6778NM - THEORIES AND PRACTICES OF ACTIVE LEARNING _Ione Marcia da Silva_ 04-22-2023 (1)

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"DESAFIOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA COM A METODOLOGIA

ATIVA: SALA DE AULA INVERTIDA"

Ione Márcia da Silva1

RESUMO

Adotar estratégias mais dinâmicas e participativas na sala de aula é uma preocupação no cenário
educacional atual. Isso se deve a diversas características, como o perfil diferenciado dos alunos,
as demandas do mercado e a necessidade de desenvolver competências necessárias aos
indivíduos no século XXI. Este trabalho tem como objetivo caracterizar e refletir sobre a
metodologia de ensino conhecida como sala de aula invertida, ou flipped classroom, que tem
se destacado nos últimos anos como uma inovação no processo de ensino e aprendizagem. A
sala de aula invertida propõe uma mudança na ordem tradicional do ensino, na qual os alunos
estudam o conteúdo em casa e, em sala de aula, participam de atividades práticas e discussões
em grupo, promovendo maior interação e participação ativa dos alunos no processo educativo.
No entanto, a implementação da sala de aula invertida pode apresentar desafios para os
docentes, como a necessidade de preparação de conteúdo diferenciado e a gestão do tempo em
sala de aula. Analisamos também as características essenciais aos professores para desenvolvê-

1
Graduação. Especialização. Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University.
[email protected].
la, como flexibilidade, criatividade e habilidades de gestão de grupo para garantir o sucesso da
prática. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo apresentar os principais achados da
revisão bibliográfica sobre a sala de aula invertida, incluindo a abordagem de algumas críticas
e limitações encontradas na literatura em relação à eficácia da sala de aula invertida como um
método de ensino. Espera-se, assim, contribuir para a discussão sobre o uso dessa metodologia
no contexto educacional.

Palavras-chave: Sala de aula invertida. Metodologia ativas. Desafios docentes. Ensino.

ABSTRACT

Adopting more dynamic and participatory strategies in the classroom is a concern in the current
educational scenario. This is due to several characteristics, such as the different profile of
students, market demands and the need to develop the skills needed by individuals in the 21st
century. This work aims to characterize and reflect on the teaching methodology known as
flipped classroom, which has stood out in recent years as an innovation in the teaching and
learning process. The flipped classroom proposes a change in the traditional teaching order, in
which students study the content at home and, in the classroom, participate in practical activities
and group discussions, promoting greater interaction and active participation of students in the
educational process. However, the implementation of the flipped classroom can present
challenges for teachers, such as the need to prepare differentiated content and time management
in the classroom. We also analyzed the essential characteristics for teachers to develop it, such
as flexibility, creativity and group management skills to guarantee the success of the practice.
In this context, this article aims to present the main findings of the literature review on the
flipped classroom, including the approach to some criticisms and limitations found in the
literature regarding the effectiveness of the flipped classroom as a teaching method. It is
expected, therefore, to contribute to the discussion about the use of this methodology in the
educational context.

Keywords: Flipped classroom. Active methodologies. Teaching challenges. Teaching


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1 - Introdução

O presente projeto de pesquisa tem a finalidade de analisar a metodologia ativa sala de

aula invertida (ou Flipped classromm), a fim de caracterizá-la, refletir sobre os desafios

enfrentados pelo docente na inserção, de fato, dessa abordagem na prática pedagógica e na

sequência escrutinar as características necessárias ao professor para aplicá-la na prática.

As metodologias ativas são um conjunto de técnicas pedagógicas que têm como objetivo

principal tornar o aluno o protagonista do processo de aprendizagem, diferentemente da

tradicional abordagem centrada no professor e não no aluno, pois segundo Barbosa, Barcelos e

Batista “a aula não é só o que acontece no espaço físico de uma sala, é um contato vivo com o

mundo e, nesse contexto, as mídias digitais são importantes, pois ampliam as possibilidades de

aprender sozinhos e em grupo” (Barbosa, Barcelos e Batista , 2015, p. 1).

