APROFUNADAMENTO II DE SAAÚDE

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O ano de 2020 foi marcado pela pandemia de COVID-19

e trouxe à tona diversas questões a respeito


de doenças pandêmicas. Entender quais são
as condições para que uma doença seja
classificada como pandemia, qual é a gravidade
dessa situação e quais os melhores procedimentos ao
redor do mundo são alguns tópicos que
apresentaremos a seguir.

O que são doenças


pandêmicas?
O termo pandemia é utilizado quando uma doença já se
espalhou por várias regiões do globo simultaneamente
e sua transmissão é sustentada. Basicamente, isso
significa que a doença está afetando vários países ao
mesmo tempo e que as pessoas estão se infectando a
partir de outros moradores do local.

É necessário ressaltar que o termo pandemia não é


empregado em relação à gravidade de uma doença e
sim de acordo com o fator geográfico dominante, ou
seja, se atinge diversas regiões do planeta ao mesmo
tempo.

Pandemia não é sinônimo de


epidemia
É relativamente comum que os termos epidemia e
pandemia sejam utilizados de forma equivocada como
sinônimos. Porém, as duas palavras têm significados
distintos, como explicamos acima, pandemia se refere a
uma doença que se espalhou por vários países ao
mesmo tempo.

Por sua vez, uma epidemia diz respeito a uma doença


que está apresentando um número exacerbado de
casos em um determinado período em uma região
específica, como uma cidade, estado ou até um país.
Pandemia diz respeito a vários países sendo atingidos
concomitantemente, pandemia acontece em uma
região em particular.

Pandemias têm mais


facilidade para acontecer
atualmente?
A resposta para essa pergunta é sim, pois, com o
avanço da tecnologia e o estilo de vida da sociedade
atual, há mais facilidade e rapidez para movimentação
e deslocamento. As pessoas podem viajar mais
facilmente de um país a outro, tornando, assim, a
disseminação de uma doença mais provável.

Muitas vezes, o infectado está assintomático (sem


sintomas) e não sabe do seu potencial de transmissão,
então, ao interagir com outras pessoas sem os devidos
cuidados, acaba transmitindo a doença contribuindo
para que ela se espalhe para outras regiões. Um bom
exemplo é a pandemia de COVID-19, algumas pessoas
não apresentam sintomas e, dessa forma, acabam
transmitindo o vírus para outros indivíduos sem nem
saber.

Consequências de uma
pandemia
A partir do momento em que uma doença se espalha
por todo o globo, é bem difícil prever o seu desfecho,
até porque as nações lidam de maneiras diferentes com
o problema de saúde, em especial de acordo com seu
poder econômico.

Uma doença pandêmica que chega a uma região muito


pobre do planeta pode levar a um número exponencial
de mortes, pois, bem provavelmente, não há estrutura
e nem recursos para conter o avanço da enfermidade.

No entanto, até mesmo os países mais ricos podem se


ver diante de um cenário de colapso do sistema de
saúde se houver um número muito significativo de
infectados ao mesmo tempo. Novamente podemos usar
a pandemia de COVID-19 como exemplo, a Itália sofreu
especialmente no primeiro semestre de 2020 pelo
colapso do seu sistema de saúde.

No Brasil, a situação não foi muito diferente, esse


colapso acontece quando o número de leitos de UTI é
rapidamente ocupado em sua totalidade e a quantidade
de médicos e enfermeiros se mostra menor do que a
demanda, levando esses profissionais a um ritmo de
trabalho exaustivo. Outro fator grave que leva ao
colapso é a falta de equipamentos de proteção para os
profissionais de saúde.

Exemplos de doenças
pandêmicas
Para que seja mais fácil compreender as características
das doenças pandêmicas, é interessante conhecer um
pouco melhor a história de algumas pandemias.

Pandemia de COVID-19
Iniciaremos a lista de exemplos com a pandemia mais
recente, a de COVID-19, que foi declarada como tal
no dia 11 de março de 2020 pela OMS
(Organização Mundial da Saúde). A causa da
doença é um novo tipo de Coronavírus (SARS-CoV-2)
que desencadeia sintomas respiratórios que podem ser
graves.

Os sintomas mais comuns da COVID-19 são febre, tosse


e falta de ar. A doença se mostrou com grande
potencial letal em especial ao atingir idosos e pessoas
com outros problemas de saúde, como diabetes,
doenças cardíacas e respiratórias.

