Apostila O Tradutor Interprete de Libras Formação e Prática

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O Tradutor Interprete de Libras: Formação


e Prática
O Tradutor Interprete de Libras: Formação e Prática
Autoria: Sandra Cristina Malzinoti Vedoato
Como citar este documento: VEDOATO, Sandra. C. M. O tradutor interprete de Libras: formação e práti-
ca. Valinhos: 2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: O tradutor interprete de línguas orais X sinais 05
Assista a suas aulas 26
Unidade 2: O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil 33
Assista a suas aulas 58
Unidade 3: Formação do TILS e a ética profissional 65
Assista a suas aulas 87
Unidade 4: O intérprete educacional 95
Assista a suas aulas 114

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2/201
O Tradutor Interprete de Libras: Formação e Prática
Autoria: Sandra Cristina Malzinoti Vedoato
Como citar este documento: VEDOATO, Sandra. C. M. O tradutor interprete de Libras: formação e práti-
ca. Valinhos: 2017.

Sumário
Unidade 5: Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação 121
Assista a suas aulas 142
Unidade 6: Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras 149
Assista a suas aulas 168
Unidade 7: Interpretação da Libras para a língua portuguesa 176
Assista a suas aulas 195
Unidade 8: Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções 202
Assista a suas aulas 217

3
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Apresentação da Disciplina

Diante da perspectiva do curso de Especia- interpretação mediante revisão conceitu-


lização em LIBRAS e Educação para Surdos, al, teorizando com os saberes a respeito da
que prepara o profissional para atuar como prática da interpretação Libras para a lín-
especialista no processo de tradução e in- gua portuguesa e os diferentes discursos de
terpretação, possibilitando-lhes um apren- sinalizadores para a interpretação da Libras
dizado prático e dinâmico, serão abordados para a Língua Portuguesa.
ao longo dos estudos, o conceito e os tipos
de tradução, o conceito de tradução para
língua de sinais e um mapeamento histórico
geral dos estudos da tradução, como tam-
bém, o conceito e os tipos de intepretação e
o conceito de interpretação para língua de
sinais.
Como desdobramento desses esclareci-
mentos conceituais serão apresentadas às
competências necessárias do tradutor in-
térprete de língua de sinais, englobando
questões éticas no campo da tradução e
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Unidade 1
O tradutor interprete de línguas orais X sinais

Objetivos

• Conhecer o histórico da atividade profissional de tradução e interpretação de línguas.


• Diferenciar o profissional que atua com a tradução e interpretação de línguas orais do tra-
dutor intérprete de língua de sinais.

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Introdução

A interpretação como intermediação lin- Mesmo muito antes do estabeleci-


guística oral entre falantes de idiomas di- mento da cultura escrita, o contato
ferentes existe há milhares de anos, sendo entre falantes de línguas diferentes era
provavelmente anterior à tradução escri- inimaginável sem a presença de um
ta, uma vez que a escrita é muito posterior mediador linguístico na qualidade de
à língua oral (PAGURA, 2010 p. 10). Nessa intérprete, de modo que a interpreta-
mesma perspectiva, Theodor (1980, p. 16) ção entre línguas é historicamente re-
já defendia que, a interpretação é mais anti- conhecida como a forma mais antiga
ga que a tradução, uma vez que os registros de prática de mediação linguística de
escritos são posteriores às palavras faladas. que temos con­hecimento. Ao obser-
Neste sentido, Pohling, também destaca a varmos os diversos centros históricos
interpretação como a forma mais antiga de do desenvolvimento humano, é certo
mediação, levando em consideração o fato que encontraremos em todos eles al-
de que a oralidade antecedeu a escrita. guma forma de manifestação da ativi-
dade de interpretação (POHLING, s.d.,
p. 1).

6/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Embora Lacerda (2013) ressalte que para alguns autores os termos tradução e interpretação são
considerados complementares por se remeterem à mesma tarefa, que seria versar os conteúdos
de uma língua para a outra, buscando apresentar os sentidos sem distorção ou perda, a autora
compartilha da perspectiva de que são termos diferentes com tarefas distintas.
Assim, os autores acima supracitados consideram esses termos distintos a partir da modalidade
de línguas envolvida. Pereira (2008) explica:

Pode-se dizer que a tradução é o termo geral que se refere a transformar


um texto a partir de uma língua fonte, por meio de vocalização, escrita
ou sinalização, em outra língua meta. A diferenciação é feita, em um nível
posterior de especialização, quando se considera a modalidade da língua
para qual está sendo transformado o texto. Se a língua meta estiver na mo-
dalidade escrita trata-se de uma tradução; se estiver na modalidade vocal
(também chamada de oral) ou sinalizada (presenciais ou de interação ime-
diata), o termo utilizado é interpretação (PEREIRA, 2008, p. 136).
Em resumo, para a autora, os termos se estabelecem conforme o esquema a seguir:

7/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Figura 1 – Interpretação X Tradução

Fonte: Pereira (2008, p. 136).

Os termos podem se distinguir quanto à modalidade de língua meta, logo, em relação ao profis-
sional, acredita-se que ele pode verter línguas orais ou sinalizadas, e em outras situações verter
as línguas na modalidade escrita. Especificamente, em relação o tradutor intérprete de língua de
sinais, Quadros (2004, p. 11) destaca que este é o profissional habilitado para verter quaisquer
modalidades de língua, sinalizada, oral e escrita:

Tradutor – pessoa que traduz de uma língua para a outra, tecnicamente,


tradução refere-se ao processo envolvendo pelo menos uma língua es-
8/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
crita. Assim, tradutor é aquele que traduz um texto de uma língua para a
outra. Tradutor intérprete – pessoa que traduz e interpreta o que foi dito
e/ou escrito. Tradutor intérprete de língua de sinais – pessoa que traduz e
interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa em quaisquer
modalidades que se apresentar (oral ou escrita).

Leite (2004), refletindo sobre os estudos de Cokley (1992), apresenta um quadro comparando as
complexidades e especificidades de cada modalidade.
Quadro 1 – Como os tradutores e Intérpretes podem conduzir suas tarefas

Tradutores Intérpretes
- Podem checar seus trabalhos consigo mesmo ou - Tomam decisões mais rápidas em relação ao sig-
com assistente de tradução, pois têm o texto per- nificado do texto sem, às vezes, saberem a inten-
manentemente à disposição. ção do autor ou o significado antecipadamente.
- Podem se reportar constantemente ao texto fon- - Têm a opção de perguntar diretamente à fonte,
te para traduzir, tendo a opção de poder retornar quando imaginam que cometeram erros ou que-
às partes já traduzidas, em qualquer tempo, pois o rem esclarecer uma informação antecipadamente.
texto e a tradução são escritos.

9/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


- Podem se adiantar no texto para resolver, anteci- - Não podem voltar atrás em partes do discurso e,
padamente, problemas de gênero no pronome de raramente, podem incorporar “feedback” de ou-
uma dada língua. tros, ou rever o trabalho antes do conhecimento
público.
- Podem fazer uso de materiais como dicionários - Não podem fazer uso de materiais como os dicio-
diversos, revendo a tradução constantemente nários.
e fazendo correções; não são pressionados pelo
tempo na busca do sentido linguístico para a equi-
valência da mensagem.
- Dificilmente, ou nunca, encontra-se com o autor são limitados pelo fator tempo na busca pelo sen-
do texto, fonte para tirar dúvidas de qualquer tipo. tido equivalente da mensagem e, ao serem pres-
sionados pelo mesmo, deixam em segundo plano
a escolha linguística em favor do sentido.
Fonte: Cokley (apud LEITE, 2004, p. 45).

Para compreender melhor os termos envolvidos e a importância do léxico que carregam, convi-
damos você, aluno, para conhecer a gênese da atuação do intérprete de línguas orais.

10/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


1.1 Intérpretes de línguas orais siderados “híbridos culturais”, ou seja, es-
cravos, cristão, armênios e judeus, aqueles
Não é fácil rastrear o exato momento histó- considerados membros de subcastas.
rico em que intérpretes de línguas orais co-
Ginezi (2012) destaca que um marco histó-
meçaram a atuar, contudo é plausível idea-
rico da interpretação foi entre 1946 a 1948
lizar que, desde que povos de línguas dife-
em Nuremberg no julgamento dos nazistas,
rentes realizaram contato, foi necessária a
e em Tóquio, no Japão, para julgamento dos
mediação linguística através de intérpretes.
japoneses envolvidos na Segunda Guerra
Pagura (2003, p. 4) sugere que “a mais anti-
Mundial. Segundo a autora, na ocasião estes
ga referência a um intérprete parece ser um
intérpretes foram recrutados por compe-
hieróglifo egípcio do terceiro milênio antes
tência linguística e treinados informalmen-
de Cristo”. O autor comenta também que há
te por algumas semanas para exercerem a
vagos registros históricos da presença de
função no julgamento. Durante as sessões,
tradutores intérpretes nos territórios roma-
os intérpretes foram colocados sentados
nos conquistados, em expedições de natu-
dentro de cabines de vidro, no fundo do sa-
reza colonizadora, militar, religiosa, comer-
lão, perto dos réus.
cial, como também, nas literaturas grega e
latina antigas. Estes intérpretes eram con-

11/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Figura – Julgamento de Nuremberg

Fonte: <https://www.marxists.org/portugues/poltorak/ano/processo/04.htm>. Acesso em: 14 jul. 2017.

Para saber mais


Para compreender melhor este momento histórico, você pode assistir ao filme O julgamento de Nurem-
berg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qRw1gIp8J_s>.

12/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Foi em 1919 na Conferência da Paz, em Pa- cesso de interpretação. Pagura (2003) co-
ris, que se iniciou o que hoje denominamos menta que entre os intérpretes daquela
interpretação de conferências, onde o in- época era comum a expressão “método sink
glês e o francês eram as principais línguas, or swim”, isto é, literalmente “afogue-se
e profissionais como jornalistas, militares e ou nade”, uma vez que eles não recebiam
até mesmo diplomatas realizaram a inter- orientação e formação profissional. A partir
mediação, “as coisas começaram a compli- deste período, deu-se início à interpretação
car-se uma vez que alguns representantes de cabine, que ocorre da seguinte maneira:
sindicais não falavam francês, nem inglês e
tinham de expressar-se em sua própria lín-
gua”. (PAGURA, 2003, p. 4). A solução para
sanar esse obstáculo linguístico foi a inter-
pretação sussurrada, que consistia no “sus-
surro” ao ouvido da pessoa que necessitava
da interpretação.
Esses intérpretes que se colocavam como
intermediadores linguísticos e culturais ini-
ciaram sem conhecimento algum do pro-
13/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
Os intérpretes sempre em duplas trabalham isolados numa cabine com vi-
dro, de forma a permitir a visão do orador e recebem o discurso por meio
de fones de ouvido. Ao processar a mensagem, reexpressam na língua de
chegada por meio de um microfone ligado a um sistema de som que leva
sua fala até os ouvintes, por meio de fones de ouvido ou receptores seme-
lhantes a rádios portáteis (PAGURA, 2003, p. 211).

Com a entrada dos Estados Unidos da Amé- nacionais, como a Organizações das Nações
rica nas negociações Internacionais pós- Unidas – ONU, a Organização do Tratado do
-Primeira Guerra Mundial, período em que Atlântico Norte – OTAN e a Comunidade Eu-
o inglês passou a estar em pé de igualdade ropeia do Carvão e do Aço – CECA, embrião
com o francês, a intermediação de intérpre- da atual União Europeia.
tes de línguas orais passou a ser indispen-
sável. Rodrigues e Burgos (2001) apontam
que o reconhecimento da profissão do in-
térprete de línguas orais ganhou maior im-
pulso com a criação de organizações inter-
14/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
EUA. Os cursos de formação de intérpretes
Link no exterior, na maioria, não são vinculados
a cursos de Letras. No Brasil, há cursos uni-
Acesse o link e assista a “Um breve histórico da versitários de formação de intérprete de
interpretação de conferências”. Disponível em: línguas orais, sendo alguns, vinculados ao
<https://www.youtube.com/watch?v=qTP- curso de Letras. Lacerda (2013) pontua que
voYZJKg4>. os primeiros programas de formação de
Quanto à formação dos intérpretes de lín- intérpretes encontravam-se na Pontifícia
guas orais, Lacerda (2013) comenta que ela Universidade Católica do Rio de janeiro e na
foi acontecendo na prática, de maneira si- Associação Alumni, em São Paulo.
milar aos tradutores intérpretes de língua de Os intérpretes de línguas orais, com o pas-
sinais, sendo que a primeira escola de for- sar dos tempos, foram se organizando pro-
mação de intérpretes foi a Universidade de fissionalmente em diversos países por meio
Genebra, em 1941. De acordo com a autora, de associações. No âmbito internacional,
atualmente, a maioria dos cursos de for- existe a Associação Internacional de Intér-
mação de intérpretes com maior referência pretes de Conferências – AIIC, que conta
ocorre na Europa. Na América, os principais hoje com 3.000 membros no mundo inteiro,
centros de formação estão no Canadá e nos em 89 países e 22 regiões. No Brasil, existe a
15/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
Associação Profissional de Intérpretes de Conferências – APIC fundada em 1971.

Para saber mais


Acesse os sites da AIIC e APIC: <http://www.aiicbrasil.com.br> ; <http://www.apic.org.br>.

Algo importante a ser considerado nesse categoria. No dia 22 de agosto de 2008 foi
panorama histórico é a regulamentação da fundada a FEBRAPILS – Federação Brasileira
profissão do tradutor no Brasil e as entida- dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e
des de classes associadas. Em 21 de maio Guias-Intérpretes de Língua de Sinais – en-
de 1974 foi fundada a Associação Brasileira tidade federal que, juntamente com as as-
de Tradutores – ABRATES. Com o reconhe- sociações, luta por melhores condições de
cimento da profissão do tradutor, fundou- trabalho para os profissionais.
-se o SINTRA – sindicato que representa
a classe em todo o território nacional. No
caso dos intérpretes de língua de sinais,
Link
associações foram criadas em diversos es- Aproveite para conhecer um pouco mais estas as-
tados, buscando atender às demandas da sociações, acessando os sites: <https://abrates.
com.br/> ; <http://www.febrapils.com.br/>.
16/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
1.2 Em que se diferem?

Uma vez que iniciamos esse tema abordando os intérpretes de línguas orais e em seguida abor-
daremos os intérpretes de língua de sinais, diferenciando a gênese deles, é pertinente que obser-
vemos as diferenças entre as duas modalidades de interpretação.
Anater e Passos (2010, p. 219), tendo como base dados coletados por Rodrigues e Burgos (2001)
de relatos de experiências vividas por tradutores intérpretes de língua de sinais, pontuam várias
diferenças observáveis entre os intérpretes de línguas orais, as quais podemos destacar:
Quadro – Intérprete de Língua Oral X Intérprete de língua de sinais

Intérprete de Língua Oral Intérprete de Língua de Sinais

Diferença política Atua com línguas orais (muitas Atua com línguas de sinais (ain-
vezes de prestígio). da muito estigmatizadas).
Clientes Na maioria das vezes, seus clien- Na maioria das vezes, seus
tes são de outros países. “clientes” são da mesma cidade.

17/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Atuação Na maioria das vezes, atua em Tem um campo muito amplo, li-
situações oficiais e conferências. gado a questões particulares,
profissionais, sociais e educacio-
nais de seus “clientes”.
Exposição Em conferências; na maior parte Está sempre exposto quando
do tempo fica em cabines, sem traduz da língua oral para língua
exposição. de sinais.
Fonte: (ANATER; PASSOS, 2010, p. 219)

Apesar de esses profissionais atuarem com Gurgel (2010) ao comentar sobre o “lugar
mediações linguísticas, as especificidades social” do tradutor intérprete de língua de
dos trabalhos realizados são bem diferen- sinais em relação aos intérpretes de línguas
tes. Os tradutores intérpretes de língua de orais, salienta que embora ambos tenham a
sinais se expõem mais, lidam com língua de mesma função “verter de uma língua para a
modalidades diferentes (língua oral e lín- outra” atuam entre grupos com reconheci-
gua de sinais) e possuem uma relação com mento social bem diferente. Os intérpretes
seus clientes no caso, os surdos de maneira de línguas orais tendem a atuar em grupos
muito mais próxima do que os tradutores de de prestígio social como: diplomatas, ho-
línguas orais. mens de negócios, representantes gover-
18/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
namentais, eventos científicos e turísticos envolvido em situações que favorece o po-
envolvendo pessoas com reconhecimento der social do seu grupo. Isso deve acarretar
social, em atividades e eventos que resul- responsabilidade pela inclusão social, pos-
tam em impacto econômico relevante. No sibilitando o respeito ao surdo de maneira
entanto, os tradutores intérpretes de língua que ele interaja cada vez mais em situações
de sinais atuam em uma população marca- das mais diversificadas da sociedade.
da por uma história mundialmente de ex- Pereira (2008), quando discorre a respeito
clusão, marginalização e descrédito social, das diferenças de atuação entre os tradu-
usuária de uma língua diferente visual-ges- tores e intérpretes de línguas orais e os de
tual, com reconhecimento linguístico re- língua de sinais, destaca uma inversão na
cente, ou seja, uma população com menor ordem de demandas de atuação, conforme
prestígio social. mostra o quadro a seguir:
Trazer a questão do lugar social do TILS é um
fato relevante porque o tradutor intérprete
de língua de sinais que tem consciência da
história do grupo social em que atua, assu-
me papéis que vão além das questões lin-
guísticas, ou seja, ele está constantemente
19/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais
Quadro – Áreas de atuação dos tradutores e intérpretes de línguas orais X Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais

TRADUTORES E INTÉRPRETES DE LÍNGUAS TRADUTORES E INTÉRPRETES DE LÍNGUAS DE


ORAIS SINAIS
1. Tradução escrita 1. Educação

2. Conferência 2. Trâmites/acompanhamentos

3. Trâmites/acompanhamento 3. Conferências

4. Educação 4. Tradução escrita


Fonte: Pereira (2008, p. 141).

Pode-se observar que a educação é a área Até o momento pontuamos as principais


que mais comporta o tradutor intérprete de diferenças em relação ao intérprete de lín-
língua de sinais, e em segundo lugar trans- guas orais e tradutor intérprete de língua de
mites/acompanhamentos que surgem nas sinais, no próximo tema, você vai conhecer
relações sociais, fortalecendo a caracteri- a gênese da atuação do tradutor intérprete
zação da responsabilidade em apoiar a in- de línguas de sinais e questões éticas.
clusão social dos surdos na sociedade ma-
joritária.

20/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Glossário
Hieróglifo egípcio: é um extinto modelo de escrita pictográfica, utilizado principalmente pela
antiga sociedade egípcia.
Língua de sinais: língua de modalidade espaço visual.
Surdo: pessoa que por ter perda auditiva compreende e interage com o mundo por meio de ex-
periências visuais.

21/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


?
Questão
para
reflexão

Antes de você ter acesso aos conceitos sobre tradução e


interpretação, qual era a sua compreensão sobre estes
termos? Para você, eram equivalentes? Discorra sobre
isto.

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Considerações Finais

Você aprendeu:
• Traduzir envolve texto escrito, enquanto interpretar envolve línguas orais e
sinalizadas.
• Historicamente, a participação dos intérpretes de línguas orais foi marcada
no julgamento dos nazistas em Nuremberg, que durou quase três anos.
• A área que mais comporta os tradutores intérpretes de língua de sinais é a
educação.
• Os intérpretes de línguas orais e os tradutores intérpretes de língua de sinais
atuam entre grupos com reconhecimento social bem diferente.

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Referências

ANATER, Gisele I. P.; PASSOS, Gabriele C. R. dos. Tradutor e intérprete de língua de sinais: história,
experiências e caminho de formação. Cadernos de Tradução. Florianópolis: Ed. UFSC, 2010.
COKLEY, D. The interpreted medical interview: It loses something in the translation. The Reflec-
tor 3:5-11, 1992.
GINEZI, Luciana L. A ética na interpretação de tribunal: o Brasil no banco dos réus. Tradterm 20
(2012): 27-42.
GURGEL, Taís Margutti do Amaral. Praticas e Formação de tradutores Intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais no Ensino Superior, 2010. 168f. Tese (Doutorado). Universidade Metodista
de Piracicaba faculdade de Ciências Humanas UNIMEP, 2010.
LACERDA, C. B. F. Interprete de libras em atuação na educação infantil e no ensino funda-
mental. 5. ed. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2013.
LEITE, Emeli Marques da Costa. Os papéis do intérprete de LIBRAS na sala de aula inclusiva.
2004. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2004.
PAGURA, Reynaldo. A interpretação de conferências: interfaces com a tradução escrita e impli-
cações para a formação de intérpretes e tradutores. DELTA, v. 19, p. 209-236, 2003.

24/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Referências

PAGURA, Reynaldo. A interpretação de conferências no Brasil: história de sua prática profissio-


nal e a formação de intérpretes brasileiros. 2010. 231f. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2010.
PEREIRA. Maria Cristina Pires Pereira. Testes de proficiência linguística em língua de sinais: as
possibilidades para os intérpretes de LIBRAS. 2008. 181p. Dissertação (Mestrado em Linguística
Aplicada) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2008.
POHLING, Heide. Sobre a história da tradução. Manuscrito não publicado, s.d. 38p.
QUADROS, R. M.; Karnopp L. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
RODRIGUES, E. de los S.; BURGOS, M. del P. L. Técnicas de Interpretación de Lengua de Signos.
Fundación CNSE, 2001.
THEODOR E. Tradução: ofício e arte. São Paulo: 3. ed. Cultrix. 1980.

25/225 Unidade 1 • O tradutor interprete de línguas orais X sinais


Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas Aula 1 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas
Orais X Sinais. Bloco I Orais X Sinais. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
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1d/5ecb13280cb0bf06bbdf83df286613a3>. e09230268d9ed4ef132e0150d971b31f>.

