TJSP Embargos de Declaração Cível 1013974-98.2018.8.26.0053

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000739369

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração Cível


nº 1013974-98.2018.8.26.0053/50001, da Comarca de São Paulo, em que é
embargante ESTADO DE SÃO PAULO, é embargada TELEFONICA BRASIL
S.A..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 10ª Câmara de Direito


Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Acolheram
parcialmente os embargos, sem alteração da parte dispositiva. V. U. , de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ANTONIO CELSO


AGUILAR CORTEZ (Presidente) E TORRES DE CARVALHO.

São Paulo, 13 de setembro de 2022.

ANTONIO CARLOS VILLEN


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO N. 1031/22
10ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO N. 1013974-98.2018.8.26.0053/50001
EMBARGANTE: ESTADO DE SÃO PAULO
EMBARGADA: TELEFONICA BRASIL S.A.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Omissão do acórdão,


que não se pronunciou sobre pedido subsidiário de
afastamento dos juros e correção monetária na compensação
em conta gráfica de ICMS (serviços de telecomunicação).
Inadmissibilidade. Tributo recolhido indevidamente (Art.
10, do Anexo XVII do RICMS-SP) e cujo estorno foi
negado administrativamente. Opção do contribuinte entre a
restituição por meio de compensação e o recebimento por
precatório, sem diferenciação nos critérios de juros e
correção. Embargos acolhidos parcialmente apenas para
suprir a omissão e acrescentar novos fundamentos ao
acórdão, sem alteração do dispositivo.

O embargante alega que o acórdão de fls. 7527/7537 padece


de obscuridade porque dele consta que a ação trata de repetição de indébito.
Argumenta que a pretensão da autora não envolve repetição de indébito, mas
sim estorno de débitos por meio de ajuste em conta gráfica de ICMS. Sustenta
que há omissão, pois o acórdão deixou de se pronunciar sobre o pedido
subsidiário de exclusão de correção monetária e juros sobre os créditos a
serem estornados. Alega que o art. 38, § 2º da Lei Estadual n. 6.374, de 1989,
afasta a incidência de juros e correção monetária em apropriação de créditos
em conta gráfica de ICMS. Pede o acolhimento dos embargos para que sejam
sanados os vícios apontados.

Recurso tempestivo e respondido (fls. 11/13).

É O RELATÓRIO.

Os embargos de declaração devem ser parcialmente acolhidos


apenas para acrescentar à fundamentação do acórdão as razões que

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demonstram a improcedência da alegação de que não são aplicáveis, sobre o


estorno, juros e correção monetária.

Por se tratar de tributo recolhido indevidamente (Art. 10, do


Anexo XVII do RICMS-SP) e cujo estorno foi negado administrativamente,
pode o contribuinte credor optar pela restituição por meio de compensação ou
recebimento por precatório. Nesse sentido decidiu o STJ no julgamento do
REsp nº 1.114.404-MG, que, submetido ao regime dos recursos repetitivos,
levou à fixação da seguinte tese: “O contribuinte pode optar por receber, por
meio de precatório ou por compensação, o indébito tributário certificado por
sentença declaratória transitada em julgado." (Súmula 461 do STJ, originada
do Tema nº 228).

Esta 10ª Câmara tem entendido que o estorno, por


compensação em conta gráfica, do tributo recolhido indevidamente não
implica critérios de juros e correção monetária distintos daqueles aplicados ao
recebimento por meio de precatório/requisição de pequeno valor. Sobre a
questão, cumpre transcrever, por oportunas, as considerações expendidas pelo
Desembargador Torres de Carvalho na Apelação n.
1064349-06.2018.8.26.0053, 10ª Câmara de Direito Público, j. 09.08.2021,
v.u., que versou sobre caso semelhante:

