Caracterizaçãoavaliaçãoqualidade_Cantinho_2017

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CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE

AMBIENTAL DO ESTUÁRIO PONTA DO TUBARÃO (RN)


COM BASE NA ÁGUA, SEDIMENTO E MACROALGAS
MARINHAS
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR


SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

KLÉGEA MARIA CÂNCIO RAMOS CANTINHO

2017
Natal – RN
Klégea Maria Câncio Ramos Cantinho

CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE


AMBIENTAL DO ESTUÁRIO PONTA DO TUBARÃO (RN) COM
BASE NA ÁGUA, SEDIMENTO E MACROALGAS MARINHAS
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR


SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
Tese que deverá ser apresentada ao Curso de
Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente,
associação ampla em Rede, Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Doutor.

Orientadora: Profa. Dra. Eliane Marinho-Soriano


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB

Cantinho, Klégea Maria Câncio Ramos.


Caracterização e avaliação da qualidade ambiental do estuário
Ponta do Tubarão (RN) com base na água, sedimento e macroalgas
marinhas / Klégea Maria Câncio Ramos. - Natal, 2017.
93 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientadora: Profa. Dra. Eliane Marinho-Soriano.

1. Qualidade ambiental - Tese. 2. Macroalgas - Tese. 3.


Metais pesados - Tese. I. Marinho-Soriano, Eliane. II.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 502/504

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351


KLÉGEA MARIA CÂNCIO RAMOS CANTINHO

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, associação


ampla em Rede, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Doutor.

Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________
Profa. Dra. Eliane Marinho-Soriano
Orientadora – PRODEMA/DDMA-UFRN

______________________________________________
Prof. Dr. André Luis Calado Araújo
IFRN

_______________________________________________
Profa. Dra. Marcella Araújo do Amaral Carneiro
UNIFACEX

______________________________________________

Profa. Dra. Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo


PRODEMA/DDMA-UFRN

_______________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Ricardo de Oliveira
Plano Ambiental Planejamento e Estudos Ambientais LTDA
APRESENTAÇÃO

A Tese tem como título “CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE


AMBIENTAL DO ESTUÁRIO PONTA DO TUBARÃO (RN) COM BASE NA ÁGUA,
SEDIMENTO E MACROALGAS MARINHAS” e, conforme padronização aprovada pelo
colegiado do DDMA local, se encontra composta por uma introdução geral, com embasamento
teórico e revisão bibliográfica do conjunto da temática abordada, incluindo a identificação do
problema da Tese, uma caracterização geral da área de estudo, metodologia geral empregada
para o conjunto da obra e três capítulos que correspondem à artigos científicos; o capítulo um
foi publicado. Todos os capítulos/artigos estão no formato do periódico ao qual está
aceito/publicado/submetido; os endereços dos sites onde constam as normas dos periódicos
estão destacados em cada capítulo/artigo.
AGRADECIMENTOS

À Deus por me conceder a graça da realização deste trabalho.


À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
concessão da bolsa de estudo.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, por todo o apoio e proficiência e em especial, à Professora
Eliza Maria Xavier Freire e ao Colegiado por me apoiarem e entenderem as dificuldades
pessoais e de saúde que passei no decorrer do doutorado, minha gratidão eterna.
Aos Secretários David e Érica, por estarem sempre a postos para ajudar.
À minha orientadora, Dra. Eliane Marinho-Soriano, por sua inefável perseverança,
confiança em minha capacidade e por sua incomensurável qualidade profissional.
À todos os colegas do curso de Pós-graduação e aos amigos dos Laboratórios de
Macroalgas, pela amizade, carinho e atenção.
Em especial à minha família, que me apoiou durante o doutorado. Ao meu Pai e minha
Mãe, pela cumplicidade. Aos meus queridos irmãos, pelo incentivo. E ao meu grande amor,
companheiro e marido, João Cantinho, pelo otimismo e muita paciência.
Aos grandes amigos que fiz durante essa jornada, meus parceiros do dia-a-dia, Felipe,
Gabriela e Sérgio, onde se fazia da diversidade a maior expressão de igualdade.
À todos, muito obrigada!
RESUMO

Estuários e zonas costeiras são sistemas dinâmicos de grande importância ambiental,


econômica e social. Em todo o mundo estas áreas estão se tornando cada vez mais impactadas,
devido às atividades antropogênicas causado pelo rápido crescimento econômico e urbanização.
A presente pesquisa foi realizada no estuário Ponta do Tubarão, localizado no litoral norte do
Rio Grande do Norte, Brasil. A área do estuário faz parte da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Ponta do Tubarão (RDSEPT). No entorno dessa Unidade de Conservação são
desenvolvidas diversas atividades econômicas tais como, pesca, agricultura, aquicultura,
indústria salineira e petrolífera, além do turismo ecológico. Considerando a importância
ecológica, econômica e social desse ecossistema, um estudo foi realizado com o objetivo de
caracterizar e avaliar a qualidade ambiental do estuário Ponta do Tubarão através da análise dos
nutrientes (N e P) e metais pesados contidos na água, sedimento e macroalgas marinhas
(Gracilariopsis e Hypnea). A pesquisa realizada com tal propósito apresenta-se composta por
três capítulos: (1) no primeiro capítulo a dinâmica de nutrientes foi investigada para
compreensão dos processos biogeoquímicos e para identificar possíveis impactos
antropogênicos nesse ecossistema tropical; (2) o segundo capítulo da tese, analisa e aponta quais
os compartimentos (água, sedimento e macroalgas) que detêm a maior concentração de metais
pesados e finalmente o terceiro capítulo (3) o qual discorre sobre a percepção ambiental dos
extrativistas da RDSEPT e que tem como objetivo mensurar o entendimento da população sobre
as questões ambientais da reserva. Os resultados obtidos nos diferentes capítulos fornecem
informações importantes sobre a saúde ambiental do estuário Ponta do Tubarão e podem
auxiliar na gestão da reserva.

Palavras chaves: Qualidade ambiental, Estuário, Nutrientes, Metais pesados, Macroalgas,


percepção ambiental.
ABSTRACT

Estuaries and coastal zones are dynamic systems of great environmental, economic and social
importance. All over the world these areas are becoming increasingly impacted because of the
anthropogenic activities caused by rapid economic growth and urbanization. This research was
carried out in the Tubarão estuary, which is located in the northern coast of Rio Grande do
Norte, Brazil. The estuary area is part of the Ponta do Tubarão Sustainable Development
Reserve (RDSEPT). In the surroundings of this conservation unit, several economic activities
are developed, such as fishing, agriculture, aquaculture, saline and oil industry, besides
ecological tourism. Considering the ecological, economic and social importance of this
ecosystem, a study was run to characterize and evaluate the environmental quality of the
Tubarão estuary through analysis of nutrients (N and P) and heavy metals in water, sediment
and seaweeds (Gracilariopsis and Hypnea). The research carried out for this purpose is
composed of three chapters: (1) in the first chapter the dynamic of nutrients was investigated to
understand the biogeochemical processes and to identify possible anthropogenic impacts in this
tropical ecosystem; (2) the second chapter of the thesis analyzes and points out which
compartments (water, sediment and seaweeds) that hold the largest concentration of heavy
metals and finally the third chapter (3) which examines the RDSEPT extractivists’
environmental perception and aims to measure the population's understanding of reserve
environmental issues. The results obtained in the different chapters provide important
information on the state of environment of the Tubarão estuary and may contribute to the
reserve management.

Key words: Environmental quality, Estuary, Nutrients, Heavy metals, Seaweeds,


Environmental perception.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Caracterização geoambiental e uso do solo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável


Estadual Ponta do Tubarão, RN – Brasil. ........................................................................................... 19
Figura 2. Localização das estações de coleta no estuário Ponta do Tubarão (Diogo Lopes, RN), Brasil.
........................................................................................................................................................... 22
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................... 27
Figura 1. Local de estudo e localização das estações de coletas (Diogo Lopes, RN). ........................ 32
Figura 2. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de NH4+ (A), NO2- (B), NO3-
(C) e NID (D) na coluna de água entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas.
........................................................................................................................................................... 36
Figura 3. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de PO4-3 na coluna de água
entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. ............................................ 36
Figura 4. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de nitrogênio no sedimento
entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. ............................................ 37
Figura 5. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de fósforo no sedimento
entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. ............................................ 38
Figura 6. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de nitrogênio nos tecidos
das macroalgas Hypnea musciformis e Gracilariopsis tenuifrons entre as estações. Letras maiúsculas
e minúsculas indicam diferenças significativas. ................................................................................ 39
Figura 7. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de fósforo nos tecidos das
macroalgas Hypnea musciformis e Gracilariopsis tenuifrons entre as estações. Diferentes Letras
maiúsculas e minúsculas indicam diferenças significativas............................................................... 39
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................... 51
Figura 1. Mapa de localização da área de estudo e das estações de coleta no estuário Ponta do
Tubarão, RN. ...................................................................................................................................... 55
Figura 2. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais pesados Cd
(cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) na coluna de água entre as
estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. .......................................................... 58
Figura 3. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais pesados Cd
(cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) no sedimento entre as
estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. .......................................................... 60
Figura 4. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais pesados Cd
(cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) no tecido da macroalga Hypnea
musciformis entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. ........................ 62
Figura 5. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais pesados Cd
(cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) no tecido algal de Gracilariopsis
tenuifrons entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas. ........................... 63
LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................ 27
Tabela 1. Características físico-químicas da água do estuário do Rio Tubarão, Macau, Rio Grande do
Norte. ................................................................................................................................................. 35
Tabela 2. Variação dos valores médios ± desvio padrão (mínimo–máximo) da razão N:P entre as
estações na coluna de água, no sedimento e nos tecidos das macroalgas H. musciformis e Gr.
tenuifrons. .......................................................................................................................................... 40
Tabela 3. Coeficientes de correlação linear de Pearson entre os parâmetros ecológicos, sedimento e
porcentagens de N e P nas algas Gracilariopsis tenuifrons e Hypnea musciformis. ......................... 41
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................ 51
Tabela 1. Características físico-químicas da água do estuário do Rio Tubarão, Macau, Rio Grande do
Norte. ................................................................................................................................................. 57
Tabela 2. Valores das concentrações médias (mg/L) dos metais pesados na coluna de água do estuário
Ponta do Tubarão e valores limites para o CONAMA e a USEPA. .................................................. 59
Tabela 5. Concentração média (mg/kg) de metais pesados registrados no sedimento do estuário Ponta
do Tubarão comparada a estudos realizados no Brasil e em outras partes do mundo. ...................... 65
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................ 73
Tabela 1. Perfil dos entrevistados em percentual e números absolutos. Macau, RN (2012) ............. 76
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL ....................................................................................................... 13


2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ....................................................... 18
2.1 Aspectos físicos e ambientais ............................................................................................. 18
2.2 Aspectos econômicos e impactos ambientais ..................................................................... 21
2.3 Localização das estações de coleta .................................................................................... 21
3. METODOLOGIA GERAL .................................................................................................... 24
3.1 Procedimentos em campo ................................................................................................... 24
3.1.1 Coleta de material e análises .......................................................................................... 24
3.2 Dados da percepção ambiental .......................................................................................... 25
3.3 Análises estatísticas ............................................................................................................ 25
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................ 27
Resumo ..................................................................................................................................... 27
Abstract..................................................................................................................................... 28
Introdução ................................................................................................................................ 29
Metodologia .............................................................................................................................. 31
Área de Estudo................................................................................................................................... 31
Estações selecionadas ........................................................................................................................ 32
Procedimentos em campo e em laboratório ....................................................................................... 32
Análises estatísticas ........................................................................................................................... 33
Resultados................................................................................................................................. 34
Variáveis ambientais.......................................................................................................................... 34
Nutrientes dissolvidos na água .......................................................................................................... 35
Teor de nutrientes no sedimento ........................................................................................................ 37
Nutrientes nos tecidos algais ............................................................................................................. 38
Razão N:P .......................................................................................................................................... 39
Análise de Correlação ........................................................................................................................ 40
Discussão .................................................................................................................................. 42
Conclusão ................................................................................................................................. 45
Referências ............................................................................................................................... 46
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................ 51
Resumo ..................................................................................................................................... 51
Abstract..................................................................................................................................... 52
Introdução ................................................................................................................................ 53
Metodologia .............................................................................................................................. 54
Área de estudo ................................................................................................................................... 54
Estações de Coleta ............................................................................................................................. 55
Procedimentos em campo e em laboratório ....................................................................................... 56
Análises dos metais pesados .............................................................................................................. 56
Análises estatísticas ........................................................................................................................... 57
Resultados................................................................................................................................. 57
Parâmetros ambientais ....................................................................................................................... 57
Metais pesados dissolvidos na água .................................................................................................. 58
Metais pesados do sedimento ............................................................................................................ 59
Metais pesados nos tecidos das algas ................................................................................................ 61
Análise de correlação......................................................................................................................... 63
Discussão .................................................................................................................................. 64
Conclusão ................................................................................................................................. 67
Referências ............................................................................................................................... 68
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................ 73
RESUMO .................................................................................................................................. 73
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 73
2. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 74
2.2 Coleta de dados............................................................................................................................ 75
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 75
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 79
5. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO ..................................................................................... 80
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 85
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 88
ANEXO ..................................................................................................................................... 93
13

1. INTRODUÇÃO GERAL

Desde o início das primeiras civilizações, o homem vem despejando resíduos no


ambiente aquático. Nas últimas décadas, o aumento do crescimento populacional e
desenvolvimento industrial têm causado sérios danos nos ecossistemas aquáticos e à vida de
modo geral (GRANZIERA; GONÇALVES, 2012).

Compostos químicos sintéticos ou a quantidade excessiva de substâncias naturais


podem afetar negativamente as águas marinhas e estuarinas, assim como também seus
habitantes. Quando introduzidas de forma inadequada no ambiente, as substâncias químicas
podem ser potencializadas e poluir os ecossistemas aquáticos, além de causar danos a biota
(GOEL, 2006; RABALAIS et al., 2009). Alguns poluentes, tais como derramamentos de óleo,
são facilmente detectados no momento em que eles entram na água. Outros, como por exemplo,
produtos químicos tóxicos, são menos óbvios, e sua presença pode permanecer indetectável até
causarem danos visíveis (KENNISH, 1997). O efeito da poluição pode ser de caráter local,
regional ou global, mas o seu impacto vai depender do tipo e quantidade de contaminação, o
período de exposição e sobre as características do fluxo da água.

Áreas costeiras de todo o mundo possuem locais particularmente sensíveis e frágeis


do ponto de vista ambiental, como os estuários, manguezais e orla marítima. No Brasil, a zona
costeira está em um processo acelerado de expansão, destacando-se o turismo, a aquicultura,
parques eólicos, exploração petrolífera. A expansão dessas atividades industriais tem atraído
milhões de pessoas para os centros urbanos, desencadeando diversos problemas ambientais,
como por exemplo, desmatamento, ocupação de áreas de preservação ambiental, perda da
biodiversidade, produção de resíduos sólidos e esgotos, entre outros (MMA, 2016).

Os estuários são regiões importantes no transporte e transformação de materiais de


fontes terrestres e atividades antropogênicas. Por ser um ambiente altamente dinâmico, os
estuários estão sujeitos a uma grande variação nas características físicas, químicas e biológicas.
Esta variabilidade conduz a reações complexas e mudanças de fases dos compostos presentes
na água (MERRIFIELD et al., 2011). O dinamismo e a complexidade dos estuários induz a
formação de diferentes tipos de habitats que estão fisicamente, quimicamente e biologicamente
interligados. Esta variabilidade é também refletida na estrutura das populações residentes e/ou
transitórias e determina as flutuações na composição das comunidades ecológicas e a variação
espaço-temporal das espécies (LITTLE, 2000).
14

Os nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, são os principais indicadores da


qualidade da água nos estuários. Esses compostos entram nas águas estuarinas através de
processos naturais (precipitação, intemperismo e erosão do solo, decomposição da matéria
orgânica) e atividades antropogênicas. A entrada de fontes antrópicas, inclui as estações de
tratamento, fossas sépticas, esgotos domésticos, efluentes industriais, escoamento de
fertilizantes de áreas agrícolas e aquicultura (YANG et al., 2012). O excesso de nitrogênio e
fósforo atua como um poluente na água e contribui para o processo de eutrofização. Este
fenômeno favorece florações algais que impede a penetração da luz nas camadas inferiores e
reduz a disponibilidade de oxigênio para outros organismos (WANG et al., 2010). Este
fenômeno pode levar a hipóxia, perda da biodiversidade e uma maior ocorrência de algas
nocivas.

Alterações nas características químicas e qualidade da água ocorrem como resultado


dos fluxos biogeoquímicos (MACKENZIE, 1999). Dependendo de sua forma química, o
nitrogênio e fósforo podem ocasionar impactos diretos ou indiretos no crescimento das algas,
concentração de oxigênio, transparência da água e taxa de sedimentação. Nos estuários, o
nitrogênio existe sob a forma inorgânica (NO3, NO2 e NH4), e como forma orgânica dissolvida
e material particulado (organismos vivos e mortos). O processo de remoção envolve a deposição
e acumulação no sedimento em formas orgânicas e inorgânicas, absorção pelo fitoplâncton e
exportação para o oceano aberto. Além disso, o nitrogênio é perdido para a atmosfera por
desnitrificação e emissão de outras formas gasosas de nitrogênio (MACKENZIE et al., 2002).

O fósforo é também encontrado na forma orgânica (fosfato orgânico) e inorgânica


(fosforo inorgânico dissolvido). No entanto, dentre as formas de fósforo, o ortofosfato (PO4),
assume maior relevância por ser a forma predominantemente assimilada pelos vegetais
aquáticos. O fosfato orgânico resulta dos vegetais e resíduos animais, enquanto o ortofosfato
vem predominantemente dos fertilizantes. Uma grande parcela do fósforo que transita na
coluna da água é depositada no sedimento principalmente na forma particulada (STATHAM,
2012).

O sedimento é considerado um importante compartimento de estocagem de nutrientes


e funciona como principal fonte de nutrientes para a coluna d’água. A relevância dos
sedimentos como fonte ou estocagem de fósforo nos estuários está relacionada ao estado redox
e composição geoquímica dos sedimentos. Essa capacidade que o sedimento tem de reter o
fósforo pode contribuir para reduzir algumas alterações químicas e ecológicas, beneficiando o
ambiente aquático através da prevenção da rápida liberação do fósforo para a coluna da água
15

(WANG; LI, 2010). Além disso, o compartimento sedimentar pode fornecer registros dos
processos históricos ocorrentes no ambiente aquático.