Pandemia da Gripe H1N1


Pandemia que ocorreu em 2009, levou muitas pessoas
à morte em decorrência da rapidez do espalhamento do
vírus da gripe A(H1N1)pdm09. Para se ter uma ideia da
gravidade, a OMS declarou que em um período de
apenas oito semanas esse vírus já havia se espalhado
por 120 territórios.

No Brasil, a pandemia de H1N1 teve fim em 2010,


tendo levado a óbito cerca de duas mil pessoas.
Atualmente há vacina para H1N1 que é oferecida
gratuitamente para grupos de risco, como idosos e
indivíduos com doenças crônicas.

Pandemia de Gripe Espanhola


Uma das pandemias que entrou para a história por seu
potencial altamente letal foi a de Gripe Espanhola, que
ocorreu entre os anos de 1918 e 1920. Acredita-se que
a doença afetou mais de 600 milhões de indivíduos,
tendo levado a óbito entre 20 e 40 milhões de pessoas.

Pandemia de cólera
Essa pandemia aconteceu entre os anos de 1852 e
1860, sendo uma das mais letais. A doença teve origem
na Índia e trouxe pelo menos um resultado positivo
para o mundo, a descoberta do cientista John Snow.

Ele analisou um grupo de pessoas que havia pegado


água de uma mesma torneira pública de Londres e
percebeu que a contaminação ocorria pela água e não
pelo ar, como se pensava até então. Esse estudo de
Snow recebeu o status de pioneiro para o
desenvolvimento da epidemiologia.

Pandemia da peste negra


Pandemia que ocorreu entre os anos de 1346 e 1453,
tendo levado a óbito entre 75 e 200 milhões de
pessoas. A doença se espalhou pelos continentes
europeu, africano e asiático. Um dado assustador é que
um em cada três europeus morreu devido a essa
doença nesse período. A pandemia de peste negra
levou a uma série de transformações econômicas e
impactou significativamente a medicina.

