Apostila O Tradutor Interprete de Libras Formação e Prática
Apostila O Tradutor Interprete de Libras Formação e Prática
Apostila O Tradutor Interprete de Libras Formação e Prática
Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: O tradutor interprete de línguas orais X sinais 05
Assista a suas aulas 26
Unidade 2: O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil 33
Assista a suas aulas 58
Unidade 3: Formação do TILS e a ética profissional 65
Assista a suas aulas 87
Unidade 4: O intérprete educacional 95
Assista a suas aulas 114
2/225
2/201
O Tradutor Interprete de Libras: Formação e Prática
Autoria: Sandra Cristina Malzinoti Vedoato
Como citar este documento: VEDOATO, Sandra. C. M. O tradutor interprete de Libras: formação e práti-
ca. Valinhos: 2017.
Sumário
Unidade 5: Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação 121
Assista a suas aulas 142
Unidade 6: Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras 149
Assista a suas aulas 168
Unidade 7: Interpretação da Libras para a língua portuguesa 176
Assista a suas aulas 195
Unidade 8: Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções 202
Assista a suas aulas 217
3
3/225
Apresentação da Disciplina
Objetivos
5/225
Introdução
Os termos podem se distinguir quanto à modalidade de língua meta, logo, em relação ao profis-
sional, acredita-se que ele pode verter línguas orais ou sinalizadas, e em outras situações verter
as línguas na modalidade escrita. Especificamente, em relação o tradutor intérprete de língua de
sinais, Quadros (2004, p. 11) destaca que este é o profissional habilitado para verter quaisquer
modalidades de língua, sinalizada, oral e escrita:
Leite (2004), refletindo sobre os estudos de Cokley (1992), apresenta um quadro comparando as
complexidades e especificidades de cada modalidade.
Quadro 1 – Como os tradutores e Intérpretes podem conduzir suas tarefas
Tradutores Intérpretes
- Podem checar seus trabalhos consigo mesmo ou - Tomam decisões mais rápidas em relação ao sig-
com assistente de tradução, pois têm o texto per- nificado do texto sem, às vezes, saberem a inten-
manentemente à disposição. ção do autor ou o significado antecipadamente.
- Podem se reportar constantemente ao texto fon- - Têm a opção de perguntar diretamente à fonte,
te para traduzir, tendo a opção de poder retornar quando imaginam que cometeram erros ou que-
às partes já traduzidas, em qualquer tempo, pois o rem esclarecer uma informação antecipadamente.
texto e a tradução são escritos.
Para compreender melhor os termos envolvidos e a importância do léxico que carregam, convi-
damos você, aluno, para conhecer a gênese da atuação do intérprete de línguas orais.
Com a entrada dos Estados Unidos da Amé- nacionais, como a Organizações das Nações
rica nas negociações Internacionais pós- Unidas – ONU, a Organização do Tratado do
-Primeira Guerra Mundial, período em que Atlântico Norte – OTAN e a Comunidade Eu-
o inglês passou a estar em pé de igualdade ropeia do Carvão e do Aço – CECA, embrião
com o francês, a intermediação de intérpre- da atual União Europeia.
tes de línguas orais passou a ser indispen-
sável. Rodrigues e Burgos (2001) apontam
que o reconhecimento da profissão do in-
térprete de línguas orais ganhou maior im-
pulso com a criação de organizações inter-
14/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
EUA. Os cursos de formação de intérpretes
Link no exterior, na maioria, não são vinculados
a cursos de Letras. No Brasil, há cursos uni-
Acesse o link e assista a “Um breve histórico da versitários de formação de intérprete de
interpretação de conferências”. Disponível em: línguas orais, sendo alguns, vinculados ao
<https://www.youtube.com/watch?v=qTP- curso de Letras. Lacerda (2013) pontua que
voYZJKg4>. os primeiros programas de formação de
Quanto à formação dos intérpretes de lín- intérpretes encontravam-se na Pontifícia
guas orais, Lacerda (2013) comenta que ela Universidade Católica do Rio de janeiro e na
foi acontecendo na prática, de maneira si- Associação Alumni, em São Paulo.
milar aos tradutores intérpretes de língua de Os intérpretes de línguas orais, com o pas-
sinais, sendo que a primeira escola de for- sar dos tempos, foram se organizando pro-
mação de intérpretes foi a Universidade de fissionalmente em diversos países por meio
Genebra, em 1941. De acordo com a autora, de associações. No âmbito internacional,
atualmente, a maioria dos cursos de for- existe a Associação Internacional de Intér-
mação de intérpretes com maior referência pretes de Conferências – AIIC, que conta
ocorre na Europa. Na América, os principais hoje com 3.000 membros no mundo inteiro,
centros de formação estão no Canadá e nos em 89 países e 22 regiões. No Brasil, existe a
15/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
Associação Profissional de Intérpretes de Conferências – APIC fundada em 1971.
Algo importante a ser considerado nesse categoria. No dia 22 de agosto de 2008 foi
panorama histórico é a regulamentação da fundada a FEBRAPILS – Federação Brasileira
profissão do tradutor no Brasil e as entida- dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e
des de classes associadas. Em 21 de maio Guias-Intérpretes de Língua de Sinais – en-
de 1974 foi fundada a Associação Brasileira tidade federal que, juntamente com as as-
de Tradutores – ABRATES. Com o reconhe- sociações, luta por melhores condições de
cimento da profissão do tradutor, fundou- trabalho para os profissionais.
-se o SINTRA – sindicato que representa
a classe em todo o território nacional. No
caso dos intérpretes de língua de sinais,
Link
associações foram criadas em diversos es- Aproveite para conhecer um pouco mais estas as-
tados, buscando atender às demandas da sociações, acessando os sites: <https://abrates.
com.br/> ; <http://www.febrapils.com.br/>.
16/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
1.2 Em que se diferem?
Uma vez que iniciamos esse tema abordando os intérpretes de línguas orais e em seguida abor-
daremos os intérpretes de língua de sinais, diferenciando a gênese deles, é pertinente que obser-
vemos as diferenças entre as duas modalidades de interpretação.
Anater e Passos (2010, p. 219), tendo como base dados coletados por Rodrigues e Burgos (2001)
de relatos de experiências vividas por tradutores intérpretes de língua de sinais, pontuam várias
diferenças observáveis entre os intérpretes de línguas orais, as quais podemos destacar:
Quadro – Intérprete de Língua Oral X Intérprete de língua de sinais
Diferença política Atua com línguas orais (muitas Atua com línguas de sinais (ain-
vezes de prestígio). da muito estigmatizadas).
Clientes Na maioria das vezes, seus clien- Na maioria das vezes, seus
tes são de outros países. “clientes” são da mesma cidade.
Apesar de esses profissionais atuarem com Gurgel (2010) ao comentar sobre o “lugar
mediações linguísticas, as especificidades social” do tradutor intérprete de língua de
dos trabalhos realizados são bem diferen- sinais em relação aos intérpretes de línguas
tes. Os tradutores intérpretes de língua de orais, salienta que embora ambos tenham a
sinais se expõem mais, lidam com língua de mesma função “verter de uma língua para a
modalidades diferentes (língua oral e lín- outra” atuam entre grupos com reconheci-
gua de sinais) e possuem uma relação com mento social bem diferente. Os intérpretes
seus clientes no caso, os surdos de maneira de línguas orais tendem a atuar em grupos
muito mais próxima do que os tradutores de de prestígio social como: diplomatas, ho-
línguas orais. mens de negócios, representantes gover-
18/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
namentais, eventos científicos e turísticos envolvido em situações que favorece o po-
envolvendo pessoas com reconhecimento der social do seu grupo. Isso deve acarretar
social, em atividades e eventos que resul- responsabilidade pela inclusão social, pos-
tam em impacto econômico relevante. No sibilitando o respeito ao surdo de maneira
entanto, os tradutores intérpretes de língua que ele interaja cada vez mais em situações
de sinais atuam em uma população marca- das mais diversificadas da sociedade.
da por uma história mundialmente de ex- Pereira (2008), quando discorre a respeito
clusão, marginalização e descrédito social, das diferenças de atuação entre os tradu-
usuária de uma língua diferente visual-ges- tores e intérpretes de línguas orais e os de
tual, com reconhecimento linguístico re- língua de sinais, destaca uma inversão na
cente, ou seja, uma população com menor ordem de demandas de atuação, conforme
prestígio social. mostra o quadro a seguir:
Trazer a questão do lugar social do TILS é um
fato relevante porque o tradutor intérprete
de língua de sinais que tem consciência da
história do grupo social em que atua, assu-
me papéis que vão além das questões lin-
guísticas, ou seja, ele está constantemente
19/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
Quadro – Áreas de atuação dos tradutores e intérpretes de línguas orais X Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais
2. Conferência 2. Trâmites/acompanhamentos
3. Trâmites/acompanhamento 3. Conferências
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Considerações Finais
Você aprendeu:
• Traduzir envolve texto escrito, enquanto interpretar envolve línguas orais e
sinalizadas.
• Historicamente, a participação dos intérpretes de línguas orais foi marcada
no julgamento dos nazistas em Nuremberg, que durou quase três anos.
• A área que mais comporta os tradutores intérpretes de língua de sinais é a
educação.
• Os intérpretes de línguas orais e os tradutores intérpretes de língua de sinais
atuam entre grupos com reconhecimento social bem diferente.