Além dos problemas causados pelo excesso de nutrientes, os ecossistemas aquáticos


vêm sendo também poluídos por uma variedade de contaminantes provenientes de atividades
antrópicas. O crescente aumento das atividades industriais, agrícolas e urbanização tem
intensificado o risco de poluição por metais pesados (ZHAO et al., 2017). A presença desses
elementos pode causar efeitos adversos ao meio ambiente, à saúde humana e a economia (LI et
al., 2017). Efluentes domésticos, industriais e substâncias químicas usadas na agricultura são
algumas das fontes de metais pesados para o sistema aquático (IKEM et al., 2003).

O grau de contaminação e toxicidade na água depende do tipo de metal pesado, da


magnitude do impacto, da frequência (ocasional, continua ou intermitente) e da duração no
tempo (horas, meses e anos). Uma vez no ambiente aquático os metais podem se apresentar
associados à matéria em suspensão (biótico e abiótico) e, portanto, acumular no sedimento
através da sedimentação das partículas (SPARKS, 2005). Embora os metais se concentrem
principalmente no compartimento sedimentar, eles podem ser eventualmente remobilizados
para a coluna d’água dependendo das condições ambientais, como por exemplo,
hidrodinamismo, salinidade, pH, potencial redox e agentes quelantes (CONNELL et al., 1984;
PINTILIE et al., 2007; ZHANG et al., 2017).

O diagnóstico de áreas contaminadas por metais pesados, em geral, envolve a análise


de água e sedimentos. No entanto, o compartimento sedimentar é reconhecido como o maior
repositório de poluentes nos ecossistemas aquáticos, mesmo quando as concentrações são
baixas ou inexpressivas. Esta capacidade de armazenamento possibilita uma avaliação mais
confiável da variabilidade espacial e temporal da contaminação de uma determinada área,
fornece um registro histórico ao longo do tempo e desempenha um papel importante na
identificação das fontes poluidoras (SILVA et al., 2009).

Em elevadas concentrações no meio aquático, os metais pesados demonstram alto


poder acumulativo na biota. Nos seres vivos, essa bioacumulação tende a aumentar à medida
que passa para um nível trófico mais elevado na cadeia alimentar. A persistência desses
elementos no ecossistema e sua bioacumulação nos organismos faz com que eles se apresentem
como um perigo substancial para a saúde humana (WAGNER, 1993; LI et al., 2015).
Considerando que os organismos aquáticos acumulam contaminantes do meio ambiente, várias
espécies têm sido usadas em programas de monitoramento de poluição marinha em diversas
16

partes do mundo (PHILLIPS; RAINBOW, 1994; ONSANIT et al., 2010). Dentre esses
organismos se destacam as macroalgas, foco de vários estudos sobre contaminação de metais.

As macroalgas são amplamente distribuídas no ambiente aquático, são sedentárias,


fáceis de coletar e acumulam metais em níveis muitas vezes superiores a concentração
encontrada na coluna da água (MALEA, 1999). A capacidade das macroalgas em acumular
metais pesados depende de vários fatores tais como exposição às ondas, temperatura,
salinidade, disponibilidade de luz, pH, disponibilidade de nitrogênio, idade da planta, processos
metabólicos e a afinidade da planta para cada elemento, entre outros (MALEA, 1994; MALEA;
HARITONIDIS, 1999; BENFARES et al., 2015). Devido esta capacidade em estocar metais,
as macroalgas são consideradas excelentes bioindicadoras de metais pesados (KHALED et al.,
2014). Além disso, a utilização de espécies algais como biomonitoras proporciona uma boa
estimativa da disponibilidade de metais pesados na biomassa de diferentes áreas (RYAN et al.,
2012; CHAKRABORTY; OWENS, 2014).

O crescente aporte de poluentes de diversas naturezas, em particular nas regiões


estuarinas que sofrem com o impacto de atividades agrícolas, industriais e urbanas, tem gerado
sérias preocupações a nível global (WOLANSKI; ELLIOTT, 2015). Os diferentes tipos de
poluição causados pelo excesso de nutrientes, metais pesados e resíduos sólidos, não só degrada
a qualidade da água, mas também ameaça a saúde do homem e dos animais (DONG et al.,
2011). As populações mais afetadas são aquelas que vivem próximo aos locais de despejo,
devido principalmente ao potencial tóxico dos resíduos que poluem a água, as fontes de
alimentos, a terra, o ar e a vegetação (OBAFEMI, 2004).

Uma das principais consequências dos impactos promovidos pela ação antrópica é a
transformação e destruição dos ambientes naturais (MORSELLO, 2001). No entanto, para que
sejam realizadas ações de proteção ambiental é fundamental identificar a percepção dos
residentes locais sobre o meio ambiente. O conhecimento das necessidades, expectativas,
satisfações e condutas de uma determinada população permite compreender, como os diferentes
grupos sociais interagem com a natureza. Além disso, conhecer a percepção dos indivíduos
sobre a importância dos ecossistemas, pode propiciar um direcionamento das atividades
educativas (PEREIRA et al., 2006), além de servir como instrumento de apoio na gestão e
formulação de políticas públicas ambientais (RODRIGUES et al., 2012).

Na costa do Rio Grande do Norte, estudos revelam que as zonas costeiras estão sob
crescente pressão de poluição industrial e urbanização (RAMOS E SILVA et al., 2010). Essas
pressões representam uma ameaça potencial para o ambiente aquático, para a economia e o
17

bem-estar humano. No litoral setentrional do Rio Grande do Norte encontra-se o estuário Ponta
do Tubarão. Este estuário faz parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do
Tubarão (RDSEPT). A RDSEPT foi a primeira Unidade de Conservação criada em 2003 no
Estado, por reinvindicação da sociedade civil organizada que vive nessa área. Essa solicitação
da comunidade tinha como objetivo proteger os recursos naturais da área, garantir o uso e
espaço e dos recursos naturais e assegurar as atividades tradicionais da população residente na
reserva (IDEMA, 2017).

Apresentando uma grande diversidade de ecossistemas, a RDSEPT é caracterizada


pelo sistema estuarino Ponta do Tubarão, manguezais, restingas, dunas e caatinga. Esta
diversidade de ecossistemas conta também com uma grande variedade de espécies pertencentes
a fauna e flora (DIAS et al., 2007). No entanto, a área da reserva e seu entorno vem sofrendo
ações antrópicas que causam impactos negativos ao ambiente. Os principais impactos no
estuário Ponta do Tubarão estão diretamente relacionados ao despejo de esgotos domésticos,
acumulo de lixo, destruição dos mangues, despejo de vísceras de peixes no estuário, pesca
predatória (DIAS et al., 2007), além de atividades industriais (aquicultura, petrolífera,
salineira).

Dentro desse contexto, um estudo foi elaborado com o objetivo de caracterizar e


avaliar a qualidade ambiental do estuário Ponta do Tubarão através da análise dos nutrientes e
metais pesados nos três compartimentos, água, sedimento e macroalgas marinhas
(Gracilariopsis tenuifrons e Hypnea musciformis). Além disso, um estudo sobre a percepção
ambiental dos extrativistas da reserva foi realizado com o intuito de avaliar, o entendimento da
população sobre as questões ambientais da reserva.
18

2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual


Ponta do Tubarão - RDSEPT, entre os municípios de Macau e Guamaré, na porção setentrional
do estado do Rio Grande do Norte (5º04’ 34,87”S – 36º27’32,36” W). A unidade de
conservação abriga três comunidades pesqueiras do município de Macau (Diogo Lopes,
Barreiras e Sertãozinho) e três comunidades agrícolas do município de Guamaré (Mangue Seco
I, Mangue Seco II e Lagoa Doce). A reserva foi criada como resultado de reivindicações da
população local contra processos destrutivos do ambiente, em particular empreendimentos
turísticos e de carcinicultura. De acordo com Lei Estadual de nº 8.341/03, o principal objetivo
da reserva é resguardar o modo de vida tradicional, assegurar as atividades baseadas em sistema
sustentável de exploração de recursos naturais e manter a diversidade biológica local (RIO
GRANDE DO NORTE, 2003; IDEMA 2015).

2.1 Aspectos físicos e ambientais

O clima da região é o semiárido e apresenta altas temperaturas, forte insolação, baixa


precipitação, elevada evaporação e fortes ventos presentes na maior parte do ano. Nessa região,
não se observa estações climáticas bem definidas, sendo reconhecidos dois períodos
característicos: um período seco, mais longo que se estende de junho a fevereiro e o período
chuvoso, mais curto estendendo-se de março a maio (IDEMA, 2015).
A RDSEPT ocupa uma área costeira com cerca de 12.946 ha e devido sua localização
tropical apresenta alta diversidade geoambiental que incluem: vegetação de caatinga e mangues,
dunas fixas e móveis, planícies de maré; alagados influenciados por maré, e o braço de mar,
denominado de estuário Ponta do Tubarão (Figura 1).
19

Figura 1. Caracterização geoambiental e uso do solo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do
Tubarão, RN – Brasil.
20

A vegetação de caatinga hiperxerófila é constituída essencialmente por espécies de


árvores e arbustos espinhosos que pode alcançar de 3 a 5 metros de altura. Espécies
características desse tipo de bioma, como o xique-xique e mandacaru também se encontram
presentes. A área de dunas é bastante vasta e tem como principal papel proteger os lençóis
freáticos subterrâneos, além de funcionar como local de lazer e subsistência para a comunidade
local (MAMERE, 2011). A vegetação das dunas fixas é halófila, constituída por espécies
herbáceas e rasteiras que apresentam tolerância aos solos com altas concentrações de sais. A
área alagada que é influenciada por inundações de marés, apresenta alto teor salino e é
desprovida de vegetação. A vegetação de mangue coloniza as margens do estuário e
desempenha importante papel na produção de matéria orgânica para o estuário e para águas
costeiras adjacentes. Esse ecossistema Manguezal, localizado na área de estuário do Tubarão
constitui uma zona de transição entre a caatinga e os campos de dunas (DANTAS, 2011).
A formação estuarina ocupa aproximadamente 2.500 ha e possui aproximadamente 12
km de extensão. Este sistema é formado por ilhas barreiras que se encontram paralelas à costa,
pontais, ambiente marinho, ambiente lagunar (braço de mar) e os canais de maré (1 a 7 metros
de profundidade), que permite a circulação da água direcionada pelas marés (VITAL et al.
2008). Estes canais circundam bancos areno-lodosos que ficam parcialmente expostos na maré
baixa (IDEMA, 2015).
De modo geral, o braço de mar apresenta-se como um estuário, porém, não possui
nascentes de água doce. Toda a água doce que alimenta o manguezal situado em suas margens
provém do lençol freático das dunas adjacentes e das chuvas. A salinidade é bastante elevada
(35 a 50 PSU), com valores que tendem a aumentar na porção mais interior e diminuir à medida
que aumenta a proximidade com o mar, o que o caracteriza como um estuário inverso (RAMOS
e SILVA et al., 2010).
Nas margens do estuário Ponta do Tubarão a vegetação de mangue composta
predominantemente por Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana
é encontrada predominantemente nas áreas lamosas e areno-lamosas das faixas de planície de
maré e flúvio-estuarina. Além dessas, outras espécies de mangues também são citadas para essa
região – a Avicennia germinans e Conocarpus erectus. Não existe um modelo claro de zonação
para a distribuição das diferentes espécies ao longo do estuário, sendo bastante comum três ou
mais espécies co-habitarem lado a lado. Este manguezal se encontra ainda bastante preservado,
embora atividades econômicas potencialmente impactantes estejam estabelecidas nas
proximidades da Reserva, como por exemplo, a produção de sal marinho, a carcinicultura e
exploração petrolífera (Figura 1).
21

2.2 Aspectos econômicos e impactos ambientais

A RDSEPT foi estabelecida em uma área de importância econômica para o Estado do


Rio Grande do Norte, que são as zonas salineiras e petrolíferas (DIAS; SALLES, 2006). Esta
Reserva abriga uma população de pescadores artesanais e pequenos agricultores. No estuário a
população desenvolve atividades de subsistência como a pesca artesanal e a coleta de mariscos,
sendo essas, muitas vezes, as principais fontes de renda para a população economicamente ativa
do local (DIAS et al., 2007). No interior da Reserva não existe empreendimentos de aquicultura,
salinas nem poços de petróleo em atividade. No entanto, nas áreas adjacentes estas atividades
econômicas são bastante representativas e apesar de sua importância econômica, são atividades
que podem ocasionar impactos negativos ao meio ambiente.
A população que habita a área da RDSEPT tem na pesca sua principal fonte de renda.
Essa atividade é realizada tanto no estuário, como na porção marinha (DIAS, 2007), porém, a
pesca estuarina representa a maior fonte de subsistência da população. A coleta de mariscos nos
manguezais é a segunda atividade que apresenta importância na renda familiar. No entanto,
essas atividades não competem entre si, ao contrário, se complementam, pois não ocorre disputa
em relação a locais para o extrativismo destes organismos (IDEMA, 2008).
Apesar de ser considerada uma área protegida, problemas relacionados à qualidade
ambiental têm sido identificados na área da Reserva. Os principais são: avanço do mar,
assoreamento do manguezal por deposição natural de areia, destruição da vegetação nativa,
acumulo de lixo doméstico no leito e margens do estuário; despejo de esgotos; pesca predatória
e descarte de vísceras de pescado dentro do estuário (Dias, et al. 2007).

2.3 Localização das estações de coleta

Para esse estudo foram definidas seis estações de coleta abrangendo toda a extensão
do estuário Ponta do Tubarão. Em cada estação, pontos de coleta foram georrefenciados com o
auxílio de um aparelho de GPS (Global Position System). A localização e distribuição desses
pontos obedeceram aos seguintes critérios: geomorfologia do local, dinâmica das marés e
presença/ausência de sítios urbanos. Das seis estações selecionadas, cinco foram posicionadas
no próprio estuário Ponta do Tubarão e outra na área estritamente marinha (Quadro 1).
22

Quadro 1. Localização dos pontos de coleta (coordenadas) no estuário Ponta do Tubarão (Diogo
Lopes, RN), Brasil.
Estações Localização (latitude/longitude)
E1 5°4’58,01’’S – 36°24’58”,82 W
E2 5°4’44,4’’S – 36°26’32”,03 W
E3 5°4’27,54’’S – 36°28’4,45” W
E4 5°4’6,91”S – 36°27’50,56”W
E5 5°3’57,89”S – 36°30’44,45” W
E6 5°3’51,14’’S – 36°30’40,00” W

A distribuição das estações foi demarcada de modo a se obter uma


representatividade do sistema estuarino em relação à concentração dos nutrientes
e metais pesados na água, sedimento e macroalgas marinhas (Figura 2).

Figura 2. Localização das estações de coleta no estuário Ponta do Tubarão (Diogo


Lopes, RN), Brasil.

A estação um (E1) ficou posicionada em área estritamente marinha. A estação 2


(E2) localizada na foz do estuário apresenta característica fortemente marinha. A estação três
(E3) ficou situada na entrada de um canal de ligação esporádica com o mar. A estação quatro
(E4) foi posicionada num local com forte influência urbana e local de um pequeno porto para
ancoragem de barcos de pesca. Neste ponto foi observada a presença de resíduos sólidos além
23

de resíduos de processamento de pescado. A estação cinco (E5), ficou situada na entrada de


uma gamboa com predomínio de mangue e a estação seis (E6) na parte mais interior do estuário.
A E6 apresenta valores altos de salinidade e vegetação de mangue circundando as margens do
estuário.
24

3. METODOLOGIA GERAL

3.1 Procedimentos em campo

As coletas foram realizadas no período seco (janeiro 2013) em seis estações predefinidas
ao longo do estuário Ponta do Tubarão (Figura 2). Os pontos de amostragem obedeceram a um
gradiente crescente de salinidade, do mar até a porção interior do estuário.

3.1.1 Coleta de material e análises

Nas diferentes estações (E1 a E6), os parâmetros ambientais temperatura, salinidade,


pH e oxigênio dissolvido foram determinados in situ por uma sonda multiparâmetros (Hanna,
modelo HI-9828). Para os nutrientes (NO3, NO2, NH4 e PO4), amostras de água foram coletadas
e armazenadas em frascos de polientileno de 500 ml, previamente esterilizados e devidamente
etiquetados. Após o procedimento da coleta, as amostras foram imediatamente acondicionadas
em caixas isotérmicas, e em seguida transportadas para o laboratório. No laboratório as
amostras foram filtradas (Whatman GF/C), e depois congeladas para posterior análise dos
nutrientes (GRASSHOFF et al., 1993). As leituras foram realizadas em espectrofotômetro de
duplo feixe Shimadzu UV-1800. Todas as análises foram realizadas em triplicatas.
Amostras de sedimento foram coletadas nos mesmos pontos de coleta da água. Em cada
ponto foram coletados três testemunhos com auxílio de um cano de PVC medindo 10 cm de
diâmetro por 20 cm de comprimento. Posteriormente as amostras foram colocadas em sacos
plásticos, etiquetados e armazenados em caixas isotérmicas. No laboratório as amostras foram
liofilizadas (Liobras modelo L202), sendo em seguida peneiradas (malha de 1 mm) para a
separação do material grosseiro (folhas, conchas, etc.). O sedimento foi triturado em gral de
porcelana e acondicionado em dissecador para posterior análise. O nitrogênio e fósforo total
biodisponíveis foram analisados de acordo com a EMBRAPA SOLOS (1997).
As macroalgas (Hypnea musciformes e Gracilariopsis tenuiforns) utilizadas no estudo
foram selecionadas de acordo com sua presença nos pontos de amostragem. Para o estudo,
foram coletadas aproximadamente 200g das duas espécies em cada ponto de coleta. O material
foi armazenado em sacos plásticos, identificados e acondicionados em caixas isotérmicas para
o transporte até o laboratório. No laboratório as algas foram liofilizadas (LIOTOP L108),
trituradas manualmente no almofariz de porcelana, acondicionadas em sacos plásticos e
mantidas sobre refrigeração (-80°C). Para a análise dos nutrientes (N e P) presentes nos tecidos
algais, foi utilizada metodologia descrita em MIYAZAWA et al. (1999).
25

Para as análises dos metais pesados (água, sedimento e macroalgas), foi utilizado o
método de abertura de amostras 3050B e para digestão a 3051, ambos da Agência de Proteção
Ambiental Americana – EPA (Enviromental Protection Agency) (USEPA, 2017). Os elementos
traços, chumbo (Pb), níquel (Ni), zinco (Zn), cobre (Cu), cádmio (Cd) e crómio (Cr) das
amostras, foram lidos pela técnica da espectrometria de absorção atômica com chama (F-AAS)
pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN). Para o
nitrogênio, o peso seco foi de 100 mg e para o fósforo 20 mg.