Doenças pandêmicas são muito sérias, levando a


diversas consequências. Para conferir outros conteúdos
sobre saúde e conhecimentos gerais, além de dicas
para o Enem e o vestibular navegue pelo Blog do Hexag
Medicina!
A gripe espanhola de 1918 começou nos Estados Unidos. O zika estava
restrito às ilhas da Polinésia Francesa, no Oceano Pacífico, mas
atravessou o mundo e virou preocupação no Brasil. A gripe suína de 2009
brotou em fazendas do México antes de colocar o mundo inteiro em
pânico. O Sars-CoV-2, coronavírus causador da covid-19, foi detectado
pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China.
Mas, afinal, o que define o local e a hora de nascimento de uma pandemia? E
quais características permitem que um vírus até então pouco conhecido
comece a afetar, de uma semana para outra, milhares ou milhões de pessoas
de todos os continentes?
Os conhecimentos básicos de biologia até podem explicar o processo. Mas as
transformações sociais, políticas e econômicas pelas quais o mundo passa
atualmente deixam o cenário favorável para que novas crises sanitárias desse
tipo fiquem ainda mais comuns daqui para frente.
Receita básica
Um determinado vírus pode circular por um tipo de animal rotineiramente,
durante milhares de anos. Há coronavírus, por exemplo, que só afetam
morcegos, gatos ou camelos. Mas, ao longo desse processo, pode acontecer
alguma mudança que faça o patógeno pular para outra espécie.
"Na natureza, os vírus passam por mutações aleatórias o tempo todo. Nesse
jogo de tentativa e erro, ocorrem alterações em alguns genes para torná-lo apto
a infectar seres humanos", explica o virologista Paulo Eduardo Brandão,
professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo.
Até aí, a situação não é assim tão grave — afinal, o risco só vai existir se a
gente entrar em contato com aquele bicho. O problema fica complicado mesmo
quando o vírus em questão sofre uma nova transformação em seu código
genético e adquire a capacidade de ser transmitido de pessoa para pessoa.
O Sars-CoV-2 já é um modelo clássico desse fenômeno: pelo que se sabe até
o momento, ele circulava entre morcegos pelo Sudeste Asiático. Até que sofreu
algumas edições em seu genoma e conseguiu "pular" para os seres humanos.
Não se sabe ainda se houve um animal intermediário no meio do caminho.
Vale alertar, porém, que essa passagem demora anos para acontecer. "Não é
que um único indivíduo comeu um morcego e deu início a toda a situação.
Essas mutações ocorrem paulatinamente e os vírus se adaptam pouco a pouco
ao novo hospedeiro", esclarece Brandão.
Esse perigo, aliás, já era conhecido muito antes de os primeiros casos de uma
nova doença começarem a causar estranhamento em meados de dezembro de
2019. Um artigo publicado em março do ano passado por quatro cientistas do
Instituto de Virologia de Wuhan já alertava: "É altamente provável que um surto
de coronavírus se origine de morcegos, e há uma grande possibilidade que
isso venha a ocorrer na China".
Mas por que a China? O coronavírus da vez não poderia ter aparecido na
Romênia ou na Nova Zelândia? Como você verá a seguir, certos locais do
mundo reúnem as condições ideais para o surgimento de uma pandemia.
Contato (muito) próximo com a natureza
"Nós habitamos uma biosfera e compartilhamos o mesmo espaço com plantas,
animais e micro-organismos. A ação do homem nos ambientes pode alterar o
equilíbrio e favorecer o avanço de bactérias e vírus até então desconhecidos
ou inofensivos", raciocina o infectologista Stefan Cunha Ujvari, do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e autor do livro História das
Epidemias, recém-lançado pela Editora Contexto.
Dados do Banco Mundial indicam que, em 1990, o mundo possuía 41,2
milhões de quilômetros quadrados de área florestal. Esse número caiu para
39,9 milhões em 2016. Parece uma redução pequena? A área devastada de
mais de 1,3 milhões de quilômetros quadrados em apenas 16 anos é quase
equivalente ao Amazonas inteiro (o maior Estado do Brasil) e supera a área de
países como Peru, Colômbia e África do Sul.
O surto de ebola que se iniciou na África Ocidental em 2014 e atingiu
particularmente Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria apareceu justamente em
regiões com extração de madeira e minérios. Por causa dessas atividades, os
seres humanos passaram a ter mais contato com os animais da região — entre
eles, um morcego que carregava esse vírus.
O aumento das temperaturas do planeta e o derretimento das calotas polares
também podem ter desdobramentos imprevisíveis no aparecimento de
pandemias futuras. "Há poucos anos, nas regiões permanentemente
congeladas da Sibéria, um grupo de cientistas encontrou um vírus com mais de
30 mil anos. O mais surpreendente foi descobrir que ele mantinha a
capacidade de infectar amebas no laboratório", conta Brandão.
Em setembro, pastores de renas das ilhas Lyakhovsky, que pertencem à
Rússia, encontraram uma carcaça de um urso-das-cavernas da Era do Gelo
perfeitamente preservada. "Não sabemos os vírus que podem estar ali e
aparecer a partir dessas descobertas", completa o virologista.
Extensa urbanização
É curioso notar como alguns desses patógenos que nos afetam ainda hoje têm
uma longa história, que começa justamente quando os seres humanos se
tornaram sedentários e se aglomeraram num único local, há mais ou menos 10
mil anos. "Nesse período, o gado da região da Ásia era acometido por um
vírus, que passou para a África e a Europa antes de ser extinto. Sabemos que
ele é geneticamente semelhante ao sarampo", relata Ujvari.
