Ética e Deontologia - Venusto
Ética e Deontologia - Venusto
Ética e Deontologia - Venusto
Introdução..............................................................................................................................................3
Capítulo I................................................................................................................................................4
A necessidade de regulação dos comportamentos............................................................................4
Ética....................................................................................................................................................4
Moral..................................................................................................................................................5
Costumes............................................................................................................................................5
Direito................................................................................................................................................6
Deontologia........................................................................................................................................7
Ética geral e ética profissional............................................................................................................8
1.1. Ética geral: principais teorias...................................................................................................8
1.1.2. Contratualismo (abordagem do bem comum).....................................................................8
1.1.3. Utilitarismo (abordagem consequencialista)........................................................................9
1.1.4. Ética baseada em princípios absolutos ou universais (abordagem universalista).................9
Capítulo II.............................................................................................................................................10
1.2. Ética aplicada: a ética profissional.............................................................................................10
2. O conceito de ética na engenharia...............................................................................................10
3. Valores profissionais e códigos de ética e deontologia................................................................13
4. Deontologia do engenheiro técnico.............................................................................................14
5. A responsabilidade disciplinar do engenheiro técnico.................................................................15
Capítulo III............................................................................................................................................16
1.Problemas Éticos...........................................................................................................................16
2. Necessidade de um raciocínio ético.............................................................................................17
Conclusões...........................................................................................................................................18
Introdução
A OET – Ordem dos Engenheiros Técnicos, com estatuto publicado na Lei n.º 157/2015, de
17 de setembro, foi criada pela Lei n.º 47/2011, de 27 de junho, que redenomina a ANET e
produz a primeira alteração ao seu estatuto, anteriormente publicado através do Decreto-Lei
n.º 349/99 de 2 de setembro, no uso da autorização legislativa concedida pelo artigo 1º da
Lei nº. 38/99, de 26 de maio, e nos termos da alíena b) no nº 1 do artigo 198º da
Constituição da República Portuguesa, é a associação pública de natureza profissional que
atribui o título e regula o exercício da profissão de engenheiro técnico.
A formação que agora iniciamos não é, assim, uma questão de moda. É uma questão de
prestígio e credibilidade de um grupo profissional e da Ordem que o representa e defende.
Sem descurar uma análise teórica, necessariamente breve, dos conceitos de ética e
deontologia profissional, este Manual está sobretudo vocacionado para uma análise prática
dos valores profissionais que subjazem aos direitos e deveres dos engenheiros técnicos,
terminando com um "guia" sucinto para a decisão ética em engenharia que pretende ajudar
a resolver os vários dilemas que os engenheiros técnicos encontram na sua prática
quotidiana.
No final da ação, os formandos deverão distinguir os conceitos de ética e deontologia,
identificar os deveres deontológicos do engenheiro técnico, sendo também capazes de
reconhecer e resolver dilemas éticos correntes.
Capítulo I
Todos conhecemos a expressão "o homem é um animai social". Isso significa simplesmente
que os seres humanos vivem em sociedade. Para subsistir, qualquer sociedade precisa de
normas, escritas e não escritas, que ligam os indivíduos e regulam os seus comportamentos
quando estes se relacionam nos seus vários papéis ou domínios de intervenção (familiar,
social, profissional, etc.), de forma a manter a coesão e a integração social harmoniosas.
Sabemos o que pode acontecer uma determinada comunidade vê desaparecer a sua
infraestrutura reguladora. Aconteceu poucos dias de depois da cidade de New Orleans ter
sido inundada pelas águas dos diques que rebentaram na sequência da passagem do
furacão katrina. As forças de segurança deixaram de poder operar, os hospitais e as
morgues não funcionaram, as pessoas tiveram se sobreviver por sua conta e, rapidamente,
floresceu uma "nova ordem" composta por grupos armados que impunham a lei das armas
no meio do caos, enquanto as comunidades limítrofes que sobreviveram à destruição
impunham o respeito pela propriedade privada da mesma forma. "Disparamos se se
aproximarem", podia ler-se em inscrições garrafais nas paredes de algumas quintas.
Com efeito, o homem necessita criar regras que lhe permitam (inter)agir. Estas servirão de
base para identificar o que é certo e o que é errado, o que é permitido e o que não é
permitido, dando previsibilidade à sua conduta. Estes padrões culturais ou de conduta,
socialmente criados, são vinculativos para os membros do grupo. Só assim a sociedade
pode desenvolver-se, num contexto de ordem e estabilidade, que permite aos homens
construir projetos de vida.