3.2 Dados da percepção ambiental


Os dados foram coletados através de entrevistas, utilizando questionários
semiestruturados na zona litorânea da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta
do Tubarão, envolvendo as comunidades pesqueiras de Barreiras, Sertãozinho e Diogo Lopes.
As questões abordavam aspectos social, econômico, e o ambiental que se daria através do
entendimento da população quanto a importância ambiental da reserva. Foram aplicados 72
questionários, o cálculo do número amostral foi baseado na populacional total de pescadores e
marisqueiras, com o erro amostral de 0,1%, seguindo a seguinte fórmula (ARANGO, 2009).

Na qual:
n - amostra calculada
N - população
Z - variável normal padronizada associada ao nível de significância
p - verdadeira probabilidade do evento
e - erro amostral
O tratamento dos dados se deu a partir da interpretação dos questionários, analisando
e caracterizando a percepção através da familiaridade com o tema meio ambiente e a concepção
de degradação do meio (WHYTE, 1978; BARDIN, 2009).

3.3 Análises estatísticas

Para análise dos resultados foi empregada análise descritiva dos dados baseada na
média e desvio padrão das triplicatas amostrais nos diferentes pontos de coleta. Para testar a
normalidade e a homocedasticidade dos dados, o Teste de Shapiro-Wilk e Levene foi aplicado.
26

Para verificar se houve diferenças significativas entre as concentrações de nutrientes e metais


pesados entre os pontos de amostragem, foi aplicado ANOVA one-way, para os dados que
apresentaram normalidade e homocedasticidade, e teste de Kruskal-Wallis para os que não
apresentam distribuição normal. O teste post hoc utilizados foram o Teste de Tukey
(paramétrico) e de Bonferroni (não-paramétrico). Foi feito ainda análise de correlação entre as
concentrações dos nutrientes e metais pesados, em seus respectivos capítulos.
Assim, para os testes estatísticos foram fixados α ≤ 0,05 o nível para rejeição de
nulidade entre as comparações. Os dados foram organizados em planilha do software Microsoft
Office Excel 367, e posteriormente submetidos à análise estatística através do software Action
(EQUIPE ESTATCAMP, 2017).
27

CAPÍTULO 1

Variação espacial dos nutrientes na água, sedimento e macroalgas em um estuário


tropical no Nordeste do Brasil

Klégea Maria Câncio Ramos Cantinhoa; Eliane Marinho-Sorianoa

ESTE ARTIGO SERÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO ENVIRONMENTAL


MONITORING AND ASSESSMENT, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE
ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA
(HTTP://WWW.SPRINGER.COM/ENVIRONMENT/MONITORING+-
+ENVIRONMENTAL+ANALYSIS/JOURNAL/10661)
a
Department of Oceanography and Limnology, Federal University of Rio Grande do Norte,
Natal, Brazil. E-mail: [email protected] – Tel.: (84)3342-4950.

Resumo
O estuário Ponta do Tubarão está situado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta
do Tubarão (RDSPT), nordeste do Brasil. Na região onde se encontra a reserva são
desenvolvidas diversas atividades econômicas como pesca, agricultura, aquicultura, extração
de petróleo e turismo ecológico. Esse estudo teve como objetivo investigar a variação dos
nutrientes na coluna da água, sedimento e tecidos das macroalgas Gracilariopsis tenuifrons e
Hypnea musciformis para identificar possíveis impactos antropogênicos nesse ecossistema
tropical. O material para o estudo foi coletado em seis estações de coleta, distribuído no Rio
Tubarão. O estuário mostrou variações na concentração de nutrientes. Nas estações com maior
influência marinha foi observada uma predominância do NO3-, enquanto que na porção mais
interior do estuário o NH4+ predominou. O NH4+ foi o principal elemento na composição do
NID. A concentração do PO4-3 apresentou valores muito baixos em todas as estações
amostradas. O modelo inverso foi registrado para o teor de fósforo no sedimento. A estação
localizada na área urbana apresentou os maiores níveis de fósforo, indicando que essa área do
estuário é a mais vulnerável aos processos de eutrofização. As macroalgas (Gr. tenuifrons e H.
musciformis) mostraram que quando a fonte de nutrientes na coluna da água é baixa, ambas as
espécies armazenam nutrientes providos do sedimento. Esse estudo mostrou que a boa parte da
concentração de nutrientes registrada no estuário Ponta do Tubarão, é produzida no próprio
sistema e que a outra parcela é gerada por fontes antropogênicas, como esgotos lançados
diretamente no ecossistema e resíduos de processamento de pescado.
28

Palavras-chaves: estuário, nutrientes, água, sedimento, macroalgas


Abstract

The Ponta do Tubarão estuary is located in the Ponta do Tubarão Sustainable Development
Reserve (RDSEPT), northeast of Brazil. In the region where the reserve is situated several
economic activities are developed such as fishing, agriculture, aquaculture, extraction of
petroleum and ecological tourism. The nutrient dynamics was investigated to understand the
biogeochemical processes and to identify possible anthropogenic impacts in this tropical
ecosystem. The estuary showed variations in nutrient concentration. In the sites with the
greatest marine influence, a predominance of NO3- was observed, whereas in the inner part of
the estuary NH4+ predominated. NH4+ was the main element in the NID composition. The
concentration of PO4-3 presented very low values in all the stations sampled. The inverse model
was recorded for the phosphorus content in the sediment. The site located in the urban area
presented the highest levels of phosphorus, indicating that this area of the estuary is the most
vulnerable to eutrophication processes. The seaweeds (Gracilariopsis tenuifrons and Hypnea
musciformis) showed that when the nutrient source in the water column is low, both species
store sediment nutrients. This study showed that the greatest part of nutrient concentration
registered in the Ponta do Tubarão estuary is produced in the own system and the other part is
generated by anthropogenic sources as sewages discharged directly in the ecosystem and
residues of fish processing.

Keywords: estuary, nutrients, water, sediment, seaweeds


29

Introdução

Regiões costeiras e estuarinas são áreas importantes sob o ponto de vista biológico e
socioeconômico e são consideradas também um dos mais valiosos e vulneráveis habitats da
terra. Esses sistemas que fazem interface entre o continente e o mar são muito sensíveis às
mudanças naturais ambientais e atividades humanas, incluindo o uso da terra, mudanças
geomorfológicas e desflorestamento (Li et al. 2014). Nas últimas décadas, o rápido crescimento
populacional tem favorecido diversas fontes de nutrientes, tais como, efluentes da aquicultura,
agricultura e esgotos domésticos, as quais têm aumentado consideravelmente a entrada de
nutrientes para os estuários e áreas costeiras (Wu and Chen 2013).
O rápido enriquecimento das águas costeiras por nutrientes tem levado à perda da qualidade
ambiental, especialmente aquelas próximas de áreas urbanas, as quais são mais afetadas pelo
fenômeno da eutrofização. O aumento excessivo de nutrientes tem degradado a qualidade da
água resultando em condições indesejáveis para a estrutura e função do ecossistema,
envolvendo perda da diversidade de espécies (Cardoso et al. 2004). A capacidade dos estuários
em receber, acumular, assimilar e dispersar contaminantes de fontes naturais e antropogênicas
é bem conhecido (Silva et al. 2015). Entretanto, sua capacidade de purificação é limitada e
quando extrapolada, pode comprometer a qualidade da água e do sedimento do ecossistema
(Tappin et al. 2002).
O sedimento constitui um compartimento importante para a avaliação do tipo e intensidade
de impacto a que os ecossistemas são submetidos. Eles realizam trocas com a coluna da água e
servem de reservatórios de nutrientes. A retenção ou liberação depende de fatores ambientais,
incluindo pH, potencial redox, oxigênio dissolvido, etc. (Resmi et al. 2016). As características
dos diferentes compostos armazenados no sedimento também têm sido utilizadas para uma
melhor compreensão de diversos processos, tais como, produtividade de águas superficiais,
aporte de sedimento de diferentes origens e índices de sedimentação (Bhadha et al. 2007). Em
alguns estuários, a reciclagem de nutrientes retidos no sedimento contribui para a
disponibilidade de nutriente a um grau igual ou maior do que as entradas alóctones (Cowan et
al. 1996). Mudanças no suprimento de nutrientes para os produtores primários a partir de fontes
da coluna da água e sedimento têm sido observadas em muitos sistemas (Trimmer et al. 2000).
O monitoramento dos nutrientes da coluna da água e do sedimento é o método tradicional
usado para indicar o grau de enriquecimento dos ecossistemas aquáticos. No entanto, a análise
do conteúdo de nitrogênio e fósforo nos tecidos algais pode ser utilizada também como uma
ferramenta para indicar o enriquecimento do sistema por nutrientes (Lourenço et al. 2005). As
macroalgas são componentes importantes no ciclo de nutrientes nos ecossistemas costeiros.
30

Elas são capazes de absorver nutrientes, tais como nitrogênio e fósforo e disponibilizá-los para
organismos de outros níveis tróficos, fornecendo um link essencial na transferência de
nutrientes para o sistema. Em geral, as macroalgas retiram seus nutrientes da coluna da água,
no entanto, a literatura afirma que os sedimentos estuarinos podem ser também uma fonte de
nutrientes para esses organismos (Grenz et al. 2000; Kamer at al. 2004).
Estuários tropicais são considerados zonas geoquimicamente mais ativas do que os estuários
de zonas temperadas e são mais facilmente afetados pela carga de nutrientes de fontes
antropogênicas (Smith et al. 2012). Sob o efeito combinado das atividades humanas e eventos
naturais, os ecossistemas das regiões tropicais são mais vulneráveis a esses efeitos, os quais
podem acelerar sua deterioração. As atividades antropogênicas mais comuns afetando os
ecossistemas estuarinos do Rio Grande do Norte são: agricultura, aquicultura, esgotos
domésticos e indústria salineira (Ramos e Silva et al. 2010).
O estuário Ponta do Tubarão está localizado no litoral norte do Rio Grande do Norte, na
planície estuarina de Diogo Lopes tendo como canal principal o canal de maré Tubarão. Este
estuário está localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão
(RDSEPT), nordeste do Brasil. Além do ambiente terrestre (dunas, restinga e caatinga), a
reserva compreende uma porção marinha, um braço de mar, popularmente chamado de rio
Tubarão (Cunha 2006). A RDSEPT possui 12.946,03 ha (5º2’S e 5º16’S de latitude e 36º23’W
e 36º32’W de longitude), sendo que 650 hectares são representados por floresta de mangue que
margeiam o estuário Ponta do Tubarão. A área onde está inserida a reserva apresenta grande
importância econômica para o estado do Rio Grande do Norte. Nela se desenvolve a indústria
petrolífera, indústria salineira, carcinicultura, pesca e o turismo comunitário (Vital et al. 2008).
Na porção estuarina da Reserva, encontram-se bosques de mangues onde diversas atividades
de pesca são desenvolvidas (peixes, crustáceos, algas e moluscos) e de onde boa parte da
comunidade tira o seu sustento.
A qualidade ambiental do estuário Ponta do Tubarão é vital para a manutenção do
ecossistema local e do sustento das famílias que vivem na região, logo, investigar as mudanças
ambientais e propor medidas mitigadoras para a região é necessário para o desenvolvimento
econômico sustentável da reserva. O presente estudo teve como objetivo, caracterizar a variação
espacial dos nutrientes na coluna da água, sedimentos e macroalgas (Gracilariopsis tenuifrons
e Hypnea musciformis) e investigar a relação desses nutrientes entre a coluna da água,
sedimento e macroalgas.
31

Metodologia

Área de Estudo

A área de estudo está localizada em uma região de clima semiárido, sendo caracterizada por
temperaturas elevadas ao longo do ano (média de 27,8 °C) e pequena amplitude térmica (3,6
°C), grande incidência de energia solar (média de 2600 horas/ano e 7,22 horas diárias) e alta
taxa de evaporação (média de 2,600 mm/ano) ocasionada por altas temperaturas, escassez de
chuvas e ventos constantes. O clima da região é marcado por duas estações: a estação seca com
período mais longo (7-8 meses) e uma estação chuvosa (precipitação pluviométrica média de
53 mm) com período pluvial curto, no início do ano, de até quatro meses.
A rede hidrográfica é constituída basicamente por rios de pequeno porte e vazão reduzida.
Os rios que se encontram mais próximos do local de estudo são intermitentes e, em geral, são
responsáveis pelo abastecimento dos lençóis freáticos e pequenas lagoas (parte aflorante do
lençol freático) não atingindo diretamente o oceano ou o rio. Considerando a ausência de rios
que desaguam diretamente na área, o corpo d’água formado entre o sistema de ilhas barreiras e
o continente se constitui na realidade em um braço de mar. O sedimento do fundo do braço de
mar é essencialmente composto por silte, enquanto nos canais ocorre a presença de sedimentos
mais grossos (Vital et al. 2008).
O estuário é sujeito à ação das marés (semi-diurnas) com amplitude que varia de 3,3 a 0,9
metros (Ramos e Silva et al. 2010). O estuário Ponta do Tubarão estende-se por cerca de 12 km
de extensão com floresta de mangues em suas margens (Lacungularia racemosa, Rhizophora
mangle, Avicennia sp., Canocarpus eretus). A profundidade varia desde áreas rasas intertidais
até 7 metros nos canais principais (Vital et al. 2008). A área do estuário Ponta do Tubarão faz
parte de uma Unidade de Conservação (Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do
Tubarão) e faz parte do grupo de Unidades de uso sustentável que tem como objetivo a
compatibilidade entre a conservação e o manejo no uso da natureza.
Geologicamente a RDSEPT encontra-se inserida na Bacia Potiguar. Esta bacia tem
importância econômica para a região por ser uma grande produtora de petróleo. Além disso, no
entorno da reserva, são desenvolvidas diversas atividades econômicas como a indústria
salineira, aquicultura, pesca e turismo comunitário (Vital et al. 2008). Estas atividades embora
tenham grande importância econômica para a região, elas contribuem também para a
degradação ambiental.
32

Estações selecionadas

Para esse estudo foram selecionadas seis (6) estações, cujas posições foram georeferenciadas
com auxílio de GPS. A estação um (E1) foi posicionada na área estritamente marinha; a estação
2 (E2) na foz do estuário; a estação três (E3) na entrada de um canal de ligação com o mar; a
estação quatro (E4) na área urbana, local de ancoragem de barcos; a estação cinco (E5) na
entrada de uma gamboa; e a estação seis (E6) na parte mais interior do estuário (Fig. 1).

Figura 1. Local de estudo e localização das estações de coletas (Diogo Lopes, RN).

Procedimentos em campo e em laboratório

A medição dos parâmetros ambientais e as coletas da água, do sedimento e das macroalgas


Hypnea musciformis e Gracilariopsis tenuifrons ocorreram em janeiro de 2013. Os parâmetros
ambientais (salinidade, temperatura, pH e oxigênio dissolvido) foram medidos em cada estação
usando uma sonda multiparâmetros (Hanna HI9828). Amostras de água foram coletadas em
frascos de polietileno (300 mL) simultaneamente à medição dos parâmetros para a análise dos
nutrientes (NH4+, NO2-, NO3- e PO4-3). O Nitrogênio Inorgânico Dissolvido (NID) correspondeu
à soma das concentrações de NH4+, NO2-, NO3-. Posteriormente, os frascos foram devidamente
identificados e mantidos em caixas isotérmicas. No Laboratório de Macroalgas do
Departamento de Oceanografia e Limnologia (DOL) da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), as amostras de água foram filtradas (Whatman GF/C) e depois congeladas
para as análises dos nutrientes, as quais foram realizadas segundo Grasshoff et al. (1983).
Amostras de sedimento foram coletadas durante a maré baixa, com auxílio de um
testemunho de 10 cm de diâmetro por 20 cm de comprimento e obtidas em uma única
profundidade de 0 a 5 cm. Em seguida, o material foi acondicionado em sacos plásticos
33

identificados. No laboratório, as amostras foram congeladas e liofilizadas (Liotop L108). Foi


realizada a triagem do material orgânico antes das análises do sedimento (nitrogênio total e
fósforo total), as quais seguiram a metodologia de Claessen (1997).
Amostras das macroalgas H. musciformis e G. tenuifrons foram coletadas nas estações E1,
E2, E3 e E6 e E1, E3 e E6, respectivamente. Aproximadamente 200 g de cada espécie foi
coletada por estação. Este material foi armazenado em sacos plásticos, identificados e mantidos
em caixas isotérmicas para o transporte até o laboratório. Posteriormente, as macroalgas foram
liofilizadas, maceradas e mantidas em baixa temperatura (-80ºC) até a realização das análises
dos nutrientes teciduais (nitrogênio e fósforo). As análises seguiram a metodologia de
Miyazawa et al. (1999).
A razão N:P foi determinada através do somatório da concentração de nitrogênio e fósforo
e esta razão demonstra a quantidade de moléculas de nitrogênio em relação à de fósforo. Assim,
uma razão N:P maior do que 1 indica que há mais moléculas de nitrogênio do que fósforo,
enquanto que uma razão N:P menor do que 1 indica o inverso. O cálculo da razão N:P na coluna
da água considera os valores de NID e PO4-3, ao passo que a razão N:P no sedimento e nos
tecidos das macroalgas considera nitrogênio e fósforo total e nitrogênio e fósforo teciduais das
macroalgas, respectivamente.

