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TORRES / Subjetivações das mulheres em mídias sociais

HUM@NÆ
Questões controversas do mundo contemporâneo
n. 17, n. 2

SUBJETIVAÇÕES DAS MULHERES EM MÍDIAS SOCIAIS:


entre sofrimentos psíquicos e redes de apoio
Rayssa Silva TORRES1

Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar, a partir da perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, os
possíveis desdobramentos dos usos das mídias sociais nos processos de subjetivações das
mulheres, como também identificar outras possibilidades de usos de tais tecnologias por esses
grupos. A relevância deste estudo surge em um contexto onde há uma carência de publicações no
Brasil sobre o tema, e possibilita novos debates sobre as relações que as mulheres estabelecem com
essas redes, os modos de construção de subjetividades femininas, as diferentes formas de
sofrimento psíquico nas quais as mulheres estão submetidas, e a capacidade de criação de redes de
apoio e ciberativismo nestes ambientes. Este estudo também parte de uma perspectiva
interseccional de gênero, considerando uma pluralidade no conceito “mulheres” e propondo
articulações entre as relações de gênero, classe e raça em sua análise. Tal recorte também se faz
necessário, pois entende-se que a experiência do sofrimento psíquico se manifesta de formas
diferentes entre mulheres e homens. Desta forma, utilizou-se como método de pesquisa a revisão de
literatura, buscando articular o tema estudado com autoras/es como Byung-Chul Han, González Rey,
Naomi Wolf, Pierre Lévy e Valeska Zanello. Portanto, concluímos que as mídias sociais exercem
influências e desdobramentos que marcam as subjetividades femininas de forma antagônica, pois, se
por um lado elas criam novas demandas e problemáticas, elas também oferecem a possibilidade de
transformação de suas vidas através da troca de conhecimentos, da consolidação de redes de apoio
e pela reivindicação de direitos.
Palavras-chave: Mulheres. Subjetividade. Redes Sociais. Sofrimento Psíquico. Redes de Apoio

Abstract
This article analyzes, from the perspective of Historical-Cultural Psychology, the possible
consequences of the use of social media in the subjectivation process of women, as well as to identify
other possibilities for the use of such technologies by these groups. The relevance of this study arises
in a context where there is a lack of publications in Brazil on the subject. Enables new debates about
the relationships that women establish with these networks, the ways in which female subjectivities are
constructed, the different forms of psychic suffering in which women are subjected, and the ability to
create support networks and cyberactivism in these environments. This study also starts from an
intersectional gender perspective, considering a plurality in the concept of “women” and proposing
articulations between gender, class and race relations in its analysis. This perspective is also
necessary, as it is understood that the experience of psychic suffering manifests itself in different ways
between women and men. Thus, the literature review was used as a research method, seeking to
articulate the subject studied with authors such as Byung-Chul Han, González Rey, Naomi Wolf,
Pierre Lévy and Valeska Zanello. Therefore, we conclude that social media exert influences and
developments that mark female subjectivities in an antagonistic way, because, if on the one hand they
create new demands and problems, they also offer the possibility of transforming their lives through
the exchange of knowledge, consolidation of support networks and the demand for rights.
Keywords: Women. Subjectivity. Social Media. Psychic Suffering. Support networks

1
Pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade pela FPB. Graduada em Psicologia pela Faculdade
de Ciências Humanas Esuda (2022). Graduada em Administração pela UFPE (2021). E-mail:
[email protected]

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Introdução

O Brasil possui hoje cerca de 152.000.000 de pessoas que utilizam a internet


diariamente, o que equivale a 81% da população do país com 10 anos ou
mais.Esses dados são da pesquisa TIC Domicílios (CGI.br, 2021), que mapeia o uso
e acesso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil. Segundo a
pesquisa, as principais atividades realizadas em ambiente virtual são a troca de
mensagens instantâneas, as conversas e chamadas de voz ou vídeo, e a utilização
de redes sociais digitais. Em comparação com os homens, apesar de obterem um
índice semelhante de acessos, as mulheres são hoje o público que mais utiliza a
internet, mas não se reflete em vantagens para esse público no ambiente digital.

De acordo com Luciana Zenha (2018), o conceito de rede está presente em


toda a história e diz respeito a um agrupamento e/ou organização de pessoas em
diferentes ambientes, sendo estas tomadas por um propósito ou objetivo comum. É
um conceito comum em diferentes áreas do conhecimento e de amplo significado, e
se estendeu para o campo digital a partir do século XX, com a popularização do
computador e da internet. Para fins desta pesquisa, classificamos “redes sociais” e
“mídias sociais” como sinônimas, tendo como exemplo plataformas, sites, blogs ou
fóruns diversos que permitem o contato entre sujeitos no mundo virtual, ou naquilo
que Pierre Lévy (2010) chama de “ciberespaço”. Entre elas, podemos destacar o
Facebook, Instagram, LinkedIn, Twitter, Whatsapp e Youtube.