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Referências
ANATER, Gisele I. P.; PASSOS, Gabriele C. R. dos. Tradutor e intérprete de língua de sinais: história,
experiências e caminho de formação. Cadernos de Tradução. Florianópolis: Ed. UFSC, 2010.
COKLEY, D. The interpreted medical interview: It loses something in the translation. The Reflec-
tor 3:5-11, 1992.
GINEZI, Luciana L. A ética na interpretação de tribunal: o Brasil no banco dos réus. Tradterm 20
(2012): 27-42.
GURGEL, Taís Margutti do Amaral. Praticas e Formação de tradutores Intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais no Ensino Superior, 2010. 168f. Tese (Doutorado). Universidade Metodista
de Piracicaba faculdade de Ciências Humanas UNIMEP, 2010.
LACERDA, C. B. F. Interprete de libras em atuação na educação infantil e no ensino funda-
mental. 5. ed. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2013.
LEITE, Emeli Marques da Costa. Os papéis do intérprete de LIBRAS na sala de aula inclusiva.
2004. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2004.
PAGURA, Reynaldo. A interpretação de conferências: interfaces com a tradução escrita e impli-
cações para a formação de intérpretes e tradutores. DELTA, v. 19, p. 209-236, 2003.
Aula 1 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas Aula 1 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas
Orais X Sinais. Bloco I Orais X Sinais. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
1d/5ecb13280cb0bf06bbdf83df286613a3>. e09230268d9ed4ef132e0150d971b31f>.
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Questão 1
1. Segundo os estudos de Cokley (1992), quando compara as especificidades
do trabalho dos tradutores e dos intérpretes, várias são as diferenças, exceto:
a) Os tradutores podem checar seus trabalhos, uma vez que tem o texto permanentemente à
disposição, os intérpretes tomam decisões mais rápidas e muitas vezes não sabem a inten-
ção do autor.
b) Como trabalham com texto escrito, os tradutores podem retomar às partes já traduzidas em
qualquer momento; os intérpretes não podem voltar atrás em partes do discurso.
c) Os tradutores não podem fazer uso de materiais como dicionários, já os intérpretes já têm
esse privilégio.
d) Os tradutores têm o tempo como aliado, já os intérpretes não.
e) Os tradutores podem recorrer ao texto antecipadamente para resolver problemas de gênero
no pronome de uma dada língua.
27/225
Questão 2
2. Pereira (2008), quando discorre a respeito das diferenças de atuação
entre os tradutores e intérpretes de línguas orais e os de língua de sinais,
destaca uma inversão na ordem de demandas de atuação. Assinale a al-
ternativa que se refere ao tradutor intérprete de línguas orais:
a) 1 Tradução escrita, 2 Conferência, 3 Trâmites/acompanhamento, 4 Educação.
b) 1 Educação, 2 Trâmites/acompanhamentos, 3 Conferências, 4 Tradução escrita.
c) 1 Trâmites/acompanhamento, 2 Educação, 3 Tradução escrita, 4 Conferência.
d) 1 Tradução escrita, 2 Conferência, 3 Educação, 4 Trâmites/acompanhamento.
e) 1 Educação, 2 tradução escrita, 3 Conferência, 4 Trâmites/acompanhamentos.
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Questão 3
3. Várias são as diferenças observáveis entre os intérpretes de língua de
sinais e os intérpretes de línguas orais, segundo Anater e Passos (2010),
exceto:
a) Diferença política: quando o intérprete de língua oral atua entre línguas de prestígio e os tra-
dutores intérpretes de língua de sinais atuam com língua ainda muito estigmatizada.
b) Diferença social: quando o intérprete de língua oral atua com pessoas de classe econômica
privilegiada e os tradutores intérpretes de língua de sinais atuam com pessoas de classe eco-
nômica menos privilegiada.
c) Diferença de clientes: o intérprete de língua oral, na maioria das vezes, trabalha com estran-
geiros, os tradutores intérpretes de língua de sinais, na maioria das vezes, seus clientes são da
mesma cidade.
d) Diferença de atuação: na maioria das vezes, o intérprete de língua oral atua em situações ofi-
ciais e conferências enquanto os tradutores intérpretes de língua de sinais têm um campo de
trabalho muito mais amplo.
e) Diferença de exposição: os intérpretes de língua oral, geralmente ficam em cabines enquanto
os tradutores intérpretes de língua de sinais estão sempre expostos quando interpretam a lín-
29/225
gua oral para a língua de sinais.
Questão 4
4. Segundo Quadros (2004), qual seria uma definição básica para o tradutor
e intérprete de língua de sinais?
a) Pessoa que interpreta uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua
para uma determinada língua de sinais.
b) Pessoa que apenas interpreta uma dada língua de sinais para outra língua oral.
c) Pessoa que interpreta apenas uma língua oral para uma determinada língua de sinais.
d) Pessoa que interpreta apenas a língua de sinais escrita para a língua oral na modalidade es-
crita.
e) Pessoa que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa em quais-
quer modalidades que se apresentam (oral ou escrita).
30/225
Questão 5
5. Segundo Rodrigues e Burgos (2001), o reconhecimento da profissão
do intérprete de línguas orais ganhou maior impulso a partir do seguinte
acontecimento?
a) A partir da I Guerra Mundial.
b) A partir da II Guerra Mundial.
c) A partir da criação das primeiras associações de tradutores no mundo.
d) A partir da Guerra do Vietnã (1962-1975).
e) A partir da criação de organizações internacionais, como a ONU, a OTAN e a CECA.
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Gabarito
1. Resposta: C. mar que os tradutores intérpretes de língua
de sinais atuam somente com pessoas de
Os tradutores não podem fazer uso de ma- classe econômica menos privilegiada, seria
teriais como dicionários, já os intérpretes já um equívoco..
têm esse privilégio. Não corresponde, pois
os intérpretes lidam muito mais com a ins- 4. Resposta: E.
tantaneidade do que os tradutores.
Quadros (2004) define o tradutor intérprete
2. Resposta: A. de língua de sinais como pessoa que traduz
e interpreta a língua de sinais para a língua
De acordo com Pereira (2008), a atuação do falada e vice-versa em quaisquer modalida-
intérprete de línguas orais segue a seguinte des que se apresentar (oral ou escrita).
sequência: 1. Tradução escrita, 2. Conferên-
cia, 3. Trâmites/acompanhamento, 4. Edu- 5. Resposta: E.
cação.
o que impulsionou o reconhecimento pro-
3. Resposta: B. fissional do intérprete de línguas orais foi
a criação de organizações internacionais,
A diferença social não influencia, pois afir- como a ONU, a OTAN e a CECA.
32/225
Unidade 2
O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Objetivos
• Apresentar a definição do tradutor intérprete de língua de sinais – TILS.
• Conhecer as primeiras atuações deste profissional no Brasil.
33/225
Introdução
Neste sentido, o tradutor intérprete de lín- sentes surdos e ouvintes que não comparti-
gua de sinais assume um papel extremante lham da mesma língua, ou seja, tem o papel
relevante, nas interações sociais, principal- de favorecer e intermediar o diálogo, po-
mente em ambientes em que estejam pre- dendo promover mudanças no cenário de
Quadros e Karnopp (2004), Santos (2006), ciais, os TILS tinham condições de ampliar
Lacerda (2010) relatam que historicamente o conhecimento linguístico e, ao moldar-se
no Brasil, desde o início da década 1980, a às demandas da prática foram-se consti-
formação do TILS foi constituída na infor- tuindo como tradutores intérpretes da lín-
malidade, nas relações sociais, pela deman- gua de sinais.
da dos próprios surdos. Nessas relações so-
39/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
O espaço religioso é apontado como o lugar principal de aprendizagem e atividade de tradução
e interpretação exercida pelos TILS conforme destacam Souza e Silva (2006, p 2):
Souza (2013) comenta que a criação de mi- parte de pessoas ouvintes, aprendizes da
nistérios com surdos em diversas organi- Libras, com característica assistencialista,
zações eclesiásticas era uma iniciativa por e principalmente voluntária, pois não rece-
40/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
biam tipo algum de remuneração financei- instituições religiosas, apresenta algumas
ra. contribuições sobre as demandas desse
Quanto ao fato de evangelizar e catequi- profissional nas instituições de matriz pro-
zar os surdos por meio da interpretação de testante, tais como: o TILS não atua apenas
missas e cultos, Santos (2006) faz uma ana- em performances interpretativas, mas, as-
logia da prática de catequização dos índios sume o papel de missionário-intérprete, ou
que aconteceu em nosso país. Segundo a seja, o intérprete também é incumbido de
autora, a maioria dos profissionais que hoje orientar as famílias dos surdos e a comuni-
atuam, mantiveram estreita relação com as dade religiosa quanto à questão social, cul-
questões religiosas. Na maior parte os TILS tural e linguística que envolve a surdez.
se submetiam a curso de Libras, ou por já
saberem a língua de sinais no contato com
os surdos, se tornavam como um atrativo
linguístico aos surdos que até então não po-
diam compreender e participar das missas e
cultos devido à barreira de comunicação.
Silva (2011), ao realizar uma pesquisa etno-
gráfica acerca das concepções da surdez em
41/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Para saber mais
Realize a leitura de da tese de Dr. César Augusto de Assis Silva, cujo título é: Entre a deficiência e a cul-
tura: análise etnográfica de atividades missionárias com surdos. Disponível em: <http://www.teses.
usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-13102010-144632/en.php>.