Análises estatísticas

A descrição dos dados foi baseada nos valores médios e de desvio padrão das amostras
analisadas. O nível de significância utilizado para todos os testes estatísticos foi de 95% (α =
0,05). Para verificar se os dados apresentavam normalidade e homocedasticidade, os testes de
Shapiro-Wilk e Levene foram aplicados. A ANOVA One-Way de medidas repetidas foi
utilizada para verificar se houve diferenças significativas entre as estações de coleta para as
variáveis salinidade, temperatura, pH, oxigênio dissolvido, nutrientes (NH4+, NO3-, NO2-, NID,
PO4-3) e razão N:P na coluna de água; N, P e razão N:P do sedimento; e nos tecidos algais N e
P da H. musciformis e G. tenuifrons. Quando as diferenças foram confirmadas, o teste de Tukey
foi aplicado. A correlação de Pearson foi utilizada para determinar se existe correlação entre as
variáveis analisadas e determinados. Para todas as análises estatísticas, foi utilizado o programa
Action (EQUIPE ESTATCAMP, 2017).
34

Resultados

Variáveis ambientais

Os valores de salinidade ao longo do estuário variaram de 37,34 (E1) com maior influência
marinha a 46,07 (E6) na porção interior do estuário (Tabela 1), sendo observadas diferenças
significativas entre as estações (ANOVA, p < 0,001). Este padrão de salinidade ocorre devido
ao grande fluxo de entrada de água oceânica, ausência de água fluvial e baixa precipitação na
região. Além disso, as altas temperaturas características da região maximizam a evaporação e
a salinização da porção interi9or do estuário. A temperatura da água variou de 27 °C a 33 °C
ao longo dos pontos amostrados. Diferenças significativas entre as estações foram verificadas
(ANOVA, p < 0,001). O menor valor de temperatura foi registrado na porção com total
influência marinha (E1), enquanto o maior valor foi registrado na porção mais interior do
estuário (E6). A E6 é caracterizada por baixa profundidade e fundo lamoso que fica descoberto
na maré baixa, sendo mais susceptível à aumentos de temperatura. O pH variou de 7,39-7,90
(ANOVA, p < 0,001). Foram registradas diferenças significativas entre as estações (ANOVA,
p < 0,001). Os níveis de oxigênio dissolvido foram bastante elevados em todas as estações (7,16
– 4,22 mg/L). A média da concentração do oxigênio dissolvido foi de 5,29 ± 0,10 mg/L, sendo
os menores valores registrados na E2 (4,19) e E4 (4,20) e os maiores na E3 (7,15) e E5 (7,19).
Diferenças significativas entre a concentração de oxigênio dissolvido nas estações foram
constatadas (ANOVA, p < 0,001). Na Tabela 1 estão sumarizados os valores dos parâmetros
ambientais mensurados durante o estudo.
35

Tabela 1. Características físico-químicas da água do estuário da Ponta do Tubarão, Macau, Rio


Grande do Norte.
ANOVA
Parâmetros ambientais Mín – Máx Méd ± Desv pad
F P
Salinidade 37,32 – 46,18 40,16 ± 3,50 14.079,67 < 0,001*
Temperatura (°C) 25,93 – 33,50 29,68 ± 2,15 26,21 < 0,001*
pH 7,39 – 7,90 7,59 ± 0,15 29,50 < 0,001*
Oxigênio dissolvido (mg/L) 4,15 – 7,19 5,24 ± 1,04 505,94 < 0,001*
*diferenças significativas
Nutrientes dissolvidos na água

A concentração do NH4 variou de 31,16 ± 9,76 µmol/L a 13,99 ± 3,45 µmol/L (Fig. 2A). As
mais altas concentrações desse nutriente foram registradas na secção mais interior do estuário
(E6) e as mais baixas na área mais próxima do mar (E2). Diferenças significativas foram
observadas nas concentrações desse nutriente entre as estações (ANOVA, p = 0,003). Os
valores da concentração do NO2 para a maioria das estações foram bastante similares (0,04 –
0,07 µmol/L), exceto para a E4 que apresentou valores bastante inferiores aos encontrados para
as demais (0,01 ± 0,00 µmol/L) (Fig. 2B). Gerando diferenças significativas nas concentrações
desse nutriente entre as estações (ANOVA, p < 0,001).
Diferentemente do NH4, o NO3 mostrou as mais altas concentrações na estação localizada
no mar (E1) com valor de 2,64 ± 0,16 µmol/L. Nas estações subsequentes foi observada uma
diminuição gradual desse nutriente na água (Fig. 2C), com um pequeno aumento do NO3 na
E6. Diferenças significativas foram constatadas para esse nutriente entre as estações (ANOVA,
p < 0,001). O NID mostrou um modelo similar ao NH4 para todas as estações com os valores
mais altos registrados na E6 e mais baixos na E2 (Fig. 2D). Neste estudo, o NH4 foi o principal
elemento na composição do NID (94%). Foram constatadas diferenças significativas do NID
entre as estações (ANOVA, p = 0,003).
36

Figura 2. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de NH4+ (A), NO2- (B),
NO3- (C) e NID (D) na coluna de água entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças
significativas.

A concentração do PO4 na água variou entre 0,42 ± 0,01 e 0,22 ± 0,05 µmol/L, sendo
observada diferenças significativas entre as estações (ANOVA, p < 0,001). Os maiores valores
foram registrados na E3 e o menor na E4 (Fig. 3). Todas as estações apresentaram níveis de
PO4 baixos, os quais não ultrapassaram 0,44 µmol/L.

Figura 3. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de PO4-3 na coluna de
água entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas.
37

Teor de nutrientes no sedimento

Os resultados obtidos revelaram que a distribuição do nitrogênio inorgânico no sedimento


não segue a mesma tendência dos nutrientes analisados na água. No ponto de amostragem E4,
o nitrogênio total (NH4 + NO2 + NO3) era mais baixo na coluna da água, enquanto que no
sedimento foi a estação que apresentou o maior valor (3,59 ± 0,31 mg/g) (Fig. 4). O nível de
nitrogênio inorgânico no sedimento das demais estações foi bastante baixo comparativamente
à E4, não ultrapassando 0,47 mg/g. Houve diferenças significativas em relação à concentração
de nitrogênio no sedimento entre as estações (ANOVA, p < 0,001).

Figura 4. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de nitrogênio no


sedimento entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas.

A concentração do fósforo inorgânico no sedimento apresentou padrão diferente ao


observado na coluna da água. As menores concentrações foram registradas na E5 (0,30 ± 0,07
mg/g) e as maiores na E4 (3,11 ± 0,18 mg/g) (Fig. 5). A E4 está localizada na área destinada à
ancoragem de barcos e é também local de lançamentos de águas residuais. A concentração do
fósforo armazenado no sedimento apresentou um coeficiente de variação de 80,07, enquanto
que o da coluna da água foi de 49,08. Assim como o nitrogênio, a concentração de fósforo no
sedimento diferiu entre as estações (ANOVA, p < 0,001).
38

Figura 5. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de fósforo no


sedimento entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas.

Nutrientes nos tecidos algais

O conteúdo de nitrogênio nos tecidos mostrou uma ampla variação entre as espécies
estudadas. Em H. musciformis, o conteúdo de nitrogênio foi bem inferior ao encontrado em Gr.
tenuifrons (Fig. 6). O maior valor foi registrado na E1 (0,59 ± 0,13) e o menor na E6 (0,04 ±
0,01 %dw-1). Diferenças significativas foram verificadas para esta espécie entre os pontos
analisados (ANOVA, p < 0,001). Em Gr. tenuifrons, o nitrogênio nos tecidos algais esteve
relacionado com a disponibilidade do NID na coluna da água. Os níveis mais altos foram
detectados na E1, quando os níveis de nitrogênio nos tecidos atingiram 2,28 ± 0,34 % por peso
seco (Fig. 6). Não foram observadas diferenças significativas no conteúdo de nitrogênio
tecidual entre as estações amostradas (ANOVA, p = 0,067). O conteúdo de fósforo variou de
0,83 ± 0,01 % dw-1 (E1) a 0,69 ± 0,10 % dw-1 (E6) por peso seco (Fig. 7). Diferenças
significativas foram observadas entre as estações (ANOVA, p = 0,042). O conteúdo de fósforo
em H. musciformis manteve-se relativamente constantes nas estações estudadas (Fig. 7). Os
maiores valores foram registrados na E6 (0,84 ± 0,01 % dw-1) e o menor na E1 (0,77 ± 0,13 %
dw-1). Não foram constatadas diferenças significativas entre as estações (ANOVA, p = 0,368).
39

Figura 6. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de nitrogênio nos
tecidos das macroalgas Hypnea musciformis e Gracilariopsis tenuifrons entre as estações.
Letras maiúsculas e minúsculas indicam diferenças significativas.

Figura 7. Variação dos valores médios ± desvio padrão da concentração de fósforo nos tecidos
das macroalgas Hypnea musciformis e Gracilariopsis tenuifrons entre as estações. Diferentes
Letras maiúsculas e minúsculas indicam diferenças significativas.

Razão N:P

A média da razão N:P na coluna de água foi 82,3 ± 29,0, o que demonstra que há uma grande
disponibilidade de nitrogênio em relação ao fósforo (Tabela 2). Por outro lado, no sedimento
(0,53 ± 0,38), ocorre o inverso, há uma concentração de fósforo mais elevada do que de
nitrogênio. Em H. musciformis, a concentração de fósforo tecidual também foi maior do que a
de nitrogênio (0,25 ± 0,35), enquanto que, Gr. tenuifrons, o nitrogênio predominava sobre o
fósforo (2,78 ± 0,31).
40

Tabela 2. Variação dos valores médios ± desvio padrão (mínimo–máximo) da razão N:P entre
as estações na coluna de água, no sedimento e nos tecidos das macroalgas H. musciformis e Gr.
tenuifrons.
E1 E2 E3 E4 E5 E6
113,79 ± 19,45
70,26 ± 14,82 40,62 ± 0,06 61,93 ± 12,32 100,74 ± 8,78 106,47 ± 0,80
Água (100,04–127,54)
(59,78–80,73) (40,58–40,67) (53,21–70,64) (94,54–106,95) (105,90–107,04)

0,24 ± 0,01 0,29 ± 0,003 0,38 ± 0,07 (0,33– 1,15 ± 0,03 0,86 ± 0,26 0,24 ± 0,03
Sedimento (0,244–0,237) (0,28–0,29) 0,43) (1,13–1,18) (0,67–1,05) (0,22–0,26)

0,78 ± 0,30 (0,57– 0,14 ± 0,03 0,03 ± 0,02 (0,02– 0,05 ± 0,01
Hypnea ------ ------
0,99) (0,12–0,15) 0,05) (0,04–0,05)

2,73 ± 0,36 (2,48– 2,70 ± 0,39 (2,43– 2,90 ± 0,40


------ ------ ------
Gracilariopsis 2,99) 2,97) (2,62–3,19)

Análise de Correlação

A Tabela 3 contêm os dados da análise estatística para correlação de Pearson entre


parâmetros ambientais, sedimento e conteúdo de nitrogênio e fósforo nos tecidos das duas
macroalgas (Gr. tenuifrons e H. musciformis). Fortes correlações positivas foram registradas
entre salinidade e oxigênio dissolvido (r = 0,99; p < 0,001); oxigênio dissolvido e nitrito (r =
0,96; p < 0,001), NH4+ e NID (r = 0,99; p < 0,001), NH4+ e NO2- (r = 0,72; p < 0,05), teor de
nitrogênio no sedimento e NO3- (r = 0,99; p < 0,01), conteúdo de nitrogênio nos tecidos de H.
musciformis e NO3- (r = 0,96; p < 0,001), conteúdo de nitrogênio nos tecidos de Gr. tenuifrons
e NO3- (r = 0,77; p < 0,05), conteúdo de nitrogênio nos tecidos de H. musciformis e teor de
nitrogênio no sedimento (r = 0,97; p < 0,001), conteúdo de nitrogênio nos tecidos de Gr.
tenuifrons e teor de nitrogênio no sedimento (r = 0,83; p < 0,01). Correlações negativas também
foram encontradas entre oxigênio dissolvido e teor de nitrogênio no sedimento (r = -0,83; p <
0,01), teor de nitrogênio no sedimento e NO2- (r = - 0,91; p < 0,001).
41

Tabela 3. Coeficientes de correlação linear de Pearson entre os parâmetros ecológicos, sedimento e porcentagens de N e P nas algas Gracilariopsis
tenuifrons e Hypnea musciformis.

Temp pH O.D. Sal NH4 NO3 NO2 NID PO4 NSED PSED NHYP PHYP N:P HYP
Sal 0,86** 0,99***
NH4 0,87** 0,71* 0,70*
NO3 -0,69* -0,79*
NO2 0,88** 0,98*** 0,96*** 0,72*
NID 0,82** 0,69* 0,68* 0,99*** 0,67*
PO4
N:P AG 0,76* 0,85** 0,87** 0,83** 0,76* 0,86** -0,73*
NSED -0,89** -0,83** -0,80* 0,89** -0,91**
PSED -0,78* -0,70* 0,97*** -0,73* 0,95***
N:P SED 0,79*
NHYP -0,82** -0,69* -0,70* 0,96*** -0,81** 0,97*** 0,98***
PHYP 0,71* 0,68*
N:P HYP -0,82* -0,69* -0,68* 0,95*** -0,80* 0,96*** 0,97*** 0,99*** -0,71*
NGRA -0,79* -0,71* 0,77* -0,67* 0,83** 0,83** 0,86** -0,88** 0,90**
PGRA -0,71* -0,76* -0,73* -0,74* -0,85** -0,69* 0,76* 0,74* 0,73*
N:P GRA
Legenda: Temp: Temperatura; O.D.: Oxigênio Dissolvido; NH4: Amônio; NO3: Nitrato; NO2: Nitrito; NID: Nitrogênio Inorgânico Dissolvido; PO4: Fosfato; N:P AG: razão N:P da
água; NSED: Nitrogênio do Sedimento; PSED: Fósforo do Sedimento; N:P SED: razão N:P do Sedimento; NHYP: Nitrogênio tecidual da H. musciformis; PHYP: Fósforo tecidual
da H. musciformis; N:P HYP: razão N:P tecidual da H. musciformis; NGRA: Nitrogênio tecidual da Gr. tenuifrons ; PGRA: Fósforo tecidual da Gr. tenuifrons ; N:P GRA: razão
N:P tecidual da Gr. tenuifrons
* P menor do que 0,05 e maior do que 0,01
** P menor do que 0,01 e maior do que 0,001
*** P menor do que 0,001
42

Discussão

No estuário Ponta do Tubarão, foi observado um gradual aumento de salinidade


do norte (influência oceânica) para sul (interior das terras) do estuário. A E1, que se
encontra sob total influência marinha, apresentou valores mais baixos de salinidade (
37), enquanto a E6, localizada na parte mais interior do estuário, apresentou valores mais
elevados (> 40). Considerando que a salinidade registrada na entrada do estuário é a
mesma do oceano, o aumento da salinidade ao longo do estuário até o ponto mais interior
é ocasionado essencialmente pela baixa circulação da água, aumento da taxa de
evaporação, sem influência de água doce dos rios e provavelmente pelo maior tempo de
residência da água nessa porção do estuário. Essa seção do estuário (E6) fica em sua maior
parte descoberta durante a maré baixa, consequentemente a água torna-se mais salina do
que em mar aberto, caracterizando esse estuário como hipersalino ou negativo (Ramos e
Silva et al. 2010).
Uma tendência de aumento de temperatura foi observada da seção de maior
influência marinha para a porção mais interior do estuário. Este padrão de distribuição
era o esperado considerando que o menor volume de água e consequentemente a menor
profundidade são encontrados em direção à seção interior do estuário (E6). Nos estuários
da região, a temperatura da água permanece relativamente constante ao longo do ano
(Ramos e Silva et al. 2010), e a ocorrência das pequenas variações observadas dependem
do grau de insolação, chuvas e ventos. Devido à forte influência marinha na área, o fator
controlador das variações observadas no estuário Ponta do Tubarão é principalmente a
dinâmica das marés. A influência das marés nas variações da temperatura da água também
foi relatada em estudos realizados na região nordeste do Brasil (Figueiredo et al. 2006;
Eschrique et al. 2008).
Os valores médios registrados (5,29 ± 1,10 mg/L) para o oxigênio dissolvido
mostrou que as águas do estuário Ponta do Tubarão são bem oxigenadas. No entanto,
embora tenham sido observadas pequenas variações nas concentrações, diferenças
marcantes não foram observadas entre os pontos amostrados. Esta pequena diferença
pode estar associada à forte mistura deste gás na coluna da água, provavelmente
provocado pela agitação das marés, baixa profundidade e pelos ventos constantes na
região. O pH não apresentou grandes variações ao longo do estuário (média = 7,62). De
acordo com Ramos e Silva et al. (2010), a baixa entrada de água doce e pouca precipitação
pluviométrica são os fatores responsáveis pela mistura da água do mar e pelos valores de
pH observados nos estuários dessa região.
43