O ciberespaço, segundo Pierre Lévy (2010), é um “espaço” imaterial e


construído a partir das conexões realizadas entre redes de computadores e
celulares, e que permitem novas formas de interação e comunicação assíncronas,
eliminação de fronteiras geográficas, acesso à distância a arquivos e documentos,
troca de mensagens, discussão e debates sobre temas diversos, ensino e
aprendizagem em grupo e a possibilidade de criação de novos planos de existência
e de comunidades virtuais. Apesar da sua imaterialidade, este espaço não pode ser
entendido como algo fictício, irreal e neutro. Ele possui interrelações com o mundo
“offline” e está aberto a constantes modificações, acolhendo individualidades, e
“oferece a muitos o acesso à expressão” (LÉVY, 2010, p. 241). Ainda de acordo com
Pierre Lévy, “O ciberespaço surge como a ferramenta de organização de
comunidades de todos os tipos e de todos os tamanhos em coletivos inteligentes,

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mas também como instrumento que permite aos coletivos inteligentes articularem-se
entre si” (LÉVY, 2010, p. 135). Ele também destaca que o ciberespaço não age de
forma autônoma, pois sua utilização depende da atuação humana, e são esses
atores humanos que utilizam suas potencialidades para o bem ou para o mal.

Em consonância ao pensamento de Lévy, autores como Anthony Giddens


(2006) e Zygmunt Bauman (2007) nos alertam para o conjunto de transformações
sociais, políticas e comportamentais provocadas pela ascensão das tecnologias
digitais. Para Giddens (2006, p.23), “a comunicação instantânea não é apenas um
meio de transmitir informações com maior rapidez. A sua existência altera o próprio
quadro das nossas vidas”. Para esses autores, essas tecnologias possibilitam
melhor acesso e compartilhamento de informações, a articulação de movimentos
sociais, fomentam o debate público, e ampliam o campo de socialização dos
indivíduos, provocando mudanças em todas esferas da vida humana,
desempenhando um papel central para o desenvolvimento das sociedades.

No que diz respeito aos estudos sobre os desdobramentos que essas redes
sociais produzem nas subjetividades dos indivíduos, sobretudo das mulheres, há
uma carência de publicações no Brasil sobre o tema. Sobre subjetividades,
consideramos aqui a compreensão dialética pautada na Psicologia Histórico-
Cultural, que entende o indivíduo como resultado de suas relações sociais e
vinculado às suas condições sócio-históricas (REY, 2004, 2005). Neste sentido, o
recorte de gênero (SCOTT, 1990) se fez necessário na pesquisa, pois entendemos
que a experiência do sofrimento psíquico é “gendrada”, ou seja, afeta de maneira
distinta mulheres e homens (ZANELLO, 2018). Elegemos, então, as mulheres como
tema de estudo a partir do conceito de interseccionalidade, articulando questões de
raça, gênero e classe na análise (AKOTIRENE, 2019). Também devemos destacar a
importância de situar as mulheres como sujeitos históricos coletivos, que devem ser
nomeados nos debates sobre ciência e tecnologia (HARAWAY, 2009; SCOTT, 1990).
Sendo assim, o texto integra minha própria experiência pessoal como mulher
cisgênero, branca e usuária de tais tecnologias, justificando o uso de verbos em
primeira pessoa do singular e plural ao longo da escrita.

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O presente estudo tem como objetivo principal analisar os possíveis


desdobramentos dos usos das redes sociais nas subjetividades das mulheres.
Como objetivos específicos, destacam-se: discutir sobre como as subjetividades das
mulheres são construídas; discutir sobre os possíveis desdobramentos dos usos das
mídias sociais nas subjetividades das mulheres; identificar os possíveis usos das
mídias sociais pelas mulheres (páginas, perfis, grupos).Para tal, utilizamos como
método de pesquisa a revisão de literatura simples, realizada por meio de pesquisa
exploratória e com base em uma análise de dados qualitativa.

De acordo com Severino (2016), a revisão de literatura é o meio pelo qual o


pesquisador se utiliza de registros de fontes e pesquisas publicadas anteriormente
por outros autores. Para o autor, as pesquisas bibliográficas de cunho exploratório
buscam então explorar um tema com base no que outros autores já trabalharam,
“levantando informações sobre um determinado objeto” (SEVERINO, 2016, p.132).
Após levantadas as informações em pesquisas já publicadas, é realizada então uma
análise de dados qualitativa por meio da investigação dos textos com objetivo de
compreender os diferentes pontos de vista a respeito do assunto estudado, como
também articular os conteúdos, podendo assim levantar possíveis conclusões.

Desta forma, realizamos então a leitura de artigos científicos publicados na


plataforma Scielo utilizando os descritores: saúde mental e redes sociais; sofrimento
psíquico e mulheres; redes sociais e mulheres; feminismo e redes sociais;
ciberfeminismo. Assim, encontramos 291 artigos publicados. Como critério de
inclusão neste trabalho, optamos pela escolha de 27 artigos escritos em língua
portuguesa, e que possuem relação com o tema pesquisado. Os artigos foram lidos
na íntegra, e ampliados a partir da articulação com autoras e autores como Anthony
Giddens, Byung-Chul Han, Denise Sant’Anna, Donna Haraway, Joana Novaes,
Naomi Wolf, Patricia Hill Collins, Pierre Lévy, Valeska Zanello, Vladimir Safatle e
Zygmunt Bauman.

