TCC Maria José de Resende Moreira

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO KOINONIA

MARIA JOSÉ DE RESENDE MOREIRA

PASTA DE TCC

Campo Belo
2024
SEMINÁRIO TEOLÓGICO KOINONIA

MARIA JOSÉ DE RESENDE MOREIRA

PASTOREANDO O CORAÇÃO DA CRIANÇA – TEDD TRIPP

PASTA DE TCC

Pasta de TCC apresentada ao


Seminário Teológico Koinonia, como requisito
para a obtenção do título de Bacharel em
Teologia – modalidade Livre.

Professor Orientador: João Paulo


Teixeira Canuto

Campo Belo
2024
SEMINÁRIO TEOLÓGICO KOINONIA

MARIA JOSÉ DE RESENDE MOREIRA

João Paulo Teixeira Canuto

Professor e Orientador:

Pasta de TCC aprovada em: \ \2024


Conceito Final:

CAMPO BELO
2024
RESENHA

O livro Pastoreando o Coração da Criança, de Tedd Tripp, foi publicado em 1995


pela editora Shepherd Press. O autor é graduado pelo Geneva College (BA em História),
concluiu seu mestrado em Divindade no Seminário Teológico de Filadélfia e obteve seu
doutorado em Ministério, com ênfase em Aconselhamento Pastoral, no Seminário
Teológico Westminster. Tedd Tripp é pastor da Igreja Comunhão da Graça, em Hazleton,
Pensilvânia, EUA. Casado com Margy, tem três filhos adultos e netos. Além de Pastoreando
o Coração da Criança, Tripp é autor de outros livros conhecidos, como Instruindo o Coração
da Criança, Dicas para Pais: Princípios Bíblicos para a Família, Prepare-se: Guia de
Discipulado para Crianças e As Idades da Criança: Discipulando Filhos Através das Fases
de Desenvolvimento.
De 1985 a 1997, Tedd Tripp atuou como conselheiro na Fundação de Educação e
Aconselhamento Cristão de Lehigh Valley. Desde 1994, tem desenvolvido um ministério
extenso como preletor em conferências e instrutor do seminário Pastoreando o Coração da
Criança. Seus livros, vídeos e gravações são amplamente usados em diversos países ao
redor do mundo.
O livro Pastoreando o Coração da Criança é resultado do trabalho de Tripp com
famílias e de sua própria experiência como pai. Com uma abordagem teológica reformada,
o autor sugere que o verdadeiro papel dos pais cristãos é ensinar seus filhos a viver uma
vida de obediência a Deus, moldando seus corações e não apenas corrigindo seus
comportamentos. Tripp defende que é possível educar filhos de maneira bíblica e santa,
independentemente das mudanças culturais, apontando que o foco dos pais deve ser o
pastoreio do coração da criança, e não apenas a modificação do comportamento exterior.
De acordo com Tripp, o coração humano é a fonte das atitudes e comportamentos, e a
mudança genuína vem de dentro para fora.
O autor começa destacando a importância do coração e a necessidade de pastorear
o coração da criança. Ele reforça que a tarefa dos pais não deve se limitar a corrigir maus
comportamentos, mas também a entender o que está por trás deles. Tripp critica a perda
de recursos na criação dos filhos na sociedade moderna e observa que os pais de hoje
fazem parte de uma geração que abandonou a autoridade parental. Ele explica que
movimentos como os protestos raciais e antiguerra dos anos 60 moldaram as mentalidades
de tal forma que hoje não é mais culturalmente aceitável que os pais sejam os chefes do
lar, o que afetou profundamente a criação dos filhos.
Segundo Tripp, o único guia seguro para os pais é a Bíblia, pois ela é a revelação
de um Deus com conhecimento infinito, capaz de oferecer uma verdade absoluta. Ele afirma
que os métodos de Deus não foram testados e falharam, mas sim não têm sido
devidamente aplicados. A Bíblia é vista como uma fonte suficiente e completa de orientação
para os pais.