A concentração de nutrientes na água registrados no presente estudo é comparável


com estudos realizados em algumas regiões tropicais do mundo (Li et al. 2014). Além
disso, a concentração de nutrientes registrados do estuário Ponta do Tubarão foi mais
baixa do que em estuários na região nordeste do Brasil (Silva et al. 2013). Em relação ao
nitrogênio, observa-se uma relação inversa entre a concentração do NO3- e do NH4+. Os
maiores valores de NO3- foram registrados na área de maior influência marinha enquanto
o NH4+ apresentou valores mais elevados na porção mais interior do estuário.
Em geral, o NH4+ é proveniente de águas fluviais ricas em matéria orgânica. No
presente estudo, a água originada de aquíferos terrestres é muito pouca (Vital et al. 2008),
assim fica evidente que este composto nitrogenado deve se originar da remineralização
da matéria orgânica produzida no próprio sistema e/ou da concentração do nitrogênio
presente no sedimento (Bhadha et al. 2007). A estação de coleta E6 apresentou os maiores
níveis de NH4+, esta encontra-se localizada na porção fechada do estuário (Fig. 1), onde
deve ocorrer um maior acúmulo de matéria orgânica. Por outro lado, os valores mais
elevados de salinidade e temperatura no local devem ter favorecido uma condição
bioquímica de redução. Essas condições ambientais favorecem o acúmulo de nitrogênio
na sua forma quimicamente mais reduzida.
As concentrações do PO4-3 ao longo do estuário foram muito baixas (média de
0,31 µmol/L), quando comparadas com os níveis médios de estuários da região nordeste
(Noriega et al. 2005; Silva et al. 2013). Neste local, o padrão de distribuição desse
nutriente na água está relacionado principalmente à entrada de água marinha,
considerando a ausência de rios que desaguem diretamente na área. Os níveis de fósforo
foram mais baixos na porção mais interior do estuário do que na área de maior influência
marinha (∼50%), este padrão pode ser atribuído à assimilação biológica e aos processos
geoquímicos de adsorção como observados por Fonseca et al. (2002) para a lagoa da
Conceição em Santa Catarina e Eschrique et al. (2008) para o estuário Jaguaribe no Ceará.
Além disso, as baixas concentrações de fósforo e a alta razão N:P (Tabela 2) indicaram
que havia uma limitação de fósforo dissolvido na água.
O sedimento é um grande reservatório de nutrientes, o qual desempenha um papel
ambiental importante devido a sua capacidade de estocar ou liberar diferentes compostos
a partir da coluna da água e que afeta profundamente a ciclagem dos elementos na água
(Zhang et al. 2012; Zhang et al. 2015). O sedimento de áreas de manguezais em geral
contém uma grande quantidade de fósforo, devido à grande quantidade de matéria
orgânica (Resmi et al. 2016). No entanto, uma vez no sedimento, esse nutriente fica
aprisionado devido à existência de uma barreira geoquímica que impede sua liberação
44

para a coluna da água. Esse mecanismo de retenção de fósforo no sedimento tem sido
descrito por vários autores para estuários brasileiros (Pereira-Filho et al. 2001; Vidal and
Becker 2006).
A concentração de nitrogênio e fósforo no sedimento na E4 não apresentou o
mesmo padrão de distribuição observado para os nutrientes dissolvidos na água. A E4
apresentou o maior acúmulo desses nutrientes no sedimento, enquanto os valores para o
NID e PO4-3 na coluna da água eram consideravelmente mais baixos (Fig. 4 e 5). Essa
grande diferença nos níveis de nutrientes entre coluna da água e o compartimento
sedimentar pode ser explicado, em parte, pelo efeito de diluição ocasionado pela preamar
no ato da coleta das amostras de água nessa estação. O teor de nitrogênio e fósforo no
sedimento variaram de 0,16 a 3,59 mg/g para o nitrogênio e de 0,30 a 3,11 mg/g para o
fósforo respectivamente. Esses valores são similares aos encontrado por Nair et al. (1984)
e Mathews and Chandramohanakumar (2003) em estuários na Índia.
A concentração do nitrogênio e fósforo no sedimento na E4 apresentou uma ordem
de grandeza de 12 e 462 vezes maior do que o registrado na coluna da água,
respectivamente. Este considerável aumento indica a ocorrência de fontes antrópicas para
esta área do estuário. Com efeito, nessa estação foi constatado o lançamento de esgotos
domésticos e é também local de descarte de resíduos de processamento de pescado. A
grande discrepância entre os teores de nutrientes da E4 com as demais estações evidencia
que esta é a região do estuário mais vulnerável em relação aos processos de eutrofização.
De modo geral, o alto teor de fósforo registrado no sedimento em todas as estações,
exceção a E4, indicou uma razão N:P menor que 16, o que caracteriza uma limitação em
nitrogênio.
Estudos têm demonstrado que a disponibilidade de nutrientes tem um efeito
importante na produção primária e que a utilização das diferentes formas de nitrogênio
pelas macroalgas é especifico a espécie (Vonk et al. 2008). Em relação ao conteúdo de
nitrogênio nas algas, os resultados mostraram uma forte correlação entre a disponibilidade
de nitrato na água e o conteúdo de nitrogênio nos tecidos de H. musciformis (r = 0,96; p
<0,001) e Gr. tenuifrons (r = 0,77; p < 0,05). O conteúdo de N em Gracilariopsis se
manteve em níveis relativamente altos em todas as estações amostradas, sugerindo que
esta espécie absorve simultaneamente NO3- (E1) e NH4+ (E3 e E6). O maior conteúdo de
N em Hypnea observado na E1 (> concentração de NO3- dissolvido na água) sugere que
essa espécie é mais eficiente para a assimilação de NO3-. O conteúdo de nitrogênio em
Hypnea mostrou um padrão similar ao de Gr. tenuifrons, no entanto, os níveis de
nitrogênio nos tecidos eram muito baixos. A baixa concentração de NO3- na água (E3 e
45

E6) pode ser uma explicação plausível para isso, considerando que pode ocorrer limitação
quando o nutriente se encontra abaixo de uma concentração limiar para uma determinada
espécie (North et al. 2007; Fan et al. 2014). Com efeito, nesse estudo alguns valores
obtidos para Hypnea foram ainda menores do que a concentração limite de subsistência
(concentração mínima de nutrientes que permite o metabolismo sem crescimento)
encontrado para Rhodophyceae (Lourenço et al. 2006).
Os valores de fósforo nos tecidos das duas algas se encontram dentro da variação
para espécies tropicais (Lourenço et al., 2006), mesmo os níveis de fósforo dissolvido na
coluna da água fossem considerados relativamente baixos. No entanto, concentração
baixa de nutrientes na água não necessariamente indica limitação de nutrientes. Isto
porque as macroalgas usam mecanismos para estocar nutrientes (na forma de pigmentos
e aminoácidos) em excesso e utilizá-los depois quando o suprimento externo está
reduzido (Lobban and Harrison 1997). A média do fósforo registrado para as duas
espécies nesse estudo (> 0,7%) não é considerada um nível baixo, e se encontra acima de
alguns valores encontrados para algas coletadas no Rio de Janeiro, na lagoa hipersalina
de Araruama (Lourenço et al. 2005) e Baía da Guanabara (Nascimento et al. 2014).
Embora os níveis de fósforo dissolvido na coluna da água fossem baixos, para justificar
o acúmulo de fósforo nos tecidos, temos que considerar que as algas são encontradas
acima do sedimento, e que podem absorver rapidamente o fósforo quando este é liberado
do sedimento para a coluna da água. Essas constatações são confirmadas pelas correlações
positivas encontradas entre o conteúdo de nitrogênio nos tecidos algais e o teor de
nitrogênio no sedimento. Com efeito, vários estudos têm mostrado que sedimentos
estuarinos podem também ser uma fonte significante de nutrientes para as macroalgas
(Kamer et al. 2004).

Conclusão

Os resultados obtidos nesse estudo mostram que a forte influência marinha atuou de
maneira preponderante sobre os parâmetros ambientais. Este estuário apresentou valores
de salinidade e temperatura mais elevados na porção interior do estuário, indicando a
influência da evaporação e da marê sobre esses dois parâmetros. Em relação aos
nutrientes, observa-se que na coluna da água, o nitrogênio estava presente em maior
concentração, indicando uma limitação em fósforo. O inverso foi observado para o
compartimento do sedimento.
46

Dentre as formas nitrogenadas, o NH4+ foi o maior representante da composição do


NID. Considerando a ausência de águas fluviais na área e a pouca contribuição dos lençóis
freáticos, pode-se evidenciar que o NH4+ deve se originar da remineralização da matéria
orgânica produzida no próprio sistema. Os altos valores de fósforo aprisionados no
sedimento, em especial na E4, indicam que parte desse elemento é de origem antrópica e
que esta área do estuário é mais vulnerável em relação aos processos de eutrofização.
Em relação às macroalgas observa-se que estes organismos absorvem nutrientes tanto
da coluna da água como também do sedimento. Assim, os valores do conteúdo de fósforo
nos tecidos suportam a hipótese de que ambas as espécies (Gr. tenuifrons e H.
musciformis) utilizam o fluxo de nutrientes a partir do sedimento.

Referências

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51

CAPÍTULO 2

Distribuição espacial de metais pesados na água, sedimento e macroalgas marinhas


no estuário Ponta do Tubarão (Rio Grande do Norte, Brasil)

Klégea Maria Câncio Ramos Cantinhoa; Eliane Marinho-Sorianoa

ESTE ARTIGO SERÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO ENVIRONMENTAL


MONITORING AND ASSESSMENT, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE
ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA
(HTTP://WWW.SPRINGER.COM/ENVIRONMENT/MONITORING+-
+ENVIRONMENTAL+ANALYSIS/JOURNAL/10661)
a
Department of Oceanography and Limnology, Federal University of Rio Grande do
Norte, Natal, Brazil. E-mail: [email protected] – Tel.: (84)3342-4950.

Resumo

Este estudo teve como objetivo investigar o estado atual da concentração de metais
pesados da água, sedimento e macroalgas (Gracilariopsis tenuifrons e Hypnea
musciformis), em uma escala espacial no estuário Ponta do Tubarão, nordeste do Brasil.
Os resultados obtidos revelaram que existe uma notável diferença na concentração dos
metais entre os diferentes compartimentos estudados e entre as estações. A mais alta
concentração de metais na água e nas algas foi registrada para a Estação 1 (maior
influência marinha), enquanto que no sedimento, foi maior na Estação 4 (área urbana).
Nas macroalgas houve uma tendência de diminuição nas concentrações dos metais da E1
para a E6 (porção mais interior do estuário). O cobre, chumbo e o zinco foram os
elementos que apresentaram as maiores concentrações nos tecidos algais. Os metais
cádmio, cobre e chumbo nos tecidos de H. musciformis apresentaram correlação positiva
com esses mesmos elementos na coluna da água. Em G. tenuifrons também mostrou uma
significante correlação positiva do cobre e chumbo na água e nos tecidos da alga. Uma
correlação positiva também foi encontrada para os metais no tecido das espécies e o
registrado no sedimento. Os resultados desse estudo mostraram que a concentração dos
metais varia de acordo com a espécie algal e que ambas espécies acumulam quantidades
importantes de metais. Esta capacidade faz com que esses organismos sejam considerados
importantes bioindicadores e biomonitores de metais pesados.

Palavras-chaves: estuário, metais pesados, água, sedimento, macroalgas


52

Abstract

This study aimed to investigate the current state of heavy metal concentration of water,
sediments and seaweeds (Gracilariopsis tenuifrons and Hypnea musciformis) on a spatial
scale in the Ponta do Tubarão estuary, northeast of Brazil. The results obtained revealed
that there is a remarkable difference in the metal concentration among the different
compartments studied and among sites. The highest metal concentration in the water was
recorded for E1 (greatest marine influence), in the sediment at E4 (urban area) and
seaweeds at E1. In the seaweeds, there was a decreasing trend in the metal concentrations
from E1 to E6 (inner part of the estuary). Copper, lead, and zinc were the chemical
elements that showed the highest concentrations in the algal tissues. The metals cadmium,
copper and lead in the H. musciformis tissues showed a positive correlation with the same
elements in the water column. G. tenuifrons also showed a significant positive correlation
of copper and lead in water. A positive correlation was also found for both species and
sediment. The results of the study showed that the metal concentration varies according
to the seaweed species and that both species accumulate important metal concentrations.
This ability makes these organisms important as bioindicators and biomonitoring of
heavy metals.

Keywords: estuary, heavy metals, water, sediment, seaweeds


53

Introdução

Atualmente a contaminação por metais pesados nas regiões costeiras é um problema


comum em muitas partes do mundo (Okuku and Peter 2012). A abundancia, persistência
e toxicidade ambiental no ambiente aquático tem se tornado um grande problema em
países em desenvolvimento, como o Brasil (Reitermajer et al. 2011). A principal causa é
o crescimento da industrialização e urbanização a qual tem contribuído para o aumento
acentuado da poluição por metais pesados no ambiente aquático (Khan et al. 2008), o qual
pode causar efeitos adversos sobre a saúde dos organismos aquáticos e humanos (Yi et
al. 2011).
Muitos estudos têm determinado os níveis de poluentes acompanhando suas flutuações
regionais e temporais nas zonas costeiras. Desta forma, água, sedimentos e organismos
têm sido usados com finalidades diferentes para descrever o comportamento ambiental
de poluentes ou para monitorar os níveis de contaminação nesses compartimentos (Karez
et al. 1994).
A entrada de metais pesados nos estuários em geral, está associada ao aporte de
material em suspensão. Uma vez no estuário ele pode permanecer na forma particulada,
migrarem para a fase dissolvida ou através de processos de adsorção e precipitação se
depositarem no sedimento (Abdel-Ghani et al. 2007). A duração dos metais nos diferentes
compartimentos ambientais está relacionada a diversos fatores ambientais que, somados
a hidrodinâmica dos estuários pode possibilitar que estes elementos sejam remobilizados
ou incorporados na cadeia trófica a diferentes níveis (Kelderman et al. 2000).
A avaliação de locais contaminados por metais pesados normalmente envolve a análise
de água e sedimentos. No entanto, apesar de vários estudos considerarem a água para
monitoramento de metais em ambientes costeiros, algumas desvantagens são observadas,
como por exemplo, as baixas concentrações próximas do limite de detecção e a eventual
contaminação das amostras durante a coleta e análise. A análise de metais no sedimento
se mostra mais vantajosa porque esse compartimento apresenta concentrações mais
elevadas. Por outro lado, os metais que registrados no sedimento se encontram
aprisionados por períodos mais longos, o que diminui a possibilidade de variações, como
o observado na água (Rainbow 2006). Embora, estes compartimentos usualmente sejam
utilizados para medições das concentrações de metais, eles não são bons preditores da
toxicidade de contaminantes para a biota (Gosavi et al. 2004). Consequentemente,
54

organismos aquáticos tornam-se cada vez mais utilizados na avaliação de contaminação,


tanto como biomonitores, como bioindicadores (Chakraborty and Owens 2014).
As macroalgas e moluscos estão entre os organismos mais utilizados para esta
finalidade. As Macroalgas são capazes de acumular metais, atingindo valores de
concentração que são milhares de vezes superiores do que as concentrações
correspondentes na água do mar (Rainbow 1996). Essa capacidade de acumulação faz
com que elas sejam consideradas ótimas indicadoras de poluição por metais em águas
estuarinas e costeiras (Dadolahi-Sohrab et al. 2011).
O estuário Ponta do Tubarão é um braço de mar com cerca de 12 km de extensão
situado no litoral norte do Rio Grande do Norte (Fig. 1). Este estuário está localizado na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão (RDSPT), nordeste do Brasil.
Esse ecossistema tem uma grande importância local porque ele suporta a pesca que é o
principal recurso disponível para os habitantes, fazendo parte da pesca secular e familiar.
Outras atividades econômicas ao redor do estuário incluem: a agricultura, aquicultura e
as indústrias salineira e petrolífera. O ecossistema compreende uma vasta área de
manguezais. Esse trabalho foi realizado com o objetivo de estudar a distribuição espacial
de metais pesados em diferentes compartimentos ambientais (água, sedimento e
macroalgas) e verificar uma possível contaminação.

Metodologia

Área de estudo

A área de estudo está situada em uma região de clima semiárido, a qual apresenta duas
estações bem definidas: a estação seca (de 7 a 8 meses) e a chuvosa (de 4 a 5 meses). A
região é caracterizada por temperaturas elevadas, grande incidência solar, baixa
pluviosidade e alta taxa de evaporação.
A rede hidrográfica da área de estudo é composta basicamente por rios temporários de
pequeno porte, os quais são responsáveis pelo abastecimento dos lençóis freáticos e de
pequenas lagoas (parte aflorante do lençol freático). Devido à ausência de rios que
desaguem no estuário, o rio Tubarão é um estuário invertido. O sedimento do fundo do
estuário é constituído principalmente por silte, enquanto os sedimentos mais grossos estão
presentes nos canais (Vital et al. 2008).

O estuário Ponta do Tubarão está sujeito à ação das marés, com amplitude de 3,3 a 0,9
metros (Ramos e Silva et al. 2010). A profundidade é relativamente baixa, atingindo até
55

7 metros nos principais canais (Vital et al. 2008). Esse estuário estende-se por cerca de
12 km e abriga quatro espécies de mangue: Lacungularia racemosa, Rhizophora mangle,
Avicennia sp. e Canocarpus eretus (Vital et al. 2008). A área do estuário faz parte da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão (RDSPT), unidade de uso
sustentável. Nessa unidade de conservação, a pesca, coleta de peixes, moluscos e
crustáceos são as principais atividades econômicas desenvolvidas pelos do entorno da
reserva (Dias et al. 2007). Nessa reserva, durante décadas as algas marinhas eram
coletadas, secadas e vendidas para a extração de ágar. Essa atividade por muito tempo foi
considerada como uma importante fonte de renda suplementar para a população local
(Marinho-Soriano, 2017).

Estações de Coleta

Para o presente estudo, seis (6) estações foram selecionadas de forma a contemplar
todo o gradiente existente no estuário. As posições das estações foram georeferenciados
e estão dispostas na Figura 1. A estação um (E1) foi posicionada na área estritamente
marinha; a estação 2 (E2) na foz do estuário; a estação três (E3) na entrada de um canal
de ligação com o mar; a estação quatro (E4) na área urbana, local de ancoragem de barcos;
a estação cinco (E5) na entrada de uma gamboa; e a estação seis (E6) na parte mais interior
do estuário.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo e das estações de coleta no estuário


Ponta do Tubarão, RN.
56

Procedimentos em campo e em laboratório

As coletas da água, sedimento e das macroalgas (Hypnea musciformis e Gracilariopsis


tenuifrons) e a medição dos parâmetros ambientais (temperatura, salinidade, oxigênio
dissolvido e pH) ocorreram em janeiro de 2013. Os parâmetros ambientais foram
registrados em cada estação usando sonda multiparâmetros (Hanna HI9828).
Simultaneamente a determinação dos parâmetros ambientais, as amostras de água
foram coletadas em frascos de polietileno (300 ml) as análises dos metais pesados [Cd
(cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco)]. Após a coleta,
os frascos foram devidamente identificados e mantidos em caixas isotérmicas até o
laboratório, mantendo-se a refrigeração a 4ºC até o momento das análises.
Amostras de sedimento foram coletadas (triplicatas), através de um testemunho de 10
cm de diâmetro por 20 cm de comprimento e obtidas em uma única profundidade de 0 a
5 cm. Em seguida, o material foi acondicionado em sacos plásticos identificados e
transportado até o laboratório em caixas isotérmicas, onde as amostras foram congeladas
e liofilizadas (Liotop L108) para as análises subsequentes.
Amostras das macroalgas H. musciformis e Gr. tenuifrons foram coletadas apenas nas
estações E1, E2, E3 e E6 e E1, E3 e E6, respectivamente, pois em algumas estações não
foi possível a quantificação desses metais devido à ausência dessas espécies. Cerca de
100 g de cada espécie foi coletada por estação. O material foi armazenado em sacos
plásticos, identificados e mantidos em caixas isotérmicas para o transporte até o
laboratório, onde as amostras foram liofilizadas, maceradas e mantidas a -80 ºC até a
realização das análises. As duas espécies de macroalgas foram selecionadas devido à sua
ocorrência e abundância nas estações de coletas.