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Notas sobre os modos de subjetivações das mulheres

A subjetividade é um conceito amplo e utilizado frequentemente pela


Psicologia e por outras áreas do conhecimento científico, e seu uso está quase
sempre associado ou posto como sinônimo de outros conceitos, tais como
individualidade, personalidade e identidade (SILVA, 2009). O objetivo deste trabalho
não é realizar tais distinções, contudo, para fins de compreensão do texto,
entendemos a subjetividade a partir da contribuição da Psicologia Histórico-Cultural,
ou seja, como um “processo de constituição do psiquismo” (SILVA, 2009, p. 174) e
que envolve uma relação dialética entre aquilo que nos é particular e o que é externo
à nossa existência. Esta visão, desenvolvida principalmente através das ideias de
Vygotsky, rompeu com tradicionais compreensões pautadas em dicotomias sobre o
biológico e o social, como também perspectivas individualizantes sobre os
processos de saúde e doença (AITA; FACCI, 2011; REY, 2004, 2005).

Para a Psicologia Histórico-Cultural, é a partir desta reciprocidade entre o que


nos é interno e externo, somadas aos contextos históricos, culturais e sociais, que
se produzem as diferentes experiências que caracterizam o que é particular em
cada pessoa (REY, 2004, 2005). Além disso, González Rey (2004, p. 67) afirma que
“outros contextos sociais podem acarretar consequências diferentes nas histórias
pessoais marcadas pela fome, pelo estupro e pela violência, [...], e como resultado
ter também impactos diferentes na configuração da subjetividade”. A partir de tal
explicação, entendemos que diferentes contextos nos quais as pessoas estão
expostas, que podem ser marcados por vivências de privilégios ou de
vulnerabilidades, vão produzir consequências diferentes em suas histórias e em
seus processos de subjetivação. Sendo assim, a depender do contexto em que
estão inseridas, essas pessoas terão acesso diferencial a determinados recursos, e
este fato pode repercutir em seus processos de saúde e doença (REY, 2004, 2005).
Esta é uma perspectiva crítica à concepção biomédica e naturalizante da saúde
mental e, neste caso, se contrapõe a uma ideia que culpabiliza apenas o sujeito pelo
seu sofrimento psíquico2, já que todo adoecimento envolve características
biológicas, psíquicas e sociais (SILVA; TULESKI, 2015; SILVA, 2021).

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Sobre sofrimento psíquico ou adoecimento mental, entendemos este como “um processo de desorganização
e/ou desintegração do psiquismo” (SILVA, 2021, p. 233).

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Por se tratar de um processo, o conceito de subjetividade também abrange


dinamicidade e transformação, e não pode ser entendido como uma categoria
singular ou estática, pois existem diferentes subjetividades e modos de subjetivação
(SILVA, 2009). Esta definição é ampliada nos estudos de Michel Foucault, para o
qual “a subjetividade não é alguma coisa que nós somos; é uma atividade que nós
fazemos. A subjetividade é relacional, dinâmica e inquieta, potencialmente
indisciplinada e imprevisível” (McGUSHIN, 2018, p. 176). Ainda de acordo com
Foucault, a subjetividade não pode ser compreendida como uma essência, mas
como uma prática e/ou ação (McGUSHIN, 2018).

Segundo Valeska Zanello, os modos de subjetivação de mulheres e homens


perpassam uma questão de gênero, pois “as mulheres se subjetivam por meio do
dispositivo amoroso e materno; e os homens, por meio do dispositivo da eficácia”
(ZANELLO, 2022, p.57). A autora acredita que os estereótipos de gênero, ainda
pautados no binarismo masculino ou feminino, geram sofrimentos psíquicos distintos
para homens e mulheres. Por este motivo, o discurso do sofrimento para os homens
está quase sempre relacionado com questões de trabalho ou virilidade sexual, no
caso das mulheres os temas mais observados são preocupações com o corpo,
maternidade, família, silenciamento e relações amorosas (ZANELLO, 2018). Para as
mulheres negras, as imagens estereotipadas de serviçal obediente, da matriarca
agressiva, da mãe fracassada que faz uso de benefícios do Estado e da mulher
vulgar, as colocam em posição de desumanização e/ou desvalidação de sofrimentos
advindos do racismo (COLLINS, 2019; KILOMBA, 2019)

Esta percepção é acentuada quando nos deparamos com dados da


Organização Mundial de Saúde sobre transtornos de ansiedade, depressão e
mortalidade por suicídio no Brasil. De acordo com dados da Organização Pan-
Americana de Saúde, o Brasil ocupa hoje a primeira posição entre os países que
mais sofrem com transtornos de ansiedade, e a sexta posição quando tratamos a
respeito de transtornos depressivos (PAHO, 2021). Além disso, um boletim
epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2021 também
revela que, entre 2010 e 2019, ocorreram 112.230 mortes por suicídio no país.
Embora o indicie de mortalidade por suicídio seja maior entre os homens, as
mulheres cometem mais tentativas e realizam mais lesões autoprovocadas. O

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boletim destaca que essa menor letalidade das mulheres pode estar relacionada os
fatores como “o baixo consumo de álcool em relação aos homens, redes de apoio
mais consolidadas, um cuidado maior com sua própria saúde e emprego de meios
menos letais” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021, p. 7). O estudo também aponta a
questão geracional e a vulnerabilidade social vivida pela população LGBTQIAPN+
como fatores de risco para o suicídio.

