Marlise Dall’Agnol_
Marlise Dall’Agnol_
Marlise Dall’Agnol_
Porto Alegre
2020
MARLISE DALL’ AGNOL
Porto Alegre
2020
D144e Dall’Agnol, Marlise.
O esforço em inovação e sua associação com o
ambiente competitivo : um estudo das empresas
listadas na B3 / Marlise Dall’Agnol. – 2020.
89 f. : il. ; 30 cm.
BANCA EXAMINADORA
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA .................. 13
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 15
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 15
1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 15
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................ 16
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................. 18
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 19
2.1 INOVAÇÃO......................................................................................................... 19
2.1.1 Conceito e tipologias .................................................................................... 19
2.1.2 Padrões setoriais de inovação da indústria brasileira............................... 23
2.1.3 Evidenciação e Tratamento contábil dos esforços em inovação ............. 26
2.2 AMBIENTE COMPETITIVO................................................................................ 27
2.2.1 Estrutura de mercado ................................................................................... 27
2.2.2 Mercado de ações ......................................................................................... 29
2.3 INOVAÇÃO, ESTRATÉGIA E VANTAGEM COMPETITIVA .............................. 31
2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS RELACIONADOS ........................................................ 35
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 45
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ...................................................................... 45
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................... 45
3.3 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ............................................................................ 47
3.3.1 Variável Esforço para Inovação ................................................................... 47
3.3.2 Variável Concentração de Mercado ............................................................. 50
3.3.3 Variável Volatilidade das Ações .................................................................. 52
3.3.4 Demais variáveis do modelo ........................................................................ 53
3.4 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS .......................................................... 54
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ............................................................................... 55
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................. 58
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA ...................................................................................... 58
4.1.1 Caracterização da Amostra .......................................................................... 58
4.1.2 Estatística descritiva das variáveis do modelo .......................................... 59
4.1.3 Análise do esforço para inovação ............................................................... 60
4.1.4 Análise da concentração de mercado ......................................................... 61
4.2 ANÁLISE DA ASSOCIAÇÃO ENTRE O ESFORÇO EM INOVAÇÃO E O
AMBIENTE COMPETITIVO ...................................................................................... 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 72
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 75
APÊNDICE A - EFEITOS FIXOS VS. EFEITOS ALEATÓRIOS.............................. 85
APÊNDICE B - TESTE DE AUTOCORRELAÇÃO .................................................. 86
APÊNDICE C - TESTE DE HETEROCEDASTICIDADE ......................................... 87
APÊNDICE D - TESTE DE NORMALIDADE DOS RESÍDUOS .............................. 88
13
1 INTRODUÇÃO
1.2 OBJETIVOS
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 INOVAÇÃO
Figari et al. (2016) avaliaram a relação entre os gastos com P&D e o índice
book-to-market (BM) de 42 empresas brasileiras de capital aberto para o ano de
2010-2014, evidenciando que os gastos com P&D, juntamente com variáveis de
controle como tamanho da empresa e rentabilidade, contribuíram de maneira
significativa para explicar o índice BM. O estudo demonstrou a importância dos
investimentos em inovação na explicação do acréscimo do valor econômico das
empresas.
Alves et al. (2011) analisaram a relevância dos gastos de P&D para o
mercado de capitais das empresas do setor de distribuição de energia elétrica no
período de 2002 a 2009, não encontrando relevância da informação dos gastos com
P&D para o mercado de capitais. Segundo os autores, o resultado encontrado pode
estar intrinsicamente relacionado com o setor escolhido dado o ambiente regulador
do mesmo em relação aos gastos com P&D.
A temática inovação e as particularidades do setor elétrico também foram
abordadas por Zorzo et al. (2017), pois ao verificarem a correlação entre o foco na
inovação e a eficiência econômica relativa, concluíram que existem baixas
correlações entre estas duas variáveis. Os autores alertam que as políticas públicas
de inovação neste setor não estão afetando a qualidade da energia distribuída ou a
eficiência das empresas, indicando que os investimentos em P&D são realizados
apenas por obediência à legislação.
Sood e Tellis (2009) apontam o retorno anormal do mercado de ações à
inovação como um dos melhores meios de avaliar as verdadeiras recompensas
decorrentes deste processo. Conforme os autores, a inovação é, provavelmente,
uma das mais importantes forças de fomento para o crescimento dos novos
produtos, criação de novos mercados, transformação das indústrias e para promover
a competitividade global nas nações.
