Situacao Problema Doencas Cardiovasculares

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Doenças

cardiovasculares:
situação-problema
Horácio Pereira de Faria
Gisele Marcolino Saporetti
Doenças
cardiovasculares:
situação-problema
Horácio Pereira de Faria
Gisele Marcolino Saporetti

Belo Horizonte
NESCON - UFMG
2020
© 2019, Núcleo de Educação em Saúde Coletiva
1a reimpressão de 2020

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ATUALIZE-SE
Novos protocolos editados por autoridades sanitárias, pesquisas e experiências clínicas indicam que
atualizações e revisões nas condutas clínicas são necessárias. Os autores e os editores desse curso
fundamentaram-se em fontes seguras no sentido de apresentar evidências científicas atualizadas para o
momento dessa publicação. Leitores são, desde já, convidados à atualização. Essas recomendações são
especialmente importantes para medicamentos e protocolos de atenção à saúde.

Recomenda-se a consulta a fontes de pesquisa correlatas:


Biblioteca Virtual do Nescon.
Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/
Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES) - UNA-SUS.
Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/

S241d
Faria, Horácio Pereira de
Doenças cardiovasculares : situação-problema / Horácio Pereira de Faria,
Gisele Marcolino Saporetti -- Belo Horizonte : NESCON / UFMG, 2019 -
reimpressão de 2020. 51p.

ISBN: 978-85-60914-63-0

1. Doenças cardiovasculares. 2. Doenças crônicas. 3. Atenção Primária à


Saúde. 4. Educação física. I. Faria, Horácio Pereira de. II. Universidade Federal de
Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. IV.
Título.
NLM: WG 120
CDU: 616.12
CRÉDITOS

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do Brasil na UFMG (EAD-UFMG): Maria do Carmo Produção
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Gerente de Tecnologias da Informação (TI): Gustavo E-mail: [email protected]
Storck
Gestora Acadêmica: Roberta de Paula Santos
Sumário

Apresentação dos autores............................................................................................................................ 6


Apresentação............................................................................................................................................... 7
Unidade 1 - Doenças Cardiovasculares.......................................................................................................... 9
Seção 1 - Aspectos gerais......................................................................................................................... 10
Seção 2 - Aspectos epidemiológicos........................................................................................................15
Unidade 2 - Situação-problema.................................................................................................................. 23
Referências................................................................................................................................................. 49
6

Apresentação dos autores

Horácio Pereira de Faria

Médico pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


Especialista em Medicina Social. Especialista em Medicina do trabalho pela FUNDACENTRO
e Mestre em Saúde Ocupacional pelo Instituto de Medicina del Trabajo, Habana, Cuba
(1989). Professor Assistente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade
de Medicina da UFMG. Pesquisador do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon).
Membro do Núcleo de Estudos de Saúde e Paz / Departamento de Medicina Preventiva e
Social e do Grupo de Estudos de Saúde do Trabalhador Rural (GESTRU).

Gisele Marcolino Saporetti

Membro da Comissão Coordenadora dos cursos de Especialização, Aperfeiçoamento e


Atualização em Saúde da Família para Profissionais de Educação Física do Núcleo de Educação
em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais (FM-UFMG). Tutora do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família-
Nescon, turma de Educação Física. Foi subcoordenadora e supervisora técnica do Laboratório
do Movimento da UFMG. Mestre em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência pela FM-
UFMG. Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão em EAD pela Universidade
Federal Fluminense. Bacharel e Licenciada em Educação Física pela Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG.
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Apresentação

O Curso Doenças cardiovasculares: situação problema integra uma série de cursos direcionados
à capacitação de Profissionais de Educação Física para atuarem na Atenção Básica à Saúde
(ABS). Estes cursos são de curta duração e têm como foco problemas relevantes do cotidiano
do trabalho das equipes dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica – NASF-
AB e das Equipes de Saúde da Família.

Os conteúdos dos cursos foram estruturados tendo como pontos essenciais tanto as
informações e os conhecimentos teóricos necessários para atuação na ABS como as discussões
práticas sobre o processo de trabalho das equipes dos NASF-AB.

Os conteúdos dos cursos serão expostos por meio de apresentação de caso específico que
interliga os conteúdos teóricos e a realidade prática do trabalho do Profissional de Educação
Física nos NASF-AB. Você terá a oportunidade de conhecer personagens, diálogos e processos
de trabalho que fazem o cotidiano de uma equipe neste contexto.

Neste curso trataremos da situação-problema “Doenças Cardiovasculares”. O curso está


constituído de duas unidades. Na primeira unidade, são abordados aspectos mais gerais
das Doenças Cardiovasculares (DCV): conceitos básicos, aspectos epidemiológicos, causas e
consequências das doenças. Para a segunda unidade, é estruturado um caso específico para
o enfrentamento dos problemas advindos das doenças.

No curso “Doenças cardiovasculares: situação-problema”, serão apresentados, para você


refletir e aprender, os passos para a elaboração de um plano de intervenção de uma equipe
do NASF-AB junto a um subgrupo populacional, com doenças cardiovasculares e suas
repercussões na equipe do NASF-AB de Vila Formosa, em Curupira. Espera-se que, ao final do
curso, você compreenda o cenário apresentado, os desafios que permeiam as discussões de
uma equipe e seus profissionais na elaboração de um plano de ação e faça paralelos entre a
realidade apresentada no curso e a realidade do seu próprio trabalho e da sua equipe.

Objetiva-se, com este curso, que você seja capaz de:

• conhecer os aspectos teóricos associados à epidemiologia das doenças cardiovasculares


– DCVs;

• compreender a importância do trabalho interdisciplinar e intersetorial no enfrentamento


das DCVs no plano individual e coletivo;

• compreender a importância da coordenação do cuidado entre os diferentes setores e


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níveis de atenção à população com DCV;

• compreender o papel do profissional de Educação Física no processo de planejamento


e programação das atividades físicas voltadas para a promoção da saúde da população
com DCV.

Lembre-se de que ações interdisciplinares de promoção da saúde podem ajudar na construção


de uma nova sociedade, inclusiva, valorizando o binômio Educação e Saúde, no qual a Educação
Física tem um papel preponderante.

Vamos lá, pessoal! Muito ânimo, disposição e interesse, porque temos muito com que
contribuir para a formação de modos de vida saudáveis dos brasileiros.
Unidade 1
Doenças Cardiovasculares
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UNIDADE 1

Doenças Cardiovasculares

Seção 1

Aspectos Gerais
O que são as Doenças Cardiovasculares?

As Doenças Cardiovasculares – DCVs são doenças que afetam o


coração e os vasos sanguíneos e incluem, principalmente:

Doença coronariana

Doença cerebrovascular

Doença arterial periférica

Doença cardíaca reumática

Cardiopatia congênita

Trombose venosa profunda

Embolia Pulmonar
11

• As DCVs são a principal causa de morte no mundo atualmente. Estima-se que cerca de
17 milhões de pessoas morreram por DCV em 2015, o que representou cerca de 31% do
total de óbitos ocorridos no mundo. Dentre as DCVs, o infarto agudo do miocárdio (IAM)
e os acidentes vasculares cerebrais (AVC) foram as principais causas de óbito;

• Mais de 75% das mortes por DCV ocorreram em países de baixa e média renda;

• O enfrentamento das DCVs deve ser feito com a prevenção dos fatores comportamentais
de risco, como tabagismo, etilismo, sedentarismo e dietas inadequadas, utilizando
estratégias que tenham como foco a população em geral;

• O cuidado das pessoas com DCV requer o diagnóstico precoce, o tratamento e o


acompanhamento adequado dos serviços de saúde.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS (2017):

milhões

2015 Óbitos no
mundo

DCVs
Países de baixa e IAM
AVC
média renda
12

Os fatores de risco comportamentais – tabagismo, etilismo, sedentarismo e dietas inadequadas


– podem desencadear, entre outros problemas, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia,
sobrepeso e obesidade, os quais, por sua vez, aumentam o risco de ataques cardíacos, AVCs,
de insuficiência cardíaca e de outras complicações potencialmente fatais.