Observamos também que grande parte das publicações sobre o conceito de


subjetividade não articulam em suas análises as questões de gênero, raça e classe.
Neste ponto, concordamos com a afirmação de Djamila Ribeiro (2019, p. 41) de que
“a insistência em falar de mulheres como universais, não marcando as diferenças
existentes, faz com que somente parte desse ser mulher seja visto”, neste caso todo
o foco recai para o estereótipo da mulher branca, magra, cis e heterossexual. Assim,
quando colocamos as mulheres como tema de estudo, consideramos de grande
importância essa articulação, pois sabemos que a vida das mulheres negras e/ou
trans é impactada de maneira significativa e distinta pelas experiências do racismo e
da desigualdade socioeconômica (JESUS, 2021).
É incontestável o fato de que o racismo impacta nas subjetividades das
mulheres negras e produz efeitos em sua saúde física e mental. Esses efeitos
englobam sentimentos de desumanização, invisibilidade, exclusão social, tristeza,
ansiedade, prejuízos na autoestima, depressão, transtornos psiquiátricos, e outros
(SANTOS; DIAS, 2022). Na mesma direção, esses impactos também são sentidos
pela população trans e travesti devido à constante negação de direitos e imposição
de situações de marginalização que são submetidas (JESUS, 2021).

Somadas às questões já apresentadas, Vladimir Safatle (2021) e Byung-Chul


Han (2018c; 2018b) também alertam para os efeitos do neoliberalismo na
constituição psíquica dos sujeitos.De acordo com Safatle, o neoliberalismo cria
doenças, novos sofrimentos e marca as subjetividades. Para Han, ele cria uma
forma de poder não-coercitivo e uma violência da positividade pautada na
superprodutividade e no superdesempenho. No lugar da proibição, da repressão e
da negatividade, é vendida uma ideia de falsa liberdade na qual todo esforço é
recompensado pelo mérito. Na corrida por esse sucesso, o sujeito se insere em um
processo de autocobrança, que resulta em sentimentos de cansaço e possíveis

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adoecimentos psíquicos. Já de acordo com Safatle, “o sofrimento psíquico guarda


uma dimensão de expressão de recusa e de revolta contra o sistema social de
normas” (SAFATLE, 2021, p. 33), ou seja, esse sofrimento aponta para uma não
aceitação e um caráter de resistência do sujeito para com as normas pré-
estabelecidas. Para as mulheres, o sofrimento pode revelar uma não conformidade
com os padrões de feminilidade impostos pela sociedade.

Portanto, apesar dos adoecimentos psíquicos acometerem as pessoas de


maneira única e singular, há um caráter político e social em tais sofrimentos. No
caso das mulheres, esse caráter coletivo do sofrimento permite que suas vivências
semelhantes sejam compartilhadas e reconhecidas entre si, possibilitando a criação
de redes de apoio, pois existe uma “partilha social do gênero no sofrimento
psíquico” (ZANELLO; FIUZA; COSTA, 2015, p. 239). Esta rede de solidarização,
apoio e proteção entre mulheres é muito conhecida dentro do movimento feminista
partir do termo sororidade, cunhado pela Kate Milet (COSTA, 2021). Contudo, como
observado pela Vilma Piedade, este termo ainda é frequentemente utilizado sem
considerar as variáveis interseccionais de raça, classe e gênero, e carecia de uma
redefinição. Sendo assim, ela cunhou o conceito de “dororidade” para se referir à
união de mulheres a partir do compartilhamento de experiências de dor e
sofrimento, o que direciona um olhar mais atento para as experiências de racismo
sofrido pelas mulheres pretas (COSTA, 2021).

Subjetivações das mulheres em tempos de mídias sociais


A popularização da internet e das mídias sociais suprimiu as barreiras entre o
privado e o público, como também entre o mundo online e offline, impactando direta
e indiretamente na forma como os indivíduos constroem suas subjetividades (HAN,
2018a; HASKY; FORTES, 2022). Para autores como Bauman (2007) e Han (2018a),
utilização dessas tecnologias pode afetar negativamente as relações interpessoais,
tornando-nos seres mais individualizados e imediatistas, preocupados apenas com a
imagem e a superexposição do íntimo, e criando uma confusão entre os limites do
público e do privado. Esse uso também pode gerar prejuízos para a qualidade de
vida das pessoas em termos de saúde física e emocional, desencadeando
problemas de concentração, aprendizagem, alterações no sono, aumentando a
presença de sintomas ansiosos e depressivos (MOROMIZATO et al., 2017).