Nesse contexto, desde o conceito de Schumpeter (1934) sobre “destruição
criativa”, a inovação tem sido reconhecida como uma das estratégias competitivas
mais efetivas nos mercados de negócios, sendo considerada uma estratégia vital
não apenas para construir vantagem competitiva, mas também para sustentá-la.
(PRAJOGO, 2016).
31
diferenças culturais que podem afetar nas decisões e nos pontos de vista sobre as
atividades de investimento em P&D.
Diante o exposto, Pisano (2015) enfatiza a importância das empresas
articularem estratégias que alinhem seus esforços inovativos com as suas
estratégias de negócios. Além disso, a capacidade das empresas em inovar
depende de um sistema de inovação adequado, ou seja, um conjunto coerente de
processos e estruturas interdependentes que orienta como a empresa procura por
novos problemas e soluções, sintetiza ideias em um conceito de negócio e projetos
de produtos e seleciona quais projetos serão financiados.
O processo de desenvolvimento de uma estratégia de inovação deve começar
com um claro entendimento e articulação de objetivos específicos relacionados a
ajudar a empresa a obter uma vantagem competitiva sustentável. (PISANO, 2015).
Um bom exemplo de como a boa conexão entre estratégia de negócio e inovação
pode conduzir uma liderança de inovação a longo prazo, segundo Pisano (2015), é
encontrada na Corning, um fabricante americano líder de componentes especiais
usados em displays eletrônicos, sistemas de telecomunicações, produtos ambientais
e instrumentos de ciências da vida, a qual há mais de 160 anos vem repetidamente
transformando seu negócio e crescendo em novos mercados através de inovações
revolucionárias.
Samson e Gloet (2014) realizaram um estudo de caso comparativo de seis
indústrias australianas, de diferentes tamanhos, tipo de propriedade e setor
industrial, com o objetivo de identificar atributos comuns à inovação sistemática e
sustentada destas organizações. Nesse estudo, fatores relacionados à liderança que
impulsionam e apoiam a inovação estavam presentes em todas as organizações
estudadas e a cultura orientada para a inovação contribuiu para os resultados
positivos nos negócios. Portanto, a inovação era considerada como umas das
prioridades estratégicas destas organizações e, quando mensurada
adequadamente, contribuía para que ocorresse de forma sistemática e sustentada.
Os autores observaram ainda que práticas eficazes auxiliavam no gerenciamento de
risco associado à inovação.
O caso da empresa Nespresso, estudada por Brem, Maier e Wimschneider
(2016), comprova o êxito na aplicação completa de uma estratégia bem definida,
mostrando sob quais circunstâncias a inovação pode servir como fonte de vantagem
35
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Doukas e Investigar a avaliação do Regressão transversal Empresas em setores
Switzer mercado de ações em caracterizados por alta
(1992) relação aos planos de Variável dependente: (baixa) concentração de
despesas de P&D das Retornos anormais das mercado, os anúncios de
empresas norte- ações aumentos em despesas
americanas planejadas de P&D estão
Variáveis independentes: associados a retornos
(1) anúncios de gastos significativos positivos
com P&D; (2) (negativos) das ações.
concentração de mercado.
Lee e Shim Investigar o impacto dos Regressão múltipla Os resultados indicam uma
(1995) gastos em P&D no relação positiva entre os
desempenho e na Variável dependente: gastos em P&D e o
competitividade das crescimento do mercado crescimento do mercado
empresas nos setores de em vendas de uma empresa, sendo
alta tecnologia dos EUA e esta relação constante
do Japão. Variáveis independentes: apenas no Japão.
(1) intensidade em
publicidade; (2) tamanho
da empresa; (3)
intensidade de capital; (4)
utilização do capital; (5)
exportações; (6)
intensidade de P&D; (7)
alavancagem da dívida; (8)
produtividade do trabalho.
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Galende e Investigar os fatores Regressão Múltipla Ao avaliar os fatores
La Fuente determinantes das internos da empresa que
(2003) atividades inovadoras de Variáveis dependentes: são potencialmente
152 empresas espanholas. P&D e investimentos determinantes do processo
em outras atividades inovador confirmou as
técnicas inovadoras. hipóteses de que fatores
como tamanho,
Variáveis independentes: endividamento, recursos
tamanho, endividamento, comerciais, recursos
recursos humanos, organizacionais e
recursos comerciais, internacionalização
recursos organizacionais; impactam neste processo.
diversificação e
internacionalização.
