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FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA – FAETEC

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO – ISERJ


PROFESSORA: Beatriz Lanziero

A literatura como direito universal corporificar como denúncia de iniquidades,


Considerando a arte e a literatura bens negação ou restrição de direitos, fonte de
incompressíveis, Antônio Cândido, em “O direito reflexão crítica e posicionamento político sobre o
à literatura”, defende o acesso às produções mundo. Mais que motivo de contemplação,
literárias como direito humano fundamentado em elemento de desfrute e prazer dos sentidos,
profunda necessidade que não pode deixar de configura-se como uma das condições ao
ser satisfeita “sob pena de desorganização entendimento crítico da sociedade, em ato que
pessoal, ou pelo menos de frustração mutiladora” não se reduz a compreender, mas atuar partindo
(CÂNDIDO, 2011, 176). O ensaísta parte de dessa compreensão. Como tão poeticamente
conceito amplo segundo o qual a literatura surge afirma Luiz Costa Lima, “não se aprende a
como manifestação universal de todos os liberdade desconhecendo-se os que
homens em todos os tempos: não há povo ou imaginariamente a trabalharam”. O direito à
indivíduo que possa viver sem fabulação. literatura pressupõe o reconhecimento da
Parafraseando Otto Ranke, Cândido apresenta a importância da leitura e da formação do leitor.
literatura como sonho acordado das civilizações.
Sem sonho não há equilíbrio psíquico, sem CONCEITOS DE LITERATURA
literatura não há equilíbrio social. Fator Conceituar, e não definir, a literatura.
indispensável de humanização, a literatura atua Não é de hoje que os estudiosos vêm procurando
como instrumento poderoso de instrução e conceituar a Literatura de um modo convincente
educação, equipamento intelectual e afetivo, e conclusivo. Porém, por mais esforços que
mas, sobretudo, palco de vivência dialética de tenham sido feitos, o problema continua aberto.
problemas. Não corrompe, tampouco edifica: E por quê? Ora, pelo simples fato de que, nesse
forma. A natureza contraditória da literatura particular, somente podemos usar conceitos,
releva seu caráter humanizador, materializando- nunca definição.
se em três faces: construção de objetos A Definição pertence ao campo da ciência. Definir
autônomos dotados de estrutura e significado, é dar uma explicação precisa, exata de algo.
forma de manifestação de emoções e visões de Assim, quando dizemos que água é [H2O],
mundo (conhecimento latente) e modo de estamos dando uma definição, pois os termos do
expressão de conhecimento intencional. Em enunciado correspondem à essência da água e
comunhão de eficácia humana e estética, a tão somente a ela. Além disso, tal definição é
literatura faz-se imprescindível à humanidade. aceita universalmente, pois se baseia no
Fruir da palavra organizada por outrem nos raciocínio, ou melhor, no emprego da razão.
capacita a ordenar nossa própria mente e O Conceito, por sua vez, é construído de acordo
sentimentos e, consequentemente, nossa visão com as impressões mais ou menos subjetivas
do mundo. A literatura fala-nos por meio de que cada um retira do objeto. Assim, quando
conjunção entre forma e conteúdo, arranjo conceituamos o amor, este conceito é criado
especial de palavras propositor de sentidos. Tal levando em conta a forma como esse sentimento
disposição liberta-nos do caos, aproximando-nos se manifestou em nós. Da mesma maneira,
de nossa humanidade. Também nos torna mais quando dizemos que "belo é o que agrada",
abertos à natureza, à sociedade e ao estamos tentando conceituar o "belo" de uma
semelhante. Nessa aproximação, pode se forma que procura ser universal. Basta uma
análise superficial deste enunciado para que ele natureza e alcançar seu objetivo artístico. (Alceu
se revele incapaz de satisfazer a todos. Tudo o Amoroso Lima)
que agrada é belo? O que desagrada não pode • A Literatura obedece a leis inflexíveis: a da
ser belo? E quando um mesmo objeto agrada herança, a do meio, a do momento. (Hypolite
uma pessoa e desagrada outra? O feio para uns Taine, determinista, século XIX)
não pode ser belo para outros? • A Literatura é como as demais formas de arte,
tem a capacidade de provocar no leitor um
OS CONCEITOS DE LITERATURA estranhamento diante da realidade, como se a
Não é fácil o trabalho de conceituar a Literatura. víssemos pela primeira vez, sob um prisma
Por trás de todo conceito, haverá sempre um diferente. (Chklovski, escritor russo)
posicionamento crítico. Todavia, destacaremos • A Literatura é arte e só pode ser encarada como
alguns conceitos para serem avaliados: arte. É a arte pela arte. (Doutrina da «arte pela
• Um dos mais antigos textos sobre o conceito de arte», fins do século XIX)
Literatura é a Poética, de Aristóteles (que • A Literatura é a expressão da sociedade, como
inaugurou a longa série de estudos). Nesse texto, a palavra é a expressão do homem. (Louis de
o filósofo grego afirma que "arte é imitação Bonald, pensador e crítico do Romantismo
(mímesis em grego)". E justifica: "o imitar é francês, início do século XIX)
congênito no homem (e nisso difere dos outros • O poeta sente as palavras ou frases como
viventes, pois de todos, é ele o mais imitador e, coisas e não como sinais e a sua obra como um
por imitação, apreende as primeiras lições), e os fim e não como um meio; como uma arma de
homens se comprazem no imitado". O que ele combate. (Jean-Paul Sartre)