26/225
Questão 1
1. Segundo os estudos de Cokley (1992), quando compara as especificidades
do trabalho dos tradutores e dos intérpretes, várias são as diferenças, exceto:
a) Os tradutores podem checar seus trabalhos, uma vez que tem o texto permanentemente à
disposição, os intérpretes tomam decisões mais rápidas e muitas vezes não sabem a inten-
ção do autor.
b) Como trabalham com texto escrito, os tradutores podem retomar às partes já traduzidas em
qualquer momento; os intérpretes não podem voltar atrás em partes do discurso.
c) Os tradutores não podem fazer uso de materiais como dicionários, já os intérpretes já têm
esse privilégio.
d) Os tradutores têm o tempo como aliado, já os intérpretes não.
e) Os tradutores podem recorrer ao texto antecipadamente para resolver problemas de gênero
no pronome de uma dada língua.

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Questão 2
2. Pereira (2008), quando discorre a respeito das diferenças de atuação
entre os tradutores e intérpretes de línguas orais e os de língua de sinais,
destaca uma inversão na ordem de demandas de atuação. Assinale a al-
ternativa que se refere ao tradutor intérprete de línguas orais:
a) 1 Tradução escrita, 2 Conferência, 3 Trâmites/acompanhamento, 4 Educação.
b) 1 Educação, 2 Trâmites/acompanhamentos, 3 Conferências, 4 Tradução escrita.
c) 1 Trâmites/acompanhamento, 2 Educação, 3 Tradução escrita, 4 Conferência.
d) 1 Tradução escrita, 2 Conferência, 3 Educação, 4 Trâmites/acompanhamento.
e) 1 Educação, 2 tradução escrita, 3 Conferência, 4 Trâmites/acompanhamentos.

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Questão 3
3. Várias são as diferenças observáveis entre os intérpretes de língua de
sinais e os intérpretes de línguas orais, segundo Anater e Passos (2010),
exceto:
a) Diferença política: quando o intérprete de língua oral atua entre línguas de prestígio e os tra-
dutores intérpretes de língua de sinais atuam com língua ainda muito estigmatizada.
b) Diferença social: quando o intérprete de língua oral atua com pessoas de classe econômica
privilegiada e os tradutores intérpretes de língua de sinais atuam com pessoas de classe eco-
nômica menos privilegiada.
c) Diferença de clientes: o intérprete de língua oral, na maioria das vezes, trabalha com estran-
geiros, os tradutores intérpretes de língua de sinais, na maioria das vezes, seus clientes são da
mesma cidade.
d) Diferença de atuação: na maioria das vezes, o intérprete de língua oral atua em situações ofi-
ciais e conferências enquanto os tradutores intérpretes de língua de sinais têm um campo de
trabalho muito mais amplo.
e) Diferença de exposição: os intérpretes de língua oral, geralmente ficam em cabines enquanto
os tradutores intérpretes de língua de sinais estão sempre expostos quando interpretam a lín-
29/225
gua oral para a língua de sinais.
Questão 4
4. Segundo Quadros (2004), qual seria uma definição básica para o tradutor
e intérprete de língua de sinais?
a) Pessoa que interpreta uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua
para uma determinada língua de sinais.
b) Pessoa que apenas interpreta uma dada língua de sinais para outra língua oral.
c) Pessoa que interpreta apenas uma língua oral para uma determinada língua de sinais.
d) Pessoa que interpreta apenas a língua de sinais escrita para a língua oral na modalidade es-
crita.
e) Pessoa que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa em quais-
quer modalidades que se apresentam (oral ou escrita).

30/225
Questão 5
5. Segundo Rodrigues e Burgos (2001), o reconhecimento da profissão
do intérprete de línguas orais ganhou maior impulso a partir do seguinte
acontecimento?
a) A partir da I Guerra Mundial.
b) A partir da II Guerra Mundial.
c) A partir da criação das primeiras associações de tradutores no mundo.
d) A partir da Guerra do Vietnã (1962-1975).
e) A partir da criação de organizações internacionais, como a ONU, a OTAN e a CECA.

31/225
Gabarito
1. Resposta: C. mar que os tradutores intérpretes de língua
de sinais atuam somente com pessoas de
Os tradutores não podem fazer uso de ma- classe econômica menos privilegiada, seria
teriais como dicionários, já os intérpretes já um equívoco..
têm esse privilégio. Não corresponde, pois
os intérpretes lidam muito mais com a ins- 4. Resposta: E.
tantaneidade do que os tradutores.
Quadros (2004) define o tradutor intérprete
2. Resposta: A. de língua de sinais como pessoa que traduz
e interpreta a língua de sinais para a língua
De acordo com Pereira (2008), a atuação do falada e vice-versa em quaisquer modalida-
intérprete de línguas orais segue a seguinte des que se apresentar (oral ou escrita).
sequência: 1. Tradução escrita, 2. Conferên-
cia, 3. Trâmites/acompanhamento, 4. Edu- 5. Resposta: E.
cação.
o que impulsionou o reconhecimento pro-
3. Resposta: B. fissional do intérprete de línguas orais foi
a criação de organizações internacionais,
A diferença social não influencia, pois afir- como a ONU, a OTAN e a CECA.
32/225
Unidade 2
O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil

Objetivos
• Apresentar a definição do tradutor intérprete de língua de sinais – TILS.
• Conhecer as primeiras atuações deste profissional no Brasil.

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Introdução

Caro aluno! Nesta unidade, você irá conhe-


cer algumas definições que caracterizam os
tradutores intérpretes de língua de sinais – A história dos intérpretes das lín-
TILS e as suas primeiras atuações no cená- guas orais tem sido construída
rio nacional. como um mosaico de fatos. Entre-
Você vai perceber que na medida em que os tanto, a história dos Intérpretes de
surdos foram conquistando um lugar mais Línguas de Sinais (ILS) ainda mal
dinâmico, ou seja, saindo do seu anonima- começou a ser contada. O ILS até
to, os espaços de atuação desse profissional pouco tempo não era considera-
foram se ampliando. do como profissional, ou seja, não
era remunerado em qualquer situ-
Cabe destacar que até há pouco tempo, o
ação, não tinha preocupação com
tradutor intérprete de língua de sinais no
sua formação ou treinamento para
Brasil não era visto como um profissional e
o exercício da profissão. A história
nem recebia remuneração por suas atua-
da composição do ILS se embara-
ções.
lha com a própria história da lín-
gua de sinais (ROSA, 2003, p. 77).

34/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


Convidamos você a conhecer esta antiga e das duas línguas de maneira simultânea ou
nova trajetória, antiga porque, desde que há consecutiva e proficiência em tradução e
surdos, há tradutores intérpretes de língua interpretação da Libras e da Língua Portu-
de sinais e nova, pois, é reconhecida como guesa” (BRASIL, 2010).
uma nova categoria profissional. quadros (2004, p. 27) o define por domínio
linguístico e função “profissional que do-
1. Definido o Tradutor Intérprete mina a língua de sinais e a língua falada do
de Língua de Sinais – TILS país e que é qualificado para desempenhar
a função de intérprete”. A autora destaca
Afinal, quem é o tradutor intérprete de lín-
que este profissional além de dominar a lín-
gua de sinais? Veja algumas respostas para
gua de sinais deve também ter o bom domí-
esta pergunta.
nio da sua própria língua, no caso a língua
A Lei nº 12.319/2010, que reconhece o portuguesa.
profissional tradutor intérprete de língua
Num segundo momento, numa perspectiva
de sinais, algo considerado recente, apre-
mais pragmática a respeito da atuação do
senta uma definição deste profissional por
profissional, Quadros et al. (2009, p. 19) de-
competência: “O tradutor e intérprete terá
finem o intérprete como campo de trabalho:
competência para realizar interpretação
35/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Um profissional que atua na tradução e/ou interpretação da Libras e da Língua
Portuguesa. Esses profissionais atuam basicamente em três diferentes campos de
trabalho:

a) intermedia a comunicação entre as pessoas surdas usuárias de Libras e as pesso-


as ouvintes usuárias da Língua Portuguesa em diferentes contextos;

b) traduz os textos da Libras para a Língua Portuguesa e os textos da Língua Portu-


guesa para a Libras;

c) auxilia no esclarecimento da forma escrita produzida pelos surdos em quaisquer


contextos que se façam necessários (concursos, avaliações em sala de aula, docu-
mentos etc.).

Neste sentido, o tradutor intérprete de lín- sentes surdos e ouvintes que não comparti-
gua de sinais assume um papel extremante lham da mesma língua, ou seja, tem o papel
relevante, nas interações sociais, principal- de favorecer e intermediar o diálogo, po-
mente em ambientes em que estejam pre- dendo promover mudanças no cenário de

36/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


convivência social. É considerado também poucos documentos que abordam a história
um tradutor, porque “a forma escrita” é ob- e as atividades desenvolvidas por esse pro-
jeto tradutório de seu exercício, por isso, fissional, já que a língua traduzida, ou seja,
carregam às duas terminologias “tradutor a Libras, começou a ser difundida em pes-
intérprete” de língua de sinais, também co- quisas há não muito tempo. Quanto a isso,
nhecido pela sigla TILS. Souza (2013) considera que pesquisas na
Mas como que ele apareceu no cenário na- área de tradução e interpretação em língua
cional? de sinais são menos difundidas se confron-
tadas com pesquisas de línguas faladas de-
vido à dificuldade de encontrar um sistema
2. Primeiras Atuações do TILS
de notação para a representação gráfica da
no Brasil
língua de sinais.
Precisar com exatidão as primeiras apari- Um dos registros mais antigos a respeito da
ções do TILS, não é uma tarefa fácil, esta é atuação de um TILS é apresentado por Leite
uma constatação em comum por parte dos (2004, p. 37):
pesquisadores da área como Santos (2006),
Gurgel (2010) e Souza (2013).
Essa escassez de registros é decorrente a
37/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
e interpretação em língua de sinais se de-
ram principalmente por familiares e amigos
A presença de intérprete na
dos surdos, que assumiam o papel de “pon-
mediação entre surdos e ou-
te” entre eles e os ouvintes. Gurgel (2010,
vintes, deve ser tão antiga
p. 41) aponta que “no Brasil, até o início da
quanto à existência das pes-
década de 1980, o trabalho dos TILS comu-
soas surdas pelo mundo. Aqui,
mente era voluntário, realizado por carida-
no Brasil, temos notícias da
de, por laços de amizade e, com isso, muitas
convocação oficial de intér-
vezes, os TILS assumiam uma postura assis-
prete, por órgão judicial, ao
tencialista perante as pessoas surdas”.
então Instituto Nacional de Nos finais da década de 80, temos o primei-
Surdos-Mudos, no final do sé- ro registro histórico de alguém realizando a
culo XIX, conforme documen- interpretação de língua de sinais publica-
tos existentes na biblioteca do mente na cidade do Rio de Janeiro, confor-
INES. me Leite (2004, p. 38):
Segundo Rodriguez (2001), Quadros (2004),
Santos (2006), Lacerda (2008), Gurgel
(2010), as primeiras iniciativas de tradução
38/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Por ocasião da constituinte que preparou a Constituição Brasileira de 1988 surgiram
às comissões de lutas das pessoas com portadoras de deficiência. No Rio de Janei-
ro, a representação dos surdos foi constituída por Ana Regina e Souza Campello e
João Carlos Carreira Alves, que tinham como intérprete nos eventos a jovem per-
nambucana, Denise Coutinho, que se encontrava nessa cidade para estudar. Era ela
já conhecedora da língua de sinais e, portanto, assumia, corajosamente, a tarefa de
interpretar em público em uma época que nenhum incentivo existia para o exercí-
cio dessa função [...]. A estudante Denise Coutinho foi a primeira pessoa a assumir
a interpretação da Libras publicamente, em evento coletivo, podendo ser conside-
rada a primeira intérprete de Libras no Rio de Janeiro, quiçá no Brasil.

Quadros e Karnopp (2004), Santos (2006), ciais, os TILS tinham condições de ampliar
Lacerda (2010) relatam que historicamente o conhecimento linguístico e, ao moldar-se
no Brasil, desde o início da década 1980, a às demandas da prática foram-se consti-
formação do TILS foi constituída na infor- tuindo como tradutores intérpretes da lín-
malidade, nas relações sociais, pela deman- gua de sinais.
da dos próprios surdos. Nessas relações so-
39/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
O espaço religioso é apontado como o lugar principal de aprendizagem e atividade de tradução
e interpretação exercida pelos TILS conforme destacam Souza e Silva (2006, p 2):

Historicamente, como se sabe, o principal espaço de aprendizagem da língua de


sinais foi – e tem sido – o da instituição religiosa. Em geral são pessoas interessa-
das, inicialmente, na catequese da pessoa surda que se empenham em aprender os
sinais. Todavia à medida que, dentro das igrejas, estabelecem relações de amizade e
solidariedade com os surdos, passam a serem solicitados por eles para ajudá-los em
situações das mais diversas – desde a interpretação de depoimentos em processos
jurídicos até a de consultas médicas. Esse envolvimento confere à prática tradutó-
ria um traço de assistencialismo ou de cumplicidade fraterna, o que, circularmente,
acaba por manter o serviço do intérprete em um locus outro que não o do profis-
sional.

Souza (2013) comenta que a criação de mi- parte de pessoas ouvintes, aprendizes da
nistérios com surdos em diversas organi- Libras, com característica assistencialista,
zações eclesiásticas era uma iniciativa por e principalmente voluntária, pois não rece-
40/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
biam tipo algum de remuneração financei- instituições religiosas, apresenta algumas
ra. contribuições sobre as demandas desse
Quanto ao fato de evangelizar e catequi- profissional nas instituições de matriz pro-
zar os surdos por meio da interpretação de testante, tais como: o TILS não atua apenas
missas e cultos, Santos (2006) faz uma ana- em performances interpretativas, mas, as-
logia da prática de catequização dos índios sume o papel de missionário-intérprete, ou
que aconteceu em nosso país. Segundo a seja, o intérprete também é incumbido de
autora, a maioria dos profissionais que hoje orientar as famílias dos surdos e a comuni-
atuam, mantiveram estreita relação com as dade religiosa quanto à questão social, cul-
questões religiosas. Na maior parte os TILS tural e linguística que envolve a surdez.
se submetiam a curso de Libras, ou por já
saberem a língua de sinais no contato com
os surdos, se tornavam como um atrativo
linguístico aos surdos que até então não po-
diam compreender e participar das missas e
cultos devido à barreira de comunicação.
Silva (2011), ao realizar uma pesquisa etno-
gráfica acerca das concepções da surdez em
41/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Para saber mais
Realize a leitura de da tese de Dr. César Augusto de Assis Silva, cujo título é: Entre a deficiência e a cul-
tura: análise etnográfica de atividades missionárias com surdos. Disponível em: <http://www.teses.
usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-13102010-144632/en.php>.

A atuação inicial dos TILS em instituições religiosas trouxe contribuições no que se refere à pro-
dução de materiais em língua de sinais, em tempos anteriores ao reconhecimento da língua como
apresenta Silva (2011, p. 34).

A igreja católica produziu em 1969, o dicionário Linguagem das mãos, de padre


Eugênio Oates. Em 1983, luteranos juntamente com católicos, publicaram o livro
Linguagem de sinais do Brasil, que traz também uma coleção de sinais, livro que
inaugura a afirmação da surdez como particularidade linguística. A Igreja Batista,
em 1987, publicou o dicionário Comunicando com as mãos e em 1991, o dicionário
de sinais bíblicos O clamor do silêncio. A instituição religiosa testemunha de Jeová,
em 1992 produziu o dicionário Linguagem de sinais, reeditado em 2008.
42/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Nota-se que o TILS em instituição religiosa exercia atividades além da tradução e interpretação,
ele assumia também a função de multiplicador de informações, seja na produção de materiais
como também das questões linguísticas e sociais.
Quadros (2004) faz um breve resgate da trajetória do TILS, apresentando os principais aconte-
cimentos no período de 1980, 1990 até 2002 ano do reconhecimento da Libras como idioma
em nosso país. A autora confirma o início da presença de TILS em atividades religiosas e pontua
alguns eventos importantes nessa trajetória promovidos pela FENEIS como:

Link
Conheça a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, acessando o site <feneis.
org.br>.

43/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


• Em 1988, houve o I Encontro Nacional the Deaf, instituição que certifica os
de Intérpretes de Língua de Sinais, or- TILS de ASL – American sign Language,
ganizado pela Federação Nacional de veja na íntegra:
Educação e Integração dos Surdos –
FENEIS, possibilitando, pela primeira Código de Ética do Tradutor e Intér-
vez, o intercâmbio entre intérpretes prete de Libras que faz parte do Re-
do Brasil, e a avaliação da ética profis- gimento Interno do Departamento
sional do TILS. Nacional de Intérpretes da FENEIS.
• Em 1992 ocorreu o II Encontro Nacio- CAPÍTULO 1. Princípios funda-
nal de Intérpretes de Língua de Sinais. mentais
Nesta ocasião foi aprovado o código Artigo 1º São deveres fundamen-
de ética referente à atuação profissio- tais do intérprete:
nal dos intérpretes de língua de sinais
1º O intérprete deve ser uma pes-
no Brasil, sendo este código de ética
soa de alto caráter moral, honesto,
uma tradução realizada por Ricardo
consciente, confidente e de equilí-
Sander a partir do original Interpreting
brio emocional. Ele guardará infor-
for Deaf People, publicado em 1965
mações confidenciais e não poderá
pelo RID – Registry of Interpreters for
44/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
trair confidências, as quais foram seu próprio nível de competência
confiadas a ele; e ser prudente em aceitar tare-
2º O intérprete deve manter uma fas, procurando assistência de ou-
atitude imparcial durante o trans- tros intérpretes e/ou profissionais,
curso da interpretação, evitando quando necessário, especialmente
interferências e opiniões próprias, em palestras técnicas;
a menos que seja requerido pelo 5º O intérprete deve adotar uma
grupo a fazê-lo; conduta adequada de se vestir,
3º O intérprete deve interpretar sem adereços, mantendo a digni-
fielmente e com o melhor da sua dade da profissão e não chamando
habilidade, sempre transmitindo o atenção indevida sobre si mesmo,
pensamento, a intenção e o espí- durante o exercício da função.
rito do palestrante. Ele deve lem- CAPÍTULO 2. Relações com o con-
brar-se dos limites de sua função e tratante do serviço
não ir além de sua responsabilida- 6º O intérprete deve ser remune-
de; rado por serviços prestados e se
4º O intérprete deve reconhecer dispor a providenciar serviços de

45/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


interpretação, em situações onde 10 Em casos legais, o intérprete
fundos não são possíveis; deve informar à autoridade qual o
7º Acordos em níveis profissionais nível de comunicação da pessoa
devem ter remuneração de acordo envolvida, informando quando a
com a tabela de cada estado, apro- interpretação literal não é possível,
vada pela FENEIS. e o intérprete, então, terá que pa-
rafrasear de modo claro o que está
CAPÍTULO 3. Responsabilidade sendo dito à pessoa surda e o que
profissional ela está dizendo à autoridade;
8º O intérprete jamais deve enco- 11 O intérprete deve procurar
rajar pessoas surdas a buscarem manter a dignidade, o respeito e a
decisões legais ou outras em seu pureza das línguas envolvidas. Ele
favor; também deve estar pronto para
9º O intérprete deve considerar os aprender e aceitar novos sinais, se
diversos níveis da Língua Brasilei- isso for necessário para o entendi-
ra de Sinais, bem como da Língua mento;
Portuguesa; 12 O intérprete deve esforçar-se
para reconhecer os vários tipos de
46/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
assistência ao surdo e fazer o me- reconhecendo que muitos equívo-
lhor para atender às suas necessi- cos (má informação) têm surgido
dades particulares. devido à falta de conhecimento do
CAPÍTULO 4. Relações com os co- público sobre a área da surdez e a
legas comunicação com o surdo (QUA-
DROS, 2004, p. 31).
13 Reconhecendo a necessidade
para o seu desenvolvimento pro- A autora supracitada ao comentar sobre o
fissional, o intérprete deve agru- código de ética em questão, assinala que o
par-se com colegas profissionais TILS tem a responsabilidade de veracidade
com o propósito de dividir novos e fidelidade das informações nas intera-
conhecimentos de vida e desenvol- ções, sendo que a essência deste profissio-
ver suas capacidades expressivas e nal deve ser a ética.
receptivas em interpretação e tra- • Os anos 1993 a 1994 foram marcados
dução. por encontros estaduais, posterior-
Parágrafo único. O intérprete deve mente citaremos alguns desses en-
esclarecer o público no que diz res- contros.
peito ao surdo sempre que possível, • A década de 1990 é citada ainda por
47/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
Quadros (2004) como o princípio da nadas à ética e formação dos TILS, Santos
formalização e institucionalização (2006) realiza um levantamento de alguns
profissional, pois aconteceram os pri- encontros estaduais do final da década de
meiros cursos de formação com o ob- 1990 até 2005:
jetivo de ampliar o conhecimento e a
• Em 1998 aconteceu o I Encontro Nor-
fluência em Libras, promovidos por
destino de Intérpretes de Libras, reali-
associações de surdos e pela FENEIS
zado em João Pessoa – PB.
em parceria com universidades e ór-
gãos do Governo. Na mesma década • Em 2000, foi realizado o II Encontro
foram estabelecidas unidades de TILS nesta região que aconteceu em Reci-
ligadas aos escritórios da FENEIS. fe, no estado de Pernambuco.
• E finalmente, em 24 de abril de 2002 • Em 2001, em São Paulo foi realizado I
foi homologada a lei federal que reco- Seminário de Intérpretes deste estado
nhece a Libras como língua oficial das em março de 2001.
comunidades surdas brasileiras. • Em junho de 2004, no estado de Santa
Como citado acima, após o II Encontro Na- Catarina, ocorreu o primeiro encontro,
cional, houve diversos encontros estaduais enfocando a situação e o trabalho de-
com o objetivo de discutir questões relacio- senvolvido pelos ILS nesse estado. O II
48/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
encontro datou de outubro de 2005,
contribuindo de forma significativa Para saber mais
para a formação desses profissionais. Para conhecer um pouco mais a ASSENOS acesse
Além desses encontros, concomitantemen- o site: <www.assenos.org>.
te, houve a criação da Associação Evangéli-
ca Nacional de Obreiros com Surdos – ASSE- No início dos anos 2000, surgiram no Bra-
NOS em 1997, na cidade de Belo Horizonte sil as APILS – associações de profissionais
– MG, obreiros é a terminologia que corres- tradutores intérpretes e guias-intérpretes
ponde aos TILS e líderes de ministérios com de Língua de Sinais com representatividade
surdos. A associação além de promover en- estadual, com o objetivo de reivindicar as
contros nacionais bianuais com intuito de demandas da categoria. No dia 22 de agosto
capacitação dos obreiros ouvintes e surdos, de 2008 foi fundada a FEBRAPILS – Federa-
também é responsável por dar suporte a re- ção Brasileira dos Profissionais Tradutores,
presentantes estaduais, surdos e ouvintes, Intérpretes e Guias-intérpretes de Língua
para a promoção de encontros estaduais de de Sinais, entidade federal que juntamente
obreiros com surdos – EEOS. com as associações lutaram pela regulação
profissional da categoria conforme destaca
Russo (2009).
49/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil
[...] propósito de lutar para a regulamentação da profissão no território na-
cional, além de integrar os intérpretes através das parcerias entre as di-
versas associações. Além disso, a organização dos intérpretes enquanto
federação permitiu que os intérpretes do Brasil pudessem participar mais
diretamente das discussões mundiais acerca da interpretação em Libras, já
que a WASLI (Associação Mundial dos ILS) só admite como sócios jurídicos
as entidades de representação nacional (RUSSO 2009, p. 30).
A Lei nº 10.436/2002 que reconhece a Libras – Língua Brasileira de Sinais – como língua natural
das comunidades surdas, contribuiu para a valorização do profissional TILS. Principalmente pela
obrigatoriedade da presença deste nos espaços educacionais como prevê o Decreto nº 5.626, de
dezembro de 2005, no entanto, a profissão do TILS foi reconhecida apenas cinco anos mais tarde
em 1º de setembro de 2010, pela Lei nº 12.319.

