabilize the cervical vertebrae.
Case: A 7-year-old Shih-Tzu male dog, weighing 5.9 kg, was evaluated at a Veterinary Clinic with neurological signs sug-
gestive of spinal injury. In the anamnesis, the owner reported that about 7 months ago the animal had suffered a domestic
trauma, most likely due to a fall from a child’s lap. It was reported that the animal stopped walking after the fall, and
initially the dog was taken to a Veterinary Clinic, where the 1st care was performed. At that time, radiographic examina-
tions of the spine in the lumbar region and of the hip joints were performed, where no alteration was observed. Seven
months after the trauma, the neurological signs still persisted, and the owner raised funds to continue the treatment. The
neurological examination revealed plegia in the pelvic limbs and paresis in the forelimbs, partially preserved nociception
and signs compatible with spinal injury in the cervical region. Radiographic examinations of the cervicothoracic region of
the spine demonstrated possible disc protrusion between cervical vertebrae C5-C6. A computed tomography scan of the
same region was performed, which showed instability and subluxation of the spine, more pronounced between the C5-C6
cervical vertebrae, promoting extradural compressive myelopathy in this medullary segment, indicating the need for sur-
gical stabilization. The technique of ventral vertebral application of screws fixed with polymethylmethacrylate (PMMA)
was performed for vertebral stabilization. Access to the ventral surface of the bodies of the C5-C6 cervical vertebrae was
performed, and 6 cortical screws (1.5 mm in diameter) were implanted, with 3 screws being fixed in each cervical vertebra.
Subsequently, PMMA bone cement was applied on the screws and affected vertebrae. The dog started the rehabilitation in
the 2nd week after the surgical procedure. In the physiatric evaluation the patient presented with ataxia and proprioceptive
deficit, absence of superficial pain and presence of deep pain in all limbs. The physiotherapy treatment protocol instituted
included photobiomodulation (laser therapy), pulsatile magnetic field and kinesiotherapy. The exercises performed initially
were passive, evolving to assisted, free and isometric active.
Discussion: This was a lesion in the cervical region of the spine, with large vertebral bodies and with the possibility of
surgical access through a ventral approach, and therefore the technique of ventral application of screws fixed with poly-
methylmethacrylate (PMMA) was chosen. The surgical method was chosen because of its ability to stabilize the cervical
vertebrae effectively and relatively simply. The PMMA was fixed to the screws and to the vertebral bone, forming a rigid
and well-shaped structure, allowing the stability of the affected cervical region. After the physiotherapy sessions, the patient
showed good outcome with fast and progressive recovery of ambulation, and adequate recovery of neurological and motor
function after 40 days of surgery. In conclusion, the surgical technique used, associated with physiotherapy, proved to be
effective in stabilizing the cervical spine and in recovering the neurological function of the dog.
Keywords: spine, cervical vertebrae, spinal injury, vertebral stabilization, canine.
Descritores: coluna vertebral, vértebra cervical, lesão espinhal, estabilização vertebral, canino.
DOI: 10.22456/1679-9216.133394
Received: 25 November 2023 Accepted: 27 February 2024 Published: 2024
Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG, Brazil. Clínica Veterinária Checchinato, Jundiaí, SP,
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Brazil. 3Departamento de Medicina Veterinária, Universidade das Américas (FAM), São Paulo, SP. CORRESPONDENCE: CORRESPONDENCE: D.
Checchinato [[email protected]]. Av. Reynaldo Porcari N. 506. Medeiros. CEP 13212-258 Jundiaí, SP, Brazil.
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D. Checchinato, D.C. Bragetto, J.E. Santo, et al. 2024. Subluxação traumática da coluna vertebral cervical em um cão -
tratamento com estabilização cirúrgica. Acta Scientiae Veterinariae. 52(Suppl 1): 944.
