estrutura do violão
estrutura do violão
estrutura do violão
Monicky E. Zaczéski1 , Carlos H. Beckert1,2 , Thales G. Barros1 , Ana L. Ferreira3 , Thiago C. Freitas∗1
1
Universidade Federal do Paraná, Curso Superior de Tecnologia em Luteria, Curitiba, PR, Brasil
2
Beckert Luteria, Curitiba, PR, Brasil
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curso de Engenharia Mecânica, Câmpus Guarapuava, Guarapuava, PR, Brasil
In this article there will be developed a discussion about some of the main aspects of the functioning of the
acoustic guitars, beginning with a brief history putting in context the changes the instrument has been through the
centuries, including some notes made by the physicist Michael Kasha. Emphasis will be placed on the description
of the guitar bracing, a set of bars and tone braces that have acoustic and structural purposes and that presented
an evolution in form and complexity that accompanied the development of the guitar. A mathematical treatment
is made of the Helmholtz resonator formed by the air enclosed by the instrument’s body. Finally, a discussion is
developed about magnetic pickups, which were introduced in the first half of the 20th century to the guitars, with
the objective to obtain a higher sound intensity level and later led to the emerging of solid body instruments such
as the electric guitar and the electric bass.
Keywords: physics and music, strings, acoustic guitars, guitar bracing, magnetic pickups, acoustics.
Segundo Kasha [3], tanto o nome quanto o design dos nacional [9–11]. O seu uso para atividades de ensino de
violões modernos possuem grande influência de um ins- fı́sica é explorado em algumas obras, mas ainda restam
trumento persa: o chartar, que conta com quatro ordens muitas abordagens que podem ser exploradas nesse tema.
simples e uma caixa de ressonância com cintura acentu- Dentre elas, destacam-se o uso do violão para o ensino
ada. Ao chegar na Europa, o chartar teve mudanças na de conceitos de fı́sica ondulatória por Santos et al. [12]
aparência e no número de cordas. No começo da Renas- e também por Coelho et al. [13], o ensino de acústica
cença, a guitarra com quatro ordens de cordas duplas se através do violão e de um protótipo por Moura e Neto [14],
tornou dominante na Europa, mas logo depois foi des- e as propostas do uso do violão no ensino de Fı́sica do
bancada por uma parente italiana, a guitarra battente, grupo de Grillo et al. [15, 16]. Este artigo, também não
que possuı́a cinco ordens duplas, afinadas nas notas lá, vai abarcar todas as abordagens ou temáticas envolvendo
ré, sol, si e mi, do grave para o agudo, que é a mesma fı́sica e ensino através do violão, mas dará ao leitor algu-
afinação das cinco primeiras ordens que virão a se pa- mas outras possibilidades de conhecer o funcionamento
dronizar no violão moderno. Existem diversas guitarras do violão, através de uma descrição do instrumento a
renascentistas dessa época que foram modificadas para partir da Fı́sica e da Luteria combinadas.
que suportassem mais um par de cordas.
A referência mais antiga a uma guitarra de seis cor-
das [6] aparece em um anúncio de venda de um jornal
de Madri do ano de 1760, mencionada como vihuela, pa-
2. O violão: aspectos estruturais e
lavra usada como sinônimo de guitarra na linguagem acústicos
espanhola do século XVII em diante. Em tradução livre,
o anúncio do Diario noticioso universal de 3 de junho 2.1. Estrutura geral do violão
de 1760, nos traz o seguinte: ‘Na rua de Atocha, casa do
O violão é um instrumento musical, da famı́lia dos cor-
Granadino, vende-se uma vihuela com 6 ordens, feita por
dófonos compostos dedilhados, por possuir mais de uma
suas próprias mãos, boa para acompanhamento...’.
corda, as quais são colocadas em movimento usando
A guitarra mais antiga [6,7], com mais de cinco ordens
dedos, unhas, plectros ou palhetas [17].