Outros fatores de risco que devem ser considerados têm relação com mudanças sociais,
econômicas e culturais e os processos de globalização, urbanização e envelhecimento da
população. O estresse e a pobreza decorrentes desse contexto de mudanças também são
fatores importantes na gênese das DCVs. Finalmente, há de se considerar, também, os fatores
hereditários.

Principais fatores de risco para as DCVs

Fonte: Ilustrador 3D, Daniel Gomes Franchini, 2018.


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Consequências das DCVs

Além de constituírem a principal causa de morte no mundo, atualmente, as DCVs têm


repercussões importantes em nível econômico, tanto do ponto de vista do gasto dos sistemas
de saúde como das famílias, na medida em que representam percentual significativo da
demanda dos serviços de saúde, desde a atenção básica até os serviços mais especializados,
complexos e caros, que exigem o uso intensivo de tecnologia. Cabe, ainda, destacar o
impacto das DCVs e suas complicações na capacidade produtiva das pessoas e seus reflexos
nas condições de vida das famílias, o que contribui para o aumento da pobreza e impacta a
economia como um todo (OPAS, 2017).

Enfrentamento das DCVs

A Organização Mundial de Saúde recomenda dois tipos de intervenção para a prevenção e o


controle das DCVs: intervenções voltadas para a população em geral e intervenções voltadas
para os indivíduos com DCV. Como exemplos de intervenções voltadas para a população em
geral destacam-se: (OPAS, 2017).
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Em nível individual, as ações se concentram na prevenção


de eventos mais graves como o IAM e o AVC. Para tanto, é
fundamental o acompanhamento adequado das pessoas
desde a atenção básica.

A OMS destaca a importância dos dois tipos de intervenções


combinadas - individual e coletiva - para aumentar a eficácia
das intervenções, fato que ainda é pouco efetivo no nível da
atenção primária.

Em 2013, sob a liderança da OMS, os 194 Estados Membros


da OMS concordaram sobre mecanismos para reduzir a carga
evitável de doenças não transmissíveis, incluindo o “Global
action plan for the prevention and control of NCDs 2013-
2020”. Duas dessas metas do Plano se referem à prevenção e
ao controle de doenças cardiovasculares.

Fonte: Ilustrador 3D, Daniel Gomes Franchini, 2018.


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Seção 2

Aspectos epidemiológicos

DCV e fatores de risco

O Quadro 1 apresenta alguns dados sobre a ocorrência dos fatores de risco para Doenças
Cardiovasculares – tabagismo, sedentarismo e sobrepeso – na população portadora de
Hipertensão Arterial e Diabetes que estão registrados no Sistema de Cadastramento e
Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos: Hiperdia. Chama a atenção o percentual
significativo de mais de 40% de hipertensos e diabéticos que apresentam o fator de risco
sedentarismo, indicando a importância do desenvolvimento de projetos que estimulem a
atividade física.

Quadro 1 – Presença de fatores de risco para DCV em hipertensos e diabéticos, Brasil, 2012

Presença de fatores de risco para DCV em hipertensos e diabéticos, Brasil, 2012.

% tabagistas % sedentários % sobrepeso

Hipertensos 18,01 43,52 34,81

Diabéticos 17,81 44,66 36,05

Fonte: BRASIL, 2002.


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Frequência de fatores de risco para DCV na população brasileira

O Quadro 2 apresenta os dados da distribuição percentual da população com os fatores de


risco tabagismo, sedentarismo, sobrepeso e obesidade, segundo a faixa etária, a partir do
estudo “VIGITEL: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico.” Os resultados apontam para a importância do sobrepeso e da obesidade na
população brasileira e do sedentarismo na população idosa.

Quadro 2 - Presença de fatores de risco para DCV por faixa etária, Brasil, 2012.

Presença de fatores de risco para DCV por faixa etária, Brasil, 2012.

faixa etária % tabagistas % sedentários % sobrepeso % obesos

18 a 24 anos 12,5 12,0 29,6 6,3

25 a 34 anos 17,3 9,7 44,5 13,3

35 a 44 anos 15,2 10,9 52,7 16,6

45 a 54 anos 18,3 13,5 59,3 21,6

55 a 64 anos 16,5 20,0 61,7 20,6

65 anos e mais 8,1 36,7 58,4 19,4

Total 15,1 14,2 48,1 15,0

Fonte: BRASIL, 2008a.

Hipertensão Arterial e Diabetes na população brasileira

O Quadro 3 apresenta os dados da distribuição percentual da população de hipertensos e


diabéticos na população brasileira segundo a faixa etária a partir do estudo “VIGITEL: Vigilância
de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico”. É importante
destacar que hipertensão arterial e diabetes têm uma importância significativa no aumento
do risco cardiovascular. Os resultados apontam para a frequência da hipertensão arterial na
faixa etária de maiores de 55 anos, na qual mais de 50% da população se refere portadora de
hipertensão arterial. Em relação ao diabetes, é evidente o seu crescimento com a idade.
17

Quadro 3 - Percentual de hipertensos e diabéticos segundo a faixa etária, Brasil, 2012

Quadro 3- Percentual de hipertensos e diabéticos segundo a faixa etária, Brasil, 2012

faixa etária % hipertensos % diabéticos

18 a 24 anos 8,2 1,7

25 a 34 anos 1 2,4

35 a 44 anos 18,7 3,5

45 a 54 anos 35,8 8,3

55 a 64 anos 52,8 16,4

65 anos e mais 60,2 22

Total 23,3 6,3

Fonte: BRASIL, 2008a.

Morbimortalidade por DCV

Morbidade hospitalar

O Quadro 4 apresenta o número de internações realizadas no âmbito do Sistema Único de


Saúde, segundo o capítulo da Classificação Internacional de Doenças – CID 10. As enfermidades
do aparelho circulatório têm uma posição de destaque em todos os anos considerados, com
mais de um milhão de internações.
18

Quadro 4 - Morbidade Hospitalar do SUS segundo o capítulo da CID 10, Brasil, 2010-2018

Morbidade Hospitalar do SUS segundo o capítulo da CID 10, Brasil, 2010-2018

Capítulo CID-10 2010 2015 2018

Algumas doenças infecciosas e parasitárias 1018252 807564 704476

Neoplasias (tumores) 606608 751547 782291


Doenças de sangue, órgãos hematológicos e transtornos
84752 94903 98797
imunitários
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 299955 259051 226537

Transtornos mentais e comportamentais 284626 227322 214139

Doenças do sistema nervoso 169931 187694 184688

Doenças do olho e anexos 76252 99727 123851

Doenças do ouvido e da apófise mastoide 19496 19130 18670

Doenças do aparelho circulatório 1155046 1122402 1078816

Doenças do aparelho respiratório 1452856 1206971 1122555

Doenças do aparelho digestivo 1038677 1070088 1110470

Doenças da pele e do tecido subcutâneo 205318 241430 249494

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 200392 207562 201804

Doenças do aparelho geniturinário 792540 787352 795454

Gravidez, parto e puerpério 2366692 2411717 2363516

Algumas afecções originadas no período perinatal 202628 249340 272057


Malformações congênitas, deformidades e anomalias
79343 80586 81279
cromossômicas
Sintomas, sinais e achados anormais em exame clínico e
150377 168518 190608
laboratorial
Lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de
929132 1109838 1095057
causas externas
Causas externas de morbidade e mortalidade 3092 3921 -

Contatos com serviços de saúde 211174 218752 246486

Total 11347139 11325415 11161045

Fonte: BRASIL, 2008a.