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No que diz respeito às mulheres, esses impactos são acentuados quando


retomamos a análise de que os estereótipos de gênero provocam sofrimentos
psíquicos distintos dos que são sentidos pelos homens (ZANELLO, 2018). Para as
mulheres, antes mesmo da popularização da internet no século XX (GIDDENS,
2006), a publicidade já vendia, através do seu discurso, estilos de vida e padrões
sociais que reforçam papéis ditos como femininos, principalmente a preocupação
com o corpo e a aparência física (TEIXEIRA, 2009). No livro História da Beleza no
Brasil, Denise Bernuzzi de Sant’anna (2014) destaca o papel da publicidade na
criação e recriação dos ideais de beleza. Para a autora, “desde a década de 1880,
um novo apreço pela aparência jovem ganhou espaço na propaganda impressa”
(SANT’ANNA, 2014, p. 25). Isso se deu principalmente pela Proclamação da
República, em 1889, e pela ascensão dos ideais modernistas e de progresso
científico. Desde então, a publicidade passou a se debruçar sobre assuntos
relacionados à saúde e embelezamento, cuidados com o corpo, higiene, produtos
de beleza e perfumaria.

A beleza tornou-se então uma indústria, moldada a partir de cada época e


contexto histórico e cultural específico. O que antes era tido como um dom ou
aspecto de “natureza divina”, agora é algo que pode ser alcançado com esforço e
mérito. Nas revistas e propagandas esse mercado da beleza é ampliado e vendido
como um estilo de vida (SANT’ANNA, 2014; TEIXEIRA, 2009). Conforme dito pelas
autoras Amliz Lopes e Érika Mendonça (2016, p. 22), “os meios midiáticos, como a
televisão, revistas, jornais, outdoors e redes sociais, contribuem na produção e
propagação de valores e, portanto, de modos de se constituir sujeito”. Neste ponto,
vale ressaltar que a mídia e a indústria da beleza eram voltadas primordialmente
para o público branco e, quando destinadas ao corpo negro, buscavam propagar
ideias eugenistas de branqueamento da pele (SANT’ANNA, 2014) ou de
sexualização da mulher negra (hooks, 2019). A historiadora Giovana Xavier explica
o uso de artifícios para clareamento da pele negra “como uma alternativa para se
manterem vivas e seguras” (XAVIER, 2021, p. 79).
Em “O intolerável peso da feiúra”, Joana Novaes (2013) também destaca o
aspecto moral atribuído à beleza, retomando a dimensão social e cultural do corpo.
Para ela, a não conformidade com os padrões de beleza também é uma forma de
exclusão social, pois é em torno do corpo que “se constroem laços de aliança, de

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admiração, de amizade e de afeto, mas também se justificam gestos de


antagonismo, de discriminação e de exclusão” (NOVAES, 2013, p. 16). Sendo
assim, na possibilidade de serem incluídas socialmente, as mulheres passam a se
utilizar de diferentes métodos de embelezamento, que vão desde dietas,
procedimentos estéticos e cirurgias plásticas3.

Para Naomi Wolf (2019), essas imagens propagadas sobre o corpo das
mulheres servem como um instrumento político para mitigar os avanços e
progressos conquistados pelas mulheres na sociedade, o que ela denominou como
“mito da beleza”. Esse mito afeta todas as mulheres e vai “pouco a pouco, tomando
conta da vida simbólica/subjetiva do sujeito” (NOVAES, 2013, p.30). Ele também é
utilizado como um recurso para acentuar a competitividade e rivalidade feminina,
colocando as mulheres umas contra as outras, o que dificulta a ascensão social e
obtenção de poder por parte desses grupos (WOLF, 2019).

Nas redes sociais, os ideais de beleza da mulher padronizada são


intensificados através do culto ao “corpo perfeito” (APROBATO, 2018). No Brasil,
ainda existem poucos trabalhos acadêmicos que se dedicam a analisar os impactos
que essas mídias sociais produzem nas subjetividades dos indivíduos,
especialmente quando definimos as mulheres como tema de estudo. Contudo, já é
possível identificar pesquisas que relacionam o uso destas plataformas digitais com
a insatisfação corporal de mulheres adolescentes (APROBATO, 2018; LIRA et al.,
2017; SERPA, 2016), como também com a naturalização de discursos misóginos e
racistas contra mulheres negras (TRINDADE, 2020), e a pedofilização dos corpos
femininos (SERPA, 2016)

Em estudo realizado com 212 adolescentes do gênero feminino, de idade


entre 10 a 18 anos, constatou-se que 85,8% das entrevistadas demonstrou
insatisfação com a própria imagem corporal. Esta insatisfação também esteve
associada com a frequência de uso das redes sociais e a internalização de padrões
ideias de beleza. De acordo com o estudo, meninas que acessam redes sociais
como Facebook e Instagram diariamente têm mais chances de se sentirem
insatisfeitas com a sua aparência e internalizarem um padrão de beleza que valoriza

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Segundo o Portal de Notícias G1, o Brasil está em segundo lugar no ranking de países que mais re-
alizam cirurgias plásticas no mundo, ficando apenas atrás dos EUA (GARCIA, 2022).