As práticas de ensino centradas no aluno buscam através de atividades práticas e

interativas engajar os estudantes a explorar, investigar, discutir e construir conhecimento de

forma autônoma e ativa. Existem diversas metodologias ativas disponíveis, como a

Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem Based Learning), a Aprendizagem Baseada

em Jogos (Game-based Learning), a aprendizagem por projetos (Project Based Learning) e a

Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom), entre outras. Conforme mencionado por Bottentuit

(2019), os modelos ativos de aprendizagem têm em comum a preocupação em envolver os

indivíduos em processos de discussão e colaboração durante as aulas, visando uma

aprendizagem mais efetiva. Quando os alunos participam ativamente das atividades de

aprendizagem, como falar, escrever, ouvir, esquematizar e ensinar os colegas, eles atingem um

nível mais elevado de compreensão do conteúdo, em comparação com a simples leitura

silenciosa de um texto ou aulas expositivas.

Apesar de representarem uma mudança significativa na concepção e condução da

aprendizagem, não são exclusivas de uma época específica e têm raízes históricas e culturais
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em diversas áreas do conhecimento. Além disso, nem todas as metodologias ativas são baseadas

em tecnologia, podendo ser aplicadas tanto em ambientes online quanto presenciais, levando

em conta as características dos alunos e os objetivos educacionais a serem alcançados. Algumas

metodologias podem ser realizadas sem o uso de tecnologia, enquanto outras podem utilizar

recursos tecnológicos para disponibilizar materiais de aprendizagem online, como na sala de

aula invertida.

O tema é relevante e imprescindível a discussão sobre a aplicabilidade da sala de aula

invertida (doravante descrita como SAI), os desafios enfrentados pelos profissionais da

educação na sua concretização, assim como as características a serem apropriadas pelo

profissional, no intento de desenvolver a estratégia, pois estes aspectos podem beneficiar e

afetar significativamente a efetividade e a eficiência do processo de ensinar e aprender.

Para obter os resultados e respostas acerca da problematização apresentada neste

trabalho foi utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica, que consiste na revisão da

literatura relacionada à temática abordada. Para tanto, foram utilizados, artigos acadêmicos

referentes ao assunto, em múltiplos aspectos observáveis.

De acordo com Andrade, Feitosa de Jesus, Ferrete &Santos (2019), a influência da

tecnologia na sociedade atual e impacta o ambiente escolar, então há necessidade de repensar

as técnicas de ensino tradicionais para permitir que os alunos sejam agentes ativos em seu

processo de aprendizagem. Os autores enfatizam a importância de formar os professores em

métodos que promovam a autonomia dos estudantes e defendem a necessidade de inovar o

ensino para acompanhar a evolução tecnológica e as demandas da sociedade atual. A

introdução de inovações na sala de aula se apresenta como uma mudança relevante e vital no

âmbito do sistema educacional contemporâneo. Tal alteração é capaz de revolucionar o modo

como aprendemos e ensinamos, oferecendo aos estudantes vantagens como acessibilidade,

interatividade e flexibilidade, bem como contribuindo para o desenvolvimento de habilidades


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críticas fundamentais, tais como resolução de problemas, colaboração e comunicação.

Ademais, o uso da tecnologia pode proporcionar aos alunos oportunidades significativas para a

prática dessas habilidades, culminando em um processo educacional mais eficiente e na

preparação adequada dos alunos para o futuro.

Como uma metodologia pedagógica, a SAI busca reestruturar o processo de ensino-

aprendizagem tradicional, onde os alunos assumem um papel ativo no processo de aquisição de

conhecimentos, estudando o conteúdo em casa por meio de diversos materiais educativos e

dedicando o tempo em sala de aula para aprofundar seus conhecimentos, discutir dúvidas,

participar de atividades e solucionar problemas. Os alunos têm acesso aos materiais de

aprendizagem antes da aula, o que lhes permite se preparar para o conteúdo e ter uma

compreensão inicial do assunto. Isso possibilita que o tempo em sala de aula seja dedicado a

atividades mais interativas e colaborativas, como discussões em grupo, solução de problemas e

trabalhos práticos, que ajudam os alunos a construir o conhecimento de forma significativa.