A atuação inicial dos TILS em instituições religiosas trouxe contribuições no que se refere à pro-
dução de materiais em língua de sinais, em tempos anteriores ao reconhecimento da língua como
apresenta Silva (2011, p. 34).
Link
Conheça a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, acessando o site <feneis.
org.br>.
53/225
Considerações Finais
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Referências
LEITE, Emeli Marques da Costa. Os papéis do intérprete de Libras na sala de aula inclusiva.
2004. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2004.
QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEE, 2004.
_____. R. M. de; SZEREMETA, J. F.; COSTA, E.; FERRARO, M. L.; FURTADO, O.; E SILVA, J. C. Exame
PROLIBRAS. Florianópolis: EDUFSC, 2009.
_____. Ronice Muller de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. 1. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2004.
ROSA, A. da S. A presença do intérprete de língua de sinais na mediação social entre surdos e
ouvintes. In: SILVA, I. R.; KAUCHAKJE, S.; GESUELI, Z. M. (Org.). Cidadania, surdez e linguagem.
São Paulo: Plexus, 2003.
RUSSO, Ângela. Intérprete de língua de sinais: uma posição discursiva em construção. 2009.
130f. Dissertação de Mestrado. Universidade federal do rio Grande do sul. Faculdade de educa-
ção. 2009.
Aula 2 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas Aula 2 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas
de Sinais no Brasil. Bloco I de Sinais no Brasil. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
93ca2f447f48f7ac7625a7e5c593f8b0>. fd8e1012c9a73783363bf749d9468c51>.
58/225
Questão 1
1. A Legislação que reconhece a profissão do tradutor e intérprete de língua
de sinais é a seguinte:
a) Lei nº 10.436/02.
b) Lei nº 12.319/10.
c) Decreto nº 5.626/05.
d) Lei nº 10.098/00.
e) Lei nº 10.426/05.
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Questão 2
2. Segundo os registros históricos, os primeiros tradutores intérpretes a atu-
ar mediando comunicação entre a comunidade surda e a comunidade ou-
vinte foram:
a) Os intérpretes religiosos protestantes.
b) Os intérpretes religiosos católicos.
c) Os amigos de surdos.
d) Voluntários das associações de surdos.
e) Familiares e amigos de surdos, que interpretavam movidos pela necessidade.
60/225
Questão 3
3. Na década dos anos 80, uma entidade ligada ao movimento surdo, come-
ça a desenvolver encontros nacionais de tradutores e intérpretes de língua
de sinais. Essa entidade é denominada:
a) ACATILS.
b) FEBRAPILS.
c) MEC/SEED.
d) FENEIS.
e) INES.
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Questão 4
4. Qual área que o Decreto nº 5626/2005 mais recomenda e destaca à atu-
ação do TILS?
a) Área da saúde.
b) Área jurídica.
c) Área da publicidade e propaganda.
d) Área social.
e) Área educacional.
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Questão 5
5. Em situações onde “fundos” não são possíveis, segundo o primeiro código
de Ética, que faz parte do Regimento Interno do Departamento Nacional de
Intérpretes da FENEIS, qual deve ser o procedimento do TILS?
a) Dispuser-se a providenciar serviços de interpretação.
b) Negar-se a providenciar serviços de interpretação.
c) Realizar os serviços, com valores mais baixos.
d) Dispuser-se a realizar os serviços de interpretação,
e) Só realizar serviços de interpretação gratuitos em casos médicos
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Gabarito
1. Resposta: B. 4. Resposta: E.
3. Resposta: D.
Objetivos
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Introdução
O intervalo entre os anos de 1990 até 2002 que veio a ser promulgada em 2002, fican-
foi marcado por um período de segmenta- do nacionalmente reconhecida como Lei da
ção dos campos de atuação do TILS, além Libras.
do espaço religioso, outras áreas começa- Com o reconhecimento linguístico da Libras
vam a demandar da figura deste profissio- a presença dos TILS se tornou mais viável e
nal, principalmente, na área educacional, agora justificável, demandando diretrizes
no entanto, não havia amparos legais espe- legais para a formação profissional e seu re-
cíficos que justificassem a presença e o tra- conhecimento que ocorreu em 2010.
balho do TILS.
Neste sentido, caro aluno, você irá conhecer
Foi nos anos 2.000 que essa história come- os preceitos legais da formação e os princi-
çou a traçar percursos novos, aliando de- pais preceitos éticos do profissional do TILS.
mandas sociais com prerrogativas legais e
desdobramentos políticos acerca da aces-
1. Formação do TILS Segundo a
sibilidade à pessoa com necessidades edu-
Legislação Vigente
cacionais especiais e comunicativas. O ano
de 2002 foi um verdadeiro marco histórico, A última década pode ser considerada como
tanto para os surdos quanto para os TILS. o período de elaboração e reconhecimento
De acordo com Assis Silva (2011), aquela de uma série de leis, portarias e decretos no
66/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
intuito de promover a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais e pessoas
que utilizam outros tipos de comunicação que não a língua portuguesa. A Lei nº 10.098, de 19 de
dezembro de 2000, que determina normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessi-
bilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, prevê no artigo 18 do capítulo
VII da acessibilidade sistemas de comunicação e sinalização:
Fonte: <https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ve-
d=0ahUKEwjUjPGV2PTUAhWBh5AKHX3gDUAQFggmMAA&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttp%2Fwww2.camara.leg.br%2Fa-
tividade-legislativa%2Fcomissoes%2Fcomissoes-permanentes%2Fcpd%2Fdocumentos%2Fapresentacao-s-
ra-patricia-tuxi%2Fview&usg=AFQjCNGQflBa9FE-nk4yidzWDnZYryVLZQ>. Acesso em: 16 jul. 2017.
Link
Faça o seguinte exercício, acesse o link a seguir e realize algumas provas do PROLIBRAS, depois compare
seus acertos com os gabaritos:
Lacerda (2010) assinala que o Exame Nacio- ta que muitos que atuavam como TILS te-
nal foi criado em caráter de urgência para riam sido contratados sem avaliação espe-
reconhecer aqueles que já atuavam nessa cífica da formação e com competência para
função, para atender às demandas judiciais exercer esta função.
e/ou da comunidade surda. A autora ressal-
71/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
Gurgel (2010, p. 58) também pontua algumas considerações em relação ao PROLIBRAS:
Este exame habilita a pessoa a atuar como TILS e emite um certificado que vem
sendo exigido por diferentes instituições (educacionais entre outras) para a con-
tratação deste profissional. Nesse sentido, não tem sido feita uma exigência de for-
mação específica para esta função, e a certificação tem sido considerada como
suficiente.
A procura pelo TILS tem aumentado em diversos espaços, principalmente no educacional. Como
consequência, a oferta de cursos em nível de formação técnica e até mesmo cursos de gradua-
ção e pós-graduação para a formação deste profissional começam a despontar pelo país.
Desta forma, a formação do TILS de acordo com a legislação vigente pode ser obtida por meio de:
A interpretação é um processo ativo e dinâmico assim como é Libras, “língua social e histórica,
que adquire seu sentido no momento em que está sendo utilizada, num movimento ativo e não
pode ser considerada como algo estático, como um sistema de regras” (GURGEL, 2010, p. 44). A
atuação desse profissional não se restringe apenas ao ato de interpretar e transmitir conteúdos
de uma língua para a outra, ou seja, ser fluente em uma língua, não é o único requisito para o seu
exercício, fundamental claro, mas outros fatores colocam-se também como primordiais.
82/225
Considerações Finais
83/225
Referências
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BRASIL. Decreto nº 5.626/2005. Regulamenta a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe
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Diário Oficial da União. Brasília, 22 dez. 2005.
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de reduzida. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/
decreto/d5296.htm>. Acesso em: 22 jun. 2017.
Aula 3 - Tema: Formação do TILS e a Ética Pro- Aula 3 - Tema: Formação do TILS e a Ética Pro-
fissional. Bloco I fissional. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
4c5b053f200dc74112444ccc61399871>. 86dd5a82dd99c6b8dfd8ae76078cad91>.
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Questão 1
1. Segundo Quadros (2004), quais são os cinco princípios éticos que os tra-
dutores intérpretes de língua de sinais precisam ter?
a) Respeito, responsabilidade com horário, discrição, distância profissional e fidelidade.
b) Confiança, parcialidade, discrição, distância profissional e fidelidade.
c) Autonomia, parcialidade, confiança do surdo, fidelidade e pontualidade.
d) Pontualidade, respeito, discrição, distância profissional e fidelidade.
e) Imparcialidade, discrição, distância profissional, fidelidade e confiabilidade.
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Questão 2
2. Assinale a alternativa que melhor define o PROLIBRAS.
a) Uma prova promovida pela FENEIS, que atestou quem é intérprete ou não através de uma
banca examinadora.
b) Uma prova promovida pela FEBRAPILS, que certificou os intérpretes que atuam no espaço
educacional.
c) Um vestibular para ingresso no curso Letras-Libras na modalidade bacharelado.
d) Uma avaliação promovida, anualmente, pelo MEC que certificou a proficiência linguística
dos tradutores e intérpretes de língua de sinas.
e) Uma banca promovida pelas associações de intérpretes, que aconteceu anualmente em par-
ceria com a FENEIS e MEC desde 2002.
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Questão 3
3. No Brasil, a presença dos intérpretes de língua de sinais se iniciou em tra-
balhos religiosos, mas o marco fundamental do processo de reconhecimento
profissional do TILS foi:
a) A realização de encontros estaduais em 1993 e 1994.
b) A homologação da Lei Federal nº 10.436/2004 da língua de sinais.
c) A regulamentação da lei da Libras pelo decreto nº 5626/2005.
d) A criação de associações de TILS em diversos estados.
e) A criação do Código de Ética do TILS.