Análises dos metais pesados

Para analisar as concentrações dos metais pesados do estuário Ponta do Tubarão, tanto
na água quanto no sedimento e nas macroalgas foram utilizados os métodos 3050B, para
abertura de amostras e 3051, para digestão de amostra, ambos métodos da Agência de
Proteção Ambiental Americana - EPA (Enviromental Protection Agency) (USEPA,
2017). Os elementos traços, Cd (cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni
(níquel) e Zn (zinco), das amostras foram lidos pela técnica da espectrometria de absorção
atômica com chama (F-AAS) pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do
Norte (EMPARN) (EMBRAPA SOLOS, 1997).
57

Análises estatísticas

Para a análise estatística, considerou-se como variável reposta as concentrações dos


metais pesados, em triplicata, nas seis estações de coleta. Foram empregados os testes
não paramétrico de Kruskal-Wallis para verificar as diferenças das concentrações dos
metais pesados entre as seis estações e o teste post-hoc Bonferroni para classificação das
médias. As análises foram feitas através do software Action, com nível de significância
de 5% (α = 0,05) para todos os testes (EQUIPE ESTATCAMP, 2017).

Resultados

Parâmetros ambientais

Todos os parâmetros ambientais mensurados estão sumarizados na Tabela 1. A


salinidade apresentou um valor médio de 40,16 ± 3,50 com máximo de 46,18 ± 2,17 na
E6, estação mais ao interior do estuário, e mínimo de 37,32 na E1, estação com maior
influência marinha. Diferenças significativas entre as estações foram observadas
(ANOVA, p < 0,05). Assim como a salinidade, a maior temperatura (33,50°C) foi
registrada na E6 e a menor (25,93°C) na E1. A média de temperatura entre todas as
estações foi 29,68 ± 2,15°C. Foram constatadas diferenças significativas entre as estações
(ANOVA, p < 0,001). O pH não apresentou grande variação nos valores, com média de
7,59 ± 0,15. Entretanto, diferenças significativas foram verificadas entre as estações
(ANOVA, p < 0,001). O oxigênio dissolvido variou entre 7,19 mg/L, registrado na E6, e
4,15 mg/L na E2. A média dos valores de oxigênio dissolvido foi de 5,24 ± 1,04 mg/L.
Houve diferenças significativas entre as estações (ANOVA, p < 0,001).

Tabela 1. Características físico-químicas da água do estuário do Rio Tubarão, Macau, Rio


Grande do Norte.
ANOVA
Parâmetros ambientais Mín – Máx Méd ± Desv pad
F P
Salinidade 37,32 – 46,18 40,16 ± 3,50 14.079,67 < 0,001*
Temperatura (°C) 25,93 – 33,50 29,68 ± 2,15 26,21 < 0,001*
pH 7,39 – 7,90 7,59 ± 0,15 29,50 < 0,001*
Oxigênio dissolvido (mg/L) 4,15 – 7,19 5,24 ± 1,04 505,94 < 0,001*
*diferenças significativas
58

Metais pesados na água

De forma geral, a E1, estação com maior influência marinha, foi a que apresentou as
maiores médias para todos os metais pesados analisados (Fig. 2). Houve uma tendência
de diminuição das concentrações dos metais em direção ao interior do estuário, E6. A
concentração do cádmio (Cd) manteve-se relativamente constante ao longo do estuário,
com média de 0,07 ± 0,01 mg/L. Assim como o Cd, o cobre (Cu) apresentou uma pequena
variação em sua concentração, com máximo de 0,08 mg/L na E1 e mínimo de 0,03 mg/L
na E4. O chumbo (Pb) foi o metal pesado com a maior concentração na coluna de água,
com média de 0,54 ± 0,09 mg/L. O maior valor foi constatado na E1 (0,75 mg/L) e o
menor na E4 (0,41 mg/L). O cromo (Cr) também exibiu uma leve flutuação em seus
valores entre as estações, com média de 0,08 ± 0,02 mg/L. A concentração de níquel (Ni)
foi a segunda mais elevada na coluna de água, com média de 0,28 ± 0,02 mg/L. A maior
concentração foi identificada na E1 (0,34 mg/L) e a menor na E4 (0,25 mg/L). Por fim, o
zinco (Zn) foi o elemento químico com menor concentração na coluna de água, com
média de 0,02 ± 0,01 mg/L. Diferenças significativas entre as estações foram observadas
para todos os metais (Kruskal-Wallis, p < 0,05).

Cd Cu Pb Cr Ni Zn
0,8 a
Concentração dos metais (mg/L)

0,6 b b
c c
d
0,4 a
a
b b b b a

0,2 aa a
ab c b b
a a a bb b b c b b
d cd
0,0
E1 E2 E3 E4 E5 E6
Estações

Figura 2. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais
pesados Cd (cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) na
coluna de água entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas.

Os valores médios dos metais pesados analisados na coluna de água do estuário Ponta
do Tubarão e os limites estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente
59

(CONAMA – Classe 1) e pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos


(USEPA/2006) estão sumarizados na Tabela 2. Observa-se que dentro desta categoria
(Classe 1) alguns valores se encontram acima do permitido.

Tabela 2. Valores das concentrações médias (mg/L) dos metais pesados na coluna de água
do estuário Ponta do Tubarão e valores limites para o CONAMA e a USEPA.
Metais pesados Presente estudo CONAMA¹ USEPA²

Zn 0,020 0,090 0,005


Cu 0,050 0,005 0,100
Ni 0,270* 0,025 0,020
Pb 0,540* 0,010 0,030
Cd 0,070* 0,005 0,030
Cr 0,080* 0,050 0,050
¹Valores extraídos da Resolução 430/2011 do CONAMA para classe 1, águas salinas.
²Valores limites de metais pesados na coluna de água pela USEPA (2006).

Metais pesados no sedimento

A E4, local na área urbana e de ancoragem de barcos, e a E6, na parte mais interior do
estuário, de forma geral, foram as estações com a maior e menor concentração dos metais
pesados no sedimento, respectivamente (Fig. 3). O maior valor de Cd foi constatado na
E5 (0,78 mg/dm³), enquanto o menor na E6 (0,11 mg/dm³), com média de 0,36 ± 0,18
mg/dm³. O Cu, com média de 1,27 ± 2,51 mg/dm³, apresentou grande variação em sua
concentração, com máximo de 6,58 mg/dm³ na E4 e mínimo de 0,19 mg/dm³, na E6. O
Pb novamente foi o elemento com maior concentração média, com 3,76 ± 1,89 mg/dm³.
A maior concentração foi 7,65 mg/dm³ na E4 e a menor foi 2,58 mg/dm³ na E2. Houve
uma pequena flutuação nos valores de Cr, com média de 0,38 ± 0,08 mg/dm³ e máximo
de 0,60 mg/dm³ na E6 e mínimo de 0,21 mg/dm³ na E4. O Ni apresentou média de 1,25
± 0,29 mg/dm³ e não exibiu um padrão em sua concentração no estuário, com o maior
valor na E6 (1,87 mg/dm³) e menor na E3 (0,87 mg/dm³). Por último, o Zn foi o segundo
metal pesado com maior concentração no sedimento e maior variação (0,38 mg/dm³, na
E5 e 15,68 mg/dm³, na E4). A concentração média desse metal foi 3,39 ± 5,97 mg/dm³.
Houve diferenças significativas ao longo do estuário para todos os metais (Kruskal-
Wallis, p < 0,05).
60

Cd Cu Pb Cr Ni Zn
18,0

Concentração dos metais (mg/dm³)


a

13,5

9,0 a
a
4,5 b e b ab c d a
a b
bc ab b ab c b b bc bcb a a
cd b bc a c bc ab c d c a bc
0,0
E1 E2 E3 E4 E5 E6
Estações

Figura 3. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais
pesados Cd (cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) no
sedimento entre as estações. Diferentes letras indicam diferenças significativas.

As concentrações médias dos metais pesados analisados no sedimento do estuário


Ponta do Tubarão e os limites estabelecidos pelo CONAMA e pela USEPA estão expostos
na Tabela 3. Observa-se que os valores de todos os metais pesados estão abaixo do
estabelecidos pelo CONAMA e pela USEPA.

Tabela 3. Valores das concentrações médias dos metais pesados no sedimento do estuário
Ponta do Tubarão e valores limites para o CONAMA e a USEPA.
Metais pesados Presente estudo CONAMA¹ USEPA²

Zn 3,39 150 90-200


Cu 1,27 34 25-50
Ni 1,25 20,90 20-50
Pb 3,76 46,70 40-60
Cd 0,36 1,20 ---
Cr 0,38 81 25-27
¹Valores extraídos da Resolução 344/2004 do CONAMA para água salinas - salobras, de nível 1: limiar
abaixo do qual prevê-se baixa probabilidade de efeitos adversos à biota.
²Valores limites de metais pesados no sedimento pela USEPA (91986) para classificação dos solos
moderadamente poluídos.
61

Metais pesados nos tecidos das algas

Houve uma tendência de diminuição nas concentrações da maioria dos metais pesados
da região de maior influência marinha (E1), à parte mais ao interior do estuário (E6), nos
tecidos da macroalga H. musciformis (Fig. 4). O Cd apresentou a menor variação (2,40
mg/kg.dw na E1 e 1,00 mg/kg na E3) comparada à dos outros metais e média de 1,74 ±
0,51 mg/kg.dw. O Cu foi o metal pesado com a maior variação (5,00 mg/kg.dw na E3 e
E6 e 34,00 mg/kg.dw na E1) e maior concentração (15,06 ± 13,38 mg/kg.dw). O Pb foi o
segundo elemento com maior concentração nos tecidos da macroalga H. musciformis,
com média de 14,20 ± 4,27 mg/kg.dw. O maior valor (19,00) foi identificado na E1 e o
menor (9,00) na E6, exibindo assim uma diminuição gradativa da área estritamente
marinha à região mais ao interior do estuário. O Cr apresentou a maior concentração na
E2 (13,40 mg/kg.dw) e menor na E6 (8,00 mg/kg.dw), com média de 11,16 ± 2,21
mg/kg.dw. O Ni exibiu a menor variação ao longo do estuário, com média de 9,79 ± 0,45
mg/kg.dw. O maior valor (10,50 mg/kg.dw) foi encontrado na E6 e o menor (9,00
mg/kg.dw) na E1 e E2. Assim como o Cr, o Zn apresentou o máximo na E2 (24,10
mg/kg.dw) e o mínimo na E6 (7,80 mg/kg.dw), com média de 14,13 ± 6,56 mg/kg.dw.
Diferenças significativas para todos os metais foram verificadas ao longo do estuário
(Kruskal-Wallis, p < 0,05).
62

Cd Cu Pb Cr Ni Zn
38,0
a

Concentração dos metais (mg/kg)


28,5 a
a
19,0 a b
a c b b
cbc b a dda d
9,5 b b
a a b b
0,0
E1 E2 E3 E6
Estações

Figura 4. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais
pesados Cd (cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) no
tecido da macroalga Hypnea musciformis entre as estações. Diferentes letras indicam
diferenças significativas.

Assim como em H. musciformis, houve um padrão geral de decréscimo nas


concentrações dos metais no tecido da macroalga Gr. tenuifrons da E1 para a E6 (Fig. 5).
O Cd permaneceu relativamente estável entre as estações, com média de 1,25 ± 0,09
mg/kg. O Cu foi o segundo elemento mais abundante no tecido algal de Gr. tenuifrons,
com média de 5,85 ± 3,54 mg/kg. O maior valor desse elemento foi identificado na E1
(9,40 mg/kg) e o menor na E6 (2,00 mg/kg). O Pb, com média de 3,80 ± 2,95 mg/kg,
apresentou uma variação de 7,20 mg/kg na E1 e 1,00 na E3. O Cr exibiu uma tendência
de diminuição da E1 (4,30 mg/kg) para a E6 (1,00 mg/kg), com média de 2,80 ± 1,52
mg/kg. Com o padrão inverso ao do Cr, o Ni apresentou o maior valor na E6 (5,80 mg/kg)
e o menor na E1 (2,00 mg/kg). A média desse metal foi 4,32 ± 1,71 mg/kg. Por fim, o Zn
variou consideravelmente pouco entre as estações, com média de 10,12 ± 0,55 mg/kg e
máximo de 11,00 mg/kg na E2 e mínimo de 9,50 mg/kg na E1. Foram constatadas
diferenças significativas para todos os metais entre as estações (Kruskal-Wallis, p < 0,05).
63

Cd Cu Pb Cr Ni Zn
38,0

Concentração dos metais (mg/kg)


28,5

19,0
b a b
a
9,5 a b a a
a b b
a b a c a c c
0,0
E1 E3 E6
Estações

Figura 5. Variação dos valores médios ± desvio padrão das concentrações dos metais
pesados Cd (cádmio), Cu (cobre), Pb (chumbo), Cr (cromo) Ni (níquel) e Zn (zinco) no
tecido algal de Gracilariopsis tenuifrons entre as estações. Diferentes letras indicam
diferenças significativas.

Análise de correlação

Os dados obtidos para a concentração de metais das macroalgas, mostraram que


existe relação entre os níveis de metais nas espécies e os compartimentos abióticos água
e sedimento, como mostrado pelos testes de correlação de Spearman (p<0,05).
Correlações positivas foram registradas entre Gr tenuifrons e a concentração de Pb
(r=0,93), Cu (r=0,71) e Cr (0,78) na água. H. musciformis apresentou correlação com Pb
(r=0,59), Cu (r=0,86) e Cd (r=0,81) também na água. No sedimento, as duas espécies
apresentaram correlação positiva com o Cu (H. musciformis, r=0,70; Gr tenuifrons,
r=0,67). Uma Correlação negativa também foi encontrada entre Gr tenuifrons e o Ni na
água (r -0,81) e sedimento (r= -0,83). Correlações entre os metais também foram
registradas. A concentração do cádmio na água mostrou uma correlação positiva com o
Cu (r=0,64), Pb (r=0,75), Cr (r=0,55) e com o Zn (r=0,49); o cobre correlacionou com o
Pb (r=0,61), Cr (r=0,93), Ni (r=0,55) e o Zn (r=0,89); o chumbo com o Cr (r=0,49), Ni
(r=0,63), Zn (r=0,50); o cromo com o Ni (r=0,55) e Zn (r=0,92); o zinco mostrou
correlação com todos os metais analisados; Cd (r=0,49), Cu (r=89), Pb (r=0,50), Cr
(r=0,92) e o Ni (r=0,57). Os resultados dessas correlações indicam que existe uma origem
comum como fonte desses metais.
64

Discussão

A concentração de metais na água foi comparada com diretrizes de padrão de


qualidade da água, internacional (USEPA) e nacional (CONAMA). As concentrações da
maioria dos metais na coluna de água apresentaram valores superiores aos apontados pelo
CONAMA (Classe 1), com exceção das concentrações de cádmio e cobre, no presente
estudo, foram mais baixas do que as especificadas pela Agência de Proteção Ambiental
dos Estados Unidos (USEPA). Além disso, os valores de cromo (0,08 mg/L) foram muito
próximos aos valores recomendados pelo CONAMA e pela USEPA (0,05 mg/L).
Contudo, de acordo com a classificação desses órgãos ambientais (Classe 1), os valores
de chumbo, níquel e zinco evidenciam uma leve contaminação das águas superficiais por
esses metais. Vale salientar, no entanto, que as concentrações dos metais obtidas neste
estudo quando comparados com outros estudos indicam valores mais baixos do que os
níveis reportados para locais não poluídos ou com moderado e alto impacto antropogênico
(Lawson, 2011; Lacerda et al. 2013; Chkraborty & Owens,2014).
A distribuição espacial da concentração de metais é um instrumento útil para avaliar
as possíveis fontes de metais e para identificar área “hotspot” com alta concentração de
metal (Chakraborty and Owens 2014). Considerando a distribuição espacial dos metais
no estuário Ponta do Tubarão, observa-se uma tendência de diminuição de todos os
elementos em direção à porção mais interior do estuário. Assim, ficou caracterizado que
a E1 deteve a maior média para todos os metais analisados. Esta estação encontra-se
localizada na área rasa da plataforma continental e é adjacente à maior bacia de
exploração de petróleo da costa nordeste do Brasil. Um estudo de monitoramento
realizado por Lacerda et al. (2013), na área de exploração de petróleo na Bacia Potiguar,
determinou concentrações bem similares às encontradas neste estudo para essa estação
(E1). De acordo com esses autores (Lacerda et al. 2013), as concentrações dos metais
encontravam-se dentro da variação esperada de concentrações para águas costeiras não
contaminadas e abaixo do limite legal brasileiro para concentrações de metal na água do
mar.
Enquanto a concentração dos metais na água tende a ser transitória e sujeita às
correntes que rapidamente dispersam e diluem a concentração dos metais, a análise do
sedimento fornece indicação mais fidedigna da exposição do contaminante no ambiente
(Chakraborty and Owens 2014). De acordo com os resultados obtidos, as concentrações
de metais registradas no sedimento, foram bem abaixo dos valores limites de referência
65

do CONAMA e da USEPA (Tabela 3). Além disso, as concentrações obtidas no presente


estudo, quando comparadas com a literatura, eram significativamente mais baixas do que
os níveis registrados em diferentes áreas do mundo (Tabela 5).