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O Quadro 5 apresenta a taxa de mortalidade em termos de percentuais das internações


segundo o capítulo da CID 10, no qual as doenças do aparelho circulatório têm uma posição
de destaque em todos os anos do período analisado.

Quadro 5 - Taxa de mortalidade hospitalar (em % das internações) do SUS, Brasil, 2010,
2015 e 2018

Taxa de mortalidade hospitalar (em % das internações) do SUS, Brasil, 2010-2018

Capítulo CID-10 2010 2015 2018

Algumas doenças infecciosas e parasitárias 5,64 10,03 11,8

Neoplasias (tumores) 7,74 8,27 8,05

Doenças do sangue, órgãos hematológicos e transtornos imunitários 4,4 5 4,51

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 5,89 5,75 5,49

Transtornos mentais e comportamentais 0,42 0,48 0,44

Doenças do sistema nervoso 6,17 4,71 4,34


Doenças do olho e anexos 0,04 0,03 0,03
Doenças do ouvido e da apófise mastoide 0,06 0,13 0,16

Doenças do aparelho circulatório 7,52 8,15 8,12

Doenças do aparelho respiratório 5,43 7,56 7,96

Doenças do aparelho digestivo 3,19 3,42 3,1

Doenças da pele e do tecido subcutâneo 1,16 1,55 1,4

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 0,74 0,62 0,61

Doenças do aparelho geniturinário 1,91 2,73 2,81


Gravidez, parto e puerpério 0,03 0,03 0,03

Algumas afecções originadas no período perinatal 5,43 4,68 3,94

Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas 2,57 2,53 2,37

Sintomas, sinais e achados anormais em exame clínico e laboratorial 6,72 7,99 7,78

Lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas 2,58 2,37 2,27

Causas externas de morbidade e mortalidade 2,88 3,44 -

Contatos com serviços de saúde 3,52 0,62 0,51

Total 3,62 4,19 4,16

Fonte: BRASIL, 2008c.


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Gastos com internação

O Quadro 6 apresenta o custo anual com internações realizadas no âmbito do Sistema Único de
Saúde, segundo o capítulo da CID 10. As doenças do aparelho circulatório ocuparam o primeiro
lugar em todos os anos analisados, com um custo médio por AIH crescente (Quadro 7).

Quadro 6 - Custo anual das internações segundo o capítulo da CID 10, Brasil, 2010, 2015 e 2018

Custo anual das internações segundo o capítulo da CID 10, Brasil, 2010, 2015 e 2018
Capítulo CID-10 2010 2015 2018
Algumas doenças infecciosas e parasitárias 743.540.867 999.440.765 978.417.945
Neoplasias (tumores) 791.125.158 1.545.215.308 1.618.563.994
Doenças de sangue, órgãos hematológicos e
47.451.905 66.174.074 69.806.884
transtornos imunitários
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 168.280.821 198.263.208 217.683.826
Transtornos mentais e comportamentais 531.447.677 308.378.082 243.894.836
Doenças do sistema nervoso 255.966.803 268.243.058 244.952.943
Doenças do olho e anexos 68.952.228 110.161.049 164.635.569
Doenças do ouvido e da apófise mastoide 38.598.180 49.165.475 52.642.577
Doenças do aparelho circulatório 2.118.141.126 2.654.329.081 2.665.578.730
Doenças do aparelho respiratório 1.197.735.713 1.251.516.149 1.173.503.028
Doenças do aparelho digestivo 777.700.156 1.032.556.837 1.091.576.976
Doenças da pele e do tecido subcutâneo 102.849.416 140.083.966 136.377.874
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido
285.972.692 359.165.475 318.385.843
conjuntivo
Doenças do aparelho geniturinário 455.790.854 682.093.432 715.164.524
Gravidez, parto e puerpério 1.305.868.851 1.392.793.792 1.396.939.102

Algumas afecções originadas no período perinatal 540.266.351 689.341.461 696.791.104


Malformações congênitas, deformidades e
196.142.425 244.600.332 265.527.868
anomalias cromossômicas
Sintomas, sinais e achados anormais em exame
91.678.693 151.162.632 187.369.720
clínico e laboratorial
Lesões, envenenamentos e algumas outras
946.926.030 1.325.919.631 1.316.831.544
consequências de causas externas
Causas externas de morbidade e mortalidade 2.341.443 2.666.321 -
Contatos com serviços de saúde 74.692.322 114.417.730 146.102.991
Total 10.741.469.710 13.585.687.857 13.700.747.882

Fonte: BRASIL, 2008b.


21

Quadro 7 - Custo médio da AIH (em reais) segundo o capítulo da CID 10, Brasil, 2010, 2015
e 2018

Custo médio da AIH (em reais) segundo o capítulo da CID 10, Brasil, 2010, 2015 e 2018

Capítulo CID-10 2010 2015 2018

Algumas doenças infecciosas e parasitárias 730 1238 1389

Neoplasias (tumores) 1304 2056 2069


Doenças de sangue, órgãos hematológicos e transtornos
560 697 707
imunitários
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 561 765 961

Transtornos mentais e comportamentais 1867 1357 1139

Doenças do sistema nervoso 1506 1429 1326

Doenças do olho e anexos 904 1105 1329

Doenças do ouvido e da apófise mastoide 1980 2570 2820

Doenças do aparelho circulatório 1834 2365 2471

Doenças do aparelho respiratório 824 1037 1045

Doenças do aparelho digestivo 749 965 983

Doenças da pele e do tecido subcutâneo 501 580 547

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 1427 1730 1578

Doenças do aparelho geniturinário 575 866 899

Gravidez, parto e puerpério 552 578 591

Algumas afecções originadas no período perinatal 2666 2765 2561


Malformações congênitas, deformidades e anomalias
2472 3035 3267
cromossômicas
Sintomas, sinais e achados anormais em exame clínico e
610 897 983
laboratorial
Lesões envenenamentos e algumas outras consequências de
1019 1195 1203
causas externas
Causas externas de morbidade e mortalidade 757 680 -

Contatos com serviços de saúde 354 523 593

Total 947 1200 1228

Fonte: BRASIL, 2008b.


Unidade 2
Situação-problema
24

UNIDADE 2

Situação-problema

ATENÇÃO!

Como recurso didático para a discussão do enfrentamento das DCVs, vamos utilizar uma equipe
fictícia do NASF-AB de Vila Formosa, do município de Curupira. Iniciaremos apresentando, um
fragmento de uma reunião de avaliação conduzida pela Coordenadora de Atenção Básica à Saúde do
município de Curupira.