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Questão 4
4. Assinale a alternativa que apresenta a Lei que reconhece o exercício da
profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
a) Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
b) Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
c) Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
d) Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
e) Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010.
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Questão 5
5. Qual documento legal determina o uso da janela de Libras?
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Gabarito
1. Resposta: E.
Os cinco preceitos éticos citados por Quadros (2004) são imparcialidade, discrição, distância
profissional, fidelidade e confiabilidade.
2. Resposta: D.
Uma avaliação promovida, anualmente, pelo MEC que certificou a proficiência linguística dos
tradutores e intérpretes de língua de sinas.
3. Resposta: C.
O marco fundamental do processo de reconhecimento profissional do TILS foi a regulamentação
da lei da Libras pelo decreto nº 5.626/2005.
4. Resposta: E.
Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010 que reconhece o exercício da profissão de Tradutor e
Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LI RAS.
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Gabarito
5. Resposta: D.
O capítulo VI, artigo 53, inciso III, determina o uso da “janela de Libras” para o acesso a informa-
ção e comunicação.
94/225
Unidade 4
O intérprete educacional
Objetivos
• Conhecer as atribuições do intérprete educacional e as implicações dos diferentes níveis
educacionais.
• Compreender a relação do intérprete educacional e o professor em sala de aula.
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Introdução
Com a proposta da inclusão, muitas escolas regulares do país que entre os seus alunos apresen-
tam pessoas com surdez adotam para si o adjetivo de Escola Bilíngue, em que, a Libras e a língua
portuguesa (na modalidade escrita) são línguas de instrução durante o processo de ensino e
aprendizagem dos alunos surdos. Quanto à educação bilíngue, Quadros (2004) pontua que se
97/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
faz necessária a presença do tradutor intér- Intérprete educacional
prete de Libras na sala de aula regular, com
o objetivo de favorecer o cumprimento de O intérprete educacional pode atuar desde
política linguística em território nacional. a educação infantil à educação de nível mé-
dio, superior e até de pós-graduação. Pro-
É neste contexto que emerge o intérpre-
fissional previsto no Decreto nº 5.626, res-
te educacional com o objetivo de mediar
ponsável por dar acessibilidade linguística
o processo comunicativo entre as pessoas
aos alunos surdos interpretando do Portu-
que não dominam a mesma língua. O ter-
guês para a Língua de Sinais e vice-versa os
mo intérprete educacional foi utilizado pela
conteúdos tratados no espaço educacional.
primeira vez no Brasil em 2002 por Lacer-
O que a legislação atribui a este profissio-
da. A autora explica que essa terminologia
nal? Observe as normativas no art. 6º da Lei
também é adotada em muitos países como:
nº 12.319, de 1º de setembro de 2010:
EUA, Canadá, Austrália, entre outros, com o
objetivo de diferenciar o profissional tradu-
tor intérprete generalista daquele que atua
na educação.
III – atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos con-
cursos públicos;
Assim, não basta apenas disponibilizar um profissional, ele precisa ser qualificado,
isto é, a ideia de que mesmo com desempenho fragilizado ter um ILS é melhor do
que não ter nada. Isso é um discurso normalizador que, na maioria das vezes, a
educação o usa para justificar a falta de formação dos ILS.
Neste sentido, o intérprete educacional demanda de aprofundamento teórico, fluência com a
língua utilizada e experiência educacional, de modo que, seja capaz de perceber as dificuldades
do aluno surdo e juntamente com o professor encontrar metodologias para atenuá-las.
Em relação ao papel do intérprete em sala de aula, se verifica que ele assume uma
série de funções (ensinar língua de sinais, atender a demandas pessoais do aluno,
cuidados com o aparelho auditivo, atuar frente ao comportamento do aluno, esta-
belecer uma posição adequada em sala de aula, atuar como EDUCADOR frente a
dificuldades de aprendizagem do aluno) que o aproximam muito de um educador.
[...] ele deva integrar a equipe educacional, todavia isso o distancia de seu papel tra-
dicional de intérprete gerando polêmicas.
O intérprete educacional deve adquirir técnicas, estratégias de interpretação, habilidades lin-
guísticas nas línguas envolvidas, ter um comprometimento ético com o trabalho que está sendo
oferecido e saber se posicionar frente a práticas que divergem de seu papel.
Neste sentido existe um código de ética que orienta e asseguram direitos e deveres dos intérpre-
As aulas devem prever intervalos que garantem ao intérprete descansar, pois isso
garantirá uma melhor performance e evitará problemas de saúde para o intérprete.
Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que ga-
rantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e pre-
cisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no quadro,
olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. Também, deve
ser resolvido como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que
o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo para realizá-las.
105/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
Outro aspecto importante é a garantia da participação do aluno surdo no desenvol-
vimento da aula através de perguntas e respostas que exigem tempo dos colegas e
professores para que a interação se dê. A questão da iluminação também deve sem-
pre ser considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retroprojetor podem
ser recursos utilizados em sala de aula.
De acordo com Quadros (2004, p. 61), con- clusão do interprete não soluciona todos os
sidera-se antiético “Tutorar os alunos (em problemas educacionais dos alunos surdos,
qualquer circunstância); apresentar infor- sendo necessário pensar a educação inclu-
mações a respeito do desenvolvimento dos siva, em qualquer grau de ensino, de manei-
alunos; acompanhar os alunos; disciplinar ra ampla e consequente”.
os alunos e realizar atividades gerais extra- Como podemos observar, a responsabilida-
classe”. de do intérprete educacional vai muito além
Lacerda (2013, p. 35) garante que o intér- do que mediador linguístico requer forma-
prete educacional tem uma tarefa muito ção adequada, experiência educacional, co-
importante que vai além de realizar escolhas nhecimento abrangente e ao mesmo tempo
sobre o modo de traduzir, no entanto, deve específico dos conteúdos a serem interpre-
se atentar a tornar os conteúdos acessíveis tados. Desta maneira, compreendemos que
ao aluno. Portanto, a autora adverte: “a in- a presença deste profissional é de extrema
106/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
relevância e fundamental, contudo a permanência do aluno surdo não está somente condiciona-
da ao papel e atuação do intérprete educacional conforme mencionado anteriormente.
Deste modo, observa-se que além de domínio das línguas envolvidas, no caso do Brasil, a Libras
e a língua portuguesa, este profissional precisa de formação específica para desempenhar o do-
mínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação.
Russo e Pereira (2008, p. 15-16) propõem áreas que uma boa formação deva contemplar:
Link
Acesse o site <http://editora-arara-azul.com.br/site/> e navegue pela Revista Virtual de Cultura
Surda e Diversidade. Há vários artigos relacionados à Educação de Surdos e a atividade de tradução e
interpretação de língua de sinais na sala de aula.
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Considerações Finais
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Referências
Aula 4 - Tema: O Intérprete Educacional. Bloco I Aula 4 - Tema: O Intérprete Educacional. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/pA-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/1bb-
2820748df43302ae5b28c97f701c8ebf>. c50a2b1e6b47300f06167593cfb7d>.
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Questão 1
1. Qual é a dificuldade mais comum encontrada pelo intérprete educacional
nas séries iniciais? Assinale a alternativa correta:
115/225
Questão 2
2. No Brasil, qual é a área que mais concentra contratação de tradutores e
intérpretes de língua de sinais?
a) Jurídica.
b) Educação.
c) Saúde.
d) Assistência social.
e) Programas televisivos.
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Questão 3
3. Cabe ao intérprete educacional:
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Questão 4
4. O profissional de língua de sinais que atua na educação de surdos é co-
nhecido como:
a) TILS.
b) Guia intérprete.
c) Tradutor educacional.
d) Instrutor de Libras.
e) Intérprete educacional.
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Questão 5
5. As funções desenvolvidas pelo intérprete de língua de sinais no con-
texto educacional ainda não estão claras para toda a equipe pedagógica
escolar. Das listadas a seguir, apenas uma é realmente a que condiz com
sua formação:
a) Ensinar a língua de sinais para o aluno surdo que a desconhece.
b) Auxiliar o aluno surdo no cuidado com seu aparelho auditivo, quando este utilizar.
c) Cuidar do comportamento do aluno.
d) Auxiliar os alunos nas suas dificuldades de aprendizagem.
e) Ser mediador linguístico e cultural.
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Gabarito
1. Resposta: D. na educação de surdos é conhecido como
intérprete educacional.
Dificuldade por parte das crianças surdas
em compreender a função do intérprete. 5. Resposta: E.
3. Resposta: C.
4. Resposta: E.
Objetivos
• Apresentar as principais modalidades de tradução e suas revisões conceituais.
• Conhecer os tipos de interpretação teorizando com a atividade de interpretação de língua
de sinais.
