Glossario Zumbi
Glossario Zumbi
Resumo
Abjeto, body horror, close-up, ferida, gore, horror, necropolítica, terrir e zumbi são entradas deste glossário crítico
imaginado a partir da figura do morto-vivo. Presente na cultura popular e midiática, este personagem, com suas
ambiguidades, possibilita relacionar horror, artes visuais e cinema, contra o pano de fundo sociopolítico daquilo
que a filósofa mexicana Sayak Valencia chama de “capitalismo gore”. Busca-se, aqui, pensar a relação entre a
virtualidade da imagem – no presente neoliberal, caracterizada por superfícies lisas e luminosas próprias ao regime
obsceno da circulação e da visibilidade totais – e a fisicalidade irredutível do corpo – traduzida, no gênero do horror
e nos mortos vivos, por representações escatológicas da carne putrefata, da violência e da morte, sintomas
sintetizados, em parte, pela noção de necropolítica. O texto se vale de uma forma fragmentária, ensaística e por
associações por vezes díspares, de modo a incorporar a própria lógica dos objetos analisados.
Como se sabe, o termo necropolítico foi formulado pelo filósofo e cientista político
camaronês, Achille Mbembe (2016). Procura designar o controle da morte em massa exercido
por governos (totalitários ou não) e milícias privadas, em âmbito planetário. O conceito parte do
racismo, mas permite também pensar outros marcadores sociais como classe, gênero,
sexualidade e situação geopolítica. Coloca a questão de quais populações devem viver e quais
serão exterminadas sistematicamente. Já o espetáculo, tal como formulado por Guy Debord
(1997), é a cultura do consumo que assume uma forma totalitária ao infiltrar-se em todos os
aspectos da vida de um indivíduo, utilizando, para isto, as tecnologias de fabricação e difusão
de imagens. Quanto ao neoliberalismo, este consiste no regime da exploração máxima da força
produtiva precarizada. Conforme a síntese dramática proposta por Hardt e Negri (2001, p. 51),
“não existe nada, nenhuma ‘vida nua e crua’, nenhum panorama exterior que possa ser proposto
fora desse campo permeado pelo dinheiro; nada escapa ao dinheiro. A produção e a reprodução
são vestidas de trajes monetários”. Esboçado este panorama, nos perguntamos: que tipo de
subjetividade e quais modos de resistência são possíveis? Esta reflexão tem um caráter
radicalmente fragmentário – na forma de um glossário crítico – e opera por estudos de caso,
seja de obras artísticas ou de conceitos.
O psicanalista Christian Dunker relaciona a figura do morto-vivo a um certo tipo de
subjetividade caracterizada como “pós-traumática, cuja expressão de sofrimento seria
semelhante a lesões cerebrais, como afasias e demências” (Dunker, 2012, p. 232). É o sujeito
que precisa acertar as contas com a realidade de um mundo fraturado por guerras, genocídios,
autoritarismos e pela normalização cotidiana da violência. Recorrendo à noção de choque,
retirada, por sua vez, de Walter Benjamin, e ao “inominável da experiência” da violência, Dunker
nos diz que “seu paradigma literário são os zumbis ou mortos-vivos, seres funcionais que repetem
automaticamente uma ação, incapazes de reconstruir a história da tragédia que sobre eles se
abateu.” Assim prossegue o autor: “Parecem seres que perderam a alma e cujo sofrimento
aparece em meio a mutismos seletivos, fenômenos psicossomáticos e alexitimias (dificuldade de
perceber sentimentos e nomeá-los)” (p. 232). O conceito de “choque” de Walter Benjamin, que
interessa a Dunker, advém do ensaio Experiência e pobreza (Benjamin, 1993), no qual o autor
relaciona a experiência sofrida por combatentes da Primeira Guerra e a incapacidade desses
indivíduos de produzir relatos sobre o que viveram. Há neste texto uma denúncia da violência
generalizada, seguida pela constatação de que há “honradez” em “confessar nossa pobreza”, em
que o autor exorta, então, o enfrentamento altivo dessa exaustão provocada pelo choque: “[...]
não se deve imaginar que os homens aspirem a novas experiências. Não, eles aspiram a libertar-
se de toda experiência, aspiram a um mundo em que possam ostentar tão pura e tão claramente
sua pobreza externa e interna, que algo de decente possa resultar disso” (p. 118).2 Se, por um
2Significativamente, Benjamin continua: “[...] eles "devoraram" tudo, a "cultura" e os "homens", e ficaram saciados
e exaustos [...] Ao cansaço segue-se o sonho, e não é raro que o sonho compense a tristeza e o desânimo do dia,
lado, Benjamin aposta na “confissão” da pobreza a que o corpo é submetido sob o totalitarismo e
o capitalismo, por outro, o autor observa que a experiência paradigmática do choque é
internalizada no trabalho artístico. Benjamin trata, em outros textos (Benjamin, 1994), da relação
da arte com os choques e perigos da vida urbana no âmbito da modernização – desde a multidão
que reúne indivíduos privados que competem entre si no mercado, à luta de classes, aos
“conspiradores” boêmios, à observação anônima do flâneur (“qualquer pista seguida pelo flâneur
vai conduzi-lo a um crime”), ao regime escopofílico marcado pela fantasmagoria da luz artificial,
pelo ritmo acelerado e pelo movimento constante (atributos do espetáculo nascente
testemunhado pelo autor nas primeiras décadas do século 20). Como uma espécie de inoculação
e espelhamento da saturação do aparato sensorial e cognitivo, a arte incorporaria o choque em
seu nível formal.3 A figura do morto-vivo, a partir da relação sugerida por Christian Dunker e
expandida nesta reflexão, associa-se ao choque da sociedade industrial e do espetáculo
nascente, assim como é, contemporaneamente, um efeito da violência praticada por regimes
totalitários e pelo estado permanente de exceção descrito pelo conceito de necropolítica.4 Deste
modo, a figura do morto-vivo, tomada como alegoria da violência e da precarização do sujeito
contemporâneo é, portanto, um tema absolutamente atual. É, também, transdisciplinar,
encontrado em muitos estratos da cultura popular e midiática, o que respalda a postura
experimental e híbrida dos objetos analisados nesta reflexão.
Soma-se a esta subjetividade fraturada pelo choque a noção de “abjeto”, expressão cabal
da “confissão” exigida por Walter Benjamin. Na literatura sobre o cinema de horror não é incomum
encontrar o abjeto mediando a experiência do caráter polimorfo do corpo e da realidade (Creed,
1993). Tal experiência aparece na forma do monstruoso, do insólito, do indeterminado e da
violência extrema. É expressa pelo recurso a um universo pré-simbólico, caracterizado por fluidos,
substâncias, matérias informes, orgânicas ou inorgânicas, que são relativas ao corpo, mas que
não produzem identificações com as noções de personalidade, estrutura (leia-se corpo estrutu-
rado, íntegro) e binarismos. Como se sabe, um texto celebrado sobre o abjeto é Powers of Horror,
realizando a existência inteiramente simples e absolutamente grandiosa que não pode ser realizada durante o dia,
por falta de forças” (Benjamin, 1993, p. 118).
3 Nos diz Benjamin: “A técnica submeteu […] o sistema sensorial a um treinamento de natureza complexa. Chegou
o dia em que o filme correspondeu a uma nova e urgente necessidade de estímulos. No filme, a percepção sob a
forma de choque se impõe como princípio formal. Aquilo que determina o ritmo da produção na esteira rolante
[fabril] está subjacente ao ritmo da receptividade, no filme” (Benjamin, 1994, p. 125). Podemos pensar a operação
de montagem do filme como choque de elementos heterogêneos, e a associação do fluxo dos fotogramas com a
produção fabril, não somente pelo ritmo, mas também pela fragmentação operacional no interior do fluxo em
unidades autônomas, porém encadeadas, como também ocorre na linha de montagem. Mais adiante no mesmo
texto, Benjamin procurará relacionar o comportamento da multidão ao automatismo e coisificação do trabalho
industrial: “Seus transeuntes se comportam como se, adaptados à automatização, só conseguissem se expressar
de forma automática. Seu comportamento é uma reação a choques” (p. 126).