Hungaratto Identificar a relevância dos Estatística descritiva com Para as empresas de alta
e Sanchez gastos em P&D no preço análise gráfica. tecnologia foi identificada
(2006) das ações das empresas Regressão linear em uma variação positiva,
brasileiras (alta e baixa painéis. estatisticamente
tecnologia) com ações na significante, no período de
BOVESPA. Variáveis dependentes: 30 a 60 dias após a
retorno anormal das ações divulgação dos gastos em
e retorno anormal P&D. Por outro lado, para
acumulado. as empresas de baixa
tecnologia, foi identificada
Varável independente: uma variação negativa nos
gastos em P&D. retornos anormais
acumulados, no
período de 30 dias antes
da divulgação dos gastos
com P&D, sendo esta
variação associada ao
conservadorismo do
investidor brasileiro, que
antecipa as más notícias
divulgadas.
38
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Azevedo e Estimar a relação dos Regressão linear múltipla Os resultados obtidos
Gutierrez gastos com P&D no com pooled. indicam uma relação
(2009) crescimento de longo positiva entre gastos com
prazo das empresas Variável dependente: taxa P&D e o crescimento de
listadas na Bolsa de de crescimento a longo longo prazo das empresas.
Valores de Nova Iorque prazo.
(NYSE).
Variáveis independentes:
(1) tamanho da empresa;
(2) endividamento; (3)
Price-to-book; (4)
crescimento dos gastos
com P&D.
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Alves et al. Analisar a relevância dos Regressões lineares Os resultados mostram
(2011) gastos com P&D para o simples e múltiplas. que a informação de
mercado de capitais das gastos com P&D é
empresas brasileiras do Variável dependente: valor relevante para o mercado
setor de distribuição de de mercado. de capitais somente
energia elétrica. quando analisada
Variáveis independentes: isoladamente, porém
(1) Gastos com P&D; (2) quando esta informação é
Lucro Líquido; (3) regredida tendo como
Patrimônio Líquido (Lucro variáveis de controle o
Líquido e Patrimônio Lucro Líquido e o
Líquido consideradas Patrimônio Líquido, a
isoladamente ou variável P&D não se
combinadas). mostra significativa.
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Hungarato Identificar a relação entre Regressão linear múltipla Identificou-se que os gastos
e Teixeira os gastos em Pesquisa e em pooled. em P&D não são
(2012) Desenvolvimento (P&D) estatisticamente
com o preço das ações Variável dependente: significantes para o preço
das empresas brasileiras Preço das ações das ações das empresas
registradas na Bovespa estudadas.
dando continuidade aos Variáveis independentes:
estudos de Lopes (2001) e (1) Lucro líquido por ação
Rezende (2005) sobre menos despesa P&D por
value-relevance da ação; (2) PL por ação
informação contábil no menos P&D por ação; (3)
Brasil. valor do P&D ativo por
ação; (4) valor de P&D
despesa por ação; (5)
Variável dummy para
classificação tecnológica
das empresas.
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Lai, Lin e Investigar os fatores de Análise de regressão Os resultados da pesquisa
Lin (2015) decisão relacionados às logística. indicam que os três países
atividades de investimento são semelhantes em termos
em P&D de empresas Variável dependente: de tendências econômicas,
situadas em Taiwan, investimentos em P&D desenvolvimento
Japão e Coréia. tecnológico e estrutura da
Variáveis independentes: indústria. No entanto,
autonomia financeira; devido a diferenças no
rentabilidade; tamanho; contexto cultural e no
estrutura de capital; espírito nacional, existem
goodwill e patentes; algumas diferenças nas
recursos humanos; decisões e pontos de vista
recursos de negócios sobre as atividades de
investimento em P&D.