121/225
Introdução
Quando você vai ao cinema e assiste a um e uma à sua direita. No caso de falta de ar,
filme legendado, está de um objeto prá- máscaras de oxigênio cairão sobre vossas
tico de tradução. Ao ler uma obra literária cabeças. Caso precisem de alguma coisa,
estrangeira disponível na íntegra na língua basta chamar e nossos comissários de bor-
portuguesa, também está tendo contato do lhes atenderão. Tenham uma boa via-
com algo que é resultado de uma tradução. gem.” E em seguida a mesma mensagem é
Quem nunca assistiu pela TV ou esteve pre- interpretada em inglês transmitida a passa-
sente em uma palestra em que o orador era geiros estrangeiros.
estrangeiro e a compreensão do discurso só Esses exemplos do cotidiano remetem a si-
foi possível, via interpretação de alguém? tuações em que a tradução e a interpretação
Ou até mesmo você, já deve ter observado são necessárias quando há línguas escritas,
TILS realizando a interpretação de debates línguas orais e línguas de sinais distintas.
políticos em rede nacional de televisão.
Como você pode perceber, em aspectos ge-
Comumente, ao adentrarmos em uma ae- rais, a tradução e interpretação podem re-
ronave, antes da decolagem ouvimos “Se- meter a texto traduzido ou a ato de inter-
nhores passageiros, coloquem os cintos; o pretar. Neste sentido, você vai estudar os
avião já vai decolar. Em caso de problemas tipos de tradução e as modalidades de in-
técnicos, temos duas saídas de emergência terpretação.
na parte dianteira, duas na parte traseira
122/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
1. Modalidades de tradução e in- tir da clássica divisão proposta por Roman
terpretação Jakobson que faz parte da obra “The Trans-
lation Studies Reader”, editada por um teóri-
“Enquanto a tradução e a interpretação es- co da área de estudos da tradução chama-
tão preocupadas com a versão de uma lín- do Lawrence Venut. Para Jakobson (2002, p.
gua em outra, existem diferenças entre elas, 115), há três tipos de tradução:
devido à forma e ao limite de tempo” (STO-
NE, 2009, p. 1), é desta maneira que o autor
diferencia os termos, para ele, a tradução se
refere a textos escritos e a interpretação se
refere a uma transmissão “ao vivo e imedia-
ta” de discurso, seja falado ou sinalizado.
Certamente, apenas uma definição não é
suficiente, consideramos que existem efei-
tos das modalidades de língua envolvidas
no procedimento tradutório.
Neste sentido, primeiramente, vamos abor-
dar os diferentes tipos de tradução a par-
123/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
1. A tradução intralingual, ou reformulação, consiste na interpretação dos
signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
O autor explica que a “tradução intralin- se, podendo ser observada em situações em
gual de uma palavra utiliza outra palavra, que vocabulário sofisticado é simplificado
mais ou menos sinônima, ou recorre a um para ser compreendido por mais pessoas,
circunlóquio. Entretanto, via de regra, quem na transformação de linguagem técnica em
diz sinonímia não diz equivalência comple- uma linguagem cotidiana.
ta [...]” (JAKOBSON, 2002, p. 115). Neste Na sequência, quanto à tradução interlin-
caso, a tradução intralingual ocorre dentro gual, que “consiste na interpretação dos
de uma mesma língua, este procedimento é signos verbais por meio de alguma outra
conhecido como reformulação ou paráfra- língua”, Guerini (2008) explica que a esta
124/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
tradução engloba texto de partida, o tradutor e o texto de chegada.
Dutra (2011, p. 55) ao tentar definir o trabalho do tradutor interlingual, comenta que antes de
tornar-se o que é, este adquire e aprende línguas, podendo ocorrer de duas maneiras distintas:
A tradução intermodal embora ainda não tenha sido completamente assimilada pela comunida-
de surda, cada vez mais o recurso tecnológico, tem se tornado uma prática, pois facilita a com-
preensão e serve como um registro no qual o surdo pode retornar ao “texto” no caso “reler” o
discurso traduzido.
Segala (2010, p. 37) sintetiza o procedimento da tradução:
Por fim, vamos buscar compreender tipos de que faz tradução oral, ou seja interpreta-
interpretação e suas particularidades. ção, e de tradutor, aquele que faz tradução
escrita, “a tradução e a interpretação lidam
1.1 Tipos de interpretação com um determinado texto em outra lín-
gua” (METZGER, 2002, p. 3).
Cabe relembrar a distinção paulatina entre
Portanto, entende-se que o tradutor que
a figura do intérprete e a do tradutor. Até
trabalha com o texto escrito, logo tem mais
o século XI, aproximadamente, quem fazia
tempo para realizar seu ato tradutório, fa-
tradução tanto oral quanto escrita era de-
zendo uso de instrumentos (dicionários,
nominado de intérprete. Após o século XII,
computador), logo, o intérprete lida com um
começou a se chamar de intérprete aquele
tempo mais curto, com a instantaneidade.
132/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
Neste contexto, existem dois tipos de inter- alto grau de compreensão da língua fonte,
pretação: consecutiva e a simultânea. competências de tomar notas, excelente
Gile (1995) define a interpretação conse- grau de conhecimentos gerais, uma memó-
cutiva como aquela em que o intérprete ria precisa e uma forma segura de entrega
ouve uma parte do discurso por alguns mi- da mensagem enunciada.
nutos, faz anotações e, então, transmite a Na interpretação simultânea, segundo Ma-
mensagem na língua-alvo. Por seguinte, o galhães Jr. (2007, p. 44), “o intérprete vai re-
palestrante prossegue por mais um trecho petindo na língua de chegada cada palavra
em alguns instantes, o intérprete pode fa- ou a ideia apresentada pelo palestrante na
zer anotações ou não, e transmite então à língua de partida”.
mensagem, este processo continua até o Gile (1995) descreve o profissional que faz
fim. Essas anotações têm como objetivo interpretação simultânea da seguinte ma-
auxiliar o intérprete a memorizar o discurso neira: ele se senta em uma cabine de inter-
para realizar a interpretação sem perdas de pretação, com o fone de ouvido, ouve o ora-
conteúdo. dor e interpreta o discurso com o uso de um
De acordo com Souza (2010), a interpreta- microfone. Os clientes, ou usuários do ser-
ção consecutiva exige várias habilidades di- viço, em uma sala de conferências, também
ferentes por parte do intérprete, tais como: utilizando fone de ouvido, ouvem a versão
133/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
na língua alvo.
A interpretação simultânea ficou muito difundida durante os julgamentos de Nuremberg, após o
fim da Segunda Guerra Mundial, e, atualmente, é caracteristicamente empregada em contextos
tais como conferências, congressos internacionais, mas também em programas de rádio e TV,
aulas, palestras etc.
Quadros (2004, p. 11) menciona a interpretação simultânea e consecutiva como atividade tra-
dutória do TILS e as conceitua como:
137/225
Considerações Finais
138/225
Referências
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Dutra, Elaine. Aproximando a tradução e a cognição: traços e protótipos. Percursos Linguísti-
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139/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
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142/225
Questão 1
1. Dolet (1540) estabeleceu cinco princípios para o tradutor. Dentre os men-
cionados a seguir, qual não se enquadra a estes princípios?
a) O tradutor deve entender perfeitamente o sentido e a matéria do autor a ser traduzido.
b) O tradutor deve conhecer perfeitamente a língua do autor que ele traduz; e que ele seja
igualmente excelente na língua na qual se propõe traduzir.
c) O tradutor deve traduzir palavra por palavra.
d) O tradutor deve usar palavras de uso corrente.
e) O tradutor deve observar a harmonia do discurso.
143/225
Questão 2
2. Qual interpretação ficou muito difundida durante os julgamentos de
Nuremberg, após o fim da Segunda Guerra Mundial?
a) Consecutiva.
b) Simultânea.
c) Intermodal.
d) Interlíngua.
e) Intersemiótica.
144/225
Questão 3
3. A partir de qual século começou a se chamar de intérprete aquele que
faz tradução oral, ou seja, interpretação e de tradutor, como aquele que
faz tradução escrita?
a) Século XII.
b) Século XIX.
c) Século XI.
d) Século XX.
e) Século XIII.
145/225
Questão 4
4. Quando um vocabulário sofisticado é simplificado para ser compreendi-
do por mais pessoas, ou uma linguagem técnica é transformada em uma
linguagem cotidiana, ocorre uma modalidade de tradução. Assinale a alter-
nativa correta:
a) Tradução consecutiva.
b) Tradução Intralingual.
c) Tradução Intermodal.
d) Tradução Interlíngua.
e) Tradução Intersemiótica.
146/225
Questão 5
5. Qual tradução corresponde a situações em que uma poesia se modifica
em pintura e histórias em quadrinhos vira filme?
a) Tradução consecutiva.
b) Tradução Intralingual.
c) Tradução Intermodal.
d) Tradução Interlíngua.
e) Tradução Intersemiótica.
147/225
Gabarito
1. Resposta: D. nado de intérprete. Após o século XII, começou a
se chamar de intérprete aquele que faz tradução
De acordo com os princípios de Dolet, a tradu- oral, ou seja, interpretação e de tradutor, como
ção não deve ser palavra por palavra. aquele que faz tradução escrita.
2. Resposta: B. 4. Resposta: B.
Objetivos
149/225
Introdução
O tradutor intérprete de língua de sinais sional precisa alcançar? Como realizar essa
partilha de dois contextos culturais distin- atividade tão complexa, com tantas priori-
tos, com visões de mundo diferentes, e se dades linguísticas, sob condições de stress
propõe a transferir um discurso que não lhe considerável, inerentes ao ato interpretati-
pertence com equivalência. vo sem perder a linha textual da língua fon-
Coloca-se entre duas línguas, a sua (Língua te para transmiti-la na língua alvo?