simples que ainda se mantém preservada, é a de Francisco
O instrumento possui seis ordens de cordas simples
Sanguineo, que foi construı́da em Sevilha, Espanha, no
com comprimento acústico de 65,0 cm [12] entre a pes-
ano de 1759. Uma vez que este instrumento foi modificado,
tana e o rastilho, afinadas geralmente nas notas mi2 , lá2 ,
não se pode afirmar o seu número exato de cordas, porém
ré3 , sol3 , si3 e mi4 com frequências f = 82 Hz, 110 Hz,
sabe-se que eram no mı́nimo seis. Esse antepassado do
147 Hz, 196 Hz, 247 Hz e 330 Hz, respectivamente [18],
violão possuia um comprimento de corda vibrante de 670
usando como referência o diapasão de 440 Hz, podendo
mm e, uma estrutura interna no seu tampo, em forma
ainda haver inúmeras outras afinações [19]. Trata-se de
de um leque harmônico simples, o qual era constituı́do
um instrumento versátil pois, pela quantidade de cordas,
por três barras de madeira dispostas longitudinalmente.
suas notas e disposições, permite tanto a execução da
Em 1832, Louis Panormo construiu um instrumento
melodia, da harmonia ou de ambas em peças mais ela-
muito próximo ao que conhecemos hoje como violão
boradas. Existem algumas variantes do violão [20, 21],
clássico, embora seja menor e tenha uma cintura mais
dentre as quais podem-se destacar o violão clássico, o
acentuada. Em 1859, o luthier2 espanhol Antonio de Tor-
violão flamenco (destinado a música homônima), o violão
res Jurado criou o instrumento que atualmente acabou
jumbo (corpo de dimensões maiores que o violão clássico)
se definindo como o violão clássico [8]. As principais mo-
e, o violão de sete cordas (uma corda mais grave afinada
dificações introduzidas por Torres foram: aumento do
em dó ou ré) [22]. Apesar das diferenças, o elementos
tamanho da caixa acústica, modificações das proporções,
constituintes destes instrumentos são os mesmos, salvo
modificações do reforço interno do tampo em forma de
alterações e detalhes caracterı́sticos de cada um.
leque (com sete barras longitudinais dispostas simetri-
As principais partes do violão são mostradas nas figu-
camente) e a definição do comprimento de escala em
ras 1 e 2 e, na sequência as funções associadas a cada
650 mm. Essa combinação de modificações fez o violão
uma delas junto aos principais materiais utilizados serão
ganhar mais adeptos, tendo em vista que a sua capaci-
descritas. De maneira geral, o corpo do violão trans-
dade de projeção sonora aumentou consideravelmente, o
forma a onda transversal da corda em uma onda longi-
que fez com que o instrumento ‘Torres’ passasse a ser
tudinal irradiada pelo instrumento, através do ar, até o
considerado o modelo padrão do violão moderno.
ouvinte [12, 23]. Para que isso ocorra, são necessárias
Mesmo o violão sendo um instrumento amplamente
inúmeras partes com funções e ações bem definidas,
inserido na cultura musical brasileira, apenas algumas
começando pelo elemento gerador de som: as cordas,
obras discutem a sua importância na identidade e cultura
que podem ser de nylon ou aço [18] (podendo ocorrer
2 Luteria é a atividade profissional de manufatura, manutenção e res- somente com cordas de nylon ou de aço, ou ainda, ambas
tauração de instrumentos musicais de corda, mas, que para alguns
em conjunto em um mesmo instrumento), que aplicam
autores também inclui atividade com instrumentos de sopro em
madeira e o cravo. Luthier, luthière no feminino, é o/a profissional uma tensão considerável no instrumento, podendo ultra-
que exerce esta ocupação. passar 500 N.
