14170-Texto do artigo ou resenha-81048-1-10-20170901
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Bruno Mandelli1
Resumo: O presente artigo problematiza e debate as concepções históricas de Karl Marx e Friedrich Engels. Em
especial procura-se estudar as articulações entre o nível dos acontecimentos e o nível estrutural, que se encontra
grande parte do debate teórico. Com base em obras de ambos os autores desde suas primeiras contribuições até as
suas obras maduras, procura-se discutir as suas compreensões sobre esse campo do conhecimento.
Palavras-chave: Marxismo; Teoria da História; Dialética.
Resumen: Este artículo discute y debate las concepciones históricas de Karl Marx y Friedrich Engels. En particular,
estamos buscando para estudiar las juntas entre el nivel de eventos y nivel estructural, que es la discusión en gran
medida teórica. Sobre la base de las obras de ambos autores desde sus primeras contribuciones a sus obras de
madurez, tratan de discutir su comprensión de este campo del conocimiento.
Palabras clave: el marxismo; Teoría de la Historia; Dialéctica.
Abstract: This paper discusses the historical conceptions to Karl Marx and Friedrich Engels. In particular we are
looking to study the joints between the level of events and structural level, which is largely theoretical discussion.
Based on the works of both authors from their first contributions to mature works, we try to discuss their
understanding of this field of knowledge.
Keywords: Marxism; Theory of History; Dialectic.
Um dos aspectos de maior dificuldade que se apresenta para quem se propõe a compreender o
funcionamento e a dinâmica das sociedades – em particular, da sociedade capitalista – está na complexa
relação entre os acontecimentos do dia-a-dia (dos fatos propriamente ditos) e a estrutura sócio-econômica
que condiciona a sua dinâmica, ou seja, a dialética contida entre a estrutura e a história.
É diante desse nó que se encontra a problemática da análise do movimento real que Karl Marx e
Friedrich Engels se debruçaram durante a maior parte de suas vidas. Desde o início da década de 1840,
com seus primeiros estudos sobre a filosofia hegeliana, até a publicação de O Capital (a obra de maior
profundidade sobre o funcionamento do modo de produção capitalista) que Marx irá desenvolver uma
minuciosa elaboração teórica para explicar a estrutura da sociedade burguesa e de sua dinâmica histórica.
Em primeiro lugar, cabe mostrar que os resultados a que Marx chegou não foram frutos apenas
de seus estudos teóricos, mas da observação atenta da realidade tal como se apresentava em sua época. O
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 9, n. 2, p. 61-67, ago. 2017. ISSN: 2175-5604 61
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problema central que estava colocado em suas pesquisas (o seu objeto em movimento) era a gênese, o
desenvolvimento e o devir da sociedade burguesa, portanto, em primeiro lugar, uma análise do
movimento real da história (Marx, 2008, p. 16).
A conjuntura de sua época foi em um contexto de revolução social. Fazia cerca de meio século
que a Revolução Industrial havia explodido na Europa e que a classe burguesa ainda lutava contra os
resquícios do feudalismo para consolidar a ordem do livre comércio. Como afirmou Eric Hosbsbawn:
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movimento do pensamento é o criador da realidade, e esta só existe no cérebro dos indivíduos. Para Marx
e Engels, pelo contrário, o movimento do pensamento é o real transposto para idéia, formando conceitos
e categorias. Desse modo, os autores superam a herança idealista da tradição hegeliana e começam a
construção de uma concepção filosófica do mundo a partir de premissas materialistas da história. A
própria teoria deixa de ser o “movimento da razão pura”, para ser o concreto pensado, a reprodução do
movimento real pela via do pensamento. É a partir dessa formulação que a teoria passa a ser
essencialmente prática.
Os pressupostos com os quais começamos não são dogmas arbitrários, não são
nem dogmas, são pressupostos reais, dos quais se pode abstrair apenas na
imaginação. Eles são os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de
vida, tanto as encontradas quanto as produzidas através de sua própria ação
(Marx, 2007, p. 41).
A primeira premissa da concepção materialista da história formulada pelos autores é a existência
de seres humanos vivos. E o primeiro fato a ser constatado é a forma pela qual eles se organizam para
produzirem e reproduzirem a sua vida, da sua relação com o restante da natureza (Marx, 2007, p. 41).
Dessa forma, a partir do modo como os homens produzem a sua existência, e da sua respectiva
organização do espaço físico, eles se encontram em determinado grau de desenvolvimento das forças
produtivas e das suas conseqüentes relações sociais de produção.