Figura 1. Imagens tomográficas demonstrando instabilidade e subluxação entre as vértebras cervicais C5-C6 (setas) de um cão da raça Shih Tzu com
7 anos de idade.
músculo longo do pescoço para visualização do corpo Após a estabilização vertebral, realizou-se o
das vértebras cervicais (Figura 2). A cauterização de fechamento das fáscias musculares e tecidos subcutâ-
vasos para contenção de sangramentos foi realizada neos em padrão contínuo com fio cirúrgico vicryl 2-01,
por eletrocautério bipolar. e sutura da pele em padrão simples separado com fio
Após divulsão e afastamento dos tecidos e de nylon 2-01. O paciente permaneceu em observação
estruturas da região, foi obtido o acesso à superfície no pós-operatório imediato, sendo então realizado
ventral dos corpos das vértebras C5 e C6. Utilizando-se exame radiográfico (Figura 4). No dia seguinte ao pro-
perfurador ósseo, foram feitas perfurações ao redor da cedimento, o cão foi liberado para acompanhamento
crista ventral das vértebras C5 e C6 para que fossem pós-operatório domiciliar, sendo recomendado repouso
implantados os parafusos corticais (1,5 mm de diâme- parcial e tratamento fisiátrico. Foi receitado antibiótico
tro) nos corpos vertebrais. Em sequência, foi aplicado e corticoide por 1 semana, e analgésicos por 2 semanas.
o cimento ósseo de PMMA sobre os parafusos (Figura O paciente iniciou o processo de reabilitação
3). Para impedir o aquecimento excessivo durante com a fisioterapia na 2a semana após o procedimen-
o endurecimento do polímero, foi utilizada solução to cirúrgico. Em avaliação fisiátrica, o paciente se
salina sobre o cimento ósseo. O PMMA se fixou aos apresentou com ataxia proprioceptiva, déficit pro-
parafusos e ao osso formando uma estrutura rígida e prioceptivo, ausência de dor superficial e presença de
bem modelada, possibilitando a estabilidade da região dor profunda em todos os membros. Dor moderada à
cervical acometida. palpação na região cervical, edema e rigidez muscular
nos músculos cleidobraquial, trapézio, omotransverso
e esternocefálico.
O protocolo de tratamento instituído incluiu
fotobiomodulação (laserterapia), campo magnético
pulsátil e cinesioterapia. A utilização da fotobiomodu-
lação e do campo magnético pulsátil teve a função anti-
-inflamatória, antiedematosa, analgésica, cicatrizante,
de relaxamento de fibras musculares, de metabolização
do cálcio nos ossos e estimulação de osteoblastos e
condroblastos.
A cinesioterapia teve objetivo de melhorar o
equilíbrio, mobilidade, coordenação motora, dimi-
Figura 2. Abordagem cirúrgica à região cervical ventral. A- Divulsão dos nuir contraturas e auxiliar na circulação e dinâmica
tecidos com exposição da traqueia e esôfago. B- Afastamento das estruturas
e exposição do músculo longo do pescoço. vascular. Os exercícios realizados inicialmente foram
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tratamento com estabilização cirúrgica. Acta Scientiae Veterinariae. 52(Suppl 1): 944.
Figura 3. Abordagem cirúrgica à região cervical ventral. A- Fixação dos parafusos nos corpos vertebrais C5 e C6. B- O cimento ósseo de PMMA foi
aplicado sobre os parafusos na região ventral das vértebras cervicais.
passivos, evoluindo para ativos assistidos, livres e ventral de parafusos fixados com polimetilmetacrilato
isométricos. Os exercícios passivos realizados foram (PMMA). Este método foi escolhido devido à capa-
alongamentos, estímulo de pedalada e mobilizações cidade de estabilizar as vértebras cervicais de forma
articulares. Já os exercícios ativos e isométricos foram eficaz e relativamente simples. O PMMA se fixou aos
alongamentos com estímulo de arco reflexo (ativo parafusos e ao osso formando uma estrutura rígida e
assistido) e andar para frente e para atrás (ativo livre) bem modelada, possibilitando a estabilidade da região
e isometria em discos de equilíbrio. cervical acometida.