Portuguesa) e o da interpretação (língua de Desafio você, a refletir sobre a atuação do
sinais), indo e vindo, não repousa, quando intérprete a partir da Língua Portuguesa
mal chega à língua alvo, toma o caminho para a Libras e analisar as competências
de volta para assimilar o discurso que ouve que lhe são propostas.
na sua própria língua, logo esse percurso se
torna recorrente. No ato interpretativo, está As competências no processo de
sempre presente e totalmente visível, ex- interpretação
posto e literalmente sendo observado, cada
movimento, expressão, sinal, têm significa- Os tradutores intérpretes de Língua de Si-
do para aquele que o lê. nais estão espalhados em toda parte do
mundo. Como você estudou anteriormen-
O que se espera de uma boa interpretação?
te, a perspectiva histórica sobre esses pro-
Quais são as competências que esse profis-
150/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
fissionais no Brasil sugere que seu apareci- tradutores intérpretes de língua de sinais
mento ocorreu a partir da década de 1980, para atender, principalmente, à demanda
em espaços religiosos, sendo que, nas re- educacional.
lações sociais com roupagem de carida-
de e solidariedade que a formação destes,
posteriormente considerados, profissionais Link
tradutores intérpretes de língua de sinais, Assista ao vídeo A profissão do intérprete de Li-
que se configurou. bras no Brasil. Disponível em: <https://www.
A comunidade surda lutava até então para youtube.com/watch?v=sLu_fuXHp9Y>.
seu espaço na educação, no mercado de
trabalho, na saúde aspirando acessibilida- Na busca de delinear a formação do tradu-
de social e linguística, só então conquistada tor intérprete de língua de sinais, em 2004,
a partir do reconhecimento de sua língua, Ronice Quadros, citando Roberts (1992),
a minoritária Língua Brasileira de Sinais – apresentou seis categorias que analisam a
Libras pela Lei federal nº 10.436, de 24 de competência no processo de interpretação
abril de 2002. em língua de sinais, que serão destacadas
seguidas de uma breve síntese realizada por
Com o reconhecimento linguístico da Libras,
Arriens (2006) (ROBERTS, 1992 apud QUA-
aumentou consideravelmente a procura por
151/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
DROS, 2004, p. 73-74) de cada competência.
Competência técnica para ter domínio dos quesitos práticos durante a interpretação: tom e qua-
lidade da voz, o uso de microfones, posição corporal, capacidade de concisão, localização, estado
de saúde e emocional, apoio de outro intérprete ou não, acuidade visual e auditiva, entonações,
respiração, cuidados com a voz etc., Arriens (2006).
O autor acrescenta outras duas competências:
Explica sobre o “tom” ou o uso dos “acentos”, ensinando sobre que sílabas
devemos pausar, levantar ou fixar a voz, atentando para saber quais sílabas
são longas e quais, curtas ou breves, podemos ver a prosódia como o en-
sino da boa pronúncia.
De acordo com a autora supracitada, nas lín- TILS requer da corporeidade prosódico na
guas de sinais, “a estrutura prosódica é ex- língua alvo. O tradutor precisa conhecer as
pressa por mudanças de posição dos olhos, minúcias semelhantes da língua de partida
por movimentos da cabeça, bochechas in- com a língua de chegada para poder perce-
fladas, entre outros comportamentos físi- ber além do conteúdo estritamente lógico
cos” (VALSECHI, 2015, p. 29). Assim como (ROSA, 2005, p. 66).
no ato interpretativo da Libras para a língua
Portuguesa requer a corporeidade vocal, ao
versar Língua Portuguesa para a Libras, o
162/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
Para saber mais
Para compreender melhor a prosódia na língua de sinais leia a pesquisa de Geisielen Santana Valsechi,
com o tema “Vestibular, estudo de caso: prosódia na tradução da Libras”. Disponível em: <https://re-
positorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/158456/336869.pdf?sequence=1&i-
sAllowed=y>.
165/225
Considerações Finais
166/225
Referências
ARRIENS. Marco Antônio. Tradução Libras – Português: uma questão relacional. In: Congresso
Surdez: Família, Linguagem, Educação. INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro,
2006.
Bell, R. T. Translation and translating: Theory and practice. London: Longman. 1991.
QUADROS, R. M.; Karnopp L. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
SOUZA, R. M. de. Que palavra que te falta? São Paulo, 1998.
ROSA, Andréa da Silva. Entre a visibilidade da tradução da Língua de Sinais e a invisibilidade
da tarefa do intérprete. Petrópolis: Arara Azul, 2005.
VALSECHI, G. S. Vestibular, estudo de caso: prosódia na tradução de Libras. Dissertação (Mes-
trado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, 2015.
168/225
Questão 1
1. Com o reconhecimento linguístico da Libras, aumentou consideravel-
mente a procura por tradutores intérpretes de língua de sinais para atender
principalmente a qual área?
a) Saúde.
b) Educacional.
c) Jurídica.
d) Cultura.
e) Social.
169/225
Questão 2
2. É fundamental que o TILS faça uso do lag-time, pois isto permite que ele
inicie a interpretação com um pequeno atraso de:
a) 10 segundos.
b) 60 segundos.
c) 2 minutos.
d) 3 minutos.
e) 5 minutos.
170/225
Questão 3
3. Roberts (1992) sugeriu seis categorias que analisam a competência no
processo de interpretação em língua de sinais, qual delas se refere à ha-
bilidade para usar microfone e habilidade para interpretar usando fones,
quando necessário?
a) Competência de transferência.
b) Competência metodológica.
c) Competência na área.
d) Competência bicultural.
e) Competência técnica.
171/225
Questão 4
4. O tradutor intérprete de língua de sinais precisa adquirir algumas com-
petências para melhor desenvolver seu trabalho. A competência neces-
sária para manipular as línguas envolvidas no processo de interpretação,
entendendo a linguagem na língua fonte e transmitindo na língua alvo
com todas as suas nuances, pode ser chamada de:
a) Competência de linguística.
b) Competência metodológica.
c) Competência na área.
d) Competência bicultural.
e) Competência técnica.
172/225
Questão 5
5. Há conceitos e significados que terão sentido para aqueles que falam a
determinada língua. Ou seja, além do conhecimento linguístico das lín-
guas envolvidas, o TILS precisa adquirir e desenvolver os ____________.
a) Conhecimentos extralinguísticos.
b) Conhecimentos éticos.
c) Conhecimentos posturais.
d) Conhecimentos cênicos.
e) Conhecimentos artísticos.
173/225
Gabarito
1. Resposta: A.
Com o reconhecimento linguístico da Libras, aumentou consideravelmente a procura por tradu-
tores intérpretes de língua de sinais para atender principalmente a demanda educacional.
2. Resposta: A.
3. Resposta: D.
Competência técnica – habilidades para posicionar-se apropriadamente para interpretar, habili-
dade para usar microfone e habilidade para interpretar usando fones, quando necessário.
4. Resposta: A.
174/225
Gabarito
5. Resposta: A.
Além do conhecimento linguístico das línguas envolvidas, o TILS precisa adquirir e desenvolver
os conhecimentos extralinguísticos.
175/225
Unidade 7
Interpretação da Libras para a língua portuguesa
Objetivos
176/225
Introdução
Caro aluno, você vai observar que a inter- ção acrítica em relação ao desempenho do
pretação da Libras para a Língua Portugue- TILS, já o auditório, pode realizar inferências
sa requer habilidades que estão além da- a respeito do sinalizador e do TILS. O domí-
quelas exigidas para a interpretação da Lín- nio cognitivo, o conhecimento linguístico e
gua Portuguesa para a Libras. Isto porque, discursivo aliado à corporeidade vocal será
aprendizes da Libras buscam primeiramen- determinante para a aprovação ou não do
te, compreender como produzir sinais e, em auditório.
seguida ler (codificar) os sinais. Cada vez mais, os surdos têm protagoni-
Diante de um auditório ouvinte que desco- zado sua história. Como sujeitos da história
nhece a Libras, maior será a admiração em atuam como palestrantes em congressos,
ver o TILS sinalizando Língua Portuguesa professores em escolas e universidades etc.
para a Libras, do que o oposto. O auditório A comunicação entre falantes de línguas
leigo, não tem como avaliar o desempenho diferentes nestes contextos depende de um
do TILS, os surdos por estarem, dependen- bom intérprete, eis um dos maiores desafios
tes da mensagem na maioria das vezes, fi- para os TILS.
cam passivos para crítica. Quando o oposto
ocorre, a interpretação da Libras para Lín-
gua Portuguesa, os surdos ficam em situa-
177/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
Traduzir de sinais para voz é, provavelmente, o maior desafio para os intér-
pretes, atualmente, tem muitos intérpretes leitores de sinais (fazer apenas
a codificação e decodificação de sinais, e não a sua interpretação expres-
siva). Produzir sinais (no geral) é muito mais fácil que ler sinais, até mesmo
porque nós ouvintes temos o hábito de ouvir uma língua e não de vê-la.
(ARRIENS 2006, p. 48).
A linguagem e a língua são um dos meios qual influência e é influenciado”. De acordo
principais na interpretação da Libras para a com Souza (1998, p. 39) em Bakhtin, o su-
Língua portuguesa, portanto, é impossível jeito é ativo e responsivo. Todo enunciado é,
adotarmos um conceito interpretação sem para ele, uma resposta ou réplica ao enun-
antes assumirmos o conceito de linguagem ciado do outro.
e língua. De acordo com Rosa (2005, p. 92), Tradutores intérpretes da língua de sinais –
a linguagem “inseparável do homem, está TILS são trabalhadores da língua, estrangei-
presente em todos os seus atos: é por meio ra, interlíngua e com a sua língua materna,
dela que o homem forma seus pensamen- língua portuguesa. São indivíduos sócios
tos, as suas emoções; é o instrumento pelo históricos que carregam traços de valores,
178/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
ideias, desejos e culturas. Segundo Rosa (2005), trazem também marcas de pertencimento so-
ciopolítico-econômicos diferentes. Esses traços são incorporados na materialidade de suas pa-
lavras.