4 A narrativa benjaminiana é apenas uma parte da história. Outra parte deve tomar o sequestro, a fragmentação
do corpo e a violência total, conforme alerta Denise Ferreira da Silva, como efeitos das dinâmicas da raciali-
dade/colonialidade do poder (Ferreira da Silva, 2019). O termo necropolítica procura incluir, ainda que de modo
insuficiente, esta tensão racial.
de Julia Kristeva (1982). Logo na introdução, a autora caracteriza o abjeto como a ameaça de
uma “exterioridade ou interioridade exorbitantes”, excessivamente “próximas”, mas que não
podem ser “assimiladas”, “toleradas”, nem mesmo nomeadas, por não se tratar de “objetos
definíveis”. O abjeto opõe-se tanto ao sentido auto-evidente, quanto ao “eu” autônomo, uma vez
que habita uma zona ao mesmo tempo familiar, porém completamente estranha: “no limite da não
existência [porquanto não há reconhecimento] e da alucinação, uma realidade que, se tomo
conhecimento, me aniquila”. Kristeva sugere que o abjeto produz uma instabilidade violenta das
identificações. Segundo Hal Foster (2017, p. 148), “a ambiguidade fundamental em Kristeva é seu
deslizamento entre a operação de abjetar e a condição de ser abjeto”.5 Num primeiro momento,
sob o domínio do corpo materno, ou seja, misturado a esse corpo e aos seus fluidos, o bebê, para
separar-se dele, precisa recusá-lo. Pode ocorrer aí uma inabilidade em realizar essa separação,
fracassando na batalha pela autonomia. A própria autonomia (em termos psicanalíticos, o ego) é,
então, evacuada, “abjetada”, tornada um lugar vazio. Processo que se realiza por meio da identi-
ficação (imitação) com aquilo que é limítrofe em relação ao corpo, aquilo que é evacuado,
indiferenciado do elo com a mãe e com os seus fluidos. Esses dois momentos seriam instâncias
nas quais a posição de sujeito é perturbada. Abjetar é um recurso necessário para tornar-se um
sujeito, enquanto ser abjeto significa estar morto, indiferenciado, identificado à realidade material
do cadáver, numa lógica possível de ser aplicada tanto ao indivíduo quanto ao corpo social.
Temos, então, uma caracterização do abjeto como um território de ambivalências, como aquilo
que desestabiliza noções de identidade, sistema e ordem por um certo desvio nos limites entre o
vital e o inerte, o familiar e o estranhamento radical, a proteção e a ameaça de dissolução (Bataille,
1987).6 O paradigma do morto-vivo (o sujeito como cadáver vivente) produz, portanto, uma
contaminação, uma frustração da capacidade de separar, contrastar, diferenciar. Tal como um
objeto fóbico, não é possível sublimar ou fetichizar um estranhamento que não foi codificado pela
linguagem, pois é a manifestação sem reservas de um horror primordial.
Body horror
Assistir ao [filme de] horror é uma experiência que pode nos aproximar dos limites
da senciência, do limiar das sensações, do que significa “tornar-se carne” (Aldana
Reyes, 2012, p. 71).7
5 Em nota de rodapé da mesma página, o autor complementa: “Ser abjeto é ser incapaz de abjeção, e ser
completamente incapaz de abjeção é estar morto, o que faz do cadáver o derradeiro (não) sujeito da abjeção.”
Sobre o abjeto, também nos diz: “uma categoria do (não) ser, definida por Julia Kristeva como nem sujeito nem
objeto, e sim antes de ser o primeiro (antes da total separação da mãe) ou depois de se tornar objeto (como um
cadáver entregue ao estado de objeto)” (Foster, 2017, p. 143).
6Para Bataille, o cadáver deve ser retirado da vista para proteger os vivos de seu medo constante da perda de
seu ser descontínuo, de sua individualidade, com a fusão ao homogêneo indiferenciado que é a morte.
7
No original: “Watching horror is an experience that can bring us closer to the limits of sentience, of sensorial
liminality, of what it means to be in a state of ‘becoming meat’.”
Nos termos de Linda Williams, body horror – horror corporal – consiste no “espetáculo do
corpo capturado em situações de sensações e emoções intensas”, que produzem um “senso de
envolvimento excessivo” (overinvolvement) nessas mesmas sensações e emoções (Williams,
1991, p. 4-5).8 Assim, se por um lado, o horror trata da experiência do corpo tornado imagem –
na sua totalidade ou em partes, agigantado na tela de cinema, a engolfar o espectador –, por
outro lado, trata de um tipo de evento que exacerba as experiências de fisicalidade do corpo.
Segundo Williams, os body genres ocorrem em gêneros tidos como sensacionalistas ou
exploitation, como a pornografia, o melodrama e o horror, além do musical e da comédia. Suas
representações são “displays de emoções primais, até mesmo infantis, em narrativas
aparentemente circulares e repetitivas” (p. 3). Suas figurações mais evidentes relacionam-se com
a violência, o sexo explícito e o choro, bem como imagens de fluidos corporais, como sangue,
esperma, saliva e lágrimas, para mencionar apenas alguns. Os body genres são, muitas vezes,
tomados como “gratuitos”, como nos diz a autora, que se opõe a esta definição. Williams oscila
entre perceber, de um lado, o horror corporal como uma mímica realizada pelo espectador daquilo
que ocorre na narrativa do filme, e de outro, como uma válvula de escape, por assim dizer, às
estruturas repressivas da perversão e da castração (Laplanche; Pontalis, 2001, p. 341-344; 72-
76) – o desvio da descarga sexual dos meios genitais para meios não genitais (fetiche) e o retorno
ao evento traumático da descoberta da diferença sexual, em registro binário sob suspeição na
atualidade. Articula-se aí, tanto na mímica, quanto no fetiche e no trauma, uma relação, a um só
tempo, estreita e dissociada entre imagem e corpo, violência e prazer; entre corpos
desmembrados ou informes, feridas, choques, monstros etc., e um erotismo mórbido que se
realiza na descarga excessiva de sensações e emoções que incidem sobre o corpo.
Xavier Aldana Reyes também trabalhará a ideia de uma mímica que o espectador
realizaria dos choques e emoções sofridas por personagens dos filmes de horror. O autor
propõe o horror corporal como um “momento cinemático” (Aldana Reyes, 2016, p. 3) produzido
por contágio, de modo somático, no corpo do espectador, a partir do “contato visceral” com as
imagens, e em particular, nas cenas explícitas de violência, mutilação corporal e tortura. Aldana
Reyes (2016, p. 14) nos lembra que o termo horror deriva do latim horreo, referido ao espanto
que causa a resposta corporal do arrepio,9 estabelecendo uma relação de fisicalidade intrínseca
8 Ver, também, os ensaios presentes em Body Horror (1986), edição da revista Screen. Destacamos o ensaio de
Philip Brophy, que afirma haver um interesse, a partir dos anos 1960 e 1970, pela “destruição do corpo” e sobre o
“desconforto físico” que ela provoca no espectador (Brophy, 1986, p. 8), mais do que no sentimento de medo da
morte manipulado pelo filme de horror. Outro texto icônico publicado nesta edição é o artigo de Barbara Creed,
Horror and the monstrous-feminine: an imaginary abjection, em que a autora parte da noção de abjeto elaborada,
como vimos anteriormente, por Julia Kristeva, para relacionar o feminino como ameaça à ordem simbólica
essencialmente patriarcal. Creed, porém, denuncia o filme de horror como aquilo que termina por ‘purificar’ a
relação do espectador com o abjeto, mantendo intocadas as categorias patriarcais (Creed, 1986).