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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0192 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 1, e1309, 2018
e1309-4 Violão: aspectos acústicos, estruturais e históricos
A partir dessa descrição, percebe-se a importância remetemos o leitor interessado as referências [34,35] para
de que o posicionamento dos trastes seja preciso para uma abordagem mais técnica ou, referência [36] para
que as notas emitidas possuam as frequências corretas. uma versão mais descritiva. Como o cavalete encontra-se
A partir da eq.(1), considerando apenas a dependência acoplado ao tampo através de colagem, o último acaba
da frequência com o comprimento da corda tem-se f ∝ por ser o elemento responsável pela sustentação de toda
`−1 . Para que a frequência aumente
√ o correspondente a tensão promovida pelas cordas, distribuindo-a pelas
a mudança de um semitom (f → 12 2f ), o comprimento demais partes do corpo [37]. Assim, faz-se necessária uma
precisa diminuir seguindo ` → 12√ `
2
. A posição Xn do estrutura interna de barras harmônicas que promove o
n-ésimo traste na escala, a partir da pestana, para n ≥ reforço estrutural do tampo - o qual possui em média
1, é dada por 5mm de espessura [24] - e também alterações mecânicas
n
1 na flexibilidade do mesmo, as quais compõem, juntas a
Xn = ` − ` 12√ . (2) outras partes, a estrutura do leque harmônico [4], o qual
2
será tratado na seção seguinte, dada a sua importância
O formato de número oito do corpo do violão é dado
para o instrumento. Já o fundo do violão, fecha a caixa de
através das laterais, ou faixas, que possuem uma curva-
ressonância, delimitando o volume de ar contido dentro
tura, obtida através do uso de calor e umidade [24,25,29].
do instrumento, atuando também na reflexão de ondas
Como as laterais são pouco espessas (1,6mm - 1,8mm),
sonoras no interior da caixa, tendo papel na projeção
são utilizadas faixas de madeira, eventualmente serrilha-
do som. Geralmente é construı́do a partir de jacarandá,
das, para aumentar a área de colagem entre as laterais e
maple, mogno e cipreste (Cupressus macrocarpa) [24]. As
o fundo e as laterais e o tampo, às quais dá-se o nome
travessas são estruturas coladas ao fundo do instrumento,
de contrafaixas [24]. Da mesma forma, os tacos internos,
com a função de promover reforço estrutural e manter
localizados nas emendas das laterais (taco superior para
a curvatura do fundo [38], sendo geralmente de abeto,
o que fica próximo a junção com o braço e inferior para
cedro rosa ou mogno.
o que fica na extremidade oposta), visam oferecer maior
resistência e robustez ao instrumento e, aumentar a área
de colagem entre as laterais. O salto [30], continuidade 2.2. Leque harmônico
do braço oferece sustentação deste com relação ao corpo,
2.2.1. Funções do leque harmônico
ampliando também a área de colagem com a parte das
laterais em que entra em contato [31]. Em um instru- A área do tampo do instrumento onde se assenta o ca-
mento com um salto do tipo espanhol, o taco interno valete, que inicia-se logo abaixo da boca e vai até a
superior, o salto e braço são uma só peça, onde as laterais extremidade do tampo, contornada pela curva inferior,
se encaixam [4]. funciona como um diafragma durante a emissão de som
Os frisos e filetes são tiras e lâminas de madeiras di- pelo violão. Para suportar a tensão exercida pelas cordas
versas, que contornam o instrumento, acompanhando o e minimizar as eventuais deformações devido a variações
formato do corpo [24], além de serem elementos deco- climáticas, existe o leque harmônico, que é um conjunto
rativos, eles destinam-se a proteger o instrumento de de barras coladas no lado interno do tampo, conforme
impactos mecânicos, em uma região onde choques po- mostra a figura 2. Sloane [4] descreve a funcionalidade do
dem levar a formação de amplas rachaduras na direção leque em também acoplar os movimentos desta superfı́cie,
da fibra da madeira [31]. Além de madeiras diversas, os de forma que o tampo possua modos de vibração com
frisos podem conter adornos em madrepérola, marfim certas caracterı́sticas.
ou osso [32]. No tampo do instrumento existe uma aber- Sendo o tampo solto considerado um oscilador, o
tura circular, denominada de boca, que tem a função de número, frequência, forma e amplitude dos modos nor-
acoplar o ar do interior do corpo do instrumento com mais criados, depende primariamente das propriedades
o meio externo, ela é também responsável por parte da elásticas do material, da forma, massa, espessura, rigidez
irradiação de som do instrumento [33], conforme vai ser e, atenuação do som. As barras modificam principalmente
descrito na seção que trata do ressonador de Helmholz e os valores de massa e rigidez, o que altera as proprieda-
o violão. Ao redor da boca encontra-se um ornamento, des elásticas do tampo e, consequentemente o regime de
denominado roseta, o qual como os frisos também possui oscilação [4].