Ética
A ética tem sido tradicionalmente analisada por filósofos desde o tempo dos gregos
clássicos. A palavra ética vem do grego ethos, que significa hábito ou costume, aludindo,
assim, aos comportamentos humanos. É o domínio da filosofia responsável pela
investigação dos princípios que orientam o comportamento humano. Ou seja, que tem por
objecto o juízo de apreciação que dis-tingue o bem e o mal, o comportamento correto e o
incorreto.
A ética é um modo de regulação dos comportamentos que provém do indivíduo e que
assenta no estabelecimento, por si próprio, de valores (que partilha com outros) para dar
sentido às suas decisões e ações. Faz um maior apelo à autonomia, ao juízo pessoal do
indivíduo e também à sua responsabilidade do que os outros modos de regulação, pelo que
se situa numa perspetiva de auto-regulação. A autonomia do indivíduo é, desta forma, algo
de paradoxal, na medida em que a liberdade de que dispõe é simultaneamente um encargo:
impõe ao indivíduo que se abra às necessidades dos outros e que procure encontrar um
equilíbrio entre a sua própria liberdade e a responsabilidade relativamente aos outros. A
ética ajuda o indivíduo neste caminho.
A ética é, assim, uma filosofia prática que procura regulamentar a conduta tendo em vista o
desenvolvimento humano. Porque procura aperfeiçoar o homem através da ação e por isso procura
que os atos humanos se orientem pela retidão, isto é, a concordância entre as ações e a verdade ou
o bem. Nesta medida, a ética é uma racionalização do comportamento humano, ou seja, um
conjunto de princípios obtidos através da razão e que apontam o caminho certo para a conduta. Por
isso se diz, como Aristóteles, que o homem é um animal racional. Uma vez que não existem regras de
comportamento aplicáveis a todas as situações e a todo o momento, a ética tem a função de
fornecer princípios operativos, normas, valores para a atuação, que o homem vai aplicar, de uma
forma evolutiva, utilizando a sua razão, procurando em permanência as melhores soluções para os
problemas que se lhe colocam.
CE =V+R
Moral
A ética tem a mesma raiz etimológica que a moral, só que esta deriva da palavra latina
mores (que também significa costumes). Todavia, a ética tem um significado mais amplo do
que a moral. Moral é um conjunto de regras, valores e proibições vindos do exterior ao
homem, ou seja, impostos pela política, a religião, a filosofia, a ideologia, os costumes
sociais, que impõem ao homem que faça o bem, o justo nas suas esferas de atividade.
Enquanto a ética implica sempre uma reflexão teórica sobre qualquer moral, uma revisão
racional e crítica sobre a validade da conduta humana (a ética faz com que os valores
provenham da própria deliberação do homem), a moral é a aceitação de regras dadas. A
ética é uma análise crítica dessas regras. É uma "filosofia da moral". No entanto, é preciso
estar atento, uma vez que os termos são frequentemente utilizados como sinónimos,
sobretudo entre os autores anglo-saxónicos.
A moral tem uma dimensão imperativa, porque obriga a cumprir um dever fundado num
valor moral imposto por uma autoridade. Por isso, aplica-se através da disciplina e a
motivação para a ação é, neste caso, a convicção (interiorização do bem e do mal e da
legitimidade da entidade que os enuncia) e a sanção.
Costumes
Direito
A questão coloca-se, por exemplo, quando as inovações tecnológicas andam mais depressa
do que as normas e, num dado momento, não existem normas jurídicas que definam as
condutas numa situação inovadora, causada pelos avanços científicos. Por exemplo, a
emissão de uma dada substância para a atmosfera pode não ser proibida por lei, mas o
engenheiro pode descobrir, entretanto, que a referida substância causa problemas
respiratórios. Esta situação coloca, claramente, questões de ordem ética ao engenheiro que
lide com ela.
Uma das principais diferenças entre ética e direito reside no tipo de regulação: na ética as
obrigações, os deveres são internos, pertencem à esfera privada do indivíduo, enquanto que
no direito os deveres impostos pela legislação são externos, pois estão dirigidos aos outros.
E desta diferença resultam outras diferenças fundamentais. Devido ao seu âmbito externo, o
direito conta com uma proteção institucional e estruturas de poder coercivas que sancionam
a transgressão à lei. Pelo contrário, dado o seu âmbito interno, a observância da ética
depende apenas da interiorização que cada sujeito faça dos seus princípios: a ética é o
âmbito da consciência e a única sanção é, eventualmente, o remorso. Por isso, a ética vive
à margem do aparelho coercivo dos Estados. Mas esta debilidade é apenas aparente, pois
está demonstrado que os seres humanos atuam mais por
convicção do que por obrigação externa. E por isso mesmo, para ser eficaz, o direito deve,
tanto quanto possível, apoiar-se nos princípios éticos que estão fundados na natureza
humana.