9 Linda Badley, antes, havia sugerido essa somatização na forma infinitiva do verbo em latim, horrère. Nos diz: “At
its simplest, it [the horror film] delivers a frisson that originates as a somatic response. horror comes from horrère,
which refers to the "bristling of the hair on the nape of-the neck" [...] The phenomenon has been taken to its logical
conclusion in images of the body that evoke the greatest possible physical response.” (Badley, 1995, p. 11).
com a experiência da narrativa de horror. Nos diz o autor: “[...] afetos corporais são constituídos
como ‘movimentos passionais’ e não como objetos que necessitam decodificação”. E continua:
“a intensidade [...] é caracterizada por sua ruptura do progresso linear da vida: perturba o estado
presente do corpo [...] O afeto é intensivo e involuntário e, portanto, a resposta é sempre anterior
ao momento de decisão consciente” (p. 56-58).10
Esta somatização interessa diretamente à nossa reflexão. Primeiramente, por permitir
recodificar a experiência perceptiva em termos de uma fenomenologia do extremo, baseada na
hiperintensidade e na ameaça. Segundo, pela perda de qualquer limite ontológico entre imagem
e corpo. Linda Williams (2008), por exemplo, ajuda a pensar o fenômeno cinemático da diluição
dos limites entre imagem e corpo não no sentido de uma mímica total, mas de um jogo ativo,
dinâmico, entre percepção, autoconsciência e autoalienação.11 Aldana Reyes (2016, p. 8) irá
afirmar que “respostas somáticas [...] produzidas por efeitos de sobressaltos nos devolvem ao
nosso corpo vivo e a uma forma de autoconsciência que é corporificada e orgânica”.12 Qualquer
sentido emancipatório fenomenológico, como este que se insinua no texto do autor, deve ser
visto com desconfiança. Tal saturação da cognição não deve ser tomada por sua capacidade
de restaurar a noção de corpo integral – e, consequentemente, de subjetividade autônoma. O
excesso corrobora justamente para o desmantelamento do corpo como o conhecemos e, no
limite, para a alienação da noção de personalidade e de sujeito. Neste ponto, vale lembrar que
Aldana Reyes (2012, p. 20) propõe, ainda, uma diferenciação entre um tipo de horror
desencantado, cujo corpo é vitimado e representado como limite material da existência, e um
horror corporal ligado às múltiplas possibilidades de redefinição anatômica do corpo (polimorfo,
monstruoso, como nos filmes de David Cronenberg). Apostando neste caráter polimorfo do
corpo, Kelly Hurley nos aponta o sentido preciso do que buscamos afirmar acima, ao
recusarmos a restituição da integridade fenomenológica do corpo:
A narrativa contada pelo body horror, repetidas vezes, é sobre um sujeito humano
desmontado e demolido: um corpo humano cuja integridade é violada, uma
identidade humana cujos limites são fissurados por todos os lados [...] Aqui, estou
menos preocupada com a conhecida fragmentação pós-moderna da identidade
humana do que com a sua reconfiguração por meio da pluralização e confusão de
formas corporais (Hurley, 1995, p. 205).13
10 No original: “[...] bodily affections are legitimated as ‘movements of passion’ and not as objects in need of decoding”;
“intensity [...] is characterised by its non-linear rupture of the linear progress of life: it disturbs the present state of the body
[...] Affect is intensive and involuntary, and therefore response is always prior to the moment of conscious decision.”
11 Vale indicar que Linda Badley, assim como Williams, irá comparar o horror com a pornografia e com o melodrama
para enfatizar o momento cinemático do choque ou do obsceno, vistos como “the spectacle of effects [that]
momentarily arrested the plot” (Badley, 1995, p. 8). Insiste também no horror como “somático” e “fisiológico”, que
atinge o corpo diretamente sem o anteparo da linguagem (p. 10-11).
12No original: “or somatic responses [...] produced by the startle effect return us to our lived body and to a form of
self-awareness that is embodied and organic.”
13No original: “The narrative told by body horror again and again is of a human subject dismantled and demolished:
a human body whose integrity is violated, a human identity whose boundaries are breached from all sides [...] Here
Para Hurley, o filme de horror e, em particular, o body horror, possibilita “produzir uma
encenação espetacular da ambiguidade corporal [...] uma narrativa especulativa que
estabelece novas economias de identificação e desejo” (p. 205).14 Consiste, então, no
[...] espetáculo do corpo humano desfamiliarizado, tornado outro. Body horror busca
inspirar repulsa – e a seu modo, prazer – por meio de representações de figuras quase-
humanas cujo efeito/afeto é produzido por sua abjeção, ambiguidade; por corporeida-
des impossíveis que são entes limiares e ocupam ambos os termos da oposição
humano/não humano (ou melhor, existem na fissura entre eles) (Hurley, p. 203).15
Este corpo impensado, ambivalente, coloca-se além das definições produzidas pelas
“ideologias dominantes” e das “formações baseadas na diferença sexual e na identidade”, em
favor de uma economia corporal e do desejo que privilegia a “indeterminação”, a flutuação dos
sentidos (p. 208, 211, 213). Temos, assim, por meio do horror corporal acesso ao potencial do
horror em produzir no espectador reações reflexas, com o abjeto servindo de mediação a um
universo inominável pré-simbólico e avesso aos limites categóricos. Temos, também, a pele e o
caráter polimorfo do corpo “tornado outro”, a lembrar-nos que o corpo também é uma máquina de
produzir significações, um envelope provisório, superfície das representações por onde circulam
signos e onde se dão as distorções, instabilidades e trocas de lugar (Halberstam, 1995, p. 163).16
Close-up
Há uma certa obscenidade no recurso ao close-up. Tal como olhar através do buraco
da fechadura, pelo telescópio ou microscópio, o close-up implica um desejo de ver além do
que o olho e a distância permitem. Denota um prazer escópico, uma penetração nas
superfícies. Podemos tomar o close-up como o agigantamento de um detalhe que confere
maior realismo, veracidade, à cena. Este recurso descritivo, documental, por assim dizer,
I am concerned less with the reputed postmodern fragmentation of human identity than with its reconfiguration
through the pluralization and confusion of bodily forms.”
14No original: “to effect a spectacular visual staging of bodily ambiguation [...] a speculative narrative that sets out
new economies of identification and desire.”
15 No original: “spectacle of the human body defamiliarized, rendered other. Body horror seeks to inspire revulsion –
and in its own way, pleasure – through representations of quasi-human figures whose effect/affect is produced by their
abjection, their ambiguation, their impossible embodiments are liminal entities, occupying both terms (or rather,
existing in the slash between them) of the opposition human/non-human.” Em outra parte, Linda Badley, pesquisadora
também interessada na literatura gótica e na relação com o filme de horror, nos diz: “In my view, horror has become
a fantastic "body language" for our culture in which a person's self-concept has been increasingly constituted in images
of the body. In the ongoing crisis of identity in which the gendered, binary subject of Eurocentric bourgeois patriarchy
(in particular, the Freudian psychoanalytical model of the self) is undergoing deconstruction, horror joined with other
discourses of the body to provide a language for imagining the self in transformation, re-gendered, ungendered, and
regenerated, or even as an absence or a lack” (Badley, 1995, p. 3; ver também p. 25-31).
16 Diz Halberstam: “Skin is at once the most fragile of boundaries and the most stable of signifiers; it is the site of
entry for the vampire, the signifier of race for the nineteenth-century monster. Skin is precisely what does not fit;
Frankenstein sutures his monster's ugly flesh together by binding it in a yellow skin, too tight and too thick. When,
in the modern horror movie, terror rises to the surface, the surface itself becomes a complex web of pleasure and
danger; the surface rises to the surface, the surface becomes Leatherface, becomes Demme's Buffalo Bill, and
everything that rises must converge” (Halberstam, 1995, p. 163).
permite um acesso supostamente mais objetivo a um dado visível. O seu caráter pornográfico
relaciona-se com o autoritarismo da imagem do espetáculo (Debord, 1997), ou com a
ideologia da visibilidade total apontada por Baudrillard (Baudrillard, 1983, p. 130-131),17 ou,
ainda, com o “frenzy of the visible” conceituado por Linda Williams (1989), que procura
descrever uma excitação escopofílica, ato de ver sem reservas. Aliás, de Williams, vale
ressaltar a relação que faz entre fetiche e o “money shot” da indústria pornográfica
estadunidense dos anos 1970. Money shot é o termo que define o close-up do pênis
ejaculando, tomado como evidência visual-material da satisfação sexual (a partir de uma
perspectiva patriarcal, bem entendido). O caráter todo poderoso do close-up associado ao
pênis impõe um corte, uma imagem clichê (portanto, reificada), a alienação do membro de
seu contexto e dos corpos que produzem este contexto, inclusive o próprio corpo do qual o
pênis, agora agigantado, foi parte. As obras analisadas a seguir se relacionam com a
onipotência do close-up patriarcal, ora endossando-a, ora contrapondo-se a ela.