6. Compensação. O Superior Tribunal de


Justiça, REsp nº 1.114.404-MG, 1ª Seção, 10-2-2010, Rel.
Mauro Campbell Marques, submetido ao regime dos recursos
repetitivos, por votação unânime, proveu o recurso especial
nos seguintes termos:
PROCESSUAL CIVIL E
TRIBUTÁRIO. SENTENÇA DECLARATÓRIA DO
DIREITO À COMPENSAÇÃO DE INDÉBITO
TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE DE REPETIÇÃO
POR VIA DE PRECATÓRIO OU REQUISIÇÃO DE
PEQUENO VALOR. FACULDADE DO CREDOR.
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. 1. "A
sentença declaratória que, para fins de compensação
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tributária, certifica o direito de crédito do contribuinte


que recolheu indevidamente o tributo, contém juízo de
certeza e de definição exaustiva a respeito de todos os
elementos da relação jurídica questionada e, como tal, é
título executivo para a ação visando à satisfação, em
dinheiro, do valor devido" (REsp n. 614.577/SC,
Ministro Teori Albino Zavascki). 2. A opção entre a
compensação e o recebimento do crédito por precatório
ou requisição de pequeno valor cabe ao contribuinte
credor pelo indébito tributário, haja vista que
constituem, todas as modalidades, formas de execução
do julgado colocadas à disposição da parte quando
procedente a ação que teve a eficácia de declarar o
indébito. Precedentes da Primeira Seção: REsp.796.064
- RJ, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
2.10.2008; EREsp. Nº 502.618 - RS, Primeira Seção,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
8.6.2005; EREsp. N. 609.266 - RS, Primeira Seção,
Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em
23.8.2006. 3. Recurso especial provido. Acórdão
submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da
Resolução STJ 08/2008. (REsp nº 1.114.404-MG, 1ª
Seção, 10-2-2010, Rel. Mauro Campbell Marques,
Tema STJ nº 228).

O julgamento resultou no Tema STJ nº 228, segundo o qual


"o contribuinte pode optar por receber, por meio de
precatório ou por compensação, o indébito tributário
certificado por sentença declaratória transitada em julgado".
Trata-se de entendimento firmado em sede de recurso
especial repetitivo, que deve ser observado pelo Tribunal, nos
termos do art. 927, III do CPC, não tendo o Estado
apresentado qualquer óbice a sua aplicação.

7. Repetição do indébito. Correção e juros de mora. A


sentença reconheceu o direito da autora ao crédito do valor
indevidamente recolhido, a ser atualizado pelo IPCA-E desde
o desembolso e pela taxa Selic a partir do trânsito em julgado
até o efetivo pagamento, observada a prescrição quinquenal.
Não há controvérsia sobre a aplicação da taxa Selic, a partir
do trânsito em julgado (CTN, art. 167, parágrafo único), em
razão da igualdade de tratamento entre a administração e o
contribuinte, conforme jurisprudência tranquila do Superior
Tribunal de Justiça; no entanto, a autora alega que a taxa
Selic deve ser aplicada desde a data do pagamento indevido.
A taxa Selic engloba a correção monetária e os juros de mora,
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sem outro acréscimo, e incide a partir do trânsito em julgado,


nos termos do art. 167, parágrafo único do CTN. O
entendimento cria situação de difícil solução, pois o crédito
deve ser corrigido monetariamente até o trânsito em julgado
quando, a partir daí, são acrescidos os juros de mora; não se
pode aplicar a taxa Selic antes dessa data (pois inclui os
juros) e ao mesmo tempo não se pode deixar o crédito sem
correção antes do trânsito em julgado (pois representaria
enriquecimento sem causa do ente tributante em desfavor do
contribuinte). Assim, o crédito será corrigido pela Tabela
Prática do TJSP da data do recolhimento indevido até o
trânsito em julgado e, a partir de então, será aplicada a taxa
Selic, que congrega a correção monetária e os juros de mora,
como determinado na sentença.
O voto é pelo desprovimento do recurso do Estado e da
autora, com majoração dos honorários advocatícios em 1%,
com base no § 11 do art. 85 do CPC.

Tais razões de decidir, que adoto integralmente, aplicam-se à


presente demanda e demonstram a improcedência da alegação do embargante
quanto aos critérios para incidência de juros e correção monetária.

Pelo meu voto, acolho parcialmente os embargos apenas para


acrescentar as considerações supra mencionadas à fundamentação do acórdão
embargado, sem alteração de seu dispositivo.

ANTONIO CARLOS VILLEN

RELATOR

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