Oficina de Avaliação da Atenção Básica à Saúde - APS do município


de Curupira

Apresentação do relatório anual pela Coordenação de Atenção Básica


Participantes:
• Equipes do NASF-AB
• Equipes de Saúde da Família do município
Convidados
• Coordenação de Atenção Especializada;
• Coordenação da Atenção de Urgência e Atenção Hospitalar;
• Coordenação de Apoio Diagnóstico e Terapêutico

Apresentação da coordenadora de APS (Enfermeira Rosilene)


25

Bom dia a todas e a todos. Como fazemos em todo final de ano, vamos iniciar nossa reunião de
avaliação dos resultados do nosso trabalho deste ano que está se encerrando. Devo dizer que
tivemos avanços importantes pelos quais, já de antemão, gostaria de parabenizar a todos vocês
e agradecer o empenho e a dedicação. Entre esses avanços, eu destacaria, principalmente, a
redução da mortalidade infantil e materna. Isso só foi possível pelo envolvimento de todos os
profissionais na elaboração e execução do Plano de Ação construído no final do ano passado.
Por outro lado, eu gostaria de dizer que, infelizmente, não tivemos tanto sucesso em outras
áreas como, por exemplo, no Plano de Ação para a prevenção e o controle da Dengue e com
o Plano de Ação voltado para as Doenças Cardiovasculares. E eu gostaria de começar a minha
apresentação fazendo uma avaliação do Plano de Ação das DCVs, no que se refere à sua
elaboração e execução.

Acho que o Plano de Ação refletiu, em certo sentido, o processo de sua elaboração que podemos
sintetizar em dois pontos:
1. Plano de ação fragmentado: o plano ficou uma colcha de retalhos. Resultou em um
“ajuntamento” das propostas de cada setor, quando não em um “ajuntamento” de
proposições de profissionais individuais.
26

2. Diagnóstico situacional pobre: o diagnóstico contemplou, basicamente, os dados


de morbimortalidade e taxas de internação por DCV, alguma coisa de demanda por
exames e consultas especializadas e da produção de serviços – consultas, visitas
domiciliares, grupos. O plano não abordou, por exemplo, a questão dos processos
de trabalho, da utilização de protocolos, das ações interdisciplinares e intersetoriais,
da coordenação do cuidado, da participação da comunidade. Neste último aspecto,
recebemos muitas críticas do Conselho Municipal de Saúde.

Assim, a partir de um diagnóstico situacional pobre, construímos um Plano de Ação limitado,


que não conseguiu contemplar, de forma satisfatória, os nós críticos dos nossos problemas
ou mesmo caracterizar, adequadamente, os problemas relacionados ao enfrentamento das
doenças cardiovasculares, seja no plano individual, seja no plano coletivo. Os resultados
da fragmentação das ações e das limitações do Plano de Ação podem ser percebidos,
claramente, na piora de vários indicadores:

• Aumento da frequência dos fatores de risco cardiovascular, como sedentarismo,


obesidade e tabagismo;
• Aumento das taxas de complicações das DCVs, em particular do Infarto Agudo do
Miocárdio e de Acidentes Vasculares Cerebrais;
• Aumento da incidência de Diabetes e Hipertensão Arterial e da Doença Renal Crônica.

E a consequência disso pode ser vista na sobrecarga dos serviços de urgência, no aumento
das taxas de internação e óbitos e, é claro, dos gastos do sistema de saúde.

Feitas estas considerações iniciais, temos agora o desafio de reestruturar o nosso Plano
de Ação para as DCVs, para o próximo ano. A ideia é que as equipes e as coordenações
trabalhem, neste próximo mês, nessa tarefa para termos um Plano para aprovação até o
final do ano. Como pontapé inicial para essa tarefa, eu proponho que a gente discuta agora
as premissas do nosso Plano e as ferramentas com que devemos trabalhar. Acho que essas
definições, com certeza, ajudarão no trabalho de elaboração do Plano sem repetir os erros
que identificamos no Plano atual. Proponho que trabalhemos em dois grupos: o primeiro
grupo trabalharia com a questão das premissas do Plano, e o segundo com as ferramentas
de trabalho.

Apenas para esclarecer um pouco a tarefa de cada grupo, estamos considerando premissas
os aspectos macros, por exemplo, a equidade; e estamos chamando de ferramentas de
trabalho aspectos mais técnicos, por exemplo, o uso de protocolos. Vamos ao trabalho?
27

A situação apresentada não é incomum na realidade brasileira; pelo contrário, é bem frequente.
Os dados apresentados na Seção 1 caracterizam muito bem uma situação de crescimento
sustentável das taxas de incidência e prevalência das DCVs, dos fatores de risco e também
das consequências das DCVs – alto custo humano e social. A fragmentação das ações e suas
limitações também são muito frequentes. O desafio colocado pela coordenadora de Atenção
Básica para as equipes de elaboração e implementação de um Plano de Ação mais consistente
também vale para a maioria dos profissionais que atuam nos diferentes pontos da rede de
atenção do Sistema Único de Saúde.

Este desafio também está colocado para os profissionais de Educação Física que dominam um
conhecimento e têm uma competência estratégica para o enfrentamento de fatores de risco
importantes para a gênese e o desenvolvimento das DCVs.

Antes de avançarmos neste tema, vamos analisar, a síntese do trabalho proposto pela
Coordenadora de APS, realizado pelos dois grupos.

Grupo 1 – Premissas para a elaboração e implementação do Plano

1. Interdisciplinaridade: as DCVs constituem um problema complexo,


que contempla vários recortes e exige a contribuição de competências
de vários profissionais. O trabalho em equipe é um imperativo para
garantir o cuidado das pessoas com DCV e para as ações de prevenção
e promoção. É fundamental a proatividade dos profissionais, o que
contribui para a qualidade do cuidado.
28

2. Intersetorialidade: as DCVs exigem, para o seu enfrentamento, a utilização de


recursos, tecnologias e competências que estão distribuídas em diferentes setores
da administração pública e em diferentes organizações da sociedade civil. As
equipes que trabalham na Atenção Básica devem buscar construir parcerias e somar
recursos e competências. Esse esforço demanda tempo e deve fazer parte da agenda
dos profissionais.
3. Participação da comunidade: a adesão das pessoas às ações propostas pelo Plano é
fundamental para o seu êxito. Nesse sentido, é fundamental que elas tenham uma
participação mais ativa, tanto na fase de elaboração do Plano, quanto na execução
das ações previstas. É importante que a população também se responsabilize pela
implementação do Plano de Ação.
4. Integralidade do cuidado: o enfrentamento das DCVs implica a utilização de
tecnologias que estão distribuídas em diferentes pontos da rede de atenção e, por
esse motivo, a população deve ter acesso oportuno a essas tecnologias. As ações
desenvolvidas pelas equipes devem contemplar ações de promoção da saúde,
prevenção dos agravos, recuperação e reabilitação.
5. Equidade: o plano deve reconhecer as diferentes realidades em que se originam e
desenvolvem as DCVs e atuar conforme essas diferenças.