Neste sentido, a neutralidade do TILS é considerada impossível, sua constituição interfere no
discurso, o ato interpretativo constrói sentidos e significações em uma dada língua, para estran-
geiros com relação à língua de partida (ROSA, 2005).
O discurso do sinalizador
Na interpretação da Libras para a Língua Portuguesa sobressai um processo de recepção e trans-
missão de uma língua para a outra. No ato interpretativo, o intérprete é um participante ativo
nesse setting de comunicação. Seu conhecimento linguístico e sociocultural influenciará na qua-
lidade dessa interpretação. Como uma ponte entre duas culturas, o intérprete precisa de conhe-
cimento teórico e prático nas culturas envolvidas.
Não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma cultura para
outra; a tradução requer, assim, do tradutor qualificado, um repositório
de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos
poucos ampliando a aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor
a que se destine seu trabalho (CAMPOS, 1986, p. 27-28).
O ato discursivo está relacionado ao analisar, para quem eu estou interpretando, meu público-
-alvo. Saber que a audiência atribui valores, aceitação e reprovação. Neste sentido, se a narrativa
do sinalizador está sendo ou não atrativa, requer em todo momento a manutenção da sintonia e
empatia do sinalizador com o público.
Princípios para uma boa inter- não reconhecer apenas a intenção semân-
pretação Libras – Língua Portu- tica, mas determinar a equivalência semân-
guesa tica da língua fonte (Libras) na língua alvo
(língua portuguesa oral).
Arriens (2006) sugere alguns princípios Segundo princípio, coesão e coerência tex-
norteadores para uma boa interpretação da tual no ato interpretativo, acrescentando os
Libras para a Língua Portuguesa. conectivos, verbos de ligação, elementos de
Primeiro princípio: escolha conceitual para concordância do sujeito, quantificadores,
um ou mais sinais, visa realizar a interpreta- que não estão explícitos na Libras.
ção como um retrato dos significados, das Terceiro princípio: a percepção da função
equivalências de uma língua para a outra. do discurso, se este é para informar, persu-
É a habilidade de organização processual, adir, argumentar etc. Isto influenciará o es-
192/225
Considerações Finais
193/225
Referências
ARRIENS. Marco Antônio. Tradução LIBRAS – Português: uma questão relacional. In: Congresso
Surdez: Família, Linguagem, Educação. INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro,
2006.
BOTELHO, P. Segredos e silêncios na educação de surdos. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
CAMPOS, G. O que é tradução. São Paulo: Brasiliense, 1986.
HOUAISS, A. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Instituto Houaiss de lexicografia e
Banco de Dados da Língua portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
ORLANDI, E. P. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes,
1996.
SOUZA, R. M. de. Que palavra que te falta? São Paulo, 1998.
ROSA, Andréa da Silva. Entre a visibilidade da tradução da língua de sinais e a invisibilidade
da tarefa do intérprete. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2005.
TRAVAGLIA, N. G. Tradução retextualização: a tradução numa perspectiva textual. Uberlândia:
UDUFU, 2003.
Aula 7 - Tema: Interpretação da Libras para a Aula 7 - Tema: Interpretação da Libras para a
Língua Portuguesa. Bloco I Língua Portuguesa. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
a355a91421df1e4e9ac1c110aa0f3fa2>. dc66171e1676c3641a5978504411d740>.
195/225
Questão 1
1. De acordo com Rosa (2005), “é por meio dela que o homem forma seus
pensamentos, as suas emoções; é o instrumento pelo qual influência e é in-
fluenciado”. A que a autora está se referindo?
a) Linguagem.
b) Língua.
c) Libras.
d) Língua Portuguesa.
e) Escrita.
196/225
Questão 2
2. Qual é a justificativa de Arriens (2006) para a seguinte afirmativa: “Pro-
duzir sinais (no geral) é muito mais fácil que ler sinais”?
a) Porque nós ouvintes temos maior dificuldade com a primeira língua – L1.
b) Porque nós ouvintes temos o hábito de ouvir uma língua e não de vê-la.
c) Porque é incomum o surdo discursar em contextos que a plateia desconheça a Libras.
d) Porque até há pouco tempo, quem realizava a interpretação da Libras para Língua portugue-
sa eram tradutores softwares.
e) Porque a formação do TILS se refere para a interpretação da Língua Portuguesa para Libras.
197/225
Questão 3
3. Qual é o primeiro princípio para uma boa interpretação Libras – Língua
Portuguesa?
a) Contato visual.
b) Entonações do discurso.
c) Escolha conceitual.
d) Coesão e coerência.
e) Discurso direto.
198/225
Questão 4
4. Leia a proposição e assinale a alternativa que corresponda ao tipo de
discurso de sinalizadores apresentado:
“São troca de mensagens ente duas ou mais pessoas, existentes ou não. Neste tipo de dis-
curso, utiliza-se Processo Anafórico”.
a) Discurso explicativo.
b) Discurso Argumentativo.
c) Discurso espontâneo.
d) Discurso conversacional.
e) Discurso alternativo.
199/225
Questão 5
5. O excesso de franqueza de alguns surdos pode deixar o intérprete em
situação desafiadora. Isto demonstra:
a) Pouca compreensão da língua portuguesa.
b) Pouca compreensão das regras sociais do discurso.
c) Alto nível de baixa estima frente à comunidade ouvinte.
d) Alto nível da característica sociocultural da comunidade surda.
e) Pouca compreensão das línguas envolvidas.
200/225
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: D.
3. Resposta: C.
Objetivos
202/225
Introdução
Por um grande período da história os sur- bras para a Língua Portuguesa e vice-versa;
dos foram impedidos de se comunicar em auxilia no esclarecimento da forma escrita
sua própria língua, a língua de sinais, estes produzida pelos surdos.
nunca foram reconhecidos como comuni- Na atuação deste profissional, pode-se ob-
dade de minoria social e linguística. Porém, servar que o TILS tem a função de interme-
a partir de movimentos multiculturais pro- diar a interação entre aqueles que desco-
tagonizados pelas minorias sociais, os sur- nhecem a Libras. Esta intermediação requer
dos têm assumido sua cidadania, podendo conhecimento linguístico, no caso da Libras
participar socialmente de decisões que en- e Língua Portuguesa, ideologias e culturas
volvem inclusão social e linguística. diferentes que se entrelaçam nessa intera-
Neste contexto de lutas aos direitos linguís- ção.
ticos e sociais, o tradutor intérprete de lín- Prezado aluno, neste último tema, convida-
gua de sinais aparece para mediar discursos mos você a identificar modelos de tradução
produzidos em língua de sinais e vice-versa. e interpretação, conhecer os diferentes ti-
De acordo com Quadros (2004), o TILS atua pos de intérpretes e analisar os pontos frá-
em três instâncias: intermedia a comuni- geis para a interpretação e possíveis solu-
cação entre pessoas surdas e ouvintes em ções.
diferentes contextos; traduz textos da Li-
203/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Modelos de tradução e interpre- térprete segue três passos: (1) entende a
tação mensagem na língua fonte, (2) é capaz de
internalizar na língua alvo e (3) é capaz de
“Traduzir um texto em uma língua falada expressar a mensagem, na língua alvo sem
para uma língua sinalizada ou vice-versa lesar a mensagem da língua fonte.
é traduzir um texto vivo, uma linguagem Modelo Interativo: demonstra alguns com-
viva”. (QUADROS, 2004, p. 73). Essa foi uma ponentes que podem interferir na interpre-
das primeiras formas de definir os termos tação como: os participantes; a mensagem;
tradução e interpretação no que se refere o ambiente (contexto físico ou psicológico)
à língua de sinais aqui no Brasil. Quadros e as interações. Segundo Quadros (2004),
(2004, p. 73) ainda acrescentou: “Acima de neste modelo, o tradutor intérprete leva em
tudo deve haver um conhecimento colo- consideração: (1) como a mensagem está
quial da língua para dar ao texto fluidez e sendo interpretada, simultânea ou conse-
naturalidade ou sobriedade se ele for desse cutiva; (2) o espaço de sinalização; (3) os fa-
jeito”. Na sequência, Quadros (2004) sugere tores físicos como iluminação e ruídos; (4)
sete modelos de tradução e interpretação feedback da audiência, a linguagem corpo-
que são: ral e (5) escolhas lexicais, sintático e semân-
Modelo Cognitivo: em que o tradutor in- tico.
