APOSTILA MADALENA GEO

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

GEODÉSIA

Tópicos da disciplina de Geodésia do curso de


Especialização em Georreferenciamento de Propriedades
Rurais

Maria Madalena Santos, Dra.


01/06/2011
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Geodésia: é a ciência que estuda a forma, as dimensões, o campo de gravidade da Terra e suas
variações temporais. E pode ser dividida em: GEODÉSIA GEOMÉTRICA; GEODÉSIA FÍSICA;
GEODÉSIA CELESTE. Sendo que as observações angulares e lineares, junto das observações
astronômicas, relacionam-se com a Geodésia Geométrica. O conhecimento detalhado do campo de
gravidade é tratado na Geodésia Física. As medidas realizadas dos satélites artificiais encontram-se
na Geodésia Celeste. Nesta apostila daremos ênfase apenas a Geodésia Geométrica.

De qualquer forma, o principal objetivo da Geodésia e definir o posicionamento de pontos na


superfície terrestre e para isso utilizam-se metodologias de posicionamento, tais como:
posicionamento absoluto ou posicionamento relativo. Para isso, também se faz necessário conhecer-
se a geometria do campo da gravidade para a redução das observações geodésicas, obtidas na
superfície física da Terra, ao sistema de referência sobre o qual as posições são definidas. Outro
componente importante para o posicionamento é a variação temporal, sendo que ela é resultante das
deformações relacionadas com alguns fatores, tais como: marés terrestres, cargas crustais, forças
tectônicas, entre outras.

1.1 APLICAÇÕES DA GEODÉSIA

• Mapeamento: aplicada na implantação de apoio básico através de pontos de controle


(horizontais e verticais) para produção de mapas em pequenas ou grandes escalas.

• Projetos de engenharia: na definição de componentes estruturais em locais pré-


determinados, associando-se as coordenadas vinculadas a pontos de controle. Em grandes
obras como barragens, pontes e fábricas, se faz necessário o estudo de movimento do solo e
do nível da água. Também é muito importante, o conhecimento da forma das superfícies
equipotenciais do campo da gravidade, o monitoramento das estruturas e a determinação de
superfícies.

• Administracão Urbana: em áreas urbanas, as obras realizadas pelo homem, tais como:
serviços de utilidade pública devem ser definidos e documentados através de pontos de
controle para futuras referências.

• Ecologia: o estudo da movimentação do solo causada pela remoção de recursos minerais


(água, óleo, minério) ou depósitos subterrâneos de lixo. A monitoração desses movimentos
de matéria também é uma aplicação geodésica importante.

• Administração Ambiental: implantação de bancos de dados ambientais, visando um sistema


integrado de informações para transporte, uso da Terra, serviços comunitários e sociais,
cobranças de impostos, estatística populacional, entre outros, devem ter suas posições
vinculadas a redes geodésicas.

• Geografia: as informações posicionais usadas em Geografia são fornecidas pela Geodésia.


Ainda que não seja necessária a alta precisão nas informações geométricas e posicionais,
elas têm escalas globais e por isso são fornecidas pela Geodésia.

1.2 CONCEITOS

A interação entre a geometria e a distribuição da massa terrestre conduz a utilização de dois


modelos de Terra: elipsóide e geóide. Portanto, a determinação das coordenadas de pontos na

2
superfície terrestre e a descrição do campo de gravidade externo envolvem três superfícies: a
superfície física da Terra, a superfície geoidal e a superfície elipsoidal.

1.2.1 SUPERFÍCIE FÍSICA DA TERRA (SF)

É a superfície limitante do relevo topográfico continental ou oceânico e sobre ela que são
realizadas as medições geodésicas de distâncias, de ângulos, entre outras.

1.2.2 SUPERFÍCIE GEOIDAL - GEÓIDE (SG)

É a superfície equipotencial que coincide com o nível médio dos mares não perturbados. Esta
é a superfície que teoricamente passa pelos pontos de altitude nula, determinados pelos marégrafos.

1.2.3 SUPERFÍCIE ELIPSOIDAL – ELIPSÓIDE (SE)

É a superfície do elipsóide adotado, sendo que as observações geodésicas, obtidas na


superfície física da Terra, são reduzidas à superfície elipsoidal para todos os cálculos geodésicos.