Grupo 2 – Ferramentas de trabalho

1. Protocolos: é importante que a equipe defina quais são os protocolos que irão nortear
o seu trabalho. Aqui estamos entendendo protocolos como o conjunto de tecnologias
e ações, com evidências de efetividade, que serão utilizadas para o enfrentamento
dos problemas em todas as suas dimensões e de acordo com as necessidades de
cada pessoa. Os protocolos devem definir também o papel e as responsabilidades
de cada profissional envolvido nas ações. É importante que, uma vez definidos estes
papéis, os profissionais sejam capacitados para o desenvolvimento das ações que
lhes cabem.
29

2. Coordenação do cuidado: o enfrentamento das DCVs exige a participação de vários


profissionais que estão distribuídos em vários setores de uma rede de cuidados.
Para tanto, é fundamental que o cuidado seja coordenado e que a rede funcione
adequadamente, o que significa que cada nó da rede deve cumprir adequadamente
o seu papel e tenha ligações – comunicações adequadas – com os outros nós da rede.
Assim, mecanismos de referência e contrarreferência devem ser implementados e
devem ser efetivos.
3. Regulação do acesso: é importante a implementação de mecanismos de regulação
que garantam o acesso oportuno da população aos cuidados, de acordo com suas
necessidades.
4. Ações educativas: podemos ter ações voltadas para a população com DCV e ações
voltadas para a população em geral, por exemplo:
• Grupos educativos, socioeducativos, rodas de conversas: estas atividades são
importantes como espaços de participação e empoderamento da comunidade,
com troca de informação e experiências. É importante, neste caso, utilizarmos
metodologias ativas que garantam a participação de todos. A equipe deve ser
capacitada para conduzir os grupos.
• Programas educativos em veículos de comunicação de massa: estratégia
importante para atingir um número maior de pessoas.
• Materiais educativos: vídeos, cartilhas, fôlderes, etc.
• Espaço dos atendimentos dos profissionais – consultas, visitas, etc.

5. Projetos específicos: voltados para a questão do tabagismo, da obesidade, da


dislipidemia e do sedentarismo.
30

A síntese do trabalho apresentada pelos dois grupos contempla aspectos importantes para a
atuação das equipes de saúde e ajudam a orientar a construção de um Plano de Ação para o
enfrentamento deste grave e complexo problema de saúde pública, que são as DCVs. Porém,
é importante que os profissionais envolvidos nessa tarefa também atentem, num segundo
momento, aos aspectos mais particulares das ações e reponsabilidades de cada profissional
específico e às parcerias que devem ser construídas para o enfrentamento adequado dos
problemas que teremos que superar. A seguir, um passo a passo sugerido por um dos
profissionais para a definição e organização das ações que comporão o Plano de Ação.

Reunião dos integrantes do NASF-AB e ESF para encaminhamento


das decisões da Oficina de Avaliação

Participantes: Profissionais do NASF-AB e Profissionais das Equipes de Saúde da


Família
Coordenação: Enfermeira

Boa tarde! Vamos começar nossa reunião que hoje tem como pauta a questão do Plano
de Ação para as Doenças Cardiovasculares para o próximo ano. Na oficina, conseguimos
avançar na discussão das premissas do Plano e das ferramentas de trabalho. Minha proposta
seria, nesta reunião, discutirmos aspectos mais gerais do plano e, nas próximas reuniões,
detalharmos nossas propostas. Alguém quer começar?
31

Glicério: – Acho boa a ideia de começarmos pelos aspectos mais gerais. Achei que a ideia da
Rosilene de definirmos premissas e ferramentas para o plano foi muito boa. Para mim ficou
mais claro o caminho a percorrer para a construção do Plano de Ação. Eu acho que temos que
pensar alguns passos:

1. O plano deve contemplar ações para quem já tem DCV e ações para quem não tem
DCV;

2. O plano deve contemplar ações inespecíficas – qualquer profissional pode


desenvolvê-las deste que esteja preparado, e ações específicas de um determinado
profissional;
3. Devemos montar quadros contemplando essas ações, cruzando ações voltadas
para os portadores e não portadores de DCV e ações específicas e não específicas.
Posteriormente, detalharemos os objetivos e o conteúdo de cada ação e sua
implementação;
4. Definir os recursos necessários para a implementação das ações;

5. Para cada ação, identificar os nossos parceiros externos – população, ONGs, setores
da saúde e setores da administração pública;

6. Definir as estratégias para incorporação desses parceiros;

7. Definir responsáveis e prazos;

8. Definir os instrumentos para o acompanhamento e a avaliação das ações.


32

Os passos sugeridos pelo profissional de Educação Física do NASF-AB de Curupira podem


ser uma boa orientação para a reorientação do Plano de Ação voltado para as Doenças
Cardiovasculares, pois consegue organizar:

• as ações,
• definir objetivos e conteúdo das ações,
• os recursos e as parcerias necessários para o desenvolvimento das ações;
• os responsáveis e prazos para a implementação das ações e os instrumentos –
indicadores, relatórios, etc., para o acompanhamento e a avaliação das ações.

A proposta elaborada pelo grupo de trabalho que teve como


objetivo definir ações voltadas para o enfrentamento do fator
de risco sedentarismo, que comporia o Plano de Ação para
DCVs do município de Curupira.
33

“Proposta de ações para a Redução do Sedentarismo entre


crianças e adolescentes”

Ação 1: Brincar e Jogar em Curupira

A aprendizagem sobre a convivência harmoniosa com o próprio corpo, com a própria


sexualidade, bem como o prazer de ter uma vida mental e fisicamente ativa fazem parte dos
princípios pedagógicos dos eixos didáticos da Educação Física para crianças e adolescentes.

Sendo assim, as atividades propostas visam ensinar as crianças a gostarem das brincadeiras que
solicitam envolvimento do corpo e da mente, ofertar jogos para os adolescentes que integrem
outros jovens, incluir as práticas de modalidades esportivas que valorizem a cooperação, a
competição dentro das regras estabelecidas, bem como diminuir os níveis de inatividade física
entre as crianças e os adolescentes.
34

Público-alvo: crianças e adolescentes com ou sem deficiência e usuários com doenças


cardiovasculares (usuários com DCV que terminaram a reabilitação cardiaca, já passaram pelas
Fases II e III da reabilitação e estão com liberação médica para serem atendidos pela equipe do
NASF-AB e da Academia da Saúde);

Responsáveis pela Ação: Equipe do NASF-AB (Profissional de Educação Física: Glicério; Médico
Pediatra: Marcelo; Nutricionista: Patríca), Professoras da Escola Municipal de Vila Formosa
(Profissional de Educação Física: Helena, Professora de Artes: Conceição) e da Academia da
Saúde (Profissional de Educação Física: Glorinha).

Objetivo: ofertar atividades físicas, esportivas e recreativas para as crianças e os adolescentes


da cidade de Curupira no contraturno escolar.
35

Atividades: Crianças – iniciação esportiva, jogos e brincadeiras (queimada, gincanas).


Adolescentes – futebol, basquete e natação.

Locais: quadra e pátio da Escola Municipal de Vila Formosa, Clube Campestre de Curupira
(piscinas e quadras), parques e praças.

Resultados esperados:
• Diminuição do nível de inatividade física entre crianças e adolescentes;
• Es�mulo ao desenvolvimento neuropsicomotor das crianças;
• Fortalecimento musculoesquelético das crianças e dos adolescentes;
• Melhora do condicionamento físico, inclusive a coordenação e as habilidades motoras;
• Redução/prevenção do sobrepeso e da obesidade;
• Redução do risco de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares;
• Melhora da qualidade do sono;
• Melhora da concentração e da aprendizagem;
• Redução de ansiedade e estresse;
• Melhora da autoestima e da confiança;
• Realização de atividades em grupo, cooperativas, que colaborem com as relações sociais.
36

Recursos:

Políticos:

• Diálogos entre os coordenadores do Projeto (coordenações do NASF-AB, da Academia


da Saúde, da Equipe Saúde da Família, da Unidade Básica de Saúde e da Diretoria da
Escola Municipal de Vila Formosa) e as lideranças políticas de Curupira para exposição
dos dados sobre as DCVs no município e sobre a importância do projeto, visando ao
estabelecimento e à liberação da infraestrutura e da logística para utilização dos espaços
públicos e eventual transporte das crianças e dos adolescentes.