função de promover reforço mecânico em uma região A estrutura do tampo de um violão deve ter um
naturalmente mais frágil do instrumento. A roseta e o equilı́brio entre flexibilidade e rigidez. O tampo deve
formato da mão são os elementos do violão onde o luthier ser reforçado o bastante para resistir à tensão sem gran-
possui mais liberdade para a criação artı́stica. des deformações e continuar flexı́vel o bastante para
O tampo do violão, geralmente confeccionado em abeto responder as vibrações transmitidas pelas cordas [39].
(Picea excelsa, Picea sitchense, Picea engelmannii), é uma A parte mais importante do leque é constituı́da pelo
das partes mais importantes no processo de irradiação de arranjo de uma série de barras longitudinais normal-
som no instrumento. A descrição, mesmo que simplificada, mente dispostas em forma de leque (divergindo a partir
dos seus modos de vibração e acoplamento com o corpo da cintura do instrumento), existem ainda duas ou três
seria demasiado extensa para este trabalho, sendo que barras conhecidas como barras harmônicas ou travessas
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que atravessam o tampo no sentido transversal acima 2.2.3. Caracterı́sticas de alguns leques históricos
e logo abaixo da boca [29]. Segundo Meyer [37] o leque
mais adequado para a produção de som é aquele em Caracterı́sticas dos leques dos construtores clássicos con-
que as barras longitudinais encontram-se separadas por forme descritos por Courtnall [29] e Friederich [38]. A
distâncias uniformes. Existem porém pesquisadores que representação esquemática destes leques é mostrada na
defendem a utilização de um sistema assimétrico e ra- figura 3, na forma de uma linha do tempo.
dial, de acordo com Kasha [40], o leque radial poderia
aumentar a amplitude dos movimentos produzidos pelo Leque Transversal: Nos violões primitivos, o tampo
tampo, e consequentemente a projeção sonora e o tempo era reforçado com algumas barras apenas no sentido
de ressonância. transversal, adaptadas dos sistemas comumente utiliza-
dos em alaúdes, estas barras eram dispostas em linha
reta ou ligeiramente anguladas. Esse sistema não é mais
2.2.2. Caracterı́sticas dos leques
utilizado.
Nesta seção são apresentadas e discutidas as princi-
pais caracterı́sticas4 encontradas na maioria dos leques
harmônicos de violão. Algumas outras abordagens podem
agrupar estas propriedades de maneira diferente, mas,
para efeitos deste artigo, este será o conjunto de carac-
terı́sticas consideradas mais importantes. A nomenclatura
foi adaptada do trabalho do luthier Daniel Friederich [38].
Aberto/fechado: Alguns leques possuem duas barras
diagonais que lembram o formato da letra V ao final
das barras longitudinais, estes leques são denominados
fechados. Aqueles que não possuem estas barras são
abertos.
Assimétrico/dissimétrico/simétrico: O leque si-
métrico é completamente idêntico em ambos os lados do
tampo. O leque dissimétrico possui simetria visual, porém
apresenta diferenças, por exemplo, na altura das barras.
O leque assimétrico apresenta diferenças na disposição
das barras ao compararmos as metades do tampo.
Inteiro/quebrado: o leque inteiro tem as suas barras
longitudinais percorrendo a superfı́cie abaixo do cavalete,
passando pelo contracavalete (se houver). No leque que-
brado as barras são interrompidas ao passarem pela área
onde se assenta o cavalete.
Em forma de leque/Em forma de X/ Em dis-
posição radial: Em forma de leque quando as barras
têm seu inicio logo abaixo da cintura do instrumento e
divergem a medida que se aproximam da extremidade
do tampo. Em forma de X quando existem duas barras
que se cruzam logo abaixo da boca do instrumento. Em
disposição radial quando as barras partem de uma barra
transversal localizada abaixo do cavalete.