50/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


Para saber mais
Acesse os documentos legais que se referem ao reconhecimento e regulamento linguístico da
Libras em território nacional e nos quais também há referências sobre o TILS. <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10426.htm> ; <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>.

51/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


Glossário
FENEIS: Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, uma entidade filantrópica
que luta em prol das pessoas surdas.
ILS: Sigla para referenciar o intérprete de língua de sinais.
TILS: Sigla para referenciar o tradutor intérprete de língua de sinais.

52/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


?
Questão
para
reflexão

Realize uma resenha das principais atribuições do


tradutor intérprete de Libras de acordo com a Lei nº
12.319/2010. Você pode acessar o link para realizar essa
atividade. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm>.

53/225
Considerações Finais

• A definição por parte de autores e documentos legais do profissional tradutor intérprete de


língua de sinais – TILS.
• Década de 1980 primeiras atuações dos TILS é caracterizada pelo assistencialismo e volunta-
riado demandado pelas relações familiar e social.
• O espaço religioso é berço dos primeiros TILS no Brasil.
• Na década de 1990 ocorrem os primeiros encontros nacionais de TILS promovidos pela FE-
NEIS, ocasionando a aprovação do primeiro código de ética da categoria.
• Em 24 de abril de 2012 ocorre o reconhecimento linguístico da Libras pela Lei nº 10426, sendo
regulamentada em 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto nº 5.626.
• A profissão do TILS é reconhecida em 1º de setembro de 2010 pela Lei nº 12.319.

54/225
Referências

BRASIL. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de tradutor e intér-


prete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, 2010.
_____. Lei nº 10.436. Publicada no D. O. U., em 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasi-
leira de Sinais – Libras e dá outras providências, 2002.
_____. Decreto nº 5.626/2005. Regulamenta a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
Diário Oficial da União. Brasília, 22 dez. 2005.
GURGEL, Taís Margutti do Amaral. Práticas e formação de tradutores intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais no ensino superior, 2010. 168f. Tese (Doutorado). Universidade Metodista
de Piracicaba, Faculdade de Ciências Humanas UNIMEP, 2010.
LACERDA, C. B. F. de. Interprete de Libras em atuação na educação infantil e no ensino funda-
mental. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2008.
_____. Tradutores e intérpretes de língua brasileira de sinais: formação e atuação nos espaços
educacionais inclusivos. Cadernos de Educação | FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [36]: 133 - 153, maio/
agosto 2010.

55/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


Referências

LEITE, Emeli Marques da Costa. Os papéis do intérprete de Libras na sala de aula inclusiva.
2004. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2004.
QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEE, 2004.
_____. R. M. de; SZEREMETA, J. F.; COSTA, E.; FERRARO, M. L.; FURTADO, O.; E SILVA, J. C. Exame
PROLIBRAS. Florianópolis: EDUFSC, 2009.
_____. Ronice Muller de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. 1. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2004.
ROSA, A. da S. A presença do intérprete de língua de sinais na mediação social entre surdos e
ouvintes. In: SILVA, I. R.; KAUCHAKJE, S.; GESUELI, Z. M. (Org.). Cidadania, surdez e linguagem.
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RUSSO, Ângela. Intérprete de língua de sinais: uma posição discursiva em construção. 2009.
130f. Dissertação de Mestrado. Universidade federal do rio Grande do sul. Faculdade de educa-
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56/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


Referências

SANTOS, S. A. dos. Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais: um estudo sobre as identidades.


Dissertação de Mestrado: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
SILVA, Cesar Augusto de Assis. Entre a deficiência e a cultura: análise etnográfica de atividades
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Humanas, Universidade de São Paulo, 2011.
SOUZA, Mariane Rodrigues de. Narrativas dos intérpretes de Língua Brasileira de Sinais que
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Tradução) – Universidade federal de Santa Catarina, 2013.
SOUZA, R. M. e SILVA, Andréia Rosa da. O lugar de formação do intérprete de língua de sinais. Es-
tudos linguísticos. São Paulo, v. 35, p. 2-319, 2006. Disponível em: <http://gel.locaweb.com.br/
estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2006/sistema06/624.pdf>. Acesso em:
26 jun. 2017.

57/225 Unidade 2 • O tradutor interprete de línguas de sinais no Brasil


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Aula 2 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas Aula 2 - Tema: O Tradutor Interprete de Línguas
de Sinais no Brasil. Bloco I de Sinais no Brasil. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
93ca2f447f48f7ac7625a7e5c593f8b0>. fd8e1012c9a73783363bf749d9468c51>.

58/225
Questão 1
1. A Legislação que reconhece a profissão do tradutor e intérprete de língua
de sinais é a seguinte:
a) Lei nº 10.436/02.
b) Lei nº 12.319/10.
c) Decreto nº 5.626/05.
d) Lei nº 10.098/00.
e) Lei nº 10.426/05.

59/225
Questão 2
2. Segundo os registros históricos, os primeiros tradutores intérpretes a atu-
ar mediando comunicação entre a comunidade surda e a comunidade ou-
vinte foram:
a) Os intérpretes religiosos protestantes.
b) Os intérpretes religiosos católicos.
c) Os amigos de surdos.
d) Voluntários das associações de surdos.
e) Familiares e amigos de surdos, que interpretavam movidos pela necessidade.

60/225
Questão 3
3. Na década dos anos 80, uma entidade ligada ao movimento surdo, come-
ça a desenvolver encontros nacionais de tradutores e intérpretes de língua
de sinais. Essa entidade é denominada:
a) ACATILS.
b) FEBRAPILS.
c) MEC/SEED.
d) FENEIS.
e) INES.

61/225
Questão 4
4. Qual área que o Decreto nº 5626/2005 mais recomenda e destaca à atu-
ação do TILS?
a) Área da saúde.
b) Área jurídica.
c) Área da publicidade e propaganda.
d) Área social.
e) Área educacional.

62/225
Questão 5
5. Em situações onde “fundos” não são possíveis, segundo o primeiro código
de Ética, que faz parte do Regimento Interno do Departamento Nacional de
Intérpretes da FENEIS, qual deve ser o procedimento do TILS?
a) Dispuser-se a providenciar serviços de interpretação.
b) Negar-se a providenciar serviços de interpretação.
c) Realizar os serviços, com valores mais baixos.
d) Dispuser-se a realizar os serviços de interpretação,
e) Só realizar serviços de interpretação gratuitos em casos médicos

63/225
Gabarito
1. Resposta: B. 4. Resposta: E.

A profissão do tradutor intérprete de língua O decreto preconiza a atuação do TILS na


de sinais foi reconhecida em 10 de setem- área educacional.
bro de 2010 pela Lei nº 12.319.
5. Resposta: D.
2. Resposta: E.
O intérprete deve ser remunerado por
Segundo registros históricos, os primeiros serviços prestados e se dispor a provi-
tradutores intérpretes foram familiares e denciar serviços de interpretação, em si-
amigos dos surdos, devido à demanda de tuações onde fundos não são possíveis.
comunicação nas relações sociais.

3. Resposta: D.

A FENEIS (Federação Nacional de Educação


e Integração dos Surdos) foi a entidade que
mais promoveu encontros nacionais de tra-
dutores intérpretes de língua de sinais.
64/225
Unidade 3
Formação do TILS e a ética profissional

Objetivos

• Conhecer as diretrizes legais quanto à formação profissional do TILS.


• Identificar as questões éticas que envolvem a atuação profissional do TILS.

65/225
Introdução

O intervalo entre os anos de 1990 até 2002 que veio a ser promulgada em 2002, fican-
foi marcado por um período de segmenta- do nacionalmente reconhecida como Lei da
ção dos campos de atuação do TILS, além Libras.
do espaço religioso, outras áreas começa- Com o reconhecimento linguístico da Libras
vam a demandar da figura deste profissio- a presença dos TILS se tornou mais viável e
nal, principalmente, na área educacional, agora justificável, demandando diretrizes
no entanto, não havia amparos legais espe- legais para a formação profissional e seu re-
cíficos que justificassem a presença e o tra- conhecimento que ocorreu em 2010.
balho do TILS.
Neste sentido, caro aluno, você irá conhecer
Foi nos anos 2.000 que essa história come- os preceitos legais da formação e os princi-
çou a traçar percursos novos, aliando de- pais preceitos éticos do profissional do TILS.
mandas sociais com prerrogativas legais e
desdobramentos políticos acerca da aces-
1. Formação do TILS Segundo a
sibilidade à pessoa com necessidades edu-
Legislação Vigente
cacionais especiais e comunicativas. O ano
de 2002 foi um verdadeiro marco histórico, A última década pode ser considerada como
tanto para os surdos quanto para os TILS. o período de elaboração e reconhecimento
De acordo com Assis Silva (2011), aquela de uma série de leis, portarias e decretos no
66/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
intuito de promover a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais e pessoas
que utilizam outros tipos de comunicação que não a língua portuguesa. A Lei nº 10.098, de 19 de
dezembro de 2000, que determina normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessi-
bilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, prevê no artigo 18 do capítulo
VII da acessibilidade sistemas de comunicação e sinalização:

O poder público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita


em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de
comunicação direta a pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade
de comunicação (BRASIL, 2000).
Nota-se que a lei de acessibilidade delega lização da língua de sinais em 2002, sendo
a formação de profissionais intérpretes ao adotada a terminologia Libras – Língua Bra-
poder público de maneira que garanta a in- sileira de Sinais – pela Lei nº 10.426/2002,
clusão do surdo, o intérprete é apresentado como meio de comunicação e expressão da
como o profissional facilitador na interação comunidade surda brasileira.
entre surdos e ouvintes. O termo linguagem Quatro anos depois, a lei de acessibilidade
de sinais deixou de ser usado após a lega-
67/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
10.098/2000 foi regulamentada pelo Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. O capítulo
II, artigo 6, inciso III prevê a acessibilidade ao surdo com atendimento prioritário em todas as
instâncias sociais por meio da intermediação realizada por tradutores intérpretes de Libras, pes-
soas capacitadas nessa língua. O capítulo VI, artigo 53, inciso III determina o uso da “janela de
Libras” para o acesso à informação e comunicação. Veja o modelo às regras acerca da janela de
Libras de modo que garanta a visibilidade da interpretação em Língua de Sinais.

68/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


Quadro 1 – Premissas para o modelo

Fonte: <https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ve-
d=0ahUKEwjUjPGV2PTUAhWBh5AKHX3gDUAQFggmMAA&url=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttp%2Fwww2.camara.leg.br%2Fa-
tividade-legislativa%2Fcomissoes%2Fcomissoes-permanentes%2Fcpd%2Fdocumentos%2Fapresentacao-s-
ra-patricia-tuxi%2Fview&usg=AFQjCNGQflBa9FE-nk4yidzWDnZYryVLZQ>. Acesso em: 16 jul. 2017.

69/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


tado o termo a Lei de Libras. Podemos con-
Link siderar esse decreto um divisor de águas
Você pode acessar os links para conhecer os do-
no que tange à inclusão de sujeitos surdos
cumentos legais:
e a formação de TILS, pois nele seguem al-
gumas determinações quanto à formação
Lei de acessibilidade: Disponível em: <http:// desse profissional em nível médio e supe-
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098. rior.
htm>.
O Capítulo V, do Decreto 5.626/05, trata da
Decreto nº 5926/2004 que regulamenta a Lei nº formação do tradutor e intérprete de Lín-
10.098/2000. Disponível em: gua de Sinais – Língua Portuguesa (TILS),
<http://www.registro.unesp.br/Home/ex- dispondo no artigo 17 que a formação do
tensao/bolsaseauxilios/decreto-5296-2004. TILS deve efetivar-se com curso superior de
pdf>. Tradução e Interpretação com habilitação
em ambas as línguas Libras e Língua Portu-
guesa e, o artigo 18 prevê que a formação
A Lei nº 10.426/2002 foi regulamentada
em nível médio por meio de cursos de edu-
pelo Decreto nº 5.626, em 22 de dezembro
cação profissional, cursos de extensão uni-
de 2005, sendo pela primeira vez apresen-
versitária e cursos de formação continuada.
70/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
O mesmo Decreto nº 5.626/05, no art. 19 prevê ainda que, no período de dez anos após a publi-
cação, enquanto a formação específica se concretizava, o TILS que tem formação geral em nível
médio estaria qualificado apenas para atuar na educação básica, e aqueles com formação em
nível superior poderiam atuar também no ensino superior, mediante a certificação de proficiên-
cia em tradução/interpretação pelo Exame Nacional – PROLIBRAS promovido pelo Ministério da
Educação – MEC. O exame nacional também certificaria candidatos com proficiência em ensino
da Libras em nível médio e superior.

Link
Faça o seguinte exercício, acesse o link a seguir e realize algumas provas do PROLIBRAS, depois compare
seus acertos com os gabaritos:

Disponível em: <http://www.prolibras.ufsc.br/edicoes-anteriores/>.

Lacerda (2010) assinala que o Exame Nacio- ta que muitos que atuavam como TILS te-
nal foi criado em caráter de urgência para riam sido contratados sem avaliação espe-
reconhecer aqueles que já atuavam nessa cífica da formação e com competência para
função, para atender às demandas judiciais exercer esta função.
e/ou da comunidade surda. A autora ressal-
71/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
Gurgel (2010, p. 58) também pontua algumas considerações em relação ao PROLIBRAS:

Este exame habilita a pessoa a atuar como TILS e emite um certificado que vem
sendo exigido por diferentes instituições (educacionais entre outras) para a con-
tratação deste profissional. Nesse sentido, não tem sido feita uma exigência de for-
mação específica para esta função, e a certificação tem sido considerada como
suficiente.

Para saber mais


Acesse o endereço eletrônico e baixe o livro Exame PROLIBRAS, em pdf no qual conta como foi a
organização da certificação de proficiência na Língua Brasileira de Sinais no país. Disponível em:
<http://www.prolibras.ufsc.br/files/2015/08/livro_prolibras.pdf>.

A procura pelo TILS tem aumentado em diversos espaços, principalmente no educacional. Como
consequência, a oferta de cursos em nível de formação técnica e até mesmo cursos de gradua-
ção e pós-graduação para a formação deste profissional começam a despontar pelo país.

72/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


Anater e Passos (2010, p. 223) trazem resumidamente alguns desses cursos:

Com a necessidade de avaliar e certificar melhor os TILS surgem alguns cursos em


nível tecnológico, de graduação e pós-graduação. Podemos destacar alguns como
o de “Tecnologia em Comunicação Assistiva: Tradução e Interpretação de Língua
Brasileira de Sinais”, e enfatizar o crescente acesso às novas tecnologias pelos sur-
dos e necessidade de também o TILS se atualizar sobre estas, de modo a atender as
diversas demandas sociais. Outro espaço de formação está na “Especialização em
Tradução e Interpretação de LIBRAS/Língua Portuguesa”, oferecido pelo “Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos”, (NEPES), através do Centro Federal
de Educação Tecnológica de Santa Catarina (CEFET-SC) e outro da Universidade
do Estado do Pará (UEPA)17, pensados para a qualificação desses profissionais, com
intuito de atualizá-los através de uma especialização reconhecida.
Para atender à legislação no que se refere à O programa selecionou 500 estudantes,
formação em ensino superior, em 2008 foi sendo que 447 são surdos e 53 são ouvin-
criado o curso de Letras-Libras pela UFSC tes bilíngues ofertados na modalidade a
– Universidade Federal de Santa Catarina. distância. Posteriormente, em 2009, a UFSC
73/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
também criou a primeira turma de Bacha-
relado, na modalidade presencial, para a Link
formação de tradutores e intérpretes de Li- Acesse <https://libras.ufsc.br/> para conhecer
bras/Português, com 30 vagas. Atualmente, mais sobre o curso de LETRAS/Libras ofertado
o curso de bacharelado para a formação de pela UFSC – SC.
TILS é somente na modalidade presencial
na UFSC – SC.
A respeito dos cursos de formação do TILS
O curso é disponível como licenciatura ofer- oferecidos no Brasil, Lacerda (2013) relata
ta vagas exclusivamente ao público surdo que iniciaram sem parâmetros definidos a
com o intuito de formação de professores se seguir, sendo que a construção e a rea-
para atuar no ensino da Libras. O bacha- valiação dessa formação estão ainda em
relado destina a formação do TILS, no qual consolidação. A autora nos mostra que a
propõe estudos dos aspectos culturais da formação de TILS no Brasil já acontecia an-
comunidade surda, da estrutura linguística tes da criação do Letras/Libras e iniciou-se,
da Libras e estudos sobre a tradução, sen- formalmente em instituições de nível supe-
do necessária a prática de interpretação em rior, em meados de 2004 e 2005: “os primei-
diversos contextos sociais, principalmente ros cursos de formação específica no Brasil
no contexto educacional por parte do aca- começaram a surgir em 2004/2005 por ini-
dêmico (SOUZA, 2013). ciativa de algumas universidades, como a
74/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
UNIMEP/SP, Estácio de Sá/RJ e PUC/MG)” (LACERDA, 2013, p. 31).
Em 1 de setembro de 2010, foi regulamentada a Lei nº 12.319, que reconhece a profissão de tra-
dutor e intérprete de LIBRAS. No entanto, a Lei obteve três vetos, sendo que um deles foi o art.
3o, que dispõe “é requisito para o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete a habilitação em
Curso Superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa”, o
veto teve como a justificativa de que impor a habilitação em nível superior impediria o exercício
de profissionais formados em outras áreas com formação em nível médio.
No artigo 8º, a norma específica estabelece a criação de Conselho Federal e Conselhos Regio-
nais, que cuidarão da aplicação da regulamentação da profissão, em especial da fiscalização do
exercício profissional (BRASIL, 2010).

Conforme esclarecimento a partir de mensagem de veto, tem-se que o projeto dis-


põe sobre o exercício da profissão do tradutor e intérprete de libras, considerando
as necessidades da comunidade surda e os possíveis danos decorrentes da falta de
regulamentação. Não obstante, ao impor a habilitação em curso superior específi-
co e a criação de conselhos profissionais, os dispositivos impedem o exercício da

75/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


atividade por profissionais de outras áreas, devidamente formados nos termos do
art. 4o da proposta, violando o art. 5o, inciso XIII, da Constituição Federal.

Desta forma, a formação do TILS de acordo com a legislação vigente pode ser obtida por meio de:

cursos de educação profissional promovido pelo sistema que o credenciou; b) cur-


sos de extensão universitária; c) cursos de formação continuada promovidos por
instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Edu-
cação (BRASIL, 2010).
Embora haja uma política em prol da formação de TILS, há ausência de diretrizes curriculares e
de parâmetros formativos específicos que possibilitem uma formação efetiva.
Quanto a este aspecto, Nascimento (2012, p. 61) pontua:

76/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


As leis determinam a formação, mas não oferecem os caminhos para que ela acon-
teça. Afirmam e reafirmam o exercício profissional do TILS e sua importância para
a inclusão de surdos usuários da Libras, mas não apontam os caminhos mais ade-
quados e pertinentes para uma formação efetiva.
Compreendemos que o profissional TILS alocado na posição de um desbravador de
precisa se comprometer com sua práxis, em fronteiras, que constituído de preceitos éti-
situações que possa vivenciar a tradução e cos e versatilidade técnica elabora a men-
interpretação como palestras, seminários, sagem na língua, meta para seu expectador
contexto educacional, para que ele consi- surdo ou ouvinte. Quanto aos preceitos éti-
ga identificar os limites e possibilidades de cos, Quadros (2004) apresenta pelo menos
atuação, e ainda busque aperfeiçoamento cinco:
teórico acerca da tradução e interpretação. Primeiro preceito é a confiabilidade (sigilo)
– cabe ao profissional TILS zelar pela priva-
1.1 Questões éticas cidade das partes envolvidas nos diversos
contextos tradutórios, a confiabilidade de-
O tradutor intérprete de língua de sinais é
manda respeito e confiança.
77/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
Segundo preceito é a imparcialidade (neu- Quinto preceito é a fidelidade (fidedignida-
tralidade), proceder sem emitir inferências de), o TILS precisa estar apto para identificar
próprias durante a interpretação. o real objetivo do pensamento, da intenção
Terceiro preceito é a discrição (ponderação), comunicativa das línguas envolvidas para
além de manter suas convicções pessoais realizar uma interpretação autêntica.
de fora de suas soluções interpretativas, o Neste sentido, de acordo com Quadros
profissional TILS deve manter-se pondera- (2004), o intérprete é responsável pela in-
do na sua postura, vestimentas, o que deve termediação de um processo interativo que
predominar é a língua interpretada, nada envolve determinadas intenções conversa-
mais que isto. cionais e discursivas. Com base nisso, nes-
Quarto preceito é a distância profissional sas interações, de acordo com a pesquisa-
(equilíbrio), os TILS são membros ativos da dora, o intérprete assume o compromisso
comunidade surda, que frequentemente com a veracidade e fidedignidade das infor-
mantêm relação social estreita com os sur- mações. Logo, ela entende que a ética deve
dos, isto significa que, a relação profissio- constituir a essência desse profissional.
nal pode correlacionar com o pessoal, neste Em relação a este preceito, Massutti (2007,
sentido, pede-se equilíbrio e sensatez para p. 144-145) comenta:
separar o pessoal do profissional.
78/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional
Os intérpretes de língua de sinais se interpõem entre línguas e culturas, como me-
diadores que assumem o lugar de tensão das diferentes vozes, a dos surdos, dos
ouvintes e de sua própria voz. Um dos principais dilemas do intérprete de língua
de sinais, ao intermediar uma relação no ato tradutório, gira em torno do conflito
de representação fidedigna do conjunto dessas vozes, e consequentemente sua
responsabilidade com a tradução.