Para aprofundar esse aspecto da formulação marxiana – a centralidade do trabalho - teremos de
adentrar em uma de suas obras mais complexas, os Fundamentos para a Crítica da Economia Política, ou
Grundrisse. Da elaboração de A Ideologia Alemã aos Grundrisse se passaram quinze anos de muitos estudos e
militância prática. É um período difícil da vida de Marx que passa por um exílio, além de dificuldades
financeiras. Porém é também um período muito frutífero, em que se concentra no estudo da Economia
Política, além de participar ativamente do movimento revolucionário de 1848-1849.
Marx inicia os seus fundamentos situando o modo de produção em geral. A primeira constatação a se
fazer na obra do autor é de para este os indivíduos sempre aparecem produzindo em coletivo, isto é, uma
produção socialmente determinada. Rejeita, portanto, a construção da filosofia do “homem natural”,
como nas lendas do sujeito que vivia e produzia sozinho em uma ilha, como indivíduo a-histórico,
desligado de qualquer relação social. Verifica-se, portanto, que:
Quanto mais fundo voltamos na história, mais o indivíduo, e por isso também
o indivíduo que produz, aparece como dependente, como membro de um todo
maior […] O ser humano é, no sentido, mais literal, um animal político (ser
social), não apenas um animal social, mas também um animal que somente
pode isolar-se em sociedade (Marx, 2011, p. 40).
Desse modo, as teorias dos economistas políticos e dos filósofos do século XVIII, que tratavam
acerca da “essência humana”, da busca do ser humano em seu estado “natural”, aparecem como análises
descoladas da construção histórica e das condições materiais de vida encontradas pelos seres que
produzem em sociedade. São teorias abstratas na medida em que não conseguem explicar o surgimento de
determinadas ideias e categorias, pois as tomam como pressupostos eternos. Sobre isso vemos na Miséria
da Filosofia (1847), uma argumentação sólida a respeito:
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de vida dos seres humanos, a sua própria existência. Como os próprios autores afirmaram:
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Com essa dimensão do “fazer história”, como atividade humana sensível, ou seja, prática, é que
se insere o “motor” que leva os homens a um confronto até o presente sem trégua; o modo pelo qual os
diferentes agentes tomam consciência desse conflito e o conduzem até o fim: a luta de classes. Sobre esse
ponto, vale retomarmos o célebre Manifesto do Partido Comunista (1848):
A história de toda sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes. Homem
livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores
e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem
trégua, ora velada, ora aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma transformação
revolucionária de toda a sociedade ou ao aniquilamento das duas classes em confronto
[…] A sociedade burguesa moderna, oriunda do esfalecimento da sociedade feudal, não
suprimiu a oposição de classes. Limitou-se a substituir as antigas classes por novas
classes, por novas formas de luta. O que distingue nossa época – a época da burguesia –
é ter simplificado a oposição de classes. Cada vez mais, a sociedade inteira se divide em
dois blocos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam diretamente: a
burguesia e o proletariado (MARX, 2002, p. 23-24).
É nesse contexto que a história é feita por homens e mulheres que agem na realidade de acordo
com a forma de consciência que é fruto do seu processo real de vida. É fundamental para que ocorra uma
transformação estrutural da sociedade – na qual socialize os meios de produção - que o modo de produção
vigente tenha desenvolvido potencialmente todas as suas forças produtivas até que entre em contradição
com as relações sociais de produção vigentes.
Da mesma forma, é fundamental que o proletariado se organize enquanto em classe para si, isto é,
como classe autônoma, capaz de apresentar uma alternativa estrutural à lógica destrutiva do capital – com
a formação de um bloco histórico contra-hegemônico. Para a construção desse bloco histórico capaz de fazer frente
à lógica destrutiva do capital, é necessária a formação massiva de novos homens e novas mulheres com
uma nova consciência, que dediquem as suas vidas a transformação da realidade vigente3; transformação
esta que só pode acontecer por um movimento prático que aponte o horizonte de uma transformação
radical no domínio do capital.
Conclusão
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 9, n. 2, p. 61-67, ago. 2017. ISSN: 2175-5604 66
Artigo
materialismo histórico-dialético.
Bibliografia
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MARX, Karl. Miséria da Filosofia. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Cultura, arte e literatura. Textos escolhidos. São Paulo: Expressão
Popular, 2010.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: L&PM, 2002, pp. 23-24
MARX, Karl. Grundrisse. São Paulo: Boitempo, 2011.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
MARX, Karl. O Capital: o processo de produção do capital. São Paulo: Civilização Brasileira, 2008.
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MÉSZÁROS, István. Estrutura social e formas de Consciência II: a dialética da estrutura e da história. São Paulo:
Boitempo, 2011.
SANTIAGO, Silviano (org). Intérpretes do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
Notas:
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 9, n. 2, p. 61-67, ago. 2017. ISSN: 2175-5604 67