Tripp enfatiza, à luz dos ensinamentos bíblicos, a maneira como os pais devem
exercer sua autoridade. Deus é a autoridade suprema e outorgou autoridade às pessoas
dentro das instituições como a família, a igreja, o estado e os negócios. Assim, os pais
exercem sua autoridade como agentes de Deus, com a responsabilidade de guiar seus
filhos de acordo com os padrões divinos.
Por fim, Tripp defende que os pais devem exercer uma autoridade verdadeiramente
gentil. O objetivo dessa autoridade não é o autoritarismo, mas sim ajudar os filhos a se
tornarem pessoas autocontroladas que vivem livremente sob a autoridade de Deus. Jesus
é apresentado como o modelo perfeito de liderança, aquele que detém toda a autoridade,
mas veio como servo e liderou com humildade.
Tripp, com base em seus anos de experiência na administração escolar, criação de
filhos, trabalho pastoral e aconselhamento, observa que as crianças, em geral, não resistem
à autoridade que é verdadeiramente gentil e altruísta. Ele argumenta que métodos
educativos focados apenas no comportamento podem gerar obediência momentânea, mas
não formam um caráter verdadeiro e duradouro. Para Tripp, a melhor descrição das
atividades dos pais em relação aos filhos é o ato de pastorear. Nesse processo, os pais
ajudam os filhos a entender não apenas o que fazem, mas também o porquê de suas ações.
O foco central na criação de filhos deve ser o evangelho, e isso significa direcionar não
apenas o comportamento, mas também as atitudes do coração dos filhos. Tripp enfatiza
que não basta mostrar o que os filhos fizeram de errado no exterior, mas entender o que
motivou tais ações, pois é o coração que determina o comportamento.
Tripp destaca que, para realmente ajudar os filhos, os pais devem se preocupar com
as atitudes do coração que impulsionam o comportamento. Não podemos exigir mudança
de comportamento sem abordar o coração que o motiva. Essa ênfase no coração é a linha
fundamental do livro: o coração é a fonte da vida. Portanto, a criação de filhos deve se
concentrar em pastorear o coração, pois o comportamento é impulsionado pelo coração.
Assim, correção, disciplina e treinamento — ou seja, todo o processo de criação de filhos
— devem ser direcionados ao coração.
Outro ponto importante abordado por Tripp é como os pais lidam com os fracassos
de seus filhos. Ele também fala sobre as influências formativas, que são eventos e
circunstâncias nos anos de desenvolvimento da criança, e que atuam como catalisadores
para moldar a pessoa que ela se tornará. Tripp afirma que a pessoa que a criança se torna
é um produto de duas coisas: suas experiências de vida e como ela interage com essas
experiências. Ele desafia os pais a se perguntarem: "Os valores de seu lar são baseados
nas tradições humanas e nos princípios básicos deste mundo, ou são fundamentados em
Cristo?"
Tripp mostra que a criança aprende a ser sábia ou tola a partir da influência formativa
do lar. Ele aponta dois erros comuns em relação a essas influências: o primeiro é ver as
influências de maneira determinista, acreditando que elas são a única causa da formação
da criança; o segundo erro é a negação, ou seja, a ideia de que a criança não é afetada
por sua experiência de infância. É necessário entender biblicamente as influências
formativas e também compreender o erro de concluir que a criação de filhos consiste
apenas em prover as melhores influências para os filhos.
Segundo Tripp, é fundamental lembrar que a criança nunca é determinada
exclusivamente pelas influências formativas da vida. O coração da criança determina como
