BORGES, Nicodemos B. Clínica Analítico-comportamental.
Porto Alegre:
Artmed, 2012, Capitulo. 16.
Capítulo 16 – O papel da relação terapeuta-cliente para a adesão ao
tratamento e à mudança comportamental
Na terapia analítico-comportametal, um dos aspectos mais importantes é
a relação entre o terapeuta e o cliente, que é responsável por determinar não
apenas os resultados desse processo, mas também se ele terá continuidade ou
não. Isso porque o cliente chega até a terapia em sofrimento (estimulação
aversiva) e cabe ao terapeuta mostrar que ali ele pode ser capaz de mudar
isso. Tem início assim uma relação reforçadora entre o cliente e o terapeuta.
A princípio, o terapeuta deve estabelecer um espaço de acolhimento ao
cliente, com uma escuta não punitiva, sem julgamentos e que permita que ele
se expresse livremente. A partir disso, o terapeuta consegue tempo para
tornar-se de fato reforçador e estabelecer uma relação significativa com o
cliente, ao mesmo tempo em que coleta dados sobre a queixa e sobre o
funcionamento dos comportamentos do cliente. Assim, o terapeuta pode
explicar a visão que teve sobre o caso inicialmente, e junto com o cliente traçar
metas em que o terapeuta pode colocar em prática os procedimentos
necessário.
Durante o processo terapêutico, o analista deve observar os impactos da
relação terapeuta-cliente na mudança de seus comportamentos, pois aspectos
tanto do cliente, quanto do terapeuta, podem influenciar nessa relação e nos
resultados do processo terapêutico, desde o modo de falar, e se expressar, de
indagar, a forma de gesticular, a idade do paciente ou do terapeuta, etc, podem
ser aspectos a serem observados para entender como o terapeuta passa a se
tornar uma figura de influência na intervenção terapêutica.
Através dessa relação, o terapeuta pode exercer várias funções no
comportamento do cliente, como reforçador para certas respostas, ou como
estímulo eliciador de bem-estar, ou até mesmo como agente que favorece a
mudança do comportamento, dentro ou fora da clínica. Porém, os
respondentes do paciente também podem influenciar emoções e decisões do
terapeuta, como por exemplo a forma como o paciente reage a um tema
abordado, a forma como pode se esquivar de um assunto, ou até mesmo sua
linguagem corporal e física podem influenciar em como o terapeuta irá reagir e
prosseguir com o atendimento, principalmente ao tratar de assuntos sensíveis
ao cliente..
Nesses casos, o terapeuta também pode, junto ao paciente, definir
limites sobre o que lhe causa grande sofrimento e até onde está disposto a
falar, a princípio para que o cliente não se sinta atacado. Aos poucos, no
decorrer da terapia, esses limites vão sendo alterados de forma que os
assuntos relevantes possam ser tratados. Assim, o terapeuta deve observar os
comportamentos do cliente e ajustar suas técnicas e procedimentos às
características do mesmo, para que assim possa de forma efetiva modificar os
comportamentos do cliente.
Um ponto importante na relação terapeuta-cliente é o comportamento
verbal, pois através da comunicação com o paciente das análises do terapeuta
sobre interações que ocorrem no consultório ou fora dele o cliente pode
entender seu comportamento e encontrar alternativas para ele fora da clínica
.A FAP (Terapia Analítica Funcional) traz profundas contribuições sobre
a relação terapeuta-cliente, trazendo o conceito de Comportamentos
Clinicamente Relevantes (CRB), que são comportamentos-problema trazidos
para a terapia. CRB1 são os comportamentos-problema do paciente que se
reproduzem na relação terapeuta-cliente durante o processo terapêutico. CRB2
é quando esses comportamentos vão diminuindo e evoluindo, dando sinais de
que estão mudando para a direção certa e que devem ser reforçadas pelo
terapeuta. E CRB3 é quando o cliente consegue de fato compreender o
funcionamento dos seus comportamentos e as mudanças que ocorrem em
terapia se expandem para situações do seu dia a dia.
A FAP trabalha sobre cinco preceitos: ser atento a ocorrência dia CRBs;
ter coragem para evocar os CRBs; reforçar os CRB2 de forma
terapeuticamente empatica; observar os comportamentos do terapeuta que
podem ser reforçadores para o cliente; fornecer informações da análise
funcional ao cliente, para que esse seja capaz de compreender e generalizar
para outras situações.