Para Pavanelo e Lima

A Sala de Aula Invertida é constituída, basicamente, por duas componentes: uma que
requer interação humana (atividades em sala de aula), ou seja, a ação; e outra que é
desenvolvida por meio do uso das tecnologias digitais, como vídeoaulas (atividades fora
da sala de aula). Desse modo, as teorias de aprendizagem centradas no aluno fornecem
a base filosófica para o desenvolvimento dessas atividades. Ignorar este fato e
conceituar a Sala de Aula Invertida com base apenas na presença (ou ausência) de
computador ou tecnologias, constitui-se em um grande erro. (Pavanelo & Lima, 2017,
p.742)

A SAI tem como base teórica a perspectiva construtivista da aprendizagem, que destaca

a importância da construção do conhecimento pelo próprio aluno, na teoria da aprendizagem

significativa de David Ausubel, que enfatiza a importância da conexão entre o novo

conhecimento e o conhecimento prévio e a ideia da aprendizagem ativa, onde os alunos são


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incentivados a participar ativamente do processo de aprendizagem e a assumir o papel de

protagonistas na construção do seu conhecimento. Além disso, o método é compatível com o

modelo de ensino híbrido, que combina o ensino presencial com o ensino online, possibilitando

a personalização do processo de aprendizagem e a flexibilização do tempo e do espaço de

aprendizagem.

Ao inverter a sala de aula, os alunos têm a oportunidade de desenvolver um ritmo

próprio de aprendizagem, revisar conceitos que não compreenderam e buscar informações

adicionais, enquanto o professor tem mais tempo para se concentrar em atividades que

promovem o aprendizado significativo, tais como discussões em grupo, resolução de problemas

e simulações. O uso de sala de aula invertida tem origem na década de 1990, quando os

professores de Química Jonathan Bergmann e Aaron Sams, da Woodland Park High School,

nos Estados Unidos, perceberam que muitos alunos perdiam aulas importantes por motivos

diversos. Diante desse cenário, eles começaram a gravar suas aulas e disponibilizá-las online

para que os estudantes pudessem assisti-las em casa, no seu próprio ritmo, e usar o tempo em

sala de aula para atividades práticas e tirar dúvidas.

A partir dessa experiência bem-sucedida, a SAI foi e ainda é amplamente adotada e

adaptada por educadores em diversas disciplinas e níveis de ensino. Como alternativa ao

modelo tradicional de ensino, o modelo apresenta vantagens significativas, como o ritmo

próprio de aprendizagem, a revisão de conceitos, o engajamento com o conteúdo e a

colaboração entre os alunos, bem como o aumento do tempo disponível para o professor

dedicar-se a atividades significativas.

Atualmente, o método de sala de aula invertida tem sido objeto de estudos e aplicação

em várias instituições de ensino, com o objetivo de aprimorar o processo de aprendizagem dos

alunos. Os resultados observados indicam que tal abordagem pode trazer benefícios

satisfatórios, como melhor desempenho em avaliações, maior envolvimento com o conteúdo,


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confiança em sua capacidade de aprendizagem autônoma, melhoria nas discussões em sala e

até mesmo melhor desempenho em comparação com o ensino tradicional. Diversos estudos

sugerem que os alunos submetidos a esse método apresentaram melhor desempenho nas

avaliações, o que indica sua eficácia como alternativa para aprimorar o processo de

aprendizagem. Além disso, o método permite ao aluno aprender no próprio ritmo, aumenta o

engajamento dos alunos, motiva a aprendizagem e aprimora o nível das discussões em sala,

possibilitado pelas atividades realizadas antes das aulas, como leituras e vídeos.

Em última instancia, a inversão da sala de aula é uma abordagem pedagógica que se

baseia na busca e construção do conhecimento pelo próprio aluno, enfatizando a conexão entre

o novo conhecimento e o conhecimento prévio. Embora apresente diversos benefícios, é

necessário considerar que essa abordagem pode não ser adequada para todos os contextos e

disciplinas, sendo importante avaliar se atende às demandas específicas do curso e dos alunos.

Com planejamento cuidadoso e adaptações adequadas, a Sala de Aula Invertida pode ser uma

alternativa promissora ao modelo de ensino tradicional, permitindo que os alunos desenvolvam

habilidades essenciais para o século XXI. A metodologia foi aplicada com êxito em disciplinas

variadas, desde o ensino fundamental até o superior, sendo a adaptação às necessidades e

realidades dos alunos e professores um fator relevante para o sucesso da prática.

A sala de aula invertida, apesar de da popularidade e aplicação em diversos contextos

educacionais, como qualquer abordagem pedagógica, ela também possui suas críticas e

desafios. Neste sentido, Valério e Moreira (2018) apresentam uma reflexão sobre os aspectos

não positivos, limitações da sua aplicação e destaca a importância de considerá-los para um

melhor aproveitamento da mesma. São eles:

a) A origem é confusa e a operação por diferentes metodologias ou técnicas de ensino, torna

inadequada a demarcação histórica e teórica da SAI como modelo didático específico.