ela reage a essas influências. A criança não é passiva em sua infância; ela interage com a
vida e, principalmente, com a direção voltada para Deus. É o temor do Senhor que torna
alguém sábio, e essa sabedoria determina como a criança responde à criação. Tripp
enfatiza que as crianças são adoradoras, ou adoram a Deus ou os ídolos. Elas não são
neutras. Se respondem a Deus pela fé, encontram realização em conhecê-lo e servi-lo; se
suprimem a verdade pela injustiça, adoram e servem à criação em vez de ao Criador. Essa
é a essência do termo "orientação em direção a Deus", usado por Tripp. Feitas à imagem
de Deus, as crianças são criadas com uma inclinação natural para a adoração. Mesmo
sendo pequenas, estarão adorando e servindo a Deus ou os ídolos.
Tripp enfatiza que a vida flui do coração e que criar filhos não deve se limitar a lidar
com influências formativas, mas deve envolver o pastoreio do coração. Ele explica que
Deus chamou os pais para uma tarefa inegociável: pastorear seus filhos para a obediência
a Deus. Nesse processo, os pais devem entender que são agentes de Deus e que, embora
a cultura tenha reduzido a criação de filhos a simples cuidados, o verdadeiro chamado de
Deus vai além. O papel dos pais é conhecer seus filhos e orientá-los a entender o padrão
divino para seu comportamento, o que envolve ensiná-los sobre sua natureza pecaminosa
e a necessidade da graça e do perdão divinos. A verdadeira correção, segundo Tripp, está
enraizada nos princípios absolutos da Palavra de Deus, e as questões disciplinares devem
visar o desenvolvimento do caráter e a honra a Deus. A disciplina tem um objetivo corretivo
e terapêutico, não punitivo, e o propósito dos pais em cada situação é expor aos filhos a
visão bíblica.
O autor observa que muitos pais impõem padrões abaixo dos ensinamentos bíblicos
e alerta que a lei de Deus é elevada e não pode ser alcançada sem a graça sobrenatural
que vem Dele. Quando os pais não expõem o padrão divino, estão, na verdade, roubando
de seus filhos a misericórdia do evangelho. Tripp sugere que, biblicamente, os pais devem
ensinar os filhos a exercitar e cuidar de seus corpos como uma expressão de mordomia
pelos dons de Deus, a confiar em Deus diante do tratamento injusto (Rm 12:17), a ver as
necessidades dos outros e a promover a paz. O papel dos pais é, assim, ensinar fielmente
os caminhos de Deus, enquanto o Espírito Santo age por meio da Palavra para transformar
os corações dos filhos. Tripp reforça que os filhos precisam de alimento espiritual, e os pais
devem treiná-los a encontrar em Cristo a força e o poder para viver para a glória de Deus.
O objetivo final é levar os filhos a conhecerem a Deus e a viverem para Ele.
Biblicamente, a metodologia é tão importante quanto os objetivos. Objetivos bíblicos
exigem uma abordagem bíblica, e somente métodos divinos trarão glória a Deus. Tripp
critica a aplicação de métodos familiares ou psicológicos populares, como suborno,
contratos, emocionalismo e correção punitiva. Esses métodos não abordam o coração e
estão focados apenas no comportamento. Ao focar no comportamento, esses métodos
treinam o coração da criança para a cobiça e o egoísmo, levando a uma educação
superficial, em vez de conduzir ao pastoreio do coração. Como resultado, os filhos se
tornam superficiais, sem entender seus próprios conflitos internos, mesmo quando
apresentam bom comportamento. A disciplina bíblica, por sua vez, busca tratar o
comportamento, mas sempre à luz do coração, pois é a mudança interior que transforma o
exterior.
Tripp observa que, quando os especialistas sugerem que os pais descubram o que