2. SISTEMAS DE REFERÊNCIA

2.1 SISTEMA GEODÉSICO BRASILEIRO

O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é definido a partir de um conjunto de pontos


geodésicos implantados na superfície terrestre delimitada pela fronteira do país. Tal como qualquer
outro sistema geodésico de referência, ele pode ser dividido em duas componentes: - os data
horizontal e vertical, compostos pelos sistemas de coordenadas e superfícies de referência (elipsóide
e geóide) e a rede de referência, consistindo das estações monumentadas, as quais representam a
realização física do sistema. Para identificar a posição de uma determinada informação ou de um
objeto, são utilizados os sistemas de referência.
Também conhecidos como sistemas de referência terrestres ou geodésicos, estão
associados a uma superfície que se aproxime do formato da Terra, ou seja, um elipsóide. Sobre esta
figura matemática são calculadas as coordenadas, que podem ser apresentadas em diversas formas,
segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): em uma superfície esférica recebem
o nome de coordenadas geodésicas e em uma superfície plana recebem a denominação da projeção
às quais estão associadas, como por exemplo, as coordenadas planas UTM.
Assim, as coordenadas referidas aos sistemas de referência são normalmente apresentadas
em três formas:
• Cartesianas;
• Geodésicas ou Elipsoidais;
• Planas.

Os sistemas de referência são classificados em dois tipos:


• Clássico;
• Moderno.

2.2 SISTEMAS DE COORDENADAS CARTESIANAS

Este é um sistema coordenado cartesiano caracterizado por um conjunto de três retas (eixos
X, Y e Z), mutuamente perpendiculares (fig. 1).
Como sistema de referência geodésico também é conhecido como sistema de coordenadas
cartesianas geocêntricas, devido a sua origem estar assoada ao centro de massas da Terra
(geocentro).

3
Estas coordenadas ficaram mais conhecidas e utilizadas após a criação do sistema de
posicionamento global (GPS). As características deste sistema são:

• O eixo X coincide com o plano equatorial e orientado positivamente do centro de massa da


Terra e a intersecção deste plano com o meridiano de Greenwich (longitude 0º).

• O eixo Y coincide com o plano equatorial e orientado positivamente do centro de massa


terrestre e a intersecção com a longitude 90º.

• O eixo Z é paralelo ao eixo de rotação da Terra e orientado positivamente na direção Norte.

O sistema de referência cartesiano geocêntrico mais conhecido é o sistema geodésico Mundial


ou World Geodetic System ou simplesmente WGS 84, utilizado no sistema de posicionamento global
por satélites artificiais.

Figura 1 – Sistema de coordenadas cartesianas

2.3 SISTEMA DE COORDENADAS GEODÉSICAS

As coordenadas de um ponto na superfície terrestre são definidas por suas coordenadas


geodésicas (latitude, longitude e altitude geométrica ou elipsoidal) considerando-se um elipsóide de
revolução (fig.2). Define-se como coordenadas geodésicas de um ponto P qualquer na superfície do
elipsóide como:

• Latitude geodésica: é o ângulo formado entre a normal (linha perpendicular ao elipsóide) no


ponto considerado e o plano equatorial do elipsóide. Esta coordenada tem sinal positivo no
hemisfério norte e negativo no hemisfério sul, pode-se também ser indicada pela letra N
quando no hemisfério norte ou S no hemisfério sul.

4
• Longitude geodésica: é o ângulo formado entre o meridiano de origem (Greenwich) e o
meridiano do ponto considerado, contado sobre o plano equatorial. Esta coordenada é
positiva a leste de Greenwich e negativa a oeste. Podendo ser indicada pelas letras E e W
para leste ou oeste respectivamente.

• Altitude geométrica ou elipsoidal: corresponde a distância entre o ponto considerado à


superfície do elipsóide medida sobre a sua normal. Esta coordenada é nula sobre o elipsóide.

Os sistemas coordenados curvilíneos também podem ser representados no espaço 3-D através
do sistema cartesiano. O conjunto de formulações que fazem a associação entre estes dois sistemas
(geodésico e cartesiano) consta na Resolução da Presidência da República nº 23 de 21/02/89.