quer nos dizer é que o imitar faz parte da • A literatura é como o sorriso da sociedade.
natureza humana e os homens sentem prazer Quando a sociedade ela está feliz, o espírito se
nisso; em síntese, apresenta-se a arte como lhe reflete nas artes e, na arte literária, com ficção
recriação. e com poesias, as mais graciosas expressões da
• A literatura nos permite viver num mundo onde imaginação. Se há apreensão ou sofrimento, o
as regras inflexíveis da vida real podem ser espírito se concentra grave, preocupado, e então,
quebradas, onde nos libertamos do cárcere do histórias, ensaios morais e científicos,
tempo e do espaço, onde podemos cometer sociológicos e políticos, são-lhe a preferência
excessos sem castigo e desfrutar de uma imposta pela utilidade imediata. (Afrânio Peixoto,
soberania sem limites. (Mário Vargas Llosa) Panorama da Literatura Brasileira)
• Literatura é a imortalidade da fala. (August • Literatura é a linguagem carregada de
Wilhelm) significado. Grande Literatura é simplesmente a
• É com bons sentimentos que se faz literatura linguagem carregada de significado até o máximo
ruim. (André Gide, escritor francês) grau possível. A literatura não existe no vácuo.
• A distinção entre literatura e as demais artes vai Os escritores como tais, têm uma função social
operar-se nos seus elementos intrínsecos, a definida, exatamente proporcional à sua
matéria e a forma do Verbo. De que se serve o competência como escritores. Essa é a sua
homem de letras para realizar seu gênio principal utilidade. (Ezra Pound, poeta, teórico e
inventivo? Não é, por natureza, nem do crítico de literatura norte-americano)
movimento como o dançarino, nem da linha como • Afrânio Coutinho, em suas "Notas de Teoria
o escultor ou o arquiteto, nem do som como o Literária", contribui com este magnífico conceito:
músico, nem da cor como o pintor. E sim – da A literatura, como toda arte, é uma transfiguração
palavra. A palavra é, pois, o elemento material do real, é a realidade recriada, através do espírito
intrínseco do homem de letras para realizar sua do artista e retransmitida através da língua para
as formas, que são os gêneros, e com os quais b) A linguagem é o material da Literatura, isto é,
ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a o artista literário trabalha com a palavra.
viver outra vida, autônoma, independente do c) Em toda obra literária, percebe-se uma
autor e da experiência de realidade de onde ideologia, uma postura do artista diante da
proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem realidade e das aspirações humanas.
perderam a realidade primitiva e adquiriram Disponível em:
outra, graças à imaginação do artista. São agora https://www.recantodasletras.com.br/teorialiterari
fatos de outra natureza, diferente dos fatos a/278085. Enviado por Ricardo Sérgio em
naturais objetivados pela ciência ou pela história 31/10/2006. Reeditado em 23/02/2011
ou pelo social. O artista literário cria ou recria um
mundo de verdades que não são mais medidas Literatura das ruas (abril/2006), de Sérgio Vaz
pelos mesmos padrões das verdades ocorridas. A literatura é uma dama triste que atravessa a rua
Os fatos que manipula não têm comparação com sem olhar para os pedintes, famintos por
os da realidade concreta. São as verdades conhecimento, que se amontoam nas calçadas
humanas gerais, que traduzem antes um frias da senzala moderna chamada periferia.
sentimento de experiência, uma compreensão e Frequenta os casarões, bibliotecas inacessíveis
um julgamento das coisas humanas, um sentido ao olho nu e prateleiras de livrarias que crianças
de vida, e que fornecem um retrato vivo e não alcançam com os pés descalços.
insinuante da vida. A Literatura é, assim, vida,
parte da vida, não se admitindo possa haver Os poemas, de Mário Quintana.
conflito entre uma e outra. Através das obras Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
literárias, tomamos contato com a vida, nas suas
no livro que lês.
verdades eternas, comuns a todos os homens e
lugares, porque são as verdades da mesma Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
condição humana.
• A obra literária não é pura receptividade Eles não têm pouso
imitativa ou reprodutiva, nem pura criatividade nem porto
alimentam-se um instante
espontânea e livre; mas "expressão" de um em cada par de mãos
sentido novo, escondido no mundo, e um e partem.

processo de construção do objeto artístico, em


E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
que o artista colabora com a natureza, luta com no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
ela ou contra ela, separa-se dela ou volta a ela,
vence a resistência dela ou dobram-se as Emergência, de Mário Quintana
exigências dela. [...]. O artista é um ser social que
Quem faz um poema abre uma janela.
busca exprimir seu modo de estar no mundo na Respira, tu que estás numa cela
companhia de outros seres humanos, reflete abafada,
esse ar que entra por ela.
sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para Por isso é que os poemas têm ritmo –
criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la. para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
(Marilena Chauí, Convite à Filosofia)
Apesar das diferenças e, por vezes,
antagonismos presentes nessa pequena
amostragem, podemos dela retirar algumas
ideias consensuais:
a) A Literatura é uma manifestação artística.

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