Barras: Podem apresentar a seção transversal semi-
circular, quadrada, retangular, triangular e retangular
alta com desbastes nas extremidades [38]. Com relação
ao perfil da barra como um todo, pode ser em forma de
arco, reta com entalhes nas extremidades ou ainda, reta
com entalhes ou furos na extremidades e no corpo.
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Francisco Sanguineo: de Francisco Sanguineo (c. 1750), gitudinais e 4 barras menores ao lado da boca. Barras
luthier. Leque simétrico, com 3 barras longitudinais. transversais com aberturas que permitem a passagem
Leque em X: de Christian Friedrich Martin (1796 - das barras longitudinais.
1873), luthier. Leque assimétrico em forma de X desen-
volvido por volta da mesma época em que Torres criava
o seu sistema. Surgiu décadas antes das cordas de aço, 3. Aplicando Fı́sica no violão
porém por se adequar as necessidades dos violões de aço,
3.1. O ressonador de Helmholtz no violão
que suportam uma maior tensão, é mais utilizado nestes
instrumentos. Possui contracavalete. Um objeto com um volume interno V0 , um gargalo de
Torres: de Antonio de Torres Jurado (1817 - 1892), comprimento L e, uma abertura cuja área da seção trans-
luthier. Leque simétrico, fechado, com 7 barras longitu- versal é S é um ressonador de Helmholtz genérico. O
dinais. Nos primeiros violões as barras tinham a seção violão pode ser em primeira aproximação considerado
transversal no formato triangular, depois passaram a ser um ressonador de Helmholtz, cujas quantidades análogas
arredondadas. são o volume interno do seu corpo, a espessura do tampo
Hernandez: de Santos Hernandez (1874 - 1943), luthier. na região da sua boca e, a área da boca, respectivamente.
Leque simétrico, aberto, com 7 barras longitudinais. Ao se deslocar uma fatia de ar do tubo de uma quanti-
Hauser: de Hermann Hauser I (1882 - 1952), luthier. dade x, o volume do ar que estava dentro diminui, sendo
Leque simétrico, fechado, com 7 barras longitudinais. agora V = V0 − Sx e, a pressão interna aumenta, sendo
Possui contracavalete. Pi = P0 + P , onde P0 é o valor da pressão atmosférica
Fleta: de Ignacio Fleta (1897 - 1977), luthier. Leque e P o aumento da pressão devido ao deslocamento x.
assimétrico, fechado, com 9 barras longitudinais, 2 barras Relacionando a pressão e o volume com as suas respecti-
centrais, 1 barra em 90º e, 1 barra inclinada. Tampo mais vas variações através da razão dos calores especı́ficos γ,
espesso na área do cavalete, possui contracavalete. chega-se a
Bouchet: de Robert Bouchet (1898 - 1986), luthier. Le- P ∆V
que dissimétrico, aberto, com 5 barras longitudinais, 1 = −γ , (3)
Pi V0
barra transversal na área do cavalete, 1 barra central com
aberturas que permitem que as barras longitudinais se fazendo ∆V = Sx, uma vez que a variação do volume é
estendam até o reforço da boca. Apresenta tampo curvo. dada pela área da seção transversal do gargalo multipli-
Ramirez: de José Ramı́rez III (1922 - 1995), luthier. cada pelo deslocamento da fatia de ar e, considerando a
Leque assimétrico, fechado, com 6 barras longitudinais, pressão interna inicial igual a pressão atmosférica, pode-
sendo 1 barra central, 3 no lado das cordas graves e duas se rearranjar a equação (3) na seguinte forma
no lado das agudas, 1 barra central em 90º e 1 barra
P Sx
inclinada. Possui contracavalete. = −γ . (4)
Hernández y Aguado: de Manuel Hernández (1895 - P0 V0
1975), luthier e Victoriano Aguado (1897 - 1982), luthier. A massa da fatia de ar deslocada é dada por m = ρSL,
Leque assimétrico, fechado, com 6 barras longitudinais, sendo ρ a densidade do ar e, considerando a relação entre
meia barra diagonal no lado das cordas agudas. Possui força, pressão e área F = P S, de forma que a segunda
contracavalete. lei de Newton para o seu movimento passa a ser
Kohno: de Masaru Kohno (1926 - 1998), luthier. Le-
que assimétrico, fechado, 6 barras longitudinais, 3 do d2 x(t) PS
lado agudo, 1 central e 2 do lado grave. Possui 5 barras = . (5)
dt ρSL
transversais e também contracavalete.