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o corpo magro (LIRA et al., 2017). Também se faz necessário ressaltar que, para o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), a insatisfação
corporal é considerada fator de risco para o desenvolvimento de transtornos
alimentares, tais como bulimia e anorexia (FORTES et al., 2015).

Naomi Wolf (2019) também discute sobre os efeitos da superexposição à


pornografia nas sexualidades e subjetividades das mulheres. Ela demonstra uma
preocupação especial para uma “pornografia da beleza”, estampada nas capas de
revistas, filmes e televisão. Esta forma “leve” de conteúdo pornográfico constrói a
identidade sexual das mulheres e produz efeitos que intensificam a pressão contra o
próprio corpo, causando insatisfação e obsessão com a imagem corporal,
naturalização de violências, repressão sexual, e ódio a si, “tornando mulheres
violentas consigo mesmas” (WOLF, 2019, p. 208). Essa objetificação das mulheres
ganha uma outra repercussão quando partimos para analisar o caso das mulheres
negras. De acordo com Patricia Hill Collins (2019, p. 238), “as imagens
pornográficas aplicadas a mulheres brancas e a mulheres de cor são diferentes”,
pois, se as mulheres brancas são representadas como objetos, as não-brancas são
desumanizadas e reduzidas a categoria de animais (COLLINS, 2019).

A superexposição à pornografia também impacta nas subjetivações e


sexualidades de crianças e adolescentes, como destacado através do estudo da
pesquisadora Monise Serpa (2016) sobre erotização infantil, pedofilização e
relações de gênero. Para Monise Serpa (2016, p.47), “por meio do desenvolvimento
do ciberespaço, a pedofilia ganhou um terreno fértil para seu exercício e
divulgação”.O compartilhamento sem autorização de imagens íntimas (ou
vazamento de nudes) também pode gerar consequências na vida das mulheres e
meninas, refletindo no cotidiano das vítimas por meio de julgamentos morais,
culpabilização, violências físicas e verbais, depressão e tentativas de suicídio
(CASTELLO et al., 2021, p. 78).

Com a ascensão da internet e das mídias sociais, houve também a


proliferação dos discursos de ódio. Isso se deu principalmente pela falsa sensação
de uma dissociação entre o “real” e o “virtual”, pela ausência de cumprimento de leis
que punam com seriedade os crimes cibernéticos, e pela possibilidade de
anonimato por trás de tais discursos (HASKY; FORTES, 2022; ROSHANI, 2020;

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TRINDADE, 2020). Nesta medida, também é importante ressaltar que grande parte
das manifestações de ódio publicadas no ambiente do ciberespaço são destinadas
às mulheres negras, e que estas “representam 81% das vítimas de discursos
racistas no Facebook” (TRINDADE, 2020, p. 30). Elas também são alvo de
discriminações raciais algorítmicas, tendo seus corpos inviabilizados ou associadas
a categorias negativas nos bancos de imagens, filtros ou aplicativos de visão
computacional e inteligência artificial (CARRERA, 2020). Essa violência, além de ser
um reflexo de como a cultura e a sociedade representam os corpos das mulheres
negras como descartáveis, desumanizados e hiperssexualizados, também são uma
forma de reforçar e perpetuar tais imagens (COLLINS, 2019; hooks, 2019).

São a partir destes modelos e representações de gênero, agora amplamente


disseminados através das redes sociais, que as subjetividades femininas são
constituídas (SERPA, 2016). Contudo, pensar as subjetividades das mulheres
apenas como um produto ou construção dessas interações sociais é, de certa
forma, reduzir as experiências das mesmas e invisibilizar suas capacidades de
construção e ação social.

Outras possibilidades de usos das mídias sociais


Os modos de subjetivação dos sujeitos são marcados pela interação entre
aquilo que lhe é interno e externo, como também pela relação com seu contexto
histórico-cultural (AITA; FACCI, 2011; REY, 2004, 2005). Por este motivo, não há
como sustentar a ideia de que há uma essência universal feminina comum a todas
as mulheres, ou de que suas subjetividades são moldadas e constituídas
exclusivamente pela interação que estas possuem com as redes sociais, pois elas
são capazes de construir, e constroem, outras possibilidades de usos e significados
para tais plataformas digitais.

Embora as redes sociais possuam um caráter disseminador de estereótipos e


violências diversas contra as mulheres, a ocupação desses espaços virtuais
também as possibilitam acesso a informações e conhecimento que ultrapassam as
barreiras do digital (COELHO; 2016; SANTOS, 2018), promovendo a articulação de
mulheres em grupos sociais e organizações políticas, e criando uma forma de fazer
a militância feminista denominada ciberfeminismo (MARTINEZ, 2019, 2021).