A figuração do cadáver ou do corpo machucado por meio do close-up, tão comuns em
filmes de mortos vivos, juntamente com as cenas de canibalismo, peles e corpos em
decomposição, vísceras aparentes, certamente ofendem a onipotência da legibilidade sem
ruídos do pênis ereto ejaculador. Mas, e quando esses elementos aparecem justapostos,
como em L.A. Zombie (2010), de Bruce LaBruce? Os close-ups da primeira cena de sexo
explícito enfatizam as expressões de prazer da personagem caracterizada como morto-vivo
e o vaivém de seu pênis ereto. As expressões faciais de prazer são simultâneas à maquiagem
aterrorizante, dentes pontiagudos agressivos e sangue escorrendo pela boca (baba-sangue).
O pênis ereto, signo da virilidade do corpo masculino, é, por sua vez, agigantado e deformado,
e penetra a cavidade de uma ferida localizada no tórax do cadáver de um homem, vítima de
um acidente de carro. A penetração restitui ao cadáver os seus batimentos cardíacos, num
coração exposto, de tamanho anormal, dotado de pêlos, localizado fora do corpo. O coração
é visto pulsar (novamente, irrigando e contraindo) junto ao vaivém do membro sexual. Nesta
sequência, há um curto-circuito na relação entre imagem, som e narrativa, pois parecem
contrariar-se mutuamente. Dois registros de imagem ocorrem ao mesmo tempo: o corpo
morto/machucado e o sexo. A incongruência da trilha sonora new age corporativo-
motivacional impõe ainda um terceiro registro que amortece tanto o choque da necrofilia
quanto a excitação sexual. O money shot, finalmente, vai ostentar uma morbidez irônica: o
membro ereto e deformado do monstro ejacula um líquido vermelho escuro assemelhado ao
sangue no rosto satisfeito do cadáver ressuscitado.
17 Baudrillard diz: ”Obscenity begins precisely when there is no more spectacle, no more scene, when all becomes
transparence and immediate visibility, when everything is exposed to the harsh and inexorable light of information
and communication [...] It is no longer […] the traditional obscenity of what is hidden, repressed, forbidden or
obscure; on the contrary, it is the obscenity of the visible […] of what no longer has any secret, of what dissolves
completely in information and communication” (Baudrillard, 1983, p. 130-131).
18
Ver links para a obra: https://www.youtube.com/watch?v=dSVMZjl7i9Q; e para a exposição: http://www.habito-
habitante.com.br/. Acesso em: 2 maio 2023.
fragmento. Por fim, cabe indicar que em sua dissertação de mestrado ainda inédita (2023),
Felipe Abdala relaciona alguns de seus trabalhos com a “linha orgânica” da artista Lygia Clark.
De fato, observamos os cortes nas quinas da parede como resultantes de gestos vitalistas –
abocanhar, morder, mastigar e cuspir. Observamos, ainda, que os cortes produzem danos
irrecuperáveis na superfície da imagem, uma penetração que, parafraseando Suely Rolnik
(1999, n.p), ‘extrai tridimensionalidade do plano bidimensional’. Sentimos, como ondas de
sensações reflexas, a aspereza das mordidas e a irregularidade das linhas brancas e somos
pedagogicamente convocados a roer a parede juntos. Mas, no lugar do caráter otimista redentor
prometido pela vitalidade da experiência corporal – e da participação –, a vitalidade que vemos
em Boca Seca decorre da constante ameaça de seu esquartejamento. A vontade de construção
é, aqui, atualizada pela vontade de destruição.
Ferida
Num breve ensaio de David Lapoujade (2002), O corpo que não aguenta mais, o filósofo
procura caracterizar gestos “rebaixados” – entre eles, rastejar, mutilar-se, torcer-se, deixar-se
estar, tomado pelo cansaço – como gestos de internalização das forças externas que pressio-
nam o corpo. Lá onde dói, onde o corpo é mais vulnerável, doente e apresenta feridas expostas,
é que conhece a sua maior resistência. É o ponto no qual o corpo, num misto de terror e riso
irônico, apresenta-se irredutível: dali não se pode ultrapassar. É carne crua, matéria bruta que
já não pode mais ser subjugada pela disciplina e pela cura. É a vingança do corpo: seu ponto,
portanto, de maior resistência. A postura ereta é declinada pela gravidade, seja ela um fenô-
meno físico ou coerções políticas, econômicas e sociais. As partes deformadas, esquartejadas,
ainda animadas e quentes, derramando sangue, pus e excrementos, evidenciam a sua própria
materialidade irredutível. Antissujeito sem qualquer concessão à identidade/personalidade.
Fingir-se de morto não é o mesmo que estar morto.
A ferida interrompe a continuidade da superfície da pele (do mesmo modo, a imagem
“pobre” interrompe a circulação ilimitada, obscena, da imagem lisa neoliberal). Se, como
vimos, a pele é a superfície por onde circulam os signos e as ambiguações, situada, porém
em confronto com o regime da visibilidade total, a ferida é o monstruoso, aquilo que rasga a
superfície. A ferida é o ponto de contato entre o corpo fragmentado, violentado, e o corpo do
espectador, numa espécie de fenomenologia do limite físico, de cumplicidade somática. Em
sua face não utópica, a ferida ostenta os signos do regime necropolítico da atualidade,
conforme descrito por Achille Mbembe:
vivas, mas cuja integridade física foi substituída por pedaços, fragmentos, dobras,
até mesmo imensas feridas difíceis de fechar. Sua função é manter diante dos olhos
da vítima – e das pessoas a seu redor – o espetáculo mórbido do seccionamento
(Mbembe, 2016, p. 142).
Gore
19No original: “The gratification of the contemporary Horror film is based upon tension, fear, anxiety, sadism and
masochism – a disposition that is overall both tasteless and morbid. The pleasure of the text is, in fact, getting the
shit scared out of you – and loving it; an exchange mediated by adrenalin.”
20 Nos diz Hutchings: “For some, the graphic display of bodily fluids, mutilation and evisceration involves an appeal
to degraded and base elements in the human character. For horror theorists and critics, however, the genre’s gore
effects relate more to a fascination with the body and its workings, a fascination that is marginalized or suppressed
in other, more decorous areas of our culture. In addition, horror fans often seem more interested in appreciating the
makeup techniques that produce the gore effects than they are in just witnessing moments of nastiness; for these
fans at least there is an aesthetic of gore at work in horror cinema.” (Hutchings, 2008, p. 147-148).
21As aspas modificam ligeiramente o que é dito no seguinte trecho: “Through their disruption of the everyday world,
the explosion of our previous assumptions about normality, reality and unreality, violence against the body and the
social or moral order, etc., postmodern horror films offer the audience the impossible satisfaction of the death drive,
the enjoyment of always seeing more than meets the eye, seeing beyond the cinematic images and yet repeating
them from the beginning all over again” (itálico nosso).
22Em outra parte, afirmou-se: “Tem-se, aqui, na esteira de David Harvey (2008), que o espaço do capitalismo, a partir
de meados dos anos 1970, produz imensa comunicabilidade e fluxo de mercados e capitais em nível global, com
rápido tempo de giro. A homogeneização e a universalização aí pressupostas são “perversas” – no dizer de Milton
Santos (2006), geógrafo crítico da globalização – porque são apenas efeitos discursivos de um processo totalitário
que produz, a todo tempo, fraturas subjetivas, territoriais, culturais, afetivas, trabalhistas etc.” (Pera, 2022, p. 474).
Horror27
exemplo). Além disso ele está a meio caminho entre uma grandeza positiva (prazer) e negativa (dor)” (Dunker, 2002,
p. 49-50). Mais adiante (p. 55), Dunker nos lembrará da relação entre o gozo psíquico e a mais-valia econômica, um
valor que é posto para a troca e não para o uso, que sempre excede e aliena o sujeito, atualizando os termos que
temos nos utilizado para pensar a engrenagem do gore frente ao capitalismo.