Tabela 5. Concentração média (mg/kg) de metais pesados registrados no sedimento do


estuário Ponta do Tubarão comparada a estudos realizados no Brasil e em outras partes
do mundo.
Sedimento Cd Cu Pb Cr Ni Zn

Reitermajer et al. (2011) - Brasil --- 11,54 8,77 13,36 --- 1,14

Li et al. (2012) - China 26,81 74,11 123,98 --- 43,47 689,39

Stephen-Pichaimani et al. (2008) - Índia 0,16 57 16 --- 24 73

Giusti (2001) - Inglaterra --- 12 20 15 23 11,3

Gomes et al. (2009) - Brasil 3,22 31,9 40 --- 22,3 567

Alba et al. (2011) - Espanha 0,3 17 24 --- 65 73

Olivares-Rieumont et al. (2005) - Cuba 4,30 420,8 189,0 23,40 --- 708,8

Veinott et al. (2003) - Canadá --- 14 31 --- 37 67

Liu et al. (2009) - China 0,37 178,61 38,29 152,73 --- 25,66

Presente estudo - Brasil 0,36 1,27 3,76 0,38 1,25 3,39

Em geral, a concentração de metais no sedimento é resultado da taxa de sedimentação


das partículas, conteúdo de matéria orgânica e do tamanho das partículas (Phillips and
Rainbow 1994). No presente estudo, diferenças significativas foram observadas para
todos os metais ao longo do estuário. A maior concentração de metais foi registrada na
E4, que se encontra localizada em área urbana. Nessa estação, as concentrações
apresentaram a seguinte ordem decrescente de abundância: Zn > Pb > Cu > Ni > Cd > Cr
(Fig. 3). Esta área é caracterizada por apresentar sedimentos finos e apresenta condição
hidrodinâmica de baixa energia. Além disso, é local de despejo de águas usadas, resíduos
de processamento de pescado e é também área de ancoradouro de barcos de pesca. Assim,
estes resultados sugerem que a distribuição de Zn, Pb e Cu tende a ser em grande parte
afetada por atividades antrópicas. Machado et al. (2002) investigaram a retenção de
metais pesados na Baía de Guanabara e identificaram que as maiores concentrações
desses metais se encontravam perto das zonas urbanas e zonas industriais.
As principais fontes de chumbo para os ecossistemas aquáticos estão associadas a
efluentes industriais e águas residuais. O chumbo é aplicado em diversos processos
industriais, como, por exemplo, na fabricação de catalisadores, tintas anti-incrustantes e
inibidores da corrosão do aço e agentes biocidas. O chumbo pode também ser encontrado
66

igualmente no petróleo e seus subprodutos. Por outro lado, as tintas anti-fouling possuem
quantidades significativas de óxidos de cobre em sua composição (Valkirs et al. 2003).
Considerando que a E4 é local de ancoradouro de barcos, o aporte significativo de
chumbo e cobre nessa estação pode ser proveniente das tintas anti-incrustantes utilizadas
na pintura das embarcações e do derrame acidental de combustível no momento do
abastecimento. Assim como o chumbo e cobre, o zinco foi também encontrado em altas
concentrações. Essa presença marcante pode estar associada à grande quantidade de lama
(partículas finas) na E4 que aprisiona esse metal. Efluentes domésticos podem ser fontes
de chumbo e zinco para as águas receptoras (Novotny 1995).
O cobre, chumbo e zinco foram os metais dominantes nas duas macroalgas estudadas
(Fig. 4 e Fig. 5). A espécie H. musciformis acumulou uma concentração
significativamente maior desses elementos do que Gr. tenuifrons, sugerindo diferente
capacidade de acumulação entre espécies. Além disso, os metais cádmio, cromo e níquel
também estiveram presentes em maiores concentrações em H.musciformis. Esta diferença
pode estar associada a fatores fisiológicos intrínsecos a cada espécie. De acordo com a
literatura (Lobann and Harrison, 1997; Millward and Turner 2001), fatores fisiológicos
tais como, resposta fotossintética, taxa de crescimento, tipo de polissacarídeo e absorção
de nutrientes afeta a absorção dos diferentes metais.
Os metais são absorvidos passiva e ativamente pelas algas. Alguns metais, como, por
exemplo, o chumbo, pode ser adsorvido passivamente pelos polissacarídeos nas paredes
e matriz intercelular, enquanto outros metais (Zn, Cd) podem ser absorvidos ativamente.
Com efeito, algumas espécies podem produzir compostos extracelulares que facilitam a
ligação com certos metais. Estudos realizados com carragenófitas têm mostrado uma
efetiva ligação de metais pesados, tais como o chumbo e cádmio, através de um
mecanismo de trocas (Lobban and Harrison 1997). Nesse sentido, os diferentes resultados
têm demonstrado que a capacidade de ligação do metal está relacionada com a quantidade
de grupamento sulfato da carragenana (Estevez et al. 2002). Considerando que espécies
de Hypnea são produtoras de carragenana, que são polissacarídeos altamente sulfatados
e Gracilariopsis produtoras de ágar, isto talvez explique a maior concentração de metais
em H. musciformis em relação à Gr. tenuifrons nesse estudo.
Variações interespecíficas na acumulação de metais têm sido atribuídas também às
diferenças morfológicas. Nesse estudo, as duas espécies possuem morfologias distintas.
H. musciformis apresenta muitas ramificações de aspecto delicado, enquanto Gr.
tenuifrons apresenta morfologia cilíndrica e alongada. Stengel et al. (2004) mostraram
que algas filamentosas ramificadas concentram mais zinco em seus tecidos. Esses
67

resultados corroboram com as observações do presente estudo, os quais mostram que H.


musciformis contém níveis significantemente mais altos de zinco, quando comparada com
Gr. tenuifrons.
Estudos das implicações ecológicas sobre a absorção de metais têm mostrado que a
variação dos metais pesados nas espécies de diferentes localidades, pode estar relacionada
não somente, a concentração de metais no meio, mas também a fatores tais como, variação
das marés, nutrientes, idade da planta e estrutura geológica do local de estudo (Abdallah
and Abdallah, 2008). No presente estudo, as maiores concentrações de chumbo, cobre e
zinco, foram observadas na E1 e E2 (Fig. 4 e 5), as quais são mais expostas ao movimento
da água, ondas e ventos. O efeito sinérgico desses fatores causa maior agitação e mistura
da água, o que pode ter facilitado a maior absorção dos metais pelas algas. Ao contrário,
as estações situadas na porção mais interior do estuário apresentaram os valores mais
baixos de metais. Essas estações estão mais abrigadas dos fatores hidrodinâmicos e são
consideradas áreas de baixa energia. A exposição das algas aos fatores dinâmicos, ventos
e movimento da água, são as possíveis razões dadas por Dadolahi-Sohrab et al. (2011),
para explicar a maior concentração de chumbo, cobre e cádmio em espécies dos grupos
Chlorophyta, Ochrophyta e Rhodophyta.
Por outro lado a concentração de metais na água nessas duas estações, certamente
reflete os níveis de metais nos tecidos algais e sugerem que as principais fontes desses
metais se encontravam mais biodisponíveis nessas estações. A relação entre concentração
e metais na água e macroalgas também ficou evidenciada pelas correlações positivas
encontradas entre esses metais e os tecidos algais.

Conclusão
A análise da distribuição de metais na água do estuário Ponta do Tubarão, mostrou que
embora a concentração de alguns metais se encontrasse em níveis mais altos do que os
valores apontados pelo CONAMA (Classe 1), eles estiveram bem abaixo dos níveis
reportados para locais não poluídos e com moderado e alto impacto antropogênico. A
estação que apresentou as maiores concentrações de metais pesados na água (E1) está
situada na área rasa da plataforma continental e adjacente a área de exploração de
petróleo. As menores concentrações dos metais foram registradas na porção mais interior
do estuário.
Em relação ao sedimento observa-se que, os valores de concentração de metais obtidos
nesse estudo eram inferiores aos níveis de referência do CONAMA e USEPA. Os maiores
valores de metais pesados foram registrados na E4, que está localizada em área urbana.
68

Nessa estação, as concentrações apresentaram a seguinte ordem decrescente de


abundância: Zn > Pb > Cu > Ni > Cd > Cr. A E4 é caracterizada por apresentar sedimentos
finos e hidrodinâmica de baixa energia. Além disso, é local de descarga de águas
residuais, rejeitos de processamento de pescado e é também local de ancoradouro de
barcos de pesca. Os resultados indicam que a distribuição de Zn, Pb e Cu tende a ser em
grande parte afetada por atividades antropogênicas realizadas nessa área.
As mudanças nos níveis dos diferentes metais seguiram um modelo de distribuição
espacial bastante similar nas duas macroalgas estudadas (H. musciformis e Gr.
tenuifrons). Este modelo foi mais acentuado nos níveis de cobre, chumbo e zinco, nas
estações mais próximas do mar. Estas observações sugerem que fatores dinâmicos, como
por exemplo, movimento da água, ondas e marés, desempenham papel importante na
absorção dos metais.
As duas espécies mostraram ter capacidade para acumular metais, várias vezes maior
em ordem de grandeza, do que os compartimentos abióticos, água e sedimento.
Considerando que as macroalgas estão na base da cadeia alimentar e que servem de
alimento para diversos animais como invertebrados e peixes herbívoros, esses metais
potencialmente tóxicos podem eventualmente ser transferidos para os níveis mais altos
da cadeia trófica, incluindo o homem.
A comparação entre as duas espécies para o acumulo de metais, mostra que H.
musciformis concentra mais metais do que Gr tenuifrons para todos os metais. Entretanto,
a habilidade das duas espécies em acumular metais pesados em seus tecidos, faz com que
esses organismos sejam considerados bons bioindicadores e biomonitores para o estuário
Ponta do Tubarão.

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73

CAPÍTULO 3

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS EXTRATIVISTAS EM RESERVA AMBIENTAL


NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Klégea Maria Câncio Ramos Cantinhoa; Eliane Marinho-Sorianoa

ESTE ARTIGO FOI PUBLICADO NO PERIÓDICO REVISTA EDUCAÇÃO


AMBIENTAL E AÇÃO, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS
RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA (HTTP://WWW.REVISTAEA.ORG/)
a
Department of Oceanography and Limnology, Federal University of Rio Grande do Norte,
Natal, Brazil. E-mail: [email protected] – Tel.: (84)3342-4950.

RESUMO

A preocupação com a conservação dos ambientes naturais levou a criação das


unidades de conservação, seja de uso direto ou de uso indireto. A Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, aloja comunidades que
desenvolvem como atividades principais a pesca e a coleta de mariscos. A criação da
reserva diferencia-se das demais por ter sido uma iniciativa da própria comunidade. A
percepção ambiental destes atores extrativistas foi estudada buscando mensurar o
entendimento ambiental da população através da aplicação de questionários
semiestruturados. Após o levantamento dos dados, os entrevistados, em sua maioria,
mostraram-se conscientes dos problemas ambientais locais e tiveram o sentimento
de pertencimento ao local, porém o engajamento e a participação da comunidade não
são mais efetivos como no início da criação da reserva.

Palavras-chave: Unidade de conservação. Educação ambiental. População ribeirinha.

1. INTRODUÇÃO

A excessiva exploração dos recursos naturais tem suscitado debates sobre


questões relacionadas à conservação da biodiversidade. Assim, a criação de áreas
protegidas surgiu como uma estratégia para conservar os recursos naturais, reduzir
as atividades antrópicas e proteger habitats e espécies ameaçadas. A proposta inicial
de criação de unidades de conservação (UCs), surgida nos Estados Unidos, tinha
como ideia primordial a preservação dos ecossistemas sem as alterações causadas
por interferência humana. Este modelo sugeria que o estabelecimento do homem
nessas unidades de conservação ocasionava impactos negativos ao meio ambiente.
Para os preservacionistas americanos, todos os grupos sociais eram iguais e a
natureza deveria ser mantida intocada das ações negativas da humanidade
(DIEGUES, 1993). A aplicação desse modelo contribuiu consideravelmente para o
aumento dos conflitos entre populações nativas extrativistas e defensores
preservacionistas
As UCs são estratégicas para a conservação da biodiversidade. Entretanto,
para que estas áreas desempenhem o seu papel para o qual foram criadas, é preciso
um esforço conjunto, que vai além de sua criação. Para isso, é necessário o
estabelecimento de novos valores, conceitos e formas de relação dos diferentes
setores da sociedade com o meio ambiente (DICK, DANIELI e ZANINI, 2012). As
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unidades de conservação de uso sustentável têm como principal papel compatibilizar


a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais.
No Brasil, a lei versa que a criação de uma UC deva ser baseada na pesquisa-
científica visando a proteção à vida selvagem, às espécies e a diversidade genética;
a manutenção dos serviços ambientais; a proteção de aspectos naturais e culturais
específicos; a recreação, turismo e ao uso sustentável dos recursos naturais (BRASIL,
2000). Dentre as UCs, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) pode
abrigar populações tradicionais, buscando o extrativismo sustentável dos recursos
naturais e melhoria na qualidade de vida regional, respeitando e aperfeiçoando o
conhecimento local (BRASIL, 2000). Atualmente existem 22 RDS e 21 reservas
extrativistas marinhas federais (MMA, 2009). Ao contrário das Reservas Extrativistas
que são áreas utilizadas por populações tradicionais, cuja subsistência baseia-se no
extrativismo, as RDS devem se restringir as atividades tradicionalmente
desenvolvidas pela comunidade, que sejam adequadas por um plano emergencial de
uso sustentável dos recursos e que sejam baseados na sustentabilidade ambiental,
aumento da produtividade, agregação de valor dos recursos, e prestação de serviços
(VIANA, 2007).
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual da Ponta do Tubarão
(RDSEPT) situada no litoral do Rio Grande do Norte foi criada em 2003, após forte
mobilização da comunidade local para proteção da área estuarina e seu entorno e do
seu modo de vida tradicional. Fazem parte da Reserva diversos ecossistemas,
incluindo área marinha, estuário, restinga, dunas e manguezais (SANTOS, 2008). Os
habitantes dessa reserva vivem essencialmente da pesca artesanal e da coleta de
mariscos. A captura de pescado é realizada no mar e na área estuarina, enquanto a
coleta de mariscos e caranguejos se restringe aos manguezais em dias de maré baixa.
Estudos relacionados à gestão dos recursos naturais destacam a importância
de compreender e incorporar as percepções locais em iniciativas de conservação
(DIEGUES, 2001). Por outro lado, os estudos sobre percepção dos recursos
ambientais determinam não somente como o recurso é utilizado, mas também o seu
valor relativo para a comunidade. O presente estudo tem como objetivo analisar a
percepção ambiental dos pescadores e catadores de mariscos da RDSEPT de modo
a subsidiar a gestão da reserva.

2. METODOLOGIA

2.1 Caracterização da área de estudo

O Estado do Rio Grande do Norte possui nove unidades de conservação


estaduais e a única Reserva de Desenvolvimento Sustentável é a Ponta do Tubarão
– RDSEPT (IDEMA, 2008), A unidade de conservação encontra-se na região
setentrional do estado com uma área total de 12.960 ha (5°2’S e 5°16’S – 36°23’W e
36°32’W), incluindo a parte marinha que se estende por duas milhas da linha da costa
(Figura1). A diversidade paisagística na reserva é caracterizada pela presença de
manguezais, restingas, dunas e tabuleiros (SOARES, 2011).
A reserva foi criada pela lei estadual nº 8.349/2003, por iniciativa da
comunidade local, sendo a primeira reserva de desenvolvimento sustentável do
estado do Rio Grande do Norte e a segunda do país (COSTA, 2010). A mobilização
da população foi devido a expansão do turismo imobiliário, instalações de cadeias
hoteleiras, o avanço da carcinicultura e a exploração petrolífera. Esses foram fatores
determinantes para que a população de forma organizada reivindicasse a criação da
reserva (MAMERI, 2011).
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A RDSEPT é composta por comunidades tradicionais dos municípios de


Macau (Barreiras, Diogo Lopes, Sertãozinho, Chico Martins, Cacimba Baixa, Baixa do
Grito, Varjota, Canto de Imburana e Pau Feito) e de Guamaré (Mangue seco I, Mangue
Seco II e Lagoa Doce). As comunidades de Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho,
correspondem a 90% do total da reserva. A pesca, nas duas primeiras comunidades,
é a principal atividade econômica, anualmente são pescados 260 toneladas de
sardinha e 370 toneladas de peixe voador. Além da pesca, a coleta de mariscos nos
manguezais é a segunda atividade que apresenta importância na renda familiar, essas
não competem entre si, mas se complementam por não haver disputa de ambientes
para o extrativismo destes organismos (IDEMA, 2008).

2.2 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas, utilizando questionários


semiestruturados na zona litorânea da RDSEPT, abrangendo as comunidades de
Barreiras, Sertãozinho e Diogo Lopes. As questões abordavam aspectos
socioeconômicos e ambiental, além de percepção e entendimento da população em
relação a RDSEPT. Um total de 72 questionários foi aplicado junto aos integrantes da
Associação dos Pescadores da Ponta do Tubarão Z-41. O cálculo do número amostral
foi baseado na proporção populacional de pescadores e marisqueiras, com o erro
amostral de 0,1%, seguindo a seguinte fórmula (LEVIN, 1987).