Figura 2 – Sistema de coordenadas geodésicas

2.4 SISTEMA DE COORDENADAS PLANAS

As coordenadas podem ser representadas no plano através nas componentes Norte (N) e
Leste (E) regularmente utilizadas em mapas e cartas, referidas a um determinado sistema de
referência geodésico. Para representar uma superfície curva em plana são necessárias formulações
matemáticas chamadas de projeções. Diferentes projeções poderão ser utilizadas na confecção de
mapas, no Brasil a projeção mais utilizada é a Universal Transversa de Mercator (UTM).

2.5 SISTEMAS DE REFERÊNCIA CLÁSSICOS

Historicamente, os sistemas geodésicos eram obtidos através das seguintes etapas:

1. Escolha de um sólido geométrico e seus parâmetros definidores.

2. Definição de um ponto de origem, um azimute inicial, determinação da separação


entre elipsóide-geóide e desvio da vertical. Com estas informações assegura-se a
boa adaptação entre a superfície do elipsóide e geóide na região onde este
referencial será desenvolvido. Sendo assim, o centro do elipsóide não está localizado
no geocentro. (IBGE 2003)

5
3. Realização de observações geodésicas através de ângulos e distâncias de origem
terrestre, materializando o referencial.

Os itens 1 e 2 abordam os aspectos definidores do sistema, enquanto o item 3 aborda o


aspecto prático na sua obtenção. Deste modo, as coordenadas geodésicas estão sempre associadas
a um determinado referencial, mas não o definem.
O conjunto de pontos ou estações terrestres forma as chamadas redes geodésicas, as quais
vêm a representar a superfície física da Terra na forma pontual. O posicionamento 3D de um ponto
estabelecido por métodos e procedimentos da Geodésia Clássica (triangulação, poligonação e
trilateração) é incompleto, na medida em que as redes verticais e horizontais caminham
separadamente. No caso de redes horizontais, algumas de suas estações não possuem altitudes, ou
as altitudes são determinadas por procedimentos menos precisos. Um exemplo de DGH no Brasil é o
SAD69.
O procedimento clássico de definição da situação espacial de um elipsóide de referência
corresponde à antiga técnica de posicionamento astronômico, na qual arbitra-se que a normal ao
elipsóide e a vertical no ponto origem são coincidentes, bem como as superfícies geóide e elipsóide,
induzindo assim, a coincidência das coordenadas geodésicas e astronômicas. Nestas condições
caracteriza-se a situação espacial do datum da seguinte forma:

φ0 = Φ0 ; λ0 = Λ0 ; h0 = H0

2.6 SISTEMAS REFERÊNCIAS MODERNOS

Com a era da geodésia espacial (satélites artificiais) os sistemas de referencia terrestres


passam a ter características diferentes em relação aos sistemas clássicos visto anteriormente, mas a
essência é a mesma no sentido de possuir uma parte definidora e atrelada a ela, uma materialização
(IBGE 1983). As etapas necessárias na obtenção destes sistemas terrestres são:

• Adoção de uma plataforma de referência que represente a forma e as dimensões da


Terra em caráter global (sistemas geodésicos de referência – SGR), sendo portanto
geocêntricos. Esta plataforma é derivada de extensas observações do campo
gravitacional terrestre e a partir de observações a satélites.

• A materialização do sistema terrestre geocêntrico é dada através de redes


geodésicas, entretanto, os métodos e procedimentos para sua obtenção utilizam-se
das técnicas espaciais de posicionamento, como por exemplo, o VLBI (Very Long
Baseline Interferometry), SLR (Satellite Laser Range) e o GPS (Global positioning
System). Estas técnicas possuem duas vantagens sobre as outras. A primeira
consiste no posicionamento tridimensional (3D ou X,Y,Z) de uma estação geodésica
e a segunda é sua alta precisão nas coordenadas.

2.7 MATERIALIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE REFERENCIA

Para a materialização de um sistema de referência são necessários vários ajustamentos das


redes geodésicas, relacionando os pontos físicos com um determinado referencial. O resultado,
estabelece um conjunto de coordenadas para as estações que constituem a materialização do SGR
(Sistema Geodésico de Referência). Usualmente, é comum adotar uma única denominação para
definição e materialização de um sistema (ex. SAD-69).