Deontologia
A ética determina a ação mais razoável para uma dada situação à luz dos valores
partilhados, isto é, reflete não só sobre o meio a utilizar mas também sobre o próprio fim a
alcançar, aplicando um valor prioritário; é uma forma de auto-regulação: o bom
comportamento decorre da tomada de uma decisão tendo como base um valor prioritário. A
decisão não é fundada sobre o dever, como na deontologia, mas sobre os valores. O
raciocínio ético é um modo de raciocínio globalizante, que não substitui os outros modos de
raciocínio (fundados no dever ou no cumprimento de objetivos) mas que os integra, uma vez
que ajuda a identificar o valor que legitima a decisão. Nesse processo, pode até mesmo pôr
em causa (naturalmente, na sede própria) normas da moral, do direito e da deontologia.
A ética baseada em princípios absolutos ou universais tem a sua raiz na ética kantiana. Kant
(1724- 1804), à semelhança de David Hume (1711-1776), defende que a ética não tem
fundamentos científicos nem metafísicos, mas é algo mais que os hábitos sociais. É uma
ética humana, autónoma, resultante da lei moral intrínseca ao homem. É uma ética pura,
não contaminada pelo empirismo nem por exigências exteriores. Assim, não é só a
liberdade que importa, a racionalidade também é importante.
Para Kant, os princípios da ética são imperativos categóricos. São imperativos porque a lei
moral manda, não aconselha. São categóricos porque são juízos absolutos e não hipotéticos
e são incondicionados.
O imperativo categórico é baseado em três critérios: universalidade (as razões para agir
devem ser razões que todos pudessem partilhar), transitividade (as razões para alguém agir
devem ser razões que justificassem a mesma ação por parte de outra pessoa) e
individualidade (deve tratar-se cada ser humano como uma pessoa cuja existência livre e
racional deve ser promovida).
A ética de Kant não dita conteúdos, apenas a forma: "atua de tal modo que possas querer
que essa atuação se converta em lei universal". Por exemplo, não é ético roubar porque o
roubo não pode converter-se em lei universal. Trata-se de atuar por dever, por respeito à lei.
Mas não uma lei exterior: a lei é intrínseca, o imperativo categórico pressupõe uma vontade
humana autónoma e livre. Se o homem não se sentisse livre, não poderia ser obrigado a
obedecer.
Capítulo II
A ética é cada vez mais uma ética aplicada, para dar resposta a um mundo cada vez mais
complexo. Como o nome indica, a ética aplicada procura aplicar na prática os fundamentos
gerais da ética, no plano individual, familiar e social. Pois a ética não é puramente teórica: é
um conjunto de princípios que balizam as ações dos seres humanos nas sociedades em que
vivem, devendo ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma de atitudes e
comportamentos quotidianos.
Ao nível social, a ética pode subdividir-se em vários ramos, como por exemplo, ética
económica ou ética profissional. Isto porque todas as profissões têm uma ética, pois
implicam sempre o relacionamentos com as pessoas. Umas de maneira direta, como os
professores, os educadores, os médicos, os advogados, etc .. Outras de forma indireta, nas
atividades que têm a ver com objetos materiais, como a construção de pontes e edifícios, a
elaboração de programas informáticos, etc ..
Para compreender melhor as questões subjacentes à ética profissional, vale a pena precisar
o conceito de profissão.
A palavra profissão deriva do latim e significa pessoa que se dedica a cultivar uma arte.
Uma profissão é a prática de uma ocupação que influencia diretamente o bem estar humano
e requer o domínio de um corpo complexo de conhecimentos e capacidades especializadas,
acarretando igualmente prestígio ligado à posição social. Desta forma, a profissão beneficia
quem a exerce mas também está dirigida a outros, que serão igualmente beneficiados.
Neste sentido, a profissão tem como finalidade o bem comum ou o interesse público, pois
toda a profissão tem uma dimensão social, de serviço à comunidade e o valor de uma
profissão mede-se pelo grau de serviço que traga ao bem estar geral. Para alguns, a palavra
"profissão" tem mesmo uma origem transcendente e religiosa: o conceito de profissão
aparece ligado ao conceito de vocação, como o exemplifica a expressão ainda hoje utilizada
de "professar uma religião". Embora não seja esta a definição que é importante analisar
aqui, contudo ela indica-nos que a dimensão mais ampla deste conceito não reside apenas
na obtenção da recompensa financeira nem no controlo de um determinado conjunto de
conhecimentos: uma profissão é sempre uma forma de servir a sociedade com uma
finalidade que transcende os meros interesses pessoais.