A interpretação é um processo ativo e dinâmico assim como é Libras, “língua social e histórica,
que adquire seu sentido no momento em que está sendo utilizada, num movimento ativo e não
pode ser considerada como algo estático, como um sistema de regras” (GURGEL, 2010, p. 44). A
atuação desse profissional não se restringe apenas ao ato de interpretar e transmitir conteúdos
de uma língua para a outra, ou seja, ser fluente em uma língua, não é o único requisito para o seu
exercício, fundamental claro, mas outros fatores colocam-se também como primordiais.

79/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


Para saber mais
Realize uma leitura do artigo Conflitos éticos na atuação do tradutor intérprete de Libras, de Raquece
Mota Honório Cruz. Disponível em: <http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/
userfiles/files/4%C2%BA%20Artigo%20REVISTA%2017%20Raquece%20Mota%20Hon%-
C3%B3rio%20Cruz.pdf>.

80/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


Glossário
Comunidade surda: pessoas surdas e ouvintes usuárias da língua de sinais.
Ética: Princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas.
Preceitos: sinônimo de ordem, regra, norma, condição.

81/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


?
Questão
para
reflexão

Realize uma leitura da Lei n 10.436, de 2002 e do Decre-


º

to nº 5.626, de 2005, registre suas impressões pesso-


ais acerca do conjunto de medidas jurídicas da profissão
dos tradutores intérpretes de Libras que está presente,
tanto no Decreto de 2005, quanto na Lei de 2002.

82/225
Considerações Finais

Você estudou sobre:


• As normativas legais, que se referiam ao intérprete da língua de sinais em nosso país, desde a
Lei de acessibilidade 10.098/2000 e o seu decreto regulamentário nº 5.296, em 2 de dezem-
bro de 2004, antes mesmo da legalização da Libras.
• As informações regulamentares da formação do TILS presentes no Decreto nº 5626/2005,
que se referem à formação em nível médio e superior.
• Os preceitos éticos que envolvem a atuação profissional do TILS.

83/225
Referências

ASSIS SILVA, César Augusto. Entre a deficiência e cultura: análise etnográfica de atividades mis-
sionárias com surdos. 2010. 194f. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.
ANATER, Gisele I. P.; PASSOS, Gabriele C. R. dos. Tradutor e intérprete de língua de sinais: história,
experiências e caminho de formação. Cadernos de Tradução. Florianópolis: UFSC, 2010.
BRASIL. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e In-
térprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, 2010.
BRASIL. Lei nº 10.436. Publicada no D. O. U. em 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Bra-
sileira de Sinais - Libras e dá outras providências.2002.
BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em <http://www.usp.br/drh/
novo/legislacao/dou2000/lei10098.html>. Acesso em: 22 jun. 2017.

BRASIL. Decreto nº 5.626/2005. Regulamenta a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e art. 18 da Lei nº10.098, de 19 de dezembro de 2000.
Diário Oficial da União. Brasília, 22 dez. 2005.

84/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


Referências

BRASIL. Decreto Federal nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Normas gerais e critérios bási-
cos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilida-
de reduzida. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/
decreto/d5296.htm>. Acesso em: 22 jun. 2017.

GURGEL, Taís Margutti do Amaral. Práticas e Formação de tradutores Intérpretes de Língua


Brasileira de Sinais no Ensino Superior, 2010. 168f. Tese (Doutorado). Universidade Metodista
de Piracicaba faculdade de Ciências Humanas UNIMEP, 2010.
LACERDA, C. B. F. de. Tradutores e intérpretes de língua brasileira de sinais: formação e atuação
nos espaços educacionais inclusivos. Cadernos de Educação | FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [36]:
133 - 153, maio/agosto 2010.
LACERDA, C. B. F. de. Interprete de libras em atuação na educação infantil e no ensino funda-
mental. 5. ed. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2013.
MASUTTI, M. L. Tradução cultural: desconstruções logofonocêntrica em zonas de contato entre
surdos e ouvintes. Tese de Doutorado: Universidade Federal de Santa Catarina, 2007.

85/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


Referências

NASCIMENTO, Marcus. V. B. Tradutor Intérprete de LIBRAS/Português: formação Política e Políti-


ca de Formação. In: Libras em estudo: tradução/interpretação / Neiva de Aquino Albres e Vania
de Aquino Albres Santiago (Org.). São Paulo: FENEIS, 2012.
QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEE, 2004.
SOUZA, Mariane Rodrigues de. Narrativas dos Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais que
atuam no Contexto do Ensino Fundamental. 2013. 144f. Dissertação (Mestrado em estudos da
Tradução) – Universidade federal de Santa Catarina, 2013.

86/225 Unidade 3 • Formação do TILS e a ética profissional


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Aula 3 - Tema: Formação do TILS e a Ética Pro- Aula 3 - Tema: Formação do TILS e a Ética Pro-
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4c5b053f200dc74112444ccc61399871>. 86dd5a82dd99c6b8dfd8ae76078cad91>.

87/225
Questão 1
1. Segundo Quadros (2004), quais são os cinco princípios éticos que os tra-
dutores intérpretes de língua de sinais precisam ter?
a) Respeito, responsabilidade com horário, discrição, distância profissional e fidelidade.
b) Confiança, parcialidade, discrição, distância profissional e fidelidade.
c) Autonomia, parcialidade, confiança do surdo, fidelidade e pontualidade.
d) Pontualidade, respeito, discrição, distância profissional e fidelidade.
e) Imparcialidade, discrição, distância profissional, fidelidade e confiabilidade.

88/225
Questão 2
2. Assinale a alternativa que melhor define o PROLIBRAS.

a) Uma prova promovida pela FENEIS, que atestou quem é intérprete ou não através de uma
banca examinadora.
b) Uma prova promovida pela FEBRAPILS, que certificou os intérpretes que atuam no espaço
educacional.
c) Um vestibular para ingresso no curso Letras-Libras na modalidade bacharelado.
d) Uma avaliação promovida, anualmente, pelo MEC que certificou a proficiência linguística
dos tradutores e intérpretes de língua de sinas.
e) Uma banca promovida pelas associações de intérpretes, que aconteceu anualmente em par-
ceria com a FENEIS e MEC desde 2002.

89/225
Questão 3
3. No Brasil, a presença dos intérpretes de língua de sinais se iniciou em tra-
balhos religiosos, mas o marco fundamental do processo de reconhecimento
profissional do TILS foi:
a) A realização de encontros estaduais em 1993 e 1994.
b) A homologação da Lei Federal nº 10.436/2004 da língua de sinais.
c) A regulamentação da lei da Libras pelo decreto nº 5626/2005.
d) A criação de associações de TILS em diversos estados.
e) A criação do Código de Ética do TILS.

90/225
Questão 4
4. Assinale a alternativa que apresenta a Lei que reconhece o exercício da
profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
a) Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
b) Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
c) Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
d) Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
e) Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010.

91/225
Questão 5
5. Qual documento legal determina o uso da janela de Libras?

a) Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.


b) Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
c) Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010.
d) Decreto nº 5.296 em 2 de dezembro de 2004.
e) Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.

92/225
Gabarito
1. Resposta: E.

Os cinco preceitos éticos citados por Quadros (2004) são imparcialidade, discrição, distância
profissional, fidelidade e confiabilidade.

2. Resposta: D.
Uma avaliação promovida, anualmente, pelo MEC que certificou a proficiência linguística dos
tradutores e intérpretes de língua de sinas.

3. Resposta: C.
O marco fundamental do processo de reconhecimento profissional do TILS foi a regulamentação
da lei da Libras pelo decreto nº 5.626/2005.

4. Resposta: E.
Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010 que reconhece o exercício da profissão de Tradutor e
Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LI RAS.

93/225
Gabarito
5. Resposta: D.

O capítulo VI, artigo 53, inciso III, determina o uso da “janela de Libras” para o acesso a informa-
ção e comunicação.

94/225
Unidade 4
O intérprete educacional

Objetivos
• Conhecer as atribuições do intérprete educacional e as implicações dos diferentes níveis
educacionais.
• Compreender a relação do intérprete educacional e o professor em sala de aula.

95/225
Introdução

Cientes da diferença conceitual de tradu- a Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010,


ção e interpretação, como também a evo- que regulamenta a profissão de tradutor e
lução do tradutor intérprete em nosso país, intérprete da Língua Brasileira de Sinais –
neste tema, você vai compreender como se LIBRAS.
dá a atuação profissional do intérprete edu- Segundo a autora, toda essa legislação
cacional. orienta as ações da federação, dos estados
Lacerda (2008) aponta as diversas diretri- e municípios no atendimento à pessoa sur-
zes e leis que orientam as políticas públicas da, principalmente no que se refere a sua
para a educação de surdos como: a Lei nº educação, sendo esta área que maior com-
10.098/94, de 23 de março de 1994, mais porta e contrata este profissional em nosso
precisamente o capítulo VII, que estabelece país.
a acessibilidade à língua de sinais; as Dire- A Constituição Federal (1998) orienta que o
trizes Nacionais para a Educação Especial atendimento às pessoas com necessidades
(Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setem- especiais deve dar-se preferencialmente na
bro de 2001), a Lei nº 10.436, de 24 de abril rede regular de ensino. Neste sentido, cabe
de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasilei- às instituições e professores preparar-se
ra de Sinais Libras, leis estas, regulamenta- para receber esta clientela de maneira que
das pelo Decreto nº 5.626/05 e finalmente possam oferecer um atendimento especia-
96/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
lizado de qualidade, atendendo as especificidades.
O Decreto n° 5.626, de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, em seu capítulo VI, artigo
22 determina que se estabeleça, para a inclusão escolar:

I – escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com


professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino funda-
mental;

II – escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alu-


nos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou
educação profissional, com docentes de diferentes áreas do conhecimento, cientes
da singularidade linguística dos alunos surdos, bem como a presença de tradutores
e intérpretes de Libras – Língua Portuguesa (BRASIL, 2005).

Com a proposta da inclusão, muitas escolas regulares do país que entre os seus alunos apresen-
tam pessoas com surdez adotam para si o adjetivo de Escola Bilíngue, em que, a Libras e a língua
portuguesa (na modalidade escrita) são línguas de instrução durante o processo de ensino e
aprendizagem dos alunos surdos. Quanto à educação bilíngue, Quadros (2004) pontua que se
97/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
faz necessária a presença do tradutor intér- Intérprete educacional
prete de Libras na sala de aula regular, com
o objetivo de favorecer o cumprimento de O intérprete educacional pode atuar desde
política linguística em território nacional. a educação infantil à educação de nível mé-
dio, superior e até de pós-graduação. Pro-
É neste contexto que emerge o intérpre-
fissional previsto no Decreto nº 5.626, res-
te educacional com o objetivo de mediar
ponsável por dar acessibilidade linguística
o processo comunicativo entre as pessoas
aos alunos surdos interpretando do Portu-
que não dominam a mesma língua. O ter-
guês para a Língua de Sinais e vice-versa os
mo intérprete educacional foi utilizado pela
conteúdos tratados no espaço educacional.
primeira vez no Brasil em 2002 por Lacer-
O que a legislação atribui a este profissio-
da. A autora explica que essa terminologia
nal? Observe as normativas no art. 6º da Lei
também é adotada em muitos países como:
nº 12.319, de 1º de setembro de 2010:
EUA, Canadá, Austrália, entre outros, com o
objetivo de diferenciar o profissional tradu-
tor intérprete generalista daquele que atua
na educação.

98/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências:

I – efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-


-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa;

II – interpretar, em Língua Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa, as atividades


didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos ní-
veis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos
curriculares;

III – atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos con-
cursos públicos;

IV – atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições


de ensino e repartições públicas; e

V – prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou


policiais.
Convém lembrar que, para cada nível, devem ser levados em consideração fatores diferentes
99/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
quanto à prática de trabalho em sala de decorrentes da barreira de comunicação;
aula. De acordo com Quadros (2004), nos crianças surdas das quais os pais são ouvin-
anos iniciais, o intérprete deve ter afinidade tes, não usuários da língua de sinais, apre-
para trabalhar com crianças, pois irá traba- sentam mais dificuldades devido à ausência
lhar com elas. Nesta fase, pode existir uma de estímulos na família.
série de implicações tais como: dificuldade
por parte das crianças surdas em compre-
ender claramente e identificar a função do
Para saber mais
intérprete como sendo apenas a de ser um Leia o artigo “Pais ouvintes, filho surdo: causas
agente mediador da relação entre ele e o e consequências na aquisição da língua de si-
professor; as crianças surdas tendem a es- nais como primeira língua”. Disponível em: <ht-
tabelecer o vínculo com quem lhes dirige o tps://www.revistas.ufg.br/revsinal/article/
olhar e, nesse caso, é o intérprete que esta- view/41493>.
belece essa relação.
Por outro lado, crianças surdas das quais
Muitas crianças chegam às escolas com de-
os pais são surdos também têm dificulda-
fasagem cognitiva e linguística, com lacu-
de devido à falta de informações por parte
nas de conceitos que deixaram de ser ad-
da família. Assim, geralmente estes fatores
quiridos pela falta de informações, às vezes,
100/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
recairão sobre a escola, e se a equipe pe- duação, os conhecimentos por parte do
dagógica não souber identificar o papel do intérprete precisam ser mais específicos e
intérprete, a responsabilidade recairá ainda aprofundados, de modo que consiga reali-
mais sobre ele. zar a interpretação compatível com o grau
No contexto de sala de aula, uma estratégia de exigência dos níveis mais altos de esco-
recomendada para caracterizar o papel de larização. Lacerda (2008, p. 18) explica que
intermediação do intérprete educacional, “o profissional precisa ter conhecimentos
é redirecionar as perguntas, dúvidas dos específicos para que sua interpretação seja
alunos surdos ao professor. Aos poucos as compatível com o grau de exigência e pos-
crianças assimilarão os papéis tanto do in- sibilidades dos alunos que está atendendo”.
térprete de língua de sinais quanto do pro- Ao analisar a atuação do intérprete no ensi-
fessor. no superior, observa-se que a linguagem se
No Ensino Fundamental e Médio, Quadros torna mais densa, com complexidade maior,
(2004) afirma que o estudante surdo conse- e específica. O universitário surdo precisa
gue lidar melhor com a figura do intérprete se apropriar desses conteúdos específicos e
em sala de aula. técnicos da sua área de conhecimento. Gur-
gel (2010) afirma que se o intérprete tem
Em níveis posteriores, superior e pós-gra- prévio conhecimento deste conteúdo espe-
101/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
cífico, melhor será sua escolha de sentidos no momento de sua atuação prática. A autora ainda
destaca que o surdo universitário geralmente tem maior capacidade em avaliar a qualidade da
interpretação, sendo mais exigentes quanto à formação deste profissional.
A pouca experiência do intérprete educacional com os conteúdos específicos mais abrangentes
no ensino superior associada à contratação sem formação adequada para o exercício profissional
são fatores que interfere na interpretação. Santos (2006, p. 84) faz uma crítica a ser considerada:

Assim, não basta apenas disponibilizar um profissional, ele precisa ser qualificado,
isto é, a ideia de que mesmo com desempenho fragilizado ter um ILS é melhor do
que não ter nada. Isso é um discurso normalizador que, na maioria das vezes, a
educação o usa para justificar a falta de formação dos ILS.
Neste sentido, o intérprete educacional demanda de aprofundamento teórico, fluência com a
língua utilizada e experiência educacional, de modo que, seja capaz de perceber as dificuldades
do aluno surdo e juntamente com o professor encontrar metodologias para atenuá-las.

102/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


A relação entre o intérprete exemplo, algumas pessoas acreditam que
educacional e o professor o papel do intérprete se restringe apenas a
traduzir a fala do professor em sala de aula,
Assim como o professor deve buscar meios dispensando planejamento e preparo. Real-
para assegurar o acesso às informações e mente, o planejamento da aula é de suma,
conhecimentos de seus alunos surdos, o in- responsabilidade do professor, porém, o in-
térprete educacional deve buscar qualifica- térprete deve ter contato prévio com o pla-
ção e formação específica para sua atuação. nejamento de modo que, se houver dúvidas
Ambos têm papel fundamental no processo em relação ao conteúdo, elas sejam sana-
de aprendizagem do aluno surdo. das com antecedência evitando prejuízo ao
Gurgel (2010) comenta que aqui no Brasil processo cognitivo do aluno surdo.
a atuação do intérprete educacional é con- Outra concepção inadequada é o fato da
siderada uma figura nova, deste modo, fre- equipe pedagógica delegar ao intérprete
quentemente ele é confundido com o pro- atribuições de docência, ou seja, exigir que o
fessor e pouco se conhece sobre suas atri- intérprete tutore os alunos surdos em qual-
buições em sala de aula. quer circunstância ou realize atividades que
Neste sentido, algumas concepções inade- não façam parte de suas atribuições quan-
quadas às vezes são construídas, como por do deveria ser visto como instrumento de
103/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
comunicação, esta prática é considerada por Quadros (2004), antiética.
Quanto à dicotomia de papéis entre o intérprete educacional e o professor, Lacerda (2004, p. 3)
enfatiza:

Em relação ao papel do intérprete em sala de aula, se verifica que ele assume uma
série de funções (ensinar língua de sinais, atender a demandas pessoais do aluno,
cuidados com o aparelho auditivo, atuar frente ao comportamento do aluno, esta-
belecer uma posição adequada em sala de aula, atuar como EDUCADOR frente a
dificuldades de aprendizagem do aluno) que o aproximam muito de um educador.
[...] ele deva integrar a equipe educacional, todavia isso o distancia de seu papel tra-
dicional de intérprete gerando polêmicas.
O intérprete educacional deve adquirir técnicas, estratégias de interpretação, habilidades lin-
guísticas nas línguas envolvidas, ter um comprometimento ético com o trabalho que está sendo
oferecido e saber se posicionar frente a práticas que divergem de seu papel.
Neste sentido existe um código de ética que orienta e asseguram direitos e deveres dos intérpre-

104/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


tes educacionais. Segundo Quadros (2004, p. 61):

Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade absoluta.

Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garan-


tirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais.

Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através da revisão


e preparação das aulas que garantem a qualidade da sua atuação durante as aulas.

As aulas devem prever intervalos que garantem ao intérprete descansar, pois isso
garantirá uma melhor performance e evitará problemas de saúde para o intérprete.

Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que ga-
rantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e pre-
cisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no quadro,
olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. Também, deve
ser resolvido como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que
o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo para realizá-las.
105/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
Outro aspecto importante é a garantia da participação do aluno surdo no desenvol-
vimento da aula através de perguntas e respostas que exigem tempo dos colegas e
professores para que a interação se dê. A questão da iluminação também deve sem-
pre ser considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retroprojetor podem
ser recursos utilizados em sala de aula.

De acordo com Quadros (2004, p. 61), con- clusão do interprete não soluciona todos os
sidera-se antiético “Tutorar os alunos (em problemas educacionais dos alunos surdos,
qualquer circunstância); apresentar infor- sendo necessário pensar a educação inclu-
mações a respeito do desenvolvimento dos siva, em qualquer grau de ensino, de manei-
alunos; acompanhar os alunos; disciplinar ra ampla e consequente”.
os alunos e realizar atividades gerais extra- Como podemos observar, a responsabilida-
classe”. de do intérprete educacional vai muito além
Lacerda (2013, p. 35) garante que o intér- do que mediador linguístico requer forma-
prete educacional tem uma tarefa muito ção adequada, experiência educacional, co-
importante que vai além de realizar escolhas nhecimento abrangente e ao mesmo tempo
sobre o modo de traduzir, no entanto, deve específico dos conteúdos a serem interpre-
se atentar a tornar os conteúdos acessíveis tados. Desta maneira, compreendemos que
ao aluno. Portanto, a autora adverte: “a in- a presença deste profissional é de extrema
106/225 Unidade 4 • O intérprete educacional
relevância e fundamental, contudo a permanência do aluno surdo não está somente condiciona-
da ao papel e atuação do intérprete educacional conforme mencionado anteriormente.
Deste modo, observa-se que além de domínio das línguas envolvidas, no caso do Brasil, a Libras
e a língua portuguesa, este profissional precisa de formação específica para desempenhar o do-
mínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação.
Russo e Pereira (2008, p. 15-16) propõem áreas que uma boa formação deva contemplar:

Linguística (geral e específica da língua de sinais); Língua de sinais aplicada à tra-


dução e interpretação; Língua Portuguesa aplicada à tradução e interpretação; Teo-
ria da tradução (tradutologia); Artes dramáticas (expressão corporal, vocal e facial);
Cuidados laborais (prevenção de lesões, manutenção da musculatura e articulações
exigidas na interpretação, postura, higiene e estética, relaxamento e alongamen-
to; Evolução e constituição da comunidade surda e sociologia em geral; Psicologia
aplicada à interpretação; Além de seminários sobre surdo-cegueira, ética, Sinais In-
ternacionais (International Signs), legislação que embasa o serviço de interpretação
de sinais e outros assuntos de interesse.

107/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


Um intérprete educacional completo é aquele sabe unir teoria e prática, ou seja, tem domínio da
Libras e sabe defendê-la teoricamente. Ser um intérprete educacional exige disciplina, respeitar
as regras da instituição educacional e lutar para que seja respeitado em seus direitos, manten-
do-se em constante estudo e aprimoramento de técnicas de interpretação.