• Diálogos entre os coordenadores do Projeto (coordenações do NASF-AB, da Academia


da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de Saúde) e as lideranças
comunitárias dos distritos e bairros de Curupira para exposição dos dados sobre as DCVs
no município e sobre a importância do Projeto.

• Diálogos entre os coordenadores do Projeto (coordenações do NASF-AB, da Academia


da Saúde, da Equipe Saúde da Família, da Unidade Básica de Saúde e da Diretoria da
Escola Municipal de Vila Formosa) e a Diretoria do Clube Campestre de Curupira para
exposição dos dados sobre as DCVs e a importância da integração do Clube no Projeto
por meio da disponibilização das quadras e piscinas.

Cognitivos:

• Profissionais do NASF-AB (Educação Física e Médico), da Academia da Saúde (Educação


Física), da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de Saúde, Professores da Escola
Municipal de Vila Formosa (Educação Física e Artes).

Econômicos:

• Compra de equipamentos esportivos e materiais das atividades; material de manutenção


e limpeza da piscina; eventuais transportes.

Organizacionais:

• Estruturação do ambiente físico para reuniões e atividades administrativas do Projeto;


Estruturação de ambiente virtual para divulgação do Projeto e comunicação com os
participantes;
Planejamento e estruturação da divulgação, comunicação e inscrição das crianças e dos
adolescentes pelos responsáveis;
Estabelecimento das regras de participação e frequência;
Definição de testes e instrumentos de avaliações físicas.
37

Parceiros prioritários:
• Escola Municipal de Vila Formosa;
• Conselho de Pais da Escola Municipal de Vila Formosa;
• Igrejas do Município de Curupira;
• Lideranças comunitárias;
• Universidade;
• Indústrias localizadas no município;
• Polícia Militar;
• Clube Campestre de Curupira.

Monitoramento e avaliação:

O quadro 8 apresenta a planilha de monitoramento das atividades previstas para a


abordagem do sedentarismo entre crianças e adolescentes.
38

Quadro 8 - Planilha de monitoramento e avaliação


Avaliações específicas

2-Não satisfatório (3)

Desenvolvimento da
Atividade executada

que participou (2)


Atividade prevista

% do público-alvo

2-Não satisfatório

2-Não satisfatória
Envolvimento do

atividade pelo
público--alvo

Avaliação da

público-alvo
1-Satistório

1-Satistório

1-Satistória
2-Não (1)

atividade
1-Sim
Data

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

Ao final de cada atividade, fazer um relatório contendo:


(1) Motivo da não realização da atividade (se for o caso);
(2) Hipóteses para a baixa participação (se for o caso);
(3) Hipóteses para o envolvimento não satisfatório do público-alvo;
(4) Hipóteses para o desenvolvimento não satisfatório da atividade;
(5) Motivos da não satisfação do público-alvo com a atividade.

Avaliações e monitoramentos específicos:


• Diário de acompanhamento da rotina da criança e do adolescente com informações
sobre prática de atividade física e esportiva, horas de sono, tempo de tela, alimentação;
• Avaliação do Índice de Massa Corporal, com base na Caderneta de Saúde da Criança e
do Adolescente;
• Circunferência da cintura.
39

Ações para a Redução do Sedentarismo


entre usuários adultos, idosos e usuários
com doenças cardiovasculares

Ação 2: Clube de Caminhada

Por que um clube de Caminhada?

A caminhada é a atividade física aeróbia mais praticada ao redor do planeta, até por ser uma
condição de vida da maior parte dos seres humanos. Este tipo de atividade física envolve riscos
mínimos para os adeptos nas rotinas de prática, e seus benefícios estão associados à promoção
da saúde e prevenção de doenças. O custo financeiro necessário para uma prática regular da
caminhada é baixo, comparativamente com outras atividades aeróbias, no que diz respeito aos
custos de vestuário, calçado, equipamentos e locais para prática.

Esta atividade física possibilita ainda monitoramento do progresso alcançado pelos praticantes,
seja pelo aumento do tempo e intensidade em um período definido de semanas ou meses,
como também pelo monitoramento de passos por instrumentos. Atualmente, são muitos os
dispositivos tecnólogicos que permitem, com certa confiabilidade, ter os passos dos praticantes
contados. Entre esses instrumentos e aplicativos estão os pedômetros, os acelerômetros, entre
outros disponíveis e aplicativos, inclusive disponíveis nos smartphones.
40

Entretanto, para uma prática segura e nas condições necessárias para que seja mantido o
nível da intensidade e do volume do esforço físico e da frequência exigidos aos praticantes,
são requeridos investimentos públicos nas condições de infraestrutura de pavimentos tanto
em passeios, parques, ruas e outros ambientes onde a caminhada pode ser praticada, como
também em transporte, acessibilidade e segurança.

Evidências cien�ficas sobre a caminhada PHYSICAL ACTIVITY GUIDELINES ADVISORY


COMMITTEE, 2018:

Alcançar 10.000 passos ou mais no dia, quando se compara a não alcançar este número de
passos, possibilita a um indivíduo atenuar o ganho de peso.

Fortes evidências indicam que o aumento na prática de atividade física na intensidade moderada
para vigorosa pelos adultos está associado à prevenção ou à redução do ganho excessivo de
peso, como também à manutenção do peso dentro IMC e na prevenção da obesidade.

Fortes evidências demonstram que adultos com sobrepeso ou obesos que são fisicamente
ativos conseguem alcançar benefícios similares, com a prática de atividades físicas, aos dos
adultos com peso corporal normal. Também é equivalente para este grupo populacional a
redução do risco de incidentes e mortes por doenças cardiovasculares e incidência de diabetes
tipo 2.

Fortes evidências sustentam que a atividade física regular reduz o risco de mortalidade por
DCV entre as pessoas com hipertensão e diabetes tipo 2.

Programação geral do Clube de Caminhada de Curupira:

• Caminhadas (Coordenadores: Profissionais de Educação Física do NASF-AB e do Programa


Academia da Saúde);
• Workshops de Nutrição (Coordenação: Nutricionista da NASF-AB);
• Workshops de Postura e Equilíbrio (Coordenação: Fisioterapeuta do NASF-AB);
• Workshops de Bem-Estar (Coordenação: Psicóloga do NASF-AB em conjunto com
profissionais do NASF-AB: Educação Física, Nutrição, Farmácia, Fisioterapia e Psiquiatra
e Cardiologista convidados);
• Workshops e debates sobre Segurança e Prevenção de Acidentes em caminhadas
(Coordenação: Enfermeira da USB em conjunto com os profissionais da ESF, UBS,
bombeiros e profissionais do NASF-AB).
• Programação cultural: filmes e debates tendo como ponto central a experiência em
caminhadas (Coordenação: Farmacêutico do NASF-AB).
• Debates com a liderança comunitária e a população em geral sobre o Plano Global de
Ação em Atividade Física 2018 – 2019 da OMS (Coordenadores: Profissionais de Educação
Física do NASF-AB e do Programa Academia da Saúde).
• Participações em programas na Rádio de Curupira para divulgar o Clube de Caminhada
e discutir tópicos do Plano Global de Ação em Atividade Física 2018 – 2019 da OMS
(Coordenação: Profissional de Educação Física do NASF-AB).
41

Público-alvo: usuários adultos e idosos, com ou sem deficiência, e usuários com doenças
cardiovasculares (usuários com DCV que terminaram a reabilitação cardíaca, já passaram pelas
Fases II e III da reabilitação e estão com liberação médica para serem atendidos pelas equipes
do NASF-AB e da Academia da Saúde);

Responsáveis pela Ação: Equipe do NASF-AB (Profissional de Educação Física: Glicério) e


Academia da Saúde (Profissional de Educação Física: Glorinha), com apoio do gestor de Saúde
de Curupira, Dr. Paulo Valle, e da Enfermeira Rosilene.