funciona para cada criança, na verdade estão incentivando-os a identificar os ídolos do
coração que motivam o comportamento. Abordar o coração de forma não bíblica apenas
intensifica a corrupção do coração idólatra da criança, oferecendo-lhe ídolos funcionais ao
redor dos quais ela organizará sua vida. Outro problema é que, ao abordar apenas o
comportamento, nunca se chega à cruz de Cristo. A verdadeira transformação vem de
dentro para fora, através de Cristo.
Por fim, Tripp destaca que Deus não está apenas preocupado com o "quê" da
educação, mas também com o "como". A Bíblia aborda questões de metodologia e, por
isso, a forma como os pais disciplinam seus filhos deve ser fiel aos princípios bíblicos.
Tripp argumenta que uma abordagem bíblica na criação de filhos envolve dois
elementos essenciais, que devem ser entrelaçados de maneira harmoniosa: a comunicação
ampla e plena, e a vara. Ele ilustra isso a partir de textos bíblicos, como Provérbios 23:13-
19, 23:22 e 23:26, que apresentam esses dois métodos lado a lado. Ambos são cruciais na
criação bíblica de filhos, e juntos formam uma abordagem que agrada a Deus, sendo
espiritualmente satisfatória, coesa e unificada para disciplina, correção e treinamento das
crianças. O objetivo da comunicação, segundo Tripp, deve ser entender o filho, e não
simplesmente fazer com que ele entenda os pais. Muitos pais falham nesse aspecto, pois
confundem a correção com a expressão de seus próprios sentimentos, como ira ou mágoa.
Na verdade, a correção deve buscar compreender a natureza do conflito que o filho está
vivendo, focando no "porquê" do que foi feito e dito.
Em resumo, Tripp sugere que os pais devem buscar entender os conflitos internos
de seus filhos, olhando o mundo através dos olhos deles. Esse entendimento permitirá que
o evangelho se torne relevante na conversa, aplicando os princípios bíblicos de forma
adequada. Para isso, os pais precisam buscar sabedoria, conforme Provérbios 20:5, e
aprender a ajudar seus filhos a se expressarem. Eles devem discernir as questões do
coração, examinando três aspectos junto ao filho: 1) a natureza da tentação, 2) as possíveis
reações de qualquer pessoa à tentação e 3) as próprias reações do filho à tentação. A
correção deve ser feita com humildade, sempre com o entendimento de que os pais são
agentes de Deus.
Tripp critica a redução da criação de filhos a três elementos básicos—regras,
correção e disciplina—e enfatiza a importância bíblica da comunicação, que deve ser
multiforme, abundante e rica em textura. A comunicação deve incluir encorajamento,
correção, repreensão, apelo, instrução, aviso, compreensão, ensino e oração. Ele destaca
a necessidade de adotar métodos bíblicos de comunicação que inspirem esperança e
coragem, ajudando os filhos a compreenderem as promessas de Deus. A correção deve
ensinar os filhos a avaliar seu comportamento em relação aos padrões divinos, e a
repreensão serve para censurar comportamentos inadequados. O apelo é uma forma
especial de comunicação usada em momentos de grande importância, enquanto a
instrução fornece lições práticas para ajudar os filhos a entenderem seu mundo, a realidade
espiritual e os princípios do reino de Deus. Tripp cita Provérbios como uma rica fonte de
sabedoria sobre a vida e reforça a importância dos avisos, que atuam como alertas
misericordiosos contra perigos potenciais. O ensino deve acontecer antes de ser
necessário, e a comunicação com os filhos tomará muitas formas, sempre com o propósito
de discipulá-los e pastorear seus corações nos caminhos de Deus.