Lattice: de Greg Smallman (19?? - ), luthier. Leque 2
Da equação (4), tem-se P S = − γPV0 S0 x
, o que substituido
simétrico, possui barras reforçadas com fibra de carbono,
em (5) leva a
proporcionando a redução da espessura do tampo.
Kasha: de Michael Kasha, (1920 - 2013), fı́sico-quı́mico. d2 x(t) γP0 S 2 γP0 S
Foi desenvolvido em colaboração com Richard L. Sch- 2
= − x(t) = − x(t). (6)
dt V0 ρSL V0 ρL
neider (1936 - 1997), luthier. Leque assimétrico, radial,
1 barra transversal na área do cavalete, barras curvas. q
Possui um número muito maior de barras do que sistemas Introduzindo a frequência angular ω = 2πf = γP 0S
V0 ρL
derivados de Torres, sendo estas mais curtas. Formato tem-se a equação diferencial para o movimento x(t) da
especial de cavalete adaptado ao leque. fatia de ar, a qual possui uma forma simples, dada por
Friederich: de Daniel Friederich (1932 - ), luthier. Leque
simétrico, fechado, com 7 barras longitudinais. Possui d2 x(t)
+ ω 2 x(t) = 0, (7)
uma barra transversal na região do cavalete. dt2
Romanillos: de Jose Romanillos (1932 - ), luthier. Le-
cujo conjunto de soluções [41] pode ser expresso como
que simétrico, parcialmente aberto, com 7 barras lon-
uma função oscilante com amplitude An , que possui uma
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4. Do violão para a guitarra elétrica excita uma membrana que produz o som, e é projetado
por uma corneta. Esse sistema apesar de ter sido mais
4.1. Desenvolvimento dos captadores popular em violinos foi usado em outros instrumentos da
magnéticos mesma famı́lia e, até mesmo chegou a violões e bandolins.
Uma das primeiras tentativas de “amplificação”5 do som Antes da invenção dos microfones e do sistema de
de instrumentos de corda foi a de Augustus Stroh [42], gravação elétrico, a gravação de sons era mecânica. A
que em 1900 usou no violino um sistema semelhante ao música era tocada próxima a uma corneta que possuı́a
do gramofone [43], figura 4. O cavalete do instrumento uma membrana flexı́vel, na qual estava presa uma agu-
5 Para
lha que imprimia as vibrações produzidas pelo som em
que haja amplificação de fato é preciso injetar energia no
um disco de cera [42]. Esse método limitava os sons
sistema, aqui o termo é utilizado para designar uma melhor projeção
do som, de modo que este seja percebido com maior intensidade que podiam ser registrados entre 350 Hz até 3000 Hz.
por estar sendo direcionado. Os instrumentos de Stroh foram amplamente usados na
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que se o ı́mã tiver um campo magnético muito intenso, de single coil [46] em inglês, com um núcleo magnético.
pode atenuar o movimento da corda, fazendo com que Este pode ter diversos tamanhos e formatos, sendo o mais
vibre por menos tempo depois de tocada, diminuindo o comum com seis polos magnéticos [47], posicionados em
chamado sustain. E ainda, diferentes cordas, para um baixo de cada uma das cordas, como mostrado na figura 5.
mesmo captador podem perturbar o campo magnético Todos os ı́mãs tem a mesma orientação e o polo sul é
~
B(t) de maneiras distintas, afetando o som do instru- virado pra cima, ficando mais próximo da corda. Os
mento. modelos mais conhecidos são os single coils das guitarras
A autoindutância L, segundo [55], é dada pela razão Stratocaster e Telecaster da marca Fender e o P-90 da
entre a força eletromotriz induzida e a variação temporal marca Gibson.