Link
Acesse o site <http://editora-arara-azul.com.br/site/> e navegue pela Revista Virtual de Cultura
Surda e Diversidade. Há vários artigos relacionados à Educação de Surdos e a atividade de tradução e
interpretação de língua de sinais na sala de aula.

108/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


Glossário
Intérprete generalista: Profissional tradutor intérprete da língua de sinais em outros contextos
que não seja o educacional.
Língua de Instrução: A Libras é considerada a primeira língua do aluno surdo (L1) enquanto
que o ensino de língua portuguesa se dará como segunda língua (L2) na modalidade escrita.
Política linguística: Luta pelo reconhecimento político, social e linguístico da Libras.

109/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


?
Questão
para
reflexão

Com base em tudo o que já apresentamos até agora em


termos de preceitos éticos ligados à prática de trabalho
de interpretação educacional. Como deve ser a postura
do intérprete educacional, então? Na prática, que perfil
ele deve ter? Discorra sobre isto.

110/225
Considerações Finais

• O intérprete educacional pode atuar desde a educação infantil à educação


de nível médio, superior e até de pós-graduação, conforme prevê o Decreto
nº 5.626/2005.
• Para cada nível educacional, devem ser levados em consideração fatores di-
ferentes quanto à prática de trabalho em sala de aula.
• A atuação do intérprete educacional é considerada uma figura nova, deste
modo frequentemente ele é confundido com o professor e pouco se conhe-
ce sobre suas atribuições em sala de aula.
• O intérprete educacional deve adquirir técnicas, estratégias de interpreta-
ção, habilidades linguísticas nas línguas envolvidas, ter um comprometi-
mento ético com o trabalho que está sendo oferecido.

111/225
Referências

BRASIL. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e In-


térprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, 2010.
BRASIL. Decreto nº 5.626/2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dis-
põe sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de
2000. Diário Oficial da União. Brasília, 22 dez. 2005.
BRASIL. Constituição Federal Brasileira, 1998.
GURGEL, Taís Margutti do Amaral. Práticas e Formação de tradutores Intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais no Ensino Superior, 2010. 168f. Tese (Doutorado). Universidade Metodista
de Piracicaba. Faculdade de Ciências Humanas UNIMEP, 2010.
LACERDA, C. B. F. Intérprete de libras em atuação na educação infantil e no ensino funda-
mental. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2008.
LACERDA, C. B. F. Intérprete de libras em atuação na educação infantil e no ensino funda-
mental. 5. ed. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2013.
QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEE, 2004.

112/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


Referências

RUSSO, A.; PEREIRA, M. C. P. Tradução e interpretação de língua de sinais: técnicas e dinâmicas


para cursos. Cultura Surda. Taboão da Serra, 2008.
SANTOS, S. A. dos. Intérpretes de língua brasileira de sinais: um estudo sobre as Identidades.
Dissertação de Mestrado: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.

113/225 Unidade 4 • O intérprete educacional


Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: O Intérprete Educacional. Bloco I Aula 4 - Tema: O Intérprete Educacional. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/pA-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/1bb-
2820748df43302ae5b28c97f701c8ebf>. c50a2b1e6b47300f06167593cfb7d>.

114/225
Questão 1
1. Qual é a dificuldade mais comum encontrada pelo intérprete educacional
nas séries iniciais? Assinale a alternativa correta:

a) Domínio dos conhecimentos específicos e aprofundado para essa área.


b) Dificuldade com a avaliação dos alunos surdos quanto sua interpretação.
c) Dificuldades de interpretação em matemática.
d) Dificuldade por parte das crianças surdas em compreender a função do intérprete.
e) Dificuldade de contratação, visto que a área não demanda deste profissional.

115/225
Questão 2
2. No Brasil, qual é a área que mais concentra contratação de tradutores e
intérpretes de língua de sinais?
a) Jurídica.
b) Educação.
c) Saúde.
d) Assistência social.
e) Programas televisivos.

116/225
Questão 3
3. Cabe ao intérprete educacional:

a) Estudar todas as matérias com os alunos.


b) Ensinar para os surdos quando o professor faltar.
c) Traduzir interpretar vice-e-versa da Libras para o português.
d) Somente traduzir textos escritos nas aulas de leitura.
e) Somente fazer a voz do surdo quando ele fizer uma pergunta.

117/225
Questão 4
4. O profissional de língua de sinais que atua na educação de surdos é co-
nhecido como:
a) TILS.
b) Guia intérprete.
c) Tradutor educacional.
d) Instrutor de Libras.
e) Intérprete educacional.

118/225
Questão 5
5. As funções desenvolvidas pelo intérprete de língua de sinais no con-
texto educacional ainda não estão claras para toda a equipe pedagógica
escolar. Das listadas a seguir, apenas uma é realmente a que condiz com
sua formação:
a) Ensinar a língua de sinais para o aluno surdo que a desconhece.
b) Auxiliar o aluno surdo no cuidado com seu aparelho auditivo, quando este utilizar.
c) Cuidar do comportamento do aluno.
d) Auxiliar os alunos nas suas dificuldades de aprendizagem.
e) Ser mediador linguístico e cultural.

119/225
Gabarito
1. Resposta: D. na educação de surdos é conhecido como
intérprete educacional.
Dificuldade por parte das crianças surdas
em compreender a função do intérprete. 5. Resposta: E.

2. Resposta: B. Ser mediador linguístico e cultural.

A área que mais comporta e contrata o tra-


dutor intérprete de língua de sinais no Brasil
é a educação.

3. Resposta: C.

Traduzir-interpretar vice-e-versa da Libras


para o português.

4. Resposta: E.

O profissional de língua de sinais que atua


120/225
Unidade 5
Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação

Objetivos
• Apresentar as principais modalidades de tradução e suas revisões conceituais.
• Conhecer os tipos de interpretação teorizando com a atividade de interpretação de língua
de sinais.

121/225
Introdução

Quando você vai ao cinema e assiste a um e uma à sua direita. No caso de falta de ar,
filme legendado, está de um objeto prá- máscaras de oxigênio cairão sobre vossas
tico de tradução. Ao ler uma obra literária cabeças. Caso precisem de alguma coisa,
estrangeira disponível na íntegra na língua basta chamar e nossos comissários de bor-
portuguesa, também está tendo contato do lhes atenderão. Tenham uma boa via-
com algo que é resultado de uma tradução. gem.” E em seguida a mesma mensagem é
Quem nunca assistiu pela TV ou esteve pre- interpretada em inglês transmitida a passa-
sente em uma palestra em que o orador era geiros estrangeiros.
estrangeiro e a compreensão do discurso só Esses exemplos do cotidiano remetem a si-
foi possível, via interpretação de alguém? tuações em que a tradução e a interpretação
Ou até mesmo você, já deve ter observado são necessárias quando há línguas escritas,
TILS realizando a interpretação de debates línguas orais e línguas de sinais distintas.
políticos em rede nacional de televisão.
Como você pode perceber, em aspectos ge-
Comumente, ao adentrarmos em uma ae- rais, a tradução e interpretação podem re-
ronave, antes da decolagem ouvimos “Se- meter a texto traduzido ou a ato de inter-
nhores passageiros, coloquem os cintos; o pretar. Neste sentido, você vai estudar os
avião já vai decolar. Em caso de problemas tipos de tradução e as modalidades de in-
técnicos, temos duas saídas de emergência terpretação.
na parte dianteira, duas na parte traseira
122/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
1. Modalidades de tradução e in- tir da clássica divisão proposta por Roman
terpretação Jakobson que faz parte da obra “The Trans-
lation Studies Reader”, editada por um teóri-
“Enquanto a tradução e a interpretação es- co da área de estudos da tradução chama-
tão preocupadas com a versão de uma lín- do Lawrence Venut. Para Jakobson (2002, p.
gua em outra, existem diferenças entre elas, 115), há três tipos de tradução:
devido à forma e ao limite de tempo” (STO-
NE, 2009, p. 1), é desta maneira que o autor
diferencia os termos, para ele, a tradução se
refere a textos escritos e a interpretação se
refere a uma transmissão “ao vivo e imedia-
ta” de discurso, seja falado ou sinalizado.
Certamente, apenas uma definição não é
suficiente, consideramos que existem efei-
tos das modalidades de língua envolvidas
no procedimento tradutório.
Neste sentido, primeiramente, vamos abor-
dar os diferentes tipos de tradução a par-
123/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
1. A tradução intralingual, ou reformulação, consiste na interpretação dos
signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.

2. A tradução interlingual, ou tradução propriamente dita, consiste na in-


terpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua.

3. A tradução intersemiótica, ou transmutação, consiste na interpretação


dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.

O autor explica que a “tradução intralin- se, podendo ser observada em situações em
gual de uma palavra utiliza outra palavra, que vocabulário sofisticado é simplificado
mais ou menos sinônima, ou recorre a um para ser compreendido por mais pessoas,
circunlóquio. Entretanto, via de regra, quem na transformação de linguagem técnica em
diz sinonímia não diz equivalência comple- uma linguagem cotidiana.
ta [...]” (JAKOBSON, 2002, p. 115). Neste Na sequência, quanto à tradução interlin-
caso, a tradução intralingual ocorre dentro gual, que “consiste na interpretação dos
de uma mesma língua, este procedimento é signos verbais por meio de alguma outra
conhecido como reformulação ou paráfra- língua”, Guerini (2008) explica que a esta
124/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
tradução engloba texto de partida, o tradutor e o texto de chegada.
Dutra (2011, p. 55) ao tentar definir o trabalho do tradutor interlingual, comenta que antes de
tornar-se o que é, este adquire e aprende línguas, podendo ocorrer de duas maneiras distintas:

(1) Aquisição de 2ª língua: o ser humano adquire uma nova língua de


maneira natural, sem esforço e sistematização formal como ocorreu ao
aprender sua língua materna”. (DUTRA, p. 54). Fazendo uma analogia com
os TILS, este se enquadraria aos CODAS, que fazem parte da comunidade
surda.

(2) Aquisição de língua estrangeira: a pessoa aprende num contexto insti-


tucional, uma escola ou centro de línguas, quando já amadurecido o seu
conhecimento da língua materna e possivelmente numa idade mais adul-
ta, o que não impede se necessário o aprofundamento e prática desta,
num outro contexto que favoreça o aumento da competência).

125/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


Esta pode se enquadrar aos TILS que aprendem a Libras em cursos ofertados por associações de
surdos, igrejas, cursos de extensão universitária etc.
Segundo a autora, independente dos processos, por aquisição ou aprendizagem da língua, o es-
sencial é sua capacitação e aperfeiçoamento para a competência comunicativa.
Vale observar que, a competência comunicativa não tem necessariamente correlação à compe-
tência tradutória. Etienne Dolet (1509-1546), em “A maneira de bem traduzir de uma língua para
outra” (1540), estabeleceu cinco princípios para o tradutor:

1. O tradutor deve entender perfeitamente o sentido e a matéria do autor


a ser traduzido;

2. O tradutor deve conhecer perfeitamente a língua do autor que ele traduz;


e que ele seja igualmente excelente na língua na qual se propõe traduzir;

3. O tradutor não deve traduzir palavra por palavra;

4. O tradutor deve usar palavras de uso corrente;

5. O tradutor deve observar a harmonia do discurso. (DOLET, 1540 apud


BASNETT, 2003, p. 15).
126/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
Os princípios do tradutor e suas competên- Figura 1 – Exemplos de Tradução Intersemiótica

cias são elementos que você ainda estuda-


rá.
Retornando por fim, com base na classifi-
cação de Jakobson, temos a tradução in-
tersemiótica, que pode ser entendida como
transmudação de uma obra de um sistema
de signos a outro. Este procedimento é a
passagem de um sistema verbal em outro
não verbal, uma poesia modificar-se em Fontes: <https://filmow.com/quem-mexeu-
pintura, histórias em quadrinhos que vi- -no-meu-queijo-o-filme-t12215/>.
<https://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/cinegibi-o-fil-
ram filme como a Turma da Mônica, lingua- me-turma-da-monica/?key=23089>. Acesso em: 16 jul. 2017.
gem verbal para o sistema semiótico visual,
Rónai (1976, p. 2) define a tradução inter-
como o filme Quem mexeu no meu queijo?
semiótica como “aquela a que nos entrega-
mos ao procurarmos interpretar o significa-
do de uma expressão fisionômica, um gesto,
um ato simbólico mesmo desacompanhado
de palavras”.
127/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
Diante destes tipos de tradução mencionados, você pode se perguntar: o que é tradução para a
língua de sinais? Segala (2010) sugere incluir a tradução intermodal.
O autor explica que para muitos, o termo tradução remete apenas a traduzir uma língua para ou-
tra, no caso, a tradução em língua de sinais caberia o tipo, a tradução interlíngua. Porém quando
envolve a “língua portuguesa escrita como língua-fonte, para a Língua Brasileira de Sinais, como
língua-alvo” esta tradução interlingual é permeada pela tradução intermodal e tradução inter-
semiótica, ao fato de que, há a necessidade de procedimentos como:

1) Sign Writing: sistema de escrita desenvolvido para registrar a Língua de


Sinais; são símbolos visuais para representar as configurações de mão, os
movimentos, as expressões faciais e os movimentos do corpo das Línguas
de Sinais. 2) Gravação em vídeo de alguém que usa a Língua de Sinais (SE-
GALA, 2010, p. 30).

128/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


Para saber mais
Conheça o dicionário de SignWriting disponível o link: <http://www.dicionariolibras.com.br/web-
site/portifolio_imagem.asp?cod=124&idi=1&moe=6&id_categoria=58>.

A tradução intermodal embora ainda não tenha sido completamente assimilada pela comunida-
de surda, cada vez mais o recurso tecnológico, tem se tornado uma prática, pois facilita a com-
preensão e serve como um registro no qual o surdo pode retornar ao “texto” no caso “reler” o
discurso traduzido.
Segala (2010, p. 37) sintetiza o procedimento da tradução:

a) produção do texto acadêmico para disponibilização do conteúdo on-li-


ne pelos designers instrucionais; b) leitura do texto acadêmico pelo tradu-
tor; c) estudo do texto pelo tradutor da versão a ser disponibilizada on-line
traduzida para a Libras; d) caso necessário, o tradutor seleciona palavras
adequadas para organizar um glossário; e) faz-se a filmagem da tradução
em Língua de Sinais; f) edição da filmagem; g) o próprio tradutor ou outra
129/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
pessoa capacitada para a função faz a revisão da filmagem já editada; h)
caso sejam detectados erros, a filmagem é refeita e reeditada; i) faz-se uma
revisão final; j) põe-se o material à disposição no ambiente virtual.
A tradução intermodal está relacionada à modalidade da língua, ou seja, ao tipo de canais em
que a língua será enunciada, Mc Burney (2004, p. 351) explica que:

a “modalidade” de uma língua pode ser definida como sendo os sistemas


físicos ou biológicos de transmissão por meio dos quais a fonética de uma
língua se realiza. Existem sistemas diferentes de produção e percepção.
Para as línguas orais, a produção conta com o sistema vocal e a percep-
ção depende do sistema auditivo. Línguas orais podem ser categorizadas,
portanto, como sendo expressas na modalidade vocal-auditiva. Línguas de
sinais, por outro lado, dependem do sistema gestual para a produção e do
sistema visual para a percepção. Portanto, línguas de sinais são expressas
na modalidade gestovisual.

130/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


Esse canal diz respeito às dimensões do espaço e do tempo das línguas, enquanto, as relações
temporais e espaciais nas línguas orais são lineares. Quadros e Souza (2008, p. 176) afirmam que
nas línguas de sinais essas características são quadridimensionais “pois utilizam o espaço e o
tempo ‘encarnado’ no corpo do tradutor/ator e expressam, por meio do espaço e dos movimen-
tos, relações temporais e espaciais quase como uma encenação, mas em forma de uma língua”.
A tradução para a língua de sinais envolve a amostra do corpo do tradutor intérprete perante o
cliente, sua presença é indispensável. O tradutor intérprete da língua de sinais, de corpo presen-
te, realiza a interpretação, utilizando a voz ou os sinais (ROSA, 2005).
Segundo Souza (2010, p. 127), a tradução de uma língua de modalidade oral-auditiva, no caso,
a língua portuguesa para a Libras, na qual consiste em modalidade espaço-visual, se trata de
um procedimento tradutório além do que ocorre em traduções de texto para textos, em outras
palavras seria:

Trata-se de um tipo de tradução que, por exemplo, pode acontecer diante


de câmeras de TV, e conta com a presença dos tradutores durante a exe-
cução da atividade tradutória. Além de se fazer presente, tem-se a partir de
Novak (2005) e Quadros e Souza (2008), que o corpo do tradutor faz parte
do “cenário” do procedimento tradutório.
131/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
Link
Acesse <https://libras.ufsc.br/old/public/colecaoletraslibras/eixoformacaoespecifica> e assista
aos diversos conteúdos em videoaula disponíveis do Curso Letras/Libras da Universidade Federal de San-
ta Catarina.

Por fim, vamos buscar compreender tipos de que faz tradução oral, ou seja interpreta-
interpretação e suas particularidades. ção, e de tradutor, aquele que faz tradução
escrita, “a tradução e a interpretação lidam
1.1 Tipos de interpretação com um determinado texto em outra lín-
gua” (METZGER, 2002, p. 3).
Cabe relembrar a distinção paulatina entre
Portanto, entende-se que o tradutor que
a figura do intérprete e a do tradutor. Até
trabalha com o texto escrito, logo tem mais
o século XI, aproximadamente, quem fazia
tempo para realizar seu ato tradutório, fa-
tradução tanto oral quanto escrita era de-
zendo uso de instrumentos (dicionários,
nominado de intérprete. Após o século XII,
computador), logo, o intérprete lida com um
começou a se chamar de intérprete aquele
tempo mais curto, com a instantaneidade.
132/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
Neste contexto, existem dois tipos de inter- alto grau de compreensão da língua fonte,
pretação: consecutiva e a simultânea. competências de tomar notas, excelente
Gile (1995) define a interpretação conse- grau de conhecimentos gerais, uma memó-
cutiva como aquela em que o intérprete ria precisa e uma forma segura de entrega
ouve uma parte do discurso por alguns mi- da mensagem enunciada.
nutos, faz anotações e, então, transmite a Na interpretação simultânea, segundo Ma-
mensagem na língua-alvo. Por seguinte, o galhães Jr. (2007, p. 44), “o intérprete vai re-
palestrante prossegue por mais um trecho petindo na língua de chegada cada palavra
em alguns instantes, o intérprete pode fa- ou a ideia apresentada pelo palestrante na
zer anotações ou não, e transmite então à língua de partida”.
mensagem, este processo continua até o Gile (1995) descreve o profissional que faz
fim. Essas anotações têm como objetivo interpretação simultânea da seguinte ma-
auxiliar o intérprete a memorizar o discurso neira: ele se senta em uma cabine de inter-
para realizar a interpretação sem perdas de pretação, com o fone de ouvido, ouve o ora-
conteúdo. dor e interpreta o discurso com o uso de um
De acordo com Souza (2010), a interpreta- microfone. Os clientes, ou usuários do ser-
ção consecutiva exige várias habilidades di- viço, em uma sala de conferências, também
ferentes por parte do intérprete, tais como: utilizando fone de ouvido, ouvem a versão
133/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
na língua alvo.
A interpretação simultânea ficou muito difundida durante os julgamentos de Nuremberg, após o
fim da Segunda Guerra Mundial, e, atualmente, é caracteristicamente empregada em contextos
tais como conferências, congressos internacionais, mas também em programas de rádio e TV,
aulas, palestras etc.
Quadros (2004, p. 11) menciona a interpretação simultânea e consecutiva como atividade tra-
dutória do TILS e as conceitua como:

Tradução-interpretação simultânea – é o processo de tradução-interpre-


tação de uma língua para outra que acontece simultaneamente, ou seja,
ao mesmo tempo. Isso significa que o tradutor-intérprete precisa ouvir/ver
a enunciação em uma língua (língua fonte), processá-la e passar para outra
língua (língua alvo) no tempo da enunciação.

Tradução-interpretação consecutiva – é o processo de tradução-interpre-


tação de uma língua para outra que acontece de forma consecutiva, ou
seja, o tradutor-intérprete ouve/vê o enunciado em uma língua (língua
134/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
fonte), processa a informação e, posteriormente, faz a passagem para a
outra língua (língua alvo).

Processar a informação significa que existe modais, têm probabilidade de reproduzir as


um breve intervalo antes do TILS realizar a duas línguas simultaneamente.
transmissão do discurso na língua alvo. O
prefixo INTER, na palavra intérprete, signifi-
ca o que está entre uma língua e outra, pon-
do essas línguas em relação, criando uma
afinidade entre elas (VERAS, 2002).
A interpretação simultânea é a mais utiliza-
da devido ao fato de a língua oral e a língua
de sinais serem articuladas de maneiras
distintas. Deste modo, em termos de opera-
cionalização, não precisam interromper sua
sinalização para falar oralmente e nem pa-
rar sua fala oral para sinalizar. Deste modo,
os intérpretes de língua de sinais são inter-

135/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


Glossário
Aprendizagem de uma língua: requer o estudo consciente da gramática, conhecimento das
normas da língua através de métodos de ensino.
Aquisição de uma língua: é entendida como um processo de assimilação natural, que se dá em
situações reais de convívio com outras pessoas, em que o um sujeito é ativo, como no processo
de assimilação da língua materna pelas crianças.
Coda: São filhos de pais surdos. É comum os surdos formarem casais devido aos grupos forma-
dos pelas comunidades surdas, nos quais trocam experiências sobre a área e compartilham co-
nhecimentos.

136/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


?
Questão
para
reflexão

Com base no que foi apresentado sobre tradução e interpreta-


ção, faça uma pesquisa em uma biblioteca universitária de sua
região, consultando em vários livros como outros autores con-
ceituam os termos e compare-os com os apresentados até aqui.

137/225
Considerações Finais

• De acordo com Roman Jakobson há três tipos de tradução: tradução intra-


lingual, tradução interlíngua e tradução intersemiótica.
• Segala (2010), nos estudos da tradução, sugere incluir tradução intermodal,
que consiste em contexto em que estão presentes, as línguas orais e ou es-
critas e a língua de sinais.
• Os principais tipos de interpretação são: consecutiva e simultânea. Destas a
simultânea é a mais utilizada nos contextos de línguas de sinais.