26No original: “gore [...] responds to the vicissitudes of value, the invariable condition for capitalist accumulation.
Gore emphasizes the materiality of bodies and brains, of the human substance within an economy made
seemingly abstract because it has become financial but which is nevertheless dependent upon labour as the
sole source of value.”
27 Muitas vezes nos deparamos com a expectativa de diferenciar os termos "horror" e "terror". Na bibliografia
consultada esta diferenciação mais rigorosa ocorre somente em Nöel Carroll, que relaciona o termo "terror" às
ficções “que alcançam seus efeitos assustadores ao explorar fenômenos psicológicos, que são, afinal,
demasiadamente humanos” (Carroll, 1990, p. 15). Enquanto o conceito de “horror” estaria ligado ao monstro, tanto
ao seu caráter sobrenatural, quanto à sua natureza híbrida e ao sentimento de repulsa que produz (p. 12-41).
Robin Wood (Wood; Grant, 2018) varia entre os termos terror e horror, e Mark Jancovich (2002), apesar de insinuar
uma diferenciação, não a realiza com rigor.
sofrer simbolicamente apenas para ter tal realidade assegurada em seguida, numa lógica
compensatória muito próxima ao sublime.28
Ao produzir-se como imagem fotográfica em movimento, o filme de horror usaria a
relação de verossimilhança tanto para espelhar a “realidade” – estabelecendo um espaço-
tempo realista, por assim dizer –, quanto para introduzir nela elementos dissonantes,
heterogêneos. Em outras palavras, produzida a ilusão, a “realidade” seria revirada, fissurada,
tornada inverossímil, horripilante (Jancovich, 2002; Benshoff, 1997, p. 6). Como vimos, a
imagem gore, em seu excesso de descritividade, levaria esta verossimilhança ao seu limite.
Mas, nota-se, principalmente, que muitos críticos privilegiam, cada um a seu modo, o
protagonismo da figura do monstro para esta tarefa de desestabilização. Um autor influente
destaca uma “fórmula básica, simples e óbvia, para o filme de horror: a normalidade é
ameaçada pelo monstro” (Wood; Grant, 2018, p. 83). O monstro é o outro da “normalidade”,
um substituto para o conteúdo reprimido no interior da sociedade patriarcal.29 Outro autor
bastante citado toma a figura do monstro como um contrassenso que confunde categorias e
instila ambivalências (dentro-fora, morto-vivo, humano-não humano etc.), o que lhe confere
um caráter “impuro” – “transgressão”, “violação”, “contradição”, “intersticial”, “ambiguidade”
são outros termos usados pelo autor. Esta impureza, associada a elementos como podridão,
o corpo morto, doenças, vermes e seres rastejantes, acionaria emoções de horror e repulsa
(Carroll, 1990).30 A referência prototípica aqui é certamente a criatura de Frankenstein,
28 Por exemplo, Rosalind Krauss chama atenção para operações de desagregação formal realizadas no nível dos
significantes (os materiais e processos mesmos de formalização das obras artísticas), de modo a romper com
hierarquias e convenções formais, estruturas organizacionais, expectativas de verticalidade, monumentalidade,
totalidade, em suma, modos estáveis de produzir representações, em favor de operações de dispersão, queda e falta,
operações em que a própria noção de forma é coloca em xeque (Krauss; Bois, 2000). O crítico de cinema Robin
Wood também oferece uma ilustração do que se quer aqui caracterizar como uma “internalização” do horror à forma
artística. Em sua análise de The Texas Chainsaw Massacre (Tobe Hoopper, 1974), Wood percebe com muita sutileza
que o “sentido fundamental do horror”, aquilo que pulsa no interior do filme, “está intimamente aliado ao sentido de
absurdo” (Wood; Grant, 2018, p. 101). Aqui, o absurdo da narrativa só pode intensificar-se, jamais retroceder e, por
sua vez, se associa intimamente a um sentido de desespero niilista. Tais sensações certamente resultam do
encadeamento narrativo, mas são também produzidas por significantes mais elementares como a luz laranja
asfixiante do por do sol, a própria incidência, nas imagens, de lens flares cortantes, a lembrar-nos que o horror ocorre
a céu aberto, o silêncio e a vastidão vazia do território, interrompidos pelo som da serra elétrica e por indivíduos
isolados, sem qualquer esperança de resgate, fugindo para sobreviver. Wood oferece, ainda, uma interpretação
sociológica em seu texto ao procurar relacionar o capitalismo ao canibalismo praticado pela família de Leatherface,
naquilo que trata seres humanos como meros objetos de uma satisfação erótica letal não reprimida. Ressalte-se que
se trata de uma família de açougueiros. Quanto ao sublime, ver Gothic, de Fred Botting (2005, p. 25-28).
29 O crítico aqui referido, Robin Wood, afirmaria ainda: “I use “normality” here in a strictly non evaluative sense to
mean simply “conformity to the dominant social norms”: one must firmly resist the common tendency to treat the
word as if it were more or less synonymous with ‘health’” (Wood; Grant, 2018, p. 83). Neste texto de 1978,
encontramos uma lista bastante objetiva do que Wood identifica como este conteúdo reprimido: outras pessoas
(pressupõe que uma sociedade capitalista é formada essencialmente por competidores e pela noção de
propriedade privada), a mulher, o proletariado, outras culturas, grupos étnicos dentro de uma cultura, ideologias e
sistemas políticos alternativos, desvios das normas sexuais (frente ao: regime patriarcal, heterossexual, sexo com
fins reprodutivos, família nuclear, libido com função finalista dirigida ao trabalho), crianças.
30Nos diz Nöel Carroll: ”Within the context of the horror narrative, the monsters are identified as impure and unclean.
They are putrid or moldering things, or they hail from oozing places, or they are made of dead or rotting flesh, or
chemical waste, or are associated with vermin, disease, or crawling things. They are not only quite dangerous but
they also make one’s skin creep. Characters [in a movie] regard them not only with fear but with loathing, with a
combination of terror and disgust“ (Carroll, 1990, p. 23). Quanto à impureza, Carroll a caracteriza como um “[...]
conflict between two or more standing cultural categories. Thus, it should come as no surprise that many of the
most basic structures for representing horrific creatures are combinatory in nature [...] On the simplest physical
level, this often entails the construction of creatures that transgress categorical distinctions such as inside/outside,
living/dead, insect/human, flesh/machine, and so on“ (p. 43).
31 Num resumo grosseiro, pode-se dizer que, por um lado, a autora vai revisar a teoria psicanalítica da castração
e propor uma inversão da noção de que a mulher ameaça por ser o outro castrado. Em sua perspectiva, a ameaça
advém da mulher como potencialmente castradora do sujeito patriarcal. Há uma imagem de maternidade (salvo
engano, não essencialista, porquanto não marcada pela diferença de gênero que caracteriza a teoria da castração)
examinada pela autora que representaria uma “mãe totalizante e oceânica […] que invoca no sujeito a ansiedade
[a ameaça] da fusão e da dissolução” (Creed, 1993, p. 20). Creed conclui que “[a]s this desire to return to merge
occurs after differentiation, that is after the subject has developed as separate, autonomous self, it is experienced
as a form of psychic death” (p. 28). E acrescenta: “In contrast with the conventional viewing structures working
within other variants of the classic text, the horror film does not work to encourage the spectator to identify
continually with the narrative action. Instead, images on the screen challenge the viewer to run the risk of continuing
to look […] Strategies of identification are temporarily broken and pleasure in looking is transformed into pain as
the spectator is punished for his/her voyeruristic desires” (p. 28).
32 Creed baseia-se nas definições de Kristeva sobre o abjeto. O caráter ritual também é enfatizado por Benshoff:
“For spectators of all types, the experience of watching a horror film or monster movie might be understood as
similar to that of the Carnival as it has been theorized by Bakhtin, wherein the conventions of normality are
ritualistically overturned within a prescribed period of time in order to celebrate the lure of the deviant. Halloween
functions similarly, allowing otherwise "normal" people the pleasures of drag, or monstrosity, for a brief but
exhilarating experience.” (Benshoff, 1997, p. 13).