2.7.1 DATUM HORIZONTAL

6
É a superfície do elipsóide adotado na determinação das coordenadas da rede geodésica
horizontal. Esta superfície é definida através de dois parâmetros geométricos do elipsóide (a,α ) e três
parâmetros da sua orientação (n,ξ ,η ).
O conjunto de marcos assim estabelecidos com as respectivas coordenadas leva ao conceito
de sistema geodésico materializado. O que se desejou sempre foi uma perfeita coerência entre o
sistema definido e o materializado; entretanto, os erros inerentes aos processos de medição não
permitem geralmente uma completa identificação entre os mesmos.

2.7.2 DATUM VERTICAL


É a superfície geoidal adotada na determinação das altitudes da rede geodésica vertical. Esta
é a equipotencial do campo de gravidade que praticamente coincide com o nível médio dos mares,
definido a partir dos registros fornecidos pelos marégrafos. A altitude ortométrica, obtida através do
nivelamento, é referida a esta superfície enquanto que a altitude geométrica, obtida através do
posicionamento tridimensional, é referida à superfície elipsoidal.

2.8 SISTEMAS DE REFERÊNCIA GEODÉSICOS ADOTADOS NO BRASIL

2.8.1 CÓRREGO ALEGRE

O Brasil adotou durante muitos anos o DATUM “Córrego Alegre”. Este nome provém de um
vértice da triangulação, localizado nas imediações de Uberaba, e que constituía a sua origem. Este é
o Datum que foram elaboradas as cartas do IBGE, ainda em uso. Foram adotados os seguintes
parâmetros na definição deste sistema:

Ponto Datum: Vértice Córrego Alegre

Coordenadas: ϕ = -19º 50’ 14,91’’


λ = -48º 57’ 41,98’’
h = 683,81m

Superfície de referência: Elipsóide internacional de Hayford 1924


a = semi-eixo maior = 6.378.388 m
α = achatamento = 1 : 297,0

Ondulação Geoidal: N=0

2.8.2 ASTRO-CHUÁ

Com a finalidade de conhecer melhor o geóide na região do ponto datum, foram


determinadas 2113 estações gravimétricas em uma área circular em torno do ponto datum. Estas
observações tinham por objetivo o melhor conhecimento do geóide na região e estudos na adoção de
um novo ponto datum, considerando-se arbitrária a escolha anteriormente feita (forçada a condição
de tangência entre elipsóide e geóide). Como resultado destas pesquisas, foi escolhido um novo
ponto datum, o vértice Chuá, localizado na mesma cadeia do anterior e através de um novo
ajustamento foi definido um novo sistema de referência, denominado Astro Datum Chuá.
O Datum Astro-Chuá foi usado somente no SICAD (Sistema Cartográfico do Distrito Federal –
Brasília).

Ponto Datum: Vértice Chuá

Superfície de referência: Elipsóide internacional de Hayford 1924

7
a = semi-eixo maior = 6.378.388 m
α = achatamento = 1:297,0

Ondulação Geoidal: N = ignorada

2.8.3 SAD 69

O SAD 69 é um sistema regional de concepção clássica e com sua utilização recomendada


em 1969 na XI Reunião pan-americana de Consulta sobre Cartografia, porém sua adoção não foi
seguida pela totalidade dos países do continente.
A partir de 1979 a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através de
seu Departamento de Geodésia, decidiu por uma mudança. O projeto Datum Sul Americano foi
dividido em duas partes:

1 – Estabelecimento de um sistema geodésico tal que o respectivo elipsóide apresentasse


“boa adaptação” regional ao geóide.

2 – Ajustamento de uma rede planimétrica de âmbito continental referenciada ao sistema


definido.

A triangulação foi a metodologia observacional predominante no estabelecimento das novas


redes. Uma rede de trilateração HIRAN fez a ligação entre as redes geodésicas da Venezuela e
Brasil. Outra melhoria a ser implementada diz respeito à forma do elipsóide de referência. Na época,
a UGGI recomendou a utilização do GRS67, conduzindo, assim, à adoção desta figura no projeto
SAD69, ao invés do Hayford.
Escolhido o elipsóide de referência, era necessário fixar os parâmetros para o seu
posicionamento espacial. No caso do SAD69 este posicionamento deu-se em termos de parâmetros
topocêntricos no ponto origem Chuá: as componentes do desvio da vertical (ξ,η) e a ondulação
geoidal (N), cujos valores foram determinados de forma a otimizar a adaptação elipsóide-geóide no
continente.
A definição do sistema foi contemplada através do fornecimento das coordenadas geodésicas
do ponto de origem e do azimute geodésico da direção inicial CHUÁ-UBERABA. Os seguintes
parâmetros foram adotados na definição deste sistema:

Ponto Datum: Vértice Chuá

Coordenadas: ϕ = -19º 45’ 41,6527’’


λ = -48º 06’ 04,0639’’

Altitude ortométrica: 763,28m

Azimute geodésico: 271º 30’ 04,05’’ (Chuá-Uberaba)

Superfície de referência: Elipsóide internacional de 1967 (UGGI-67)


a = semi-eixo maior = 6.378.160 m
α = achatamento = 1:298,25

Ondulação Geoidal: N=0

2.8.4 SAD69 – realização 1996

8
O IBGE, através do Departamento de Geodésia possui a atribuição de estabelecer e manter
as estruturas geodésicas no Brasil. Muitas mudanças ocorreram na componente planimétrica na
última década. A começar pela utilização da técnica de posicionamento através do sistema de
satélites GPS, ampliando sua concepção ‘planimétrica’, pois são estabelecidas simultaneamente as
três componentes definidoras de um ponto no espaço. Esta alteração nos procedimentos de campo
repercutiu no processamento das respectivas observações, acarretando a necessidade de conduzir
ajustamentos de redes em três dimensões. Isso foi alcançado, no caso do reajustamento global da
rede brasileira, com a utilização do sistema computacional GHOST, desenvolvido no Canadá para o
Projeto North American Datum of 1983 (NAD-83). Além das observações GPS, as referentes à rede
clássica também participaram do reajustamento, formando uma estrutura de 4759 estações contra
1285 ajustadas quando da definição do SAD69. A Tabela da figura a seguir mostra uma comparação
entre as observações utilizadas no ajustamento das duas materializações do SAD69 (a original e a
atual, concluída em 1996).
O reajustamento concluído em 1996 combinou duas estruturas estabelecidas
independentemente por diferentes técnicas. A ligação entre elas é feita através de 49 estações da
rede clássica observadas por GPS. A rede GPS (por ser uma estrutura de precisão superior) tem por
função controlar a rede clássica. Algumas observações Doppler também foram incluídas no
ajustamento com este objetivo.

2.8.5 WGS84

O advento dos satélites artificiais, há mais de 35 anos, possibilitou o desenvolvimento prático


dos sistemas de referência geocêntricos, como por exemplo o sistema geodésico de referência
WGS84 (World Geodetic System 1984) e o ITRFyy (International Terrestrial Reference Frame) em
suas mais diversas realizações e densificações.
Na época de sua criação o sistema fornecia precisão métrica em função da limitação
fornecida pela técnica observacional utilizada, o Doppler. Por esta razão, uma série de refinamentos
foram feitos ao WGS84 nos últimos anos com o objetivo de melhorar a precisão de sua versão
original [NIMA, 1997]. A rede terrestre de referência do WGS84 foi originalmente estabelecida em
1987, contando somente com coordenadas de estações obtidas através de observações Doppler
(posicionamento isolado) e efemérides precisas. A última redefinição do WGS84, foi adotada no
Sistema GPS a partir de 20 de janeiro de 2002.

Ponto Datum: WGS84

Superfície de referência: Geodetic Reference System 1980 - GRS 80


a = semi-eixo maior = 6.378.137 m
α = achatamento = 1:298,257223563

Origem: Centro de massa da Terra

2.8.6 SIRGAS2000

O Projeto Mudança do Referencial Geodésico deu dois importantes passos no ano de 2005,
primeiramente com o decreto nº 5334 de 06/01/2005 publicado no Diário Oficial da União, em
07/01/2005, dando nova redação às Instruções Reguladoras das Normas Técnicas da Cartografia
Nacional. O segundo 25/02/2005, com a assinatura, pelo Presidente do IBGE, da resolução nº
1/2005, que torna o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS2000) a nova
base para o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e para o Sistema Cartográfico Nacional (SCN).