Tripp também aborda a importância da oração, embora não seja uma forma de
comunicação direta com o filho, mas com Deus. Ela, no entanto, é essencial como parte da
comunicação entre pais e filhos. Pastorear o coração do filho significa ajudá-lo a entender
suas motivações, objetivos, vontades, anseios e desejos, expondo a natureza da realidade
e encorajando-o à fé em Jesus Cristo. A comunicação honesta, integral e verdadeiramente
bíblica pode ser desafiadora, mas é vital. O pai sábio fala quando seus filhos estão prontos
para conversar. Tripp observa que, com a pressão da adolescência, as crianças buscam
relacionamentos onde possam ser compreendidas, amadas e disciplinadas. Elas anseiam
ser conhecidas e valorizadas, e os pais devem esforçar-se para ver o mundo pelos olhos
deles, ensinando-os que foram criados para conhecer a Deus e viver em comunhão com
Ele. Dessa forma, os filhos confiam nos pais, que os ajudam a compreender seu propósito
como criaturas de Deus.
Tripp enfatiza que o lar é o ambiente fundamental onde as habilidades de
comunicação se desenvolvem. Através dessa comunicação, os filhos ganham uma
compreensão bíblica sobre a humanidade, aprendem a entender a si mesmos, a
reconhecer o padrão de Deus e a perceber que Ele é supremo. Eles também aprendem
que o problema central da humanidade é o pecado e que toda a vida precisa ser vista à luz
da restauração redentora de Deus sobre o homem.
Tripp então aborda o uso da vara como uma ferramenta de disciplina. Embora hoje
em dia o uso da vara esteja em desuso, ele afirma que, quando aplicada biblicamente, ela
atende às necessidades mais íntimas da criança. Deus ordenou a disciplina com a vara,
que, conduzida de maneira fiel e bíblica, ajuda a erradicar a insensatez do coração da
criança. A vara representa o pai que reconhece o estado perigoso de seu filho e, com
sabedoria divina, aplica uma correção física controlada para resgatar a criança da
insensatez. O uso da vara, portanto, é um ato de confiança na sabedoria de Deus e um
meio de disciplinar o filho para obedecer a Deus. Nunca deve ser uma expressão de ira dos
pais, mas uma forma de amor e compromisso, conduzindo o filho de volta ao lugar de
bênção.
Tripp ressalta que a criação de filhos não deve focar apenas no uso da vara ou na
comunicação, mas que ambos os métodos precisam funcionar em conjunto. Pais que se
sentem confortáveis com a vara podem cair na armadilha do autoritarismo, enquanto pais
para quem a comunicação é mais natural podem ser inclinados à permissividade. Pais
autoritários tendem a carecer de amabilidade, enquanto pais permissivos carecem de
firmeza. Ambos os extremos são problemáticos, e é necessário equilibrar comunicação e
disciplina.
Segundo Tripp, a correção e a disciplina devem impactar a consciência dos filhos.
Ele cita Romanos 2:12-16, onde Paulo afirma que, mesmo aqueles que não possuem a lei
de Deus, demonstram que seus requisitos estão escritos em seus corações, ao
obedecerem a princípios morais. A consciência, dada por Deus, é uma aliada dos pais na
disciplina, e quando ela é despertada, a correção e a disciplina ganham impacto. Tripp
também faz referência ao modo como Jesus apelou ao senso de certo e errado dos fariseus
ao contar-lhes parábolas. Ele mostrava, assim, como lidar com os problemas na raiz, não
apenas com questões superficiais, apelando à consciência deles.
A tarefa dos pais, ao pastorearem seus filhos, é fazer da consciência o árbitro do
que é certo e errado, indo além da correção do comportamento e abordando as questões
do coração. O foco central na criação de filhos é conduzi-los a uma avaliação verdadeira
