Aula 7 - 2022_10_05

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PEA3416 - PEA3424 e PEA5729

Conteúdo de hoje:

4. Funções de proteção
4.1 Introdução
4.2 Deteção de nível
a) Sobrecorrente
b) Sobretensão e subtensão
4.3 Comparação de ângulo
4.4 Diferencial
4.5 Impedância (ou admitância)

5. Proteção de linhas de transmissão


5.1 Proteção de sobrecorrente
4. Funções de proteção

4.1 Introdução

A detecção (performance characteristic) consiste na INTELIGÊNCIA do dispositivo de proteção. Tipicamente a


detecção está relacionada com o fenômendo que se pretende isolar e os tipos de função são:

a) Detecção de nível: sobrecorrente instantânea ou temporizada (ANSI 50/51), sobretensão,


subtensão (ANSI 27), etc.

b) Comparação de ângulo: comparação de fase entre duas grandezas, normalmente uma de


polarização e outra de atuação (ANSI 67 - sobrecorrente direcional)

c) Diferencial: "calcula" o somatório de correntes que entram na zona primária (deve ser nulo) e atua
quando percebe o defeito (ANSI 87)

d) Impedância (ou admitância): consiste no cálculo da impedância (ou admitância) vista do ponto de
instalação dos transformadores de instrumentação
4.2) Detecção de nível

A detecção de nível é o princípio de atuação mais simples. A função é de apenas uma grandeza e atua quando
essa grandeza ultrapassa um valor pré-fixado (função do tipo "sobre") ou cai abaixo de um valor pré-fixado
(função do tipo "sub").

a) Sobrecorrente: foi a primeira função de proteção desenvolvida e, inicialmente, era desempenhada por fusí-
veis (a inteligência que detecta o curto-circuito se confunde com o equipamento que o isola). O fusível
apresenta um tempo de atuação inversamente proporcional à magnitude da corrente que o atravessa e
possui as seguintes desvantagens:

- Necessidade de substituição (peças sobressalentes e equipe treinada)


- Abertura monopolar (sem chance de religamento)

Para minimizar esses problemas foram desenvolvidos os primeiros relés eletromecânicos de proteção de
sobrecorrente (instantânea e temporizada) que são independentes do dispositivo primário de manobra
dos equipamentos primários. Isso proporcionou:

- Espaço para a criação de outras soluções ("The art and science of power system protection")
- Permitiu manobras monopolares (aumenta a chance de manutenção da estabilidade)
As principais funções de sobrecorrente são:

a.1) Sobrecorrente instantânea - SEM ATRASO INTENCIONAL (ANSI 50): essa função atua quando percebe a
sobrecorrente, sem impor qualquer atraso ao contato de fechamento do disjuntor

a.2) Sobrecorrente temporizada (ANSI 51): há duas formas de se fazer a sobrecorrente temporizada. A primeira
consiste na curva "tempo de atuação vs. corrente" em que aumento de corrente leva a redução do tem-
po de atuação (jargão é sobrecorrente de tempo inverso). A curva pode ser dada por funções padroni-
zadas (ANSI ou IEC) e também por funções definidas pelos fabricantes. A segunda consiste na atuação
temporizada por tempo definido a partir de um patamar de corrente.

Sobrecorrente de tempo definido Sobrecorrente de tempo inverso


é a corrente de pickup associada com a máxima corrente de carga que o sistema estará sujeito e
também à mínima corrente de curto-circuito (para garantir o )

é o atraso intencional, também ajustável


a.3) Funções de sobrecorrente implantadas nos IEDs
- 50/51P: é a função de sobrecorrente de fase que monitora as três correntes de forma independente, porém
com o mesmo ajuste nas três
- 50/51N: é a função de proteção que monitora a soma das três correntes de fase (essa soma pode ser feita
"analogicamente" pela medição com um TC de neutro ou digitalmente no próprio IED)
- 50/51Q: função de proteção que monitora a sequência negativa e permite ajustes mais sensíveis para a
deteção de faltas dupla-fase

Obs.: a função de sobrecorrente de sequência negativa pode ser utilizada em linhas de transmissão (com o auxí-
lio da função direcional) para aumentar a sensibilidade dos sistemas de proteção, porque quando essas linhas
não são transpostas a mútua de sequência zero pode dessensibilizar a função de sobrecorrente de fase.
b) Subtensão e sobretensão

Em condições normais de operação, os níveis de tensão devem permanecer em patamares bem definidos (p.
ex. na distribuição eles devem ficar entre 93% e 105% - NR414 da ANEEL). Isso significa que tensões fora desses
patamares podem indicar situações anormais de operação.