138/225
Referências

Bassnett, Susan. Estudos da tradução. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. Tradução
de Vivina de Campos Figueiredo.
Dutra, Elaine. Aproximando a tradução e a cognição: traços e protótipos. Percursos Linguísti-
cos 1.3 (2011).
GUERINI, A. Introdução aos estudos da tradução. Caderno de Estudos. Curso de Bacharelado
em Letras-Libras. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis-SC, 2008.
GILE, D. Fidelity in interpretation and translation. In: Basic concepts and models for interpreter
and translator training. v. 8. Amsterdam: John Benjamins, 1995 [2009]. p. 49-74.
QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua de sinais brasileira e língua portuguesa.
Ministério da Educação e Cultura – MEC. Secretaria de Educação Especial. Brasília-DF, 2004.
QUADROS, R. M.; SOUZA, S. X. Aspectos da tradução/ encenação na Língua de Sinais Brasileira
para um ambiente virtual de ensino: práticas tradutórias do curso de Letras-Libras. In: QUADROS,
R. M. de. (Org.). Estudos Surdos III. Petrópolis, RJ: Arara-Azul, 2008, p. 168–207 (Série pesquisas).
JAKOBSON, R. On Linguistc Aspects of Translation. In: VENUTI, L. The Translation Studies Rea-
der. London – UK: Routledge, 2002: 128- 133.
MAGALHÃES JR., Ewandro. Sua majestade, o intérprete – o fascinante mundo da tradução si-
multânea. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
139/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação
Referências

Metzger, Melanie. Sign Language Interpreting. Deconstructing the Myth of Neutrality. Washin-
gtom: Gallaudet University Press, 2002.
MCBURNEY, S. L. Pronominal reference in signed and spoken language: Are grammatical catego-
ries modality-dependent? In: MEIER, R. P; CORMIER, K.; QUINTO-POZOS, D. Modality and struc-
ture in signed and spoken languages. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. p.329-369.
Rónai, Paulo. A tradução vivida. Rio de Janeiro: EDUCOM, 1976.
SEGALA, Rimar Ramalho. Tradução intermodal e intersemiótica/interlingual: português bra-
sileiro escrito para língua brasileira de sinais. Dissertação de Mestrado em Estudos da Tradução.
UFSC: Florianópolis, 2010.
SOUZA, Saulo Xavier. Performances de tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas
no curso de Letras-Libras. Dissertação de Mestrado, Mestre em Estudos da Tradução: lexicogra-
fia, tradução e ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis-SC. Agosto – 2010, 174p.
ROSA, Andréa da Silva. Entre a visibilidade da tradução da Língua de Sinais e a invisibilidade
da tarefa do intérprete. Petrópolis: Arara Azul, 2005.
STONE, C. Toward a Deaf Translation Norm. Washington-DC, USA: Gallaudet University Press,
2009.

140/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


Referências

VERAS, V. Acolhendo gestos. I Seminário de Intérprete de língua de sinais: o intérprete na sala


de aula a prática da diferença. Campinas: Salão Vermelho da Prefeitura Municipal de Campinas,
2002. (Palestra)

141/225 Unidade 5 • Teorias: tipos e modalidades da tradução e interpretação


Assista a suas aulas

Aula 5 - Tema: Tipos e Modalidades da Tradu- Aula 5 - Tema: Tipos e Modalidades da Tradu-
ção e Interpretação. Bloco I ção e Interpretação. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
ef35565d5475ccd63035fca81410abf8>. 72f34975d1ba006afbba1e01dab7496a>.

142/225
Questão 1
1. Dolet (1540) estabeleceu cinco princípios para o tradutor. Dentre os men-
cionados a seguir, qual não se enquadra a estes princípios?
a) O tradutor deve entender perfeitamente o sentido e a matéria do autor a ser traduzido.
b) O tradutor deve conhecer perfeitamente a língua do autor que ele traduz; e que ele seja
igualmente excelente na língua na qual se propõe traduzir.
c) O tradutor deve traduzir palavra por palavra.
d) O tradutor deve usar palavras de uso corrente.
e) O tradutor deve observar a harmonia do discurso.

143/225
Questão 2
2. Qual interpretação ficou muito difundida durante os julgamentos de
Nuremberg, após o fim da Segunda Guerra Mundial?
a) Consecutiva.
b) Simultânea.
c) Intermodal.
d) Interlíngua.
e) Intersemiótica.

144/225
Questão 3
3. A partir de qual século começou a se chamar de intérprete aquele que
faz tradução oral, ou seja, interpretação e de tradutor, como aquele que
faz tradução escrita?
a) Século XII.
b) Século XIX.
c) Século XI.
d) Século XX.
e) Século XIII.

145/225
Questão 4
4. Quando um vocabulário sofisticado é simplificado para ser compreendi-
do por mais pessoas, ou uma linguagem técnica é transformada em uma
linguagem cotidiana, ocorre uma modalidade de tradução. Assinale a alter-
nativa correta:
a) Tradução consecutiva.
b) Tradução Intralingual.
c) Tradução Intermodal.
d) Tradução Interlíngua.
e) Tradução Intersemiótica.

146/225
Questão 5
5. Qual tradução corresponde a situações em que uma poesia se modifica
em pintura e histórias em quadrinhos vira filme?
a) Tradução consecutiva.
b) Tradução Intralingual.
c) Tradução Intermodal.
d) Tradução Interlíngua.
e) Tradução Intersemiótica.

147/225
Gabarito
1. Resposta: D. nado de intérprete. Após o século XII, começou a
se chamar de intérprete aquele que faz tradução
De acordo com os princípios de Dolet, a tradu- oral, ou seja, interpretação e de tradutor, como
ção não deve ser palavra por palavra. aquele que faz tradução escrita.

2. Resposta: B. 4. Resposta: B.

Interpretação simultânea ficou muito difun- Quando um vocabulário sofisticado é simplifi-


dida durante os julgamentos de Nuremberg, cado para ser compreendido por mais pessoas,
após o fim da Segunda Guerra Mundial, e, atu- ou uma linguagem técnica é transformada em
almente, é caracteristicamente empregada em uma linguagem cotidiana, ocorre tradução in-
contextos tais como conferências, congressos tralingual.
internacionais, mas também em programas
de rádio e TV, aulas, palestras etc. 5. Resposta: E.
Nas situações em que uma poesia se modifica
3. Resposta: A. em pintura e histórias em quadrinhos vira fil-
me, são denominadas de tradução intersemi-
Até o século XI, aproximadamente, quem fazia
ótica.
tradução tanto oral quanto escrita era denomi-
148/225
Unidade 6
Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras

Objetivos

• Conhecer as competências do tradutor intérprete de língua de sinais.


• Analisar a atuação do intérprete e como se constitui o ato interpretativo a partir da Língua
Portuguesa para a Libras.

149/225
Introdução

O tradutor intérprete de língua de sinais sional precisa alcançar? Como realizar essa
partilha de dois contextos culturais distin- atividade tão complexa, com tantas priori-
tos, com visões de mundo diferentes, e se dades linguísticas, sob condições de stress
propõe a transferir um discurso que não lhe considerável, inerentes ao ato interpretati-
pertence com equivalência. vo sem perder a linha textual da língua fon-
Coloca-se entre duas línguas, a sua (Língua te para transmiti-la na língua alvo?
Portuguesa) e o da interpretação (língua de Desafio você, a refletir sobre a atuação do
sinais), indo e vindo, não repousa, quando intérprete a partir da Língua Portuguesa
mal chega à língua alvo, toma o caminho para a Libras e analisar as competências
de volta para assimilar o discurso que ouve que lhe são propostas.
na sua própria língua, logo esse percurso se
torna recorrente. No ato interpretativo, está As competências no processo de
sempre presente e totalmente visível, ex- interpretação
posto e literalmente sendo observado, cada
movimento, expressão, sinal, têm significa- Os tradutores intérpretes de Língua de Si-
do para aquele que o lê. nais estão espalhados em toda parte do
mundo. Como você estudou anteriormen-
O que se espera de uma boa interpretação?
te, a perspectiva histórica sobre esses pro-
Quais são as competências que esse profis-
150/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
fissionais no Brasil sugere que seu apareci- tradutores intérpretes de língua de sinais
mento ocorreu a partir da década de 1980, para atender, principalmente, à demanda
em espaços religiosos, sendo que, nas re- educacional.
lações sociais com roupagem de carida-
de e solidariedade que a formação destes,
posteriormente considerados, profissionais Link
tradutores intérpretes de língua de sinais, Assista ao vídeo A profissão do intérprete de Li-
que se configurou. bras no Brasil. Disponível em: <https://www.
A comunidade surda lutava até então para youtube.com/watch?v=sLu_fuXHp9Y>.
seu espaço na educação, no mercado de
trabalho, na saúde aspirando acessibilida- Na busca de delinear a formação do tradu-
de social e linguística, só então conquistada tor intérprete de língua de sinais, em 2004,
a partir do reconhecimento de sua língua, Ronice Quadros, citando Roberts (1992),
a minoritária Língua Brasileira de Sinais – apresentou seis categorias que analisam a
Libras pela Lei federal nº 10.436, de 24 de competência no processo de interpretação
abril de 2002. em língua de sinais, que serão destacadas
seguidas de uma breve síntese realizada por
Com o reconhecimento linguístico da Libras,
Arriens (2006) (ROBERTS, 1992 apud QUA-
aumentou consideravelmente a procura por
151/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
DROS, 2004, p. 73-74) de cada competência.

1. Competência linguística – habilidades em manipular com as línguas en-


volvidas no processo de interpretação (habilidades em entender o ob-
jetivo da linguagem usada em todas as suas nuanças e habilidade em
expressar corretamente, fluentemente e claramente a mesma informa-
ção na língua-alvo), os intérpretes precisam ter um excelente conheci-
mento de ambas as línguas envolvidas na interpretação (ter habilidades
para distinguir as ideias principais das ideias secundárias e determinar
os elos que determinam a coesão do discurso).
Competência linguística para conhecer a morfologia, a sintaxe, a fonética, a fonologia, a semân-
tica, a gramática das línguas.

2. Competência para transferência - não é qualquer um que conhece duas


línguas que tem capacidade para transferir a linguagem de uma língua
para outra; essa competência envolve habilidade para compreender a

152/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


articulação do significado no discurso da língua fonte, habilidade para
interpretar o significado da língua fonte para a língua alvo (sem distor-
ções, adições ou omissões); habilidade para transferir uma mensagem
na língua fonte para língua alvo sem influência da língua fonte e habi-
lidade para transferir da língua fonte para a língua alvo de forma apro-
priada do ponto de vista do estilo.
Competência para a transferência para compreender o significado do discurso e traduzi-lo com
estilo coerente ao contexto, sem omissões ou distorções da narrativa.

3. Competência metodológica – habilidades em usar diferentes modos de


interpretação (simultâneo, consecutivo, etc.), habilidade para escolher o
modo apropriado diante das circunstâncias, habilidade para encontrar
o item lexical e a terminologia adequada avaliando-as e usando-as com
bom senso, habilidade para recordar itens lexicais e terminologias para
uso no futuro.

153/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


Competência metodológica para, coerentemente ao contexto, usar de diferentes formas a tra-
dução e interpretação, com terminologias e itens lexicais adequados.

4. competência na área – conhecimento requerido para compreender o


conteúdo de uma mensagem que está sendo interpretada.

Competência na área, para compreender o conteúdo da narrativa.

5. competência bicultural – profundo conhecimento das culturas que sub-


jazem às línguas envolvidas no processo de interpretação (conhecimentos
de crenças, valores, experiências e comportamentos dos usuários da lín-
gua fonte para a língua alvo e apreciação das diferenças entre cultura da
língua fonte e a cultura da língua alvo).

154/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


Competência bicultural/sociolinguística ou interacional, para compreender valores, crenças, re-
gras de iteração linguística, a incluir o modelo SPEAKING de Hymes e a etnografia da palavra.

6. competência técnica – habilidades para posicionar-se apropriadamente


para interpretar, habilidade para usar microfone e habilidade para interpre-
tar usando fones, quando necessário.

Competência técnica para ter domínio dos quesitos práticos durante a interpretação: tom e qua-
lidade da voz, o uso de microfones, posição corporal, capacidade de concisão, localização, estado
de saúde e emocional, apoio de outro intérprete ou não, acuidade visual e auditiva, entonações,
respiração, cuidados com a voz etc., Arriens (2006).
O autor acrescenta outras duas competências:

Competência pragmática, para a percepção dos enunciados não somente


como orações, mas também dedutíveis de condições dependentes do con-

155/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


texto extralinguístico: discursivo, situacional etc. Percepção essa que apre-
senta em três aspectos fundamentais: a competência funcional (atos da “fala”
incluídos), as implicaturas (as distinções entre o que se “falou” e o que está
implicado quando foi “dito”, bem como o que não se falou – meios para criar
significados secundários) e as pressuposições (sensíveis aos fatores contex-
tuais, em que seus significados estão implícitos em certas expressões servin-
do para valorizar a verdade da oração.

Competência psicolinguística, que seria a personalidade do tradutor. A sua


sociocognição (as ideologias, esquemas mentais, atitudes, valores) e o seu
condicionamento afetivo (os estados de “ânimo”), que também são fatores
que afetarão a qualidade e a quantidade dessa tradução de forma certa, são
também, competência pragmática) (ARRIENS, 2006, p. 80).

Em vista de todas as competências atribuídas ao tradutor intérprete de língua de sinais, Arriens


(2006) salienta que este precisa: saber: domínios dos conteúdos necessários para uma boa tra-
dução e interpretação; saber fazer – domínio de estratégias e técnicas que a boa tradução e in-
terpretação requerem; e saber fazer bem – domínio ético, cultural, político de tudo que envolve
uma boa tradução e interpretação. Portanto, o autor analisa que o profissional tradutor intérpre-

156/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


te de língua de sinais deve aprofundar seus estudos e prática nas áreas:

a) Semiótica para estudar os fenômenos culturais, práticas sociais, o modo


como o Surdo significa o que o rodeia na natureza e na cultura; b) Habi-
lidades de concentração e memorização. C) conhecimento diversificado
nos mais distintos assuntos, ampliando a sua própria cosmovisão; d) estu-
do no campo da estilística, por ser esta a função expressiva da língua no
uso dos processos fônicos (no caso da Libras, quirológicos), sintáticos e
de criação de significados que individualizam os estilos; e) sociolinguísti-
ca, para estudar as variações linguísticas, geográficas, sociais e estilísticas;
linguistica textual e análise do discurso para compreender os mecanismos
internos e externos do texto e do discurso que determinam a forma des-
tes, analisando as relações entre as frases e os textos; g) semântica para
compreender o significado das palavras e da sentença, desvendando as
propriedades desses significados nos diferentes níveis de expressão, estru-
turas ou padrões formais do modo como a Libras é expressa; h) pragmática

157/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


para entender o uso da linguagem em contexto e os princípios de comuni-
cação, desvendando as estratégias, as formas, as intuições e as estruturas
que são acionadas pelos usuários das línguas; i) morfologia para compre-
ender a estrutura interna dos sinais e a sintaxe e entender como se formam
frases gramaticais na Libras, j) arte da oratória e impostação da voz para
aprender como desenvolver a eloquência de falar em público. (ARRIENS,
2006, p. 80-81).
Interpretação da Língua Portu- Mas, a qual equivalência se trata? Souza
guesa para a Libras (1998, p. 53) enfatiza que “em suma, não
existe equivalência total entre as línguas no
Diferentemente do tradutor que trabalha nível da forma, mas existe equivalência no
com o “texto escrito”, o TILS atua ao vivo e nível do conteúdo comunicativo”. É impor-
visível, utilizando a voz quando se trata da tante compreender que toda língua, é um
Libras para a Língua Portuguesa falada ou, sistema de comunicação, possível de tradu-
os sinais quando se trata da Língua Portu- ção e interpretação,
guesa para a Libras. Seu trabalho é trans-
mitir um discurso, que não é seu, de modo
equivalente.
158/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
Toda língua é uma estrutura formal – um código – que consiste em ele-
mentos que pode combinar-se para veicular ‘sentido’ semântico e, ao mes-
mo tempo, um sistema de comunicação que emprega as formas do código
para referir-se a entidades (do mundo real ou imaginário) e cria sinais que
possuem ‘valor’ comunicativo (BELL, 1991, p. 6).

Portanto, na interpretação da Língua Portu- de rodapé para clarificar as palavras na ten-


guesa para a Libras, o intérprete “consiste tativa de obter fidelidade. Em situação se-
em produzir na língua de chegada o equi- melhante, o intérprete de língua de sinais,
valente natural mais próximo da mensagem que atua, aqui e agora, cai na armadilha de
da língua de partida” (SOUZA, 1998, p. 55). realizar a interpretação literal, consideran-
Outra questão importante é a fidelidade do estar sendo fiel a língua fonte.
no ato interpretativo. De acordo com Rosa Observe o exemplo apresentado pela au-
(2005), quando o tradutor textual encontra tora. A TILS ouviu a seguinte sentença: A
palavras intraduzíveis de uma língua para a pobreza é muito séria (em Português), e lite-
outra, tem a possibilidade de utilizar notas ratiza: pobre sério em Libras. As palavras e

159/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


os sinais foram correspondentes, porém o tora a interpretação em Libras poderia ter
sentido em Libras não foi equivalente, não sido:
houve fidelidade no sentido. Figura 2 – Interpretação em Libras

Figura 1 – Interpretação Literal

Fonte: Rosa (2005, p. 65).

Fonte: Rosa (2005 p. 64). Há conceitos e significados que terão sen-


O contexto comunicativo da frase se tratava tido para aqueles que falam a determinada
da educação de surdos no Brasil, se referia língua. Ou seja, além do conhecimento lin-
aos surdos que tiveram melhor desempe- guístico das línguas envolvidas, o TILS preci-
nho escolar, aqueles que puderam usufruir sa adquirir e desenvolver os conhecimentos
de mais recursos, assim como ocorre com as extralinguísticos que se referem às atitudes
pessoas ouvintes. Portanto, segundo a au- com relação ao comportamento social ou
moral das pessoas surdas.
160/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
ra) como explica Arriens (2006).
Link Na interpretação Língua Portuguesa ou vi-
Assista à interpretação do Hino Nacional e obser- ce-versa, é fundamental que o TILS faça uso
ve a busca da equivalência da Língua Portugue- do lag-time, pois isto permite que o pales-
sa para a Libras. Disponível em: <https://www. trante ou o sinalizador comece seu discur-
youtube.com/watch?v=Txn2p7gIh74>. so, e o TILS inicia o ato interpretativo com
um tempo médio de 10 segundos de atraso,
sendo oportuno para compor a mensagem
Por isso no processo de interpretação em alvo.
língua de sinais é fundamental a análise
da mensagem fonte para a composição da A técnica do lag-time coopera para que
mensagem alvo (QUADROS, 2004). Mas, não ocorra a hipotradução, ou seja, omis-
como fazer isto se a atividade é realizada são de conteúdos, por falta de entendimen-
em tempo real envolvendo processos men- to da narrativa. Evitando a substituição de
tais de curto prazo? Ou seja, o tempo é con- equivalências equivocadas, possibilitando a
siderado um problema crítico. adaptação da língua fonte (LF) para a língua
alvo (LA) sem omissão das metáforas, pro-
Para responder a esta pergunta, tome nota sódia etc.
da importância do lag-time (tempo de espe-
161/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
Como desenvolver a prosódia ao versar a Língua Portuguesa para a Libras? Valsechi (2015, p. 27)
ao analisar a prosódia na tradução para a Libras em vestibulares comenta que a prosódia na Lín-
gua Portuguesa

Explica sobre o “tom” ou o uso dos “acentos”, ensinando sobre que sílabas
devemos pausar, levantar ou fixar a voz, atentando para saber quais sílabas
são longas e quais, curtas ou breves, podemos ver a prosódia como o en-
sino da boa pronúncia.
De acordo com a autora supracitada, nas lín- TILS requer da corporeidade prosódico na
guas de sinais, “a estrutura prosódica é ex- língua alvo. O tradutor precisa conhecer as
pressa por mudanças de posição dos olhos, minúcias semelhantes da língua de partida
por movimentos da cabeça, bochechas in- com a língua de chegada para poder perce-
fladas, entre outros comportamentos físi- ber além do conteúdo estritamente lógico
cos” (VALSECHI, 2015, p. 29). Assim como (ROSA, 2005, p. 66).
no ato interpretativo da Libras para a língua
Portuguesa requer a corporeidade vocal, ao
versar Língua Portuguesa para a Libras, o
162/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras
Para saber mais
Para compreender melhor a prosódia na língua de sinais leia a pesquisa de Geisielen Santana Valsechi,
com o tema “Vestibular, estudo de caso: prosódia na tradução da Libras”. Disponível em: <https://re-
positorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/158456/336869.pdf?sequence=1&i-
sAllowed=y>.

163/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


Glossário
Hipotradução: A não tradução de elementos do texto ou do discurso.
Lag time: Também denominado de tempo de mirada, a pequena espera o tradutor faz, para ou-
vir a narrativa e depois interpretá-la.
Speaking: Hymes (1971) propõe o conceito da situação social através do modelo speaking,
em que cada letra apresenta um conceito de análise. S = (setting – situação); P= (participants
– participantes); E= (ends – finalidades); A= (actis – atos- tópicos ou temas abordados); K= (key
– a chave, o tom, a entonação); I= (instrumentalities – os instrumentos – maneiras e formas das
palavras); N= (norms – normas de interação e interpretação, ética) e G= (genre – gênero – tipo
(s) de discurso).

164/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


?
Questão
para
reflexão
A interpretação da Língua Portuguesa para a Libras é um
procedimento transcorrido “aqui e agora” sem a opor-
tunidade de nenhuma edição ou revisão, que vai além
de quaisquer barreiras linguísticas ou culturais. Diante
desta afirmação, e dos conhecimentos adquiridos em
relação às competências no processo de interpretação
em língua de sinais faça um breve comentário.