204/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Modelo Interpretativo: neste modelo, o mensagem fonte e a composição mensa-
tradutor intérprete se atenta no sentido da gem alvo. Neste modelo, o tradutor intér-
mensagem na língua fonte para a língua prete requer algumas habilidades tais como:
alvo. habilidade processual; organização proces-
Modelo Comunicativo: o tradutor intérpre- sual (monitora o tempo – estoca partes da
te assume a posição de mero transmissor. mensagem – busca esclarecimento); com-
petência cultural e linguística; experiência
Modelo Sociolinguístico: baseia-se nas in- e formação profissional, o ambiente físico e
terações entre os participantes. Neste mo- psicológico e os chamados filtros (crença e
delo, deve-se considerar: a mensagem e seu personalidade do tradutor intérprete).
reconhecimento; a retenção desta mensa-
gem na memória de curto prazo, ou seja, re- Modelo Bilíngue Cultural: em que há pre-
ter pequenas porções, e logo ser transmiti- ocupação em relação à postura do tradutor
da; reconhecimento da intenção semântica; intérprete em relação às línguas e culturas
equivalência semântica; formulação sintá- envolvidas.
tica; produção da mensagem. Apresentados os modelos de tradução e in-
Modelo do Processo de Interpretação: ba- terpretação, Quadros (2004, p. 78) enfati-
seia-se em dois componentes: análise da za que o tradutor intérprete deve saber “as
línguas envolvidas, entender as culturas em
205/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
jogo, ter familiaridade com cada tipo de in- ção, observe um recorte sobre os “modelos
terpretação e ter familiaridade com o as- de intérprete” de acordo com Leite (2005):
sunto”. modelo ajudador; modelo condutor, mode-
lo facilitador da comunicação e modelo es-
A evolução dos modelos de in- pecialista bilíngue bicultural. A autora que
térpretes em língua de sinais se baseia em Roy (2000), apresenta postu-
ras dos tradutores intérpretes de língua de
Ao percorrer a trajetória das relações entre sinais em alguns modelos, decorrentes a di-
os tradutores intérpretes de língua de sinais ferentes momentos históricos.
– TILS e as pessoas surdas é possível obser-
Modelo de intérprete ajudador que se refe-
var tipos ou modelos de serviço de interpre-
re ao tempo em que a profissão de tradutor
tação mais comum.
intérprete se encontrava em fase de organi-
A caracterização do tradutor intérprete de zação, ainda sem formação específica, rea-
língua de sinais “neutro” como um simples lizavam a interpretação consecutiva, no ato
transmissor de informações de uma língua interpretativo tinha a prática de resumir ou
para outra, é bastante divulgado na área da explicar o discurso julgando que assim faci-
tradução e interpretação da língua de sinais, litaria a compreensão dos surdos, a postura
para compreender melhor essa caracteriza- destes tradutores intérpretes era caritativa.
206/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Pereira (2008) também comenta a respeito como a instituição dos primeiros códigos de
do modelo ajudador, denominando-o como ética, nesta fase, muitos TILS “afastaram-se
caritativo, no qual, muitos eram professores da profissão por considerarem-se usados”
de surdos, religiosos e até familiares de sur- (PEREIRA, 2008, p. 40).
dos. Modelo de intérprete facilitador da comuni-
O modelo de intérprete condutor foi adota- cação seria o ponto mais conciliatório para
do como uma resposta contrária ao mode- o intérprete e os surdos, momento no qual,
lo ajudador, utilizavam a figura do telefone os intérpretes assumem responsabilida-
para representar sua prática interpretativa, des extratradutórias e os surdos começam
como uma máquina “estavam ali somen- a perceber o intérprete humano e não mais
te para a mensagem”. Pereira (2008) des- como máquinas, segundo Pereira (2008).
taca que este modelo, intitulando o como Modelo de intérprete especialista bilíngue
o “modelo telefone”, e comenta que esse cultural, o TILS começa a levar em conside-
modelo foi assumido por aqueles que pre- ração as culturas envolvidas, estabelecen-
tendiam receber tratamento profissional e do a convivência com a comunidade surda
assumiam a neutralidade como principal, essencial para o aprimoramento dos TILS,
de acordo com a autora, embora esse mo- segundo Pereira (2008), outro modelo de
delo tenha beneficiado avanços à categoria intérprete estaria surgindo, o Modelo do
207/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Aliado, no qual preconiza que o intérprete seja aliado no empoderamento dos surdos, ativistas
pelos direitos dos surdos, objetivando evitar as práticas opressivas da cultura surda.
Este modelo exige que a pessoa surda assuma o seu papel nas interações, peça
esclarecimentos diretamente ao seu interlocutor ouvinte, e não ao ILS, levante sua
mão quando quiser falar e não peça ao intérprete que o faça por ele, etc. Enfim,
que não deixe todo o poder nas mãos do ILS para que os dois possam negociar os
ajustes a serem feitos no ato de interpretação interligue PEREIRA, 2008, p. 41).
Existem diferentes níveis de competência que nem sempre são desenvolvidos pelos tradutores
intérpretes de língua de sinais. Arriens (2006) cita algumas dificuldades que são percebidas nos
tradutores intérpretes, que podem interferir na qualidade do ato interpretativo:
• Fatores fisiológicos referem-se à acuidade visual e auditiva do tradutor intérprete.
• Fatores psicológicos estão relacionados à atenção, motivação, estado emocional, bloqueios
214/225
Considerações Finais
• Quadros (2004) sugere sete modelos de tradução e interpretação: modelo cognitivo; mode-
lo interativo; modelo interpretativo; modelo comunicativo; modelo sociolinguístico; mode-
lo bilíngue cultural e modelo processo de interpretação.
• Fatores fisiológicos, psicológicos, intelectuais/cognitivos e ambientais podem influenciar
no ato interpretativo.
• A Libras para Língua Portuguesa certamente é a área de “fragilidade” na prática da inter-
pretação, requer estudo e refinamento.
• Os surdos não têm como verificar a interpretação conduzida pelo profissional intérprete.
215/225
Referências
ARRIENS. Marco Antônio. Tradução LIBRAS – Português: uma questão relacional. In: Congresso
Surdez: Família, Linguagem, Educação. INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro,
2006.
ALBRES, N. A. Mesclagem de voz e tipos de discursos no processo de interpretação da língua de
sinais para o português oral. In. QUADROS, R. M. (Org.). Cadernos de Tradução. Florianópolis:
UFSC/PGET, 2010.
LEITE, E. M. C. Os papéis do intérprete de Libras na sala de aula inclusiva. Coleção cultura e
diversidade. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005.
PEREIRA, Maria Cristina Pires. Testes de proficiência linguística em línguas de sinais: as possi-
bilidades para os intérpretes de LIBRAS. Dissertação (Mestrado em linguística aplicada) – UNIS-
SINOS, São Leopoldo, 2008.
QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEE, 2004.
Aula 8 - Tema: Problemas de Tradução e Inter- Aula 8 - Tema: Problemas de Tradução e Inter-
pretação: Possíveis Soluções. Bloco I pretação: Possíveis Soluções. Bloco II
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Questão 1
1. Existe um modelo de intérprete que estaria surgindo, que tem como ob-
jetivo evitar que se perpetuem práticas opressivas da cultura ouvinte diante
das pessoas surdas. A esse modelo denominamos:
a) Intérprete caritativo.
b) Intérprete certificado.
c) Intérprete telefônico.
d) Intérprete bicultural.
e) Intérprete aliado.
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Questão 2
2. Qual é modelo sugerido por Quadros (2004) em que o tradutor intérprete
assume a posição de mero transmissor?
a) Modelo Cognitivo.
b) Modelo Interativo.
c) Modelo Comunicativo.
d) Modelo Bilíngue cultural.
e) Modelo Interpretativo.
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Questão 3
3. Deve-se considerar: a mensagem e seu reconhecimento; a retenção des-
ta mensagem na memória de curto prazo, ou seja, reter pequenas porções,
e logo ser transmitida; reconhecimento da intenção semântica; equiva-
lência semântica; formulação sintática; produção da mensagem. A qual
modelo a afirmativa se refere?
a) Modelo Interativo.
b) Modelo Comunicativo.
c) Modelo Bilíngue cultural.
d) Modelo Interpretativo.
e) Modelo sociolinguístico.
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Questão 4
4. De acordo com Albres (2010), a crítica em relação ao tradutor intérprete
se refere:
a) Ao ato interpretativo sem neutralidade.
b) Ao ato interpretativo Libras – Língua Portuguesa.
c) Ao ato interpretativo Língua Portuguesa – Libras.
d) Rivalidade entre o surdo e o tradutor intérprete.
e) Rivalidade entre os tradutores intérpretes de língua de sinais.
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Questão 5
5. O trabalho em equipe pode contribuir para minimizar problemas no ato
interpretativo Libras – Língua Portuguesa, pois o TILS pode contar com in-
térprete apoio, que se senta ao lado, observando a sinalização do palestran-
te para que, se precisar de ajuda, possa realizar a troca a cada _________.
a) Vinte minutos.
b) Trinta minutos.
c) Uma hora.
d) Duas horas.
e) Quatro horas.
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Gabarito
1. Resposta: E.
Modelo do aliado, que preconiza que o TILS seja aliado no empoderamento dos surdos, ativistas
pelos direitos dos surdos, objetivando evitar as práticas opressivas da cultura surda.
2. Resposta: C.
3. Resposta: E.
4. Resposta: B.
Ao ato interpretativo, Libras – Língua Portuguesa. “Uma das críticas feitas aos intérpretes orais
de Congressos é que os participantes do evento são levados a um processo de sonolência com as
vozes monótonas dos intérpretes simultâneos”.
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Gabarito
5. Resposta: A.
O trabalho em equipe pode contribuir para minimizar problemas no ato interpretativo Libras –
Língua Portuguesa, pois o TILS pode contar com intérprete apoio, que se sente ao lado, obser-
vando a sinalização do palestrante para que se precisar de ajuda possa realizar a troca a cada
vinte minutos.
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