(continuação)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Figari et Verificar o quanto da Regressão linear múltipla Constatou-se que a variável
al. (2016) diferença entre o valor com corte transversal para inovação, medida pelo
contábil e o valor de o ano de 2014. somatório de gastos com
mercado das empresas pesquisa, obtido através
brasileiras, medida pelo Variável dependente: das NEs divulgadas no site
índice book-to-market Índice Book-to- market. da B3, e dividida pelo ativo
(BM), pode ser explicado total nos anos de 2010 a
pelos gastos com pesquisa Variáveis independentes: 2014, contribuiu de maneira
não ativados pela (1) Inovação (Gastos significativa para explicar o
contabilidade. P&D); (2) tamanho da índice BM das 42 empresas
empresa; (3) estágio do analisadas.
ciclo de vida; (4)
rentabilidade; (5)
endividamento; (6)
investimento em Ativo
Fixo; (7) Capital de Giro
Líquido.
Gu (2016) Estudar o efeito conjunto Modelo de quatro fatores Resultados indicam que a
da competição de mercado de Carhart (1997). relação positiva entre P&D e
e dos investimentos em Modelo de fator-q de Hou, retorno existe apenas em
P&D de empresas listadas Xue e Zhang (2015). setores competitivos e que
na NYSE, NASDAQ e Modelo de cinco fatores de a relação entre competição
AMEX, sobre o retorno das Fama e French (2015). e retorno existe apenas
ações. entre empresas intensivas
Variável dependente: em P&D. O estudo ainda
excesso mensal de retorno sugere que a concorrência
da carteira tem um impacto significativo
nos perfis de risco e retorno
Variáveis independentes: das firmas intensivas em
(1) valor retorno de P&D e, portanto, conduz
mercado ponderado independentemente uma
menos a taxa livre de parcela significativa do
risco; (2) fator tamanho; prêmio atrelado aos
(3) fator book-to-market; investimentos em P&D.
(4) fator momentum; (5)
fator investimento; (6) fator
rentabilidade.
43
(conclusão)
Artigo Objetivo Metodologia Resultados
Santos, Identificar quais variáveis Teste de Mann-Whitney Os resultados
Calíope e definem a inovação nas para verificar a diferença demonstraram que:(i) a
Silva Filho empresas brasileiras de de médias de dois grupos inovação em P&D
(2016) capital aberto à luz da (exploration vs. (exploration) é mais
teoria contingencial. exploitation). difundida, porém recebe
menos investimentos que os
Variáveis dependentes: (1) ativos intangíveis em
P&D (exploration) ;(2) inovação (exploitation); (ii) a
Ativos intangíveis de média de investimento em
inovação (exploitation) P&D é superior em
empresas maiores,
Variáveis independentes: reguladas e
Tamanho da empresa; internacionalizadas; (iii) a
idade; endividamento; média de investimento em
desempenho; governança Ativos Intangíveis é superior
corporativa, regulação nas empresas
setorial; internacionalizadas.
internacionalização.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa, quanto à sua natureza, é classificada como aplicada, pois visa
identificar se os esforços inovativos das empresas de capital aberto, decorrente das
suas decisões de investimento em tais atividades, estão associados ao seu
ambiente competitivo, caracterizado pela concentração de mercado e a volatilidade
das ações. Gil (2018) define a pesquisa aplicada como aquela voltada à aquisição
de conhecimentos com vistas à aplicação numa situação específica.
Quanto ao seu objetivo, é classificada como descritiva, uma vez que buscou
relatar a existência de associação entre as variáveis e como elas são influenciadas
pelos fatores internos da organização. Gil (2018) conceitua as pesquisas descritivas
como aquelas que têm a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis
ou de descobrir a existência de associações entre elas.
Em relação à abordagem do problema, esse estudo é classificado como
quantitativo, visto que foram utilizados métodos estatísticos para tratamento dos
dados. A técnica utilizada para a coleta das informações foi o levantamento de
dados secundários disponíveis nas Demonstrações Financeiras Padronizadas
(DFPs,) mais especificamente nas NEs disponíveis ao público no site da B3, bem
como daqueles dados disponíveis no site da Economática®.
Configuração Organizacional
Orientada a P&D&E - Origem do Capital
HHI = (2)
52
Para Chan, Martin e Kesinger (1990), a resposta do preço das ações aos
investimentos em P&D tende a ser positiva para as indústrias de alta tecnologia a
exemplo de eletrônicos, produtos farmacêuticos e instrumentos científicos, mas
negativa para a indústria de baixa tecnologia como a do aço, refino de petróleo,
metais não ferrosos, entre outros.