Na qual:
n = amostra calculada
N = população
Zα/2 = variável crítica que corresponde ao grau de confiança desejado
p = proporção populacional de indivíduos que pertence à categoria
q = proporção populacional de indivíduos que não pertence à categoria
E= erro amostral
O tratamento dos dados se deu a partir da interpretação dos questionários,
buscando analisar e caracterizar a percepção através da familiaridade com o tema
meio ambiente e a concepção de degradação do meio (WHYTE, 1978; BARDIN,
2009).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram aplicados 72 questionários, a maioria dos entrevistados eram da


comunidade de Diogo Lopes (70,83%), seguidos pela comunidade de Barreiras
(22,22%) e Sertãozinho (6,94%). A faixa etária dos entrevistados variou dos 21 aos
60 anos (n=72). Desse total, 55% pertenciam ao sexo masculino e 44% ao sexo
feminino. Em relação ao grau de escolaridade, 71% dos entrevistados disseram que
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possuíam ensino fundamental incompleto, 9,7% possui ensino fundamental completo,


6,9% responderam não ter estudado. Apenas 2,7% afirmaram ter ensino superior
completo (Tabela 1)

Tabela 1. Perfil dos entrevistados em percentual e números


absolutos. Macau, RN (2012)
Característica % N
Localidade
Barreiras 22,22 16
Diogo Lopes 70,83 51
Sertãozinho 6,94 5
Idade
21-30 6,94 5
31-40 26,39 19
41-50 43,06 31
51-60 23,61 17
Gênero
Masculino 55,56 40
Feminino 44,44 32
Estado Civil
Solteiro 2,72 2
Casado 97,22 70
Escolaridade
Analfabetos 6,94 5
Ens. Fund. Incompleto 70,83 51
Ens. Fund. Completo 9,72 7
Ens. Médio Incompleto 4,17 3
Ens. Médio Completo 5,56 4
Ens. Superior Incompleto 0,00 0
Ens. Superior Completo 2,78 2
Renda
R$456-R$555 19,44 14
R$556-R$655 29,17 21
R$656-R$755 12,50 9
R$756-R$855 19,44 14
R$856-R$955 15,28 11
R$956-R$1055 2,78 2
R$1156-R$1255 1,39 1
Recebem Bolsa Família
Sim 47,22 34
Não 38,00 52,78
N° de membros
2 pessoas 11,11 8
3 pessoas 4,17 3
4 pessoas 40,28 29
5 pessoas 27,78 20
6 pessoas 16,67 12

A maioria dos entrevistados era homens, casados, com a idade entre 41 e 50


anos, possuíam o ensino fundamental incompleto e renda mensal variando de
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R$556,00 a R$665,00. Este grupo em geral tem quatro membros familiares sob sua
responsabilidade e recebe auxilio do governo federal através do Programa Bolsa
Família e em média dois membros contribuíam para a renda familiar. Esse foi um perfil
bastante semelhante ao encontrado em outros trabalhos que tem como objeto de
estudo comunidades ribeirinhas (CARVALHO et al., 2012; FIGUEIREDO e MAROTI,
2011; PACHECO e SILVA, 2009).
De acordo com os dados, foram entrevistados 39 homens pescadores e 11
mulheres pescadoras, enquanto que apenas um homem marisqueiro foi entrevistado
e 21 mulheres marisqueiras. Portanto, os pescadores em sua maioria foram homens
e os catadores de mariscos foram mulheres, geralmente o marido é o pescador e a
esposa é marisqueira, inclusive foi observado que os filhos menores ajudam as mães
a catar mariscos e os maiores os pais a pescar. Essa relação do gênero com o tipo
de atividade extrativista estar enraizada culturalmente na região e é passada de
geração em geração.
Nesta pesquisa, não foram encontrados catadores de caranguejo, isso pode
ser explicado pelo fato da amostra ter sido aleatória e dependente do local de saída
dos barcos.
Para o estudo da percepção ambiental a primeira pergunta foi para
conceituarem, do ponto de vista individual, o que é o meio ambiente. A partir desse
ponto de partida foi possível dividir as respostas em quatro categorias:(1) conhece o
significado da palavra meio ambiente, mas não sabe expressar em palavras o conceito
(23,61%); (2) o meio ambiente é sinônimo de preservação (22,22%); (3) o meio
ambiente são todos os elementos do entorno, como a casa, os animais e as plantas
(43,06%), e (4) o meio ambiente é o trabalho de forma sustentável (11,11%).
Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA (306/2002), o
meio ambiente é:

[...] o conjunto de condições, leis, influencia e interações de


ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística,
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

O conceito meio ambiente é complexo para a definição da maioria, assim,


todas as respostas se inter-relacionaram. Segundo Reigota (2002), quando o
indivíduo reconhece que o meio ambiente são os elementos naturais pertencentes ao
seu espaço, a definição intrínseca individual é considerada como sinônimo de
natureza. Enquanto que aqueles que responderam que o meio ambiente eram as
ações ambientais corretas, o conceito está ligado aos mecanismos que de
preservação da natureza (HOEFFEL et al., 2008).
A compreensão do meio ambiente como uma rede complexa que envolve
vários atuantes culturais, biológicos, físicos e sociais não fazia parte do entendimento
dos entrevistados, concluindo que as várias maneiras de entender o meio ambiente
podem gerar conflitos entre os diferentes grupos socioculturais (HANNIGAN, 2002;
YEARLEY, 2002; HOEFFEL et al., 2008).
Mediante o segundo questionamento, indagou-se dos entrevistados, quais os
elementos que fazem parte do meio ambiente. A maioria relatou que todos os
elementos era a natureza (55,56%), apenas uma minoria acrescentou a si próprio na
resposta (44,44%). O fato de poucos terem se elencado como elemento pertencente
ao ambiente é devido ao modelo atual da civilização, pois é comum o homem se
desvincular do meio ambiente, dificultando a sua percepção em relação às atitudes
individuais ou coletivas, bem como as consequências para o meio e os demais seres
viventes dele (PALMA, 2005).
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A pesca e a coleta de mariscos são as atividades que têm papel principal na


economia local e a inclusão do “eu” no meio ambiente, causaria o aumento na vontade
em desenvolver a atividade de forma sustentável, buscando promover impactos
mínimos ao ambiente.
O terceiro questionamento foi a respeito de como as informações sobre meio
ambiente chegaram até eles. Todos responderam que obtiveram através de palestras,
cursos, reuniões, aulas, etc. Com efeito, ao mesmo tempo em que alguns
entrevistados não souberam conceituar “meio ambiente” ou elencar elementos
pertencentes a este, existe o conhecimento ou familiarização sobre o tema ambiental
na comunidade, pois todos os participantes da pesquisa, já ouviram palestras sobre o
assunto ou participaram com afinco em debates sobre a RDSEPT.
Através do quarto questionamento feito aos entrevistados, procurou-se saber
quais eram os problemas ambientais detectados na reserva. Sobre esse tema pode-
se dividir os entrevistados em dois grupos: (1) o grupo que apontou os problemas
ambientais e quem seria os agentes causadores (62,5%), (2) e o grupo que disse não
perceber ou ver problemas ambientais (37,5%), coincidentemente, esses mesmos
responderam, em questões anteriores, que não saberiam dizer, ou expressar em
palavras o conceito de meio ambiente.
De acordo com Aretano (2013), as populações que vivem em comunidades
são conscientes da paisagem e da dinâmica, porém não percebem as alterações
feitas no seu meio. Os problemas ambientais apontados foram: esgoto (37,4%), lixo a
céu aberto (52,5%), poluição do Rio Tubarão consequente do descarte das vísceras
dos peixes pelos pescadores (10,1%). Reclamaram ainda do mau cheiro em algumas
localidades no rio e apontaram como agentes causadores a comunidade.
Os entrevistados que apontaram os problemas ambientais, foram
questionados sobre quem deveria solucionar os problemas. As respostas foram que
a Prefeitura do Município de Macau deveria solucionar (26,39%), na mesma
proporção, disseram que deve haver uma ação conjunta entre a população e a
Prefeitura, outros falaram que a conscientização da população resolveria os
problemas ambientais (9,72%) e em maior proporção não souberam apontar quem
deveria resolver (37,5%).
Paradoxal foi o aspecto apontado pelos entrevistados, sobre a consciência da
população como uma medida mitigadora ambiental, pois a iniciativa da criação da
reserva partiu da comunidade, isto demonstra que a criação da reserva foi um
mecanismo de defesa dos recursos naturais para seu sustento e não por uma
consciência ambiental.
Observou-se que os entrevistados quiseram abordar a inércia das ações
pessoais em busca de um melhor descarte ou destino ao resíduo doméstico e a falta
de educação ao joga-los nas vias públicas, o mesmo foi encontrado por outros autores
(STUMP e KRIWOKEN, 2006; LELEU et al., 2012). Complementando assim a
resposta do quesito seguinte, em que se abordava o entrevistado em relação a alguma
ação diária para a proteção do meio ambiente.
Todos os entrevistados demonstraram insegurança na sua resposta, alguns
afirmaram não fazer nenhuma ação que ajudaria na proteção do meio ambiente
(34,72%), porquanto citou fazer limpeza diária (20,83%), não jogar o lixo na rua
(33,33%) ou a conscientização de jovens (11,11%) como ações de proteção ao meio
ambiente. Em comunidades locais em que é trabalhado a auto identidade da cultura
local e a sua relação com o meio que o cerca, acarreta no comportamento catalisador
de pertencimento ao local e o sentimento de ter a obrigação do cuidado desse
ambiente (WHITMARSH e O’NEIL, 2010).
Na última pergunta, foram questionados se já participaram de alguma
atividade de educação ambiental e todos responderam que sim através de palestras
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e cursos, organizados pelo IDEMA, Petrobrás, Prefeitura de Macau ou pela Colônia


de Pescadores Z-41; confirmando assim, respostas anteriores.
No decorrer da entrevista, os catadores de mariscos, comentaram sobre o uso
das conchas após a retirada da carne. Os usos citados foram produção na ração para
avestruzes, uso na construção civil como substituinte do seixo. A compra das conchas
por pessoas de fora do Rio Grande do Norte, também foi citado, mas os entrevistados
não quiseram entrar em maiores detalhes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a percepção ambiental influencia na tomada de decisões do


indivíduo, deste em suas ações corriqueiras, até mesmo na forma de como é
desenvolvida a sua atividade extrativista (OKAMOTO, 2003); os entrevistados, em
geral, da RDSEPT demonstraram ter dificuldade em conceituar o meio ambiente e
insegurança quanto aos problemas ambientais que os acometem.
No entanto, cabe acrescentar que foi possível verificar contradições quanto à
sustentabilidade e a sua aplicabilidade, pois muitos afirmaram que a regulamentação
incipiente por parte das autoridades competentes, compromete o objetivo da criação
da unidade de conservação, acarretando no uso e na ocupação das áreas protegidas,
fato este relatado também por Mameri (2011). A evolução urbana da comunidade e a
dinâmica local, visivelmente, acontecem sem parâmetros. A tendência é que com o
passar dos anos, os problemas ambientais, citados pelos entrevistados, se agravem.
Mameri (2011) comentou em seu estudo, que ações dos poderes públicos,
como o asfaltamento de vias públicas próximas ao manguezal, a implantação de
Usinas Eólicas e expansão de Refinarias Petrolíferas, acarretarão no aumento dos
impactos ambientais negativos. Todos esses e outros problemas ambientais foram
citados e evidenciados pelo Conselho Gestor da RDS.
Futuramente, estes impactos poderão prejudicar, de forma definitiva, na
atividade de pesca e coleta de moluscos. Durante a entrevista, alguns pescadores
queixaram-se na queda do número de peixes, e coletores de moluscos no tamanho e
na quantidade dos mariscos. O problema maior dos moluscos é devido serem animais
filtradores, ou seja, todos os poluentes possíveis encontrados nas águas do Rio
Tubarão ficam retidos na carne deste animal, sendo assim, um potencial problema de
saúde pública.
Os moradores da unidade de conservação demonstraram ter o sentimento de
pertencimento e valorização dos recursos existentes na reserva, porém, observou-se
um distanciamento quanto à conservação. Percebe-se a necessidade de
esclarecimentos dos objetivos da criação da unidade de conservação, o porquê desta
RDS ser uma reserva de uso direto e o que realmente pode e não pode ser feito na
área (MATTOS, NOBRE e ALOUFA, 2011).
Afirma-se mais uma vez, que inicialmente, houve comoção pública e
participativa na criação da RDS, mas o engajamento popular foi perdido com o tempo,
pois não existe uma política local de envolvimento, fato este considerado pelos
autores Mameri (2011); Santos (2008); Mattos, Nobre e Aloufa (2011).
Atualmente, quando se quer envolver uma população em prol de uma causa
ambiental, traz-se para o conhecimento desta, os problemas ambientais presentes e
suas consequências através de oficinas, palestras e várias formas de divulgação
acreditando que apenas isto, trará comoção e mudança comportamental em busca da
sustentabilidade (SIQUEIRA, 2008).
Uma vez que o processo é muito mais complexo, pois a população deve ser
envolvida com debates contínuos acerca da temática ambiental, levando em
consideração, os aspectos cognitivos e a percepção social, que juntamente com a
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educação ambiental, poderá haver a substituição de velhos hábitos (SIQUEIRA, 2008;


MARIN e LIMA, 2009).
O desenvolvimento de uma política pública, pelos poderes públicos, que foque
a educação ambiental, poderá reacender o tema e a comunidade, manifestando-se,
assim novamente, com domínio da situação ambiental atual pois a educação
ambiental desenvolve a visão holística do educador e educando, reaprendendo e
reconstruindo relações e valores socioambientais antigos (PALMA, 2005).
Em relação ao turismo, como não existem, na reserva ambiental, construções
de resorts e cadeia hoteleiras, a demanda turística é de pesquisadores e estudiosos
ambientais, predominando ações conservacionistas neste âmbito, pois o turismo é de
base comunitária (SOARES, 2011).
Quanto à ocupação e uso do solo devido às atividades econômicas, a
atividade de carcinicultura reutilizou áreas que foram desenvolvidas para a produção
do sal, já a atividade petrolífera, localiza-se em áreas de tabuleiro, em torno das áreas
salinas e de praias (SANTOS, 2008).
A população, apesar de ser representada no Conselho Gestor (Decreto de n°
18.516/2005), reclamou da ausência de uma gestão participativa. Este fato poderia
diminuir possíveis conflitos entre a população, os órgãos regulamentadores
ambientais e os gestores assim o desenvolvimento das atividades extrativistas obteria
o manejo sustentável na unidade de conservação, previsto no CONAMA.
Aly (2011) comentou que a identidade individual é um aspecto fundamental
para moldar a identidade da comunidade, o resgate cultural na RDSEPT melhoria o
engajamento dos pescadores e marisqueiras na busca da sustentabilidade das
atividades extrativistas desenvolvida. Umas das possibilidades metodológicas para o
(re)vivamento cultural nas comunidades, seria a documentação cultural local
(GALUCIO, 2004).
Finaliza-se a análise perceptiva afirmando que os pescadores e marisqueiras
da RDSEPT têm o sentimento de pertencimento ao local e de responsabilidade, em
parte, da conservação da unidade; porém, o engajamento e a participação não são
mais efetivos como em anos anteriores, devido à ausência de um planejamento
ambiental participativo, que teria a educação ambiental e o resgate cultural, como
agentes transformadores das comunidades e estas mudariam as futuras gerações.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preocupação com a qualidade ambiental dos ecossistemas aquáticos é um


movimento crescente deste século diante da rápida expansão industrial, uso dos recursos
naturais e o aumento de poluentes no ambiente costeiro e continental, o que justificou o
desenvolvimento deste estudo na RDSEPT. Nesta reserva, à problemática enfrentada pela
comunidade local é poder se estabelecer em uma reserva ambiental que visa à
conservação dos recursos naturais e que ao mesmo tempo, desenvolva suas atividades
econômicas sem agredir o meio ambiente. Embora as comunidades que habitam a área
possuam um histórico de luta contra a depredação do meio ambiente, elas se veem
confrontadas perante o incremento da pesca e o convívio com atividades econômicas
potencialmente impactantes, tais como a indústria da aquicultura, salineira e petrolífera.
Considerando a importância ecológica e socioeconômica dessa reserva, esse
estudo foi realizado com a finalidade de caracterizar e avaliar a qualidade ambiental do
estuário Ponta do Tubarão, o qual é responsável por parte da fonte de subsistência da
população local. Esta avaliação tomou como base a análise dos nutrientes (N e P), além
dos metais pesados presentes na água, sedimento e macroalgas. Além disso, considerando
que o aporte de poluentes nas áreas estuarinas é uma ameaça constante para as populações
que vivem no entorno dessas áreas, um estudo de percepção ambiental foi realizado com
a finalidade de compreender tanto a percepção como a preocupação dos usuários sobre as
questões ambientais da RDSEPT.
Em função dos resultados obtidos neste trabalho foi possível fazer as seguintes
considerações:
Em relação a dinâmica dos nutrientes foi observado diferenças entre as estações
amostradas, com predominância de nitrato nas estações com maior influência marinha e
amônio na porção mais interior do estuário. Comparativamente, os valores de nitrogênio
sempre foram mais altos do que o fósforo, demonstrando um modelo comum à maioria
dos estuários citados na literatura. O estudo desses nutrientes no sedimento mostrou o
inverso ao observado na água. Na estação localizada na área urbana (E4), os níveis de
fósforo foram muito superiores aos encontrados nas outras estações, indicando que boa
parte desse elemento é de origem antrópica e que essa área é a mais vulnerável aos
processos de eutrofização.
No que diz respeito à distribuição dos metais pesados na água do estuário, os
resultados mostraram que as concentrações de alguns metais estiveram em níveis mais
altos do que os valores apontados pelo CONAMA (Classe 1), no entanto, eles estiveram
86

bem abaixo dos níveis reportados na literatura para locais não poluídos. Os maiores
valores foram registrados na estação situada na área rasa da plataforma continental (E1)
e mais próxima da área de exploração de petróleo e os mais baixos na porção mais interior
do estuário. Em relação ao sedimento, os níveis de metais pesados foram mais baixos do
que aos níveis de referência do CONAMA e USEPA. Nesse compartimento, as maiores
concentrações de metais foram registradas na estação localizada em área urbana (E4).
Esta área é caracterizada por apresentar baixa hidrodinâmica e finos sedimentos. Além
disso, este local é utilizado como ancoradouro de barcos de pesca, local de lançamento
de águas residuais e descarga de rejeitos de processamento de pescado. A interação desses
fatores, provavelmente contribuiu para o aumento da concentração de metais nessa área.
As duas espécies de macroalgas mostraram uma excelente capacidade para
acumular metais em uma ordem de grandeza muito maior do que a água e o sedimento.
No entanto, H. musciformis concentrou mais metais pesados em seus tecidos do que Gr.
tenuifrons, sugerindo diferente capacidade de acumulação entre as macroalgas e que a
quantidade de grupamento sulfatos presentes em seus polissacarídeos, pode ter
provavelmente desempenhado um papel importante na absorção desses elementos. Vale
salientar, no entanto, que a habilidade das duas espécies em acumular metais pesados em
seus tecidos, reforça predições anteriores de que esses organismos podem ser
considerados excelentes bioindicadores e biomonitores para metais pesados.
Considerando que o excesso de nutrientes e metais pesados no ambiente
aquático, pode ameaçar a saúde da população, assim como de toda a biota, um estudo
sobre a percepção ambiental dos extrativistas da reserva sobre as questões ambientais foi
realizado. Com efeito, avaliar o modo como os indivíduos percebem e compreendem os
problemas ambientais torna-se de grande relevância para a conservação dos ambientes
naturais.
Nesse estudo, observou-se que, embora a comunidade esteja inserida dentro de
uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), alguns indivíduos, ainda têm
dificuldade em descrever os problemas ambientais que os acometem. No entanto, uma
parcela considerável dos moradores é consciente dos problemas ambientais e valorizam
os recursos existentes na área. Isto é refletido quando demonstram preocupação em
relação à poluição do rio, aumento do lixo nas vias públicas, o esgoto a céu aberto e a
diminuição do pescado. Além disso, eles são conscientes também que a degradação
ambiental poderá trazer prejuízos para suas atividades econômicas, como por exemplo, a
pesca e a colheita de mariscos. De maneira geral, a população tem o sentimento de
pertencimento ao local e de responsabilidade, em parte, da conservação da unidade.
87

Os dados obtidos nesse estudo permitiram colocar em evidência aspectos


importantes sobre a distribuição de nutrientes e metais pesados no estuário Ponta do
Tubarão. Ele permitiu, sobretudo de ressaltar a importância da análise dos três
compartimentos (água, sedimento e macroalgas), na caracterização da qualidade
ambiental do estuário, bem como, mostrar as interferências antrópicas na área. Dessa
forma, os dados gerados nesse trabalho poderão contribuir para ações de monitoramento,
subsidiando a implementação de políticas públicas e estratégias de gestão que visem o
uso sustentável dos recursos naturais da reserva.
88

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ANEXO
94

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