33 No original: “too horrible to watch [and] puts the viewer in direct contact with ‘the place of death’ and the collapse
of all systems of meaning”. Barbara Creed nos diz ainda: “the concept of a border is central to the construction of
the monstrous in the horror film; that which crosses or threatens to cross the ‘border’ is abject. Although the specific
nature of the border changes from film to film, the function of the monstrous remains the same – to being about an
encounter between the symbolic order and that which threatens its stability” (Creed, 1993, p. 10-11).
34No original: “[…] queerness disrupts narrative equilibrium and sets in motion a questioning of the status quo [...]
the nature of reality itself […] Queer suggests death over life by focusing on non-procreative sexual behaviors,
making it especially suited to a genre which takes sex and death as central thematic concerns”. O autor prossegue:
“By "queer," I mean to use the word both in its everyday connotations ("questionable . . . suspicious . . . strange .")
and also as how it has been theorized in recent years within academia and social politics. This latter "queer" is not
only what differs "in some odd way from what is usual or normal," but ultimately is what opposes the binary
Morto-vivo
Morto vivo (2022) consistiu em uma ação, com duração aproximada de três horas,
com alguns breves intervalos, na qual um performer caracterizado como morto-vivo realizou
algumas sequências de movimentos, todos retirados de filmes, games, videoclipe, entre
outras referências audiovisuais do gênero. Os movimentos foram marcados por sua
aleatoriedade combinatória e aparente descontinuidade: caminhar, ficar em pé (parado ou
balançando o corpo levemente), ficar deitado (simulando as torções corporais do rigor
mortis, ou apresentando espasmos repentinos), “agarrar” (com os braços estendidos em
frente ao corpo), morder, dançar (em referência ao Thriller, 1984, de Michael Jackson),
balbuciar sons sem sentido, rir, gritar, gemer de prazer e de dor, entre outros. Ao performer
foi solicitado que não realizasse contato visual com o público presente e foi dada total
autonomia para improvisos, em especial, para produzir relações com alguns elementos
espaciais, como o mobiliário, vãos arquitetônicos, portas, degraus etc. Todas as decisões
deveriam parecer reflexas, isto é, mais ou menos como respostas contingentes, sem,
contudo, serem diretamente reativas. Para tanto, os ritmos das ações deveriam privilegiar a
autoabsorção do personagem. Produziu-se, portanto, uma imagem ambivalente entre
alhear-se quase completamente, mas, também, responder, eventualmente, ao campo
social. O ensimesmamento garantiu ao performer a constante presença como coisa/corpo
em movimento. A ação ocorreu numa tarde de sábado ensolarada, no centro da cidade de
São Paulo, num espaço que funciona tanto como ateliê de artistas, como galeria de arte. O
morto-vivo era emoldurado por um espaço que funcionava como vitrine para obras artísticas
e pessoas. As próteses e a maquiagem caracterizam um corpo machucado, com feridas nos
braços, tronco, pescoço e cabeça. Foram feitas em colaboração com profissionais que
atuam como drag queen e cosplay, dotadas de uma teatralidade exagerada, porém
convincente para despertar um misto de interesse e repulsa. Ressalte-se que o tratamento
dos olhos – um completamente vedado pela prótese e outro parcialmente obstruído pela
lente de contato branca, forçaram o performer a um relativo alheamento de fato, que
interferia fisiologicamente na sua velocidade, na autovigilância dos movimentos e do corpo,
na nitidez do espaço e das pessoas ao redor.
definitions and proscriptions of a patriarchal heterosexism. Queer can be a narrative moment, or a performance or
stance which negates the oppressive binarisms of the dominant hegemony” (Benshoff, 1997, p. 4).
Necropolítica
A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é
na verdade a regra geral (Benjamin, 1993, p. 226).
Campo (pense-se nos grupos paramilitares com organização patriarcal comuns aos
filmes de mortos vivos, em particular estadunidenses, mas também nos manifestantes civis
brasileiros de extrema direita):
[...] o colapso das instituições políticas formais sob a pressão da violência tende a
conduzir à formação de economias de milícia. Máquinas de guerra (nesse caso,
milícias ou movimentos rebeldes) tornam-se rapidamente mecanismos predadores
altamente organizados, que taxam os territórios e as populações que os ocupam e
se baseiam numa variedade de redes transnacionais e diásporas que os provêm
com apoio material e financeiro [e humano] (Mbembe, 2016, p. 141).
35Wesley da Silva Costa, ao considerar o conceito de “vida nua” em sua tese de doutorado nos fala que “os direitos
humanos, que tinham como ideal o “homem enquanto tal”, ruíram ao se deparar com homens reais que haviam
perdido todas as características relacionais de cidadania, mostrando-se como pura existência humana. Isto ocorreu
devido à contiguidade existente entre os direitos do homem e aqueles referentes à cidadania e à nacionalidade.
Somente os nacionais poderiam ser cidadãos. Aqueles que não fossem nacionais não gozavam plenamente das
garantias e proteções das instituições, sendo “regulamentados” por “alguma lei de exceção até que, ou a não ser
que, estivessem completamente assimilados e divorciados de sua origem” (Costa, 2021, p. 89). O que se apreende
é uma contradição entre a captura da “vida nua” – ou seja, esta figura que procura descrever algo como o corpo
natural do humano, a mera existência como humano –, pelo biopoder – já este, identificado com a cidadania, figura
político-jurídica produzida pela ideia de Estado-Nação. A universalidade pressuposta pela noção de cidadania
exclui a vida nua, agora identificada a outros fatores extrajurídicos/nacionais, como a raça, por exemplo, e fica
sujeita, então, ao campo da exceção. Tem-se, aqui, a produção da diferença (sujeito x não sujeito) como a
engrenagem própria à exceção.
[...] Enquanto categoria política, as populações são então decompostas entre rebel-
des, crianças-soldados, vítimas ou refugiados, civis incapacitados por mutilação ou
simplesmente massacrados ao modo dos sacrifícios antigos; enquanto os “sobre-
viventes”, depois de um êxodo terrível, são confinados a campos e zonas de exceção
(Mbembe, 2016, 141).
Terrir
Zumbi
O zumbi, dizem, é um corpo humano sem alma, ainda morto, mas retirado do túmulo e
dotado, por magia, de uma semelhança mecânica com a vida – um corpo morto que
anda, age e move-se como se estivesse vivo (Seabrook, 1929 apud Kee, 2011, p. 13).38
36 Foi provavelmente apropriado dos gibis pelo crítico de cinema Nelson Motta, em artigo publicado no jornal O
Globo, após o lançamento do filme O segredo da múmia (1982), de Ivan Cardoso. Cardoso procurou sucessivas
vezes identificar o conceito ao seu próprio trabalho. O termo aparece em cartazes de publicidade de filmes,
autobiografias e em A marca do terrir (2005), obra audiovisual do cineasta que compila esquetes realizadas em
super-8 nos anos 1970. Ver Motta, 1982, p. 32. Outro exemplo vem de Décio Pignatari, ao situar o cinema de Ivan
Cardoso frente à ditadura militar (1964-1985): “amoralidade ideológica que afrontava uma ética autoritária a rolar
na superfície da vida social do país... Sinistro Ivan [Cardoso]: enquanto curte a película do seu terrir, entrega-nos
à sanha do terror do tempo que nos tira a pele” (Pignatari; Cardoso, 2008, p. 16).
37 Ao tratar do cinema marginal, o historiador e crítico de cinema Fernão Ramos nos diz: “O deboche e o avacalho
atingem aí a tessitura da imagem e a própria película é atingida: negativos riscados, fotografia suja... pontas de
montagem aparecendo, erros de continuidade, descuido na produção, etc.” (Ramos, 1987, p. 43). Fernão Ramos
também associa o abjeto diretamente às estratégias do cinema marginal brasileiro.