Atualmente, mais de 4 bilhões de pessoas vivem em áreas urbanas do planeta.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007, a
quantidade de gente vivendo nas cidades ultrapassou pela primeira vez na
história a proporção de moradores das áreas rurais.
Mas o que isso tem a ver com as doenças infecciosas? Para começo de
conversa, muitos municípios não oferecem as condições sanitárias mais
básicas (esgoto e água encanada, por exemplo). Calcula-se que, só no Brasil,
22% a 37% dos cidadãos morem em favelas — esse número chega em 90%
em alguns locais do continente africano.
O esgoto não tratado é despejado em rios, córregos e lagos que, muitas vezes,
são fonte de água para abastecer as casas. Isso gera quadros de diarreia e
outras infecções. Além disso, o acúmulo de lixo em aterros e terrenos baldios
vira local de procriação de mosquitos, como o Aedes aegypti, transmissor de
doenças como dengue, zika e chikungunya.
"É preciso pensar nessa infraestrutura das cidades, para permitir que os países
possam responder mais rapidamente a uma crise sanitária", chama a atenção
a médica epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de
Vacinas.
Mais carne no prato
O mundo nunca comeu tanto bife. Essa é a conclusão que pode ser retirada a
partir das projeções da FAO, a Organização de Comida e Agricultura da ONU.
Em um relatório de 2011, a entidade calcula que a demanda global por cortes
bovinos crescerá 81% entre 2000 e 2030. O mesmo aumento pode ser visto
em outros produtos de origem animal, como leite (97% a mais), carneiro (88%),
porco (66%), aves (170%) e ovos (70%).
CRÉDITO,EPA
Legenda da foto,
A Organização de Comida e Agricultura da ONU calcula que a demanda global por
cortes bovinos crescerá 81% entre 2000 e 2030
A grande questão é que essas criações nem sempre ficam confinadas nas
condições sanitárias mais adequadas. A falta de regras e fiscalização faz com
que, em muitos países, esses animais sejam mantidos em locais apertados,
sem higiene ou até misturados com outras espécies.
É tudo o que um agente infeccioso precisa para sofrer mutações, se combinar
e pular para os seres humanos: na pandemia de H1N1 de 2009, que se
originou no México, os estudos mostraram que o vírus influenza que causou
todo aquele problema era uma mistura de quatro cepas diferentes. "Duas eram
de origem suína, uma veio das aves e a outra dos seres humanos", detalha
Ujvari.
E esse não é um exemplo isolado: ao longo do século 20, a humanidade
enfrentou diversas pandemias de influenza, como a gripe espanhola (1918), a
gripe asiática (1957), e a gripe de Hong Kong (1968). Elas se originaram a
partir da mutação de vírus que circulavam entre aves.
Do outro lado do mundo
Os três fatores analisados anteriormente ajudam a explicar como surge um
novo vírus e como ele é capaz de se espalhar rapidamente num território
restrito. Mas há um último ingrediente nesta receita que é fundamental para
entender a razão de surtos virarem epidemias ou pandemias: a facilidade que
temos para viajar de um canto a outro.
Vamos a um exemplo prático: o município de Urasoe, no Japão, fica a 19.382
quilômetros de São Paulo. Trata-se da cidade mais afastada do mapa em
relação à capital paulista. Uma rápida pesquisa na internet nos mostra que é
possível chegar até lá de avião em exatas 36 horas e 15 minutos, com escalas
em Londres e Tóquio.
Um indivíduo pode deixar o Brasil sem sintoma algum de uma doença
infecciosa, como a covid-19 e, se não tomar os devidos cuidados, espalhar o
vírus pelos lugares por onde passar — imagina com quantas pessoas e objetos
um viajante não interage pelo caminho?
"A mobilidade intensa facilita tremendamente a disseminação de um vírus.
Portanto, devemos ter a noção de que ninguém vai estar seguro até que todo o
mundo esteja seguro de verdade", observa Denise Garrett.
Como será o amanhã?
Enquanto a covid-19 segue como uma ameaça, é preciso pensar também no
futuro: a experiência com a pandemia atual nos ensina alguma coisa que ajude
a evitar ou minimizar as próximas crises sanitárias?
O virologista Paulo Eduardo Brandão tem uma visão pessimista. "Já tivemos
outras situações relativamente parecidas num passado recente e nada mudou.
As ações de controle se mantiveram por um tempo e depois foram
esquecidas", lamenta.
CRÉDITO,REUTERS
Legenda da foto,
Especialista acredita que um dos efeitos positivos da pandemia possa ser um aumento
da vigilância de vírus emergentes
O especialista acredita, porém, que um dos efeitos positivos possa ser um
aumento da vigilância de vírus emergentes. "Com a tecnologia que temos hoje,
é fácil fazer uma prospecção dos ambientes silvestres e determinar potenciais
ameaças", diz.
O infectologista Stefan Cunha Ujvari torce para que países e organizações
multilaterais tomem medidas mais contundentes contra a caça e a
comercialização da carne de animais silvestres. "Assim como estabelecemos
protocolos contra o aquecimento global, os gases do efeito estufa e o
desmatamento, precisamos ter algo para coibir a invasão de áreas selvagens
para minimizarmos o contato com vírus desconhecidos", sugere.
Por fim, a epidemiologista Denise Garrett aposta no preparo tecnológico e nas
parcerias entre diferentes atores da sociedade. "A covid-19 nos pegou menos
preparados do que deveríamos estar. Precisamos ter uma estrutura para o
desenvolvimento mais rápido de vacinas, ao mesmo tempo em que
necessitamos do trabalho conjunto, pois só vamos superar essa com o esforço
de todos".
Enfrentar a próxima pandemia é questão de tempo. Resta saber como a
humanidade vai estar preparada para o novo desafio.

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