- sobretensões: rejeição de carga, atuação incorreta de reguladores de tensão, controle inadequado de


tapes de transformadores, etc. A função de proteção contra sobretensões é a ANSI 59

- subtensões: normalmente relacionadas com curtos-circuitos (mas também com manobras). A função de
proteção contra subtensões é a ANSI 27
4.3 Função direcional (comparação de fase)

a) Introdução
É uma função de proteção que compara o ângulo entre duas grandezas alternadas.

a.1) Função de sobrecorrente direcional (ANSI 67)


Normalmente é utilizada em combinação com uma unidade de sobrecorrente para discriminar
o local de ocorrência da falta, quando a função de sobrecorrente sozinha é incapaz de fazê-lo.
Isso ocorre em sistemas interligados, linhas em aneis, circuitos em paralelo, etc.

a.2) Função direcional de potência (ANSI 32)


A função de comparação de fase pode ser utilizada para discriminar a direção do fluxo de
potência no caso de geradores ou motores.
Nesse caso fica mais evidente a necessidade
de utilização de comparação de fase, porque
para um curto-circuito na LT assinalada, não
só os disjuntores dessa LT podem abrir, mas
também os disjuntores indicados em azul
claro, porque as funções de sobrecorrente ali
utilizadas "enxergam" a mesma corrente de
defeito e podem ter os mesmos ajustes
b) Princípio de funcionamento

O princípio de funcionamento na tecnologia eletromecânica consiste no torque produzido pela interação


entre duas densidades de fluxo produzidas por duas grandezas elétricas alternadas: grandeza de operação
(caracteriza a falta) e grandeza de polarização (indica a diferença de fase entre ambas).
4.4) Função diferencial

a) Introdução

É uma proteção unitária por natureza, porque protege apenas o elemento dentro da sua zona primária. Essa
função NÃO provê retaguarda para qualquer outra. Essa função é uma das mais precisas, seletivas e eficientes
para a proteção dos equipamentos primários e nesse tipo de proteção a posição dos TCs define com precisão
a zona de proteção primária (por isso ela é denominada unitária). O número ANSI é 87.

b) Princípio de operação e confiabilidade


Embora a proteção diferencial seja bastante precisa e seletiva, podem ocorrer falhas de segurança e falhas de
operação:

Falhas de segurança:
Ocorrem quando eventos externos produzem leituras distintas nos TCs que circunscrevem a zona
primária. Essas leituras podem ser decorrentes de:

- Saturação de um dos TCs para eventos externos (a saturação normalmente ocorre em apenas
um dos TCs)

- Inrush de transformadores, ou carga fria (tipicamente são fenômenos que envolvem compo-
nentes harmônicas que não a fundamental)

- Mudança automática de tap de transformador (normalmente esse equipamento é protegido


pela função diferencial) que altera as correntes medidas por um dos TCs

- Corrente capacitiva nas LTs (em especial nas linhas longas e de alta ou extra-alta tensão)

Falhas de operação:
Ocorrem normalmente quando a falta é do tipo "alta impedância" porque essas faltas usualmente
resultam em correntes de falta pequenas e portanto, pequenas correntes de operação.
c) Implementação como função percentual

Para mitigar os erros decorrentes de saturação de TC, corrente de magnetização (inrush e carga fria), correntes de
deslocamento em LTs (correntes capacitivas), etc, a função ANSI 87 é implementada como uma função diferencial
percentual.
Uma característica "k" de 50% significa que uma corrente passante (de restrição) de 100 [A] requer uma cor-
rente de operação de 50 [A] para que o relé atue. Nos relés digitais (IEDs) existem funções com perfis variáveis
4.5) Função de distância

a) Introdução

A função de distância se baseia na impedância "vista" pelo IED, que é definida pelo ponto de instalação
dos transformadores de instrumentação. A impedância é calculada como a razão entre tensão e corrente fa-
soriais.

A função de distância (ANSI 21) pode ser usada para detcção de falhas em linhas de transmisão, subexcitação
de geradores síncronos, reatores (em especial em reatores com núcleo de ar), etc. A resposta dessa função
é analisada no plano complexo (comumente chamado de Plano R-X).
b) Função de distância em sistemas de transmissão mutuamente acoplados

Em sistemas trifásicos é mais coerente utilizar componentes simétricas porque os circuitos resultantes são inde-
pendentes entre si (são três circuitos monofásicos independentes).

Sendo assim, a função de distância calcula a impedância de sequência positiva do equipamento monitorado (p.
ex. linha de transmissão) tomando como dados de entrada as tensões de fase e de linha e as correntes de linha.

Ou seja, é possível calcular a impedância de sequência positiva por meio de seis elementos: três elementos de
terra e três elementos de fase.