Objetivo: organizar, na cidade de Curupira, um Clube de Caminhadas.


42

Modalidades de Caminhadas: Caminhada Cultural; Caminhada por uma Vida Saudável;


Caminhada Exploratória; e Envelhecer Caminhando.

Resultados esperados:
• Aumento da prática da caminhada e redução da inatividade física entre os adultos e
idosos de Curupira;
• Desenvolvimento do sentimento de satisfação dos usuários-associados do clube pela
prática de atividade física aeróbia;
• Potencialização da união comunitária em prol de uma vida saudável;
• Redução ou manutenção do índice de Massa Corporal (IMC) dos usuários-associados do
clube dentro do padrão normal;
• Reeducação alimentar dos usuários-associados do clube com base na redução do sal/
sódio, açúcar e de alimentos com gorduras saturadas e trans;
• Redução do tabagismo, pela valorização da melhoria da capacidade respiratória e pelo
prazer de caminhadas ao ar livre;
• Redução do consumo de álcool, pela valorização da vida mental e fisicamente ativa,
como também pelo prazer do convívio social;
• Redução do estresse psicológico entre os usuários-associados do clube.
43

Recursos

Políticos:

• Diálogos entre os coordenadores do Projeto (coordenações do NASF-AB, da Academia


da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de Saúde) e as lideranças
políticas de Curupira para exposição dos dados sobre as DCVs no município e sobre a
importância do Projeto Clube de Caminhada;
• Diálogos entre os coordenadores do Projeto (coordenações do NASF-AB, da Academia
da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de Saúde) e as lideranças
comunitárias dos distritos e bairros de Curupira para exposição dos dados sobre as DCVs
no município e sobre a importância do Projeto Clube de Caminhada;
• Negociações intersetoriais entre a coordenação e os apoiadores do Projeto (coordenações
do NASF-AB, da Academia da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica
de Saúde) com gestores responsáveis pelas áreas de finanças, segurança, transporte,
obras, esporte e coordenação de apoio à pessoa com deficiência de Curupira, para
estabelecimento e liberação da infraestrutura e da logística para a implementação do
Clube de Caminhadas;
• Negociações entre a coordenação e apoiadores do Projeto (coordenações do NASF-
AB, da Academia da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de Saúde)
e as referências políticas do município (Prefeito, Secretário de Saúde, Secretário de
Finanças, Secretário de Obras Públicas, Secretário de Transporte, Superintendente de
Esporte, entre outros) visando à liberação de verbas para infraestruturas (construção ou
remodelação) de passeios, ruas, parques, de outros locais para a prática da caminhada,
transporte e segurança;
• Negociações entre os coordenadores do Projeto (coordenações do NASF-AB, da Academia
da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de Saúde) e o gestor de
finanças do município para autorização de pagamento dos profissionais, especialistas e
compra de equipamentos e instrumentos para o Clube de Caminhada;
• Apoio ao Projeto, em discursos públicos, pelas referências políticas do município
(Prefeito, Secretário de Saúde, Secretário de Finanças, Secretário de Obras públicas,
Secretário de Transporte, Superintendente de Esporte, entre outros).

Cognitivos:

• Para além dos profissionais do NASF-AB (Educação Física, Nutrição, Fisioterapia e


Psicologia), da Academia da Saúde, da Equipe Saúde da Família e da Unidade Básica de
Saúde, profissionais especialistas em arte, cultura, turismo, segurança, educação para a
saúde, entre outras disciplinas.
44

Econômicos:

• Compra de mesas, cadeiras, telefone, computador e quadros para a sede do Clube de


Caminhada;
• Compra de aparelhos de GPS e equipamentos de comunicação (exemplos: celulares e
walkie-talkie);
• Compra de pedômetros, acelerômetros e aplicativos para monitoramento da intensidade
do esforço físico e do tempo de caminhada;
• Pagamento de guias culturais e turísticos;
• Pagamento de especialistas para palestras e workshops para os usuários-associados em
temas como: segurança, história, arte, viagens, vida saudável, entre outros.

Organizacionais:

• Estruturação do ambiente físico do Clube de Caminhada com cadeiras, mesas, telefone,


computador e quadros para reuniões dos associados e coordenação do Clube;
• Estruturação de ambiente virtual para divulgação do Clube, comunicações entre os
associados e a coordenação do Clube e para as tarefas administrativas;
• Planejamento e estruturação da divulgação, comunicação e inscrição da população
adulta e idosa de Curupira no Clube de Caminhadas;
• Estabelecimento do regulamento geral do clube e regulamentos específicos de acordo
com cada modalidade de caminhada;
• Definição de testes e instrumentos de avaliações físicas, nutricionais, fisioterápicas
e psicológicas para definição do perfil dos usuários-associados, de acordo com as
modalidades de caminhada;
• Definição das referências para prescrição das caminhadas, dos exercícios de alongamento,
flexibilidade e de força, que devem ser de acordo com o perfil traçado pelas avaliações.

Referência:
PHYSICAL ACTIVITY GUIDELINES ADVISORY COMMITTEE. 2018 Physical Activity
Guidelines Advisory Committee: scientific report. Washington, DC: US Department of
Health and Human Services, 2018.

As Caminhadas devem ser planejadas levando em consideração: a frequência (número de dias/


semanas), duração (tempo de cada caminhada) e intensidade do esforço (energia despendida
em cada caminhada/METs).

Intensidades da Caminhada

• Caminhada Vigorosa: exige METs iguais ou maiores que 6.0 – Caminhada rápida: 4.5 a 5
mph.
• Caminhada Moderada: exige METs de 3.0 a menos de 6.0 – Caminhada com propósito:
3 a 4 mph.
• Caminhada Leve: exige METs de 1.6 a menos de 3.0 – Caminhada devagar: 2 mph ou
menos.
45

Alvo de tempo das Caminhadas: entre 150 a 300 minutos na intensidade moderada, por
semana.

Observação: atenção especial deve ser colocada no trabalho de avaliação e monitoramento


dos subgrupos dos usuários-associados em cada modalidade de caminhada, para
assegurar a segurança e, com maior precisão, a dose-resposta do esforço (a relação
entre a dose ou volume da caminhada e a magnitude da mudança em termos de saúde
ou resposta fisiológica alcançada).