Nesse mesmo sentido, Kayo et al. (2006) corroboram a ideia de que o valor
das ações de empresas tradicionalmente voltadas para as atividades de P&D são
bastante valorizadas pelo mercado. Os autores citam como exemplo a Pfizer,
empresa da indústria farmacêutica, quando ao final de 2001 apresentou seu valor de
mercado 13,7 vezes maior que o seu valor contábil. Assim, se por um lado o retorno
proporcionado pelas atividades de P&D pode ser significativo, por outro o risco
envolvido também é alto, visto que a teoria e a prática financeira preconizam que
quanto maior o risco maior deve ser o retorno potencial.
Para Malacrida e Yamamoto (2006), o investimento em ações envolve a
aceitação de certo grau de risco com relação às oscilações de suas cotações de
mercado. Dessa forma, o risco da empresa se refere àqueles associados à sua
própria atividade, às características do mercado em que ela opera e à capacidade
em liquidar seus compromissos financeiros assumidos.
No que tange o mercado de capitais, o índice da Bolsa de Valores de São
Paulo é o mais importante indicador de desempenho das cotações das ações
negociadas no mercado brasileiro. (ASSAF NETO, 2010). Conforme o autor, o índice
do mercado acionário é bastante útil ao refletir o comportamento dos investimentos
em ações e, em consequência, as tendências gerais da economia.
53
onde,
INOV = esforço para inovação, conforme Equação (1);
CONC = concentração de mercado, conforme Equação (2);
VOL = volatilidade das ações, calculada através do desvio padrão do retorno
das ações;
TAM= tamanho das empresas, medido pelo logaritmo natural do Ativo Total;
RENT= rentabilidade das empresas, medido pelo Retorno sobre o Ativo
(ROA), obtido pela divisão do Lucro Líquido sobre o Ativo Total;
ENDCP = endividamento de curto prazo das empresas, medido pelo Passivo
Circulante dividido pelo Ativo Total;
ENDLP = endividamento de longo prazo das empresas, medido pelo Passivo
não Circulante dividido pelo Ativo Total;
SET = dummies que identificam o setor da companhia i, conforme
classificação da B3;
εi = erro residual do modelo de regressão.
54
Conforme mencionado na seção 3.3.2, o índice de HHI foi definido como uma
proxy para a concentração de mercado e foi estimado considerando a participação
do Ativo Total de cada empresa sobre o Ativo Total do setor em que estas empresas
atuam, conforme classificação da B3.
Para Almeida (2010), a não utilização de empresas fora da listagem da B3
pode afetar a estimação do HHI, porém, como forma de minimizar esse viés, é
sugerido que o índice seja calculado considerando todas as empresas com
informações constantes ao longo dos anos, mesmo as que tenham fechado capital.
Seguindo esta linha, para efeitos do cálculo do HHI, foram consideradas todas as
empresas industriais que tiveram suas ações negociadas na B3 entre os anos de
2010 e 2018, incluindo aquelas cujos registros foram cancelados ao longo deste
período. O HHI dos setores para os períodos analisados são identificados na Tabela
5.
O setor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, conforme esperado, apresenta a
maior concentração de mercado entre os setores analisados, visto que opera em
uma situação de monopólio exercido pela Petrobrás. Para Trojbicz e Loureiro (2018),
apesar das regras criadas para abrir o setor à concorrência de empresas privadas
brasileiras e estrangeiras há mais de vinte anos e, a despeito de importantes
mudanças no setor no Brasil, o domínio econômico da Petrobrás permaneceu forte.
Nesse sentido, a transformação da Petrobrás em uma empresa de capital
misto, operando em regime competitivo, e a reestruturação organizacional de 1999
mostraram o processo de mudança incremental que teve um efeito aparentemente
paradoxal: em vez de enfraquecer a empresa, levou a Petrobrás a se tornar
62
que passou para 0,38. Nesse sentido, as discussões dos resultados apresentadas a
seguir serão baseadas no modelo (2).
contexto de maior competividade pode exigir um esforço maior por parte das
empresas que querem manter ou aumentar a sua participação no mercado. (NEGRI,
2018).