Assim como a função diferencial, que apresenta erros sob condições especiais, a função de distância também
possui fontes de erro:
- Power swing (oscilação de potência provocada por mudanças topológicas no sistema elétrico) produz
variações de frequência que introduzem erros nos cálculos dos fasores
- Close-in faults (faltas próximas à barra do TP) que levam a tensão a zero e introduzem erros significa-
tivos no cálculo da impedância
- Resposta dinâmica dos TI (erros de transformação, saturação de TC, resposta do TPC)
- Rf introduz uma tensão no ponto de falta que pode ou não estar em fase com a corrente do terminal
onde a função é instalada
- Contribuição dos equivalentes de Thevenin nos terminais local e remoto
- Componente aperiódica nos sinais de corrente
5. Proteção de linhas de transmissão
5.1 Proteção de sobrecorrente
A proteção de sobrecorrente de tempo inverso possui curvas padronizadas:

- Tipicamente o fabricante do equipamento oferece uma família de curvas própria


- Família de curvas da IEEE (ANSI)
- Família de curvas da IEC

a) Família de curvas da IEEE (ANSI)


tipo de curva
Parâmetros extremamente inversa muito inversa moderadamente inversa

A 28,2 19,61 0,0515


B 0,1217 0,491 0,1140
p 2 2 0,02

A escolha do tipo de curva dentro da família leva em consideração a variação da corrente de curto-circuito ao
longo do caminho série a ser protegido. Quanto menor for essa variação, mais inversa tem que ser a curva
para se garantir a seletividade e a coordenação entre as proteções primárias e de retaguarda.

b) Família de curvas da IEC


Tipo de curva

Parâmetros short inverse A B C

K 0,05 0,14 13,5 80


E 0,04 0,02 1 2
a.3) Ajustes das funções de sobrecorrente instantânea e temporizada

- Sobrecorrente instantânea:
Apenas a escolha da corrente de pickup (tipicamente em termos de valores
secundários do TC) para garantir coordenação e seletividade entre todos os
elementos que estão em série

- Sobrecorrente de tempo definido:


Escolha da corrente de pickup usando critérios semelhantes aos da
sobrecorrente instantânea, e também escolha do tempo de atuação (TD).
Quando o ajuste envolve seletividade lógica os critérios são aqueles já
apresentados (corrente de pickup que garante discernimento entre corrente
máxima de carga e mínima de curto-circuito e TD que garante que a
mensagem de bloqueio seja lida por quem deve ser bloqueado).

- Sobrecorrente de tempo inverso:


- Tipo de curva dentro da família
- Escolha da corrente de pickup
- Cálculo do MT para garantir coordenação
- Sobrecorrente de tempo inverso (cont.)

O ajuste da função de sobrecorrente de tempo inverso é feito em três etapas:

- Escolha da curva (família e tipo), que deve ser igual para todos os equipamentos de modo a evitar falhas
de coordenação. O tipo de curva depende da impedância dos trechos que se pretende proteger, isto
é, impedâncias pequenas que implicam correntes de curto-circuito próximas em todas as barras
demandam tipos de curva mais inversos para garantir coordenação.

- Cálculo da corrente de pickup

- Ajuste dos multiplicadores de tempo (MT) de cada função de sobrecorrente, de modo a garantir coorde-
nação. Para o ajuste da função mais a jusante, escolhe-se o menor MT possível e para as demais,
deve-se escolher um multiplicador de tempo que satisfação o critério de coordenação de tempo
para atuação das funções (principal e retaguarda remota)
Escolha da corrente de pickup:

- Sobrecorrente instantânea: nesse caso, a corrente de pickup deve ser ajustada para que nenhuma falta
na zona a jusante da zona primária sensibilize essa função. Isso porque não é possível obter seletivi-
dade temporal.
tipicamente produzida por um curto-
circuito trifásico na barra 20, com
impedância de fonte baixa

ATENÇÃO: esse ajuste não garante que


100% do trecho 10-20 está protegido

obs.: em sistemas onde há maior incerteza nos dados e/ou menor frequência de revisões,
pode-se optar por utilizar um FS maior do que 1,25.
- Sobrecorrente de tempo inverso: para se obter seletividade por meio de temporização é necessário
escolher uma corrente de pickup capaz de discernir a máxima corrente de carga da mínima corrente
de curto-circuito. Tipicamente:

Se não for possível satisfazer simultaneamente as duas condições, deve-se optar por uma situação onde há
mais falhas de segurança (Ipk mais próximo da corrente máxima de carga) ou mais falhas de operação (Ipk
mais próximo da mínima corrente de curto-cirtuito), em função do tipo de confiabilidade que se deseja
A coordenação da função de sobrecorrente temporizada fica:

- Sobrecorrente de tempo inverso


- Sobrecorrente de tempo definido

Então, a coordenação da função de sobrecorrente de tempo definido implica aumento do tempo de


atuação a medida que o curto-circuito se aproxima da subestação, isto é, quanto maior a corrente de
carga maior é o tempo de atuação (isso não é bom para o sistema elétrico).
- Exemplo
A utilização de um dispositivo de proteção exclusivo para o neutro torna a proteção mais sensível, melhorando
o dependability. Isso porque em sistemas trifásicos e equilibrados, usualmente a corrente de neutro é próxima
de zero e a proteção observa somente a corrente de falta (para faltas que envolvam a terra).

No caso do ajuste da corrente de pickup para as unidades de neutro, toma-se o maior desequilíbrio como o li-
mite inferior do cálculo da corrente de pickup e a mínima corrente de curto-circuito para os curtos-circuitos
que envolvam a terra.

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