da corrente elétrica que percorre o indutor, tal que Um problema comum em captadores é que eles funcio-
nam como uma antena e sofrem interferência de campos
dI
= −L , (12) magnéticos externos ao instrumento. Em sons diretos do
dt instrumento e sem efeitos de drive7 ou boost8 a relação
sendo L a propriedade que traz a informação sobre as de sinal/ruı́do é boa, mas quando efeitos passam a estar
caracterı́sticas inerciais do circuito [53], sendo a sua uni- presentes, esta relação já não é mais satisfatória devido ao
dade o henry (H). Podendo ser tanto a auto-indutância, destaque do ruı́do em relação ao sinal. Visando encontrar
que é o valor da indutância de um componente ou do uma solução para esse problema, o captador humbucker
circuito do qual este faz parte ou, indutância mútua foi criado por Seth Lover e Walter Fuller [57] na década
quando existem dois ou mais elementos que influenciam de 1950. Este consiste em duas bobinas lado a lado, con-
um ao outro em um circuito. forme a figura 5, enroladas cada qual em um sentido
Como os indutores não são ideais e possuem resistência (horário e anti-horário).
interna, uma descrição mais próxima da realidade implica Essa montagem faz com que a corrente elétrica indu-
em considerar um indutor real como sendo a combinação zida nas diferentes bobinas por uma variação de campo
de um resistor (R) associado em série com o indutor magnético externo possua fases opostas, de maneira que
(L). Desta forma, no caso de um captador de guitarra,
o ideal seria classificá-lo através da sua auto-indutância
porém, o que ocorre na prática, é que mesmo fabricantes
utilizam o valor da resistência nominal do captador e não
de sua auto-indutância. De maneira geral, a resistência
interna de um captador, medida em corrente contı́nua,
pode variar de 5kΩ a 10kΩ conforme a arquitetura do
mesmo, já a indutância, apresenta valores que vão de 1H
a 10H [56]. Embora os conceitos sejam distintos, existe
uma certa coerência, uma vez que um captador vai ter
sua resistência (R) dada por
`
R=ρ , (13)
A
onde ` é o comprimento do fio, e A é a área da seção
transversal do condutor. Desta maneira, com o aumento
do número de voltas da bobina no captador, ocorre um
aumento da resistência interna do captador. Para o caso
da indutância, usando para fins de cálculos uma espira cir-
cular com N voltas, a indutância pode ser calculada [53]
de maneira que esta passa a ser proporcional ao qua-
drado do número de voltas da bobina e à área da seção
transversal. Desta forma, fazer referência ao captador Figura 5: Visão explodida de um captador magnético do tipo
single coil à esquerda e de um captador magnético do tipo hum-
pela sua resistência e não pelo valor da indutância é
bucker à direita, ambas as figuras adaptadas da referência [47].
uma descrição qualitativa válida, uma vez que quanto
As partes identificadas na figura são: 1 ı́mãs, 2 bobina(s) e 3
maior o número de espiras, maior serão a resistência e capa. Toda a estrutura do captador é montada sobre uma base
a indutância. Esta analogia porém, nem sempre é boa, na sua parte inferior.
Jugmann [56] exemplifica casos de captadores com alta
resistência elétrica mas, indutância relativamente baixa. 7O aumento do ganho causa a distorção, que é a saturação do som,
obtida pelo uso de amplificadores com volume no máximo, ou por
dispositivos (pedais, pré amplificadores) que causam o clipping (ou
4.3. Alguns modelos de captador ceifamento) do som quando ligados a cadeia de sinal.
8 A amplificação de som ligado a cadeia de sinal, que tem como
A forma mais simples que um captador magnético pode objetivo aumentar a intensidade sem causar o efeito de distorção,
ter, é composta de apenas uma bobina, por isso chamado ou de realçar frequências especı́ficas do sinal.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0192 Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 1, e1309, 2018
e1309-10 Violão: aspectos acústicos, estruturais e históricos
Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, vol. 40, nº 1, e1309, 2018 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2017-0192
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