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b) A técnica se baseia em práticas antigas e o uso da tecnologia não é suficiente para garantir a

originalidade da abordagem, sendo que as aulas expositivas ainda são prevalentes e que

simplesmente há transferência para um ambiente online.

c) A falta de familiarização dos professores com o referencial pedagógico que sustenta a SAI,

sendo essencial um entendimento mais profundo dos saberes pedagógicos necessários para

implementar a técnica e a coerência entre as práticas filiadas à filosofias e pedagogias distintas

para que a SAI seja efetiva.

d) Há a carência de solidez, rigor e amplitude nos estudos sobre a SAI, restritos a contextos

educativos específicos e com vieses culturais que marcam a pesquisa sobre o tema, consistindo

em pesquisas experimentais de comparação entre o modelo tradicional e o invertido, com dados

coletados e analisados segundo abordagens quantitativas e poucas qualitativas, mas que ainda

carecem de rigor e objetividade. Faltam evidências conclusivas e sólidas sobre as contribuições

da SAI para a aprendizagem ao longo da vida.

e) Embora os resultados sejam promissores, sua adoção pode apresentar problemas, como o

mal-estar de alguns estudantes e a falta de comprometimento por parte dos alunos.

f) É uma solução técnica para o problema de currículos excessivamente extensos, que não

foram planejados para o tempo de aula disponível, e que, em vez de repensar os currículos e o

processo educativo como um todo, a SAI acaba jogando a responsabilidade da educação do

aluno para o ambiente privado.

g) O modelo inclui a adoção de uma educação híbrida e o uso de ferramentas digitais, havendo

preocupações em relação aos interesses econômicos envolvidos nesse processo, especialmente

da iniciativa privada, que produz a maior parte dos softwares, plataformas e repositórios de

conteúdo.
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h) O risco de um “colonialismo pedagógico” e uma desinstitucionalização do ensino que pode

ser inadequada e antidemocrática, além de reduzir os custos da oferta educacional, o que é

considerado adequado aos interesses de empresas e governos

Portanto, considerar as críticas é fundamental para uma implementação bem-sucedida

da Sala de Aula Invertida. Identificar os desafios e suas limitações podem orientar o

desenvolvimento de estratégias para superá-los. Além disso, a reflexão crítica sobre a técnica

também pode ajudar a fortalecer seus pontos fortes e identificar maneiras de maximizar seus

benefícios.

2 - Aprendendo além da sala de aula: enfrentando os desafios da sala de aula


invertida
A implementação da SAI pode encontrar resistência por parte dos docentes, que estão

acostumados com a metodologia tradicional de ensino, um fenômeno comum no contexto

educacional e pode ser causado por diversos fatores, entre eles a falta de conhecimento sobre a

SAI, insegurança em relação à nova metodologia, falta de treinamento no uso da tecnologia e

capacitação profissional, bem como do medo de cometer erros ou enfrentar dificuldades ao

longo do processo de implementação.

Para além da falta de conhecimento do docente, pode contribuir também para a

resistência do docente à mudança o desconforto em modificar as práticas pedagógicas

estabelecidas. Muitos professores têm práticas consolidadas e estabelecidas ao longo de anos

de ensino, o que pode tornar a implementação da sala de aula invertida desafiadora, uma vez

que essa abordagem demanda uma mudança significativa na forma de planejar e conduzir as

aulas. Morais e Souza (2020) concluem que é indispensável para um professor possuir

conhecimento teórico sólido, pois isso permite que ele reflita sobre sua prática e intervenções

em sala de aula, a fim de modificar sua realidade como sujeito ativo do processo de ensino-

aprendizagem. Ao refletir sobre suas práticas, o docente permite o desenvolvimento de uma


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postura crítica em relação à sua própria prática e, assim, aprimore seu desempenho como

educador, contribuindo de forma mais efetiva para o processo de ensino-aprendizagem dos

alunos.

Observa-se ainda que a sobrecarga de trabalho envolvida na preparação dos materiais

didáticos é outro fator que pode ser um desafio para o professor, requerendo um grande esforço

por parte dos docentes. Preparar o antes, durante e o feedback da atividade demanda um esforço

substancial na criação de materiais didáticos, na seleção de recursos online, atividades

presenciais e avaliação, o que pode gerar um aumento no tempo e na carga de trabalho do

professor.