9
A definição do sistema geodésico de referência acompanha, em cada fase da história, o
estado da arte dos métodos e técnicas então disponíveis. Com o advento dos sistemas globais de
navegação por satélites (GNSS – Global Navigation Satellite Systems), tornou-se mandatória a
adoção de um novo sistema de referência, geocêntrico, compatível com a precisão dos métodos de
posicionamento correspondentes e também com os sistemas adotados no restante do globo terrestre.
Com esta finalidade, ficou estabelecido como novo sistema de referência geodésico para o
SGB o SIRGAS, em sua realização do ano de 2000 (SIRGAS2000), podendo ser utilizado em
concomitância com o sistema SAD 69, oferecendo à sociedade um período de transição. No período
de transição, não superior a 10 anos, os usuários devem adequar e ajustar suas bases de dados,
métodos e procedimentos ao novo sistema.
O SIRGAS2000 corresponde a uma densificação da realização ITRF2000 (International
Terrestrial Reference Frame) nas Américas ocorrida em maio de 2000. O ITRF2000 corresponde à
realização do Sistema Geodésico de Referência mais preciso existente, o ITRS (International
Terrestrial Reference System).
O SIRGAS2000 se tornou de uso obrigatório nos trabalhos de georreferenciamento de
imóveis rurais a serem apresentados ao INCRA, a partir da publicação da Norma Técnica para
Georreferenciamento de Imóveis Rurais, 2º Edição, Fevereiro/2010.

Caracterização do SIRGAS2000:

Sistema Geodésico de Referência: Sistema de Referência Terrestre Internacional – ITRS


(International Terrestrial Reference System)

Superfície de referência: Geodetic Reference System 1980 - GRS 80


a = semi-eixo maior = 6.378.137 m
α = achatamento = 1:298,257222101

Origem: Centro de massa da Terra

2.9 PARÂMETROS DE TRANSFORMAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE REFERÊNCIA

Os parâmetros definidores (elipsóide e estação origem) dos principais sistemas são:

Fator de
Semi eixo Estação de
Datum Elipsóide achatamento
maior (m) origem
(1/f)
WGS84 GRS 80 6.378.137,000 298,257223563 -
Córrego Alegre Hayford – Int. 1924 6.378.388,000 297,0 Vért. Corr. Alegre
Astro-Chuá Hayford – Int. 1924 6.378.388,000 297,0 Vértice Chuá
SAD 69 UGGI 1967 6.378.160,000 298,25 Vértice Chuá
SIRGAS 2000 GRS 80 6.378.137,000 298,257222101 -

Na obtenção de coordenadas em outros sistemas a partir de SAD69, utiliza-se os parâmetros


apresentadas na Resolução do Presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
R.PR 01/2005 de 25/02/2005, listados a seguir. A formulação matemática a ser aplicada nas
transformações é aquela divulgada na seção 3 do anexo da R.PR nº 23, de 21/01/1989.

SAD 69 → SIRGAS2000: SIRGAS2000 → SAD 69:


∆x = -67,35 m ∆x = +67,35 m
∆y = +3,88 m ∆y = -3,88 m

10
∆z = -38,22 m ∆z = +38,22

Podemos estabelecer a diferença entre os parâmetros de transformação antigos (R.PR 23/89


) e novos (R.PR 01/05), existentes em decorrência da evolução do WGS84:

WGS84 → SAD 69: SAD 69 → WGS84:


∆x = +66,87 m ∆x = -66,87 m
∆y = -4,37 m ∆y = +4,37 m
∆z = +38,52 m ∆z = -38,52 m

COR. ALEGRE → SAD 69: SAD 69 → COR. ALEGRE:


∆x = -138,70 m ∆x = +138,70 m
∆y = +164,40 m ∆y = -164,40 m
∆z = +34,40 m ∆z = -34,40 m

WGS84 → CÓR. ALEGRE: CÓR. ALEGRE → WGS84:


∆x = +205,57 m ∆x = -205,57 m
∆y = -168,77 m ∆y = +168,77 m
∆z = +4,12 m ∆z = -4,12 m

WGS84 → SIRGAS2000: SIRGAS2000 → WGS84:


∆x = -0,48 m ∆x = +0,48 m
∆y = -0,49 m ∆y = +0,49 m
∆z = +0,30 m ∆z = -0,30 m

2.10 TRANSFORMAÇÃO ENTRE REFERENCIAIS GEODÉSICOS

2.10.1 Coordenadas geodésicas para coordenadas cartesianas

Onde:
N = grande normal; e
e = primeira excentricidade

Onde:
a e b: parâmetros do elipsóide

11
2.10.2 Coordenadas cartesianas para coordenadas geodésicas

3. ALTITUDES ORTOMÉTRICA, GEOMÉTRICA E ONDULAÇÃO DO GEÓIDE

Por definição, altitude ortométrica (H) de um ponto é a distância contada sobre a vertical
desse ponto até o geóide, e altitude geométrica (h), é a distância contada sobre a normal do ponto
até o elipsóide. Um dos mais importantes problemas geodésicos é a determinação das “ondulações
do geóide”, ou seja, da separação (N) entre a superfície equipotencial (geóide) e o elipsóide. As três
áreas da geodésia que mencionamos no primeiro capítulo têm solução específica para esse
problema. Neste trabalho não restringiremos a nenhum método. A figura 3, ilustra melhor este
assunto.

Figura 3 – Ondulação Geoidal

12
A altitude geométrica é determinada com GPS geodésico de alta precisão, pois o GPS de
navegação fornece a altitude geométrica, porém, de caráter meramente decorativo, pois o erro pode
chegar a 200 metros. Ora, se conhecer a altitude geométrica e a ondulação do geóide, pode-se
chegar a um valor aproximado da altitude ortométrica (H).
A fundação IBGE e a Universidade de São Paulo têm trabalhado ao longo dos últimos anos
num projeto de melhoria do modelo de ondulação geoidal no Brasil.

4.1 TRANSPORTE DE ALTITUDES COM GPS UTILIZANDO DIFERENÇA DE NÍVEL DE


ONDULAÇÃO GEOIDAL

No processamento de dados GPS, o grande problema enfrentado, por diversos profissionais


da área da geomática, é a determinação das altitudes ortométricas (em relação ao nível do mar) uma
vez que os softwares de processamento calculam a altura geométrica (em relação ao elipsóide GRS
80 – Datum WGS84).
Para linhas de base curtas (menor que 1 km), pode-se, sem cometer erro apreciável,
considerar, como altitude a altitude geométrica, pois a diferença da ondulação geoidal entre pontos
próximos é desprezível. Porém, para linhas de base longas se faz necessário o processamento da
altitude ortométrica através da diferença de ondulação geoidal obtida num mapa geoidal confiável.
No Brasil, com o uso cada vez maior do GPS para o posicionamento principalmente na
obtenção de altitudes, identificou-se a necessidade de atualização do modelo de ondulações
geoidais, possibilitando aos usuários de GPS converter as altitudes geométricas (referidas ao
elipsóide) em ortométricas (referidas ao nível médio do mar) com uma melhor confiabilidade. É com
este objetivo que o MAPGEO2010, assim como os modelos anteriores (MAPGEO92, MAPGEO2004),
foi concebido e produzido conjuntamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
através da Coordenação de Geodésia (CGED), e pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo – EPUSP. O modelo MAPGEO2010 foi calculado com uma resolução de 5’ de arco, e o
Sistema de Interterpolação de Ondulações Geoidais foi atualizado. Através deste sistema, os
usuários podem obter a ondulação geoidal em um ponto ou conjunto de pontos, cujas coordenadas
refiram-se tanto a SIRGAS2000 quanto a SAD 69.
Para converter a altitude elipsoidal (h), obtida através de GPS, em altitude ortométrica (H), utiliza-se a
equação:
H=h-N
onde:
N é a altura (ou ondulação) geoidal fornecida pelo programa, dentro da convenção que considera o
geóide acima do elipsóide se a altura geoidal tiver valor positivo e abaixo em caso contrário.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Especificações e Normas Gerais


para Levantamentos Geodésicos em Território Brasileiro. R.PR nº 22 de 21/06/1983 e
R.PR nº 23 de 27/02/1989, Boletim de Serviço 1602 (Suplemento).

IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Altera a caracterização do Sistema


Geográfico Brasileiro. R.PR nº 01/2005, Rio de Janeiro, 1983.

CAMIL, Gemael. Introdução à Geodésia Geométrica 1ª e 2ª parte. Curitiba: Curso de Pós-


Graduação em Ciências Geodésicas/UFP, 1987.

SEEBER, G. -1993- Satellite Geodesy: Foundations, methods and applications. Walter de Gruyter, N.
York, 531 pp.

13
TORGE, W. -1980- Geodesy. Walter de Gruyter, Berlin, 254 pp.

14

Você também pode gostar