de si mesmos como pecadores. Os pais precisam se direcionar ao coração, a fonte do
comportamento, e à consciência, dada por Deus, como juiz do certo e errado. A cruz de
Cristo deve ser o foco central em toda a criação dos filhos, pois é somente em Cristo que a
criança perdida experimenta a convicção do pecado, encontra esperança, perdão e poder
para viver.
Tripp também explora as diferentes fases do desenvolvimento infantil, começando
pela fase pré-escolar, que vai do nascimento até os 4 ou 5 anos. Nesse período, ocorrem
mudanças físicas, sociais, intelectuais e espirituais significativas. As crianças aprendem
sobre valores, o que é importante e o que não é. Espiritualmente, elas se tornam criaturas
que podem aprender a adorar e confiar em Deus, ou se afastar e se curvar diante de deuses
falsos. A lição mais importante desse período é que a criança precisa aprender que é uma
pessoa sob autoridade, criada por Deus, e que tem a responsabilidade de obedecê-Lo em
todas as coisas. O principal versículo para essa fase, segundo Tripp, é Efésios 6:1-3, que
fala sobre a submissão aos pais como um lugar de segurança. Estar fora desse círculo de
autoridade é um lugar de perigo, e tanto a vara quanto a comunicação têm a função de
resgatar a criança.
Por fim, Tripp observa que os adolescentes respeitosos se desenvolvem não durante
a adolescência, mas na primeira infância, de 1 a 5 anos. Isso demonstra a importância das
fundações estabelecidas nos primeiros anos de vida para a formação do caráter e respeito
na adolescência.
Tripp observa como a obediência tornou-se uma ideia fora de moda em nossa
cultura. Ele define obediência como a submissão voluntária de uma pessoa à autoridade
de outra, o que significa fazer o que foi ordenado, sem questionar, desculpar-se ou demorar.
Um pai dedicado deve estar preparado para nadar contra a corrente, pois nossa cultura
perdeu o conceito de submissão à autoridade, em parte devido a vários movimentos liberais
que surgiram na segunda metade do século XX. O interesse atual por igualdade e dignidade
dos indivíduos não se baseia nas Escrituras, e há uma perda do respeito pela pessoa em
seu ofício ou posição de autoridade. As crianças estão crescendo em uma cultura destituída
do modelo de submissão à autoridade. Aprender a se submeter à autoridade oferece belas
oportunidades para pastorear o relacionamento dos filhos; obedecer quando faz sentido
não é submissão, mas acordo.
Tripp mostra como o evangelho parece irrelevante para a criança egoísta que não é
desafiada a fazer o que não deseja. Um filho treinado na obediência bíblica é mais
preparado para entender o evangelho. A verdadeira submissão bíblica é encontrada no
conhecimento de Cristo e sua graça. Ele destaca que nos primeiros anos da infância, a
vara é o principal método, porque Deus a ordenou. Os pais precisam pastorear seus filhos
nos caminhos de Deus o tempo todo, e o coração é o campo de batalha, onde a vara entra
em cena como o método de Deus para afugentar a insensatez do coração. Lembre-se de
que o coração dirige o comportamento, e a disciplina dirige o coração.
Tripp também detalha a fase escolar, que ocorre entre o início da escola e a
puberdade. Nesta fase, o filho passa mais tempo fora da orientação e supervisão dos pais,
sendo confrontado com experiências que os pais não podem testemunhar ou escolher. A
grande questão durante esses anos intermediários é o desenvolvimento do caráter, que
deve se desenvolver em várias áreas. Os filhos precisam de sabedoria bíblica para lidar