A sala de aula invertida representa uma mudança profunda na forma como o processo

educacional é concebido e conduzido. Tradicionalmente o professor é percebido como o centro

do processo de aprendizagem, detentor do conhecimento, responsável por transmitir

informações e conteúdo aos alunos durante as aulas. Nesse cenário, os alunos são

frequentemente passivos, recebendo informações do professor e tentando memorizá-las. Para

Bispo Andrade et al. (2019) “alunos enfileirados, olhando todos numa única direção, pressupõe

que alguém estará detendo o conhecimento, situação que nos remete a figura docente como

alguém que mais que é a fonte da sabedoria, e os ouvintes são os receptáculos”. Na sala de aula

invertida o professor é um guia que ajuda os alunos a desenvolver habilidades e conhecimentos

através de atividades práticas e colaborativas, se coloca mais voltado para o papel de facilitador

do aprendizado

Mudar a forma de organização da aula requer também infraestrutura tecnológica. Esse

movimento pode exigir um conhecimento do uso e suporte de tecnologias adequado, como

dispositivos eletrônicos e acesso à internet, para que os alunos possam acessar os materiais

didáticos e as atividades online, sendo necessário investir em tecnologia e recursos de

aprendizagem. Nem todos os professores sabem usar e/ou todas as instituições de ensino têm a
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infraestrutura necessária para suportar esse tipo de abordagem de ensino. Acrescentando a isso,

há de se cogitar a questão da estrutura tecnológica própria requerida pelos discentes

anteriormente à aula presencial, pois a falta desses recursos pode limitar o engajamento e

participação do aluno, afetando a eficácia da abordagem. Além disso, alguns alunos podem ter

dificuldades técnicas em usar a tecnologia e precisam de suporte adequado da instituição de

ensino para superar esses desafios.

Elencamos ainda dois desafios importantes para a implementação da sala de aula

invertida. O primeiro deles é em relação à avaliação dos alunos, uma vez que a metodologia

enfatiza a participação ativa em atividades práticas e colaborativas. Isso exige uma adaptação

da avaliação para essa nova abordagem pedagógica. O segundo desafio é a gestão do tempo,

tanto para os professores quanto para os alunos, para garantir que haja tempo suficiente para o

estudo prévio e que as atividades práticas em sala de aula sejam adequadamente planejadas e

executadas dentro do tempo disponível.

Os docentes selecionarem adequadamente os materiais de estudo em casa, levando em

consideração o nível de compreensão dos alunos, a relevância do conteúdo, ter uma

infraestrutura tecnológica adequada, planejar atividades práticas em sala de aula que permitam

aos alunos aplicar o conhecimento adquirido, estimular a participação ativa dos alunos durante

as aulas, a avaliação contínua dos alunos baseada em critérios claros e objetivos e o docente

sempre capacitado e atualizado em relação às novas metodologias de ensino ajudam a superar

os desafios da implementação da sala de aula invertida nas instituições escolares.

3 - Características essenciais para o docente aplicar a prática da sala de


aula invertida
A prática da sala de aula invertida é uma abordagem de ensino que tem se mostrado

eficaz em diversos contextos educacionais, desde o ensino básico até o superior. Essa

abordagem coloca o aluno como protagonista do processo de aprendizagem, e o professor atua


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como um facilitador e mediador desse processo, deixando de ser o centro da transmissão do

conhecimento. Discorrendo sobre a função e o papel do professor, Morais e Souza concluem

que

a função de um professor não se restringe a mera transmissão de conteúdo, mas sim


“ensinar a aprender” criando oportunidades para que os estudantes sejam preparados
para buscar aquilo que ainda é desconhecido. Por essa razão, a função de um docente é
de orientar, de direcionar, de conduzir os seus alunos para que sejam capazes de
desenvolver a capacidade de criticar e de refletir diante de uma informação. Sendo
assim, é necessário que o educador seja um mediador do conhecimento e não
monopolizador, de modo que possa compreender que o aluno não é objeto e sim o
sujeito do processo de ensino-aprendizagem, e que existe uma troca de conhecimentos
por meio da interação entre ambos (professor-aluno) (Morais e Souza, 2020, p.13).

Para isso, o professor precisa desenvolver algumas habilidades e características

específicas, uma vez que o sucesso da implementação da sala de aula invertida depende em

grande parte da habilidade do docente em lidar com desafios. Primeiramente, é necessário que

o docente no reconhecimento do seu papel, tenha uma postura mais flexível e adaptativa em

relação ao processo de ensino-aprendizagem. Ele precisa estar aberto a ouvir as dúvidas e

opiniões dos alunos, e estar disposto a ajustar a metodologia de ensino de acordo com as

necessidades individuais de cada um. Isso exige que o professor tenha um conhecimento sólido

sobre os conceitos que está ensinando, além de habilidades de comunicação claras e eficazes.