Após sessões de fisioterapia, o paciente apre- Na literatura foi relatado 1 caso em que houve
sentou recuperação rápida e progressiva da deambu- fratura vertebral exposta, onde a vértebra torácica T11
lação, apresentando adequada recuperação total da foi totalmente desalinhada do eixo da coluna [4]. A
função neurológica e motora após 40 dias da cirurgia. vértebra foi removida e, após sua remoção, as vértebras
torácicas T10 e T12 foram alinhadas com aposição
DISCUSSÃO das superfícies articulares, e então foram estabilizadas
com a utilização de pinos cirúrgicos que foram fixados
Por se tratar de uma lesão na região cervical
com PMMA. O paciente apresentou grau V de lesão
da coluna vertebral, com grandes corpos vertebrais e
medular, e a radiografia pós-operatória identificou o
com possibilidade do acesso cirúrgico por meio de
alinhamento completo da coluna. No entanto, o animal
abordagem ventral, foi escolhida a técnica de aplicação
não apresentou recuperação neurológica e foi indicada
a utilização de órtese de cadeira de rodas.
No presente caso, a intervenção cirúrgica não
foi tão extrema como no caso citado anteriormente
[4]. No caso atual não foi necessária a realização da
vertebrectomia, mas os corpos vertebrais foram ade-
quadamente estabilizados com parafusos e PMMA. É
possível concluir que o tratamento cirúrgico em ques-
tão se mostrou eficaz e pôde proporcionar qualidade
de vida ao paciente.
Em outro relato de caso utilizou-se de pinos
de Schanz associados ao cimento ósseo em 1 ovino
com instabilidade nas vértebras cervicais, e essa téc-
Figura 4. Imagens radiográficas nas projeções laterolateral (A) e ventro- nica utilizada também proporcionou descompressão
dorsal (B) da região cervical. Observar os parafusos inseridos nos corpos
vertebrais de C5 e C6 fixados com cimento ósseo (setas). da medula espinhal, alinhamento do canal vertebral
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e estabilização entre as vértebras cervicais C1-C2 e a doença. No atual relato, o uso de parafusos fixados
C2-C3 da paciente [9]. com o PMMA forneceu adequada estabilidade ver-
Também podem ser utilizadas técnicas de tebral, não sendo necessária a aplicação de placas
cirurgias minimamente invasivas em fraturas e lu- ósseas específicas.
xações da coluna vertebral em cães e gatos. Alguns As intervenções fisioterapêuticas devem ser
autores descreveram com sucesso a estabilização suaves e podem consistir apenas na massagem dos
minimamente invasiva da coluna usando um fixador membros para promover um melhor fluxo sanguíneo.
esquelético externo uniplanar unilateral (tipo 1a) com Com o passar do tempo, é útil iniciar exercícios sim-
barra externa estabilizadora de PMMA [2]. No presente ples de amplitude de movimento [7]. O tratamento
caso, optou-se em realizar a fixação interna da coluna fisiátrico utilizado contribuiu de forma relevante na
vertebral, o que forneceu adequada estabilização da recuperação funcional neurológica e na qualidade de
coluna cervical. vida do paciente. Assim, a técnica cirúrgica utilizada,
Em outro estudo foram utilizados 16 animais associada à fisioterapia, mostrou-se eficaz na estabi-
com síndrome de Wobbler associada ao disco inter- lização da coluna vertebral cervical e na recuperação
vertebral, em um tratamento cirúrgico com parafuso dos sinais neurológicos.
de tração intervertebral (FITS) combinado com trava MANUFACTURER
de colar de pérolas (SOPTM), acrescido de enxerto Johnson & Johnson do Brasil Indústria e Comércio de Produtos
1
ósseo autógeno esponjoso colocado entre as vérte- para Saúde Ltda. São Paulo, SP, Brazil.
bras adjacentes [13]. Concluíram que a aplicação Declaration of interest. The authors report no conflicts of
desse dispositivo combinada com a placa bloqueada interest. The authors alone are responsible for the content and
ofereceu resultados excelentes em cães tratados para writing of paper.
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