com questões de caráter, que enfatizam o coração. Isso capacita os pais a ir mais fundo
nas atitudes e a abordar os pensamentos, motivações e propósitos do coração. Os filhos
precisam de uma mudança de coração que começa com a convicção do pecado, que vem
através da consciência. Tripp utiliza Romanos 2:14,15 para indicar que a consciência é uma
aliada, ao ensinar os filhos a entenderem o pecado. Lidar com as verdadeiras questões do
coração abre o caminho para a cruz, onde se encontra o perdão para meninos e meninas
pecadores, egoístas e pervertidos.
Tripp enfatiza a importância de abordar o coração e apelar à consciência,
especialmente durante os anos intermediários da infância, quando o desenvolvimento do
caráter é crucial. Ele define caráter como viver consistentemente com Deus, como Ele é e
quem eu sou. Ou o pai chama seu filho a ser o que não pode ser à parte da graça, ou o pai
flexibiliza o padrão, oferecendo ao filho algo que ele possa realizar sozinho. Ensinar a
depender de Deus é um processo, não um evento.
Tripp declara que está convencido de que os pais podem criar seus filhos para serem
moralmente puros, mesmo em uma cultura que tem explorado o sexo de todas as maneiras
possíveis. Ele sugere que frequentemente ler Provérbios oferece muitas oportunidades
para refletir sobre os perigos do pecado sexual e as alegrias da liberdade sexual dentro do
casamento.
Nos últimos capítulos, Tripp aborda a adolescência, destacando que o adolescente
não é uma criança nem um adulto, sendo um período de instabilidade e vulnerabilidade,
mas também de busca por estabelecer uma personalidade independente. Ele relata que os
anos de adolescência frequentemente são anos de rebelião, parte da qual é uma tentativa
mal orientada de estabelecer a individualidade.
Tripp aborda as três bases para a vida segundo Provérbios 1:7-19: o temor do
Senhor (v.7), a aceitação da instrução dos pais (vv.8,9) e o afastar-se dos ímpios (vv.10-
19).
Em relação ao temor do Senhor, Tripp explica que viver no temor do Senhor significa
estar consciente de que prestamos contas a Ele, e os pais devem ajudar seus filhos a
entenderem que um terço da Bíblia tem como tema principal o juízo. Os pais precisam
pastorear seus filhos para que vivam no temor de Deus, em vez de temerem os homens, e
ajudá-los a ver a futilidade e a idolatria de organizar suas vidas em torno do desejo de
aprovação dos outros. Ele destaca que uma criança, bem instruída biblicamente, consegue
se manter firme em um mundo acadêmico onde até os professores podem estar perdidos
em uma visão sem princípios absolutos, como aponta o Salmo 119:99,100.
Tripp também argumenta que a maneira mais eficaz de proteger os filhos das
influências dos ímpios é fazer do lar um lugar atraente. Os pais devem trabalhar para tornar
a casa um ambiente acolhedor, onde o adolescente se sinta entendido, amado e
encorajado. Esse é um espaço onde os caminhos da vida são mostrados, e onde a
internalização do Evangelho acontece – um processo pelo qual os filhos se apropriam das
coisas de Deus como uma fé viva. Pastorear o coração dos filhos significa guiá-los para
conhecer a Deus, e a tarefa dos pais é nutrir essa interação, sendo a influência um dos
elementos fundamentais no pastorado parental.
Tripp recomenda que os pais cristãos adotem atitudes que conduzam seus filhos à
cruz, para que encontrem perdão e poder para viver. Ele enfatiza que os pais devem confiar
seus filhos a Deus, pois o que eles se tornarão não dependerá apenas do que os pais
fizeram ao fornecer influências formativas, mas também do compromisso pessoal dos filhos
com Deus.
Resenha Crítica