Além disso, o docente que aplica a sala de aula invertida precisa ter uma boa capacidade

de planejamento e organização. Ele precisa ser capaz de estruturar as atividades que os alunos

devem realizar em casa e em sala de aula de forma integrada e coerente. Isso exige que dele

uma visão sistêmica do processo de ensino-aprendizagem, e que seja capaz de antecipar as

necessidades e dificuldades dos alunos. Outra característica importante do docente que aplica a

SAI é a capacidade de avaliar e dar feedbacks construtivos aos alunos. Como os discentes têm

um papel mais ativo no processo de aprendizagem, é fundamental que o professor esteja atento
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às dificuldades e avanços de cada um, para que possa orientá-los de forma eficaz e ajustar a

metodologia de ensino quando necessário. Isso exige que o professor tenha habilidades de

observação e análise, além de uma postura mais colaborativa e empática em relação aos alunos.

Por fim, o professor que aplica a sala de aula invertida precisa ser um líder inspirador,

capaz de motivar e engajar os alunos no processo de aprendizagem. Isso exige que ele

demonstre entusiasmo pelo conhecimento e pela aprendizagem, e mostre aos alunos como o

aprendizado pode ser divertido e significativo. Essa postura inspiradora e motivadora pode

ajudar os alunos a desenvolver um interesse genuíno pelo conhecimento, e a se engajar de forma

mais ativa no processo de aprendizagem.

Enfim, é importante que o professor seja um facilitador do aprendizado, tenha

habilidades de comunicação, planejamento, avaliação e liderança, além de estar aberto a ouvir

as dúvidas e opiniões dos alunos. Com essas características, ele será capaz de guiar os alunos

no processo de construção do próprio conhecimento, tornando a aprendizagem mais

significativa e eficaz. O docente deve estar comprometido com o processo de ensino e

aprendizagem e buscar uma postura proativa no aprimoramento constante de sua prática

educativa. Assim, a sala de aula invertida pode ser uma alternativa eficiente para promover uma

aprendizagem de alto impacto e participativa entre os alunos.

4 - Considerações Finais

A sala de aula invertida é uma abordagem pedagógica que tem se mostrado produtiva

em diversos contextos educacionais. A ideia de inverter o processo de aprendizagem, colocando

o aluno no centro do processo e transformando o papel do professor em um facilitador do

conhecimento, tem contribuído para a construção de uma educação mais significativa e

engajadora. O professor precisa estar disposto a ouvir os alunos e a incorporar suas opiniões e
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ideias no processo de aprendizagem, criando assim um ambiente colaborativo e estimulante

para todos.

Diante desses desafios, é fundamental que os docentes sejam capacitados e apoiados

para implementar a sala de aula invertida em suas práticas pedagógicas. Para tanto, é preciso

investir em formação continuada, oferecendo recursos e suporte para que os professores possam

desenvolver as habilidades necessárias para aplicar essa metodologia de ensino. Além disso, é

importante valorizar e reconhecer os esforços dos docentes que se dedicam a inovar em suas

práticas pedagógicas, criando assim um ambiente favorável à aprendizagem e ao

desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI.

A partir dos resultados obtidos, é importante destacar a necessidade de se aprofundar

em novas pesquisas sobre o tema, explorando aspectos ainda pouco estudados.

Referências Bibliográficas

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e reflexões. In Congresso de Tecnologia da Informação.

Bispo Andrade, L.G.S., Feitosa de Jesus, L.A., Ferrete, R.B., & Santos, R.M. (2019). A sala de
aula invertida como alternativa inovadora para a educação básica. Revista Eletrônica Sala de
Aula em Foco, 8(2), 4-22. ISSN 2316-7297.

Bottentuit Junior, J. B. (2019). Sala de Aula Invertida: Recomendações e Tecnologias Digitais


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Morais, A. P. M. de, & Souza, P. F. (2020). Formação docente continuada - Ensino híbrido e
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Pavanelo, E., & Lima, R. (2017). Sala de Aula Invertida: a análise de uma experiência na
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Valério, M., & Moreira, A. L. O. R. (2018). Sete críticas à sala de aula invertida. Revista
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