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As discussões sobre feminismos e tecnologia remontam aos anos 70 e 80,


mas ganharam fôlego com a popularização da internet nos anos 90, como também
sob influência dos estudos de Donna Haraway (FERREIRA, 2015). As primeiras
pautas ciberfeministas já questionavam normas ligadas aos padrões estéticos de
feminilidade (FERREIRA, 2015), e foram alcançando espaço não como uma nova
vertente feminista (SANTOS, 2018), mas como uma apropriação do ciberespaço
para a disseminação de ideias, troca de experiências e conhecimentos, o que
possibilitou uma maior aproximação e visibilidade para as mulheres e suas
demandas, facilitando também a organização de movimentos de rua (COELHO,
2016; FERREIRA; 2015; MARTINEZ, 2019, 2021; SANTOS, 2018).

Mas essa militância virtual também é alvo de críticas. Para Byung Chul Han
(2018a), o ativismo digital não chega à vida “real” dos sujeitos, pois as
manifestações em rede “se inflam repentinamente e se desfazem de maneira
igualmente rápida” (2018a, p. 21). Há também quem associe o ciberfeminismo a um
feminismo elitizado, considerando o fato de que o acesso à internet no Brasil ainda
não é democratizado para todas as pessoas (MARTINEZ, 2021). Em contrapartida,
os últimos anos foram acompanhados de um aumento significativo no uso de
internet por populações residentes de áreas rurais ou por pessoas “segregadas”
socialmente – em termos econômico, de gênero, raça ou de idade (CGI.br, 2021).
Além disso, pesquisadoras já apontam para a importância da militância virtual na
transformação da realidade de vida das mulheres, como também para a discussão e
construção de políticas públicas que atendam às demandas deste público (CALDAS,
2017; COELHO, 2006; OLIVEIRA; PINTO, 2016; ROSHANI, 2020).

Na plataforma do Twiiter, ações como a disseminação das hashtags


#MeuAmigoSecreto e #MeuPrimeiroAssédio, criadas pelos coletivos feministas
“Think Olga” e “Não me Kalho”, auxiliaram mulheres a relatarem situações de
machismo, assédio e violências sofridas pelas mesmas, impactando também no
aumento de denúncias realizadas ao Canal de Atendimento à Mulher da Secretaria
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (COELHO, 2016). O uso
das hashtags também foi empregado para modificar expressões racistas nas redes
sociais, por iniciativa da Monique Evelle. Ela reformulou afrase “A coisa tá preta”,
para a expressão “Se a coisa tá preta, a coisa tá boa”, modificando o tom

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discriminatório da expressão, e “viralizou ao redor do Brasil com as hashtags


#seacoisatapreta, #seacoisatapretaacoisataboa” (ROSHANI, 2020, p. 57).

No Facebook, publicações criticando uma campanha publicitária da marca


Skol ganharam repercussão na mídia em fevereiro de 2015. A peça em questão foi
vinculada na época das festividades de carnaval, e trazia frases como “Esqueci o
não em casa”, gerando repercussões negativas e descontentamento do público
feminino, principalmente por incitar o assédio e a cultura do estupro. Após as
manifestações nas redes, a empresa decidiu retirar a campanha de circulação e
modificar seu discurso, trazendo novas frases para suas peças, tais como “Neste
Carnaval, Respeite” (SANTOS, 2018).

Ainda sobre o Facebook, destacamos a importância das diversas páginas e


grupos virtuais que se articulam para discussão de demandas relativas às mulheres
e ao feminismo. Por meio desses grupos, as participantes “debatem, trocam
experiências, compartilham notícias, artigos, pedem ajuda, ou simplesmente
utilizam-no para o aprendizado” (MARTINEZ, 2019, p. 15). Esses espaços também
servem como redes de apoio e espaços de acolhimento para as mulheres, a
exemplo dos grupos destinados à discussões sobre violência obstétrica, onde
mulheres de diferentes realidades se empoderam de conhecimento e informações
sobre direitos relativos ao parto. Munidas de conhecimento, elas passam a
questionar o poder público e reivindicar pela garantia de seus direitos, possibilitando
a ampliação de políticas públicas relativas às gestantes (OLIVEIRA; PINTO, 2016, p.
402). Já em grupos virtuais sobre cabelos e transição capilar, pautas como racismo,
padrão de beleza e estereótipos ligados à mulher negra são postos em discussão,
servindo também como espaços para acolhimento e fortalecimento das suas
identidades e autoestima (GOMES, 2020).

Sobre o YouTube, encontramos canais como Afros e Afins, DePretas,


JoutJout, Prazer, ellora e Tá Querida, onde são divulgados vídeos sobre autoestima,
saúde mental, gordofobia, racismo, feminismo, transfeminismo e hiperssexualização
da mulher negra. Trabalho similar também é visto dentro da rede social Instagram,
com destaque para a página @maselenuncamebateu, onde são compartilhados
relatos e denúncias de violências físicas e psicológicas sofridas por mulheres de
todo o Brasil (CALDAS, 2017; COELHO, 2016; ROSHANI, 2020; TORRES;

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PEREIRA; COSTA, 2021).