Tedd Tripp, em Pastoreando o Coração da Criança, apresenta uma abordagem


bíblica sólida e teologicamente fundamentada sobre a criação de filhos, destacando a
necessidade de focar no coração como a fonte das atitudes e comportamentos, em vez de
limitar-se à correção superficial de ações. Baseando-se especialmente em passagens
bíblicas especialmente em Provérbios, Tripp busca demonstrar como a verdadeira
transformação das crianças acontece por meio da mudança de seus corações, em um
processo que envolve arrependimento e transformação espiritual através de Cristo.

De forma clara, Tripp argumenta que os pais devem atuar como guias espirituais,
direcionando seus filhos para um relacionamento genuíno com Deus. Segundo o autor, a
criação de filhos centrada no coração é essencial porque "é de lá que procedem as saídas
da vida" (Provérbios 4:23), e este é corrompido pelo pecado. Para ele, os pais não devem
apenas se preocupar com o comportamento visível dos filhos, mas com as causas internas.
Isso implica em uma rejeição dos métodos que se baseiam exclusivamente em
recompensas e punições, os quais, segundo Tripp, podem gerar obediência momentânea,
mas falham em tratar questões profundas como o egoísmo, o orgulho e a rebelião, que
residem no coração humano.

Tripp, em um ponto central do livro, defende que a Bíblia é a única fonte segura para
a criação de filhos, fundamentando sua visão na autoridade das Escrituras:

“O único guia seguro é a Bíblia. Ela é a revelação de um Deus que tem


conhecimento infinito e, portanto, pode oferecer-lhe verdade absoluta”
(TRIPP, 2017, p. 10).

Esse compromisso com a perspectiva cristã é um ponto forte para leitores que
compartilham da mesma fé, mas pode ser um obstáculo para um público mais amplo, como
aqueles que buscam uma abordagem secular ou neutra. Além disso, o foco nos conceitos
reformados, como pecado original e depravação total, reforça a base teológica da obra,
mas pode afastar leitores de outras tradições cristãs ou com visões mais psicossociais.

Um dos aspectos mais práticos do livro é a forma como o autor explora a importância
do discipulado na formação do caráter das crianças. Ele reforça que o papel dos pais vai
além de educadores ou disciplinadores, sendo o de pastores dos corações de seus filhos.
Nesse processo, Tripp combina teologia bíblica com reflexões práticas, oferecendo
exemplos do dia a dia e conselhos que podem ser aplicados em diferentes fases da infância
e adolescência. Ele também aponta a necessidade de uma comunicação sólida entre pais
e filhos, que deve ser aberta, abundante e centrada em diálogos sinceros que ajudem as
crianças a entenderem suas atitudes.

Segundo Tripp (2017, p. 114), “uma abordagem bíblica a respeito de criar


filhos envolve dois elementos que devem ser entretecidos juntos. Um
elemento é a comunicação ampla e plena. O outro é a vara. No livro de
Provérbios, encontramos esses dois métodos lado a lado.”

Outro ponto significativo é a crítica de Tripp aos métodos contemporâneos de


criação, que frequentemente priorizam abordagens psicológicas ou comportamentais,
ignorando a dimensão espiritual do desenvolvimento infantil. Ele argumenta que esses
modelos modernos negligenciam a verdadeira transformação do caráter, promovendo um
foco superficial em mudanças de comportamento. Em contraste, Tripp propõe uma
educação que une disciplina, amor e orientação espiritual, permitindo que as crianças
reconheçam suas necessidades espirituais e cresçam em sabedoria e temor a Deus.

A questão do uso da vara, defendida pelo autor como um método bíblico de correção,
é um dos aspectos mais controversos da obra. Tripp enfatiza que a disciplina física, quando
aplicada com amor, paciência e sem intenção punitiva, pode ser uma ferramenta
restauradora no processo de educação. Contudo, essa posição pode gerar críticas em um
contexto contemporâneo, no qual métodos disciplinares físicos são amplamente
questionados por especialistas em educação e psicologia.

Por fim, a estrutura clara e acessível do livro contribui para sua eficácia como
ferramenta prática para pais cristãos. O autor equilibra bem a exposição teológica com
exemplos concretos, adaptando suas propostas às diferentes fases do desenvolvimento
infantil. Essa abordagem prática e centrada no coração é uma das forças da obra,
permitindo que pais apliquem seus ensinamentos em situações cotidianas.

Pastoreando o Coração da Criança é uma obra de grande relevância para pais


cristãos que desejam criar seus filhos dentro de uma perspectiva bíblica sólida. Tripp
oferece uma abordagem que vai além da simples modificação comportamental, destacando
a necessidade de transformar o coração das crianças. Contudo, a forte ênfase em conceitos
teológicos pode limitar sua aplicabilidade para públicos não religiosos ou que busquem uma
abordagem mais neutra. Apesar disso, o livro se destaca por sua clareza, base teológica
consistente e conselhos práticos, tornando-se uma referência valiosa para famílias que
buscam educar seus filhos alinhados aos princípios bíblicos.

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