Já a variável volatilidade (VOL) apresentou uma relação negativa e
estatisticamente significante (-0,001) com a idade média dos ativos (INOV), ou seja,
à medida que há uma maior variação no preço das ações, a idade média dos ativos
diminui, denotando um maior investimento em inovação. Estudos como o de Chan,
Lakonishok e Sougiannis (2001) para o mercado de capitais da NYSE, AMEX e
NASDAQ, e o de Hungarato e Teixeira (2012) e de Silva et al. (2015) para o
mercado de capitais brasileiro sugerem que a intensidade dos gastos de P&D não
geram necessariamente retornos futuros e valorização por parte do mercado
acionário. Por outro lado, estudos como o de Hou e Robinson (2006) para o
mercado de capitais norte americano, e o de Figari et al. (2016) para o mercado de
capitais brasileiro, indicam que as empresas mais engajadas em inovação têm
retornos esperados mais altos, podendo este fato estar relacionado às possíveis
recompensas atreladas às incertezas e aos riscos associados aos investimentos em
P&D. Dentro dessa perspectiva, o resultado encontrado pode sugerir que, do ponto
de vista estratégico, a volatilidade das ações podem exercer influência no processo
de tomada de decisão. Esse processo tange, principalmente, os esforços em
inovação por parte das empresas mais propensas a aceitar os riscos do mercado,
buscando potencialmente obter recompensas futuras a partir de tais investimentos.
Para a variável tamanho (TAM) o modelo sugere uma relação negativa e
estatisticamente significativa (-0,035) com a idade média dos ativos (variável INOV),
indicando que à medida que o tamanho da empresa aumenta, a idade média dos
ativos diminui, denotando um maior investimento em inovação. Estes resultados
corroboram os achados de Gomes e Kruglianskas (2009) e Almendra et al. (2017),
cujas pesquisas encontraram relação positiva entre o investimento em inovação e o
tamanho da empresa, atribuindo esta relação às possíveis vantagens estruturais e
de mercado que estas empresas possuem. Este resultado pode também estar
atrelado ao fato das empresas de maior porte terem mais facilidade de conseguir
financiamento necessário para projetos de P&D em larga escala, como argumentado
por Shefer e Frenkel (2005).
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fuente (2003) e Lai, Lin e Lin (2015), foi possível identificar que empresas maiores
investem mais em inovação e, da mesma forma, empresas com maior rentabilidade
e maior nível de endividamento apresentaram uma relação inversa em relação aos
esforços em inovação.
De um modo geral, o poder explicativo do modelo de pesquisa, ao utilizar a
idade média dos ativos tangíveis e intangíveis como uma medida para a variável
esforço para inovação, sugere aderência às conclusões das últimas edições da
PINTEC. Nesse contexto, essas edições apontaram que, embora tenha havido um
aumento dos gastos em P&D por parte das empresas nos últimos anos, os
investimentos em máquinas e equipamentos ainda representam o maior esforço
inovativo no cenário industrial brasileiro. Conforme destacado pelo estudo de Frank
et al. (2016), as características da indústria brasileira podem estar atreladas a um
sistema nacional de inovação considerado imaturo. Não obstante, em linha com este
pensamento, podemos ter uma situação na qual as alocações de recursos em
atividades inovativas talvez ainda sejam mais percebidos como um custo do que um
investimento propriamente dito.
Uma das contribuições desta pesquisa para o meio acadêmico reside na
proposta de uma proxy alternativa para medir o esforço em inovação, sendo este
estimado através da idade média dos ativos tangíveis e intangíveis das empresas.
Além disso, ao contrário da maioria dos estudos identificados na revisão de
literatura, busca analisar a relação entre a concentração de mercado e o esforço em
inovação sob uma perspectiva endógena às empresas, trazendo algumas evidências
quanto aos determinantes internos que potencialmente impactam nesta relação.
Essas questões são reforçadas pelos apontamentos de Galende e La Fuente (2003)
quanto à importância de analisar não somente o contexto externo, mas também os
fatores internos e seus potenciais impactos no direcionamento das estratégias de
investimento em inovação. Nesse sentido, os resultados trazem contribuições à
medida que fornecem alguns indícios sobre a dinâmica do mercado e da
concorrência nos diferentes setores da B3, bem como as estratégias adotadas
quanto aos esforços em inovação das empresas. No entanto, é ressaltado que os
achados se referem à amostra da pesquisa e, portanto, não podem ser
generalizados empiricamente.
74
REFERÊNCIAS
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