Há também a existência de comunidades virtuais e sites destinados à troca


de informações e experiências diversas entre mulheres. Na plataforma Women on
Web, mulheres de 151 países trocam depoimentos e histórias sobre experiências de
aborto, legal ou ilegal. O site foi criado em 2005 pela ONG holandesa Women on
Waves, e tem como objetivo promover apoio, compartilhar informações, e prestar
assistência para mulheres que vivenciaram um aborto induzido, ou que decidem
abortar em países onde o aborto é criminalizado, como no caso do Brasil (DUARTE;
SILVA; PINTO, 2020). Já na plataforma PretaLab, o foco é conectar mulheres
negras com o mercado de tecnologia. O site oferece programas de formações e
qualificações gratuitas para mulheres pretas e indígenas, como também estudos,
consultorias e banco de talentos, estimulando iniciativas públicas e privadas em prol
da inclusão de mulheres negras neste mercado de trabalho (OLABI, 2022).

Neste estudo, não foram encontrados trabalhos que abordassem a relação


entre ciberativismo e as mídias sociais Whatsapp e LinkedIn, nem mesmo que
realizassem um mapeamento de redes de apoio e ativismo digital entre a população
trans e travesti, o que acentua a escassez de trabalhos publicados sobre a temática.
Mas já é possível identificar, por meio dos estudos mencionados, que esse
ciberativismo já alcança a vida das mulheres e mostra resultados na transformação
das suas realidades de vida.

Considerações
As redes sociais já fazem parte do cotidiano de todas as pessoas, sobretudo
das mulheres, e seus usos criam demandas, desafios e problemáticas que
impulsionam visões polarizadas sobre seus desdobramentos na vida dos sujeitos.
Se por um lado existe um campo de estudos dedicado a observar os prejuízos
causados por essas mídias digitais às relações humanas e sociais, há também um
outro campo que se dedica a analisar as novas possibilidades criadas por
intermédio das tecnologias.

No que diz respeito às relações entre mulheres e tecnologia ainda há uma


carência de publicações no Brasil sobre o tema, justificando a importância deste
estudo para suscitar debates sobre as relações que esses grupos estabelecem com

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as redes sociais, os modos de construção de subjetividades femininas, as diferentes


formas de sofrimento psíquico às quais as mulheres estão submetidas, e a
capacidade de criação de redes de apoio e ciberativismo nestes ambientes. Para
elas, as redes sociais possuem um caráter antagônico: ora servem como
disseminadoras de estereótipos, violências diversas e potenciam de novas formas
de sofrimento psíquico, ora como espaços que possibilitam acesso à informações e
conhecimento que ultrapassam as barreiras do digital, promovendo a articulação de
mulheres em grupos sociais e organizações políticas por meio do ciberfeminismo.

Apesar do seu caráter antagônico, não há como sustentar uma dicotomia


entre os impactos positivos e negativos dos usos das tecnologias e das redes
sociais para a subjetividade das mulheres. Concordamos que os problemas
vivenciados pelas mulheres nas redes sociais são um reflexo e extensão dos
mesmos problemas enfrentados fora do ciberespaço, o que é ilustrado pelos
inúmeros casos de violência e discursos de ódio destinados às mulheres nestes
ambientes. Contudo, essa polarização reforça uma visão estereotipada na qual as
mulheres são moldadas, de forma acrítica, pelas interações que estabelecem com
essas mídias digitais, reduzindo e inviabilizando suas capacidades de construção,
pensamento e ação social.

Em contraposição à ideia de Byung-Chul Han (2018a) de que o ativismo


digital não alcança a vida “real” dos sujeitos, defendemos que não é mais possível
uma divisão arbitrária entre os ambientes “online” e “offline”, pois ambos se
complementam e se entrelaçam no percurso das vidas das mulheres, e se
relacionam com os processos histórico-culturais da nossa sociedade. Destacamos
alguns trabalhos que contradizem essa visão e mostram alguns resultados do
ciberativismo na transformação da vida das mulheres, tais como: promoção de
maiores discussões, visibilidade e denúncias sobre situações de assédio e demais
violências sofridas pelas mulheres; criação de espaços para reivindicação de
direitos, como por exemplo os relativos ao aborto e ao parto humanizado;
modificação de expressões racistas utilizadas no cotidiano, como também de
discursos de peças publicitárias que corroboram com estereótipos de gênero e
cultura do estupro; e uma maior possibilidade de acesso a capacitações e inclusão
de mulheres pretas no mercado de trabalho.

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Sendo assim, acreditamos que os usos dessas tecnologias exercem


influências e desdobramentos que marcam as subjetividades femininas em
diferentes aspectos. No mesmo sentido em que criam novas demandas e não
solucionam todos os problemas vivenciados pelas mulheres, elas também oferecem
a possibilidade de transformação de suas vidas, servindo como redes de apoio,
troca de conhecimento e reivindicações de direitos.

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