165/225
Considerações Finais

• Na busca de delinear a formação do tradutor intérprete de língua de sinais, em 2004, Ronice


Quadros, citando Roberts (1992), apresentou seis categorias que analisam a competência no
processo de interpretação em língua de sinais.

• É importante compreender que toda língua, é um sistema de comunicação, possível de tradu-


ção e interpretação.
• O intérprete de língua de sinais, que atua, aqui e agora, cai na armadilha de realizar a interpre-
tação literal, considerando estar sendo fiel a língua fonte.
• A técnica do lag time coopera para que não ocorra a hipotradução, ou seja, omissão de conte-
údos, por falta de entendimento da narrativa. Evitando a substituição de equivalências equi-
vocadas, possibilitando a adaptação da língua fonte (LF) para a língua alvo (LA) sem omissão
das metáforas, prosódia etc.

166/225
Referências

ARRIENS. Marco Antônio. Tradução Libras – Português: uma questão relacional. In: Congresso
Surdez: Família, Linguagem, Educação. INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro,
2006.
Bell, R. T. Translation and translating: Theory and practice. London: Longman. 1991.
QUADROS, R. M.; Karnopp L. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
SOUZA, R. M. de. Que palavra que te falta? São Paulo, 1998.
ROSA, Andréa da Silva. Entre a visibilidade da tradução da Língua de Sinais e a invisibilidade
da tarefa do intérprete. Petrópolis: Arara Azul, 2005.
VALSECHI, G. S. Vestibular, estudo de caso: prosódia na tradução de Libras. Dissertação (Mes-
trado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, 2015.

167/225 Unidade 6 • Competências no processo de interpretação e Língua Portuguesa para Libras


Assista a suas aulas

Aula 6 - Tema: Competências no Processo de Aula 6 - Tema: Competências no Processo de


Interpretação e Língua Portuguesa para Libras. Interpretação e Língua Portuguesa para Libras.
Bloco I Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
b8d184421c02f1772af25ba53b9b912c>. f5a60b1f088a75dc22d8347f033ae308>.

168/225
Questão 1
1. Com o reconhecimento linguístico da Libras, aumentou consideravel-
mente a procura por tradutores intérpretes de língua de sinais para atender
principalmente a qual área?
a) Saúde.
b) Educacional.
c) Jurídica.
d) Cultura.
e) Social.

169/225
Questão 2
2. É fundamental que o TILS faça uso do lag-time, pois isto permite que ele
inicie a interpretação com um pequeno atraso de:
a) 10 segundos.
b) 60 segundos.
c) 2 minutos.
d) 3 minutos.
e) 5 minutos.

170/225
Questão 3
3. Roberts (1992) sugeriu seis categorias que analisam a competência no
processo de interpretação em língua de sinais, qual delas se refere à ha-
bilidade para usar microfone e habilidade para interpretar usando fones,
quando necessário?
a) Competência de transferência.
b) Competência metodológica.
c) Competência na área.
d) Competência bicultural.
e) Competência técnica.

171/225
Questão 4
4. O tradutor intérprete de língua de sinais precisa adquirir algumas com-
petências para melhor desenvolver seu trabalho. A competência neces-
sária para manipular as línguas envolvidas no processo de interpretação,
entendendo a linguagem na língua fonte e transmitindo na língua alvo
com todas as suas nuances, pode ser chamada de:

a) Competência de linguística.
b) Competência metodológica.
c) Competência na área.
d) Competência bicultural.
e) Competência técnica.

172/225
Questão 5
5. Há conceitos e significados que terão sentido para aqueles que falam a
determinada língua. Ou seja, além do conhecimento linguístico das lín-
guas envolvidas, o TILS precisa adquirir e desenvolver os ­­­­­­____________.

a) Conhecimentos extralinguísticos.
b) Conhecimentos éticos.
c) Conhecimentos posturais.
d) Conhecimentos cênicos.
e) Conhecimentos artísticos.

173/225
Gabarito
1. Resposta: A.
Com o reconhecimento linguístico da Libras, aumentou consideravelmente a procura por tradu-
tores intérpretes de língua de sinais para atender principalmente a demanda educacional.

2. Resposta: A.

O tempo de espera do lag-time para o início da interpretação é em média 10 segundos.

3. Resposta: D.
Competência técnica – habilidades para posicionar-se apropriadamente para interpretar, habili-
dade para usar microfone e habilidade para interpretar usando fones, quando necessário.

4. Resposta: A.

A competência necessária para manipular as línguas envolvidas no processo de interpretação,


entendendo a linguagem na língua fonte e transmitindo na língua alvo com todas as suas nuan-
ces, pode ser chamada de competência linguística.

174/225
Gabarito
5. Resposta: A.

Além do conhecimento linguístico das línguas envolvidas, o TILS precisa adquirir e desenvolver
os conhecimentos extralinguísticos.

175/225
Unidade 7
Interpretação da Libras para a língua portuguesa

Objetivos

• Identificar os tipos de discursos do sinalizador durante o ato interpretativo.


• Conhecer os princípios para uma boa interpretação da Libras para a Língua Portuguesa.

176/225
Introdução

Caro aluno, você vai observar que a inter- ção acrítica em relação ao desempenho do
pretação da Libras para a Língua Portugue- TILS, já o auditório, pode realizar inferências
sa requer habilidades que estão além da- a respeito do sinalizador e do TILS. O domí-
quelas exigidas para a interpretação da Lín- nio cognitivo, o conhecimento linguístico e
gua Portuguesa para a Libras. Isto porque, discursivo aliado à corporeidade vocal será
aprendizes da Libras buscam primeiramen- determinante para a aprovação ou não do
te, compreender como produzir sinais e, em auditório.
seguida ler (codificar) os sinais. Cada vez mais, os surdos têm protagoni-
Diante de um auditório ouvinte que desco- zado sua história. Como sujeitos da história
nhece a Libras, maior será a admiração em atuam como palestrantes em congressos,
ver o TILS sinalizando Língua Portuguesa professores em escolas e universidades etc.
para a Libras, do que o oposto. O auditório A comunicação entre falantes de línguas
leigo, não tem como avaliar o desempenho diferentes nestes contextos depende de um
do TILS, os surdos por estarem, dependen- bom intérprete, eis um dos maiores desafios
tes da mensagem na maioria das vezes, fi- para os TILS.
cam passivos para crítica. Quando o oposto
ocorre, a interpretação da Libras para Lín-
gua Portuguesa, os surdos ficam em situa-
177/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
Traduzir de sinais para voz é, provavelmente, o maior desafio para os intér-
pretes, atualmente, tem muitos intérpretes leitores de sinais (fazer apenas
a codificação e decodificação de sinais, e não a sua interpretação expres-
siva). Produzir sinais (no geral) é muito mais fácil que ler sinais, até mesmo
porque nós ouvintes temos o hábito de ouvir uma língua e não de vê-la.
(ARRIENS 2006, p. 48).
A linguagem e a língua são um dos meios qual influência e é influenciado”. De acordo
principais na interpretação da Libras para a com Souza (1998, p. 39) em Bakhtin, o su-
Língua portuguesa, portanto, é impossível jeito é ativo e responsivo. Todo enunciado é,
adotarmos um conceito interpretação sem para ele, uma resposta ou réplica ao enun-
antes assumirmos o conceito de linguagem ciado do outro.
e língua. De acordo com Rosa (2005, p. 92), Tradutores intérpretes da língua de sinais –
a linguagem “inseparável do homem, está TILS são trabalhadores da língua, estrangei-
presente em todos os seus atos: é por meio ra, interlíngua e com a sua língua materna,
dela que o homem forma seus pensamen- língua portuguesa. São indivíduos sócios
tos, as suas emoções; é o instrumento pelo históricos que carregam traços de valores,
178/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
ideias, desejos e culturas. Segundo Rosa (2005), trazem também marcas de pertencimento so-
ciopolítico-econômicos diferentes. Esses traços são incorporados na materialidade de suas pa-
lavras.
Neste sentido, a neutralidade do TILS é considerada impossível, sua constituição interfere no
discurso, o ato interpretativo constrói sentidos e significações em uma dada língua, para estran-
geiros com relação à língua de partida (ROSA, 2005).

O discurso do sinalizador
Na interpretação da Libras para a Língua Portuguesa sobressai um processo de recepção e trans-
missão de uma língua para a outra. No ato interpretativo, o intérprete é um participante ativo
nesse setting de comunicação. Seu conhecimento linguístico e sociocultural influenciará na qua-
lidade dessa interpretação. Como uma ponte entre duas culturas, o intérprete precisa de conhe-
cimento teórico e prático nas culturas envolvidas.

Desta forma, o tradutor-intérprete atua na fronteira entre os sentidos da


língua de origem e da língua alvo, com os processos de interpretação re-
179/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
lacionando-se com o contexto no qual o signo é formado. O sentido do
enunciado é construído na interação verbal, e é atualizado no contato com
outros sentidos, na relação estabelecida entre interlocutores. A interpre-
tação é um processo ativo, que procede de sentidos que se encontram,
existindo, apenas, na relação entre sentidos, como um elo numa cadeia de
sentidos. Pode-se dizer assim que a interpretação se revela na multiplici-
dade de sentidos existentes. Destarte, em cada enunciação circulam sen-
tidos, que são construídos por quem enuncia e por quem ouve o que foi
dito; trata-se de uma construção, já que a língua não é transparente, que
põe em diálogo a história dos interlocutores e os conhecimentos anterio-
res de cada um sobre o que está sendo dito. Se a língua e a dialogia forem
assumidas desta forma, a prática da interpretação precisa ser entendida
como um processo de construção de linguagem, implicando na escolha
de formas de dizer na língua-alvo distintas daquelas da língua de origem.
Trata-se de um trabalho de construção e produção de sentidos de e com
a linguagem, no qual o intérprete tem participação ativa (LODI, 2006, p. 7).

180/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


Reconhecer as funções da linguagem que do orador, por isso, o intérprete da Libras-
estão presentes no discurso se torna fun- -Língua portuguesa deve considerar que as
damental para o processo interpretativo. convenções sociais influenciam específicos
Arriens (2006) cita três funções da lingua- discursos que podem ser utilizados pelos
gem como: a representação, que se refere à surdos, identificar estes discursos poderá
informação dita, ou seja, linguagem deno- influenciar a qualidade da interpretação.
tativa; a expressão, que consiste na função Arriens (2006) realiza um encadeamento
emotiva do emissor ao expor sua opinião, dos mais frequentes tipos de discursos de
emoção, é a exteriorização dos sentimen- sinalizadores dos quais é de suma impor-
tos e o apelo; centralizado no expectador, tância o conhecimento por parte dos intér-
em quem o emissor objetiva influenciar. pretes de Libras para a Língua Portuguesa
De acordo com Houaiss (2001), o discurso é oral.
uma série de enunciados significativos que 1. Discurso explicativo: visa tornar inte-
expressam formalmente a maneira de pen- ligíveis as informações em um deter-
sar, agir e/ou as circunstâncias identificadas minado contexto.
no assunto, meio ou grupo (2001, p. 1054).
2. Discurso conversacional: são troca
Deste modo todo discurso é uma constru-
de mensagens ente duas ou mais pes-
ção social e tende a refletir a perspectiva
181/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
soas, existentes ou não. Neste tipo de oferecer recursos lógicos para levar os
discurso, utiliza-se Processo Anafóri- expectadores à aceitação de alguma
co. O intérprete precisa ter habilidade ideia. Requer do intérprete conheci-
em assumir diferentes corporeidades mento prévio do tema.
em um único setting. 6. Discurso alternativo: pretende mos-
3. Discurso narrativo: a exposição de trar pontos de vistas, ideias, utilizando
um ou mais fatos, que podem ser or- vocabulário próprio de grupos especí-
denados cronologicamente ou não, ficos. O intérprete precisa ter amplo
reais ou imaginários. O intérprete conhecimento social e cultural prévio.
precisa ter excelente percepção visual
e organização mental.
4. Discurso procedural: quando o surdo
Link
Assista ao discurso de Nelson Pimenta e analise
sinalizador demonstra uma determi-
qual tipo de discurso é utilizado pelo sinalizador.
nada atividade, ou a manipulação de
Disponível em: <https://www.youtube.com/
algum objeto, faz uso de classificado-
watch?v=TZ7yW-jZxUI>.
res – CL. O intérprete requer conheci-
mento prévio nesta área.
5. Discurso argumentativo: objetiva
182/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
7. Discurso formal: um discurso que 11. Discurso não verbal: é um dos
utiliza recursos estilísticos, solene. O mais utilizados pelos narradores si-
intérprete precisa ter riqueza de voca- nalizadores, utilizam de construção
bulário. táctil, mímicas, expressão corpórea
8. Discurso direto: o narrador sinaliza- facial.
dor reproduz as palavras de alguém 12. Discurso espontâneo/ infor-
conservando sua forma e expressão mal: alguns sinalizadores apresentam
com pronomes, tempos verbais, lugar, comportamento discursivo que reve-
tempo etc. O intérprete precisa de- la pouco conhecimento com as regras
senvolver corporeidade de diferentes do discurso, as características deste
personagens. tipo de discurso são: redundância, de-
9. Discurso indireto: faz citações de pa- sorganização, imprecisão e descone-
lavras e frases, utilizando paráfrases. xidade.
10. Discurso indireto aparente/li- Botelho (1998, p. 63) cita Foucault ao expli-
vre: é a própria construção híbrida da car que “um dos mecanismos de controle
narrativa, ocorre muito em igrejas, no do discurso é a proibição: sabe-se que não
qual vários textos e personagens bí- se pode falar tudo, nem de tudo em qual-
blicos são citados. quer circunstância, não importa a quem”. O
183/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
excesso de franqueza de alguns surdos de- gua, linguagem e cultura. Realiza a transpo-
monstra a pouca compreensão das regras sição ideológica, Orlandi (2005, p. 45-46)
sociais do discurso e pode deixar o intérpre- argumenta que “nesse movimento da inter-
te em situação desafiadora. pretação o sentido aparece-nos como evi-
1. Discurso lacônico: discursos sintéti- dência, como se ele estivesse já sempre lá.
cos em contextos que requer discur- Interpreta-se e ao mesmo tempo e nega-se
so mais elaborado, falta de sinais que a interpretação, colocando-a no grau zero”,
crie um contexto e entendimento que ou seja, o intérprete realiza a incorporação
possa chegar aos expectadores. do outro, para a evocação do narrador sina-
lizador.
2. Discurso prolixo: uso excessivo de
detalhes divaga e foge do objetivo da A boa interpretação abrange três aspectos:
narrativa, podendo levar os expecta- 1- Um ato cognitivo, 2- Um ato linguístico e
dores à dispersão por produzir discur- 3- Um ato discursivo.
so cansativo. Requer do intérprete ca- O ato cognitivo se refere ao fato de que o
pacidade de concisão. ato interpretativo de reproduzir não apenas
No ato interpretativo da Libras para a Lín- significantes, mas principalmente significa-
gua Portuguesa oral, o intérprete inclui lín- dos, ou seja, o intérprete realiza a leitura dos
sinais para reproduzir as ideias/ sentidos.
184/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa
O ato linguístico se refere à consciência de que nem toda palavra é neutra, ela pode ter sentido
conotativo, ter uma boa definição para certo contexto que para outro, não tenha. Por exemplo, a
expressão “música caipira” pode soar de modo pejorativo em alguns contextos, provavelmente
“música sertaneja” seja mais adequada.

Não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma cultura para
outra; a tradução requer, assim, do tradutor qualificado, um repositório
de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos
poucos ampliando a aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor
a que se destine seu trabalho (CAMPOS, 1986, p. 27-28).
O ato discursivo está relacionado ao analisar, para quem eu estou interpretando, meu público-
-alvo. Saber que a audiência atribui valores, aceitação e reprovação. Neste sentido, se a narrativa
do sinalizador está sendo ou não atrativa, requer em todo momento a manutenção da sintonia e
empatia do sinalizador com o público.

185/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


Link
Veja o pronunciamento de Patrícia Rezende na Audiência Pública no Senado Federal. Analise a perfor-
mance da TILS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ds4MsrLKM1w>.

Princípios para uma boa inter- não reconhecer apenas a intenção semân-
pretação Libras – Língua Portu- tica, mas determinar a equivalência semân-
guesa tica da língua fonte (Libras) na língua alvo
(língua portuguesa oral).
Arriens (2006) sugere alguns princípios Segundo princípio, coesão e coerência tex-
norteadores para uma boa interpretação da tual no ato interpretativo, acrescentando os
Libras para a Língua Portuguesa. conectivos, verbos de ligação, elementos de
Primeiro princípio: escolha conceitual para concordância do sujeito, quantificadores,
um ou mais sinais, visa realizar a interpreta- que não estão explícitos na Libras.
ção como um retrato dos significados, das Terceiro princípio: a percepção da função
equivalências de uma língua para a outra. do discurso, se este é para informar, persu-
É a habilidade de organização processual, adir, argumentar etc. Isto influenciará o es-

186/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


tilo específico do ato interpretativo. vínculo e cumplicidade, ainda que o intér-
Quarto princípio: as entonações do discur- prete tenha em mãos um roteiro do discurso
so, a emoção que pode ser reconhecida pela do sinalizador, esse tem a liberdade de alte-
audiência através do volume e ritmo da voz, rar pensamentos, acrescentar ideias, como
e a utilização de fenômenos paralinguísti- também alterar a ordem do discurso.
cos (onomatopeicos). Sétimo princípio: o estilo da interpretação
Quinto princípio: discurso direto. Utilizar a deve levar em consideração a idade, o nível
primeira pessoa, que possibilita uma maior cognitivo, social, sexo do sinalizador.
fidelidade ao sinalizador, quando se usa o Oitavo princípio: o poder da voz, transfor-
discurso indireto (uso na terceira pessoa) mar a eloquência da língua espaço visual
o intérprete passa a figura de um narrador, em uma voz expressiva, bem projetada e ar-
que poderá trazer confusão na compreen- ticulada. Em situações teatrais e/ ou cômi-
são de caráter anafórico, textual, pronomi- cas, colocar a voz de acordo com a proposta
nal. do sinalizador.
Sexto princípio: contato visual, o intérprete
precisa realizar esse contato com o sinali-
zador durante o discurso, para estabelecer

187/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


As diferenças linguísticas que influenciam o ato interpretativo entre a
Libras – Língua Portuguesa estão listados a seguir:
Quadro 1 – Diferenças linguísticas no ato interpretativo

Libras Interpretação Oral


Modalidade espaço-visual; sintetismo. Modalidade oral – auditiva e diferença grama-
tical, enunciados mais extensos para buscar
equivalência semântica da Libras para a Língua
Portuguesa.
Sintaxe espacial utilizando classificadores, tri- Sintaxe linear; para aprender o uso de classifi-
dimensional. cadores utiliza a descrição linear.
Estrutura tópico comentário é bastante utiliza- A estrutura na língua portuguesa geralmente
da. não se faz desta forma.
Expressões corpóreo-facial com valor gramati- Entonações de voz e uso da prosódia.
cal.
Estratégias de adequações as situações, uso da Profunda convivência com os surdos e, amplo
linguagem: gírias, dialetos. conhecimento cultural e do público.
Fonte: (ARRIENS, 2006, p. 63-64)

188/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


A convivência com os surdos e buscar conhecimento cultural são elementos essências para a
prática da interpretação de interlínguas, neste caso, a Libras para a Língua Portuguesa, Rosa
(2005, p. 131) explica:

A cultura é, num sentido mais, um lugar de conhecimento intersubjetivo


que permite atualizar, cada vez com mais eficácia, uma relação de equiva-
lência interlingual. A cultura permite intuir, reconhecer, experimentar ou
investigar os hábitos linguísticos e extralinguísticos.
Portanto, é na convivência com a comunidade surda, que o TILS desenvolve seu conhecimento
linguístico, que vai além dos aspectos formais e uso de expressões idiomáticas, gírias etc. Tais
conhecimentos poderão ser recursos a serem utilizados no ato interpretativo.

O conhecimento linguístico, ou seja, o conhecimento dos recursos de que


dispõem tanto a língua de partida quanto a língua de chegada para con-
cretizar a intenção comunicativa dos seus falantes é de inegável importân-

189/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


cia para o tradutor, uma vez que este parte de um objeto concreto e deve
chegar a outro objeto concreto; trabalha a partir das marcas formais da
língua de partida e deixa impressas marcas formais na língua de chegada.
(TRAVAGLIA, 2003, p. 78-79)

Para saber mais


Sugerimos assistir ao filme Família Belirer, que retrata o dia
a dia de uma jovem de 16 anos, que é a intérprete oficial de
sua família, onde todos são surdos.

190/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


Glossário
Classificadores: são marcadores de concordância quando relacionadas a pessoa, objeto, ani-
mal etc.
Processo Anafórico: recurso das línguas de Sinais que possibilita ao narrador, através de mu-
dança de postura corporal, incorporar diferentes personagens de uma narrativa.
Setting: situação em que algo ocorre.

191/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


?
Questão
para
reflexão

Assista ao vídeo a seguir e comente sua percepção em


relação ao tipo de discurso utilizado pela sinalizadora e
o desempenho da TILS. Miss Brasil 2008 – Resposta Miss
Ceará. Disponível em: <https://www.youtube.com/wat-
ch?v=E0hXMZspx6k>.

192/225
Considerações Finais

• Traduzir sinais para voz é, provavelmente, o maior desafio para os intérpretes.


• A boa interpretação abrange três aspectos: Um ato cognitivo, 2- Um ato linguístico
e 3- Um ato discursivo.
• Os mais frequentes tipos de discursos de sinalizadores são: explicativo, conversa-
cional, narrativo, procedural, argumentativo, alternativo, formal, direto, indireto,
indireto aparente/livre, não verbal, espontâneo, lacônico e prolixo.

193/225
Referências

ARRIENS. Marco Antônio. Tradução LIBRAS – Português: uma questão relacional. In: Congresso
Surdez: Família, Linguagem, Educação. INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro,
2006.
BOTELHO, P. Segredos e silêncios na educação de surdos. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
CAMPOS, G. O que é tradução. São Paulo: Brasiliense, 1986.
HOUAISS, A. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Instituto Houaiss de lexicografia e
Banco de Dados da Língua portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
ORLANDI, E. P. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes,
1996.
SOUZA, R. M. de. Que palavra que te falta? São Paulo, 1998.
ROSA, Andréa da Silva. Entre a visibilidade da tradução da língua de sinais e a invisibilidade
da tarefa do intérprete. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2005.
TRAVAGLIA, N. G. Tradução retextualização: a tradução numa perspectiva textual. Uberlândia:
UDUFU, 2003.

