Processo Judicial Eletrônico_

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14/11/2024, 17:38 Processo Judicial Eletrônico:

PROCESSO N.º: 0810621-27.2024.4.05.8400 - PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL


AUTOR: MAURÍCIO JOSÉ DE SOUZA (ADVOGADO: Dr. Fabio Fontes Estillac Gomez)
RÉ: UNIÃO FEDERAL
4.ª VARA FEDERAL - RN (JUIZ FEDERAL TITULAR)

DECISÃO

MAURÍCIO JOSÉ DE SOUZA, qualificado nos autos e através de advogado habilitado, propõe
ação cível pelo procedimento comum com pedido de tutela de urgência em face da UNIÃO
FEDERAL, também qualificada, visando à condenação da ré ao restabelecimento do
pagamento da Gratificação de Atividade de Segurança - GAS.

Alega a parte autora, em síntese, que: a) é servidor público do Ministério Público Federal, na
função de agente de segurança institucional, recebendo, em razão do exercício de função de
segurança, a Gratificação de Atividade de Segurança (GAS); b) a referida gratificação foi
indevidamente cancelada por meio de decisão da Secretaria-Geral do Ministério Público
Federal; c) encontra-se em afastamento do trabalho decorre de licenciamento para tratamento
de saúde, sendo seu quadro clínico gravíssimo, com diagnóstico de TEPT e acompanhamento
médico psiquiátrico; d) tem direito ao recebimento da GAS durante o afastamento para
tratamento de saúde, conforme disposto na Portaria PGR/MPU nº 61/201; e) o pagamento da
gratificação foi interrompido de forma indevida, o que tem causado danos a sua saúde
financeira e emocional, principalmente diante da necessidade de custear o tratamento médico e
terapêutico.

Com a inicial, junta documentos.

A União, ao se manifestar acerca do pedido de tutela de urgência, disse da impossibilidade de


concessão de tutela de urgência contra a Fazenda Pública e ainda que não estão presentes os
requisitos para a concessão da tutela provisória.

Junta documento.

É o que importa relatar.

Pretende a parte autora a concessão de tutela de urgência para restabelecimento do


pagamento da Gratificação de Atividade de Segurança - GAS.

Nos termos do Código de Processo Civil, é possível a postulação de tutela provisória fundada
em urgência ou evidência (art. 294).

Para a concessão da tutela de urgência, antecipada ou cautelar, faz-se necessária a


comprovação da probabilidade do direito e do perigo de dano ou de risco ao resultado útil do
processo. Tutela antecipada é aquela voltada ao reconhecimento e imediato gozo do direito; e
cautelar, a tendente apenas ao resguardo do direito a ser tutelado.

Não vislumbro, a princípio, óbice ao conhecimento da pretensão antecipatória.

A jurisprudência do col. Supremo Tribunal Federal firmou que a restrição legal à concessão de
liminares em mandado de segurança é inconstitucional por impor obstáculo à efetivação da
prestação jurisdicional (ADIN n.º 4.296). Esse entendimento se estende às demais restrições
existentes nas legislações com previsões correlatas, como à Lei n.º 8.437/92 e à Lei n.º
9.494/97, que vedam à antecipação de tutela por esgotamento do objeto da ação ou por se
tratar de vencimentos de servidor público.