Estabelecimento de rotas e percursos de acordo com cada modalidade de caminhadas e


capacidade física dos usuários-associados do Clube de Caminhada;

Definição das referências técnicas para o estabelecimento do plano de reeducação alimentar


para os usuários-associados do Clube de Caminhada;

Definição das referências técnicas para o estabelecimento do trabalho de postura e equilíbrio


com os usuários-associados do Clube de Caminhada;

Definição das referências técnicas para o estabelecimento do apoio psicológico aos usuários-
associados do Clube de Caminhada.

Parceiros prioritários:
• Programa Academia da Saúde;
• Igrejas do Município de Curupira;
• Lideranças comunitárias;
• Universidade;
• Supermercados e empresas localizadas no município;
• Indústrias localizadas no município;
• Polícia Militar;
• Museus;
• Centros culturais;
• Associação de guias turísticos;
• Associação das agências de turismo;
• Conselho Regional de Educação Física.
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Monitoramento e avaliação da Ação: o Quadro 9 apresenta uma sugestão de planilha de


monitoramento das atividades previstas para a abordagem do sedentarismo entre adultos e
idosos.

Quadro 9 - Planilha de monitoramento e avaliação


Avaliações específicas
Envolvimento do público-

Avaliação da atividade
% do público-alvo que

2-Não satisfatório (3)

Desenvolvimento da
Atividade executada
Atividade prevista

2-Não satisfatório

2-Não satisfatória
pelo público-alvo
participou (2)

1-Satistório

1-Satistório

1-Satistória
2-Não (1)

atividade
1-Sim

-alvo
Data

Fonte: Elaborado pelos autores, 2019.

Ao final de cada atividade, fazer um relatório contendo:


(1) Motivo da não realização da atividade (se for o caso);
(2) Hipóteses para a baixa participação (se for o caso);
(3) Hipóteses para o envolvimento não satisfatório do público-alvo;
(4) Hipóteses para o desenvolvimento não satisfatório da atividade;
(5) Motivos da não satisfação do público-alvo com a atividade.
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Avaliações e monitoramentos específicos:

O Clube de Caminhada utilizará o protocolo de avaliação física do Programa Academia da


Saúde. Porém, para situações específicas, seguem alguns exemplos de testes físicos a serem
também utilizados:

• Teste de esforço em esteira ergométrica (teste obrigatório para usuários com DCV.
Exigência de presença de um médico durante o teste);
• Teste de esteira ergométrica adaptada para cadeira de rodas;
• 6 minutes walk-test (utilização também para monitoramento);
• Teste de agachamento;
• Teste Timed up and go;
• Teste de flexão de braços;
• Teste de puxada em suspensão na barra;
• Teste de puxada em suspensão na barra modificada (utilização também para
monitoramento de força de membro superior dos usuários-associados cadeirantes).

As ações propostas para o enfrentamento do sedentarismo descritas


são bons exemplos de ações que podem ser implementadas em
nossas realidades no âmbito da Atenção Básica à Saúde. Elas estão
bem estruturadas com a definição do público-alvo, dos responsáveis
pela ação, objetivo geral, especificação da ação, resultados esperados,
recursos necessários para sua implementação, parceiros potenciais
e instrumentos de monitoramento e avaliação. Em relação às ações
propostas, alguns aspectos merecem um destaque especial.

Um primeiro aspecto se refere à viabilização da ação. É importante,


quando uma equipe define uma ação para enfrentar um determinado
problema, que ela tenha clareza dos recursos necessários para a
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implementação da ação e dos recursos disponíveis – os recursos que a equipe controla, para
a implementação da ação.

Não é muito incomum, na prática dos profissionais da atenção primária, que a equipe não
tenha controle sobre todos os recursos necessários para a implementação de uma ação. Nesta
situação podem-se observar alguns tipos de comportamento da equipe:

• A equipe tem uma postura passiva em relação à situação que


leva ao imobilismo – a equipe desiste da ação.

• A equipe tenta implementar a ação sem todos os recursos


necessários e colhe resultados insatisfatórios.

• A equipe tem uma postura proativa e define estratégias para


conseguir os recursos que lhe faltam para a implementação
adequada da ação.

A postura passiva ou a tentativa de implementar ações sem as condições


adequadas para a implementação da ação sempre serão, em alguma
medida, motivos de frustrações da equipe.

Em determinados contextos, nos quais recursos fundamentais para o desenvolvimento da


ação estejam fora do controle da equipe, pode ser mais interessante que a equipe defina
objetivos menos ambiciosos, mas que sejam fac�veis e que tenham algum impacto sobre o
problema que se quer enfrentar.

A postura proativa exige um gasto de energia maior da equipe na construção da viabilidade


da ação, que pode ser recompensado com melhores resultados da ação e com um efeito
positivo que pode não ter relação com os resultados esperados da ação, mas que é também
importante: o de superar desafios, de aprender com eles, de encontrar e construir novas
parcerias, de construir vínculos... e de crescer. Esta postura proativa exige que os profissionais
saiam de suas zonas de conforto. Isso, às vezes, pode ser incômodo, mas os resultados podem
ser compensadores.
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Um segundo aspecto diz respeito a como a equipe monitora e avalia as


ações que ela desenvolve. É importante que a equipe compreenda essas
atividades como um momento privilegiado de reflexão do seu processo
de trabalho e como um momento de aprendizado. Nesse sentido, é
importante que a equipe tente responder a algumas questões:

• As ações que foram propostas foram adequadamente realizadas


(quantitativa e qualitativamente)?

• Como e por que aconteceram falhas na realização das ações?

• Os resultados esperados foram satisfatórios?

• Se não foram satisfatórios, quais as causas?

• Que redirecionamentos devem ser realizados no Plano de Ação?

Essas questões nos apontam para um aspecto importante do planejamento de ações de saúde:
o fato de que o processo de planejamento é um processo dinâmico e que é possível, a cada
momento, que uma equipe tenha que fazer adaptações para se adequar a novas realidades.
E, finalmente, é importante que as equipes e os profissionais estejam preparados e abertos
para reconhecer suas falhas e limitações e mudar. Mudar proativamente!!!

Esperamos que você tenha compreendido os riscos


associados às DCVs e os desafios que permeiam as
discussões de uma equipe e seus profissionais na
elaboração de um plano de ação para a redução destas
doenças nas nossas cidades.

O trabalho continua, a próxima etapa é de maior


detalhamento do plano de ação.
Referências
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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Hiperdia: sistema de cadastramento e acompanhamento de


hipertensos e diabéticos. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. VIGITEL: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças
crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2008a. Disponível em: http://
www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0208&id=28248785. Acesso em: 12 abr.
2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).


Brasília: Ministério da Saúde, 2008b. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/
index.php?area=0203&id=6926&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/
cnv/ni. Acesso em: 12 abr. 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. SIM: sistema de informações sobre mortalidade. Brasília:


Ministério da Saúde, 2008c. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.
php?area=0205&id=6937&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/
obt10. Acesso em: 12 abr. 2019.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Doenças cardiovasculares. Brasília, 2017.


Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id
=5253:doencas-cardiovasculares&Itemid=1096. Acesso em: 12 fev. 2019

PHYSICAL ACTIVITY GUIDELINES ADVISORY COMMITTEE. 2018 Physical Activity Guidelines


Advisory Committee: scientific report. Washington, DC: U.S Department of Health and
Human Services, 2018. Disponível em: https://health.gov/paguidelines/second-edition/
report/pdf/PAG_Advisory_Committee_Report.pdf. Acesso em: 12 jun. 2018.

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