1) apoiar o código ajuda a proteger os próprios engenheiros e as pessoas que lhes são
próximas daquilo que outros engenheiros possam fazer;
2) apoiar o código ajuda a garantir a cada engenheiro um ambiente de trabalho em que
a observância do código seja mais fácil;
3) apoiar o código ajuda a evitar que na sua profissão surjam questões éticas que
façam os engenheiros sentir-se envergonhados ou culpados;
4) apoiar o código significa também cumprir a sua parte enquanto engenheiro; se cada
engenheiro cumprir a sua parte, gera benefícios para toda a classe.
5)
4. Deontologia do engenheiro técnico
A OET dispõe de um conjunto de normas deontológicas aplicáveis aos seus membros,
estabelecidas no Estatuto da Ordem, aprovado pela Lei n.º 157/2015, de 17 de setembro.
Como disciplina do comportamento ético-profissional do engenheiro técnico, a deontologia
integra não só os deveres mas também os direitos daquele. Daqui resulta que o prestígio da
classe resulta não só do escrupuloso cumprimento dos deveres mas também do exercício
pleno dos direitos.
Importa atentar em dois grandes grupos de normas: as respeitantes aos direitos e deveres
para com a Ordem e as respeitantes aos deveres profissionais.
5. A responsabilidade disciplinar do engenheiro técnico
As duas primeiras penas são penas “leves”, aplicadas a faltas “ligeiras”. Já as penas
previstas nas alíneas c) e d), por serem mais graves, só podem ser aplicadas em
determinadas circunstâncias.
A pena prevista na alínea c) só pode ser aplicada por infração disciplinar que configure
negligência grave ou de acentuado desinteresse pelo cumprimento dos deveres
profissionais consagrados a alínea a) do artigo 73°, nas alíneas a) e c) do artigo 78°, nas
alíneas b) e c) do artigo 79°, no artigo 80° e nas alíneas a), c) e d) do artigo 81°.
A pena prevista na alínea d) só pode ser aplicada por infração disciplinar que afecte
gravemente a dignidade e o prestígio profissional do engenheiro técnico.
Capítulo III
1.Problemas Éticos
Há vários factores que podem contribuir para que as pessoas adoptem comportamentos
pouco éticos. Ao nível da empresa, um estudo realizado por Posner e Schmidt, citados por
Mercier11, identificou seis factores principais que estão na origem de comportamentos não
éticos:
1) Comportamentos dos superiores;
2) Comportamentos dos colegas;
3) Práticas éticas em vigor na industria ou na profissão;
4) Clima moral da sociedade;
5) Política formal da organização;
6) Necessidade financeira pessoal.
Perante esta lista, podemos concluir que o individuo é mais susceptível de ser influenciado
pelos comportamentos dos indivíduos que o rodeiam do que pela necessidade financeira
pessoal, que ocupa o último lugar da lista.
Uma vez que existe a possibilidade de existir comportamentos pouco éticos, é necessário
saber, tanto quanto possível, evitá-los. O que começa por saber lidar com os dilemas éticos.
Para fazer face aos dilemas éticos, é necessário compreender que a ética cria-se e aplica-
se através da razão, uma vez que o indivíduo é responsável pela decisão que aplica os
valores. Não se trata da mera aplicação de regras e directivas: trata-se de avaliar as
decisões à luz de valores partilhados que é necessário aplicar. Estes valores são muitas
vezes contraditórios e o indivíduo deve hierarquizá-los segundo as circunstâncias. E fá-lo
utilizando a sua razão, a sua reflexão crítica, ponderando os elementos da decisão para
avaliar a razão de ser dos comportamentos e formular razões para agir, tomando a decisão
razoável face a determinadas circunstâncias.
Já vimos que as normas deontológicas são um ponto de partida mas podem não ser
suficientes para resolver todos os problemas éticos. Por isso é tão necessário o recurso ao
raciocínio ético. O recurso à ética é necessário sempre que não existam regras para decidir
ou quando estas são imprecisas. A ética ajuda a tomar uma decisão através da
interpretação de regras, na gestão de conflitos entre diferentes regras, entre as regras e
determinados valores e mesmo entre diversos valores.
Esta perspetiva é uma perspetiva preventiva, que tenta antecipar as consequências
possíveis das ações de forma a evitar que surjam problemas mais sérios.
Conclusões
REFERENCIAS BIBLlOGRAFICAS