38No original: “The zombie, they say, is a soulless human corpse, still dead, but taken from the grave and
endowed by sorcery with a mechanical semblance of life – it is a dead body which is made to walk and act and
move as if it were alive.’’
produzido pelo espetáculo e pelo regime de exceção descrito pela necropolítica e sintetizado
pelo capitalismo gore. Destacou-se a exortação de Walter Benjamin para que o sujeito vitimado
da modernidade “confessasse” a sua pobreza. Buscou-se associar esta “confissão” à ideia de
abjeto, como um estado no qual o sujeito é a própria expressão desta pobreza: dessubjetivado,
fora da história, tornado resto, morto-vivo. Insistiu-se, portanto, em estratégias ligadas ao gênero
do horror, principalmente cinematográfico – body horror, close up, o monstruoso, o gore e o
“terrir” – para pensar possibilidades de agressão a uma certa figuração da realidade “normal”,
ao corpo, e a instabilidade da própria noção de forma.
À guisa de conclusão, vale insistir que a atualidade dos mortos vivos é atestada pelo
intenso cruzamento entre diferentes universos culturais e midiáticos – filmes, séries,
videogames, quadrinhos, literatura, teatro, artes visuais e universidades (Bishop, 2015). No
cinema, o gênero passa de um período inicial que associava zumbis ao trabalho escravizado
ou semiescravizado, em referências diretas ao transe ritual das religiões afro-caribenhas, com
destaque para o Haiti. Mortos-vivos foram descritos como seres abjetos, sem a posse de sua
própria vontade motora e psíquica, em resposta às ansiedades de supremacistas brancos
escravocratas, ciosos de seu domínio e amedrontados com a possibilidade da revolta e da
falência econômica, num arco temporal que vai da Revolução do Haiti à primeira metade do
século XX, tanto nos EUA quanto na Europa (Moreman et al, 2011).39 Contudo, os ecos
colonialistas alcançariam os anos 1980 e além, com filmes como Zombi Holocaust (Marimo
Girolami, 1980) e Zombie 2 (Lucio Fulci, 1979), entre tantos outros que se valem de ilhas
tropicais isoladas, mortos vivos não brancos, ou mortos vivos como terroristas (World War Z,
Marc Forster, 2013). À contrapelo, destacamos Sugar Hill (Paul Maslansky, 1974), um filme
que revisa estereótipos raciais, e mais recentemente no contexto latino-americano, filmes com
apelo político-paródico como Juan de los Muertos (Alejandro Brugués, 2011), Halley
(Sebastian Hoffman, 2013) e o brilhante Sinfonia da Necrópole (Juliana Rojas, 2008). Neste
último, para além da tematização sociológica e alegórica do subdesenvolvimento, o filme
produz uma instabilidade na noção de gênero cinematográfico, misturando musical, horror,
comédia, romance e cultura pop, num cinema quase artesanal e “pobre”, à la José Mojica
Marins. Quanto à acomodação da figura dos mortos vivos ao ambiente classe média
estadunidense – indivíduos anônimos, genéricos e massificados – e ao consumismo, a crítica
parece concordar que o marco são os filmes de George A. Romero, Night of the living dead
(1968) e Dawn of the dead (1978). A tensão racial, como sabemos, é preservada pelos
39 Entre os textos literários abordados nos capítulos deste livro, destacamos “The Unknown Painter” (publicado no
jornal The Alton Telegraph, em 1838) e “Last of the Caribs: A Romance of Martinique” (The Decatur, Illinois, 1879),
para citar apenas dois exemplos, ou The Magic Island (William Seabrook, 1929), e filmes como White Zombie, Revolt
of the Zombies (Victor Halperin, 1932 e 1936), Ouanga (George Terwilliger, 1936) e I Walked with a Zombie (Jacques
Tourneur, 1943). Vale mencionar também o estudo etnográfico Tell my Horse: Voodoo and Life in Haiti and Jamaica
(Zora Neale Hurston, 1938), este último realizado por uma escritora de ascendência afro-estadunidense.
protagonistas negros em ambos os filmes, mas os mortos vivos passam a ser caracterizados
como canibais dessubjetivados, a repetir hábitos mecânicos que, vale dizer, já tinham antes
do estado zumbificado. Em Dawn, habitam um shopping center. Atente para o fato que George
A. Romero também lança as bases para pensar as organizações de paramilitares
(supremacistas brancas) – em Night of the living dead – e, mais adiante – a partir de Dawn of
the dead –, decididamente militarizadas, elementos que serão repetidos infinitas vezes em
filmes e séries posteriores. Isto não é pouco, pois são tão importantes para uma certa
estabilização do gênero quanto os próprios mortos vivos. Estes, são tornados coadjuvantes
no drama existencial dessas milícias com estrutura quase sempre patriarcal, na disputa pelo
controle territorial, dos recursos humanos e naturais, armamentos e narcóticos, e pelo direito
ao justiçamento. Mas voltando aos personagens consumistas zumbificados que habitam um
shopping center, podemos dizer que tal tensão alcança, por sua vez, o nosso presente
neoliberal de pessoas endividadas e precarizadas. Como afirma-se: “Zumbis também são,
agora, um descritor importante de um certo tipo de agentes econômicos, como aqueles não
lucrativos [unprofitable] que continuam a funcionar economicamente com base em
empréstimos perpétuos e inventivos arranjos de financiamento e refinanciamento” (Datta;
MacDonald, 2011, p. 80).40 Nesta economia, tem-se uma instrumentalização generalizada da
vida – coisificação –, uma fenomenologia baseada no “meio para atingir uma finalidade” [living
within your means-to-an-end] (p. 82). Os sinais vitais são expropriados dos indivíduos e
convertidos em mercadorias simbólicas, signos e efeitos – libido, sexualidade, sucesso,
amizades, alma, liberdade, autonomia, cidadania, identidade etc. –, para serem vendidos de
volta aos indivíduos (p. 86).41 Se tomarmos o videogame como paradigma da participação –
na arte, mas também na participação social –, temos, por um lado, a condição somática a que
nos referimos anteriormente por meio de um bombardeio de estímulos sensoriais (imagens e
sons “realistas”, narrativa focada nos conflitos pessoais e interpessoais das personagens,
corpos abjetos, velocidade, fracassos e violências repetitivos, ação em tempo real, pontos de
vista subjetivos, controles vibratórios etc.) (Bishop, 2015, p. 136)42 e, por outro lado, vemos a
40 No original: “Zombies too are now a major descriptor of a certain class of economic agents, like unprofitable ones
who continue to function economically on the basis of perpetual borrowing and ever inventive financing and re-
financing arrangements.”
41 Tomando, ainda, o conceito de “signo-mercadoria” de Baudrillard, os autores dirão: “[...] the stuff of the souls we
have (collective representations) are already “for sale” and hence when we consume commodity-signs the
production of our social life is subsumed to capital. Hence, no return to a “live” outside of capital is possible. What
we lose in work is got through the consumption of commodified collective representations, allowing us to get “a
life”.” Mais adiante, falarão em uma “soberania reflexa” (reflexive sovereignty), uma aparência falaciosa de
soberania e sucesso irrestrito, frente a uma economia que impõe fraturas e precarizações generalizadas. Esta
ilusão, por sua vez, gera ativos econômicos, uma vez que apresenta sujeitos como atrativos para futuros
investimentos sociais, profissionais etc. (Datta; MacDonald, 2011, p. 87).
42Resta por dizer que na estrutura de jogabilidade há uma dissociação entre o controle do “olhar” subjetivo das
personagens e o controle da “câmera” que revela o ambiente. A angústia – o horror – é certamente um efeito da
narrativa e dos abusos sensoriais, tanto quanto é o resultado desta dissociação vertiginosa que se acentua com a
velocidade e a saturação.
Referências
ALDANA REYES, Xavier. Consuming mutilation: affectivity and corporeal transgression on stage and
screen. PhD Thesis, Faculty of Arts and Social Sciences, Lancaster University, Lancaster, UK, 2012.
ALDANA REYES, Xavier. Horror films and affect: Towards a Corporeal Model of Viewership. New
York; London: Routledge, 2016.
BADLEY, Linda. Film, horror and the body fantastic. Westport, Connecticut; London: Greenwood
Press, 1995.
BATAILLE, Georges. O erotismo. Porto Alegre: L&PM, 1987.