194/225 Unidade 7 • Interpretação da Libras para a língua portuguesa


Assista a suas aulas

Aula 7 - Tema: Interpretação da Libras para a Aula 7 - Tema: Interpretação da Libras para a
Língua Portuguesa. Bloco I Língua Portuguesa. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
a355a91421df1e4e9ac1c110aa0f3fa2>. dc66171e1676c3641a5978504411d740>.

195/225
Questão 1
1. De acordo com Rosa (2005), “é por meio dela que o homem forma seus
pensamentos, as suas emoções; é o instrumento pelo qual influência e é in-
fluenciado”. A que a autora está se referindo?
a) Linguagem.
b) Língua.
c) Libras.
d) Língua Portuguesa.
e) Escrita.

196/225
Questão 2
2. Qual é a justificativa de Arriens (2006) para a seguinte afirmativa: “Pro-
duzir sinais (no geral) é muito mais fácil que ler sinais”?
a) Porque nós ouvintes temos maior dificuldade com a primeira língua – L1.
b) Porque nós ouvintes temos o hábito de ouvir uma língua e não de vê-la.
c) Porque é incomum o surdo discursar em contextos que a plateia desconheça a Libras.
d) Porque até há pouco tempo, quem realizava a interpretação da Libras para Língua portugue-
sa eram tradutores softwares.
e) Porque a formação do TILS se refere para a interpretação da Língua Portuguesa para Libras.

197/225
Questão 3
3. Qual é o primeiro princípio para uma boa interpretação Libras – Língua
Portuguesa?
a) Contato visual.
b) Entonações do discurso.
c) Escolha conceitual.
d) Coesão e coerência.
e) Discurso direto.

198/225
Questão 4
4. Leia a proposição e assinale a alternativa que corresponda ao tipo de
discurso de sinalizadores apresentado:
“São troca de mensagens ente duas ou mais pessoas, existentes ou não. Neste tipo de dis-
curso, utiliza-se Processo Anafórico”.

a) Discurso explicativo.
b) Discurso Argumentativo.
c) Discurso espontâneo.
d) Discurso conversacional.
e) Discurso alternativo.

199/225
Questão 5
5. O excesso de franqueza de alguns surdos pode deixar o intérprete em
situação desafiadora. Isto demonstra:
a) Pouca compreensão da língua portuguesa.
b) Pouca compreensão das regras sociais do discurso.
c) Alto nível de baixa estima frente à comunidade ouvinte.
d) Alto nível da característica sociocultural da comunidade surda.
e) Pouca compreensão das línguas envolvidas.

200/225
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: D.

Rosa (2005) se refere à linguagem, respon- A proposição se refere ao discurso conver-


sável por formar pensamentos, emoções, sacional. O intérprete precisa ter habilida-
instrumento que influencia e é influenciado. de em assumir diferentes corporeidades em
um único setting”.
2. Resposta: B.
5. Resposta: B.
“Produzir sinais (no geral) é muito mais fácil
que ler sinais”, até mesmo porque nós ou- Demonstra a pouca compreensão das re-
vintes temos o hábito de ouvir uma língua e gras sociais do discurso.
não de vê-la.

3. Resposta: C.

O primeiro, escolha conceitual para um ou


mais sinais, visa realizar a interpretação
como um retrato dos significados, das equi-
valências de uma língua para a outra.
201/225
Unidade 8
Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções

Objetivos

• Apresentar os principais modelos de tradução e interpretação segundo Quadros (2004).


• Conhecer a evolução modelos de tradutores intérpretes em língua de sinais.
• Observar os problemas de tradução e interpretação e possíveis soluções.

202/225
Introdução

Por um grande período da história os sur- bras para a Língua Portuguesa e vice-versa;
dos foram impedidos de se comunicar em auxilia no esclarecimento da forma escrita
sua própria língua, a língua de sinais, estes produzida pelos surdos.
nunca foram reconhecidos como comuni- Na atuação deste profissional, pode-se ob-
dade de minoria social e linguística. Porém, servar que o TILS tem a função de interme-
a partir de movimentos multiculturais pro- diar a interação entre aqueles que desco-
tagonizados pelas minorias sociais, os sur- nhecem a Libras. Esta intermediação requer
dos têm assumido sua cidadania, podendo conhecimento linguístico, no caso da Libras
participar socialmente de decisões que en- e Língua Portuguesa, ideologias e culturas
volvem inclusão social e linguística. diferentes que se entrelaçam nessa intera-
Neste contexto de lutas aos direitos linguís- ção.
ticos e sociais, o tradutor intérprete de lín- Prezado aluno, neste último tema, convida-
gua de sinais aparece para mediar discursos mos você a identificar modelos de tradução
produzidos em língua de sinais e vice-versa. e interpretação, conhecer os diferentes ti-
De acordo com Quadros (2004), o TILS atua pos de intérpretes e analisar os pontos frá-
em três instâncias: intermedia a comuni- geis para a interpretação e possíveis solu-
cação entre pessoas surdas e ouvintes em ções.
diferentes contextos; traduz textos da Li-
203/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Modelos de tradução e interpre- térprete segue três passos: (1) entende a
tação mensagem na língua fonte, (2) é capaz de
internalizar na língua alvo e (3) é capaz de
“Traduzir um texto em uma língua falada expressar a mensagem, na língua alvo sem
para uma língua sinalizada ou vice-versa lesar a mensagem da língua fonte.
é traduzir um texto vivo, uma linguagem Modelo Interativo: demonstra alguns com-
viva”. (QUADROS, 2004, p. 73). Essa foi uma ponentes que podem interferir na interpre-
das primeiras formas de definir os termos tação como: os participantes; a mensagem;
tradução e interpretação no que se refere o ambiente (contexto físico ou psicológico)
à língua de sinais aqui no Brasil. Quadros e as interações. Segundo Quadros (2004),
(2004, p. 73) ainda acrescentou: “Acima de neste modelo, o tradutor intérprete leva em
tudo deve haver um conhecimento colo- consideração: (1) como a mensagem está
quial da língua para dar ao texto fluidez e sendo interpretada, simultânea ou conse-
naturalidade ou sobriedade se ele for desse cutiva; (2) o espaço de sinalização; (3) os fa-
jeito”. Na sequência, Quadros (2004) sugere tores físicos como iluminação e ruídos; (4)
sete modelos de tradução e interpretação feedback da audiência, a linguagem corpo-
que são: ral e (5) escolhas lexicais, sintático e semân-
Modelo Cognitivo: em que o tradutor in- tico.
204/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Modelo Interpretativo: neste modelo, o mensagem fonte e a composição mensa-
tradutor intérprete se atenta no sentido da gem alvo. Neste modelo, o tradutor intér-
mensagem na língua fonte para a língua prete requer algumas habilidades tais como:
alvo. habilidade processual; organização proces-
Modelo Comunicativo: o tradutor intérpre- sual (monitora o tempo – estoca partes da
te assume a posição de mero transmissor. mensagem – busca esclarecimento); com-
petência cultural e linguística; experiência
Modelo Sociolinguístico: baseia-se nas in- e formação profissional, o ambiente físico e
terações entre os participantes. Neste mo- psicológico e os chamados filtros (crença e
delo, deve-se considerar: a mensagem e seu personalidade do tradutor intérprete).
reconhecimento; a retenção desta mensa-
gem na memória de curto prazo, ou seja, re- Modelo Bilíngue Cultural: em que há pre-
ter pequenas porções, e logo ser transmiti- ocupação em relação à postura do tradutor
da; reconhecimento da intenção semântica; intérprete em relação às línguas e culturas
equivalência semântica; formulação sintá- envolvidas.
tica; produção da mensagem. Apresentados os modelos de tradução e in-
Modelo do Processo de Interpretação: ba- terpretação, Quadros (2004, p. 78) enfati-
seia-se em dois componentes: análise da za que o tradutor intérprete deve saber “as
línguas envolvidas, entender as culturas em
205/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
jogo, ter familiaridade com cada tipo de in- ção, observe um recorte sobre os “modelos
terpretação e ter familiaridade com o as- de intérprete” de acordo com Leite (2005):
sunto”. modelo ajudador; modelo condutor, mode-
lo facilitador da comunicação e modelo es-
A evolução dos modelos de in- pecialista bilíngue bicultural. A autora que
térpretes em língua de sinais se baseia em Roy (2000), apresenta postu-
ras dos tradutores intérpretes de língua de
Ao percorrer a trajetória das relações entre sinais em alguns modelos, decorrentes a di-
os tradutores intérpretes de língua de sinais ferentes momentos históricos.
– TILS e as pessoas surdas é possível obser-
Modelo de intérprete ajudador que se refe-
var tipos ou modelos de serviço de interpre-
re ao tempo em que a profissão de tradutor
tação mais comum.
intérprete se encontrava em fase de organi-
A caracterização do tradutor intérprete de zação, ainda sem formação específica, rea-
língua de sinais “neutro” como um simples lizavam a interpretação consecutiva, no ato
transmissor de informações de uma língua interpretativo tinha a prática de resumir ou
para outra, é bastante divulgado na área da explicar o discurso julgando que assim faci-
tradução e interpretação da língua de sinais, litaria a compreensão dos surdos, a postura
para compreender melhor essa caracteriza- destes tradutores intérpretes era caritativa.
206/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Pereira (2008) também comenta a respeito como a instituição dos primeiros códigos de
do modelo ajudador, denominando-o como ética, nesta fase, muitos TILS “afastaram-se
caritativo, no qual, muitos eram professores da profissão por considerarem-se usados”
de surdos, religiosos e até familiares de sur- (PEREIRA, 2008, p. 40).
dos. Modelo de intérprete facilitador da comuni-
O modelo de intérprete condutor foi adota- cação seria o ponto mais conciliatório para
do como uma resposta contrária ao mode- o intérprete e os surdos, momento no qual,
lo ajudador, utilizavam a figura do telefone os intérpretes assumem responsabilida-
para representar sua prática interpretativa, des extratradutórias e os surdos começam
como uma máquina “estavam ali somen- a perceber o intérprete humano e não mais
te para a mensagem”. Pereira (2008) des- como máquinas, segundo Pereira (2008).
taca que este modelo, intitulando o como Modelo de intérprete especialista bilíngue
o “modelo telefone”, e comenta que esse cultural, o TILS começa a levar em conside-
modelo foi assumido por aqueles que pre- ração as culturas envolvidas, estabelecen-
tendiam receber tratamento profissional e do a convivência com a comunidade surda
assumiam a neutralidade como principal, essencial para o aprimoramento dos TILS,
de acordo com a autora, embora esse mo- segundo Pereira (2008), outro modelo de
delo tenha beneficiado avanços à categoria intérprete estaria surgindo, o Modelo do
207/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
Aliado, no qual preconiza que o intérprete seja aliado no empoderamento dos surdos, ativistas
pelos direitos dos surdos, objetivando evitar as práticas opressivas da cultura surda.

Este modelo exige que a pessoa surda assuma o seu papel nas interações, peça
esclarecimentos diretamente ao seu interlocutor ouvinte, e não ao ILS, levante sua
mão quando quiser falar e não peça ao intérprete que o faça por ele, etc. Enfim,
que não deixe todo o poder nas mãos do ILS para que os dois possam negociar os
ajustes a serem feitos no ato de interpretação interligue PEREIRA, 2008, p. 41).

Problemas de tradução e interpretação e possíveis soluções

Existem diferentes níveis de competência que nem sempre são desenvolvidos pelos tradutores
intérpretes de língua de sinais. Arriens (2006) cita algumas dificuldades que são percebidas nos
tradutores intérpretes, que podem interferir na qualidade do ato interpretativo:
• Fatores fisiológicos referem-se à acuidade visual e auditiva do tradutor intérprete.
• Fatores psicológicos estão relacionados à atenção, motivação, estado emocional, bloqueios

208/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções


psicológicos e outros.
• Intelectuais/cognitivos referem-se ao nível de conhecimento linguístico das línguas em
questão, Libras e Língua Portuguesa.
• Ambientais metodológicos estão relacionados ao modelo de tradução adotado e técnica
para procedimentos.
Além destas dificuldades que podem interferir na qualidade do ato interpretativo, de Acordo
com Albres (2010, p. 291),

Uma das críticas feitas aos intérpretes de Congressos é que os participantes do


evento são levados a um processo de sonolência com as vozes monótonas dos in-
térpretes simultâneos. Consideramos que a voz é o espelho das emoções, pois nela
transparece o estado de espírito, a credibilidade da enunciação, e a função que seu
discurso quer afetar.
Neste sentido, o tradutor intérprete precisa desenvolver a entonação para incorporar diferen-
tes vozes: idosos, crianças, medo, alegria, choro etc. Esta mescla da voz favorece a quem escuta
maior equivalência ao discurso do sinalizador, o tradutor intérprete precisa de subsídios vocais,
209/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
como também saber realizar variações de térprete será mais fácil compreender o sen-
impostação vocal. tido comunicativo e buscar equivalências,
A altura da voz: está relacionada ao volume no entanto, deve-se tomar cuidado com as
da emissão vocal empregada, deste modo, inflexões de voz.
requer conhecer previamente o local, para Trabalho em equipe: sempre que possível
saber se irá precisar ou não de microfone, contar com intérprete apoio, que se sente
caso não tenha este recurso, atentar a dis- ao lado, observando a sinalização do pales-
tância do público. O uso do microfone deve trante para que se precisar de ajuda possa
estar entre 5 e 10 centímetros da boca, des- realizar a troca a cada vinte minutos. Impor-
ta maneira o som não será desconfortável e tante que tenha combinado a possível troca
nem abafado. com o intérprete de apoio e o palestrante
Velocidade da fala: o tradutor intérprete previamente.
deve acompanhar o ritmo do sinalizador, se Além destes requisitos apresentados por
este sinaliza rápido, deve aprimorar a dic- Albres (2010), para a corporeidade vocal,
ção, buscando fazer uma breve pausa para Arriens (2006) cita outros elementos im-
concluir o a linha textual, deste modo os re- portantes:
ceptores poderão compreender melhor. Se o 1. Sentar-se em cadeira preferencial-
sinalizador fala devagar, para o tradutor in-
210/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
mente sem braços, e que tenha as- dimento de interpretação, os quais, por sua
sento deslizante, para facilitara movi- vez, serão mencionados a seguir:
mentação corporal.
• Os intérpretes quando traduzem do
2. Se durante o discurso, o sinalizador português para a Libras estão expos-
mencionar o tradutor intérprete, citar tos fisicamente diante dos surdos e,
o próprio nome, evitando “eu”. muitas vezes, diante dos demais par-
3. Ter extrema atenção nos tipos de pro- ticipantes da situação comunicativa.
cesso anafórico, para não interpretar
• Normalmente, os surdos não têm
personagens equivocadamente.
como verificar a interpretação condu-
4. Nunca criticar o sinalizador e não cor- zida pelo profissional intérprete.
rigir a informação que ele está trans-
• Os intérpretes estabelecem um víncu-
mitindo, isto tiraria a credibilidade do
lo com os surdos a partir do olhar, res-
sinalizador diante da plateia.
tringindo a participação do falante,
Logo, a partir das análises dos dados, Qua- dependendo da disposição física dos
dros (2004) comenta que foram também participantes.
observados alguns efeitos da diferença na
modalidade da língua presente no proce- • O fato de estarem expostos e visu-
almente conectados com os surdos
211/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções
permite o acesso ao retorno (ou reali- • Por conta da diferença na modalida-
mentação), comentários e indagações de, é possível o uso concomitante de
durante a interpretação, sem interfe- sinais e de palavras orais, mas isso
rência direta no discurso do emissor termina comprometendo a estrutura
(ou falante). da língua de sinais.
• Dependendo do contexto comunica- • Ao interpretar do português para a
tivo, o intérprete acaba assumindo Libras, o intérprete não interfere na
uma função que viria a extrapolar as (não atrapalha a) fala do ministrante
relações convencionais de tradução ou palestrante.
e interpretação, minimizando o papel
do emissor na sala de aula.
• Estabelece-se uma relação de con- Link
fiança que depende, inclusive, de uma Assista ao vídeo intitulado 9 Piores Intérpretes.
relação que extrapola a profissional Disponível em: <https://www.youtube.com/
(pois os intérpretes têm de conviver watch?v=8UQCwM5rk4s>.
com os surdos, eles não têm acesso à
língua de sinais de outra forma).

212/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções


Glossário
Empoderamento: é uma palavra que se refere ao ato de dar ou conceder poder para si próprio
ou para outrem.
Extratradutórias: cuidados que o TILS tem com a preparação prévia antes do evento: luz, posi-
cionamento, microfone etc.
Impostação vocal: técnica vocal para utilizar a voz com projeção, grave, agudo.

213/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções


?
Questão
para
reflexão
Qual seria a importância do uso da primeira ao invés da
terceira pessoa do discurso (Eu ao invés de Ele[a]) du-
rante as atividades de interpretação do Português para
a Libras?

214/225
Considerações Finais

• Quadros (2004) sugere sete modelos de tradução e interpretação: modelo cognitivo; mode-
lo interativo; modelo interpretativo; modelo comunicativo; modelo sociolinguístico; mode-
lo bilíngue cultural e modelo processo de interpretação.
• Fatores fisiológicos, psicológicos, intelectuais/cognitivos e ambientais podem influenciar
no ato interpretativo.
• A Libras para Língua Portuguesa certamente é a área de “fragilidade” na prática da inter-
pretação, requer estudo e refinamento.
• Os surdos não têm como verificar a interpretação conduzida pelo profissional intérprete.

215/225
Referências

ARRIENS. Marco Antônio. Tradução LIBRAS – Português: uma questão relacional. In: Congresso
Surdez: Família, Linguagem, Educação. INES, Divisão de Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro,
2006.
ALBRES, N. A. Mesclagem de voz e tipos de discursos no processo de interpretação da língua de
sinais para o português oral. In. QUADROS, R. M. (Org.). Cadernos de Tradução. Florianópolis:
UFSC/PGET, 2010.
LEITE, E. M. C. Os papéis do intérprete de Libras na sala de aula inclusiva. Coleção cultura e
diversidade. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005.
PEREIRA, Maria Cristina Pires. Testes de proficiência linguística em línguas de sinais: as possi-
bilidades para os intérpretes de LIBRAS. Dissertação (Mestrado em linguística aplicada) – UNIS-
SINOS, São Leopoldo, 2008.
QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEE, 2004.

216/225 Unidade 8 • Problemas de tradução e interpretação: possíveis soluções


Assista a suas aulas

Aula 8 - Tema: Problemas de Tradução e Inter- Aula 8 - Tema: Problemas de Tradução e Inter-
pretação: Possíveis Soluções. Bloco I pretação: Possíveis Soluções. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
1d/88bfce5511cb0ed651e6cd1c86841987>. 1d/2edbf7b3ed23a9fea3b4058f969607a6>.

217/225
Questão 1
1. Existe um modelo de intérprete que estaria surgindo, que tem como ob-
jetivo evitar que se perpetuem práticas opressivas da cultura ouvinte diante
das pessoas surdas. A esse modelo denominamos:
a) Intérprete caritativo.
b) Intérprete certificado.
c) Intérprete telefônico.
d) Intérprete bicultural.
e) Intérprete aliado.

218/225
Questão 2
2. Qual é modelo sugerido por Quadros (2004) em que o tradutor intérprete
assume a posição de mero transmissor?

a) Modelo Cognitivo.
b) Modelo Interativo.
c) Modelo Comunicativo.
d) Modelo Bilíngue cultural.
e) Modelo Interpretativo.

219/225
Questão 3
3. Deve-se considerar: a mensagem e seu reconhecimento; a retenção des-
ta mensagem na memória de curto prazo, ou seja, reter pequenas porções,
e logo ser transmitida; reconhecimento da intenção semântica; equiva-
lência semântica; formulação sintática; produção da mensagem. A qual
modelo a afirmativa se refere?
a) Modelo Interativo.
b) Modelo Comunicativo.
c) Modelo Bilíngue cultural.
d) Modelo Interpretativo.
e) Modelo sociolinguístico.

220/225
Questão 4
4. De acordo com Albres (2010), a crítica em relação ao tradutor intérprete
se refere:
a) Ao ato interpretativo sem neutralidade.
b) Ao ato interpretativo Libras – Língua Portuguesa.
c) Ao ato interpretativo Língua Portuguesa – Libras.
d) Rivalidade entre o surdo e o tradutor intérprete.
e) Rivalidade entre os tradutores intérpretes de língua de sinais.

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Questão 5
5. O trabalho em equipe pode contribuir para minimizar problemas no ato
interpretativo Libras – Língua Portuguesa, pois o TILS pode contar com in-
térprete apoio, que se senta ao lado, observando a sinalização do palestran-
te para que, se precisar de ajuda, possa realizar a troca a cada _________.

a) Vinte minutos.
b) Trinta minutos.
c) Uma hora.
d) Duas horas.
e) Quatro horas.

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Gabarito
1. Resposta: E.

Modelo do aliado, que preconiza que o TILS seja aliado no empoderamento dos surdos, ativistas
pelos direitos dos surdos, objetivando evitar as práticas opressivas da cultura surda.

2. Resposta: C.

Modelo Comunicativo, o tradutor intérprete assume a posição de mero transmissor.

3. Resposta: E.

Modelo sociolinguístico que se baseia nas interações entre os participantes.

4. Resposta: B.

Ao ato interpretativo, Libras – Língua Portuguesa. “Uma das críticas feitas aos intérpretes orais
de Congressos é que os participantes do evento são levados a um processo de sonolência com as
vozes monótonas dos intérpretes simultâneos”.

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Gabarito
5. Resposta: A.

O trabalho em equipe pode contribuir para minimizar problemas no ato interpretativo Libras –
Língua Portuguesa, pois o TILS pode contar com intérprete apoio, que se sente ao lado, obser-
vando a sinalização do palestrante para que se precisar de ajuda possa realizar a troca a cada
vinte minutos.

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