Nesse sentido, o eg. Tribunal Regional Federal da 5.ª Região decidiu que "Em suas razões
recursais, em síntese, o IBAMA alegou que: a) impossibilidade de concessão de antecipação de
tutela com fundamento na Lei nº 9.494/97; b) regularidade do processo administrativo disciplina;
c) impossibilidade de o Poder Judiciário apreciar o mérito da penalidade; d) legitimidade dos
atos administrativos... Inicialmente, convém destacar que não merece prosperar a alegação de
impossibilidade de concessão de tutela de urgência. Em última análise, tal pretensão recursal
tem como base o art. 1.059 do CPC/15, o qual faz referência aos arts. 1.º a 4.º da Lei nº
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8.437/92, e ao art. 7.º, § 2.º, da Lei n.º 12.016/09. Ocorre que a vedação para a concessão de
tutela contra a Fazenda Pública não mais subsiste no ordenamento jurídico, tendo em vista que
o STF, ao se debruçar sobre o art. 7.º, § 2.º, da Lei n.º 12.016/09, considerou inconstitucional
impedir ou condicionar a concessão de medida liminar, por entender que tal norma caracteriza
verdadeiro obstáculo à efetiva prestação jurisdicional e à defesa do direito líquido e certo do
impetrante (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n.º 4296 DF; Rel. Min. Marco Aurélio; red.
p/ ac. Min. Alexandre de Moraes. 9 de junho de 2021). Nesse contexto, afastada pela Corte
Constitucional proibições legais que representam óbices absolutos ao poder geral de cautela,
descabe a alegação deduzida no bojo do recurso de apelação".[1]

Afastada a questão processual, passo ao exame da tutela de urgência.

Em exame perfunctório, característico das tutelas de urgência, entendo presente o requisito da


probabilidade.

A Portaria PGR/MPU n.º 61, de 2016, estabelece que a Gratificação de Atividade de Segurança
- GAS será devida durante os afastamentos por licença para tratamento da própria saúde (art.
13, inciso I).

O autor apresenta documentos médicos que atestam a gravidade de sua condição de saúde,
além de relatórios que confirmam a incapacidade temporária para a atividade laboral,
demonstrando que vem em tratamento com licenças médicas sucessivas desde 23 de março de
2023 (ids. n.º 4058400.15586803 a 4058400.15586822).

Nesse cenário, não se pode exigir submissão às atividades anuais necessárias para
preenchimento dos requisitos de manutenção da gratificação, vindo há mais de 1 (um) ano com
sucessivos afastamentos por problemas de saúde. A exigência de submissão às avaliações
para quem está de licença médica importa, por vias transversas, violação ao art. 13, inciso I, da
Portaria PGR/MPU n.º 61/16, dado o prazo e período de afastamento.

Eis a probabilidade do direito.

O perigo de dano também afigura-se evidente, já que a parte sofrerá de imediato a perda da
gratificação e, em consequência, redução de vencimentos, principalmente nesse particular
momento de doença incapacitante. Ademais, a medida poderá risco de agravar a condição de
saúde do autor, considerando a natureza do transtorno do qual padece.

Diante do exposto, defiro o pedido de tutela de urgência para que a ré se abstenha de excluir a
Gratificação de Atividade de Segurança - GAS da remuneração do autor ou, caso já o tenha
feito, seu restabelecimento já na próxima folha de pagamento.

Defiro o pedido de justiça gratuita.

Considerando a impossibilidade de autocomposição em razão da matéria, deixo de designar a


audiência de conciliação prevista no art. 334 do CPC, determino apenas a intimação da União
para apresentar defesa no legal, indicando as provas que pretende produzir.

A seguir, no prazo de 15 (quinze) dias, para réplica da parte autora.

Confiro à presente decisão força de mandado, a fim de que surta seus efeitos jurídicos
mediante simples apresentação, inclusive pela parte autora ou seu advogado, a quem de
direito.

Intimem-se.

[1] BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5.ª Região. Agravo de Instrumento n.º 0802531-44.2023.4.05.0000. Rel. Des. Fed.
Leonardo Augusto Nunes Coutinho. 4 de julho de 2023.

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Processo: 0810621-27.2024.4.05.8400
Assinado eletronicamente por: 24111409333954000000015728324
CLAUDIA FERREIRA NUNES - Diretor de Secretaria
Data e hora da assinatura: 14/11/2024 09:34:05
Identificador: 4058400.15680424

Para conferência da autenticidade do documento:


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