BAUDRILLARD, Jean. The ecstasy of communication. In: FOSTER, Hal (ed.). The Anti-Aesthetic:
Essays on Postmodern Culture. Seattle: Bay Press, 1983. p. 126-134.
BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São
Paulo: Brasiliense, 1993.
BENSHOFF, Harry. Monsters in the closet: Homosexuality and the Horror Film. Manchester, UK:
Manchester University Press, 1997.
BISHOP, Kyle William. How zombies conquered popular culture: the multifarious walking dead in the
21st Century. Jefferson, North Carolina: McFarland & Company, 2015.
BOTTING, Fred. Gothic. London; New York: Routledge, 2005.
BROPHY, Philip. Horrality: The textuality of contemporary horror film. Screen, v. 27, n. 1, p. 2–13,
Jan./Feb. 1986. Disponível em: https://academic.oup.com/screen/article-
abstract/27/1/2/1630465?redirectedFrom=fulltext Acesso em: 2 mai. 2023.
CARROLL, Noël. Horror and Humor. The Journal of Aesthetics and Art Criticism, v. 57, n. 2, p. 145-
16, Spring 1999. ISSN 0021-8529. Disponível em:
https://www.jstor.org/stable/432309?origin=crossref. Acesso em: 20 jul. 2023.
CARROLL, Nöel. The Philosophy of Horror. London: Routledge, 1990.
COSTA, Wesley da Silva. Ética, política e vida nua na filosofia de Giorgio Agamben. Dissertação de
mestrado, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Ciências Humanas, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2021.
CREED, Barbara. Horror and the Monstrous-Feminine: An Imaginary Abjection. Screen, v. 27, n. 1, p.
44–71, Jan/Feb. 1986. ISSN: 0036-9543. DOI: https://doi.org/10.1093/screen/27.1.44. Disponível em:
https://academic.oup.com/screen/article-abstract/27/1/44/1630470?redirectedFrom=fulltext. Acesso
em: 20 jul. 2023.
CREED, Barbara. The Monstrous-Feminine: Film, Feminism, Psychoanalysis. London: Routledge, 1993.
DATTA, Ronjon Paul; MACDONALD, Laura. Time for Zombies: Sacrifice and the Structural
Phenomenology of Capitalist Futures. In: MOREMAN, Christopher; RUSHTON, Cory James (ed.).
Race, Oppression and the Zombie: Essays on Cross-Cultural Appropriations of the Caribbean
tradition. Jefferson, North Carolina: McFarland & Company, 2011. p. 77-92.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
DOLAR, Mladen. “Eu estarei com você em sua noite de núpcias”: Lacan e o estranho. In: PENHA,
Diego; GONSALVES, Rodrigo (org.). Ensaios sobre mortos-vivos: The Walking Dead e outras
metáforas. São Paulo: Aller, 2018. p. 167-204.
DUNKER, Christian Ingo Lenz. Novos tipos clínicos na psicanálise dos anos 2010. In: VIANA,
Terezinha de Camargo; DINIZ, Gláucia Starling; COSTA, Liana Fortunatto; ZANELLO, Valeska (org.).
Psicologia clínica e cultura contemporânea. Brasília: Liber Livros, 2012.
DUNKER, Christian. O cálculo neurótico do gozo. São Paulo: Escuta, 2002.
FERREIRA DA SILVA, Denise. A dívida impagável. São Paulo: 2019.
FOSTER, Hal. O retorno do real: a vanguarda no final do século XX. São Paulo: Ubu, 2017.
HALBERSTAM, Judith. Skin shows. Durham; London: Duke University Press, 1995.
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.
HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 13. ed.
São Paulo: Loyola, 2008.
HUANG, Han-yu. Monsters, Perversion, and Enjoyment: Toward a Psychoanlytic Theory of
Postmodern Horror. Concentric: Literary and Cultural Studies, v. 33, n. 1, p. 87-110, Mar. 2007.
Disponível em: http://www.concentric-literature.url.tw/issues/The%20Gothic%20Revisited/5.pdf.
Acesso em: 20 jul. 2023.
HURLEY, Kelly. Reading Like an Alien: Posthuman Identity in Ridley Scott’s Alien and David
Cronenberg’s Rabid. In: HALBERSTAM, Judith; LIVINGSTON, Ira (ed.). Posthuman Bodies.
Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 1995, p. 203-224.
HUTCHINGS, Peter. Historical Dictionary of Horror Cinema. Lanham; Toronto; Plymouth: The
Scarecrow Press, 2008.
JANCOVICH, Mark (ed.). Horror: the film reader. London; New York: Routledge, 2002.
KEE, Chera. ‘They are not men… they are dead bodies!”: From Cannibal to Zombie and Back Again.
In: CHRISTIE, Deborah; LAURO, Sarah Juliet. Better off dead: The Evolution of the Zombie as Post-
Human. New York: Fordham University Press, 2011, p. 9-23.
KRAUSS, Rosalind; BOIS, Yves-Alain. Formless: A User’s Guide. Massachusetts: MIT Press, 2000.
KRISTEVA, Julia. Powers of Horror: An Essay on Abjection. New York: Columbia University Press, 1982.
LAPLANCHE; PONTALIS. Vocabulário da Psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
LAPOUJADE, David. O corpo que não aguenta mais. In: LINS, Daniel; GADELHA, Sylvio (org.).
Nietzsche e Deleuze: o que pode um corpo. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Fortaleza: Secretaria de
Cultura e Desporto, 2002. p. 81-90.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, v. 2, n. 32, p. 123-151, 2016.
Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993. Acesso em: 20 jul. 2023.
MOREMAN, Christopher; RUSHTON, Cory James (ed.). Race, Oppression and the Zombie: Essays
on Cross-Cultural Appropriations of the Caribbean tradition. Jefferson, North Carolina: McFarland &
Company, 2011
MOTTA, Nelson. A múmia e o “terrir” no primeiro longa de Ivan. O Globo, Rio de Janeiro, p. 32, 4
mar. 1982. Disponível em:
https://acervo.oglobo.globo.com/busca/?tipoConteudo=pagina&ordenacaoData=dataAscendente&all
words=terrir&anyword=&noword=&exactword=&decadaSelecionada=1980, Acesso em 6 ago, 2021.
O’BRIEN, Sarah. Playing the Zombie: Participation and Interpassivity in Gothic XR. In: Body, Space &
Technology, v. 19. n. 1, 2020, p. 76-96. DOI: https://doi.org/10.16995/bst.332. Disponível em:
https://www.bstjournal.com/article/id/6900/. Acesso em: 7 jun. 2023.
PERA, L. R. M. Políticas da indigestão (Antropofagia revisitada). In: ARS, São Paulo, v. 20, n. 45, p.
471-516, 2022. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ars/article/view/197334. DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2022.197334. Acesso: 4 maio 2023.
PIGNATARI, Décio; CARDOSO, Ivan. Ivan Cardoso: o mestre do terrir. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.
RAMOS, Fernão. Cinema marginal (1968/1973): a representação no limite. São Paulo: Brasiliense, 1987.
ROLNIK, Suely. Molda-se uma alma contemporânea: o vazio-pleno de Lygia Clark. In: CARVAJAL,
Rina;RUIZ, Alma (org.). The Experimental Exercise of Freedom: Lygia Clark, Gego, Mathias Goeritz,
Hélio Oiticica and Mira Schendel. Los Angeles: The Museum of Contemporary Art, 1999.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Edusp,
2006.
STEVEN, Mark. Splatter Capital. London: Repeater Books, 2017.
VALENCIA, Sayak. Capitalismo Gore. Santa Cruz de Tenerife: Editorial Melusina, 2010.
WILLIAMS, Linda. Film Bodies: Gender, Genre, and Excess. Film Quarterly, v. 44, n. 4, p. 2-13,
Summer 1991.
WILLIAMS, Linda. Hard Core. Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 1989.
WILLIAMS, Linda. Screening Sex. Durham: Duke University Press, 2008.
WOOD, Robin; GRANT, Barry Keith (ed.). Robin Wood on the Horror Cinema: Collected Essays and
Reviews. Detroit: Wayne State University Press, 2018.